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Vict�ria K. L. Card�so D�ença inflamatória intestinal Introdução Doença inflamatória intestinal (DII): ● Condição crônica por ativação imunológica inapropriada da mucosa. ● Distúrbios envolvidos: colite ulcerativa e doença de Crohn. ○ Principal ponto de diferenciação: distribuição do local afetado e expressão morfológica. Colite ulcerativa x Doença de Crohn: ● Colite ulcerativa: é limitada ao cólon e ao reto e se estende apenas à mucosa e à submucosa. ● Doença de Crohn (ileíte regional): pode comprometer qualquer trecho do trato GI e é tipicamente transmural. Epidemio colite ulcerativa e doença de Crohn: ● Pop. alvo: adolescentes e adultos no começo da 2ª década de vida. ● Mais comum em caucasianos. Patogenia: ● De forma geral: disfunção epitelial intestinal, com resposta imunológica aberrante da mucosa e alteração da composição da microbiota intestinal. ● Genética: ○ Genes na doença de Crohn: @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ■ NOD2 → é o mais forte, ativa a via NF-κB. ■ ATG16L1 → relacionado com autofagia e com a homeostase epitelial. ■ IRGM → GTPase M relacionado com a imunidade. ■ Os três estão envolvidos no reconhecimento e na resposta inapropriada a patógenos intracelulares. ● Resposta imunológica da mucosa que agem na patogenia das DII: ○ (dça de Crohn) Ativação de células T auxiliares e polarização de resposta TH1. ○ (colite ulcerativa e crohn) Desenvolvimento de células T tipo TH17. ■ O polimorfismo de IL-23 se envolve no desenvolvimento e manutenção das TH17, logo podem reduzir o risco dessas DII. ○ Envolvimento de citocinas pró-inflamatórias, TNF, interferon-γ e IL-13, e das moléculas imunorreguladoras IL-10 e TGF-β. ○ Mutações autossômicas recessivas na IL-10 e no gene receptor de IL-10 → ligadas ao surto precoce e grave da DII. ○ Contribuições gerais: ativação desordenada da imunidade da mucosa e defeitos de imunorregulação. ● Defeitos epiteliais: ○ Crohn: polimorfismos específicos no gene NOD2, que causam defeitos na barreira da junção intestinal. ■ Essas alterações também podem estar presentes nos familiares de primeiro grau saudáveis. ■ Essa disfunção pode ativar a imunidade mucosa e sensibilizar a pessoa à doença. ○ Colite ulcerativa: polimorfismos na ECM1 (proteína 1 da matriz extracelular), que inibe a metaloproteinase 9. ○ Colite ulcerativa: polimorfismos no fator de transcrição HNFA, causando diminuição da função da barreira intestinal. ● Microbiota: ○ Doença de Crohn: ■ Atuação do gene NOD2 → facilita o envolvimento de bactérias intestinais. ■ Presença de anticorpos contra a flagelina (proteína bacteriana). @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Anticorpos raros na colite ulcerativa. ○ O fluxo transepitelial das bactérias luminais ativa as respostas imunes. ○ Aumento da permeabilidade das junções oclusivas, aumentando o influxo do material luminal, por conta da liberação constante de TNF e de outros imunomediados. ○ Estabelecimento de um ciclo autoamplificador, dando origem a respostas imunes de má adaptação e de lesão. Doença de Crohn Definição: doença intestinal inflamatória e crônica que afeta o revestimento do trato digestivo. ● Pode afetar qualquer área do trato GI, porém as principais áreas afetadas são → íleo terminal, válvula ileocecal e ceco. Morfologia: ● Aspectos macroscópicos: ○ Lesão inicial: úlcera aftosa. ○ Progressão da lesão: múltiplas lesões que se fundem, formando úlceras alongadas e serpentiformes. ■ Há edema e perda da textura normal da mucosa. ○ Lesões salteadas: presença de áreas múltiplas, separadas e delineadas da doença → característico. ○ Pedra de calçamento: placas de tecido doente entremeadas por tecido normal. ○ Fissuras: comum entre as dobras da mucosa, podendo se estender e formar fístulas. ○ Parede intestinal: aspecto borrachudo, pelo edema transmural, inflamação, fibrose submucosa e hipertrofia muscular → contribui para estenose. ○ Presença de gordura trepadeira: ocorre quando a doença transmural é extensa, então a gordura mesentérica se estende ao redor da superfície serosa. ● Características microscópicas: ○ Presença de granulomas não caseosos → marco do crohn. ○ Neutrófilos abundantes que se infiltram e lesionam o epitélio da cripta. ■ Grupos de neutrófilos dentro da cripta = abscessos de cripta. ○ Distorção da arquitetura da mucosa: resultante de ciclos @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so repetidos de destruição e regeneração das criptas. ■ Resultado da lesão crônica: metaplasia epitelial, com a forma de glândulas gástricas antrais = metaplasia pseudopilórica. ○ Metaplasia de células de Paneth: pode ocorrer no cólon esquerdo, onde não costuma haver as células de Paneth. Aspectos clínicos: ● As manifestações costumam ser bem variadas e geralmente há períodos de doença ativa intercalados por períodos assintomáticos. ● Quadro inicial: ataques intermitentes de diarreia, relativamente leves, febre e dor abdominal. ● Doença aguda: dor no QID, febre e diarreia sanguinolenta. ○ Pode mimetizar apendicite aguda ou perfuração do intestino. ● Fatores de reativação da doença: estresse físico ou emocional, itens específicos da dieta e tabagismo. ● Consequências da doença: ○ Anemia por deficiência de ferro. ○ Perda de proteínas séricas. ○ Hipoalbuminemia. ○ Má absorção generalizada de nutrientes. ○ Má absorção de vitamina B12 e de sais biliares. ○ Estreitamentos fibrosantes (cirúrgico). ○ Fístulas (entre as alças do intestino, bexiga urinária, vagina, pele abdominal e perianal). ○ Perfurações e abscessos peritoneais. ● Manifestações extraintestinais: uveíte, poliartrite migratória, sacroileíte e espondilite anquilosante, eritema nodoso e baqueteamento das pontas dos dedos. Colite ulcerativa Definição: doença intestinal inflamatória e crônica que provoca inflamação no trato digestivo → intimamente relacionada à doença de Crohn. ● Principal diferença: a colite ulcerativa é limitada ao cólon e ao reto. Morfologia: ● Macroscopia: ○ Área de envolvimento: reto e cólon. ■ Caso envolva todo o cólon: pancolite. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ■ Doença distal: proctite ulcerativa ou proctossigmoidite ulcerativa. ○ Pancolite grave: intestino delgado normal, as vezes com leve inflamação da mucosa. ○ Característica da pancolite ativa: mucosa avermelhada e granular, com atrofia e pólipos inflamatórios. ○ Características da mucosa colônica: ■ Cor levemente avermelhada ou granular. ■ Úlceras extensas de base larga. ■ Transição brusca entre o cólon com e sem a doença. ■ Úlceras alinhadas ao longo do eixo do cólon → mas não são serpentiforme, como no Crohn. ■ Formação de ilhas isoladas de mucosa regenerativa, criando pseudopólipos. ■ Criação de ponte mucosa com a ponta desses pólipos. ○ Características da doença crônica: ■ Atrofia da mucosa. ■ Superfície achatada e lisa, sem dobras normais. ■ SEM espessamento mural, a superfície serosa é normal e não ocorre estenose → diferente do Crohn. ■ Musculatura própria danificada, por conta da inflamação e dos mediadores inflamatórios. ■ Perturbação da função neuromuscular, causando dilatação colônica e megacólon tóxico → alto risco de perfuração. ○ Características microscópicas: (similar ao Crohn) ■ Infiltrado inflamatório difuso e geralmente limitado à mucosa e à submucosa superficial. ■ Abscessos crípticos. ■ Distorção da cripta. ■ Metaplasia epitelial pseudo pilórica. ○ Características de casos graves: ■ Destruição extensa da mucosa. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ■ Úlceras mais profundas na submucosa, raramente envolvendo a muscular própria. ■ Fibrose submucosa. ■ Atrofia da mucosa. ■ Arquitetura da mucosa distorcida → resíduos da doença curada. ● Reversão da histologia quase normal após remissão prolongada. ■ Ausência de granulomas Aspectos clínicos: ● Caracterização principal: ataques de diarreia sanguinolenta, com material mucóide viscoso, dor abdominal inferior e cólicas temporariamente aliviadas pela defecação. ○ Persistência dos sintomas por dias, semanas ou meses. ○ O ataqueinicial pode ser grave, considerado emergência médica ou cirúrgica. ● Fatores de ativação da doença: enterite infecciosa, estresse psicológico, logo após a interrupção do tabagismo (em alguns casos o fumo pode aliviar parcialmente os sintomas). ● Manifestações extraintestinais: poliartrite migratória, sacroileíte, espondilite anquilosante, uveíte e lesões na pele. Colite indeterminada Esse tipo de colite ocorre por conta da sobreposição patológica entre colite ulcerativa e Crohn. ● Esses casos não envolvem o intestino delgado e têm doença colônica em padrão contínuo, típico da colite ulcerativa. ● Porém, também pode haver doença histológica focal, fissuras, histórico familiar de Crohn, lesões perianais e início do quadro depois do uso de cigarros, que remete ao Crohn. O que fazer: ● Exame endoscópico, radiográfico e histológico mais detalhado. ● Estudos sorológicos. ○ Geralmente anticorpos citoplasmáticos anti neutrófilos perinucleares são mais da colite ulcerativa, apesar de poder ocorrer no Crohn. ○ Em contraste, a presença de anticorpos para Saccharomyces é mais frequentemente no Crohn. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Neoplasia associada à colite Esse quadro é uma das principais complicações tardias da colite ulcerativa e do Crohn. Risco de displasia: ● Duração da doença → maior risco 8 a 10 anos após o início da doença. ● Extensão da doença → pancolite possui mais risco do que quando acomete apenas o lado esquerdo. ● Natureza da resposta inflamatória → maior frequência e gravidade da inflamação ativa (presença de neutrófilos) conferem maior risco. Detecção precoce: início da vigilância aproximadamente 8 anos após o diagnóstico da DII. ● Exceção: pacientes com DII e colangite esclerosante primária, pois há maior risco de desenvolver câncer, então iniciam a vigilância no momento do diagnóstico. Como é a vigilância: biópsias regulares e extensas das mucosas. ● Objetivo das biopsias de vigilância: identificação do epitélio displásico, precursor do carcinoma associado à colite. Outras causas de colite Colite por desvio: ● Geralmente ocorre por conta do tratamento cirúrgico da colite ulcerativa, doença de Hirschsprung e de outros distúrbios intestinais. ● Motivo: criação de ostomia temporária ou permanente e de um segmento distal cego do cólon, do qual o fluxo fecal normal é desviado. ○ A colite pode se desenvolver no segmento desviado, especialmente em pacientes com colite ulcerativa. Características da colite por desvio: ● Eritema e friabilidade da mucosa. ● Desenvolvimento de numerosos folículos linfóides na mucosa → principal característica. ● Números aumentados de linfócitos, monócitos, macrófagos e plasmócitos na lâmina própria. ● Casos graves: a histopatologia pode ser semelhante à DII e incluir abscessos crípticos, distorção da arquitetura da mucosa ou, raramente, ter granulomas. @p�sitivamed
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