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APG - SOI III Bianca Cardoso - Medicina 3 o Período TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP) Fisiopatologia A TVP é a formação de trombos em veias profundas, com obstrução parcial ou oclusão • Mais comum em MMII (80%) - por conta da gravidade, o sangue tende a retornar (refluxo), entretanto ele não consegue quando as válvulas estão funcionando corretamente. Porém, eles tendem a se acumular nas laterais das valvas, favorecendo a agregação de fatores e formação de trombos - esse êmbolo que se forma nos MMII, caminha pela VCI, caindo no AD, VD, caindo na circulação pulmonar, que devido diminuição do calibre fica preso e gera a TEP • Pode evoluir para insuficiência venosa crônica, mas principalmente para tromboembolismo pulmonar (TEP) • Se inicia com a tríade de Virchow • 95% dos casos de TVP evoluem para TEP • O trombo nevoso é constituído de fibrina, células vermelhas (eritrócitos) e poucas plaquetas Tríade de Virchow -> explica que existem, básicamente, 3 processos que levam a formação de um trombo venoso: I. Estase sanguínea - A redução do fluxo possibilita que os fatores estejam mais próximos e comecem se agregar - Responsável pela ativação da agregação plaquetário e pela ativação da cascata de coagulação II. Hipercoagulabilidade - Vai haver ou aumento de fatores de coagulação ou a diminuição dos fatores trombolíticos (anticoagulantes) III. Lesão endotelial (o subendotélio é exposto, ativando a cascata de coagulação para a formação do trombo venoso) Fisiologia da coagulação • A hemostasia é o processo de formação de trombo em local de lesão vascular • Tem o objetivo de conter hemorragias Hemostasia primária I. Há a lesão do vaso (endotélio), expondo o colágeno ao plasma sanguíneo (possibilita a adesão do fator de von Willebrand ao colágeno) II. Antes de ocorrer todo esse processo, a lesão induz o vaso a fazer uma vasoconstrição local, pra reduzir a perda de sangue III. O FvW leva à adesão das plaquetas no local (tampão plaquetário) - não da cinta da coagulação completa, precisando da hemostasia secundária (fatores de coagulação) Hemostasia secundária: fatores de coagulação • A cascata de coagulação ocorre por meio de 3 vias a) Via Intrínseca: via de ativação de contato - depois da adesão das plaquetas os fatores de coagulação se aderem e ativam outros - XI, XII, XI, Ca+, IX, VIII e X - o exame que avalia é o tempo de tromboplastina parcial ativado - via que o cálcio participa b) Via Extrínseca: via do fator tissular - III, VII, IX, X e V - possui 3/4 fatores que depende, de vitamina K (VII, IX e X) - carência de vitamina K ou substâncias antivitamina K, inibem essa via, logo, o processo de conversão de protrombina em trombina (via comum) - exame que avalia é o tempo de protrombina (TP) c) Via Comum - ativação do fator X em Xa, que converte a protrombina em trombina (que converte o fibrinogênio em fibrina) - V, V, II, I - exame tempo de trombina Como ocorre a hemostasia secundária (tem o objetivo de formar trombina, já que é ela que vai ativar a fibrina e fazer o tampão secundário): • Iniciação - O fator tecidual se adere ao fator VII, ativando os fatores IX e X - O Xa, junto com o fator V, vai converter a protrombina em trombina (fator II) - A trombina ativa o fibrinogênio, transformando e, fibrina (fator I) • Amplificação - A trombina gerada (pouca), leva à agregação plaquetário no local e há a separação do FvW do fator VIIIessa separação faz mais adesão plaquetária • Propagação - O fator IX se liga às plaquetas e ao fator VIII e vai potencializar a formação de trombina - Há a formação de um tampão de fibrina mais estável • Retração do coágulo - +/- 20-60min depois o coágulo se retrai e expele o soro que tem dentro dele - essa retração é importante para unir as bordas do vaso lesado, para facilitar a regeneração • Dissolução do coágulo (fibrinólise) - O plasminogênio é convertido em plasmina através do plasminogênio tecidual (t-PA) Os principais agentes trombolíticos são à proteína C, à proteína S, a Antitrombina III e plasmina APG - SOI III Bianca Cardoso - Medicina 3 o Período Manifestações Clínicas • A maioria dos pacientes com trombose venosa são assintomáticos, e até 50% com TVP não manifestam sintomas • Provavelmente, a ausência de sinais e sintomas se dá pela obstrução apenas parcial da veia ou à presença de circulação colateral • Quando há sintomas, eles se apresentam como: - Edema: - Dor (à palpação) - Calor (perna quente) - Vermelhidão no membro acometido - Presença de trajetos venosos superficiais visíveis - Dor e sensibilidade na panturrilha • A trombose da veia femoral causa dor e sensibilidade na área distal da coxa e na região poplítea • Trombos nas veias ileofemorais causam manifestações mais agudas, com edema, dor e sensibilidade em todo o membro • Os sinais e sintomas mais comuns de embolia pulmonar são: - dispneia aos esforços - dor torácica - taquipneia - tosse Anamnese Quadro clássico: Dor, vermelhidão e inchaço unilateral em membro inferior de aparecimento agudo em paciente com fatores de risco para trombose. Perguntar por sintomas constitucionais e achados sugestivos de malignidade: Emagrecimento, fadiga, inapetência, hematoquezia, hemoptise e hematúria. Perguntar por sintomas respiratórios, avaliando a possibilidade de tromboembolismo pulmonar: Dispneia, tosse, dor torácica, cansaço. Síndrome de May-Thurner: Trombose venosa profunda recorrente em veia ilíaca esquerda, suspeitando-se de compressão da mesma pela artéria ilíaca direita contra a coluna vertebral (pode ocorrer com outras veias no território iliocaval). Diagnóstico e exames complementares • Geralmente é feito com ultrassom • A abordagem diagnóstica se inicia com cálculo da probabilidade pelo escore de Wells de trombose venosa profunda e/ou tromboembolismo pulmonar. • A partir da probabilidade pré-teste calculada, procede-se a exames complementares. • O escore de Wells modificado acrescenta mais 1 ponto para o histórico de TVP prévia documentada e é o melhor escore para ser utilizado em conjunto com o D-dímero. SCORE DE WELLS Estimam a probabilidade clínica de TVP e de EP I. Se baixa probabilidade (0 ponto): - Solicitar D-dímero (exame extremamente sensível com alto valor preditivo negativo), ou seja, na presença de exame negativo, exclui-se o diagnóstico de trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar. Por outro lado, um D-dímero positivo não confirma o diagnóstico, dada sua baixa especificidade, sendo indicada ultrassonografia com Doppler do membro inferior suspeito de trombose. - Obs: o D-dímero costuma ser considerado negativo com valores abaixo de 500 nanogramas/mL. II. Se média probabilidade (1 a 2 pontos): - Solicitar D-dímero. - Caso D-dímero negativo, deve-se encerrar a investigação; caso o exame venha positivo, deve-se proceder a ultrassonografia com Doppler do membro inferior suspeito de trombose. - Caso haja alguma condição que também eleve o D- dímero (IAM, gravidez, sepse, trauma), o paciente pode ser submetido diretamente ao Doppler. III. Se alta probabilidades de trombose venosa profunda (3 a 8 pontos): - Solicitar ultrassonografia com Doppler do membro inferior suspeito. - Em pac ien tes com a l t a p robab i l i dade de ultrassonografia negativa nenhum teste adicional é necessário; caso o exame seja inconclusivo, pode-se realizar uma venografia ou repetir o exame em uma semana. - Caso haja suspeita o ultrassom, pode de estender para as veias ilíacas. IV. Se média ou alta probabilidades de TEP: - Solicitar exame de imagem conforme disponibilidade, entre cintilografia de ventilação-perfusãopulmonar (V/ Q), angiotomografia de artérias pulmonares, angiografia pulmonar (padrão-ouro). - Pacientes de alto risco para TEP com cintilografia e/ou angioTC negativas devem ser submetidos à angiografia pulmonar. O diagnóstico clínico (anamnese e exame físico) é pouco confiável porque nenhum sinal ou sintoma individual é suficiente preditivo para confirmar ou excluir o diagnóstico Exame Físico Sinais vitais: Normalmente, não há alterações nos sinais vitais, exceto na presença de tromboembolismo pulmonar, manifestando-se por taquicardia, taquipneia e podendo evoluir para instabilidade hemodinâmica com hipotensão e choque. Alterações do membro afetado: Edema (aumento do diâmetro da panturrilha é o achado mais útil), dor, veias dilatas, rubor, calor. Suspeita de tromboembolismo pulmonar: Em todo paciente com suspeita ou diagnóstico de TVP, deve-se estar atento a manifestações respiratórias, como taquipneia, dispneia, cianose, dessaturação, e a manifestações cardiovasculares, como taquicardia, P2 hiperfonética, turgência jugular patológica, devendo-se suspeitar de embolia pulmonar. APG - SOI III Bianca Cardoso - Medicina 3 o Período • Sinal de Homans: Dor referida na panturri lha desencadeada pela flexão dorsal do pé ipsilateral. Quando o paciente refere dor ou desconforto na panturrilha, ele é considerado positivo, logo, sugestivo de TVP • Sinal de Olow: paciente em decúbito dorsal, faz-se a compressão da panturrilha. Considerado positivo caso haja dor durante a manobra. • Sinal da Bandeira: menor mobilidade da panturrilha se comparada com a outra. Obs: Trombos restritos a veias distais da perna (trombose distal) apresentam baixo risco de embolização quando comparados a trombos em grandes veias proximais, como poplítea, femorais e ilíacas (trombose proximal). Obs: Protocolo do Triplo Descarte - imagem que visa visualizar a artéria aorta, pulmonares e coronárias no mesmo exame - não é o melhor método pra ver especificamente nenhuma delas, mas permite fazer uma distinção diagnóstica diante de uma dúvida clínica Diagnóstico por meio de métodos complementares: dosagem de D-dímero, ecodoppler, flebografia e angio- ressonância magnética I. Dosagem do D-dímero - avalia presença de produtos de degradação de fibrina no plasma sanguíneo - possui alta sensibilidade e baixa especificidade, por isso alto valor preditivo negativo II. Ecodoppler - o mais utilizado para diagnóstico de TVP - possui alta sensibilidade e alta especificidade - baixo custo, não invasivo - deve ser realizado quando há suspeita de TVP III. Flebografia - padrão-ouro, porém pouco utilizado por ser invasivo e por utilizar iodo (não podendo ser usando nas doentes renais e alérgicos) - indicado quando o ecodoppler não é conclusivo IV. Angio-ressonância magnética - não invasivo, utiliza godolíneo (contraste para visualização das veias) - alta sensibilidade e especificidade, porém possui alto custo - usado para diagnóstico da TVP localizada em locais de difícil acesso para o ecodoppler V. Angiografia pulmonar por TC - possibilita visualização direta de trombos nas artérias pulmonares de pacientes com embolia pulmonar e fornece diagnóstico alternativo em pacientes que comprovam não ter tido embolia pulmonar VI. Exames laboratoriais: Devem ser solicitados em todos os casos suspeitos, incluindo hemograma completo, eletrólitos, função renal, função hepática, coagulograma - tempo de prot rombina (TAP) e tempo de tromboplastina ativa (PTT). - O ECG também pode mostrar alterações sugestivas de distensão ventricular direita, como inversão de onda T nas derivações V1-V4, o padrão clássico S1, Q3 e T3 e bloqueio completo ou incompleto de ramo direito Conceitos fundamentais no diagnóstico da TVP: • D-dímero negativo em paciente com baixa probabilidade de TVP pelo escore de Wells exclui o diagnóstico; • D-dímero não deve ser utilizado em pacientes com alta probabilidade, pois nestes um exame negativo não exclui o diagnóstico; Tratamento (farmacodinâmica do anticoagulante) Os principais objetivos do tratamento da trombose venosa profunda são: • Prevenir a expansão do trombo; • Prevenir o tromboembolismo pulmonar; • Reduzir o risco de tromboses recorrentes; • Tratar imediatamente a trombose massiva ileofemoral, que evolui com isquemia de membro inferior e/ou gangrena venosa (phlegmasia cerulea dolens); • Diminuir o risco de complicações tardias, como insuficiência venosa crônica, síndrome pós-trombótica e hipertensão pulmonar por tromboembolismo crônico. Indicações de internação: Todo paciente com trombose venosa profunda deve garantir anticoagulação imediata por 10 dias para prevenção de trombose recorrente. Após essa fase, inicia-se a fase de manutenção que deve durar pelo menos 3 meses - o pac ien te deve se r in te r nado para mante r anticoagulação parenteral até que seja possível a troca para anticoagulantes orais - No entanto, em pacientes com baixo risco de tromboembolismo pulmonar, sem insuficiência renal grave, com baixo risco de sangramento e que se apresentem estáveis da parte hemodinâmica, pode-se considerar iniciar anticoagulantes orais que não necessitam de monitorização terapêutica • O tratamento medicamentoso tem o objetivo a anticoagulação sistêmica e é feito com a heparina e com os anticoagulantes orais, devendo ser iniciado assim que feito o diagnóstico As heparina são de dois tipos: a) Heparinas não-fracionadas (HNF): - atuação ampla sobre os fatores de coagulação, pouco específica - inibe os fatores II, IX, X, XI e XII - impede a conversão do fibrinogênio em fibrina - possui efeito imediato ant i t rombótico após administração endovenosa - baixo custo e pode ser utilizado em crianças e gestantes - precisa ser feita em bomba infusara e em unidade de terapia intensiva. Possui tempo de ação mais rápido, então é ótima em casos de pacientes muito graves ou que tenha um risco muito alto de sangramento. b) Heparina de baixo peso molecular (HBPM): - ação mais específica na cascata de coagulação - inibe a atuação do fator Xa, tendo menor p robab i l idade de eventos hemor rág icos e plaquetopenia - efeito anticoagulante permanece por 24h - pode ser usado em crianças e gestantes, porém apresenta alto custo • A varfarina é o cumarínico mais uti l izado na anticoagulação oral em casos de TVP - inibe os fatores de coagulação K-dependentes (II, VII, IX e X) - pode ser indicada junto com a terapia anticoagulante parenteral - pelo ou menos 5 dias para que exerça o efeito completo, então é preciso iniciar junto com a heparina APG - SOI III Bianca Cardoso - Medicina 3 o Período - baixo custo, porém não deve ser usada durante a gestação, uma vez que pode provocar má formação e hemorragia fetal (atravessa a barreira placentária) • 4 anticoagulantes orais diretos podem ser usados para o tratamento de TEV: dabigatrana; rivaroxabana; apixabana e edoxabana Anticoagulação pós-alta: Manter Heparina por, no mínimo, 5 a 10 dias, mantendo anticoagulação oral por, no mínimo, 3 meses. Fatores de Risco - Idade avançada - Câncer - Cirurgia - Imobilização ou repouso no leito (diminuição do fluxo sanguíneo (estase) - Uso de estrogênio - Gravidez (comum acometer veias iliofemorais da perna esquerda em 90% dos casos) - Distúrbios de coagulação - Uso de anticoncepcionais orais e terapia de reposição hormonal parece aumentar a coagulabilidade e predispor à trombose venosa, principalmente em mulheres fumantes Complicações - Insuficiência venosa crônica - Síndrome pós-trombótica - Embolia pulmonar (formação de trombos no interior dos vasos, podendo se fragmentar) - Hipertensão arterial pulmonar TROMBOEMBOLISMO PULMONAR (TEP)• Nos casos sintomáticos, 10% são fatais • 60-80% dos casos são assintomáticos (os trombos são absorvidos pelo endotélio ou gera uma fibrose local) • Existem diversos tamanhos de t rombos, mas independente de qual for formado, o desequilíbrio entre ventilação e perfusão (uma vez que o êmbolo dificulta a passagem de sangue, comprometendo a perfusão) • Os trombos pequenos ou médio normalmente são assintomáticos, a menos que eles causam um infarto • Quadro clínico: dispneia, dor pleuritica (devido à isquemia pleural), hemoptise (caso haja infarto), taquicardia, hipertensão pulmonar Testes diagnósticos - Raio-X de tórax - ECG - Arteriografia pulmonar (padrão-ouro, porém possui alto risco de lesão da artéria pulmonar) - Tomografia com contraste - Avaliação do D-dímero Tratamentos - Suporte respiratória e hemodinâmico (pacientes mais graves) - Anticoagulantes - Trombólise - Cirugia de trombectomia ou colocação de um filtro de VCI REFERÊNCIAS: • Fisiopatologia - PORTH • Tratado de Cardiologia - Braunwald • Diretriz conjunta sobre tromboembolismo venoso
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