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HAS Secundária HAS Secundária Definição: A hipertensão arterial secundária é a forma de hipertensão arterial (HA) decorrente de uma causa identificável, que pode ser tratada com uma intervenção específica, a qual determina a cura ou a melhora do controle pressórico. Epidemiologia: A real prevalência é desconhecida, mas se estima entre 10 e 20%, podendo ser maior ou menor, conforme a população avaliada (especialmente idade), os recursos diagnósticos disponíveis e a experiência do médico responsável. Os portadores de HA secundária estão sob maior risco CV e renal e apresentam maior impacto nos órgãos- alvo, devido a níveis mais elevados e sustentados de PA, bem como por ativação de mecanismos hormonais e moleculares. As causas: Não endócrinas: • DRC • Estenose da artéria renal • Apneia obstrutiva do sono • Coarctação da aorta Endócrinas: • Hiperaldosteronismo primário • Feocromocitoma e paragangliomas • Hiper e hipotireoidismo • Hiperparatireoidismo • Síndrome de Cushing • Obesidade • Acromegalia Hormônios exógenos, medicamentos, drogas ou substâncias exógenas Doença renal parenquimatosa Achados: • Edema • Anemia, anorexia, fadiga • U e Cr elevados (insuf. renal) • Proteinúria • Alterações no sedimento urinário. Estenose de artéria renal A HARV (hipertensão arterial renovascular é causa comum e potencialmente reversível, ocorre devido a uma estenose parcial ou total, uni ou bilateral da artéria renal (EAR) ou de seus ramos, desencadeando e mantendo isquemia renal significante. Exames complementares: • Cálculo de RFG-e, Cr • USG renal • Razão albuminúria ou proteinúria/ creatinúria • Urina EAS Em adultos jovens, especialmente do sexo feminino, a HARV é mais frequentemente causada por displasia fibromuscular (DFM). Em idosos, a causa mais comum consiste em aterosclerose, geralmente acompanhada por aterosclerose periférica e/oucoronariana. Achados: • HAS de aparecimento súbito ou com piora sem causa aparente antes dos 30 anos ou após 55 anos • HAR ou HA refratária • Sopro abdominal • EAP súbito • Alteração renal inexplicável ou por medicamentos que bloqueiam o SRAA • Assimetria entre o tamanho dos rins > 1,5 cm Exames complementares: • Padrão-ouro: arteriografia renal convencional (é invasiva, por isso não deve ser utilizada de início) • USG com Doppler renal • Renografia com captopril • Angiografia por RNM • TC espiral Coarctação da aorta A definição de coarctação significante requer gradiente de pressão pré e pós-coarctação > 20 mmHg. Achados: • Fraqueza em MMII • Pulsos ausentes ou de amplitude diminuída em MMII • Presença de HA em MMSS com PAS pelo menos 10 mmHg maior na artéria braquial com relação à artéria poplítea (MMII) • Sopro sistólico interescapular e no tórax Exames complementares: • Radiografia do tórax (aorta torácica com dilatações pré e pós-estenose, corrosão de costelas); • Ecocardiograma (principal exame de rastreio) Por Juliana Benício • Angiografia por TC ou RNM (a RNM é o padrão-ouro para a avaliação e o seguimento pós-intervenção) Tratamento: • O tratamento intervencionista inclui: angioplastia, implante de endoprótese vascular ou cirurgia aberta (hipoplasia do arco aórtico e/ou necessidade de ressecção da coarctação). • Os medicamentos anti-hipertensivos de escolha tanto para o periodo pré-operatório quanto para a PA residual após a cirurgia são os BB e IECA ou o BRA Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) A AOS é uma condição clínica caracterizada pelo colapso intermitente das vias aéreas superiores durante o sono, acarretando obstruções totais (apneias) e parciais (hipopneias). As pausas respiratórias levam a maior esforço respiratório e geram redução da pressão intratorácica que aumentam a pressão transmural do ventrículo esquerdo, as quedas cíclicas da saturação de oxigênio (hipóxia intermitente), a hipercapnia (usualmente discreta) e a fragmentação do sono. Entre os mecanismos envolvidos com a HA, podemos citar a ativação do sistema nervoso simpático, a inflamação sistêmica, o aumento na produção de espécies reativas de oxigênio e a disfunção endotelial, entre outras. Achados: • Mais frequente em homem ou mulheres pós menopausa • Ronco na maioria das noites • Fragmentação do sono não reparador • Fadiga • Nictúria • Cefaleia matinal • Síndrome metabólica Exames complementares: • Questionário de Berlim (baixa precisão para triagem) • Polissonografia ou poligrafia residencial (padrão-ouro) Tratamento: • Casos moderados a grave: aparelho gerador de pressão positiva contínua na via aérea, o CPAP (continuous positive airway pressure”) • Casos menos graves e selecionados: avanço mandibular, exercícios orofaríngeos, terapia posicional e as cirurgias são boas opções. Hiperaldosteronismo primário • Até o momento, não há evidências conclusivas de que haja alguma classe de anti-hipertensivos preferencial para pacientes hipertensos com AOS. O efeito de anti-hipertensivos, em geral, parece ser mais eficaz do que o CPAP na redução da PA, mas a associação de CPAP mais anti- hipertensivo tem alguns benefícios adicionais. A hiperplasia adrenal cortical bilateral é a causa mais frequente de HP (50-60%), enquanto os adenomas produtores de aldosterona (APA) são responsáveis por 40% dos casos de HP. O carcinoma adrenal cortical produtor de aldosterona e a hiperplasia adrenal cortical unilateral são causas mais raras de HP. A HA acompanhada de supressão da atividade da renina plasmática (ARP) e aumento da excreção de aldosterona caracteriza a síndrome de aldosteronismo primário. Achados: • HAR com hipopotasssemia (não obrigatória) • E/ou nódulo adrenal • Parestesia Exames complementares: • Determinações de aldosterona (> 15 ng/dL) • Relação aldosterona plasmática / atividade de renina plasmática (> 30) • Testes confirmatório (furosemida, captopril, teste de sobrecarga salina) • TC com cortes finos (melhor acurácia) e RNM (não mostra vantagem). Tratamento: • O tratamento preferencial em APA é a adrenalectomia unilateral, preferencialmente laparoscópica, a menos que contraindicada • No caso da hiperplasia adrenal, o tratamento é realizado com antagonistas mineralocorticoides (espironolactona 50 a 400 mg/dia). Feocromocitoma Os feocromocitomas (FEO) são tumores de células cromafins do eixo simpático-adrenomedular secretores de catecolaminas. De 10% a 15% são extradrenais (paragangliomas); 10%, bilaterais; e 15-20%, malignos (podendo variar de 2 a 50%, conforme o defeito genético). Achados: • Tríade clássica: cefaleia, sudorese profusa e palpitações com HAR/HARf ou paroxística (50%; picos hipertensivos alternados com momentos de PA normal). Exames complementares: • Metanefrinas plasmáticas livres (alto custo) e/ ou metanefrinas fracionadas urinárias (mais acessível) • O diagnóstico laboratorial baseia-se na dosagem dos metabólitos de catecolaminas no sangue e na urina • As situações clínicas de estresse agudo (doença aguda, sepse, IAM, IC descompensada) e o uso de antidepressivos tricíclicos, agentes antipsicóticos e levodopa, entre outros, podem cursar com o aumento das catecolaminas (normalmente < 2x o limite superior da normalidade). Tais fármacos devem ser suspensos 2 semanas antes das dosagens para evitar resultados falso- positivos. • TC • RNM (mais sensível) • Cintilografia de corpo inteiro com 123I-MIBG ou 68Ga DOTATE-PET-CT é muito eficaz em localizar FEO e paragangliomas, doença metastática ou múltiplos tumores cromafins (casos selecionados) Tratamento: • O tratamento preferencial é cirúrgico, minimamente invasivo, devendo-se fazer preparo pré- operatório com alfa-1- bloqueadores (doxazosina ou prazosina) e hidratação adequada com o aumento da ingesta oral de sódio por, pelo menos, duas semanas antes da cirurgia. • O tratamento medicamentoso crônico inclui alfa-1-bloqueadores, BB (apenas após início de alfa-1-bloqueadores, quando houver taquicardia sintomática), BCC, IECA e agonistasde ação central. • Crise hipertensiva: nitroprussiato de sódio ou fentolamina injetável e reposição volêmica, se necessária. A remoção total e precoce da neoplasia proporciona, em geral, remissão total dos sintomas e cura da HA, além de prevenir a doença metastática. Hipotireoidismo O hipotireoidismo aumenta a resistência vascular e o volume extracelular, mas a elevação na PA costuma ser discreta (<150/100 mmHg). Achados: • Fadiga • Ganho de peso • Perda de cabelo • HA diastólica • Fraqueza muscular • Sonolência Exames complementares: • TSH e T4 livre Hipertireoidismo O hipertireoidismo eleva o débito cardíaco em consequência do aumento do consumo periférico de oxigênio e do aumento da contratilidade cardíaca. A HA sistólica é comum, mas a prevalência da HA depende da gravidade do hipertireoidismo. Ocorre fibrilação atrial em 10-20% dos pacientes com hipertireoidismo, sendo mais comum acima dos 60 anos de idade. Achados: • Intolerância ao calor • Perda de peso • Taquicardia/palpitações • Exoftalmia • Hipertermia • Reflexos exaltados • Tremores • Bócio Exames complementares: • TSH e T4 livre Hiperparatireoidismo (hiperplasia ou adenoma) A frequência de HA em pacientes com hiperparatireoidismo primário varia de 10 a 60%. A maioria dos pacientes com hiperparatireoidismo primário é composta por assintomáticos. Achados: • Litíase urinária • Osteoporose • Depressão • Letargia • Fraqueza ou espasmos musculares • Sede • Poliúria • Polidpsia • Constipação Exames complementares: • Dosagem de calcemia (cálcio total e/ou iônico) • Fósforo • PTH • Cálcio total em urina de 24h • Vitamina D. Síndrome de Cushing Causas: hiperplasia, adenoma e excesso de produção de ACTH. A síndrome de Cushing iatrogênica (pelo uso de corticoide exógeno) é relativamente comum, ao contrário da síndrome de Cushing endógena que se mostra rara. Entre as causas endógenas, a doença de Cushing (adenoma hipofisário produtor de ACTH) é responsável por 85% dos casos, enquanto 15% dos casos são causados por tumores ou hiperplasia adrenal (causas ACTH independentes). A HA ocorre em 75-80% dos pacientes com síndrome de Cushing. Os mecanismos da HA são: estímulo pelo cortisol da ação vasopressora das catecolaminas, ação do cortisol nos receptores mineralocorticoides e ativação do SRAA pelo aumento da produção hepática de angiotensinogênio. Achados: • Ganho de peso • Diminuição da libido • Fadiga • Hirsutismo • Amenorreia • Face em “lua cheia” • “Giba dorsal” • Estrias púrpuras • Obesidade central • Hipopotassemia Exames complementares: • dosagem de cortisol basal (útil para excluir uso exógeno de dexametasona ou betametasona) • Cortisol salivar a meia-noite • Cortisol em urina de 24h • Teste de supressão com dexametasona ou betametasona: tomar dexametasona 1 mg às 23h e dosar o cortisol sérico entre 7-8 h na manhã do dia seguinte • TC de adrenal ou RM de hipófise nos casos de hipercortisolismo ACTH- dependente • Os exames de imagem só devem ser realizados após o diagnóstico clínico e laboratorial de hipercortisolismo. Tratamento: • O tratamento do Cushing endógeno depende da etiologia do hipercortisolismo. • A conduta pode ser cirúrgica ou medicamentosa. Obesidade A distribuição excessiva de gordura visceral é acompanhada de importantes alterações hormonais, inflamatórias e endoteliais. Todos estes mecanismos ativam uma cascata de eventos que liberam citocinas e adipocinas, aumentam a resistência à insulina e determinam a hiperatividade do SRAA e do SNS, causando retenção de sódio e água, com consequente HA e aumento do risco CV e renal. Achado: aumento da gordura central ou generalizada. Exames complementares: • IMC e circunferência abdominal • DEXA (padrão-ouro) • TC e RNM Acromegalia A acromegalia, esporádica ou familiar, em aproximadamente 98% dos casos, é gerada por adenomas hipofisários secretores do hormônio de crescimento (GH). São mais comuns entre os 30 e 50 anos e classificam-se como microadenomas (com menos de 1 cm) ou macroadenomas (com 1 cm ou mais). Mais de 70% dos tumores causadores de acromegalia são do segundo tipo. A HA pode ocorrer em aproximadamente 30% dos casos e é de natureza multifatorial, com componente de retenção hidrossalina, efeito direto antinatriurético do GH, hiperatividade do SRAA, do SNS e disfunção endotelial, além de disglicemia, hipertrofia ventricular esquerda (HVE) e AOS. Achados: • Defeitos visuais • Paralisia dos nervos cranianos • Cefaleia • Micrognatismos • Crescimento de pés e mãos • Hipertrofia de tecidos moles • Macroglossia • Complicações musculoesqueléticas Exames complementares: • Dosagem de IGF-1 • Nível GH séricos • Dosagem de GH após sobrecarga de glicose (75 g) • TC de sela túrcica • RNM de sela túrcica (de escolha) Tratamento: • Procedimentos cirúrgicos, radioterapia e terapia medicamentosa com análogos da somatostatina, sendo que a octreotida, a lanreotida e a cabergolina estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Medicamentosas, Hormônios e Substâncias Exógenas É causa relativamente comum e subestimada de agravamento ou mesmo indução de HA, frequentemente contornável ou reversível. Uma anamnese completa de todos os fármacos, drogas e suplementos em uso deve ser realizada em todo hipertenso. Os mecanismos hipertensores são bastante diversos, por vezes multifatoriais, como retenção de volume (glicocorticoides, cetoconazol, anticoncepcionais orais, terapia andrógena, anti-inflamatório não esteroide [AINE]), hiperatividade simpática (descongestionantes, anfetaminas, Inibidor da monoamina oxidase [IMAO], antidepressivos, outros medicamentos utilizados em psiquiatria e cocaína, inibidores de calcineurina) e hiperatividade do SRAA (imunossupressores). É boa prática clínica informar aos pacientes hipertensos quando os medicamentos associados podem resultar em piora do controle pressórico. Fonte: Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial- 2020
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