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Doenças Inflamatórias Intestinais Bogliolo + Robbins Considerações Iniciais Condição crônica e idiopática - ativação imunológica inapropriada da mucosa. Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa - diferem quanto à distribuição e morfologia da lesão, bem como à sensibilidade terapêutica. A colite ulcerativa é uma doença inflamatória grave, limitada ao cólon e ao reto e que se estende apenas à mucosa e à submucosa. Em contraste, a doença de Crohn, também chamada de ileíte regional (pelo frequente comprometimento ileal), pode comprometer qualquer trecho do trato GI e é tipicamente transmural. Na DC, o comprometimento é segmentar, frequentemente multifocal, conhecido como lesões salteadas e há inflamação transmural que se estende por todas as camadas da parede intestinal, resultando em fissuras, fístulas e abscessos. Cicatrização das lesões inflamatórias resulta em estreitamento da luz intestinal, que se manifesta clinicamente com obstrução intestinal. Há considerável sobreposição, tanto do ponto de vista clínico como do patológico, de colite ulcerativa, doença de Crohn e outras doenças inflamatórias do cólon. Principal manifestação clínica: diarreia prolongada e recidivante que pode durar anos ou décadas. Também pode haver distúrbios hidroeletrolíticos. Aumento do risco para câncer nos pacientes com colite ulcerativa. Epidemiologia: Mais frequentes em mulheres jovens (adolescentes, 20 anos…); caucasianos. Distribuição geográfica variável - América do Norte, norte da Europa e Austrália. Hipótese da higiene: A frequência reduzida de infecções entéricas resulta em desenvolvimento inadequado dos processos reguladores para limitar a resposta imune da mucosa, permitindo que patógenos que poderiam causar doença autolimitadas desencadeiem respostas imunes severas e doença inflamatória crônica em hospedeiro suscetível. Há uma observação de que a infestação por helminto, que é endêmica em regiões onde a incidência da DII é baixa, pode prevenir a DII em modelos de animais. Patogenia: Idiopático. Há uma associação epidemiológica limitada da DII à autoimunidade, mas, nem a DC nem a RU são doenças autoimunes. As duas doenças resultam de uma combinação de defeitos nas interações do hospedeiro com a microbiota intestinal, disfunção epitelial intestinal e respostas imunológicas aberrantes da mucosa. O contato direto das células epiteliais com bactérias ou seus produtos pode aumentar a permeabilidade da mucosa, que parece ser evento crítico na origem e na manutenção dos estímulos à inflamação. Genética: Os fatores genéticos contribuem para a DII. Entretanto, os fatores genéticos são menos dominantes na RU do que na DC. DC - polimorfismos específicos do NOD2 aumentam em 4 vezes o risco da DC entre caucasianos da linhagem europeia. Medicina Ufal 2022 Adriely Blandino 82 Fatores imunitários: Ativação anormal e contínua da resposta imunitária pode resultar de defeito intrínseco do sistema imunitário ou de falha nos mecanismos de supressão da resposta inflamatória. Outra possibilidade é que a ativação contínua da resposta imunitária seja secundária a alteração na barreira da mucosa. Tanto na colite ulcerativa como na doença de Crohn, a agressão imunitária é mediada por linfócitos TCD4+. Entretanto, na RU parece estar relacionada com a resposta imunitária do tipo TH2, enquanto a DC associa-se ao perfil TH1. A imunossupressão permanece como o esteio da terapia da DII. No geral, é provável que algumas combinações de desarranjos que ativam a imunidade da mucosa e suprimem a imunorregulação contribuam para o desenvolvimento da colite ulcerativa e da doença de Crohn. Defeitos epiteliais: Os defeitos no funcionamento da barreira da junção cutânea do epitélio intestinal estão presentes em pacientes com a doença de Crohn. A disfunção da barreira pode ativar a imunidade inata e adaptativa da mucosa e sensibilizar os indivíduos para a doença. Microbiota: Pode ser modificada pela dieta e há uma variação significativa entre indivíduos. Estudos avançados sugerem que misturas definidas pela doença contendo bactérias probióticas ou benéficas possam combater a doença em modelos experimentais assim como alguns pacientes com DII, embora o mecanismo responsável não seja bem entendido. O fluxo transepitelial dos componentes das bactérias luminais ativa as respostas imunológicas inatas e adaptativas Em um hospedeiro geneticamente suscetível, a liberação subsequente de TNF e de outros sinais mediados pela imunidade direciona o epitélio a aumentar a permeabilidade da junção aderente, o que causa aumento posterior no fluxo de material luminal. Esses eventos podem estabelecer um ciclo autoamplificante, no qual o estímulo em qualquer local pode ser suficiente para iniciar a DII. O tabaco também modifica a epidemiologia da DII, mas, paradoxalmente, o risco da doença de Crohn é aumentado pelo fumo, enquanto o da colite ulcerativa é diminuído. Outros fatores: O uso de anti-inflamatórios não esteroides pode desencadear surtos de atividade da doença, provavelmente por alterações na permeabilidade da mucosa intestinal. Apendicectomia precoce está associada a menor incidência de colite ulcerativa. Em síntese, o denominador comum na doença inflamatória intestinal parecem ser modificações na microbiota intestinal e alterações na barreira epitelial da mucosa, que induzem resposta imunitária exagerada e destrutiva, tudo isso em indivíduo geneticamente suscetível. Diagnóstico: O diagnóstico de doença inflamatória intestinal baseia-se na associação de dados clínicos, laboratoriais e anatomopatológicos Em cerca de 10% dos pacientes, não é possível distinguir entre doença de Crohn e colite ulcerativa. Nesses casos, é feito diagnóstico de colite indeterminada. Doença de Crohn Morfologia: A doença de Crohn pode ocorrer em qualquer área do trato GI, mas os locais mais comumente envolvidos na apresentação são o íleo terminal, a válvula ileocecal e o ceco. A lesão inicial da doença de Crohn, a úlcera aftosa, pode progredir, e lesões múltiplas Medicina Ufal 2022 Adriely Blandino 82 frequentemente se fusionam formando úlceras alongadas e serpentiformes orientadas ao longo do eixo do intestino. Edema e perda da textura normal da mucosa são comuns. Aparência de pedra de calçamento, com textura grosseira, na qual o tecido doente é depositado acima do nível da mucosa normal Fissuras se desenvolvem frequentemente entre as dobras da mucosa. A parede intestinal está espessada e elástica como consequência do edema transmural, da inflamação, da fibrose submucosa e da hipertrofia da muscular própria. As características microscópicas da doença de Crohn ativa incluem neutrófilos abundantes que se infiltram e danificam o epitélio da cripta. Abscessos crípticos: grupos de neutrófilos dentro das criptas. Transição aguda entre a mucosa ulcerada e a normal adjacente. Distorção da arquitetura da mucosa. A metaplasia epitelial, outra consequência da recorrência de injúria crônica, frequentemente toma a forma de glândulas gástricas aparentemente antrais, e é chamada de metaplasia pseudopilórica. Metaplasia das células de Paneth também pode ocorrer no cólon esquerdo A atrofia da mucosa, com perda das criptas, pode ocorrer após anos de doença. Granulomas não caseosos podem ocorrer em áreas de doença ativa ou em regiões não envolvidas. Os granulomas cutâneos formam nódulos que são conhecidos como doença de Crohn metastática. A ausência de granulomas não exclui o diagnóstico de doença de Crohn. Características clínicas: Ataques intermitentes de diarreia relativamente leves, febre e dor abdominal. Períodos de doença ativa são tipicamente interrompidos por períodos assintomáticos que duram de semanas a vários meses. A anemia por deficiência de ferro pode se desenvolver em indivíduos com doença colônica.Perda de proteínas séricas e hipoalbuminemia, má absorção generalizada de nutrientes, ou má absorção de vitamina B12 e sais biliares. As fístulas se desenvolvem entre as alças do intestino e podem também envolver a bexiga urinária, vagina e a pele abdominal e perianal. As perfurações e os abscessos peritoneais são comuns. A pericolangite e a colangite esclerosante primária ocorrem na doença de Crohn, mas são mais comuns na colite ulcerativa Quando há comprometimento do cólon, podem ocorrer megacólon tóxico e perfuração intestinal. As manifestações extraintestinais mais comuns são artrite, eritema nodoso, espondilite ancilosante, colangite esclerosante, uveíte, colelitíase, nefrolitíase, uretrite e amiloidose. Diagnósticos diferenciais: Os diagnósticos diferenciais compreendem doenças infecciosas, como amebíase, tuberculose intestinal, infecção por Yersinia enterocolitica e Campylobacter jejuni, que têm localização e quadro clinico-morfológico similares aos da doença de Crohn. Lesões que levam a estenose segmentar, como enterites (isquêmica, por radiação e por anti inflamatórios não esteroides) e linfomas, devem ser consideradas no diagnóstico diferencial. Medicina Ufal 2022 Adriely Blandino 82 Colite Ulcerativa Limitada ao cólon e reto. Manifestações extraintestinais: poliartrite migratória, sacroileíte, espondilite esclerosante, uveíte, lesões de pele, pericolangite e colangite esclerosante primária. Morfologia: Sempre envolve o reto e se estende proximalmente e de modo contínuo para envolver parte ou todo o cólon. A doença do cólon inteiro é chamada de pancolite. A doença esquerda não se estende além do cólon transverso. Úlceras de base larga, extensas, e pode haver uma transição abrupta entre o cólon doente e o não envolvido. Pseudopólipos: ilhas isoladas de mucosa regenerativa. Atrofia da mucosa com uma superfície mucosa achatada e lisa que não apresenta as dobras normais. O espessamento mural não está presente, a superfície serosa é normal e as estenoses não ocorrem. Inflamação pode levar a danos na função neuromuscular e ocasionar megacólon tóxico → risco de perfuração. Infiltrados inflamatórios, abscessos crípticos, distorção da arquitetura das criptas e metaplasia epitelial. Granulomas não estão presentes. Características clínicas: Diarreia sanguinolenta com material mucoide enfileirado, dor abdominal inferior e cólicas. A colectomia cura efetivamente a doença intestinal na colite ulcerativa, mas as manifestações extraintestinais podem persistir. A enterite infecciosa precede o início da doença em alguns casos. Em outros casos, o primeiro ataque é precedido por estresse psicológico, o qual pode estar ligado à recaída durante a remissão. A duração da doença (superior a 10 anos), sua extensão no cólon e a existência de displasia são os principais fatores de risco para câncer. Colite indeterminada Estes casos, chamados de colite indeterminada, não envolvem o intestino delgado e têm doença colônica em um padrão contínuo que tipicamente indicaria uma colite ulcerativa. Por causa da sobreposição extensa no tratamento médico da colite ulcerativa e a doença de Crohn, os pacientes que possuem um diagnóstico de colite indeterminada podem ser tratados efetivamente. Colite associada à neoplasia Uma das complicações de longa duração mais temidas da colite ulcerativa e da doença de Crohn colônica é o desenvolvimento de neoplasia. O risco de displasia está relacionado a diversos fatores: ● Risco nitidamente aumentado 8 a 10 anos após o início da doença. ● Pacientes com pancolite estão sob maior risco do que aqueles com a doença somente do lado esquerdo. Medicina Ufal 2022 Adriely Blandino 82 ● Frequência e gravidade maiores da inflamação ativa (caracterizada pela presença de neutrófilos) podem aumentar o risco. O tratamento com anticorpos anti-TNF pode suprimir o desenvolvimento de cânceres associados à colite em animais experimentais. Para facilitar a detecção precoce da neoplasia, os pacientes são geralmente inscritos em programas de vigilância aproximadamente 8 anos após o diagnóstico da DII. A vigilância por meio da biópsia continua sendo a melhor ferramenta disponível, apesar de custosa. A displasia associada à DII está classificada histologicamente como de baixo grau ou de alto grau e pode ser multifocal. A displasia de alto grau pode estar associada ao carcinoma invasivo no mesmo local ou em outro lugar no cólon e, portanto, incita tipicamente uma colectomia. Anotações Medicina Ufal 2022 Adriely Blandino 82
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