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FARMÁCIA HOSPITALAR E CLÍNICA FARMÁCIA HOSPITALAR E CLÍNICA ORGANIZADOR STEPHANIE BERZIN GRAPIGLIA ORGANIZADOR STEPHANIE BERZIN GRAPIGLIA Farm ácia hospitalar e clínica GRUPO SER EDUCACIONAL Destinado aos estudantes da área farmacêutica, este livro se dedica a explicar a administração hospitalar, a farmacotécnica hospitalar, sobre o uso racional de medicamentos e produtos médicos e, por �m, abordará a farmácia clínica, demonstrando que cada vez mais o setor e o pro�ssional farmacêutico estão conquistando espaço como cuidador do paciente e integrante imprescindível da equipe multidisciplinar farmácia clínica. Neste livro, ilustrado por �guras e complementado por tabelas, o conteúdo é apresentado de forma didática e de fácil compreensão. Conheça aqui os principais conceitos e aspectos da farmácia hospitalar e clínica. gente criando futuro C M Y CM MY CY CMY K FARMÁCIA HOSPITALAR E CLÍNICA Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela Marques Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos, Tiago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Grapiglia,Stephanie Berzin. Farmácia hospitalar e clínica / Stephanie Berzin Grapiglia. – São Paulo: Cengage, 2020. Bibliografia. ISBN 9786555580273 1. Farmacêutica. 2. Gestão hospitalar. 3. Farmácia. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com “É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade.” Janguiê Diniz PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL Autoria Stephanie Tonn Goulart Moura Mestre em Administração pela Universidade Regional de Blumenau - FURB, Especialista em Recursos Humanos pelo Centro Universitário Internacional - UNINTER, Graduada em Administração pelo Centro Universitário de Maringá e Processos Gerenciais pelo Senac Blumenau. SUMÁRIO Prefácio .................................................................................................................................................8 UNIDADE 1 - Administração hospitalar ..........................................................................................9 Introdução.............................................................................................................................................10 1. Introdução à farmácia hospitalar ...................................................................................................... 11 2. Estrutura organizacional da farmácia hospitalar ............................................................................... 14 3. Central de Abastecimento Farmacêutico .......................................................................................... 17 4. Logística de suprimentos: seleção, padronização e aquisição ..........................................................20 5. Farmacoeconomia............................................................................................................................. 22 6. Indicadores de qualidade .................................................................................................................. 26 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................31 UNIDADE 2 -Farmacotécnica hospitalar .........................................................................................33 Introdução.............................................................................................................................................34 1. Sistemas de distribuição na farmácia hospitalar ............................................................................... 35 2. Sistema unitário e o fracionamento dos medicamentos ..................................................................38 3. Alimentação parenteral .................................................................................................................... 42 4. Quimioterapia antineoplásica ........................................................................................................... 45 5. Erros de medicação ........................................................................................................................... 48 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................53 UNIDADE 3 - Uso racional de medicamentos e produtos médicos ...................................................55 Introdução.............................................................................................................................................56 1. Farmacovigilância .............................................................................................................................. 57 2. Tecnovigilância .................................................................................................................................. 61 3. Uso racional de medicamentos ......................................................................................................... 65 4 Uso racional de medicamentos e antimicrobianos no ambiente hospitalar ......................................68 5 Controle de infecção hospitalar ......................................................................................................... 70 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................75 UNIDADE 4 - Farmácia clínica ........................................................................................................77 Introdução.............................................................................................................................................78 1. Bases da farmácia clínica ..................................................................................................................79 2. Pré-requisitos ................................................................................................................................... 82 3. Centro de informações de medicamentos ........................................................................................ 85 4. Elaboração do perfil farmacoterapêutico ......................................................................................... 89 5. Identificação de problemas da farmacoterapia e estratégias de intervenção ..................................91 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................94 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................95 Este livro é destinado a capacitar farmacêuticos e os estudantes dessa área na atuação do segmento hospitalar, explicando sobre a administração hospitalar, farmacotécnica hospitalar, uso racional de medicamentos e produtos médicos, e farmácia clínica. Na primeira unidade, abordaremos a gestão hospitalar. Apresentaremos a origem dessa prática. Trataremos ainda das funções e da importância da farmácia e do farmacêutico dentro do ambiente hospitalar e você descobrirá como ela se relaciona com a atuação da equipe multidisciplinar. As atividades gerenciais e administrativas do farmacêutico vão muito além do espaço físico da farmácia, atingindo também a saúde financeira do estabelecimento onde o profissional está inserido, seja no âmbito público ou privado, e essa questão será amplamente discutida aqui. Na sequência, conheceremos os principais sistemas de distribuição de medicamentos utilizados na farmácia hospitalar, suas respectivas vantagens e desvantagens e quais os critérios devem ser considerados na escolha do sistema a ser utilizado a fim de preservar a segurança do paciente e incrementar a agilidade no processo. Nesse contexto, apresentaremos algumas técnicas empregadas na manipulação, no preparo e na administração de itens que necessitam de cuidados bastante particulares: a alimentação parenteral e medicamentos oncológicos, bem como a importância da atuação do farmacêutico nesses processos. O uso racional de medicamentos e produtos médicos é o assunto da terceira unidade, mostrando as estratégias e coordenadas empregadas pelo hospital e pela farmácia hospitalar a fim de racionalizar os insumos médicos e medicamentos. Ensinaremos tudo o que envolve uma racionalização do uso e como o hospital pode aproveitar as tecnologias disponíveis para tornar o tratamento mais eficiente. Por fim, na unidade farmácia clínica, você conhecerá muito além de seu conceito, demonstrando que cada vez mais o setor e o profissional farmacêutico estão conquistando como cuidador do paciente e integrante imprescindível da equipe multidisciplinar. Conheceremos aqui as terminologias e bases usadas para conceituar essa atividade que, pode-se dizer, ressignificou a atuação do farmacêutico no contexto hospitalar, tirando-o dos bastidores da cadeia de suprimento de medicamentos e insumos hospitalares e estabelecendo seu papel na assistência ao cuidado. PREFÁCIO UNIDADE 1 Administração hospitalar Você está na unidade de Administração Hospitalar. Conheça aqui o caminho percorrido desde o surgimento dessa prática até o que, hoje, conhecemos com farmácia hospitalar. Aprenda sobre as funções e sobre a importância da farmácia e do farmacêutico dentro do ambiente hospitalar e descubra como ela se relaciona com a atuação da equipe multidisciplinar. Compreenda ainda que as atividades gerenciais e administrativas do farmacêutico vão muito além do espaço físico da farmácia atinge também a saúde financeira do estabelecimento onde o profissional está inserido, seja no âmbito público ou privado. Bons estudos! Introdução 11 1. INTRODUÇÃO À FARMÁCIA HOSPITALAR Apesar da farmácia hospitalar estar inserida em um ambiente hospitalar de níveis de complexidade secundário e terciário, muitos fundamentos têm alcance em outros ambientes clínico-assistenciais onde o farmacêutico está inserido, inclusive na atenção primária. Vamos entender um pouco mais como isso começou e todas as atividades que são inerentes a esse conceito. 1.1 Como tudo começou Atualmente, não há dúvidas de qual é a área de atuação de cada um dos profissionais da saúde: o que faz o farmacêutico, o médico, o dentista e todos os outros. Tudo está bem delimitado, mas nem sempre foi assim. O farmacêutico, por exemplo, embora sempre tenha sido associado ao medicamento, até pouco tempo atrás (no início do século XX) ainda não tinha os limites da sua atuação tão bem estabelecidos assim. Muitas vezes, ele entrava em campos de outros profissionais e que não lhe diziam respeito. Porém, não se sabia disso ainda. • Com o passar dos anos, alguns acontecimentos ajudaram a mudar esta realidade: • O amadurecimento das indústrias farmacêuticas. • O incentivo à pesquisa de novos medicamentos. • A criação das Santas Casas de Misericórdia. • A criação dos Conselhos Federais (que passaram a regulamentar e fiscalizar os exercícios das profissões). Tudo isso foi reconfigurando a atuação de cada profissional da área da saúde e também levando o médico a ter uma atuação predominantemente na clínica e no diagnóstico. O farmacêutico, por sua vez, passou a ser a autoridade nos conhecimentos inerentes ao fármaco, desde seu desenvolvimento até a sua dispensação. Porém, a atuação dele no âmbito hospitalar ainda continuava pouco definida e restrita somente ao gerenciamento da farmácia hospitalar. Foi em 1973 que José Sylvio Cimino, farmacêutico no Hospital das Clínicas de São Paulo, publicou a obra “Iniciação à Farmácia Hospitalar” e colocou o tema em discussão pela primeira vez. A partir daí, iniciou-se um movimento em torno do amadurecimento dessa atuação, com alguns marcos importantes. Os principais são: 1960 O Conselho Federal de Farmácia é criado, por meio da Lei 3.820/1960, para atender à 12 necessidade de centralizar as atividades da profissão farmacêutica e fiscalizar o seu exercício. 1975 A Universidade Federal de Minas Gerais é a primeira a introduzir a disciplina de Farmácia Hospitalar em sua grade curricular. 1980 A Universidade Federal do Rio de Janeiro cria o curso de Pós-Graduação em Farmácia Hospitalar. 1985 O Ministério da Saúde passa a incentivar e promover cursos de especialização em Farmácia Hospitalar como estratégia para reduzir infecções hospitalares. 1995 A Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) é criada, passando a contribuir com o reconhecimento da área e com o seu desenvolvimento técnico-científico 1.2 Conceitos e funções Todo esse caminho percorrido acarretou no reconhecimento da farmácia hospitalar como importante área de atuação do farmacêutico. E para entender o conceito mais correto do termo, é preciso analisar a definição dada pelas três instituições que tiveram o papel mais preponderante para a regulamentação dessa atividade. O Ministério da Saúde, órgão do governo federal e a mais alta instituição de saúde do país, defende que a farmácia hospital é a unidade clínico-assistencial, técnica e administrativa, onde se processam as atividades relacionadas à assistência farmacêutica, dirigida exclusivamente por farmacêutico, compondo a estrutura organizacional do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades administrativas e de assistência ao paciente (BRASIL, 2010). Já para a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH), a atividade representa uma unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por farmacêutico, ligada hierarquicamente à direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades administrativas e de assistência ao paciente (SBRAFH, 2017). Por fim, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) define farmácia hospital como a 13 responsável pela seleção de medicamentos, a aquisição e o controledos medicamentos selecionados e o estabelecimento de um sistema racional de distribuição que assegure que o medicamento prescrito chegue ao paciente na dose correta (OPAS, 1997). De certa forma, é possível perceber que as três instituições apresentam conceitos muito parecidos e complementares umas com as outras. Basicamente, todas falam sobre as funções do farmacêutico hospitalar, que podem ser resumidas da seguinte forma: Figura 1 - Integração entre as funções farmacêuticas Fonte: Elaborada pela autora (2020). #ParaCegoVer: A imagem apresenta três círculos interconectados com a intenção de mostrar a integração das atividades executadas pelo farmacêutico nas suas diversas áreas de competência (clínico-assistencial, administrativa e econômica). Na prática, porém, os três papéis são extremamente integrados. A equipe responsável por fazer a lista dos medicamentos e insumos a serem comprados, por exemplo, precisam consultar outras equipes multidisciplinares para levar em consideração o custo-benefício centrado no bem- estar do paciente. Aqueles que organizam os processos de trabalho de toda a equipe do hospital, devem levar em consideração a aplicabilidade financeira da instituição a, ao mesmo tempo, pautar suas escolhas na segurança do paciente. Poderíamos pensar em vários cenários onde todas estas atividades são aplicadas ao mesmo tempo, mas o que nos cabe nesse momento é refletir o quanto esse profissional é dotado de competências e possui uma atuação integrada com todas as atividades e setores do ambiente hospitalar, seja direta ou indiretamente. 14 2. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA FARMÁCIA HOSPITALAR Ao conhecer a abrangência e a atuação da farmácia hospitalar, é importante entender também de que maneira o espaço físico e os recursos humanos disponíveis devem estar integrados para otimizar o funcionamento do setor. 2.1 Estrutura física A estrutura física da farmácia hospital não pode ser analisada sem que sejam consideradas três questões: a localização estratégia, o tamanho físico e a disposição interna. A localização estratégica do setor dentro do ambiente hospital deve ser levada em conta especialmente porque devido às diversas peculiaridades que envolvem o seu operacional. É preponderante, por exemplo, que o local deva: • possuir fácil acesso para a entrada de recebimentos de insumos e materiais, já que, em geral, tratam-se de grandes volumes que precisam chegar em segurança até a Central de Abastecimento de Medicamentos, independente se ela estiver localizada junto ou em local diverso da farmácia. • ter fácil acesso para que a equipe hospitalar possa se dirigir até o setor em momentos consultivos e também para facilitar o trabalho de vigilância em saúde que muitas vezes fica concentrado na farmácia. • contar com algum grau de isolamento acústico (já que alguns equipamentos utilizados no fracionamento podem gerar ruídos que ultrapassam o nível de aceitável no ambiente hospitalar, de acordo com a NBR 10.152/87), isolamento de poluição e resíduos (para que seja prezada a manutenção do ambiente limpo). • permitir acesso fácil ao local onde são processados os medicamentos que serão dispen- sados com fluxos de abastecimento bem definidos, caso a Central de Abastecimento esteja em local separado. Por outro lado, não existe um tamanho físico ideal pré-definido por lei ou orientado pela doutrina. Além disso, algumas publicações estabeleceram de forma bem genérica qual deveria ser o espaço ocupado pela farmácia hospitalar em relação à quantidade de leitos. Não há um consenso entre eles: Cimino (1973), por exemplo, defendeu o tamanho de 1,5 metros quadrados por leito, mas a OPAS fala em 1,2 metros quadrados para a mesma quantidade. Já a Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar preconiza 1 metro quadrado por leito. Embora o cálculo por leito seja mais prático e menos subjetivo, não é só esse número que precisa ser considerado na hora de definir o tamanho físico ideal em que a farmácia hospitalar 15 deve funcionar. Também devem entrar na avaliação fatores como: Tipo do hospital É preciso considerar se o hospital é especializado, geral, policlínico ou de ensino, por exemplo, visto que cada nível de complexidade hospitalar demandará um espaço físico que seja proporcional à demanda atendida. Por outro lado, hospitais vinculados ao ensino devem contar também com salas multifuncionais para estudos, aulas e atendimentos. Tipo de atendimento e mantenedora É preciso considerar se o hospital se é filantrópico, se atende de forma particular, ou por convênio ou, ainda, gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), já que a demanda é construída dentro da complexidade de atendimento. Então, quanto maior o fluxo de atendimento, o elenco de medicamentos, o público-alvo (geriatria, pediatria, saúde da mulher, infectologia, por exemplo), cada novo serviço prestado exigirá um elenco diferente de medicamentos. E o espaço físico da farmácia deverá estar de acordo com tais necessidades para se adequar ao fluxo de cada serviço prestado no hospital. Localização regional É preciso avaliar o local onde o hospital está instalado e, principalmente, as regiões mais distantes em que há dificuldade de acesso a medicamentos. Atividades assumidas pela farmácia Além disso, deve se considerar também as atividades que a farmácia se propõe a fazer: se assumir um papel educativo e consultivo, por exemplo, o local deve dispor de uma estrutura para reuniões e guarda de material bibliográfico. Fora isso, é preciso reservar espaço para os ambientes-padrão do setor, como a área para guardar e manipular os medicamentos e a sala privativa para o farmacêutico desempenhar suas funções administrativas e gerenciais. Por fim, a disposição interna do setor deve apresentar toda a infraestrutura necessária para o bom andamento dos processos de trabalho do setor, considerando os mobiliários e móveis ergonomicamente compatíveis com cada necessidade, as instalações elétricas compatíveis com as atividades desempenhadas e a quantidade suficiente de computadores, e respeitar também a quantidade de funcionários que estará trabalhando em cada turno e em cada subsetor. 2.2 Organização de Recursos Humanos Com base na variedade de atividades desempenhadas pelo farmacêutico no âmbito da farmácia hospitalar, a capacidade de gestão de pessoas, a liderança e o desenvolvimento de 16 relações interpessoais são competências de extrema importância para a execução do trabalho. Por isso, além da estrutura física, a farmácia hospital também comporta uma certa quantidade de profissionais para exercer as funções necessárias. A Portaria 4.283, de 2010, do Ministério da Saúde, por exemplo, traz uma avaliação subjetiva ao se limitar à orientação de que a farmácia em hospitais deve contar com farmacêuticos e auxiliares, necessários ao pleno desenvolvimento de suas atividades, considerando a complexidade do hospital, os serviços ofertados, o grau de informatização e mecanização, o horário de funcionamento, a segurança para o trabalhador e usuários (BRASIL, 2020, s./p.). Por esse motivo, a SBRAFH preconiza que cada setor tenha disponível um farmacêutico para cada 50 leitos, quantidade mínima para atender todo o horário de funcionamento assistencial da farmácia. No caso dos auxiliares, o mínimo seria de dez profissionais por leito, caso o setor não conte com recursos informatizado suficiente para todos. É importante considerar também que o farmacêutico hospitalar possui um grau hierárquico que o proporciona todo tipo de relações profissionais. Em certos momentos estará lidando com questões administrativas e gerenciais com o diretor do hospital (a quem estará em um nível hierárquico mais baixo); em outro, estará discutindo casos clínicos e condutas terapêuticas em uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde (em que todos estão no mesmo nível hierárquico); ou, ainda, poderá estar liderando sua equipe interna (a quem está hierarquicamente acima) e, claro, tambémhaverá aquelas situações assistenciais em que estará lidando diretamente com o paciente. Quando se tratam dessas relações, qualquer delas, é preciso ter em mente a necessidade do profissional desenvolver habilidades socioemocionais para lidar com as mais diversas situações que o trabalho requer, seja com as equipes, com os pacientes ou até com os seus familiares. FIQUE DE OLHO A Portaria 4.283, de 2010, foi elaborada pelo Ministério da Saúde em conjunto com gestores de diversas instituições importantes para o setor, como a SBRAFH, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), o Conselho Federal de Farmácia (CFF), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS). A ideia era fornecer diretrizes a serem seguidas na estrutura organizacional e na atuação do farmacêutico em âmbito hospitalar. 17 3. CENTRAL DE ABASTECIMENTO FARMACÊUTICO A Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF) é o local onde o medicamento fica armazenado. Embora nem sempre ele esteja alocado junto da farmácia, a SBRAFH preconiza que o setor disponha de, pelo menos, um farmacêutico exclusivo para o seu atendimento e organização. 3.1 Atividades operacionais Cabe ao CAF a tarefa de guardar e manter a qualidade e a estabilidade do medicamento que será distribuído, estabelecendo fluxos que assegurem a recepção, a estocagem e a distribuição dos medicamentos e insumos médicos. Além disso, todas essas etapas devem gerar os chamados Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) - guias que descrevem cada atividade exercida pela farmácia hospitalar, determinando os responsáveis, a peridiocidade, o passo a passo, e o que mais de informação que for necessária para padronizar o serviço. Desta maneira, algumas questões devem ser rigorosamente observadas: Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Ordenação do estoque Não existe uma especificação a respeito de como deve estar ordenado o estoque, mas alguns estabelecimentos optam em fazê-lo por classes terapêuticas, outros por demanda ou, ainda, por setores a serem atendidos. No entanto, a maneira mais intuitiva e fácil é, provavelmente, pela ordem alfabética do princípio ativo. Rotatividade do item A organização deve levar em conta o fácil acesso aos itens com maior e menor demanda, o que 18 irá otimizar o trabalho tanto no momento do recebimento, quanto no momento de expedição. Identificação dos itens A localização de cada item nas prateleiras ou paletes deve estar devidamente identificada, de modo a evitar confusões no momento de saída de material e, até mesmo, que o profissional perca tempo procurando por ele. Ordem de entrada e ordem de saída A guarda do material nas prateleiras deve ser feita respeitando o prazo de validade, fazendo com que aqueles que estejam mais próximos do vencimento sejam os primeiros a sair. Esse modelo de organização é chamado Primeiro a Vencer, Primeiro a Sair (PVPS) – ou, na versão original, em inglês, de First expire First out (FEFO). Mobiliário compatível ao material a ser armazenado Os paletes devem ser usados para evitar o contato de caixas e outros materiais diretamente com o chão e as prateleiras não devem ser tão altas para evitar risco à segurança dos funcionários. Além disso, todo o mobiliário deve ser de material resistente e lavável, respeitar o volume e peso do material que será acondicionado e possuir dimensões apropriadas para não atrapalhar o fluxo e a acessibilidade. Embora pareçam mecanizados e metódicos, seguir tais detalhes nos processos de trabalho do CAF pode de ser de grande contribuição para o resultado final e para o andamento do trabalho. Afinal, ele pode ser feito de forma muito mais rápida quando o profissional sabe exatamente onde buscar cada item e quando todo o processo já trabalha em favor do controle de qualidade. No entanto, uma vez que o farmacêutico estabelece o processo, a sua função passa a ser mais no sentido de monitorar o que está sendo feito pelos auxiliares, do que, necessariamente, promover a operacionalização propriamente dita. 3.2 Atividades administrativas A CAF gera uma quantidade muito grande de informações a respeito da rotatividade e custos de materiais, do perfil de consumo do hospital e dos setores e do grau de ociosidade de alguns itens que não são usados com frequência. Por isso, a boa gestão do estoque pode impactar diretamente na saúde financeira do estabelecimento. Para ajudar nesse processo, é preciso levar em conta: Consumo médio 19 É a frequência do uso de determinado medicamento. Se traçar um paralelo entre o consumo médio do item em um determinado período de tempo, o profissional saberá quanto tempo irá durar o estoque disponível, quando será o momento de acionada uma nova compra, sem correr o risco de faltar produto caso ele demore a chegar, ou, então, se vale mais a pena o item deve ser devolvido por falta de demanda. Tempo de ressuprimento É o tempo que leva entre o hospital efetuar a compra dos produtos e o fornecedor fazer a entrega. Ponto de ressuprimento É o nível do estoque que determina uma nova compra do item. Para determinar esse ponto, é preciso que o profissional tenha um bom acompanhamento do processo como um todo. Um item com consumo médio mensal de três mil comprimidos e que o fornecedor leva 10 dias para entregar (tempo de ressuprimento), por exemplo, atingirá o ponto de ressuprimento quando o estoque estiver com mil itens. Isso dá tempo suficiente para o fornecedor fazer a entrega antes do estoque chegar ao fim. Itens sazonais São os medicamentos e insumos cujo consumo possui um perfil sazonal, por sofrer interferência climáticas, temporais ou, até mesmo, eventos específicos na região onde o hospital está estabelecido. Essa sazonalidade deve ser conhecida pelo farmacêutico para evitar faltas nos momentos que apresentam maiores saídas ou ociosidade em épocas sem demanda. Um sistema informatizado de qualidade auxilia muito o profissional na hora de avaliar todos esses pontos e deve ser encarado, portanto, como um investimento. Afinal, deter essas informações de forma organizada só traz vantagens: • garante ao farmacêutico uma gestão mais prática, segura e eficiente; • evita intercorrências devido a faltas ocasionais de itens importantes; • evita gastos desnecessários com vencimento de itens ou compra de material que não possui demanda; • otimiza espaço físico e faz com que ele seja usado de maneira mais inteligente e • facilita o trabalho dos funcionários envolvidos nos processos de organização e expedição. 20 4. LOGÍSTICA DE SUPRIMENTOS: SELEÇÃO, PADRONIZAÇÃO E AQUISIÇÃO A logística de suprimentos nada mais é do que o caminho percorrido pelo medicamento, desde o momento em que o profissional elabora a seleção dos medicamentos que serão comprados, até a escolha do melhor método de dispensação. Trata-se, portanto, de um percurso que envolve diversas etapas, com impacto econômico, administrativo e assistencial, e uma grande capacidade analítica por parte do farmacêutico. O primeiro passo é a seleção e a padronização dos medicamentos. Nesta etapa, o profissional decide quais itens serão utilizados no hospital em um período determinado. Para Junior e Marques (2012, p. 300), este é um processo dinâmico e continuo, multidisciplinar e participativo. É um processo de escolha que visa a elaboração de uma relação de medicamentos essências, levando em consideração a necessidade, a eficácia, o benefício/risco e o benefício/custo. Assim, tanto em relação à seleção dos itens que irão compor essa listagem, quanto à padronização das quantidades a serem solicitadas, algumas questões devem ser consideradas, como, por exemplo, o perfil e especialidades atendidas do hospital, o uso racional dos medicamentos selecionados, os estudos a respeito de práticas e evidências clínicas dos medicamentos que serão disponibilizados e o custo-benefício ao hospital.Idealmente é construído dentro da Comissão de Farmácia e Terapêutica, devido à importância de uma integração multidisciplinar para avaliar o perfil de atendimento do hospital, por demandar uma constante atualização na listagem e também pelo caráter educativo que essa comissão irá adotar em cima do elenco definido. Assim, uma vez feita a ficha descritiva de cada um dos itens que devem ser comprados, inicia- se a segunda etapa do processo: a aquisição e a gestão de estoque. Esta fase, segundo Junior e Marques (2012), consiste num conjunto de procedimentos pelos quais se efetivam o processo de compras dos medicamentos, estabelecidos nas etapas anteriores. Trata-se, portanto, de uma etapa intimamente ligada à gestão de estoque principalmente para evitar faltas e desperdício de material e espaço físico e também estabelecer o melhor momento que a compra deve ser feita. 21 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Provavelmente, o maior desafio da etapa de aquisição é sabe identificar os momentos de compra, de quantidade e de margem de segurança de cada item. São critérios que devem ser avaliados item a item levando em consideração dados como consumo médio mensal, estoque atual, tempo que o fornecedor leva para entregar o item, validade do item em estoque. Nesse sentido, algumas considerações práticas devem ser feitas para facilitar esse processo: • manter um sistema informatizados sempre atualizado em todas as movimentações feitas; • possuir ficha de cadastro de fornecedores atualizada especificando quais os itens estão aptos a fornecer; • estabelecer a quantidade de orçamentos que deverão ser feitos antes de realizar a com- pra visando o fornecedor • com o melhor preço e condição de pagamento e entrega; • já ter estabelecido o tempo de entrega dos itens e casos de comprar programadas; FIQUE DE OLHO No setor público a seleção dos medicamentos deve estar pautada nas chamadas Relação Nacional de Medicamentos (RENAME) e Relação Municipal de Medicamentos (REMUME). Tratam-se dos elencos de medicamentos que seriam essenciais para atender as principais necessidades da população – em âmbito nacional e municipal respectivamente – com base em dados epidemiológicos. 22 • manter sempre atualizado o custo dos produtos; • realizar inventários periodicamente; • elaborar e manter atualizados relatórios de consumo dos itens para de modo que seja possível identificar qualquer mudança no perfil de consumo que necessite reajustar os dados a respeito de compra e ponto de ressuprimento Além disso, também é interessante manter uma relação amigável com os fornecedores e com parceiros de outros estabelecimentos, para que, em um momento de demanda emergencial, disponha de uma rede de contatos que esteja disposta a auxiliar. 5. FARMACOECONOMIA A farmacoeconomia tem como função otimizar os recursos financeiros utilizados para adquirir insumos, medicamentos e estabelecimento de processos sem que isso prejudique a qualidade do serviço, a segurança do paciente e o bem-estar da equipe. Trata-se, portanto, o campo de atuação do farmacêutico hospitalar que possui a maior capacidade de combinar as funções assistenciais-administrativas-econômicas. Assim, por se tratar de medidas que podem ser quantificadas em valores, tem o potencial de trazer grande visibilidade ao setor. 5.1 Metodologia de análise na farmacoeconomia Segundo Yuk, Kneipp e Maehler (2006), o custo com aquisição de medicamentos costuma variar entre 5% a 20% do orçamento do hospital e representa o maior valor financeiro dentre os produtos utilizados. Por isso, é muito importante que o conceito “economia”, dentro do âmbito hospitalar, seja aplicado de maneira a otimizar os gastos; porém, sem afetar a qualidade do serviço oferecido. Para isso, é necessário que se empregue todo o conjunto de embasamento teórico, domínio dos processos e conhecimento dos dados disponíveis pela gestão de estoque. Existem disponíveis algumas metodologias de análise que podem ser feitas nesse campo: • Minimização de custos – É, possivelmente, a forma mais simples de avaliar o custo que determinado item ou processo representa no orçamento total. Por isso, determinar o quanto as alternativas terapêuticas disponíveis no mercado podem ser intercambiáveis entre elas costuma ser, segundo Alves (2011), o primeiro critério antes da realização da análise de minimização de custo. Caso elas sejam diferentes, não é possível fazer este tipo de estudo. Sicoli (2010) acrescenta ainda que esse é o tipo de análise mais útil para comparar as doses e as vias de administração diferentes, considerando que o resultado de duas ou mais alternativas são as mesmas em relação aos resultados clínicos. 23 Importante ressaltar que a minimização de custo só deve ser aplicada na etapa de aquisição como forma de selecionar o fornecedor com menor custo, sem abrir mão da eficácia e da efetividade estabelecidas nas etapas de seleção e padronização. • Custo-benefício – É uma análise que avalia o impacto que determinado processo de tra- balho irá ter no orçamento do estabelecimento. No entanto, uma análise dessa natureza deve levar em consideração diversos contextos que, muitas vezes, são difíceis de serem convertidos em custos. Estabelecer um protocolo para a prevenção de infecções hospita- lares, por exemplo, pode representar um aumento de custos com medicamentos, mas se forem considerados todas as despesas que são envolvidas com infecções hospitalares, o gasto com o uso de tal protocolo pode ser ainda menor que os gastos por não tê-lo. Para o Ministério da Saúde (2008), no entanto, esta é uma análise difícil de ser feita devido ao valor monetário daquilo que deve ser considerado: é possível transformar em valores o trabalho de salvar uma vida e reduzir a probabilidade de morte? Ou, então, atribuir valores à vida de uma pessoa idosa em relação à de uma criança, por exemplo? • Custo-efetividade – É a melhora clínica do paciente provocada diante das alternativas terapêuticas que estão disponíveis. De acordo com Mota (2003), as unidades que podem ser usadas para mensurar esse impacto podem ser em anos de vida ganhos, casos detec- tados, dias de incapacidade evitados, unidades de pressão arterial reduzidas, número de doenças evitadas variando de acordo com o impacto mais relevante para a análise. Assim, no caso de comparar três alternativas de tratamento farmacológico da hipertensão arterial, a efetividade poderia ser avaliada de acordo com evidências clínicas na redução da pressão arterial em mmHg ou número de eventos cardiovasculares evitados, por exemplo. É válido considerar na análise também o impacto dos efeitos colaterais e adversos. A análise de um anti-inflamatório que apresente efetividade superior a outros de mesmo nível mas que possuem efeitos gástricos, por exemplo, deve vir acompanhada de uma análise custo-benefício pela exposição dos pacientes ao risco de desenvolvimento de úlcera gástrica. • Custo-utilidade – É uma análise bem parecida com o custo-efetividade, mas com uma perspectiva mais voltada para o impacto na qualidade de vida do paciente. Por isso, uti- liza uma unidade de medida denominada Anos de Vida Ajustados por Qualidade (AVAQ), que permite avaliar situações de confronto, como, por exemplo, “quantos anos de vida esse tratamento vai acrescentar ao paciente” frente a “qual a qualidade de vida que ele terá nesses anos que lhe serão acrescentados”? No entanto, trata-se de mais um valor subjetivo agregado à avaliação a ser feita. Qual é o maior valor para uma pessoa com câncer em estágio terminal e prognóstico de vida de seis meses, por exemplo? Submeter-se à uma quimioterapia agressiva que lhe acrescentará em torno de três anos de vida, boa parte deles focada em idas e vindas ao hospital, ou, então, adotar uma estratégia apenas profilática para dar conforto em seus últimos meses? 24 Como é possível observar, toda análise de custo deve ser avaliada dentro do contexto em que está inserida. Afinal, uma opçãoque parece oferecer o menor custo, pode, ao mesmo tempo, oferecer um operacional tão caro que talvez não vale a pena. Portanto, a escolha pela análise a ser usada depende da etapa em que será realizada e o objetivo que ela deseja alcançar. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 5.2 Curva ABC A grande quantidade de medicamentos e insumos que precisam ser contemplados na gestão de estoque impossibilita que o farmacêutico faça um acompanhamento caso a caso, ou medicamento a medicamento. Por isso, ele busca uma maneira de agrupar itens com particularidades semelhantes para conduzir essa gestão com o olhar diferenciado a cada um dos grupos. No entanto, para que esse agrupamento seja eficiente na construção de estratégias de gestão de estoque e farmacoeconomia, seria preciso levar em consideração a demanda de consumo e o impacto financeiro de cada item. Assim, atendendo a essa necessidade, a chamada curva ABC se apresenta como a ferramenta mais adequada, assim como acontece em diversas áreas da economia. 25 Figura 2 - Divisão dos medicamentos conforme a Curva ABC Fonte: i viewfinder, Shutterstock (2020). #ParaCegoVer: A imagem mostra uma pessoa organizando o estoque de medicamentos de acordo com a Curva ABC, que separa os remédios por similaridade. Segundo Lourenço (2006), a Curva ABC é baseada no teorema do economista italiano Vilfredo Pareto (motivo pelo qual também é chamada “Teorema de Pareto”) que em um estudo sobre a renda e a riqueza e observou que uma pequena parcela da população (20%) concentrava a maior parte da riqueza local (80%). Essa distribuição passou a ser observada em outros contextos até que foi validada como uma metodologia de gestão de estoque e, consequentemente, controle de gastos. Na farmácia hospitalar, isso é demonstrado em uma curva que demonstra que uma pequena quantidade de itens (em torno de 20% dos itens) consome um maior percentual no orçamento destinado aos medicamentos, enquanto que 80% dos itens, que são os mais consumidos e com maior rotatividade representam uma menor parcela do orçamento destinado a aquisição de medicamentos (em torno de 20% dos gastos). Essa observação ofereceu uma facilidade no momento de agrupar os medicamentos que demandavam de estratégias diferentes de gestão de estoque. Classe A Esse grupo representa cerca de 20% dos itens do estoque e, portanto, é considerado o grupo de itens mais importantes e que demandam maior atenção na sua gestão. Isso porque se tratam dos itens mais caros do estoque e que representam cerca de 80% do valor total do estoque. Classe B Representa um grupo de itens com demanda e custos intermediários entre a classe A e C, sendo cerca de 15% do total de itens em estoque e que consomem em torno de 15% dos recursos. Portanto, não possuem um custo tão alto quanto a Classe A e nem uma rotatividade tão alta quanto a classe C. 26 Classe C Agrupa cerca de 70% dos itens em estoque sendo os que possuem maior consumo e rotatividade pelo hospital. Porém, sua importância em valor é pequena, representando cerca de 20% do valor do estoque. Conhecer a demanda de cada item e a frequência com que deve haver a reposição, auxilia no momento de orçar melhores preços e selecionar o melhor fornecedor. Também é útil para de estabelecer qual será o estoque de segurança que terá de cada medicamento, evitando o estoque muito grande de um item caro e com baixa rotatividade e que pode acarretar em vencimento do prazo de validade. Assim, um medicamento com alta demanda e alta rotatividade, por exemplo, pode ter uma programação de compra estabelecida quinzenalmente, de forma a não ter um estoque muito grande e que ocupe muito espaço físico. Como é possível verificar, o estoque de uma farmácia hospitalar possui uma quantidade muito grande de medicamentos e insumos a serem gerenciados. Portanto, agrupar esses itens utilizando a curva ABC pode ser bastante útil no momento de estabelecer processos na gestão de estoque e controle de gastos diferenciadas para cada classe. 6. INDICADORES DE QUALIDADE Depois de planejar e operacionalizar as atividades da farmácia hospitalar, como saber se o trabalho está alcançando o objetivo estabelecido ou se precisa ser revisto? Isso pode ser feito por meio dos chamados indicadores de qualidade de serviço, que, nada mais são, do que são informações obtidas de maneira padronizada que ajudam a identificar erros e acertos no processo, ajudando a subsidiar as decisões dos gestores. Mais do que um meio de fiscalizar os processos de trabalho e resultados, deve também assumir um caráter educativo e estimular o interesse na melhoria dos serviços. Segundo a Organização Mundial de Saúde: Indicadores são marcadores da situação da saúde e do desempenho dos serviços ou disponibilidade de recursos definidos para permitir a monitorização de objetivos, alvos e performances. Trata-se por indicador ainda, um parâmetro facilmente mensurável e representativo do trabalho realizado em uma determinada atividade (OMS, 2010). 6.1 Importância e aplicabilidade Na farmácia hospitalar, os indicadores podem ser classificados em dois grupos: cadeia de suprimentos e gestão da assistência farmacêutica. Cada qual tem a sua importância em fornecer dados e nortear ações em uma determinada área, tornando importante que sejam elaborados 27 indicadores que tenham abrangência tanto na cadeia de suprimentos quanto na questão assistencial. A cadeia de suprimentos é o conjunto de ações que envolve a aquisição e a distribuição dos medicamentos e, por isso, trabalha com os dados fornecidos durante a gestão de estoque, determinando o consumo médio mensal, o estoque mínimo e o ponto de ressuprimento. Na ausência de um sistema informatizado eficiente, a obtenção dessas informações pode ser bastante trabalhosa, mas que resultam em resultados palpáveis e que ajudam a tornar a programação de medicamentos muito mais fácil. Segundo Santos e Limberger (2018), determinar o volume de devoluções de materiais e medicamentos e identificar a sua logística adequada contribuem para a racionalização dos recursos financeiros e garantia da disponibilidade destes produtos quando estes forem necessários. Por outro lado, a gestão da assistência farmacêutica reúne os indicadores que avaliam os resultados obtidos pela atuação farmacêutica (considerando a padronização de medicamentos, as intervenções feitas na prescrição e os atendimentos interdisciplinares com outros profissionais) e os planeja de maneira que impactem no uso racional de medicamentos. Isso pode envolver atividades relacionadas à: • padronização de medicamentos (que possui um impacto não apenas no uso racional de medicamentos, mas também financeiro); • intervenção na prescrição (que visa a monitorização terapêutica, a análise posológica, a interação medicamentosa, a via de administração, a indicação terapêutica e efeitos ad- versos e que podem demonstrar a necessidade de uma alteração na conduta terapêutica em conjunto com o prescritor). No setor saúde, a aplicação de indicadores e índices que possibilitem mensurar a qualidade do serviço prestado, tem grande importância na padronização na qualidade do serviço. Segundo D’Innocenzo (2006, s./p), os programas de qualidade têm forte tendência a enfatizar a avaliação das condições dos hospitais, focalizados na infraestrutura, nos processos e resultados. A garantia da qualidade pode ser representada pelos indicadores “capacitação de recursos humanos”, “cumprimento aos POPs”, “padronização de notas de sala” e “participações em comissões”. Todos estes indicadores têm por função a qualificação dos processos de trabalho, fundamental para o aprimoramento dos serviços. A melhoria da qualidade hospitalar é estabelecida por meio de padrões, resultado dos estudos de séries históricas na mesma organização ou de comparação com outras organizações semelhantes, em busca do defeito zero - situação que, embora não atingível na prática, orienta e filtra toda ação e gestão da qualidade.6.2 Elaboração de indicadores A elaboração dos indicadores que serão monitorados busca qualificar e determinar alguns 28 parâmetros no serviço da farmácia hospitalar. Cabe dizer que os parâmetros a serem analisados serão determinados pela necessidade do estabelecimento, por exemplo, um hospital que está apresentando uma grande quantidade de erros na administração de medicamentos poderá elaborar um indicador e parâmetros para avaliar qual a etapa do processo pode estar impactando nesses erros: seria uma dispensação incorreta¿ Interpretação errada da prescrição¿ Falta de treinamento dos profissionais técnicos¿ Atualmente, apesar de alguns órgãos sugerirem os indicadores mais indicados, a elaboração de cada um deve ser feita dentro do estabelecimento onde será aplicado e, portanto, depende da resposta algumas perguntas. Por exemplo: • Quais os processos do hospital/farmácia consomem maior tempo dos funcionários? • Quais os processos do hospital/farmácia são mais onerosos? • Quais os problemas mais recorrentes no hospital/farmácia? • Quais os dados têm-se disponíveis para se trabalhar? • O quanto o sistema informatizado pode auxiliar no recolhimento desses dados? Dessa maneira, será possível identificar onde podem estar as dificuldades do processo e quais etapas podem ser mais impactadas financeiramente pela otimização. A partir daí, a elaboração de indicadores poderá ser feita. Além disso, eles também devem ser metodologicamente possíveis de serem trabalhados. E, para tanto, devem possuir: Objetivo e meta Define o que se deseja alcançar e qual problema será resolvido por meio do indicado. Fonte Aponta de onde serão extraídos os dados que serão trabalhados. Parâmetro Indica o dado que será usado para acompanhar o desenvolvimento e aplicação dos indicadores. Ao responder esses questionamento será possível ter mais clareza em quais as atividades desempenhadas pela farmácia demandam uma maior atenção, quais as etapas do serviço estão mais susceptíveis a ocorrência de erros, e quais os processos mais delicados. Entendendo essas particularidades será possível elaborar indicadores que possibilitem avaliar a qualidade do 29 serviço prestado bem como, ao estabelecer parâmetros e acompanhar a evolução desses dados no decorrer do tempo será possível observar se a qualificação do serviço está apresentando uma melhora ou uma piora que exija uma nova interferência. Segue exemplos de um indicador que poderia ser usado em cada categoria discutida e como os pontos devem ser desenvolvidos na elaboração de um indicador: Figura 3 - Modelo da elaboração dos indicadores de qualidade Fonte: SANTOS; LIMBERGER (2018, s./p.). #ParaCegoVer: alar, em que cada indicador recebe um nome, é determinado um parâmetro que permita a mensuração desse indicador, a fonte da qual esses dados serão extraídos, a meta e o objetivo que se deseja alcançar com esse indicador. Como pode ver, indicadores não servem para gerar números ou estatísticas. Pelo contrário. A ideia é que eles geram soluções e, por isso, devem ser individualizados a cada estabelecimento, de acordo com a problemática encontrada. 30 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • acompanhar a farmácia hospitalar constituindo-se como atividade reconhecida ao farmacêutico; • conhecer a maneira como a farmácia hospitalar está organizada física e operacionalmente; • compreender o impacto que a gestão de estoque tem na otimização dos serviços ofertados pela farmácia hospitalar; • conhecer as práticas da rotina hospitalar que possuem impacto financeiro na instituição; • estudar a importância de se estabelecer indicadores de qualidade ao serviço da farmácia hospitalar. PARA RESUMIR BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva da Área de Economia da Saúde e De- senvolvimento. Avaliação econômica em saúde: desafios para gestão no Sistema Único de Saúde. Brasília, Ministério da Saúde, 2008. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/avaliacao_economica_desafios_gestao_sus.pdf> Acesso em: 21 fev. 2020. _____. Ministério da Saúde. Portaria nº 4.283, de 30 de dezembro de 2010. Aprova as diretrizes e estratégias para organização, fortalecimento e aprimoramento das ações e serviços de farmácia no âmbito dos hospitais. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/ saudelegis/gm/2010/prt4283_30_12_2010.html. Acesso em: 19 fev. 2020. DE SOUZA, C, et al. Indicadores de qualidade utilizados no gerenciamento da assistência de enfermagem hospitalar [Healthcare quality indicators used in hospital nursing care management]. Revista Enfermagem UERJ. 6 (23): 787-793, 2006. DEITOS, D.M.; SILVA, M.T. Indicadores da qualidade. In: FERRACINI, F.T.; FILHO, W.M.B. Prática farmacêutica no ambiente hospitalar: do planejamento à realização. São Paulo: Atheneu, 2005. D’INNOCENZO M.; ADAMI N.P.; CUNHA I.C.K.O. O movimento pela qualidade nos servi- ços de saúde e enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v.59, n.1, Brasília, jan./ fev. 2006. Disponível em: doi.org/10.1590/S0034-71672006000100016. Acesso em: 20 fev.2020. JUNIOR, D.P.; MARQUES, T.C. As bases da dispensação racional de medicamentos para farmacêuticos. São Paulo: Pharmabooks, 2012. LOURENÇO, G.K.; CASTILHO, V. Classificação ABC dos materiais: uma ferramenta geren- cial de custos em enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v.59, n.1, Brasília, jan./ fev. 2006. Disponível em: doi.org/10.1590/S0034-71672006000100010. Acesso em: 21 fev. 2020. MOTA, D. M. Avaliação farmacoeconômica: instrumentos de medida dos benefícios na atenção farmacêutica. Fortaleza: Acta Farm Bonaerense, 2003. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (OPAS). Guia para el desarrollo de los servi- cios farmaceuticos hospitalares, 1997. SANTOS, J. A; LIMBERG, J. B. Indicadores de avaliação da assistência farmacêutica na acreditação hospitalar. Revista da Administração em Saúde, vol. 18, nº 70, jan./mar, 2018. 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Aprenda aspectos importantes, tais como os aspectos clínicos, epidemiológicos e psicossociais que fundamentam o cuidar de pessoas com alterações do sistema cardiovascular, assim como os fatores relacionados à hipertensão, trombose venosa profunda, insuficiência, cardíaca congestiva, infarto do miocárdio e arritmias cardíacas. Você já pensou como esses fatores podem impactara saúde de nossos pacientes? Pois então, essa é a resposta que iremos descobrir a seguir nesta unidade. Bons estudos! Introdução 35 1. SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO NA FARMÁCIA HOSPITALAR O ambiente hospitalar se refere sempre a uma grande demanda de pacientes frente a uma grande oferta de medicamentos. Em meio a esse contexto é importante entender o caminho trilhado desde que o medicamento é prescrito até o momento em que é administrado no paciente. 1.1 Importância e objetivos Após passar por toda a avaliação médica, diagnóstico e preconização pelo uso racional de medicamento por parte do prescrito, ocorre o momento em que a conduta médica define e gera uma determinada prescrição e esse medicamento precisa chegar até o paciente. No entanto, esse percurso não é tão simples quanto parece à primeira vista. A sua complexidade encontra-se na quantidade de profissionais, setores e processos que acabam se envolvendo no processo. O fluxograma a seguir mostra um exemplo disso. Figura 1 - Da prescrição à administração: o caminho percorrido pelo medicamento: Fonte: Elaborado pela autora (2020). #ParaCegoVer: O fluxograma mostra os principais profissionais envolvidos na prescrição, dispensação e administração do medicamento e as respectivas responsabilidades no caminho que o medicamento percorre até o paciente. 36 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Imagine, agora, a aplicação desse fluxograma em um contexto hospitalar. De um lado, o prescritor possui uma grande demanda de pacientes. De outro, a farmácia possui uma grande quantidade de prescrições, com uma variedade imensa de medicamentos a serem atendidas. E a equipe de enfermagem tem a responsabilidade de administrar cada medicamento a seu respectivo paciente, cada um com sua posologia e horários diferentes. Cada um desses sistemas apresenta, ainda, um grau de segurança específica a ser oferecida ao paciente, assim como investimento financeiro para estabelecer e manter o processo e maior envolvimento de determinado profissional ou do setor mais demandado. De acordo com a organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2019), o objetivo do sistema de distribuição dos medicamentos deve ser: 1. Reduzir erros de medicação: os principais erros são na transcrição da prescrição, na via de administração, na forma farmacêutica e falha no planejamento terapêutico. 2. Racionalização da distribuição: facilitando a administração dos fármacos através de uma dispensação ordenada, segundo horários e pacientes, em condições adequadas para a pronta administração dos medicamentos pela enfermagem. 3. Aumentar o controle sobre os medicamentos: para isso o farmacêutico deve ter acesso às informações sobre o paciente (idade, peso, diagnóstico, medicamentos prescritos), para poder melhor avaliar a prescrição médica e monitorização da farmacoterapia. Estas informações podem alertar para possíveis reações adversas, interações medicamentosas, melhores horários de absorção de determinados medicamentos e, até mesmo, para o não cumprimento do plano terapêutico. 4. Reduzir os custos com medicamentos: para cumprir este objetivo, o ideal é que a dispensação seja diferenciada por paciente e para um período de 24 horas. Desse modo, os custos de estoque e os gastos com doses excedentes serão reduzidos naturalmente, além de ocorrer melhora do controle de estoque e faturamento. 37 5. Aumentar a segurança para os pacientes: este item depende do cumprimento dos objetivos anteriores: adequação da terapêutica, redução de erros, racionalização da distribuição e aumento de controle de medicamentos e materiais. Em meio a esse contexto, é possível verificar o quanto o alcance desses objetivos depende do comprometimento de todos os profissionais envolvidos e do estabelecimento de processos e rotinas muito bem organizados em cada uma dessas etapas da distribuição. 1.2 Principais sistemas de distribuição A intensa rotina da farmácia hospitalar – compras, recebimento de material, controle de estoque e atividades administrativas e assistenciais – exige um grau de organização muito grande tanto no quesito físico, quanto de horários. Nesse sentido, é importante que a farmácia estabeleça horários determinados para processar as prescrições, o que envolve o seu recebimento, a sua avaliação, a sua separação e, por fim, a sua distribuição. E claro que isso deve estar inserido no contexto das demais rotinas do hospital. Uma vez recebidas e avaliadas as prescrições (normalmente cada setor tem seu horário para trazer todas as prescrições), o momento é de separar os medicamentos. A preferência é que isso ocorra de forma individualizada, mas há diversas maneiras que essa separação pode ser feita: Sistema coletivo A enfermagem consolida todas as prescrições de cada setor em um só pedido e também se responsabiliza por separar cada um dos medicamentos na farmácia. Isso faz com que o envolvimento do setor seja mínimo. Vantagens: exige baixo investimento financeiro e liberta a farmácia para atender a demanda total do setor e não prescrição por prescrição. Desvantagens: gera sobrecarga para a equipe de enfermagem, aumentam as probabilidades de erro de administração, aumento do risco de perda do medicamento por vencimento e mal acondicionamento e aumento da perda de rastreabilidade dos medicamentos. Sistema individualizado As prescrições são atendidas individualmente para o período de 24 horas, prazo em que a farmácia se ocupa em separar os medicamentos em embalagens para cada paciente. Nesse caso, a participação da farmácia torna-se mais ativa, mas a equipe de enfermagem ainda assume uma responsabilidade importante no momento de destinação do medicamento ao paciente. Vantagens: possibilita a avaliação farmacêutica, reduz os estoques mantidos nos setores, reduz o tempo gasto pela enfermagem na separação dos medicamentos e possibilita a devolução dos medicamentos à farmácia. Desvantagens: aumenta o risco de erros de administração, dificulta o controle do estoque de medicamentos dos setores, exige tempo da equipe de enfermagem para separar as doses e horários. 38 Sistema unitário As prescrições são atendidas de maneira individualizada, com dosagens prontas e em embalagens separadas pelo horário de administração. Trata-se do sistema mais seguro para o paciente e aquele que alcança melhores resultados na prevenção de erros relacionados à administração dos medicamentos. Vantagens: oferece maior organização e maior participação da farmácia na distribuição dos medicamentos e dá a oportunidade do farmacêutico avaliar as prescrições antes da dispensação. Desvantagens: possui custo elevado para implantação e capacitação de pessoal. Devido à sua grande importância, o sistema unitário de distribuição possui níveis altos de exigência e certa complexidade na sua aplicação. Por este motivo, é fundamental estuda-lo com mais profundidade. 2. SISTEMA UNITÁRIO E O FRACIONAMENTO DOS MEDICAMENTOS Como vimos, quanto mais individualizadas as formas de distribuição de medicamentos, maior será o controle dos medicamentos e a segurança oferecida ao paciente. Por esse motivo é que tem sido preconizado o uso do sistema unitário nos hospitais. Porém, para tanto, é preciso conhecer todas as etapas de fracionamento de distribuição que ele enfrenta. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2.1 Características do sistema unitário É possível afirmar que o tratamento medicamentoso, em seu processo normal, possui dois personagens principais: o farmacêutico e o paciente. Porém, no ambiente hospitalar, a participação 39 aumenta e ganha a força de toda uma equipe de enfermagem, técnicos e prescritores. Por este motivo, o sistema de dose unitária possui características que possibilita ao farmacêutico atua de forma mais efetiva no tratamento - mesmo que ele não esteja em contato direto com o paciente. Nesse sentido, o processo costuma seguir, mais ou menos, esse caminho: O médico faz a prescrição do medicamento; • A farmácia recebe uma cópia dessaprescrição médica; • O farmacêutico faz a avaliação da prescrição e, se nenhuma intervenção for necessária, passa para a equipe de • farmácia realizar a separação; • A equipe de farmácia separa os medicamentos (com base na prescrição médica) em tiras plásticas lacradas que • divide os medicamentos por horários a serem administrados nas próximas 24 horas; • O farmacêutico faz a conferência das tiras e suas respectivas prescrições; • A equipe de enfermagem recebe o material pronto e faz a administração conforme os horários nas tiras. Como pode se perceber, a responsabilidade pela separação dos medicamentos e pela organização dos horários é, majoritariamente, da farmácia, cabendo à equipe de enfermagem apenas uma última conferência e administração. Ou seja: as funções desempenhadas por todos os envolvidos no processo estão de acordo com a área de conhecimento de cada profissional. O sistema unitário, por si só, já consegue oferecer maior segurança ao paciente pelo simples fato de reduzir a incidência de erros de administração de medicamentos e distribuir melhor os FIQUE DE OLHO Mesmo nesse sistema de distribuição, sempre que medicamentos psicotrópicos estiverem em jogo é importante ficar atento ao cumprimento das normas da Portaria 344/1998, que podem exigir um tratamento diferenciado tanto na prescrição quanto na dispensação, especialmente em relação a uma identificação específica na própria tira ou em tira separada. 40 recursos humanos envolvidos no processo, uma vez que cada atividade passa a ser exercida por profissionais capacitados para tal. A médio e longo prazo, a implantação desse sistema também continua gerando economia. Isso porque permite a redução dos estoques periféricos de medicamentos e das perdas por vencimento ou mal acondicionamento de medicamentos nos setores, proporciona a possibilidade de devolução dos medicamentos não utilizados e reduz gastos hospitalares por erros de medicação. Com tudo isso, estima-se que o hospital consiga economizar de 25% a 40% nos gastos com medicamentos, conforme estudos realizados por Gomes e Reis (2000 p.347). Portanto, ainda que os custos para implantar tal sistema sejam aparentemente uma desvantagem, o retorno financeiro compensa o investimento inicial. 2.2 Critérios para execução do sistema unitário Para que seja possível a dispensação unitária, é necessário fracionar os medicamentos fornecidos pela indústria em diversas apresentações. Segundo Valle (2012), eles devem ser separados de sua embalagem primária original e reembalados de maneira individual, de modo que possam ser dispensados com base na prescrição médica. Para garantir que esse processo seja feito de forma correta, mantendo a qualidade do produto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou duas legislações regulamentadoras para orientar os profissionais: Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 80/2006 Dispõe das condições técnicas e operacionais para fracionamento de medicamentos visando a dispensação em quantidades individualizadas para atender às necessidades terapêuticas dos consumidores e usuários desses produtos. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 67/2007 Dispõe sobre boas práticas de manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias. As duas normativas complementam-se para estabelecem critérios básicos de implementação do sistema unitário. Para isso, abordam os seguintes pontos: Recursos humanos Como todas as atividades desempenhadas pela farmácia acontece sob a responsabilidade do 41 farmacêutico que irá monitorar capacitar e coordenar o trabalho dos auxiliares de farmácia que estarão operacionalizando o fracionamento. Infraestrutura A farmácia deve possuir um ambiente destinado especificamente para o fracionamento dos medicamentos que conforme item 4.14 da RDC 67/06, deve possuir áreas e instalações adequadas e suficientes ao desenvolvimento das operações, dispondo de todos os equipamentos e materiais de forma organizada e racional, evitando os riscos de contaminação, misturas de componentes e garantindo a sequência das operações (BRASIL, 2006). Nesse sentido, a Anvisa pondera que o fracionamento e a dispensação devem ser realizados no mesmo estabelecimento, sendo exclusivo para o este fim. Os medicamentos fracionáveis devem vir em embalagens desenvolvidas para que não permitem o contato do medicamento com o meio externo até a sua utilização pelo usuário final. Além disso, os dados de identificação (nome do produto, concentração do princípio ativo, nº de registro, lote, prazo de validade etc.) deverão constar na unidade individualizada do medicamento (Anvisa, 2009). Tais normativas, portanto, estabelecem critérios de qualidade e segurança para manipular as diversas formas farmacêuticas (líquida, sólida, semi-sólida). No entanto, cada uma dessas formas farmacêuticas possui características que demandam cuidados especiais para o seu cumprimento, a ver: Formas farmacêuticas sólidas São os comprimidos, drágeas e cápsulas, cujo fracionamento deve ser feito por meio de cortes da embalagem primária com tesoura para individualizar os medicamentos e, depois, acondicionada em embalagem secundárias para fracionados, de forma a manter as características específicas e identificar por meio de rótulo referente ao medicamento fracionado. Formas farmacêuticas semissólidas São os cremes, pomadas, pastas e géis, cujo fracionamento deve ser feito em recipientes de plástico, alumínio ou vidro, como potes, tubos e seringas. É importante seguir essa recomendação para garantir a estabilidade do produto e evitar reações químicas do medicamento com embalagens de materiais diversos. Eles ainda devem garantir um bom fechamento e rotulagem com todos os dados referentes ao medicamento fracionado. Formas farmacêuticas líquidas São os xaropes e soluções que apresentam grande versatilidade e facilidade no fracionamento, mas, ao mesmo tempo, também possuem maior susceptibilidade para contaminação. Por isso, o 42 fracionamento deve ser feito em frascos ou seringas (sem agulha) bem lacrados e que possam ser administrados diretamente ao paciente. Também deve contar com rotulagem para apresentar os dados dos medicamentos fracionados. Como é possível perceber, são muitas as etapas e exigências envolvidas para que o sistema unitário cumpra com o seu objetivo de se manter como o sistema de distribuição mais eficiente e seguro. Ao mesmo tempo, porém, precisa contar com o comprometimento de todos os envolvidos. 3. ALIMENTAÇÃO PARENTERAL A alimentação parenteral é aquela feita diretamente pela corrente sanguínea com um preparado específico a ser aplicado em pacientes que, por alguma questão fisiopatológica, não conseguem se alimentar por via enteral – quando o tubo de alimentação é inserido diretamente no sistema digestório. É o que acontece, por exemplo, quando há: • obstrução da via digestiva; • complicações pós-cirúrgicas; • preparo cirúrgico; • problemas de mobilidade intestinal. Essa condição também pode aparecer em crianças, especialmente no caso de pré-maturos de baixo peso ou doenças congênitas no trato gastrointestinal. Nestes casos, a introdução de nutrientes acontece por via intravenosa em quantidades e concentrações que atendam as necessidades individuais de cada paciente. A Portaria 272/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, regulamenta a Terapia de Nutrição Parenteral (TNP) no Brasil e define a nutrição parenteral da seguinte maneira: Solução ou emulsão composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada a administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas (BRASIL, 1998). Trata-se, portanto, de uma modalidade de manipulação que exige muito mais do que um fracionamento de medicamentos,uma vez que o processo possui particularidades únicas e o paciente se encontra em situação debilitante. O fato é que o farmacêutico possui atuação fundamental nesse contexto, que vai da confecção da alimentação até a assistência ao paciente. 43 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3.1 Fatores envolvidos na alimentação parenteral Nos casos em que os pacientes internados não possuem condições de ingerir alimentos pelas vias normais ou mesmo enteral, fica a critério da equipe multidisciplinar avaliar a situação. A alimentação parenteral pode, inclusive, ser usada como estratégia para complementar aporte calórico e nutricional em pessoas que apresentem déficits graves. Isso, somado ao fato da importância do aporte nutricional adequado no processo de reestabelecimento da saúde e recuperação do corpo, evidencia a necessidade desse cuidado. A equipe multidisciplinar, quando engajada em construir um plano terapêutico que supra as necessidades do paciente, também possui importância disciplinar nesse processo. Assim, ela deve contar com a atuação de, no mínimo, um médico, um nutricionista, um enfermeiro e um farmacêutico. Juntos, eles têm a responsabilidade de promover a nutrição segura do paciente. Isso pode ser feito por meio das bolsas de nutrição parenteral, disponíveis no mercado com formulação padrão, mas se o hospital possuir estrutura física adequada para manipular esse processo, a confecção dessa emulsão pode ser realizada lá dentro. Para isso, é preciso levar em consideração: FIQUE DE OLHO O monitoramento durante o uso de nutrição parenteral deve ser feito de maneira rigorosa e qualquer sinal de efeito adverso é indicação para a suspensão do uso até que se tenha certeza da segurança do paciente. Por tratar-se de uma administração direta na corrente sanguínea, sua reversão torna-se bastante difícil. 44 • A necessidade calórica do paciente; • A concentração de cada macronutriente (carboidrato, lipídeos e proteínas); • A necessidade de adição de micronutrientes específicos (vitaminas e minerais); • A possibilidade de acrescentar algum medicamento à formulação. • Dessa maneira, a formulação ficará adequada às necessidades individuais de cada paciente. 3.2 Atuação do farmacêutico da nutrição parenteral No campo da nutrição parenteral, o farmacêutico deve atuar em questões assistenciais (seja junto à equipe multidisciplinar ou, então, junto ao paciente) e em questões operacionais (devido à responsabilidade que envolve a aquisição armazenamento e produção desses itens). As ações assistenciais dizem respeito à atuação do farmacêutico na manutenção da qualidade e segurança do processo e podem ser pontuados da seguinte maneira: • avaliação da compatibilidade físico-química entre os elementos da formulação; • avaliação de possíveis interações entre formulação e outros medicamentos utilizados pelo paciente; • avaliação da estabilidade da formulação; • avaliação da possibilidade de osmolaridade e velocidade de infusão; • atuação em conjunto com os demais profissionais no monitoramento de efeitos adversos no período de uso da nutrição parenteral. Por isso, é importante que o farmacêutico atue em conjunto com os demais profissionais no sentido de sanar todas dúvidas do paciente e de sua família e esclarecer o tratamento de forma a deixá-los mais seguros. Afinal, assim como todo tratamento, o sucesso depende não apenas da prescrição, mas também da aceitação por parte do paciente. Outra atuação assistencial do farmacêutico é na área educativa e científica. É importante ele se manter constantemente atualizado a respeito das evoluções nessa área e na participação da educação continuada de todos os profissionais envolvidos. Por outro lado, as ações operacionais envolvem a responsabilidade da farmácia na aquisição, no armazenamento, na gestão de estoque e na distribuição das bolsas industriais ou dos insumos para produção intra-hospitalar. 45 Figura 2 - Formulação de medicamentos Fonte: Enriscapes, Shuttertock (2020). #ParaCegoVer: A imagem mostra um composto líquido sendo manipulado pelas mãos de uma pessoa com luvas. Assim, se o hospital optar por fazer a manipulação e a confecção das bolsas no próprio estabelecimento, a Resolução 292/1996, do Conselho Federal de Farmácia, atribui ao farmacêutico a responsabilidade pela manipulação e pelo preparo parenteral, cujas possibilidades de interações são muito altas devido à complexidade dos componentes que integram a formulação. Essa é a forma mais segura de garantir ao paciente receba um tratamento estável, estéril e livre de contaminantes 4. QUIMIOTERAPIA ANTINEOPLÁSICA Os cuidados a serem tomados na manipulação de medicamentos para o tratamento oncológico de tumores e células cancerígenas são chamados de quimioterápico ou antineoplásicos. Tais compostos vêm sendo alvo de diversos estudos e passa por diversas atualizações no que diz respeito às condutas terapêuticas e no elenco de medicamentos disponíveis. 4.1 Farmácia oncológica – gerenciamento e manipulação Tal como todos os outros medicamentos e insumos médicos, a farmácia exerce papel fundamental em toda a cadeia de distribuição dos componentes quimioterápicos, começando já pela seleção, aquisição, gestão de estoque, armazenamento, manipulação e distribuição. Porém, neste caso em particular, duas dessas etapas possuem particularidades que exigem especial atenção: a seleção e a manipulação. 46 A seleção é a etapa que mais tem recebido atenção da ciência entre todas as classes farmacológicas, o que resulta num fluxo de constante novidades medicamentosas e revisões de protocolos. Além disso, os tratamentos costumam ser bastante individualizados às particularidades genéticas, hormonais e imunológicas do paciente e do tipo de câncer a ser tratado. Por esses motivos, a seleção dos medicamentos que irão compor o elenco de medicamentos disponíveis no estabelecimento deve ser constantemente revisada pela equipe multidisciplinar de modo a acompanhar as evoluções científicas da área. A manipulação, por sua vez, envolve, em grande parte, medicamentos em forma líquida, fazendo com que o farmacêutico se torne responsável pelo processo de reconstituição - quando disponíveis na forma de pós liofilizados, e diluição em soluções compatíveis, segundo pondera Emídio (2019). Isso pode ser feito por meio de técnicas assépticas e em ambiente controlado, por exemplo. Para o autor, apesar do mercado oferecer diversos quimioterápicos capazes de possibilitar a comodidade da administração oral, a manipulação pode resultar da não adesão correta ao tratamento. Quando a manipulação envolve agentes antioneoplásicos, algumas legislações trazem orientações importantes para o processo: • Decreto 85.878/1981, da Anvisa Determina que a manipulação de drogas antineoplásicas deve ser feita por farmacêutico; • Resolução 288/1998, do Conselho Federal de Farmácia Dispõe sobre a competência legal para o exercício da manipulação de drogas antineoplásicas deve ser feita pelo farmacêutico; • RDC 50/2002, RDC 220/2004 e RDC 67/2007, da Anvisa Descrevem a estrutura mínima para uma central de manipulação de antineoplásicos. Tais normativas são necessárias porque tratam especificamente de medicamentos antineoplásicos, de forma a buscar a segurança do paciente (com medidas que garantam assepsia, estabilidade, ausência de incompatibilidade) e evitar risco ocupacional aos manipuladores, uma vez que eles se expõem a formações de aerossóis com potencial tóxico durante a manipulação e também durante a administração. 4.2 Farmácia clínica Na prática da farmácia clínica junto ao cuidado oncológico, o farmacêutico pode atuar em conjunto com outros profissionais, com os pacientes e também com a rotina da área científica de pesquisa. Veja as particularidades de cada um deles: 47 Junto aos profissionais, o farmacêutico atua junto à uma equipe multidisciplinar que pode ser composta de médicos de diversas especialidades, psicólogo, nutricionista, enfermeiro,
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