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Quais são os tipos de câncer e/ou tumores mais frequentes na faixa etária pediátrica? 25.1 INTRODUÇÃO Nas últimas quatro décadas, foram realizados avanços significativos no tratamento do câncer na infância e na adolescência. Com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, cerca de 70% dos acometidos podem ser curados, e a maioria pode alcançar boa qualidade de vida após o tratamento. Os cânceres pediátricos diferem dos adultos quanto à célula progenitora envolvida e aos mecanismos de transformação maligna. Geralmente são as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação que são afetados. Costumam ter crescimento muito rápido, são mais invasivos, com menor período de latência e melhor resposta a quimioterapia que os cânceres em adultos. As neoplasias mais frequentes em pediatria são as leucemias, os tumores de sistema nervoso central e os linfomas. O câncer corresponde à segunda causa de morte por doença em crianças e adolescentes de 1 a 19 anos em todas as regiões do Brasil, perdendo apenas para as causas externas e traumas. As faixas etárias mais acometidas são as crianças até 5 anos de idade e os adolescentes, com predomínio no sexo masculino. Diante da importância do diagnóstico precoce e da morbidade e mortalidade relacionadas à doença, é fundamental o conhecimento do assunto. 25.2 LEUCEMIAS As leucemias são o tipo de câncer mais frequente na infância, representando 30% dos casos de câncer em crianças. As leucemias são definidas como o grupo de doenças malignas em que anormalidades genéticas na célula hematopoética originam uma proliferação clonal desregulada. Com essa proliferação anormal, a medula óssea deixa de funcionar adequadamente, levando a insuficiência medular — hemácias, leucócitos e plaquetas. As leucemias linfoides agudas são as mais comuns na faixa etária pediátrica (75 a 80%), seguidas pelas leucemias mieloides agudas (15 a 20%). As leucemias mieloides crônicas são incomuns (2 a 5%). 25.2.1 Leucemia linfoide aguda 25.2.1.1 Manifestações clínicas Os sintomas iniciais geralmente são inespecíficos, com evolução de dias a semanas ou até mesmo uma piora gradativa súbita. Os principais sintomas iniciais da leucemia linfoblástica aguda: ▶ Anorexia; ▶ Fadiga; ▶ Irritabilidade; ▶ Febre baixa intermitente em cerca de metade dos casos; ▶ Dor óssea, principalmente nos membros inferiores — mas pode ocorrer em qualquer localização — que pode ser intensa e despertar o paciente durante o sono e com difícil controle mesmo com o uso de medicação. 25.2.1.2 Exame físico Os sinais clínicos ao exame físico estão relacionados à insuficiência medular e à natureza proliferativa da doença. As principais alterações que podem ser encontradas no exame físico são: ▶ Palidez; ▶ Apatia; ▶ Púrpura ou petéquias; ▶ Hemorragia membranomucosa; ▶ Linfadenopatia; ▶ Esplenomegalia; ▶ Hepatomegalia; ▶ Sensibilidade excessiva sobre o osso no caso de pacientes com dor óssea ou articular. 25.2.1.3 Diagnóstico No sangue periférico, as alterações mais comuns são a anemia normocítica e normocrômica e a trombocitopenia, além da diminuição do número de reticulócitos. O número total de leucócitos pode estar normal, aumentado ou diminuído (mais raramente), e as células leucêmicas, blastos ou linfoblastos, podem ser inicialmente descritas como linfócitos atípicos. Pode ocorrer hiperleucocitose (leucócitos acima de 50.000/mm3), o que se relaciona com maior gravidade. Após a suspeita inicial, é fundamental avaliar a medula óssea para confirmação diagnóstica por meio do mielograma. #importante Os achados clássicos no hemograma na leucemia linfoide aguda são anemia normocítica e normocrômica, trombocitopenia, leucocitose com neutropenia e presença de blastos na periferia. O diagnóstico é, então, definido pela presença, na medula óssea, de mais de 25% de linfoblastos — avaliado no mielograma. A imunofenotipagem permite confirmar o diagnóstico e detectar lesão residual mínima. Após a confirmação da Leucemia Linfoide Aguda (LLA), é necessário examinar o liquor. Caso sejam encontrados linfoblastos e a leucometria esteja elevada, trata-se de um quadro de leucemia meníngea, refletindo um estágio pior da doença. Além do Sistema Nervoso Central (SNC), outros sítios extramedulares comuns da doença são os testículos, fígado, rins, linfonodos e baço. Os tumores derivados de precursores de linfócitos T têm pior prognóstico. É importante a realização de radiografia de tórax, para avaliação da presença de massa mediastinal — mais comum nas leucemias linfoblásticas T (LLA-T). Este diagnóstico é importante pelo risco de síndrome de veia cava superior além do risco aumentado de síndrome de lise tumoral. 25.2.1.4 Tratamento Sem o tratamento efetivo, a doença é fatal. A escolha da terapia baseia-se no risco clínico calculado de recidiva e varia de acordo com o tipo de LLA. Diversos fatores prognósticos podem ser avaliados conforme o Quadro 25.1. Quadro 25.1 Fatores prognósticos Ao suspeitar de LLA, o médico não deve prescrever corticosteroides, pois eles diminuem a quantidade de blastos e isso pode atrasar a confirmação do diagnóstico e o início do tratamento específico. As crianças com LLA que receberam corticoide antes do diagnóstico são consideradas de alto risco e recebem tratamentos mais agressivos. O tratamento específico da LLA é a quimioterapia, que é ajustada ao grupo risco, e os pacientes têm taxas de sobrevida livre de doença que variam entre 79 e 82%. O transplante de medula óssea é indicado em poucas situações, como na recidiva precoce. 25.2.2 Leucemia mieloide aguda A Leucemia Mieloide Aguda (LMA) é mais frequente em menores de 2 anos de idade e maiores de 10 anos, principalmente nos jovens de 15 a 20 anos. Alguns fatores estão relacionados com o maior risco para o desenvolvimento de leucemia mieloide aguda e são: ▶ Exposição à radiação ionizante; ▶ Agentes quimioterápicos; ▶ Solventes orgânicos; ▶ Hemoglobinúria paroxística noturna; ▶ Síndrome de Down; ▶ Anemia de Fanconi; ▶ Síndrome de Bloom; ▶ Síndrome de Kostman; ▶ Síndrome de Shwachman-Diamond; ▶ Síndrome de Diamond-Blackfan; ▶ Síndrome de Li-Fraumeni; ▶ Neurofibromatose tipo 1. #importante A síndrome de Down está relacionada a risco 20 vezes maior de desenvolvimento de leucemias agudas em relação à população geral. Leucemia mieloide aguda megacarioblástica (M7) e leucemia linfoblástica aguda são as leucemias mais frequentes. 25.2.2.1 Quadro clínico Os sinais e sintomas estão relacionados, principalmente, à substituição da medula óssea por células malignas, levando a um quadro de insuficiência medular secundária. Palidez, astenia e fenômenos hemorrágicos de início súbito podem estar presentes. A dor óssea não é tão frequente. Os sintomas de deficiência no funcionamento da medula óssea presentes na LLA também podem fazer parte do quadro clínico da Leucemia Mieloide Aguda (LMA). O quadro clínico é bastante semelhante à leucemia linfoide aguda, mas há alguns sinais característicos, listados a seguir: ▶ Nódulos subcutâneos ou “blueberry muffin”; ▶ Infiltração gengival; ▶ Massas - cloromas ou sarcomas granulocíticos (em região orbitária ou periorbitária). Figura 25.1 Nódulos subcutâneos ou “blueberry muffin” Fonte: adaptado de Blueberry muffin baby: A pictoral differential diagnosis, 2008. Figura 25.2 Cloroma 25.2.2.2 Diagnóstico O hemograma evidencia anemia normocítica e normocrômica, plaquetopenia, leucopenia ou, mais frequentemente, leucocitose com mieloblastos na periferia. Aproximadamente um quinto dos pacientes pode apresentar leucócitos acima de 100.000/m3. Diante da suspeita clínica, o diagnóstico pode ser confirmado por meio de análise do aspirado da medula óssea (mielograma). A principal característica é, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a presença de mais de 20% das células da medula óssea formada por uma população bastante homogênea de células blásticas, com características típicas dos estágios iniciais de diferenciação. Com análises específicas, é possível identificara morfologia, anomalias cromossômicas e mutações genéticas para classificar a doença, determinar o prognóstico e auxiliar na escolha terapêutica. 25.2.2.3 Tratamento A quimioterapia agressiva com a combinação de vários agentes apresenta os melhores resultados, no entanto as taxas de sobrevida livre de eventos variam de 25 a 50%. Cinco por cento dos pacientes têm infecção ou sangramento que levam a óbito antes que seja atingida a remissão. O transplante de medula óssea ou de células-tronco apresenta boa resposta ao tratamento para pacientes com recidiva ou com doença desfavorável. 25.3 TUMORES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Os de SNC são os tumores sólidos mais comuns na faixa etária pediátrica. Sua etiologia ainda não está totalmente esclarecida. Sabe-se que a exposição craniana à radiação ionizante aumenta o risco de desenvolvimento de tumores cerebrais, além dos distúrbios genéticos, mas a maioria é idiopática. Os sinais e sintomas variam com a localização, o tipo do tumor e a idade da criança. Nos primeiros 2 anos de vida, predominam os tumores supratentoriais. Entre 2 e 10 anos, os infratentoriais são mais prevalentes. Após os 10 anos, os supratentoriais voltam a ser o tipo mais frequente. Os tumores da via óptica, da região do hipotálamo, tronco cerebral e região do mesencéfalo e pineal são mais comuns em crianças e adolescentes do que em adultos. 25.3.1 Quadro clínico Em grande parte dos casos, o quadro clínico está relacionado ao aumento da pressão intracraniana. Os tumores do SNC podem provocar hidrocefalia consequente à obstrução do fluxo de liquor. Os sintomas que alertam para a presença de hidrocefalia são a cefaleia matinal, associada a vômitos, de início recente ou com mudança nas características, de forte intensidade, com presença de sinais focais ou outras alterações neurológicas. No caso de queixa de cefaleia com presença desses sinais de alerta é indicada a realização de exame de imagem: tomografia ou ressonância magnética de encéfalo. #importante Pacientes com tumores do SNC podem apresentar sintomas clássicos de hipertensão intracraniana como cefaleia, vômitos em jato, letargia, bradicardia, hipertensão arterial, papiledema, entre outros. 25.3.1.1 Tumores da região infratentorial Os tumores localizados nessa região podem cursar com os sinais e sintomas clássicos: cefaleia, papiledema, náuseas e vômitos. Torcicolo pode estar associado à herniação da amígdala cerebelar. Outros sintomas relacionados a tumores nessa região são borramento visual, diplopia e nistagmo. Quando localizados no tronco cerebral, os principais sintomas são paralisia do olhar, paralisias dos nervos cranianos, que podem ser múltiplas, e déficits do neurônio motor superior, podendo causar hemiparesia, hiper-reflexia e clônus. Os principais tumores nessas localizações são os meduloblastomas — em região de cerebelo — e os gliomas de tronco cerebral. 25.3.1.2 Tumores da região supratentorial Os tumores localizados nessa região apresentam-se, em geral, com alterações em apenas um dos lados do corpo. Alterações focais podem estar presentes, sendo as principais alterações na fala, fraqueza muscular, convulsões e assimetria nos reflexos. Lactentes podem manifestar como sintoma a preferência manual. Os principais tumores deste grupo são os astrocitomas e os ependimomas. 25.3.1.3 Tumores da região suprasselar Os tumores com origem nessa região podem se apresentar com sinais e sintomas relacionados a déficits neuroendócrinos, com diabetes insipidus, galactorreia, puberdade precoce, atraso na puberdade e hipotireoidismo. Os principais tumores desse grupo são os adenomas de hipófise, craniofaringiomas e tumores de células germinativas. 25.3.2 Diagnóstico Diante de um paciente com suspeita de tumor cerebral, devem-se fazer anamnese e exame físico completos, incluindo exame oftalmológico. Inicialmente pode ser realizada a tomografia de crânio por causa de sua boa sensibilidade. No entanto, em seguida deve-se solicitar a ressonância magnética com contraste (gadolínio), visto a melhor acurácia em relação à tomografia e à ausência de radiação. Dosar os níveis séricos de betagonadotrofina coriônica humana (beta-HCG) e alfafetoproteína pode ser útil para diagnosticar tumores de linhagem germinativa. A análise do liquor é especialmente útil na avaliação de tumores que podem disseminar-se para as leptomeninges, como é o caso dos meduloblastomas, ependimoma e tumores de linhagem germinativa. No entanto, caso haja hidrocefalia secundária à obstrução do fluxo liquórico ou nos casos de tumores infratentoriais, a punção lombar pode levar a herniação cerebral, o que pode acarretar dano neurológico importante e até mesmo levar a óbito. #importante Apesar de a análise do liquor ser importante na avaliação dos tumores do sistema nervoso central, a punção lombar não deve ser realizada na presença de sinais de hipertensão intracraniana. Nunca realizar punção liquórica em suspeita de neoplasia antes de realizar exame de imagem. 25.3.3 Tratamento O tratamento, geralmente, inclui cirurgia com ressecção completa do tumor, quando possível. Associam-se ao tratamento cirúrgico a quimioterapia e a radioterapia, de acordo com a idade do paciente, o tipo do tumor e outros fatores. 25.4 LINFOMAS Os linfomas são o terceiro tipo de câncer mais comum em Pediatria. Os linfomas de Hodgkin e não Hodgkin apresentam quadro clínico e tratamento diferentes. #importante Na doença de Hodgkin o acometimento predomina nos linfonodos periféricos, enquanto na não Hodgkin o comprometimento é mais frequente em órgãos e linfonodos internos. 25.4.1 Doença de Hodgkin A doença de Hodgkin apresenta dois picos de incidência: o primeiro ao redor dos 20 anos, e o segundo após os 50 anos. Raramente é observada antes dos 5 anos de idade, mas pode ser comum em pacientes com imunodeficiência infectados por vírus. Mesmo nas crianças saudáveis, há referências de que o surgimento da doença de Hodgkin pode estar relacionado à presença principalmente do vírus Epstein-Barr bem como do Herpes-vírus humano tipo 6 e citomegalovírus. A célula de Reed-Sternberg é um marcador da doença de Hodgkin, embora possa estar presente na mononucleose, no linfoma não Hodgkin e em outras condições. É uma célula grande, com múltiplos núcleos ou núcleos multilobulados. Figura 25.3 Célula de Reed-Sternberg Fonte: LindseyRN. 25.4.1.1 Quadro clínico O principal sintoma é a linfadenopatia periférica nas regiões cervical ou supraclavicular com as seguintes características: indolor, firme e elástica. Na maioria dos casos, há comprometimento do mediastino. Os linfonodos comprometidos são endurecidos, geralmente não são únicos, mas formam um conglomerado de linfonodos no qual um é maior e mais central, com outros menores coalescentes e aderidos a planos profundos, lembrando um “saco de batatas”. A doença é classificada de acordo com os subtipos histológicos em predomínio linfocitário, celularidade mista, depleção linfocitária e esclerose nodular. Além disso, é classificada em estágios de acordo com o acometimento linfonodal (Quadro 25.2). Quadro 25.2 Estágios da Doença de Hodgkin A cada estágio também pode ser atribuída a letra A ou B. A letra B é adicionada se uma pessoa tem algum dos sintomas B que seriam: ▶ perda de mais de 10% do peso corporal nos últimos seis meses (sem dieta); ▶ febre; ▶ sudorese noturna. A ausência de qualquer desses sintomas descritos anteriormente recebe a letra A. Outros sintomas que aparecem com menor frequência e não apresentam significado prognóstico são: prurido, letargia, anorexia e dor que piora com a ingestão de álcool. Alterações no sistema imune também podem estar presentes e permanecer mesmo após o tratamento. 25.4.1.2 Diagnóstico As causas mais comuns de adenopatia são infecciosas ou reacionais. Os linfonodos que chamam a atenção para quadro potencialmente maligno e que devem ser biopsiados para diagnóstico são os grandes — maiores de 1,5 cm — persistentes mesmo após tratamento adequado, que mantêm crescimento após quatrosemanas ou que não regridem após oito semanas e que têm como características serem firmes, endurecidos, indolores, aderidos a planos profundos. Linfonodos em cadeias supraclaviculares também são suspeitos de malignidade e devem ser submetidos à análise. Linfonodos dolorosos e com sinais flogísticos são mais sugestivos de quadro infeccioso. #importante Sinais de alerta para investigar linfonodo: ▶ Grande (maior que 1,5 cm); ▶ Endurecido, indolor, aderido, sem sinais flogísticos; ▶ Crescimento progressivo em quatro semanas ou não regressão em oito semanas; ▶ Cadeia supraclavicular. É fundamental que qualquer paciente com linfadenopatia suspeita, com as características acima, seja submetido à biópsia. É importante a realização de radiografia de tórax para identificação de massa mediastinal, pelo risco de presença de massa, causando síndrome de veia cava superior. Figura 25.4 Massa mediastinal anterior em paciente com doença de Hodgkin Legenda: (A) antes do tratamento e (B) após dois meses de quimioterapia, em que se nota o desaparecimento da massa. Fonte: Nelson Tratado de Pediatria, 2014. Ao realizar a biópsia, para garantir a obtenção de tecido adequado, é preferível que seja feita a excisão em vez de biópsia com agulha. O material pode ser analisado por meio de microscopia óptica, imuno-histoquímica, estudos moleculares e análise citogenética. Após a confirmação do diagnóstico de doença de Hodgkin, devem-se fazer o estadiamento e a escolha do tratamento. A avaliação do paciente deve incluir anamnese e exame físico completos, além de exames de imagem, incluindo radiografia de tórax. Os exames complementares laboratoriais mais importantes na avaliação inicial são hemograma completo, velocidade de hemossedimentação e nível sérico de ferritina, que apresenta significado prognóstico. 25.4.1.3 Tratamento O tratamento é feito com quimioterapia, que pode ser associada à radioterapia. Os fatores que influenciam o tratamento são o estágio da doença, a idade na ocasião do diagnóstico, a presença ou ausência de sintomas B e a presença de linfadenopatia hilar ou doença nodal volumosa. 25.4.1.4 Prognóstico e recidivas O principal fator prognóstico não é o subtipo histológico, e sim o estadiamento da doença. Pacientes com doença em estágio inicial apresentam sobrevida livre de doença de 85 a 90% e sobrevida em cinco anos de 95%. A presença de sintomas B confere pior prognóstico. As recidivas são possíveis, e a maioria acontece nos primeiros três anos após o diagnóstico, mas já foram relatadas até 10 anos após a doença ter sido diagnosticada. O prognóstico após a recidiva depende do tempo entre o fim do tratamento e a sua ocorrência, o local, linfonodo ou extranodal e a presença de sintomas B na recidiva. 25.4.2 Linfoma não Hodgkin O Linfoma Não Hodgkin (LNH) corresponde a 60% dos linfomas em crianças e é a segunda neoplasia mais comum em pacientes de 15 a 35 anos. Na maioria dos casos, não há uma etiologia identificada, porém uma menor parte dos casos está relacionada a imunodeficiências hereditárias ou adquiridas ou síndromes genéticas. Os LNHs na Pediatria são quase sempre de alto grau de malignidade. De acordo com a sua origem celular, são hoje classificados, conforme a OMS, em três subgrupos: ▶ Linfomas de células B — Burkitt e difuso de grandes células; ▶ Linfomas linfoblásticos T e pré-B; ▶ Linfomas de grandes células anaplásicos. 25.4.2.1 Quadro clínico Os sinais e sintomas dependem do subtipo de LNH e das regiões comprometidas. Quadro 25.3 Principais características clínicas de cada subtipo 25.4.2.2 Diagnóstico A biópsia do tecido tumoral é fundamental para o diagnóstico. O material deve ser examinado com citometria de fluxo, que determina a origem imunofenotípica — células T, B ou nulas — e com citogenética. Os demais exames que auxiliam no diagnóstico são hemograma completo, análise bioquímica, funções renal e hepática, punção lombar, radiografia de tórax e tomografia computadorizada da região cervical, tórax, abdome e pelve. Os principais fatores prognósticos a serem considerados são: ▶ Resposta não adequada ao tratamento; ▶ Dosagem alta de desidrogenase lática (DHL) no diagnóstico, especialmente nos linfomas B; ▶ Tipo de tratamento realizado; ▶ Estadiamento - pior prognóstico quanto maior o estadiamento: ▷▷ Estádio I: linfonodo ou massa tumoral completamente ressecado; ▷▷ Estádio II: tumor primário ressecado sem margens; ausência de comprometimento em qualquer outra localização; ▷▷ Estádio III: tumores irressecáveis; todos os primários do mediastino e grande parte dos tumores abdominais (exceto invaginados ressecados e os primários do ovário totalmente ressecados). Todo linfoma com comprometimento supra e infradiafragmático; ▷▷ Estádio IV: metástases hematogênicas, SNC e/ou medula óssea comprometidos. 25.5 MASSAS ABDOMINAIS As massas abdominais neoplásicas são frequentes em crianças, e os dois tumores malignos mais comuns são o neuroblastoma e o tumor de Wilms, que serão discutidos a seguir. 25.5.1 Neuroblastoma O neuroblastoma (NB) é um câncer com apresentação clínica variada, originado nas células embrionárias do sistema nervoso periférico, especificamente medula suprarrenal e gânglios simpáticos. No curso da doença, o tumor pode regredir espontaneamente ou pode haver casos em que não há resposta ao tratamento. Entre os tumores sólidos de localização fora do crânio, o NB é o mais comum. É também a malignidade mais comum nos lactentes, com uma idade média de diagnóstico de 2 anos, além de ser o tumor mais frequente no período neonatal. Cerca de 90% dos casos são diagnosticados antes dos 5 anos. Há risco aumentado para o surgimento do NB em pacientes com síndrome alcoólica fetal, heterocromia de íris, síndrome hidantoíno-fetal, doença de Hirschprung e neurofibromatose. #importante O neuroblastoma tem pico de incidência por volta dos 2 anos de idade. 25.5.1.1 Quadro clínico O diagnóstico pode ser um desafio, pois o quadro clínico pode ser similar ao de diversas doenças. Qualquer local onde houver sistema nervoso simpático pode ser sítio de desenvolvimento do NB, e os sinais e sintomas serão reflexos da localização e da extensão da doença. Os principais locais onde o NB surge são abdome, glândula adrenal (40%) e gânglios retroperitoneais simpáticos (25%). Em geral, pode ser palpada uma massa sólida e nodular no flanco ou na linha média. Ao fazer radiografia simples ou tomografia computadorizada, podem ser notadas calcificações e hemorragias, fato que não ocorre no tumor de Wilms, o qual também cursa com massa abdominal. A doença metastática ao diagnóstico ocorre em 75% dos casos e pode provocar os seguintes sinais e sintomas: febre, irritabilidade, comprometimento do estado geral, dor óssea, nódulos cianóticos subcutâneos, proptose orbital, equimoses periorbitais — “raccoon eyes” ou “olhos de guaxinim”. Figura 25.5 Equimose e proptose causadas por metástases periorbitais do neuroblastoma Fonte: Nelson Tratado de Pediatria, 2014. A disseminação de metástases é mais comum para ossos longos e crânio, medula óssea, fígado, linfonodos e pele. Os primeiros sinais e sintomas podem ser neurológicos em uma minoria dos casos. Quando localizado no gânglio cervical superior, pode resultar em síndrome de Horner, que cursa com ptose, miose, enoftalmia e anidrose facial. #importante A síndrome de Horner em crianças pode ser secundária a neuroblastoma. Caso o tumor seja de localização paraespinal, pode invadir o forame neural e causar sintomas de compressão da medula espinal e da raiz nervosa. Essa é uma situação que pode constituir uma emergência, e o tratamento é feito com cirurgia, laminectomia, radioterapia e quimioterapia. O NB também pode apresentar-se, inicialmente, com uma síndrome paraneoplásica de origem autoimune, a opsoclonia- mioclonia-ataxia, ou síndrome de Kinsbourne, manifestando-se com opsoclonia, ataxia cerebelar axial e apendicular e mioclonia, com abalos musculares. A opsoclonia diz respeito a movimentos oculares rápidos, multidirecionaise anárquicos. Outra síndrome paraneoplásica deste tipo de tumor é diarreia aquosa intensa e volumosa, pela secreção de peptídeo vasoativo intestinal (VIP). Em alguns casos, o tumor pode produzir catecolaminas, e os sintomas que podem aparecer são sudorese e hipertensão, mas é raro, esses sintomas são mais comuns em feocromocitomas. Em todas as crianças com suspeita de NB, devem ser dosados os produtos da degradação das catecolaminas, a dopamina, o ácido vanilmandélico e o ácido homovanílico, na urina e, ou no sangue. Funcionam como marcadores biológicos, normalizando com o controle da doença e voltando a ficar alterados quando em atividade. A ultrassonografia, a tomografia e a ressonância são necessárias para localizar e determinar o estadiamento o tumor. 25.5.1.2 Tratamento As estratégias de tratamento mudaram bastante nos últimos 20 anos. O tipo de tratamento é determinado pela idade do paciente, estágio do tumor e fatores citogenéticos e moleculares. O tratamento envolve cirurgia, quimioterapia, radioterapia e modificadores de resposta biológica. O prognóstico é variável e depende de alguns critérios específicos. 25.5.2 Tumor de Wilms O Tumor de Wilms (TW), também chamado nefroblastoma, é o tumor renal mais comum da infância e o segundo tumor do retroperitônio. Os locais de metástase mais frequentes são pulmões, linfonodos regionais e fígado. A maioria dos casos ocorre antes dos 5 anos, e o pico de incidência, entre 3 e 4 anos. Pode acometer apenas um ou ambos os rins, e a incidência do tumor bilateral é de 7%. A história familiar está presente em apenas 1% dos casos, a maior parte de ocorrência esporádica. As principais anomalias congênitas que podem estar associadas são hemi-hipertrofia, aniridia e malformações do trato urinário. As síndromes raras de Beckwith-Wiedemann (11 p15.5), síndrome WAGR (TW, aniridia, anomalia geniturinária, retardo mental) e Denys-Drash (esclerose mesangial difusa, pseudo- hermafroditismo e TW) também estão relacionadas à maior incidência de TW. 25.5.2.1 Quadro clínico Geralmente é assintomático, e a massa abdominal é o principal achado clínico. Se houver presença de sintomas, a tríade clássica é composta por massa abdominal, hipertensão e hematúria. Em geral, a mãe nota a massa ao dar banho na criança, ou é percebida durante a palpação abdominal no exame físico rotineiro. As massas renais podem se apresentar em diversos tamanhos, em geral são lisas e duras e podem ultrapassar a linha média. 25.5.2.2 Diagnóstico Os exames de imagem que auxiliam no diagnóstico são a radiografia simples, tomografia computadorizada e ressonância magnética, que podem evidenciar uma massa ou várias. O diagnóstico patológico é estabelecido pela obtenção de uma parte do tecido tumoral por meio de biópsia. #importante O tumor de Wilms apresenta-se com uma massa abdominal que pode ser observada pelo cuidador da criança duran te o banho. 25.5.2.3 Diagnóstico e tratamento Massa abdominal em criança deve ser considerada maligna até ser comprovada a origem. Biópsia ou excisão com análise histológica pode confirmar o diagnóstico. Cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia fazem parte do tratamento. 25.5.2.4 Prognóstico A maioria dos casos apresenta prognóstico favorável, com até 90% de sobrevivência após o tratamento. Quadro 25.4 Diagnóstico diferencial: neuroblastoma versus tumor de Wilms Fonte: elaborado pelo autor. 25.6 TUMORES ÓSSEOS O osteossarcoma é o tumor maligno primário ósseo mais comum, que corresponde a 60% dos casos, seguido pelo sarcoma de Ewing. 25.6.1 Osteossarcoma A fase de maior risco de desenvolvimento de osteossarcoma é o estirão de crescimento na adolescência. O pico de incidência é entre 10 e 19 anos de idade. Observa-se que pacientes com osteossarcoma atingem estatura mais elevada do que o esperado para a idade. Compromete a porção metafisária dos ossos longos, principalmente, o fêmur distal, mas também tíbia proximal, fíbula e úmero proximal. 25.6.1.1 Quadro clínico Inicialmente, os sintomas mais comuns são dor, claudicação e aumento de volume no local acometido. É comum que eles sejam atribuídos a traumas ocorridos durante atividades desportivas ou de lazer. É importante que qualquer dor óssea ou articular com demora em responder ao uso de medicamentos seja investigada. Ao exame físico podem-se notar limitação dos movimentos, derrame articular, sensibilidade e aumento da temperatura local. Hemograma completo e bioquímica podem estar com resultados normais, enquanto fosfatase alcalina e desidrogenase láctica podem apresentar valores elevados. 25.6.1.2 Diagnóstico A suspeita de tumor ósseo é forte diante de dor óssea profunda prolongada que não resolve com analgésicos habituais, podendo causar despertar noturno, massa palpável e radiografia que evidencia lesão associada a febre e perda de peso. #importante A dor óssea que provoca despertar noturno pode ser sintoma de osteossarcoma. Na radiografia, os achados mais comuns incluem o triângulo de Codman, reação periosteal em “raios de sol”, áreas de osteólise e osteoesclerose com limites pouco precisos. Figura 25.6 Radiografia do fêmur com osteossarcoma com a formação do osso com aspecto “em raios de sol” Fonte: Nelson Tratado de Pediatria, 2014. Diante da forte suspeita, o paciente deve ser conduzido a um local de referência para tratamento de tumores ósseos para realização de biópsia. Os principais diagnósticos diferenciais são histiocitose, sarcoma de Ewing, linfoma e cisto ósseo. 25.6.1.3 Tratamento e prognóstico A ressecção cirúrgica completa do tumor associada à quimioterapia e controle da dor são fundamentais para a cura. Nos pacientes com doença não metastática, a quimioterapia associada à cirurgia tem boa resposta com taxa de sobrevida livre de eventos em 65 a 75% dos casos. Já nos pacientes com metástase óssea ou pulmonar, a taxa de sobrevida cai para 25 a 50% em cinco anos. 25.6.2 Sarcoma de Ewing O sarcoma de Ewing é um sarcoma não diferenciado do osso, que também pode se originar no tecido mole. É o segundo tumor ósseo mais frequente e também acomete adolescentes. Os principais sintomas são dor, edema, limitação do movimento e sensibilidade sobre o osso ou o tecido mole acometido. As manifestações sistêmicas são comuns e incluem febre e perda de peso. O achado radiológico característico é a lesão óssea primariamente lítica com reação periosteal, chamada “em casca de cebola”. Pode acometer ossos longos, planos e chatos com maior frequência nos membros inferiores. A ressonância é o exame mais indicado para complementar a radiografia. O tratamento engloba cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia. Figura 25.7 Radiografia de tíbia em que há elevação periosteal ou lesão “em casca de cebola” Fonte: Nelson Tratado de Pediatria, 2014. 25.7 RETINOBLASTOMA Dos tumores intraoculares, é o mais comum na infância e pode progredir para doença metastática e levar a óbito em até 50% dos casos, correspondendo a 4% dos tumores malignos na infância. A idade média de diagnóstico é de 2 a 3 anos de idade, e mais de 90% dos casos são diagnosticados antes dos 5 anos. A maioria dos casos é unilateral. Pode ser esporádico ou hereditário. 25.7.1 Quadro clínico O principal sinal é a leucocoria, que é o reflexo pupilar branco (sinal do “olho de gato”). Pode ser detectada com o auxílio do oftalmoscópio pela ausência do reflexo vermelho no exame rotineiro do recém-nascido, também chamado de “teste do olhinho” ou em crianças de qualquer idade. Outra forma de suspeitar de leucocoria consiste em observar se o reflexo vermelho não aparece quando a criança é fotografada com uso de flash. Figura 25.8 Leucocoria Fonte: J. Morley-Smith. O estrabismo pode estar presente no início do quadro. Com o avanço da doença, os sintomas que podem aparecer são déficit visual, inflamação da órbita, hifema e irregularidade na pupila. A dor, quando presente, em geral é decorrente de glaucoma secundário. 25.7.2 Diagnóstico O diagnóstico definitivo é determinado pelos achados oftalmológicos própriosda doença, como retina friável e branco- acinzentada e calcificação intratumoral. Uma avaliação completa em geral é feita sob anestesia geral. A ultrassonografia mostra características importantes, e a presença de calcificação intraocular em crianças é altamente sugestiva de retinoblastoma. Os diagnósticos diferenciais são outras condições que cursam com leucocoria: persistência hiperplásica do vítreo primitivo, doença de Coats (telangiectasia retiniana), catarata, granuloma por Toxocara canis, coloboma coroidal e retinopatia da prematuridade. 25.7.3 Tratamento e prognóstico O tratamento depende do tamanho e da localização do tumor. A prioridade é a cura, e preservar a visão é o objetivo secundário. Em casos em que não há potencial útil para a visão, considera-se a enucleação, que também pode ser realizada quando não há resposta ao tratamento ou nos casos recorrentes. Terapia focal, com fotocoagulação com laser ou crioterapia, radioterapia externa e quimioterapia são avaliadas para tratamento em cada caso. É É importante que todos os parentes de primeiro grau de crianças afetadas tenham as retinas examinadas para identificar retinomas ou cicatrizes retinianas, que podem sugerir uma predisposição ao desenvolvimento do retinoblastoma. Quando não há acometimento extraocular e o diagnóstico é feito em um estágio inicial, as chances de cura podem chegar a 90%. Quando há metástases, o prognóstico é ruim. 25.8 TERATOMA SACROCOCCÍGEO Teratomas são um tipo de tumor de células germinativas possível em diversas localizações, sendo a região sacrococcígea a mais comum, e acometem mais as meninas. A apresentação ocorre em forma de massa. Além disso, é mais comum em lactentes e pode ser diagnosticado no pré-natal. O índice de malignidade varia de menos de 10% nos menores de 2 meses a mais de 50% nos pacientes com mais de 4 meses de vida. 25.9 EMERGÊNCIAS ONCOLÓGICAS 25.9.1 Neutropenia febril Pacientes em tratamento quimioterápico apresentam maior risco infeccioso, tanto de acometimento quanto de gravidade. Isso ocorre porque mielotoxicidade causada pelos quimioterápicos, pela neutropenia, pela mucosite e pelo aumento do risco de translocação das bactérias intestinais para a circulação. Além disso, são comumente invadidos por cateteres e sondas e fazem visitas frequentes ao serviço hospitalar, o que também aumenta esse risco. A neutropenia febril é definida como febre em um paciente que apresenta neutrófilos menor ou igual a 500/mm3 ou menor ou igual a 1.000/mm3, porém com perspectiva de queda. O paciente deve ser considerado com febre quando apresenta um pico de 38 °C ou pelo menos dois picos de 37,8 °C em 24 horas. Pacientes oncológicos com quadro febril devem ser orientados a procurar o serviço médico imediatamente. Devem ser coletados hemograma completo com diferencial de leucócitos e plaquetas, hemocultura central — de todas as vias — e periférica, PCR, urina 1, urocultura, radiografia de tórax se quadro respiratório e pesquisa de sítios específicos de acordo com queixa do paciente, ultrassonografia de abdome se suspeita de tiflite, pesquisa de vírus respiratórios se quadro gripal, por exemplo. A conduta nestes pacientes dependerá de fatores de baixo ou alto risco para infecção (Quadro 25.5) Quadro 25.5 Fatores de risco de infecção no paciente neutropênico Os pacientes classificados como baixo risco, com febre sem foco aparente, sem cateter e sem instabilidade hemodinâmica, devem iniciar piperacilina-tazobactam ou cefepima. Para os pacientes classificados como risco elevado, com instabilidade hemodinâmica, deve ser iniciado antibiótico de largo espectro. O esquema recomendado deve ser feito de acordo com o padrão de sensibilidade de cada serviço. A sugestão da Sociedade Brasileira de Pediatria é piperacilina-tazobactam ou meropeném e vancomicina. Deve ser associado aminoglicosídeo na suspeita de bactéria resistente. Em crianças com cateter, sempre associar vancomicina até a obtenção dos resultados de culturas. Em pacientes com infecções de vias aéreas superiores, utilizar piperacilina-tazobactam e vancomicina, cabendo a discussão sobre a introdução de metronidazol ou clindamicina para cobertura de agentes anaeróbicos nas infecções graves de boca e seios da face. Os pacientes que apresentam síndrome gripal — febre em associação com sintomas respiratórios — devem receber cobertura precoce para influenza, com oseltamivir. Em pacientes com infecções abdominais, sempre pensar em tiflite como diagnóstico. A tiflite é uma infecção grave dos cólons, causada por anaeróbios e/ou Gram negativos. Iniciar meropeném associado à amicacina. Em pacientes com insuficiência respiratória, pela possibilidade de bactérias atípicas, processos virais e Pneumocystis jirovecii, deve-se introduzir, além de piperacilina-tazobactam e vancomicina, claritromicina, sulfametoxazol-trimetoprima e ganciclovir até que seja possível estabelecer mais claramente a etiologia. Pacientes com herpes-zóster ou varicela, independentemente do número de granulócitos, devem ser internados em isolamento e tratados com aciclovir. A associação de antibióticos ou mudança de tratamento deve ser avaliada se a febre não se resolver em dois a três dias. Se a febre persiste por mais que quatro a sete dias ou retorna após os esquemas descritos, iniciar antifúngico. O fluconazol é a droga de escolha para tratamento empírico. 25.9.2 Síndrome de lise tumoral A síndrome de lise tumoral é decorrente da destruição de células tumorais, com liberação do seu conteúdo intracelular para o meio intravascular, extracelular. Em geral ocorre no início do tratamento quimioterápico, em tumores com grandes massas, de rápido crescimento, alta leucometria e alto turnover celular. Os tumores que imprimem maior risco a essa síndrome são leucemias agudas com alta leucometria (mais que 100 mil leucócitos), linfomas, principalmente o linfoma de Burkitt e os linfoblásticos com massas mediastinais. O quadro clínico pode incluir dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, dor lombar, desidratação, insuficiência cardíaca, tetania, disritmias cardíacas, convulsões, alterações do nível de consciências, entre outros. Nos exames laboratoriais há hiperuricemia, hiperfosfatemia, hipercalemia, hipocalcemia — decorrente da formação de fosfato de cálcio — e piora da função renal. O tratamento consiste em hiper-hidratação sem potássio, administração de alopurinol ou rasburicase, hidróxido de alumínio ou sevelâmer (quelantes de fósforo), garantir boa diurese e balanço hídrico rigoroso. Em caso de hipervolemia refratária, hipercalemia, hiperuricemia ou hiperfosfatemia refratárias ou piora progressiva da função renal, a diálise deve ser indicada precocemente. A profilaxia com hidratação sem potássio e alopurinol deve ser instituída em qualquer quadro com risco de lise tumoral, mesmo que a síndrome não esteja instalada. 25.9.3 Hiperleucocitose e leucostase A hiperleucocitose é definida por leucemias com leucometria acima de 100 mil. Os grandes riscos da hiperleucocitose são a síndrome de lise tumoral, descrita anteriormente, e a leucostase. A leucostase é a dificuldade circulatória por aumento da viscosidade sanguínea, e, apesar de poder ocorrer em qualquer leucemia com alta leucometria, é mais comum na LMA. Sua tríade característica é cefaleia, “borramento” visual e crise convulsiva, mas pode-se dar uma imensa gama de sinais e sintomas, a depender do órgão acometido: alteração de comportamento, infarto agudo do miocárdio, tromboembolismo pulmonar, insuficiência renal aguda. O tratamento recomendado é hidratação endovenosa e alopurinol ou urato-oxidase recombinante. Concentrado de plaquetas deve ser prescrito para plaquetopenia abaixo de 20 mil. Concentrado de hemácias só deve ser utilizado nos pacientes instáveis, visto o aumento da viscosidade sanguínea. 25.9.4 Síndrome da veia cava superior A síndrome da veia cava superior ocorre pela obstrução de retorno venoso do sangue para o átrio direito, em virtude da presença de obstrução trombose ou compressão daveia cava superior. É mais comum em linfomas linfoblásticos T, LLA-T com massa mediastinal, timoma, teratoma e tumores tireoidianos. O quadro clínico característico é dispneia com ortopneia, edema e pletora facial — pior pela manhã, ao levantar-se —, estase jugular e hepatomegalia, além de tosse, rouquidão e disfagia. O tratamento consiste em medidas de suporte, manter o paciente em decúbito elevado, não realizar sedação para o paciente, profilaxia para lise tumoral e início precoce de quimioterapia ou radioterapia para redução da massa. 25.9.5 Síndrome de compressão medular A síndrome de compressão medular ocorre pela presença de massa paravertebral, com invasão ou não do canal vertebral, que leva à hipoxemia das terminações nervosas. O quadro clínico varia de acordo com a altura da compressão, mas classicamente é caracterizado pelos eventos progressivos, da seguinte maneira: dor e parestesia em membros → paresia → plegia. Entretanto é sabido que a descompressão é uma urgência, já que quanto maior o intervalo de resolução maior o risco de sequelas tardias. A Quais são os tipos de câncer e/ou tumores mais frequentes na faixa etária pediátrica? No geral, os tipos de câncer mais comuns na faixa etária pediátrica são as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e linfomas. As leucemias são o tipo de câncer mais frequente, representando 30% dos casos de câncer em crianças. As leucemias linfoides agudas são as mais comuns na faixa etária pediátrica (75 a 80%), seguidas pelas leucemias mieloides agudas (15 a 20%). As leucemias mieloides crônicas são incomuns (2 a 5%). Vale lembrar que a síndrome de Down está relacionada a risco 20 vezes maior de desenvolvimento de leucemias agudas em relação à população geral; a leucemia mieloide aguda megacarioblástica (M7) e dexametasona é o tratamento inicial, seguida de quimioterapia e/ou cirurgia descompressiva. 25.9.6 Sangramento Os pacientes oncológicos, principalmente nos quadros iniciais, apresentam plaquetopenia e discrasias sanguíneas, inclusive com risco de sangramento em sistema nervoso central. Todos devem ter coagulograma e fibrinogênio colhidos, e transfusão de plaquetas, plasma e crioprecipitado, conforme necessidade laboratorial e clínica. leucemia linfoblástica aguda são as mais frequentes nestes pacientes. Os tumores de SNC são a segunda neoplasia mais comum na faixa etária pediátrica e são considerados os tumores sólidos mais comuns em crianças. Os tumores ósseos primários estão em sexto lugar em incidência na Pediatria. O osteossarcoma é o tumor maligno primário ósseo mais comum, correspondendo a 60% dos casos, seguido pelo sarcoma de Ewing. Entre os tumores sólidos de localização fora do crânio, o neuroblastoma é o mais comum. O Tumor de Wilms, também chamado nefroblastoma, é o tumor renal mais comum da infância e o segundo tumor do retroperitônio. Os linfomas são o terceiro tipo de câncer mais comum em menores de 14 anos. O retinoblastoma é câncer intraocular mais comum da infância. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Para a revalidação do seu diploma na USP será necessário o envio de documentos, entre eles histórico escolar e diploma. Se você notar a falta de algum conteúdo essencial no seu curso de origem, pode solicitar a realização de uma prova. A aprovação ou reprovação de um candidato será então decidida pela Comissão de Graduação. Se você solicitar a realização da prova, prepare-se para duas avaliações, uma teórica e outra prática. A primeira poderá ser uma avaliação cognitiva, com questões abertas, e uma avaliação objetiva com testes. Já na prova prática serão avaliadas as habilidades do candidato para exercer a profissão, podendo envolver a participação de pacientes. Essa prova também pode ser substituída por uma avaliação oral do conteúdo das disciplinas ou uma apresentação crítica de um artigo científico. FMRP-USP | 2019 Paciente do sexo masculino com 3 anos e 6 meses de idade, previamente saudável, de idade apresenta pubarca há 5 meses. Ao exame físico seu peso é 15 kg e sua estatura é 106 cm. Há seis meses sua estatura era de 98 cm. Não há lesões cutâneas e o exame neurológico não apresenta alterações. No exame genital, detectam-se pelos pubianos Tanner P3, pênis de tamanho aumentado, testículo esquerdo e direito com aproximadamente 8 cm3. Assinale, dentre as opções abaixo, a alternativa que contém o(s) exame(s) complementar(es) iniciais MAIS importante(s) para elucidação do diagnóstico desse paciente. a) ultrassonografia testicular b) LH, FSH e estradiol c) 17-OH-progesterona, testosterona, androstenediona e DHEA-S d) beta-HCG Gabarito: b Comentários: a) A ultrassonografia é um exame importante na investigação de puberdade precoce, considerando o diagnóstico diferencial de tumores testiculares. Porém não é o primeiro exame a ser solicitado. b) A realização de dosagens de hormônio luteinizante (LH), hormônio folículo estimulante (FSH) e estradiol séricos permite estabelecer se as manifestações clínicas de puberdade precoce ocorrem por ação central — ativação do eixo hipotálamo-hipófise- gonadal — ou por ação periférica, quando a secreção de esteroides ocorre independente da secreção das gonadotrofinas. c) A realização de dosagens de 17-OH-progesterona, testosterona, androstenediona e sulfato de deidroepiandrostenediona (DHEA-S) são importantes na investigação de puberdade precoce, considerando os diagnósticos diferenciais de hiperplasia adrenal congênita e tumores de córtex adrenal. porém estão indicados após identificação quanto a produção hormonal, se central ou periférica. d) A realização de dosagem sérica de beta-HCG é importante considerando entre as possibilidades diagnósticas os tumores secretores de gonadotrofina coriônica, porém não é o exame inicial a ser solicitado. 25.1 INTRODUÇÃO 25.2 LEUCEMIAS 25.3 TUMORES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL 25.4 LINFOMAS 25.5 MASSAS ABDOMINAIS 25.6 TUMORES ÓSSEOS 25.7 RETINOBLASTOMA 25.8 TERATOMA SACROCOCCÍGEO 25.9 EMERGÊNCIAS ONCOLÓGICAS DE OLHO NA PROVA
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