Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE PAULISTA Campus de Jaboticabal MÓDULO 3 Departamento de Produção Vegetal DISCIPLINA: TEMA: PROFESSORES: EDIÇÃO: 03 Silvicultura Grupos Ecológicos Sucessionais de Espécies Arbóreas em Florestas Tropicais Sérgio Valiengo Valeri e Rinaldo César de Paula Atualizada e ampliada 2 0 1 6 SUCESSÃO SECUNDÁRIA EM CLAREIRAS DE FLORESTAS TROPICAIS Conceitualmente, floresta tropical é um mosaico de clareiras em estádios diferentes de sucessão ecológica. A clareira é resultante da queda de uma árvore, geralmente de grande porte e senescente. Nessa clareira recém aberta a presença da luz favorece a regeneração das espécies, principalmente exigentes em luz. Esse processo de regeneração é conhecido como sucessão secundária. Durante o processo de sucessão, a luminosidade vai diminuindo ao longo do tempo até se estabilizar novamente quando o dossel se fecha. Budowsky (1965) verificou que a distribuição das espécies arbóreas varia em função do estádio de sucessão em que se encontra a clareira. O estudo da distribuição de espécies arbóreas em clareiras com diferentes luminosidades (gradiente de dossel aberto para dossel fechado) possibilitou que o referido autor classificasse as espécies arbóreas em pioneiras, secundárias (iniciais e tardias) e climácicas. Acima é apresentado o estádio de clímax, onde há predomínio de espécies arbóreas pertencentes aos grupos ecológicos secundárias e climácicas. Nesse estádio, as árvores dessas duas categorias representam a fração que acumula a maior a maior quantidade de biomassa. A fração composta pelas demais plantas e outros seres vivos desse segmento de floresta apresentam menor biomassa. unesp FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS C = climácica S = secundária FLORESTA TROPICALS S S Dossel C C C C S C C Sub-bosque Banco de plântulas Banco de sementes 2 Quando ocorre a queda de uma árvore secundária ou climácica de grande porte em floresta tropical abre-se uma clareira na forma de uma elipse (RENATO, 2005) muitas vezes maior do que tamanho da árvore, pois durante a queda são derrubadas outras árvores e plantas do sub-bosque. A sucessão ecológica é a forma como as florestas se regeneram. Este processo envolve um conceito amplo que serve como critério para separar as espécies quanto aos estádios que ocorrem na sucessão secundária ou na reconstituição de clareiras naturais na floresta. As espécies arbóreas existentes em florestas tropicais podem ser separadas em grupos ecológicos a partir de diferentes critérios como: a) características das sementes quanto ao tamanho, dormência, longevidade e forma de dispersão: barocoria (pela gravidade), hidrocoria (pela água), anemocoria (pelo vento) e zoocoria (por animais). b) características ecofisiológicas das plantas, quanto à tolerância ao sombreamento, velocidade de crescimento, sobrevivência e reprodução das populações de cada espécie em clareiras naturais, longevidade característica da espécie. S S C C C = climácica S = secundária Clareira resultante de queda de árvore na Reserva Biológica de Pindorama, SP. Fotografado em 04/05/2009 CLAREIRA EM FLORESTA TROPICAL 3 CLAREIRA COM PREDOMÍNIO DE ESPÉCIES PIONEIRAS As alterações de luminosidade e temperatura que ocorrem na clareira recém formada modificam o ambiente, o que favorece a germinação de espécies lucíferas. Acima é apresentada uma clareira jovem com predomínio de espécies pioneiras. As plantas pioneiras (P) são as primeiras a aparecerem em uma clareira recente. São espécies cujas sementes necessitam da luz solar direta para germinarem, normalmente são de tamanho médio, transportadas à longa distância por animais, principalmente pássaros e morcegos, apresentam dormência e alta longevidade. A regeneração natural ocorre principalmente a partir do banco de sementes existentes no solo. A plântula necessita de luz para desenvolvimento e apresenta pouca reserva. A planta jovem apresenta rápido crescimento e competição por luz. São espécies de rápido crescimento, regeneração precoce, com produção contínua de sementes, ciclo de vida curto, podendo atingir de 5 a 8 m de altura. São modificadoras do ambiente após a germinação e desenvolvimento, propiciando condições para germinação e desenvolvimento das espécies secundárias e climácicas. Exemplos deste grupo são: Cecropia spp (embaúba), Croton floribundus (capixingui), Croton piptocalyx (caixeta), Croton urucurana (sangra-d’água), Mimosa scabrella (bracatinga) e Trema micrantha (candiúba). Regeneração natural em clareira com predomínio de árvores pioneiras C = climácica S = secundária P = pioneiras P P C S C P P S C 4 CLAREIRA COM PREDOMÍNIO DE ESPÉCIES SECUNDÁRIAS As espécies secundárias (S), ou oportunistas de clareira, têm sementes geralmente aladas e de curta longevidade natural, necessitando de períodos secos para sua dispersão anemocórica, porém, também podem apresentar dispersão zoocórica. As sementes não apresentam dormência e têm condições de germinarem à sombra da mata, muitas vezes formando banco de plântulas sob o dossel. As plântulas recém germinadas apresentam pouca reserva e o desenvolvimento das mesmas é estimulado com o surgimento de clareira. São exemplos deste grupo: Centrolobium tomentosum (araribá), Chorisia speciosa (paineira), Enterolobium contorsiliquum (tamboril), Ingá spp (ingá), Pithecellobium polycephallum (farinha-seca), Schizolobium parahyba (guapuruvú), Tabebuia crysotricha (ipê-amarelo) e Zeyhera tuberculosa (ipê-felpudo). As espécies climácicas (C) geralmente apresentam sementes grandes, de baixa longevidade, normalmente sem dormência, mas quando possuem, são na maioria das vezes do tipo tegumento impermeável, para suportar a passagem no trato digestivo dos animais dispersores, como as de Hymenaea spp (jatobá). Outros tipos de dormência podem ocorrer, como em Lecythis pisonis (sapucaia), cujo arilo é o atrativo para o dispersor e que possui inibidores de germinação. A germinação das sementes ocorre à sombra do dossel da floresta. As plantas jovens deste grupo apresentam crescimento lento e são tolerantes ao sombreamento (esciófitas), não necessitando de clareiras antes da fase reprodutiva. Na fase adulta, geralmente, atingem o dossel e necessitam da luz solar direta para a reprodução e são de alta longevidade (centenárias). Outros exemplos deste grupo são: Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná), Aspidosperma polyneuron (peroba-rosa), Caesalpinia echinata (pau-brasil). C = climácica S = secundária P = pioneiras C C S S S S C P 5 Barbosa et al. ([2015?]) apresenta uma lista de espécies indicadas para restauração ecológica para diversas regiões do Estado de São Paulo. Nessa lista inclui espécies arvoretas e arbóreas e que são as principais espécies para plantio adensado em projetos de recuperação florestal. Nessa lista são apresentadas as principais características das espécies, como família/espécie, nome popular, altura média, hábito (herva, subarbusto, arbusto, arvoreta, árvore, liana, entre outras), grupo ecológico sucessional (Classe sucessional: CL. SUCESS.), grupo funcional (diversidade, preenchimento, como forma de distribuição das mudas para plantio adensado de recuperação florestal), síndrome de dispersão (ANE: anemocórica, AUT: autocórica, ZOO: zoocórica), categoria de ameaça de extinção, biomas, ecossistemas e região do Estado de São Paulo onde ocorre cada espécie. Com relação à classe sucessional, Barbosa et al. ([2015?]) adotaram dois grupos: pioneiras (P) e não pioneiras (NP). As pioneiras incluem as pioneiras e secundárias iniciais, e as não pioneiras incluem as espécies secundárias tardias e climácicas, como conceitua Budowsky (1965). Devido à dificuldade de separar espécies secundárias iniciais de secundáriastardias, bem como de secundárias tardias e climácicas, didaticamente e na prática sugerimos aos alunos de graduação e viveiristas usarem principalmente os três grupos ecológicos bem distintos: pioneiras, secundárias e climácicas, adotando integralmente a conceituação apresentada por Budowsky (1965). Este é um trecho da lista de espécies arbóreas apresenta por Barbosa et al. ([2015?]): 6 REFERÊNICAS BARBOSA, L. M.; SHIRASUN, R. T.; LIMA, F. C.; ORTIZ, P. R. T. Lista de espécies indicadas para restauração ecológica para diversas regiões do Estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Botânica. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/institutodebotanica/files/2016/01/Lista_de_especies_de_S P_CERAD-IBT-SMA_2015.pdf>. Acesso em 05 de ago. 2016. BUDOWSKY, G. Distribution of tropical american rain forest species in the light of sucessional processes. Turrialba, v. 15, n.1, p. 40-42. 1965. RENATO, A.F. L. Estrutura e regeneração de clareiras em florestas pluviais tropicais. Revista Brasileira de Botânica, v.28, n.4, p.651-670. 2005. As espécies ilustradas nas figuras desse módulo foram as seguintes, com as respectivas fontes obtidas em 09/05/2009: Embaúba (Cecropia pachystachya) www.vivaterra.org.br/embauba_prateada_1.1.jpg http://www.gnosisonline.org/.../images/embauba.jpg Ipê-amarelo (Tabebuia vellosoi) http://www.www.vivaterra.org.br/ipe_amarelo_1.1.jpg Ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla) http://www.vivaterra.org.br/arvores_nativas_2.htm; Jatobá (Hymenaea courbaril) http://www.vivaterra.org.br/arvores_nativas_2.htm#jatoba; Jequitibá rosa (Cariniana legalis) http://www.vitoria.es.gov.br/.../meio/jequitiba_a.jpg Jerivá (Syagrus romanzoffiana) http://www.vivaterra.org.br/jeriva_4.2.jpg Palmito-juçara (Euterpe edulis) http://www.vivaterra.org.br/jeriva_4.2.jpg Peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron) http://www.vivaterra.org.br/arvores_nativas_3.htm Sangra-d’água http://www.mudasflorestais.com.br/nativa/Nativas-mud... http://www.vivaterra.org.br/embauba_prateada_1.1.jpg http://www.gnosisonline.org/.../images/embauba.jpg http://www.vivaterra.org.br/ipe_amarelo_1.1.jpg http://www.vivaterra.org.br/arvores_nativas_2.htm http://www.vivaterra.org.br/arvores_nativas_2.htm#jatoba http://www.vivaterra.org.br/jeriva_4.2.jpg http://www.mudasflorestais.com.br/nativa/Nativas-mud 7 QUESTIONÁRIO 1. O que é sucessão secundária em clareira? 2. A que grupo sucessional pertence embaúba? Justifique. 3. A que grupo sucessional pertence peroba-rosa? Justifique. 4. A que grupo sucessional pertence guapuruvu? Justifique. 5. A que grupo sucessional pertence pau-brasil? Justifique. 6. A que grupo sucessional pertence candiúba? Justifique. 7. A que grupo sucessional pertence paineira? Justifique. 8. A que grupo sucessional pertence pinheiro-do-paraná? Justifique. 9. Como você define uma floresta tropical com relação às fases de regeneração (sucessão) que ocorre em clareiras? 10. Qual é a forma geométrica de uma clareira quando projetada no plano do piso da floresta? Justifique. 11. Qual foi o cientista que classificou as espécies em grupos sucessionais? Em que ele se baseou? 12. Que grupo sucessional de espécies predomina em clareira jovem (menos que 6 anos)? Justifique. 13. Que grupo sucessional de espécies predomina em clareiras de meia idade (10 a 100 anos)? Justifique. 14. Que grupo sucessional de espécies predomina em clareiras antigas (idade superior a 100 anos? Justifique. Teste de Asserção e Razão Responda as questões de 1 a 15, preenchendo os espaços entre parênteses do quadro final de respostas com as letras: (A) Se as duas proposições (P1 e P2) forem corretas e a segunda justifica a primeira; (B) Se as duas proposições (P1 e P2) forem corretas e a segunda não justifica a primeira; (C) Se a primeira proposição (P1) for correta e a segunda (P2) incorreta; (D) Se a primeira proposição (P1) for incorreta e a segunda (P2) correta; (E) Se a primeira (P1) e a segunda (P2) proposições forem incorretas. 1. (P1) Floresta tropical é considerada um mosaico de clareiras em diferentes estágios de sucessão. (P2) A clareira é resultado da queda de uma árvore, geralmente de grande porte, ocorre sucessão secundária na clareira e na floresta tropical existem clareiras jovens com predomínio de espécies pioneiras, clareiras mais velhas com predomínio de espécies secundárias e clareiras muito antigas com predomínio de espécies secundárias e climácicas. 8 2. (P1) Quando ocorre a queda de uma árvores de grande porte em floresta tropical, abre-se uma clareira na forma circular. (P2) Durante a queda são derrubadas outras árvores de plantas do subosque. 3. (P1) Na clareira recém aberta ocorre alterações de luminosidade e temperatura que favorecem a germinação de espécies pioneiras. (P2) As espécies pioneiras não são consideraras lucíferas. 4. (P1) Embaúba é uma espécie arbórea secundária. (P2) Ela ocorre em floresta tropical, é uma espécie de crescimento lento, regeneração tardia, com produção contínua de sementes e ciclo de vida longo. 5. (P1) A peroba-rosa é uma espécie climácica. (P2) As plantas jovens deste grupo são tolerantes ao sombreamento, apresentam crescimento lento na fase jovem, necessitam da luz solar direta para a reprodução e são de alta longevidade. 6. (P1) O processo de sucessão ecológica é uma forma como as florestas tropicais se regeneram. (P2) Esse processo de sucessão serve de critério para separar as espécies quanto aos estádios que ocorrem na sucessão secundária ou na reconstituição de clareiras naturais na floresta. 7. (P1) As plantas pioneiras são as primeiras a aparecerem em uma clareira recente. (P2) Bracatinga (Mimosa scabrella) é um exemplo de espécie pioneira. 8. (P1) Paineira (Ceiba speciosa, anteriormente Chorisia speciosa) é uma espécie secundária de floresta tropical estacional semidecidual. (P2) Perde as folhas na estação seca do ano, produz semente envolta por uma pluma e é disseminada pelo vento, é oportunista de clareira, a semente germina à meia sombra e a árvore é de média longevidade, podendo sobreviver até cerca de 100 anos em floresta. 9. (P1) As espécies climácicas geralmente apresentam sementes pequenas de alta longevidade. (P2) As espécies secundárias geralmente apresentam sementes de baixa longevidade. 10. (P1) Araucaria angustifolia ocorre em ecossistema florestal denominado de Floresta Subtropical Mista de Araucária do Bioma Mata Atlântica e é considerada uma espécie climácica. (P2) Na área de ocorrência natural dessa espécie, ocorrem espécies de coníferas e folhosas, é uma espécie que produz sementes relativamente grandes disseminadas por gravidade e por alguns animais, a semente não é de alta longevidade, mas a árvore é de alta longevidade e pode durando mais de 300 anos. Quadro de Respostas 1. ( ) 2. ( ) 3. ( ) 4. ( ) 5. ( ) 6. ( ) 7. ( ) 8. ( ) 9. ( ) 10. ( ) ATENÇÃO: Quando as duas alternativas são corretas, procure responder as questões colocando um porque entre as afirmativas P1 e P2 para verificar se a segunda justifica a primeira. Só consulte o gabarito, na página seguinte, após preencher o quadro de respostas acima. 9 Gabarito 1. ( A ) 2. ( D ) 3. ( C ) 4. ( E ) 5. ( A ) 6. ( B ) 7. ( B ) 8. ( A ) 9. ( E ) 10. ( A )
Compartilhar