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O PRECONCEITO LINGUISTICO E A INTERFERENCIA NA APRENDIZAGEM

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Centro Universitário Internacional Uninter
Camila Caetano Rodrigues
 Aline Almeida Cavalcante
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO E A INTERFERÊNCIA NA APRENDIZAGEM
ALFENAS, MINAS GERAIS
2020
RESUMO
O presente trabalho tem o objetivo de analisar o Preconceito Linguístico e sua relação com a aprendizagem. Esse propósito surgiu a partir do enfoque dado ao ensino tradicional da gramática e consequente discriminação das demais variedades linguísticas.
A abordagem desse tema é relevante devido à existência de diferentes sotaques que compõem a língua brasileira, que resultam na variedade linguística. Geraldi et al.(1997, p. 35), afirma que “a variedade linguística é o reflexo da variedade social, como em todas as sociedades existe uma diferença de status ou de papel, essas diferenças refletem na linguagem”.
Esta pesquisa comprova a interferência do preconceito linguístico no desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, o que resulta em um ambiente escolar caracterizado pela exclusão social.
Palavras chave: Variedade Linguística;Preconceito Linguístico;Norma padrão
	
1- INTRODUÇÃO
O Brasil é um país que tem uma imensa pluralidade linguística, tendo em vista suas diversas regiões e respectivas diferenças nas questões de uso. 
Observamos diversas “línguas” inseridas em um único sistema linguístico, como, por exemplo, os sotaques baianos, paulista, nordestino, mineiro, carioca, que representam a variedade linguística do Brasil. Conforme Rodrigues e Figueiredo (2007, p. 17), “(...) não existe uma norma única, mas sim uma pluralidade de normas, normas distintas segundo os níveis sociolinguísticos e as circunstâncias da comunicação”.
No contexto escolar, o ensino pautado na norma padrão mantém o foco na reprodução do “português correto”, “no português de bom uso”. Essa norma linguística é a única que vem carregada de caráter preconceituoso, pois é tratada como a única variedade correta e a única a ser seguida, sendo desprezadas as demais variedades, ocasionando, assim, o preconceito linguístico.
Nas salas de aula, ocorre, com frequência, o preconceito linguístico, pois o aluno falante de uma variedade linguística que difere da maioria da turma e até mesmo do professor, sofre rígidas correções, as mesmas feitas de maneira inadequada. Ao abordar como erro, a sua forma de falar, ocorre uma interferência em seu desenvolvimento cognitivo nas aulas de Língua Portuguesa.
Durante as aulas, dá-se grande foco a classificação no falar certo e errado, marcas impregnadas pelo ensino tradicionalista que se revigoram de tempos em tempos, nos quais os alunos são os principais a sofrer seus reflexos. 
Borttoni-Ricardo (2004), em sua obra Educação em Língua materna- a sociolinguística em sala de aula, faz uma observação relacionada aos tão empregados erros de português: “erros de português são simplesmente diferenças entre variedades da língua”, logo as diferenças linguísticas existentes são vistas como um “erro”.Bechara também aborda essa temática quando afirma que “cada falante é um poliglota em sua própria língua, à medida que dispõe de sua modalidade linguística e está a altura de decodificar mais algumas outras modalidades com as quais entra em contato (...)” (BECHARA, 1989, p.13-14). Esse apontamento vem como uma luz para o contextoda sala de aula, pois mostra, de forma nítida, o lado positivo da existência dos chamados “erros”. Em se tratando da língua, ao dar um enfoque positivo para as diferenças linguísticas, ampliando o sistema língua e tirando-a desse “igapó” termo utilizado por Bagno (2006) para bem representar de forma analógica a realidade do sistema linguístico brasileiro.
Porém, os indivíduos ainda fazem julgamentos negativos, considerando como erro na língua o que poderia ser tratado como riqueza, pelo motivo de representar a variedade linguística existente e a variedade de formas possíveis para possibilitar e desenvolver a comunicação.
O intuito deste artigo é salientar as probabilidades do uso da língua, enfatizando a importância dos contextos linguísticos e sua adequação ao uso.
Contudo, o reconhecimento da variação linguística em uma visão sociolinguística e histórica, em relação ao comportamento da sociedade, nos mostrará uma forma mais crítica para nós (professores), de trabalhar as variedades de nossa língua em sala de aula, pois, o ato comunicativo não é e não pode ser tratado como algo mecânico e determinado.
2. NORMA PADRÃO E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
2.1 NORMA PADRÃO
Em contextos escolares e acadêmicos ouve-se falar sobre o termo norma padrão, a qual, por vezes, é empregada com uma relação equivocada de sinonímia com a norma culta.
De acordo com Bagno (2004), norma culta é a norma utilizada pelos falantes cultos, e norma padrão é a norma que os gramáticos tradicionalistas tentam impor como um modelo ideal de língua. Sendo assim, a norma padrão é a escolhida como a única correta para o país inteiro. Porém não se leva em consideração as demais línguas e as variedades linguísticas existentes dentro do próprio sistema linguístico.
Ora, a verdade é que no Brasil, embora a língua falada pela maioria da população seja o português, esse português apresenta um alto grau de diversidade e da variabilidade. Não só por causa da grande extensão do país (que gera as diferenças regionais bastante conhecidas e também vítimas, algumas delas, de muito preconceito), mais principalmente por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil, o segundo país com a pior distribuição de renda em todo mundo (BAGNO 2006, p 15,16).
A seguir serão apresentadas algumas definições concebidas por alguns autores relacionados ao assunto.
Segundo Castilho (1988, apud TRAVAGLIA, 1996, p.63), “a norma culta (culta da classe de prestígio) constitui o português correto; tudo que foge a norma representa um erro”. Concernente a essa definição, encontram-se outras que articulam o mesmo ponto de vista, como a de Britto (1997, apud BAGNO, 2001, p.10), cujo afirma que “resulta da prática social, correspondendo à fala dos segmentos socialmente favorecidos”. Nota-se, nas duas afirmações uma ênfase a norma correta escolhida com critério única e exclusivamente social, ou seja, escolhido no falar elitizado e que tudo que foge a essa exclusividade é considerada como erro.
A esse respeito Lima (2000, p.7) nos traz outra definição, a mesma que sai dessa linhagem com base nas questões socias, empregando outro ponto de vista, voltando-se mais para a norma padrão criada com base nos escritores consagrados: “Fundamenta-se as regras da gramática normativa nas obras dos grandes escritores, cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou”.
Seguindo o mesmo ponto de vista de Lima (2000, p.7), têm-se também Bechara (1989, p.52) que apresenta o seguinte: “a gramática normativa recomenda como se deve falar e escrever segundo o uso e a autoridade dos escritores corretos, dos gramáticos e dicionaristas esclarecidos”.
Ambas as afirmações baseiam-se na ideia de norma padrão como um espelho refletindo os escritores clássicos, que eram considerados os melhores articuladores da língua, utilizando-a de forma correta, aproximando-se do ideal proposto pela gramática.
Em sua obra “Nova gramática do português contemporâneo”, Cunha e Cintra (1985) apontam algo de grande importância para o assunto abordado. Nela, eles mencionam uma afirmação de Noreem (linguista sueco) que melhor explica essa relação entre os escritores clássicos e suas influências na padronização do que é considerado correto, citando o critério histórico-literário em que nele o sentido de uso correto se encontra nos escritores de uma época pretérita.
O uso deste critério atualmente é algo que deveria ser repensado, tendo em vista o fato de a língua ser um sistema que está sempre em movimento, transformando-se conforme as necessidades que vão surgindo no contexto social. Desta forma, a língua se faz como algo estagnado e limitado, como assim representa Bagno(2006, p.10) numa analogia feita em sua obra Preconceito Linguístico- o que é? Como se faz?
Igapó é uma grande poça de água estagnada ás margens de um rio, sobretudo depois da cheia. Acho uma boa metáfora para a gramática normativa. Como eu disse, enquanto a língua é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática normativa é apenas um igapó, uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um terreno alagadiço, à margem de língua. (BAGNO, 2006, p.10)
O trecho acima nos permite refletir a respeito da norma padrão. Que caminhos ela percorre? O de águas caudalosas ou do rio do igapó? Infelizmente o que se perpetua é um caminho a não evolução e ao tradicionalismo, o que não permite ao ensino da Língua Portuguesa grandes avanços e inovações. O ensino da norma padrão é muito importante, pois existem muitos contextos na sociedade que requerem o seu uso. Mas o seu ensino só é válido se levarmos em consideração, também, as demais variedades linguísticas.
Contrapondo-se a variedade padrão, existem outras variedades linguísticas das quais podemos citar as regionais, como por exemplo, os sotaques: gaúcho, baiano, paulista, carioca, caipira, mineiro, dentre outros. Na seção a seguir será abordado de maneira mais aprofundada a respeito da variação linguística, como se dá e suas características.
2.2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
O termo variação linguística vem sendo empregado com frequência dede a década de 1960, em que se deu o surgimento da sociolinguística variacionista nos Estados Unidos a partir de Labov. (Revel. Vol. 5, n.9 agosto de 2007).
A corrente sociolinguística tem por objetivo o estudo das mudanças e variações existentes na língua podendo mudar com relação ao tempo, variar quanto ao espaço e ainda existirem variações com base na situação social em que o indivíduo se encontra (BAGNO, 2004, p.43). Conforme Mollica et al (2003 p.9,10):
A sociolinguística é uma das subáreas da linguística que estuda a língua em uso no seio das comunidades da fala, voltando à atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos linguísticos e sociais (...). A Sociolinguística considera em especial como objeto de estudo exatamente a variação (...) (MOLLICA ET AL 2003, p.9,10).
Por se falar em variação linguística, o que quer dizer o termo variação? Figueiredo (1945, p.2178) nos apresenta uma definição bastante esclarecedora a esse respeito e ainda a respeito do vocabulário variante, dois termos que possuem uma correlação entre si:
Variação -1. Ato ou efeito de variar. 2 Modificações, variante. 3. Mudança 4. Inconstância ou variedade de princípios de sistema etc.
Variante – [...] 2. Cada uma das formas diferentes porque um vocábulo pode apresentar-se. 3. Variação. 4. Diferença diversidade, modificação. (FIGUEIREDO 1945, p.2178).
Ou seja, trazendo a variação para o campo da língua, é a existência de mais uma “língua” dentro de um único sistema linguístico, nesse caso, o da língua portuguesa. Representa a diversidade e também a diferença entre a fala dos indivíduos. Conforme Calvet (2002, p.89) variação linguística “	é a coexistência de formas diferentes de um mesmo significado”.
Concomitante a variação linguística, Cunha e Cintra (1985, p.3) nos apresentam algumas formas das variações com base nas diferenças classificadas por eles como diferenças internas, sendo elas:
1° Diferenças no espaço geográfico, ou VARIAÇÕES DIATÓPICAS (falares locais, variantes regionais e, até, intercontinentais);
2° Diferenças entre as camadas socioculturais, ou VARIAÇÕES DIASTRÁTICAS (nível culto, língua padrão, nível popular, etc.);
3° Diferenças entre os tipos de modalidades expressivos, ou VARIAÇÕES DIAFÁSICAS (língua falada, língua escrita, língua literária, linguagens especiais, linguagens dos homens, linguagens das mulheres, etc.) (CUNHA E CINTRA 1985, p.3).
Ainda com relação aos tipos de variações linguísticas, Mollica (2003, p.11) apresenta a seguinte classificação:
No conjunto de variáveis externas á língua, reúnem-se os fatores inerentes ao indivíduo (como etnia e sexo), os propriamentes sociais (como escolarização, nível de renda, profissão e classe social) e os contextuais (como grau de formalidade e tensão discursiva). (MOLLICA 2003, p.11).
Gerald et al (1997, p.35) acrescenta que “a variedade linguística é o reflexo da variedade social e, como em todas as sociedades existe uma diferença de status ou de papel, essas diferenças se refletem na linguagem”. Sendo assim a língua é o espelho da sociedade, e as mudanças que acontecem na sociedade, também acontecem na língua conforme a necessidade comunicacional. Com base na justificativa para essa afirmação, temos Cunha e Cintra (1985, p.3) que: “todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados ás necessidades de seus usuários”.
Contudo, infelizmente, em nosso país ainda persiste a ideia da existência de uma única língua desconsiderando a imensa diversidade do português. Isso se faz notável no contexto escolar em que se perpetua um ensino de cunho tradicionalista, pautando-se no ensino da gramática prescritiva/norma padrão e suas regras maçantes, ao impor o seu ensino nas escolas, como se fosse a única forma correta e não levando em consideração ás demais variantes da nossa língua.
Bagno (2006, p.15) expõe alguns mitos a respeito da nossa língua, dentre eles, relacionado a este do qual falamos. Destaca-se o mito n°1, “a língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”. E que ele desenvolve uma observação de cunho crítico:
Esse mito é muito prejudicial à educação porque, ao não reconhecer à verdadeira diversidade do português falado no Brasil a escola tenta impor a sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização etc.(BAGNO 2006, p.15).
Mas de que forma a crença na unidade linguística pode ser prejudicial ao ensino?
Além da justificativa citada acima que destoa o ensino da realidade dos alunos, essa ideia de uma língua homogênea pode abrir lacunas para os acontecimentos de alguns fatos que aumentam ainda mais o abismo existente entre a língua e a realidade dos indivíduos, como exemplo pode citar a prática do preconceito linguístico, além do retrocesso e estagnação do que isso alavanca. 
Ainda neste ponto Bagno afirma:
 [...] Na verdade, como costumo dizer, o que habitualmente chamamos de português, é um grande “balaio de gato”, onde há gatos dos mais diversos tipos: machos, fêmeas, brancos, pretos, malhados, grandes, pequenos, adultos, idosos, recém-nascidos, gordos, magros, bem nutridos, famintos etc. [...] (BAGNO 2006, p.18).
O ideal para as escolas seria fazer um ensino de língua portuguesa pautando-se nas variedades linguísticas passando a vê-las pelo aspecto positivo, considerando-se como “riquezas”, pois permitem ao aluno um maior arcabouço linguístico no tocante poder de falar de diversas maneiras uma única coisa.
 Nas palavras de Soares:
Parece-me muito mais interessante estimular, nas aulas de língua, um conhecimento cada vez maior e de todas as variedades linguísticas, para que o espaço da sala de aula deixe de ser o local para o estudo exclusivo das variedades de maior prestígio social e se transforme num laboratório vivo de pesquisa do idioma em sua multiplicidade de formas e usos. (SOARES 2002, p.32).
Dessa maneira tem-se um estudo amplo e funcional a respeito da língua, dando sentido a esse ensino, valorizando todos os elos linguísticos que constituem o sistema da língua brasileira.
Além disso, diminui-se a incidência das práticas de discriminação e preconceito para com as outras variedades que fogem a norma padrão, retratando assim a realidade linguística brasileira e amenizar a frequência da prática de preconceito linguístico, a mesma que será abordada no capítulo posterior.
3. PRECONCEITO LINGUÍSTICO
No contexto social se faz notável o emprego da palavra preconceito diantede vários outros termos, indicando as diversas manifestações do preconceito entre os seres humanos.
 “Parece haver cada vez mais, nos dias de hoje, uma forte tendência	 a lutar contra as mais variadas formas de preconceito, a mostrar que ele não tem nenhum fundamento racional, nenhuma justificativa, e que é apenas resultado da ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica”. (BAGNO 2006, p.13).
Ouvem-se e presenciam-se com frequência práticas de preconceito social, racial, religioso, sexual, de gênero, físico, etc. Dentre esses preconceitos, destaca-se outra modalidade, a do preconceito linguístico.
Em uma entrevista feita por Abraçado (2008, p.12), Scherre discorre sobre questões relacionadas ao preconceito linguístico, variação e ensino.	Em relação ao preconceito linguístico ela propõe a seguinte definição: “[...] o preconceito linguístico é mais precisamente o julgamento depreciativo, jocoso e, consequentemente humilhante da fala do outro [...]. O preconceito linguístico não possui tanta incidência nas questões escritas, ele se manifesta nas práticas de oralidade, pois durante esses atos não há tanto monitoramento quanto nas práticas escritas, que são realizadas de maneira policiada e com mais formalidade, objetivando chegar o mais próximo possível da norma padrão.
Marcos Bagno (2006, p.40) apresenta, ainda, mais uma definição do preconceito linguístico:
O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe [...] uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicadas nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada sob a ótica do preconceito linguístico “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente [...] (BAGNO 2006, p.40).
Esse preconceito revela-se diante das diferenças existentes entre cada forma de falar, na qual os indivíduos ás vêem como erro, tratando como aceitável somente a variante de maior prestígio social: a norma padrão. Geraldi (2006, p.49), em sua obra O texto na sala de aula, a esse respeito faz a seguinte observação: “[...] a variação é vista como desvio, deturpação de um protótipo. Quem fala diferente fala errado”.
E, é justamente essa ideia que alavanca ás práticas do preconceito linguístico. A classificação das variedades entre o certo e o errado dá a abertura para o preconceito, o que poderia ser evitado com conhecimento e apreciação da língua e suas variedades, debruçando-se na imensidão cultural que ela apresenta, passando a visualizar essa realidade linguística com enfoque positivo. O que é considerado erro pelas escolas brasileiras tradicionais, deveria ser conhecido como riqueza cultural.
“Erros de português são simplesmente diferenças entre variedades da língua” (BORTONI-RICARDO, 2004, p.37). E é lamentavelmente assim que a sociedade encara as variedades linguísticas, como erros.
 [...] Infelizmente, existe uma tendência (mais um preconceito!) muito forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar “do jeito que se escreve”, como se fosse a única maneira certa de falar português. Muitas gramáticas e livros didáticos chegam ao cúmulo de aconselhar o professor a “corrigir” quem fala “muleque”, “bêjo”, “minino”, “bisôro”, como se isso pudesse anular o fenômeno da variação, tão natural e tão antigo na história das línguas. Essa supervalorização da língua escrita combinada com o desprezo da língua falada é um preconceito que data antes de Cristo! [...] (BAGNO 2006, p.52).
Todavia este fato acarreta outros preceitos, como por exemplo, o preconceito social, fincado no fundamento de que as pessoas de classe mais baixa são as que mais cometem erros, por não terem tido acesso a pouca ou nenhuma escolaridade. “O preconceito linguístico não existe, o que existe de fato, é um profundo e estranho preconceito social”. (BAGNO, 2006, p.16).
Em uma entrevista feita por Abraçado (2008, p.12,13) Scherre reafirma essa verdade da seguinte maneira: “[...] as variedades linguísticas mais sujeitas ao preconceito linguístico são normalmente, as que possuem características associadas a grupos de pessoas com menos prestígio na escola social, ou a grupos de pessoas na área rural ou interior do país”.	
No ano de 2011 houve grande repercussão na liberação feita pelo MEC, do livro que fazia uma abordagem sociolinguística defendendo o uso da forma: “Nós pega os peixe” como adequada, mas, que deixa claro que é dependendo do contexto em que o falante se encontra. O livro Por Uma Vida Melhor, de a Coleção Viver e Aprender foi alvo de polêmica principalmente pela mídia, que despertou o lado preconceituoso, sendo notadas com clareza em entrevistas, notícias de jornais e demais redes sociais.
Um grande exemplo dessa abordagem preconceituosa é como se apresenta o título principal da notícia no site da saindo da matrix: “Cartilha do MEC ensina erro de português”. Isso deixa claro o ponto de vista a respeito das variantes que fogem a norma padrão, que realmente são rotuladas como erros.
Estas classificações de certo e errado em relação aos usos da língua não deveriam existir, tendo em vista a questão de adequação contextual.
Entende-se por adequação contextual a utilização de determinadas formas de fala tendo como base o contexto em que o indivíduo se encontra. A fala do indivíduo vai depender do local, contexto ou situação em que ele se encontra. “[...] é preciso substituir definitivamente a ideia do uso do certo ou errado pelo uso adequado ou não-adequado [...]. Essa é uma proposta plausível feita por Travaglia (1988, p.66). Essa tese levantada por ela é justa, correta e extremamente dentro do contexto. Com esse modelo os falantes fazem uso da língua com liberdade e consciência, adequando sua forma de falar ao ambiente no qual se encontram inseridos, deixando de ser alvo de chacotas por não estarem de acordo com o contexto de comunicação.
Stella Maris Bortoni-Ricardo (2005) nos traz em sua obra Nós chguemu na escola, e agora? Sociolinguística e educação, uma afirmação para bem representar essa questão da adequação contextual:
[...] a escolha de determinado grau de formalidade na fala depende basicamente do papel social que o falante desempenha a cada ato de interação verbal. [...] Em qualquer circunstância, porém há pelo menos três fatores determinantes dessa seleção: os participantes da interação, o tópico da conversa e o local onde ela se processa. O falante ajusta sua linguagem variando de um estilo informal a um estilo cerimonioso, a fim de se acomodar aos tipos específicos de situações. (Stella Maris Bortoni-Ricardo, 2005, p.22).
Para complementar essa questão, Santos (2002, p.42) apresenta mais características de como deveria ser essa adequação: “[...] o aluno deve conhecer que variedade é apropriada a cada situação comunicativa, como fazer a adequação de registro da língua, quando deve falar ou calar-se. Como controlar gestos de acordo com os atos da fala, etc.[...]”.
Sendo dessa forma, não existe língua errada, o que existe é a utilização da língua em um contexto errado, sendo cada variante essencial para cada situação de uso em que o indivíduo esteja inserido, cabendo ao mesmo saber selecionar o uso das diversas variantes conforme a necessidade. Reiterando, 
As variedades não são erros, mas diferenças. Não existe erro linguístico. O que há são inadequações da linguagem, que consistem não no uso de uma variedade em vez de outra numa situação em que as regras sociais não abonam aquela forma de sala. (GERALDI, 1997, p.52)
No contexto escolar é onde mais se nota práticas de preconceito linguístico. Por apresentar alunos de todos os etilos, raças, lugares e culturas etc. A prática de bullying, com alunos que possuem variedades linguísticas diferente dos demais ocorre com muita frequência, o que faz surgir à preocupação quanto ao rendimento e aprendizado desses alunos, principalmente com o fato de serem alvos de chacotas e risos dos demais. 
 O ensino tradicionalista acaba por perpetuar as práticas do preconceito linguístico,porque, de certa forma, exclui não só ás formas linguísticas dos alunos, mas eles mesmos, porque percebem o grande distanciamento que há entre sua fala em relação ao que lhes é ensinado na escola.O ensino passa a ser realizado com base em uma língua que não é usual aos alunos, e, que não faz sentido para eles, não apresenta um funcionalismo.
O aluno precisa reconhecer a importância e a necessidade de estudar a língua materna, contudo, de uma maneira relativa à realidade e não de forma utópica como ainda é feito, focalizando apenas em uma variedade da língua o que ocasiona diversas limitações ao indivíduo.
Com base nessa realidade, Antunes (2007), faz a seguinte observação:
Para ser eficaz comunicativamente, não basta, portanto, saber apenas as regras específicas da gramática, das diferentes classes de palavras, suas flexões, suas combinações possíveis, a ordem de sua colocação, nas frases, seus casos de concordância entre outras. Tudo isso é necessário, mas não é suficiente. ((ANTUNES, 2007, p.41).
Além disso, o preconceito linguístico ocasiona o surgimento de outros sentimentos negativos, dentre eles, o mau convívio social e a repulsa pelo ensino da língua portuguesa, devido à maneira que a mesma lhes é apresentada.
Nós professores precisamos ser mais críticos com a norma culta que ensinamos refletir sobre o que estamos lecionando, e isto não significa simplesmente repetir a gramática tradicional, e deixar de lado as informações preconceituosas. Devemos tomar uma postura crítica, estar em constante atualização, estimulando os alunos a acabar com os mitos que giram em torno da língua portuguesa.
Para acabar com o preconceito linguístico, é necessário reavaliar a noção que temos do “erro”. Todas as pessoas oriundas de uma língua são competentes e capazes de apontar regras de funcionamento de sua língua materna. Que a forma de falar depende de inúmeros fatores é um fato essencial que todos os professores, (principalmente os de língua portuguesa) devem entender.
A riqueza do nosso vocabulário é formada por todas as variantes da língua portuguesa. É necessário dizimar a ideia de que quem escreve ou fala errado é um ignorante da língua, pois todos nós brasileiros natos somos falantes da língua portuguesa, com todas as suas oscilações e mudanças que vieram ao longo dos 1500 anos de descoberta do Brasil.
METODOLOGIA
A pesquisa desenvolvida foi bibliográfica, feita por meio da leitura do livro Preconceito Linguístico o que é, e como se faz?, de Marcos Bagno,e também em revistas, artigos e internet, a fim de coletar o maior número possível de informações a respeito do tema estudado.
Entende-se por pesquisa bibliográfica a revisão da leitura sobre as principais obras que norteiam o trabalho científico. Ela busca a resolução de um problema por meio de referencias teóricos publicados, analisando e discutindo ás várias contribuições científicas. 
Para Carvalho (2000) “a pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informação escrita, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de determinado tema”.
“Para tanto, é de suma importância que o pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão de sua forma de comunicação e divulgação”. (BOCCATO,2006, p.266).
Com base nos dados buscados, foram consideradas as principais diferenças linguísticas, as variações diafásicas, diastráticas e diatópicas, o modo de falar de cada um, observando sua individualidade e ambiente do qual ele vem e com o qual se relaciona. Foram considerados os estudos de Marcos Bagno (2004), Evanildo Bechara (1989), Cleuza Cecato (2017), Stella Maris Bortoni-Ricardo (2004), Maria Cecília Carvalho (2000), Luiz Cunha Cintra (1985), Cândido Figueiredo (1945) e Wanderley Geraldi.
 Conjuntamente foram analisadas as causas do preconceito linguístico em relação à norma culta ensinada pelos professores de língua portuguesa, e como esta afeta os alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não podemos falar em linguagem sem relacioná-la com a sociedade, pois a relação que existe entre elas é a base que estabelece o ser humano. Segundo os linguistas, a humanidade se organiza em sociedade e possui um código, ou seja, uma comunicação oral que seria a língua de cada falante.
Nas palavras de Cleuza Cecato (2017, p.32):
“Ainda hoje, não é incomum lermos abordagens que tratam a língua, como se ela fosse um sistema completamente homogêneo. O que isso quer dizer e por que não é verdade? A pressuposição de que as línguas são empregadas da mesma forma por seus falantes é uma grande ilusão que contamina possíveis pesquisas e abordagens sobre qualquer língua. Dizer que determinada comunidade linguística emprega a língua de maneira homogênea é desconsiderar as variações e transformações realizadas individualmente, ou mesmo em diferentes etapas por subgrupos dentro dessa comunidade”.
Uma criança adquire e desenvolve a linguagem durante a infância, e esse início é o que chamamos de aquisição da linguagem. Ao percorrer esse caminho de aprendizagem da língua materna, a criança tem contato com diferentes pessoas, crenças, valores e assim, adquire conhecimentos de sua cultura. A fala é a principal ferramenta de comunicação dos seres humanos, por isso a criança já possui domínio da língua materna antes entrar na escola, porque a linguagem é um fenômeno natural. Ela é adquirida das relações humanas em sociedade, os fenômenos, as mudanças e variações também são fatores sociais.
Para a Sociolinguística nenhuma língua é inferior ou primitiva, já que falar diferente não é considerado falar errado. Ás línguas são heranças históricas que passam de geração em geração. Ás variações da língua é relacionado a vários fatores como: faixa etária, grau de escolaridade, status socioeconômico, cultural dentre outros. E com toda essa diversidade encontrada é possível perceber que o preconceito linguistico é muito forte, e cabe a nós professores, conscientizar nossos alunos, para que a discriminação acabe introduzindo-os no campo social e fazendo-os entender a grandiosidade e a beleza dessa diversidade linguística.
Nesta perspectiva podemos comprovar a relação que a língua tem com a sociedade, com a escola e com o professor, pois a língua que falamos é viva, diversa, individual, portanto heterogênea.
Foi possível concluir com a pesquisa que o Brasil é um país de várias riquezas e a variação linguística com toda certeza é uma delas, é magnífico ver quantas alterações uma mesma língua pode ter, e o preconceito para com elas é realmente uma injustiça.
É evidente que o ensino contemporâneo deve repensar seu conceito a cerca de como ensinar gramática, pois a língua portuguesa não é só uma gramática de normas, é contexto, uso, adequação e variação.
Estigmar as variantes faz com que os alunos se sintam inferiores a sua língua materna e os conduzem a negar as suas origens. “[...] É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições, voltadas para a educação e cultura, abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país, para melhor planejar suas políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não-padrão. O reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística é ensinada em sala de aula. [...]” (BAGNO 2006, p.18).
A obra Introdução a Sociolinguística editora contexto, de Maria Cecília Mollica e Celso Ferrarezi Júnior, numa visão sociolinguística e quantitativa, pode favorecer de forma imensurável o conhecimento e o funcionamento do português brasileiro, e ainda sobre relações entre língua e sociedade, sobretudo enfatiza o impacto que essa análise traz para o ensino em nosso país.
Para findar, é imprescindível que os alunos entendam que todas as ciências evoluem, e sofrem alterações, tampoucoseria diferente com a nossa língua. Somente assim conseguiremos ensinar bem e para o bem, fazendo com que os nossos alunos se tornem cidadãos críticos e que saibam respeitar todas as diferenças do próximo. Assim cumpriremos o nosso papel, afinal o verdadeiro sentido de ser professor é o de formar cidadãos conscientes, críticos e humanizados, que sejam capazes de se solidarizar e ajudar a quem precise.
REFERÊNCIAS
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MOLLICA, Cecília Maria, JÚNIOR Ferrarezi Celso. Introdução a Sociolinguística. ed.São Paulo: Contexto, 2003.

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