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- -1 FARMÁCIA HOSPITALAR E CLÍNICA FARMÁCIA CLÍNICA Stephanie Berzin Grapiglia - -2 Olá! Você está na unidade . Conheça aqui como a farmácia clínica se tornou um espaço importanteFarmácia Clínica para o setor no que diz respeito ao cuidado com o paciente e também para o profissional farmacêutico como integrante imprescindível da equipe multidisciplinar, detentor de informações e participante ativo na tomada de decisões nas condutas terapêuticas. Aprenda as terminologias e bases usadas para conceituar essa atividade que ressignificou a atuação do farmacêutico no contexto hospitalar, tirando o profissional dos bastidores da cadeia de suprimento de medicamentos e insumos hospitalares. Bons estudos! - -3 1. Bases da farmácia clínica A compreende o conjunto das atividades assistenciais desempenhadas, na prática, pelofarmácia clínica farmacêutico e pelo setor de farmácia em diversos pontos de atenção: no hospital, na farmácia comercial, no ambulatório e nos postos de atenção básica. Isso envolve, basicamente, o ato de estabelecer estratégias para o uso correto dos medicamentos desde o momento da prescrição até o acompanhamento e orientações para a continuidade do cuidado domiciliar. Esse é o momento em que o farmacêutico deixa de atuar em questões gerenciais e administrativas (aquisição de medicamentos, gestão de estoque, gestão de RH) para desempenhar atividades que impactam a clínica diretamente. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2011) resumiu essas atividades em três principais pontos: maximizar o efeito clínico de medicamentos, utilizando o tratamento mais eficaz para cada tipo de paciente; minimizar o risco de efeitos adversos induzidos por um tratamento; minimizar os gastos com tratamentos farmacológicos criados pelos sistemas nacionais de saúde e pelos pacientes, tentando proporcionar a melhor alternativa de tratamento para o maior número de pacientes. Com base nisso, a Sociedade Americana de Farmacêuticos Hospitalares (ASHP, 2006) define a farmácia clínica como a ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação de conhecimentos e funções relacionadas ao cuidado dos pacientes, que o uso de medicamentos seja seguro e apropriado; necessita, portanto, de educação especializada e treinamento estruturado, além da coleta e interpretação de dados, da motivação pelo paciente e de interações multiprofissionais. Fique de olho É possível afirmar que o farmacêutico hospitalar sempre desempenhou, de alguma maneira, alguma função vinculada à farmácia clínica. Porém, essa atividade foi regulamentada por meio da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 585/2013, do Conselho Federal de Farmácia, que oficializou as atribuições e atividades desempenhadas pelo farmacêutico nesse campo de atuação. - -4 Desta forma, a atuação do farmacêutico hospitalar tem um caráter multidisciplinar que depende da integração com toda a equipe, em especial com o médico que é responsável pela prescrição e com os enfermeiros que estão mais próximos ao cuidado direto com o paciente. Essa proximidade do farmacêutico com os pacientes e essa integração à equipe contribuem de forma muito positiva na identificação de problemas relacionados ao uso de medicamentos, na proposição de soluções e no acompanhamento farmacoterapêutico no decorrer do cuidado, contribuindo e auxiliando na construção da conduta terapêutica. Figura 1 - Uso de medicamentos Fonte: Aleksandar Karanov, Shutterstock (2020). A imagem mostra um farmacêutico de jaleco segurando algumas caixas de medicamentos em#PraCegoVer: frente a uma estante cheia de outras caixas. Com isso, o farmacêutico tem a oportunidade de exercer seu papel pleno no objetivo de garantir o uso racional, seguro e confortável do tratamento e ajudar o paciente na sua adesão e continuidade mesmo após a alta, em ambiente domiciliar. Assim, enquanto o paciente é alocado como elemento central do tratamento, o medicamento é a principal ferramenta para o cuidado. Afinal, quando bem aplicado, apresenta impactos muito positivos, como demonstrado por Storpitis (2008): a diminuição na incidência de erros de medicação, de reações adversas e incompatibilidades, a redução de custos e o aumento da segurança e da qualidade da atenção ao paciente e também da eficiência hospitalar. - -5 1.1 Atuação do farmacêutico: alcançando os objetivos O farmacêutico pode exercer suas atribuições de diversas formas para que os objetivos da farmácia clínica, já mencionados, sejam alcançados. As principais podem ser divididas em cinco: Abordagem humanizada A atuação do farmacêutico sempre terá o paciente como elemento central, não de uma maneira genérica, mas como a pessoa específica para a qual ele está conduzindo o seu trabalho naquele momento. Isso envolve respeitar as crenças, conhecer as expectativas quanto ao tratamento e conhecer o histórico de saúde e o uso anterior de medicamentos. Apenas quando se constrói essa relação de respeito à individualidade do paciente é possível estabelecer confiança e senso de responsabilidade. Construção de plano terapêutico A atuação do farmacêutico no tratamento do paciente é sempre colaborativa aos demais membros da equipe profissional. É preciso entender que, independente da formação, cada um está ali para compartilhar o conhecimento de sua área como forma de desenvolver e planejar um plano terapêutico individualizado às necessidades do paciente e que seja capaz de oferecer segurança e efetividade nas doses, frequência, horários, vias de administração e duração adequados. Análise de prescrição Ao conhecer o histórico do paciente, cabe ao farmacêutico fazer a análise da prescrição para detectar qualquer interação medicamentosa (seja com medicamentos, alimentos ou patologias pré-existentes) e intervir em tempo hábil. Embora existam questões éticas, a intervenção deve ser feita mediante um contato com o profissional que adotou a conduta, buscando fazer eventuais modificações em comum acordo. Solicitação de exames No âmbito da farmácia clínica é possível solicitar exames específicos como forma de monitorar a evolução do paciente. Isso acontece quando a situação clínica do paciente pode interferir na absorção e na biodisponibilidade do medicamento, ou, então, quando a dose ainda está em fase de ajuste e precisa monitorar os níveis plasmáticos, ou, ainda, quando o paciente está apresentando oscilações de níveis metabólicos e fisiológicos (hormonais, lipídicos, hematológicos). Com base nesses exames, é possível adaptar e promover uma farmacoterapêutica ainda mais individualizada ao paciente. Condução de reações adversas - -6 A prioridade do farmacêutico é evitar reações adversas no paciente durante todo o processo de construção da conduta, desde o momento em que a equipe se reúne para determinar o plano terapêutico até a avaliação da prescrição e o monitoramento por meio de exames laboratoriais. Mesmo assim, porém, ainda assim é possível que surjam efeitos adversos no decorrer do tratamento, exigindo do farmacêutico uma atuação ativa na proposição de ações para conduzir essas situações e reestabelecer o paciente. Além das formas de atuação do farmacêutico dentro da prática da farmácia hospitalar, é importante mencionar também uma característica imprescindível para o profissional: a pró-atividade. O profissional proativo é aquele que traça metas e objetivos, identifica o que deve ser feito e vai além da sua obrigação, oferecendo e responsabilizando-se por soluções de forma ativa. - -7 2. Pré-requisitos Por se tratar de uma prática regulamentada e de importância reconhecida, a farmácia clínica deve ser implantada de forma a oferecer toda a condição para o farmacêutico profissional realizar uma atuação de qualidade, com recursos humanos suficientes e capacitados - e não apenas no que diz respeito à uma estrutura física apropriada. Por este motivo, é importante conhecer os pré-requisitos para essa implantação - em especial no ambiente hospitalar, onde aatuação da farmácia clínica tem mais visibilidade. No entanto, os critérios de implementação são os mesmos a serem aplicados em qualquer ambiente de atuação o farmacêutico. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /85cf581f5df05f6a9a05d79a5180a9c6 - -8 2.1 Pré-requisitos estruturais O farmacêutico hospitalar, enquanto atuante clínico, deve contar com uma infraestrutura física capaz de permitir a realização desse trabalho, visto que, em muitos momentos, o farmacêutico precisará de um ambiente exclusivo para atender aos familiares e fazer consultas farmacêuticas, discussões clínicas com os demais profissionais. Nesse sentido, com base na Lei 13.021/2014, que dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas, e na RDC 585/2013, do Conselho Federal de Farmácia, é possível pontuar as estruturas minimamente necessárias para que a farmácia clínica possa existir e se desenvolver: Sala para atendimento Mesmo que a maioria dos atendimentos do farmacêutico clínico seja feito no leito do paciente, em alguns momentos ele poderá precisar de um ambiente para atender ao paciente ou seus familiares com privacidade. Isso pode acontecer, por exemplo, nos momentos de alta hospitalar em que o farmacêutico entenda a necessidade de orientar ao paciente a respeito da continuidade do cuidado, ou, ainda, em momentos que os familiares necessitam de um apoio no processo de auxílio e cuidado do paciente. O ambiente também pode ser utilizado para estudar as prescrições e sediar reuniões e debates de conduta terapêutica. Equipamentos Para dar suporte a essa atuação, a sala de atendimento precisa estar composta com itens básicos de trabalho, como um computador para que se possa fazer os estudos de prescrição, solicitação de exames, evoluções nos prontuários dos pacientes e estudos e pesquisas que sejam necessárias durante a condução de cada caso. Além disso, também podem ser necessários computadores portáteis para os atendimentos realizados no leito e equipamentos audiovisuais para capacitações, reuniões e palestras, por exemplo. Programa de Prontuário Eletrônico o Paciente (PEP) O Prontuário Eletrônico de Paciente (PEP) é um software que vem substituindo os prontuários físicos e que dá acesso de informações a todos os profissionais que atuam na condução de um paciente: das condutas que vêm sendo tomadas até o histórico de medicamentos prescritos e diagnósticos. O uso desse tipo de prontuário tem sido de extrema importância na integração de informações entre os profissionais da equipe multidisciplinar, especialmente em caso de plantões diferentes e transferências entre unidades e setores). Silva e Neto (2007) acrescentam que consiste em um registro eletrônico elaborado com especificidade para apoiar o usuário, oferecendo acesso prático à inúmeras informações de banco de dados, recursos de apoio à decisão, alertas e diversos outros recursos. Sistema de distribuição unitário O sistema de distribuição adotado pela farmácia hospitalar deve estar de acordo com o objetivo da farmácia clínica de assegurar o uso correto e seguro do medicamento. Afinal, é questão de coerência o estabelecimento - -9 demonstrar a sua preocupação à segurança do paciente. Assim, por se tratar de um sistema de distribuição mais seguro, com maior envolvimento do farmacêutico e maior poder de rastreabilidades, o sistema unitário é o que melhor se adequa a essa proposta. Por fim, nenhuma dessas modificações pode ser feita sem o apoio do gestor. Embora esse profissional não seja uma necessidade estrutural propriamente dita, ele deve compreender o serviço de farmácia clínica como um investimento que está sendo feito em prol da segurança e da otimização do cuidado ao paciente – e não simplesmente com algo que demanda gastos e implicações financeiras para ser implantado. - -10 2.2 Recursos e competências humanas Utilizando-se do conceito de Marras (2000), é possível afirmar que recursos humanos e habilidades humanas são termos diferentes entre si porque o primeiro tem um olhar mais voltado à quantidade, enquanto o segundo nas qualidades. Na farmácia clínica, essa ideia também pode ser aplicada. Os r , por exemplo, são um requisito básico para que o farmacêutico possa desempenhar suasecursos humanos tarefas na clínica é ter tempo disponível para tal. Nesse sentido, a equipe de farmácia deve contar com profissionais em quantidade suficiente, de forma a não sobrecarregar ninguém – o que reduz as chances de gerar estresse e promover erros de medicação. Isso deve envolver os auxiliares de farmácia presentes em todos os subsetores como também os farmacêuticos propriamente ditos, para que consigam atender as demandas do central de armazenamento farmacêutico, fracionamento, chefia administrativa, e que consigam atender as demandas clínicas de todos os setores do hospital. Por outro lado, não basta, porém, que os profissionais sejam em quantidade suficiente. Eles também precisam ter qualificação necessária para a função que exercem, o que vai além da formação acadêmica e exige também as qualidades individuais específicas. É aí que entra a ideia das h . abilidades humanas O funcionário que atua no setor de fracionamento, por exemplo, precisa ser um profissional extremamente focado. Não faz diferença a ele, no entanto, ser comunicativo ou não: esta não é uma qualidade essencial para o desempenho da sua atividade. Por outro lado, o auxiliar que atua no controle das farmácias satélites dos diversos setores do hospital precisa ter facilidade na comunicação, uma vez que interage com os profissionais de cada setor a todo momento. Em geral, as qualidades-chave para a equipe de farmácia são os profissionais focados, metódicos, organizados, que sabem trabalhar em equipe, que possuem capacidade de manter bom relacionamento interpessoal e que tenham compromisso com o trabalho. Além disso, também é importante que o farmacêutico clínico tenha algumas habilidades de relacionamento mais específicas, como, por exemplo:interpessoal • Junto ao paciente: sensibilidade e empatia Significa saber conduzir a relação com o paciente e com os familiares colocando-se no lugar deles e deixando-os à vontade para fazer perguntas. É preciso também ter uma comunicação efetiva sem muitos termos técnicos e respeitar o nível de conhecimento dos pacientes e seus familiares. Isso ajuda a construir uma relação de confiança necessária para a condução da prática clínica. • Junto à equipe técnica: perfil multidisciplinar • • - -11 Significa que o profissional deve transitar entre dois extremos: de um lado, ter a humildade de respeitar o conhecimento dos outros profissionais e, de outro, ter autoconfiança para manifestar suas propostas e posicionamentos durante as discussões de equipe. Saber o momento de utilizar cada uma dessas característica é o ponto-chave para obter o respeito da equipe. • Junto à equipe de farmácia: liderança Significa a capacidade de delegar funções, estabelecer processos e capacitar os funcionários da farmácia, por se tratar do profissional com responsabilidade técnica sobre o setor. Essa característica é fundamental principalmente no que se refere à equipe de farmácia, mas também será necessária nos momentos de decisão junto a equipe técnica. Como é possível perceber, a implantação da farmácia clínica demanda um empenho de toda a equipe. Isso só é possível a partir do momento em que todos os envolvidos passam a entender os benefícios que tal serviço irá impactar para a condução do cuidado ao paciente. Cabe ao próprio profissional, portanto, validar a sua importância diante dos demais. • - -12 3. Centro de informações de medicamentos Os Centros de Informação de Medicamentos (CIM) são grandes aliados dos profissionais de farmácia e também da comunidade para o uso racional de medicamentos. Tratam-se, basicamente, de centros operacionais que podem ser instalados dentro do ambiente de qualquer estabelecimentode saúde (hospitais, farmácias e drogarias, postos de atenção básica, ambulatório), com o objetivo de fornecer informações técnico-científicas atualizadas a respeito do uso de medicamentos. Tudo isso para promover o uso correto dos medicamentos e sanar as dúvidas de pacientes e profissionais. O trabalho desempenhado pelos CIMs é de constante atualização do referencial teórico, dos protocolos clínicos e da seleção dos medicamentos. Isso tem se mostrado essencial no apoio aos demais profissionais, colocando novamente o farmacêutico clínico como centralizador das informações a respeito dos medicamentos e suporte à equipe. A implantação do primeiro CIM que se tem notícia ocorreu em 1962 nos Estados Unidos como medida estratégica para reduzir os erros associados ao uso de medicamentos. Desde então, eles vêm sendo estruturados diversos CIMs ao redor do mundo como estratégia para facilitar o acesso a informações confiáveis e independentes a respeito dos medicamentos e farmacoterapêutica. No Brasil, o primeiro centro surgiu em 1979 e foi instalado no Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal. Assim, eles podem estar inseridos em diversos níveis de atenção à saúde, como postos de saúde e atenção básica, hospitais de grande porte, secretarias de saúde, organizações de saúde e instituições filantrópicas. Neste sentido, os principais objetivos do CIM envolvem: a)Responder perguntas relacionadas ao uso de medicamentos (informação reativa). b)Participação efetiva em comissões, tais como de Farmácia & Terapêutica e de Infecção Hospitalar. c)Publicação de material educativo / informativo, como boletins, alertas, colunas em jornais, etc. d)Educação: estágio, cursos sobre temas específicos da farmacoterapia. e)Revisão do uso de medicamentos. f)Atividades de pesquisa sobre o uso de medicamentos. g)Coordenação de programas de farmacovigilância (VIDOTTI et al, 2000 p.2). Essa necessidade se torna evidente quando se considera que a maior parte das informações disponíveis são fornecidas pelas próprias indústrias farmacêuticas e pesquisas patrocinadas, o que representa o risco de um forte componente publicitário e comercial a essas informações. A rede de informações digitalizada, apesar de ser - -13 um importante aliado para obtenção de informações, também pode ser prejudicial ao veicular uma grande quantidade de dados e recomendações incorretas a respeito do uso de medicamentos. Nesse contexto, a atuação do CIM mostra-se eficiente para prover informações por meio de evidências científicas selecionadas como confiáveis. As principais fontes são: Fontes de informação primária São os artigos científicos e resultados de pesquisas em instituições sem interesses econômicos (como os centros universitários de pesquisa, principalmente). Possui a vantagem de trazer informações atuais. Obras de referência São os livros e compêndios que reúnem as informações que já possuem uma avaliação e validação pelo autor e editor da obra. É importante que tais obras que passem por revisões e atualizações periódicas. Base de dados nacional e mundial São os bancos de dados oficiais de informações obtidas de maneira padronizada, como, por exemplo, o sistema de notificações de farmacovigilância da OMS e Anvisa. Consultas atendidas São as respostas dadas aos questionamentos feitos à órgãos oficiais e confiáveis. Uma resposta dada à um questionamento feito à Anvisa, por exemplo, pode ser considerada uma informação oficial. Material informativo São os materiais produzidos por fontes consideradas confiáveis por sua independência (sem financiamento que poderia enviesar os resultados), qualidade e responsabilidade. Seriam os casos de cartilhas produzidas pela Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) e pelos conselhos de classe, por exemplo. Fique de olho Em 2013, o Ministério da Saúde publicou a Portaria 2.647, que institucionalizou a Rede Brasileira de Centros e Serviços de Informação de Medicamentos. Esse marco oficializou os CIMs como parceiros do Ministério da Saúde como estratégia na promoção à saúde da população e políticas públicas relacionadas aos medicamentos. - -14 Serviço de informações s o b r e medicamentos São os comitês e organizações que possuem a responsabilidade de disseminar informação correta a respeito dos medicamentos. O CIM, portanto, é uma ferramenta que pode ser aplicada em diversas esferas de cuidados para atender a demanda de todos os públicos envolvidos com o assunto, dos pacientes e do público geral, até os profissionais e entidades governamentais. - -15 3.1 Impactos do CIM em hospitais O farmacêutico é considerado o profissional mais habilitado para estar à frente da condução das atividades do CIM, justamente pela sua formação centrada no medicamento que apresenta. Porém, é imprescindível que ele possa contar com um apoio multidisciplinar na hora de coletar e selecionar os dados e informações. Dentro da instituição hospitalar, o CIM assume o papel centralizador sobre informações de medicamentos. Por este motivo, possui diferentes naturezas: A presença do farmacêutico no Comitê de Farmácia e Terapêutica e no Comitê de Controle de Infecção Hospitalar é fundamental para auxiliar nas tomadas de decisões. Além do mais, ele também pode mediar a atualização da lista de medicamentos em uso no hospital. O farmacêutico deve estar sempre à disposição dos demais profissionais que possam vir a ter alguma dúvida a respeito do uso de medicamentos, efeitos adversos, interações e atualizações científicas, por exemplo. O farmacêutico tem papel clínico-assistencial a partir do momento que entra em contato direto com o paciente e seus familiares para sanar dúvidas e inseguranças a respeito do tratamento. Também possui responsabilidade na alta dada a ele, de modo a fornecer todas as informações a respeito da continuidade domiciliar do tratamento. Embora o CIM tenha a função básica de atender as demandas internas do hospital, diversos estabelecimentos implantam também o tele atendimento, como telefone, e-mail e chats, de modo a colocar-se à disposição do público. Ao cumprir este papel, o CIM consegue estabelecer domínio sob os três momentos do cuidado, conforme mostra o esquema a seguir. Figura 2 - Impactos do CIM nos diversos momentos do cuidado Fonte: Elaborado pela autora (2020). #PraCegoVer: O esquema mostra a maneira como a implantação do Centro de Informação de Medicamentos (CIM) em um estabelecimento hospitalar pode impactar no cuidado do paciente em seus diversos momentos. - -16 Assim, é possível perceber o quanto à implantação desse serviço pode otimizar o tratamento prestado ao paciente, fornecendo a ele e também aos profissionais que o acompanham informações confiáveis para auxiliar na tomada de decisões a respeito da farmacoterapêutica. - -17 4. Elaboração do perfil farmacoterapêutico O perfil farmacoterapêutico é a materialização de toda a informação coletada a respeito do histórico de tratamentos e diagnósticos que o paciente já passou. Na prática, pode ser comparado a uma espécie de prontuário, onde constarão as informações de interesse ao farmacêutico e é mais uma ferramenta utilizada pelo farmacêutico clínico para fomentar a construção da conduta terapêutica. O Conselho Federal de Farmácia (CFF), ao publicar a RDC nº 357/2001, definiu o perfil farmacoterapêutico como o registro cronológico das informações relacionadas à utilização de medicamentos, permitindo ao farmacêutico realizar o acompanhamento de cada usuário, de modo a garantir o uso racional dos medicamentos (CFF, 2001). Com base nesse conceito, o Conselho Regional de Farmácia (CRF) acrescenta que as informações coletadas podem ser diversas, de forma a construir um prontuário completo da melhor maneira possível. Sendo assim, inclui os medicamentos receitados pelos médicos ou odontólogos, os produtos prescritos pelos demais profissionais de saúde e farmacêuticos e o consumo de plantas medicinaise outros dados importantes como: regimes dietéticos; consumo de bebidas alcoólicas; cigarros; chá; café e outras bebidas, reações adversas ou hipersensibilidade a alguns medicamentos e demais fatores que podem alterar a relação paciente-medicamento (CRF, 2014). Esses registros dizem mais do que o histórico farmacoterapêutico do paciente (que envolvem todos os medicamentos que já vinham sendo utilizados e os motivos que levaram a trocá-los ao longo do tratamento anterior) e, ao estudá-lo, o profissional conseguirá traçar um perfil a seu respeito. Para isso, procura respostas para perguntas como Historicamente, que tipo de tratamento é mais efetivo? Costuma aderir bem à tratamentos mais longos? Tem costume de fazer uso de medicinas alternativas? Qual o nível de conhecimento que o paciente tem a respeito de hábitos saudáveis? Tem capacidade de assumir responsabilidade sobre o seu tratamento? - -18 Ao responder cada uma dessas questões, o farmacêutico poderá contribuir efetivamente na construção de um plano terapêutico que consiga adequar-se não apenas ao diagnóstico do paciente mas também ao seu perfil. Quanto mais as individualidades do paciente forem respeitadas, maiores serão as chances de adesão ao tratamento. - -19 4.1 Aplicabilidade O perfil farmacoterapêutico não está limitado só à farmácia hospitalar. Ele pode ser utilizado também em diversas áreas de atuação do farmacêutico, inclusive em drogarias comerciais, onde ele já vem sendo aplicado como forma de acompanhar e fidelizar o cliente. A rede primária também tem o feito como estratégia de melhorar o acompanhamento do paciente com um caráter ambulatorial, em consultas farmacêuticas domiciliares. No ambiente hospitalar, as informações coletadas também possuem diversas aplicabilidades, como, por exemplo: Avaliar o paciente em relação a possíveis problemas da terapêutica farmacológica O histórico do paciente pode auxiliar na prevenção de possíveis reações adversas ou alergias que ele já tenha apresentado em tratamentos anteriores. Com isso, é possível evitar classes farmacêuticas que já tenham esse reflexo ou algum outro efeito colateral importante. Promover conciliaçãomedicamentosa O conhecimento do histórico do paciente e também dos tratamentos que já estavam sendo feitos antes da internação podem evitar discrepâncias no momento de estabelecer a conduta farmacoterapêutica hospitalar. Identificar os pacientes que necessitem de consulta farmacêutica na alta O momento da alta é muito delicado, pois nem sempre o paciente terá condições de dar continuidade ao tratamento em ambiente domiciliar, nem buscará os acompanhamentos que se fizerem necessários durante este período. Assim, ao conhecer o perfil do paciente será possível ao farmacêutico identificar quais deles demandarão maior atenção durante a alta hospitalar. Esses são os principais momentos em que o farmacêutico poderá inserir o perfil farmacoterapêutico na prática clínica. O ideal é ter um modelo de questionário padrão para sistematizar a coleta dessas informações e evitar que as tomadas de decisões não sejam pautadas em critérios subjetivos. O Conselho Federal de Farmácia (2015) disponibiliza alguns modelos que podem ser consultados e ajustados à demanda de cada instituição. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /435e46069e88bfb7ebb6cd83eca5d40c - -20 5. Identificação de problemas da farmacoterapia e estratégias de intervenção Seja por medidas individuais ou em conjunto, o farmacêutico sempre buscará fazer um diagnóstico assertivo e estabelecer a conduta mais eficiente e segura ao paciente. No entanto, mesmo com todos estes cuidados, o paciente ainda pode vir a apresentar algum problema envolvendo a farmacoterapia, como, por exemplo, encontrar pontos que podem estar associados a efeitos adversos e erros de medicação. As reações adversas e a falta de efetividade dos medicamentos devem ser encaradas como o resultado de algum problema no processo de trabalho (como a distribuição ou administração incorreta) ou mesmo no uso inadequado de algum medicamento. Assim, o Conselho Federal de Farmácia elencou os principais pontos do acompanhamento do paciente que podem ajudar a identificá-los. São eles: Falhas de acesso aos medicamentos A prescrição de um medicamento sem que o paciente tenha acesso a ele é a causa primária de uma terapia ineficiente. Essa dificuldade pode estar associada à clínica do paciente requerer um medicamento que não esteja disponível no estabelecimento, ou, então, em problemas no ciclo de aquisição (atraso no momento de realização de compra, atraso na entrega por parte do fornecedor), ou, ainda, um sistema de distribuição de medicamentos ineficiente ou desorganizado. Uso incorreto ou desnecessário de medicamentos A conduta farmacoterapêutica deve ser construída após uma completa análise do paciente, tanto quanto ao seu estado atual, quanto ao seu histórico de diagnósticos e medicamentos. Isso tudo para evitar a prescrição de medicamentos que não se encaixem em sua situação clínica, ou, ainda, em que cada reavaliação da prescrição médica seja ponderada à necessidade de se continuar ou substituir os medicamentos. Interações medicamentosas Em dois momentos deve-se ter muito cuidado com as interações medicamentosas. A primeira envolve o momento inicial em que a conduta farmacoterapêutica é definida: deve-se considerar, por exemplo, as possíveis interações entre os medicamentos que estarão sendo prescritos e também com os que já estavam sendo usados antes da interanção. Depois, a reavaliação de prescrição exige a necessidade de incluir novos medicamentos. Nestes casos, é muito importante que essa inclusão seja avaliada dentro do contexto geral da conduta. Falhas na comunicação da equipe O acompanhamento de um paciente pode incluir diversos profissionais, cada um na sua área de especialidade. Porém, é importante que todos prezem pelo cuidado do paciente de maneira integralizada, olhando sempre o - -21 todo e não apenas o que faz parte da sua área de atuação. Por esse motivo, a comunicação é essencial, assim como o registro e a leitura do prontuário de todas as evoluções que cada profissional faz e fez antes de tomar qualquer decisão ou modificação de conduta. Falhas no monitoramento do tratamento O cuidado do paciente deve ir muito além do diagnóstico e da prescrição correta. Ele deve ser monitorado periodicamente para que possa ser possível identificar com antecedência as eventuais necessidades de substituição, inclusão ou descontinuidade de medicamentos. Portanto, tão importante quanto estabelecer estratégias de intervenções para contornar tais situações, é também identificar em qual ponto da conduta farmacoterapêutica está o causador do problema. - -22 5.1 Atuação do farmacêutico em problemas farmacoterapêuticos Durante toda a unidade acompanhamos as atribuições do farmacêutico que de alguma forma, ou preventivamente ou ativamente, será contributiva para a condução segura da farmacoterapêutica. No entanto, em alguns momentos, a importância da atuação do farmacêutico torna-se mais evidente, especialmente quando ele tem a oportunidade de demonstrar o impacto do seu trabalho. Figura 3 - Atuação do farmacêutico na intervenção de possíveis causas de falhas farmacoterapêuticas Fonte: Elaborado pela autora (2020). #PraCegoVer: O esquema mostra três possíveis causas de falhas terapêuticas e as maneiras que o farmacêutico pode intervir para evitar ou contornar tais falhas. Assim, é possível observar a farmácia clínica como a atividade que coloca o farmacêutico na linha de frente do cuidado ao paciente. Para isso, utiliza-se de diversas ferramentas de apoio às condutas terapêuticas e atuação junto aos demais profissionais da equipe técnica como forma de alcançar um tratamento seguro e eficaz ao paciente. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /a70b52e5e6f50b96d45bdd7e0641caa2- -23 é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer as bases teóricas da atuação do farmacêutico na farmácia clínica; • conhecer os critérios que devem ser observados na implantação do serviço de farmácia clínica; • conhecer a atuação dos Centros de Informação de Medicamentos (CIM) no contexto da farmácia hospitalar; • conhecer a importância de traçar o perfil farmacoterapêutico do paciente para estabelecer conduta clínica; • conhecer a atuação do farmacêutico clínico nas intervenções aos erre medicamento. Referências BRASIL. , de 8 de agosto de 2014. Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividadesLei nº 13.021 farmacêuticas. Disponível em: < >.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13021.htm Acesso em: 11 mar. 2020. CONSELHO FEDERAL DE FARMACIA (CFF). . 2014. Disponível em: <Atribuições clínicas do farmacêutico >. 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