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Trabalhando-Historia


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TRABALHANDO HISTÓRIA DO BRASIL NO CICLO I DO ENSINO FUNDAMENTAL 
Adriana ALVES1 
Resumo: Ao refletir sobre a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino 
de História no primeiro ciclo do Ensino Fundamental, percebe-se a grande 
resistência que muitos docentes possuem para mudanças. Porém, na 4ª série de 
uma escola Pública Estadual na cidade de Ribeirão Preto/SP, foi desenvolvido um 
projeto de ensino de História para os alunos com objetivo de proporcionar 
condições para que estes conhecessem a si próprios e aos outros, além de 
estabelecerem diferenças e semelhanças sociais, econômicas e culturais dentro de 
seu próprio grupo social. Para isto, foi organizado um conteúdo partindo da 
realidade do aluno que o conduzisse a questionamentos em torno de seu cotidiano. 
O objetivo geral do ensino de História para o ciclo I é, conforme o Plano Diretor da 
escola, estabelecer um processo de diferenciação entre os indivíduos no contexto 
das relações sociais, identificar noções de trabalho e noções elementares de 
tempo. Com orientação nos Parâmetros Curriculares Nacionais, é proposto estudar 
maneiras de integrar a este conteúdo, o estudo de História do Brasil observando as 
devidas limitações e implicações. 
Palavras-chave: História; estudo e ensino; prática pedagógica. 
INTRODUÇÃO 
Não obstante os grandes avanços no estudo do ensino de História objetivando 
mudanças no pensar, nos conteúdos e nos métodos tradicionais de aprendizagem, ainda há 
uma grande resistência por parte dos educadores, às transformações atuais e às necessidades 
geradas por estas transformações na sociedade desde o final do século passado, no corpo 
docente das séries iniciais do Ensino Fundamental do Sistema Educacional Público Estadual. A 
grande expansão escolar, com um público extremamente diversificado em cultura, 
relacionando-se socialmente e informando-se pelos meios de comunicação cada vez mais 
rápidos e eficientes, gera a necessidade de um ensino interligado as novas realidades 
assumidas por esses alunos em constante mudança. No final da década de 1990, ocorreram 
reformas nas propostas educacionais tanto no Estado de São Paulo quanto em nível Federal, 
como os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). 
 Conforme os PCN, é no primeiro ciclo que o processo ensino e aprendizagem de 
História deverá desenvolver nos alunos a compreensão das semelhanças, diferenças, 
permanências e transformações que ocorrem no cotidiano, relacionando a sociedade tanto no 
presente como no passado, mediante observação de diferentes obras humanas. 
 Envolver a vivência das crianças por meio de um projeto pedagógico, conforme 
seu nível de desenvolvimento, despertando nela uma percepção do mundo em seu redor, 
 
1 Colaboradora do Projeto – Disciplina: História (Faculdade de História, Direito e Serviço Social – UNESP – Franca). 
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identificando as relações sociais em várias dimensões e de diferentes maneiras, acompanha as 
propostas dos PCN para o primeiro ciclo do Ensino Fundamental. 
 Os PCN destacam como um dos objetivos mais relevantes do ensino de História 
nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a questão da identidade. É de grande importância 
que os estudos de História estejam constantemente relacionados com a construção da noção 
de identidade, mediante o estabelecimento de relações entre identidades individuais, sociais e 
coletivas. 
 São nas séries iniciais que as primeiras lições de História como disciplina são 
apresentadas para as crianças. Estas, por sua vez, trazem para a escola suas próprias histórias 
com base em suas experiências pessoais que vão se ampliando no grande encontro cultural 
que a escola proporciona para a vida. É nesse ambiente propício que esse projeto de pesquisa 
foi desenvolvido. 
 Na quarta série E, no período da tarde da EE. Dr. Meira Júnior, na cidade de 
Ribeirão Preto/SP, foi desenvolvido um projeto de ação didática, dividido em módulos 
compostos por miniaulas preparadas e ministradas semanalmente na sala de aula, em contato 
direto com os alunos. A História do Brasil foi o tema a ser desenvolvido, limitando o período 
Colonial. 
 No primeiro módulo de tema: A criança e sua sociedade, foram trabalhados 
assuntos que estimulassem as crianças a compararem suas vidas hoje com a da Sociedade 
Antiga Colonial. A História da colonização do Brasil desenvolvida durante essas aulas, levantou 
e abordou questões de reconhecimento de permanências e mudanças entre passado e 
presente. 
 O segundo módulo com o tema: O Índio hoje e o Índio ontem, foi abordado no 
decorrer de aulas que permitiram as crianças expressarem suas próprias condições de vida 
hoje, pesquisarem as condições do índio no passado e no presente, e compararem suas vidas 
com a dos indígenas do país. 
 As relações de trabalho foram o tema do terceiro módulo desenvolvido. As aulas 
desse módulo tiveram como objetivo tratar as questões do uso da terra e as relações de 
trabalho do passado e do presente. Lembrando sempre de partir do presente, ou seja, da 
realidade que envolve o mundo do trabalho hoje, para então transportar o assunto para o 
passado. 
 593 
 O último módulo reuniu os resultado obtidos com o projeto para a produção de 
um material de ensino em forma de relatório das atividades desenvolvidas na sala de aula, para 
um possível aproveitamento nos anos seguintes, pela escola e pelos professores. 
1 CRIANÇA E SUA SOCIEDADE 
 As grandes mudanças ocorridas nos últimos anos na sociedade brasileira 
influenciaram muito na questão da identidade, despertando uma certa preocupação com um 
ensino mais eficaz da disciplina de História nas escolas em geral. A grande diversidade cultural 
encontrada por todo o país torna o tema identidade extremamente abrangente. E isso em 
relação aos grandes encontros culturais ocorridos por causa do processo de migrações dentro 
do próprio país que acabam por desagregar valores e desestruturar relações históricas antes 
estabelecidas. 
 Partindo do próprio aluno, são desenvolvidas questões de cidadania e 
construção de uma identidade social que, ao longo dos estudos da História como componente 
Curricular, vão partindo para a localidade, a sociedade próxima, distante e o mundo. O indivíduo 
precisa compreender seu papel na sociedade a qual está inserido. 
1.1. A COMPARAÇÃO DA VIDA SOCIAL DA CRIANÇA HOJE, CULTURA, ECONOMIA E A DOS TEMPOS DA 
COLÔNIA NO BRASIL 
Os PCN relevam o trabalho com a identidade e que durante seu processo de 
construção os alunos vão percebendo que há diferenças e semelhanças envolvidas entre os 
conteúdos propostos e ele, tendo o professor como um mediador desse processo. 
Várias crianças estão agora pertencendo a um mesmo grupo, no caso a escola, 
mas possuem diferenças tanto pessoais como em conjunto, que são seus traços culturais 
adquiridos de suas famílias. 
Vigotsky (1992, p. 109) discute essa bagagem cultural que acompanha o aluno 
de casa para a escola, e a classifica como uma “[...] pré-história [...]”, ressaltando que a “[..] 
aprendizagem escolar nunca parte do zero [...]”. 
Aproveitando essas experiências que as crianças trazem de casa foi proposto a 
elas escreverem sua própria História em forma de um pequeno livro acompanhado por gravuras 
que elas mesmas criaram. Com duas folhas de sulfite em branco dobradas e grampeadas na 
forma de um livro as crianças desenvolveram seus livros da História de suas vidas, ou o que 
puderam escrever sobre, e acrescentaram seus hábitos atuais, brincadeiras, atividades e tudo 
que quiseram expressar sobre si mesmas. 
 594 
Ao trabalhar a questão da temporalidade, foi desenvolvida uma breve discussão 
na lousa sobre séculos, contagem de tempo, algarismos romanos, e depois foi proposta uma 
atividade que elas levaram para fazer em casa. Essa atividade foi uma espécie de linha do 
tempo pessoal na qual dados importantes que aconteceram na vidade cada criança, desde seu 
nascimento, foram registrados no gráfico. 
1 – Minha Linha do Tempo: 
Escreva uma coisa legal que aconteceu em cada ano: 
Ano em 
que 
nasci. 
1 ano 
depois 
2 anos 
depois 
3 anos 
depois 
4 anos 
depois 
5 anos 
depois 
6 anos 
depois 
7 anos 
depois 
8 anos 
depois 
9 anos 
depois 
10 
anos 
depois 
Ano: 
 
______ 
Ano: 
 
______ 
Ano: 
 
_____ 
Ano: 
 
_____ 
Ano: 
 
_____ 
Ano: 
 
_____ 
Ano: 
 
_____ 
Ano: 
 
_____ 
Ano: 
 
______ 
Ano: 
 
______ 
Ano: 
 
_____ 
O que Aconteceu 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O que 
aconteceu 
O que 
aconteceu 
O que 
aconteceu 
O que 
Aconteceu 
O que 
Aconteceu 
O que 
Aconteceu 
O que 
Aconteceu 
O que 
Aconteceu 
O que 
Aconteceu 
O que 
Aconteceu 
 Pesquisa de fatos no tempo 
Um ou dois eventos foram anotados por elas, a cada ano. De maneira que 
puderam analisar a questão do tempo em forma linear. 
Apresentando a História do Brasil no período da conquista e posse de terra por 
parte dos portugueses, as crianças, a todo momento, fizeram comparações com suas 
atividades de hoje em dia. 
Partindo dos habitantes que já estavam aqui, foi apresentado seu modo de vida, 
bem como a questão do achamento do Brasil, sua intencionalidade ou casualidade, em 
pequenos textos para as crianças fazerem comparações e darem suas opiniões. Após lidos e 
levantadas as palavras difíceis, foram discutidas as duas versões. As crianças se expressaram 
elaborando uma pequena dissertação, suas opiniões sobre o achamento do Brasil. 
 595 
Os textos: 
Eu acho que... 
“... Antes do descobrimento, o atual território 
brasileiro era habitado por uma população de mais 
ou menos 5 milhões no Brasil de 1500. Além disso, 
outro português chamado Duarte Pacheco Pereira 
também tinha estado aqui antes de Cabral. O dia 22 
de abril de 1500, ficou como a data oficial da tomada 
de posse do território brasileiro pelo Reino de 
Portugal e também sua entrada na História 
Universal”. 
Eu acho que.... 
“... Pedro Álvares Cabral foi enviado às Índias para fazer 
comércio, porém em 22 de abril de 1500 chegou ao Brasil. 
Aportaram em um lugar que recebeu o nome de Porto 
Seguro no atual Estado da Bahia. O escrivão Pero Vaz de 
Caminha que estava na esquadra, escreveu uma carta ao 
rei de Portugal relatando a viagem e descrevendo os povos 
que habitavam o Brasil, os quais os portugueses chamaram 
de índios. 
E você? 
_________________________________________________________ 
_________________________________________________________ 
_________________________________________________________ 
 
Texto para comparação de relatos 
Neste exercício de opinião, as crianças fizeram comentários como: 
“Eu acho que Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil por engano porque ele 
queria chegar a Índia. (...) Eu acho que Pedro Alvares Cabral foi o primeiro a 
descobrir o Brasil. (...) Eu acho que os Índios chegaram primeiro ao Brasil que 
Duarte Pacheco. (...) Eu acho que os Índios descobriram primeiro o Brasil. Mas 
o Pedro Álvares Cabral se apossou das terras dos Índios, e disse que ele achou 
a terra. Eu acho que os Índios descobriram.” 
1.2. LEVANTAR QUESTÕES ONDE SE POSSA RECONHECER PERMANÊNCIAS CULTURAIS ATRAVÉS DO 
TEMPO 
Nesse contexto, foi proposta uma atividade de comparação entre hábitos dos 
membros da família da criança no passado e seus próprios hoje, que é de grande ajuda para o 
reconhecimento de mudanças e permanências através do tempo. 
As crianças levaram uma pesquisa para fazerem em casa com seus familiares e, 
então, todo um debate foi montado sobre ela na sala de aula. 
PESQUISA PARA CASA 
Pergunte a algum adulto de sua família: 
1- Como era a escola que você estudava? 
_____________________________________________________ 
_____________________________________________________ 
2- Como eram as brincadeiras naquela época? 
_____________________________________________________ 
_____________________________________________________ 
 
 Pesquisa para casa 
 596 
 Com a pesquisa pronta na mão das crianças na sala de aula, foi aberto um 
debate comparativo. Com a lousa dividida em duas partes: passado e presente, foi colocado no 
lado passado todas as respostas das pesquisas, levando em conta que várias eram 
semelhantes, fazendo-se assim somente acréscimos; e no lado presente, as crianças 
descreveram a escola e as brincadeiras de hoje. Após essas conversas, as crianças concluíram 
que algumas coisas da escola como: alunos, professores e o prédio permaneceram. Porém, a 
violência aumentou, e os professores de hoje são menos rígidos. Em relação às brincadeiras, 
as crianças levantaram que a maioria permaneceu. Foi possível notar, que nenhuma criança 
levantou brincadeiras eletrônicas como vídeo-games e computadores utilizados hoje. Talvez por 
não perceberem no contexto das brincadeiras tais aparelhos, visto que a maioria conhece e 
alguns têm ou já tiveram acesso a eles. 
 Para ligar esse tema de permanência e mudanças, passado e presente ao 
conteúdo de História do Brasil, que seria abordado no dia, a posse do Brasil, um objeto antigo 
foi utilizado: um ferro de passar roupa à brasa. 
 Ao mostrar o objeto para a classe, eles observaram e comentaram a respeito. 
Alguns já tinham visto um ferro semelhante, seus pais já haviam dito algo a respeito e outros 
observaram que antigamente usavam esse tipo de ferro porque não tinha energia elétrica. Ao 
mostrar um ferro de passar roupa mais moderno, vários comentários surgiram sobre esses 
eletroportáteis e, até mesmo, que o mostrado não era assim tão moderno. 
 O próximo passo foi então apresentar o conteúdo: A posse das terras brasileiras 
– As Capitanias Hereditárias e o Governo Geral. Foi usada a aula expositiva como recurso, 
porém sempre aberta a debates comparativos entre o passado e o atual. Como atividade para 
as crianças desenvolverem em sala de aula sobre o assunto, foi proposta uma questão para 
pensar, dissertar e também avaliar como o conteúdo tem sido aproveitado e a questão da 
temporalidade que o envolve. A questão era: Se você recebesse, só para você e sua família, 
uma Capitania naquela época, o que você faria com ela para morar, comer e estudar? 
 As respostas foram bem próximas umas das outras: 
[...] Eu fazia casa de palhas. 
Eu plantava tomate, feijão, alface e outros legumes, eu fazia uma casa de palha 
e madeira. Eu colocava uma mesa e eu pegava um monte de pedaço de tronco 
quebrado para sentar. A minha mãe me dava aulas. 
Eu plantava para comer, construía casa de madeira e minha mãe me ajudava 
para aprender a estudar. 
Eu para morar construía casa, para comer plantava e colhia e para estudar 
construía uma escola de madeira. 
 597 
Plantaria, construía uma casa de madeira e para estudar eu fazia a minha 
própria aula. 
Eu se não tivesse fogão eu pegava pau. 
Pra mim comer eu ia plantar, pra mim eu fazia uma casa de madeira pra mim 
estudar eu ia escrever numa folha e também eu escrevia as coisas com um 
bambu pontudo. 
Para morar eu procuraria madeiras para fazer uma oca. E para comer eu 
plantaria mandioca. E para estudar eu mandaria buscar um professor. 
Eu e minha mãe e meu pai faria casa de madeira para a gente viver e também 
plantava semente de arroz, feijão [...] Eu falaria para minha mãe me dar aula da 
1, 2, 3 e 4 série e etc. 
Eu construiria uma casa um pouco grande para eu, minha mãe, meu pai e meus 
irmãos morarmos e essa casa seria de madeira também e faria todas as 
crianças estudar com uma pessoa que soubesse ler e escrever [...] 
Percebe-se que as crianças com base em suas próprias experiências familiares, 
da vida e das aulas puderam elaborar suas respostas. 
As crianças colaram um texto em seus cadernos como lembrança dos assuntos 
discutidos na sala de aula: 
PARA LEMBRAR: 
 Os portugueses no Brasil não encontraram um povo como o seu, ou seja, comerciantes 
e produtores.Aqui não encontraram também ouro como esperavam e usaram o Pau-brasil para 
vender. 
Portugal estava interessado em lucro e no momento conseguia isso na Ásia e na África. 
Em 1530, o rei de Portugal enviou ao Brasil uma expedição chefiada por Martim Afonso 
de Sousa para começar a colonizar e defender as novas terras. 
O Rei Dom João III dividiu o Brasil em 14 partes, chamadas Capitanias Hereditárias, com 
homens escolhidos para cuidar dessas capitanias. 
Com grandes partes para cada um, ficou difícil de controlar essas terras, então é 
organizado um Governo Geral na cidade de Salvador para controlar e defender o Brasil, agora 
Colônia de Portugal. 
 (texto Para Lembrar) 
 
Na aula seguinte, foi feita uma espécie de recordação e avaliação desse primeiro 
módulo. 
A sala assistiu a um filme didático sobre História do Brasil, do descobrimento e a 
posse de terra – assuntos já trabalhados em sala de aula. E depois, em grupo, montaram 
cartazes que representaram o Brasil de 1500 e o de 2003. 
Os temas: As divisões do Brasil, As Viagens/Meios de transportes, As florestas, 
As pessoas e Os Governos, foram escolhidos para cada grupo, com base nas aulas, de 
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maneira que os alunos pudessem representá-los em dois momentos (1500 e 2003) da História 
do Brasil. Em grupos divididos pela atividade de escolha de líder, numa cartolina, as crianças 
puderam representar os temas nos períodos por meio de desenhos, que depois foram 
apresentados para toda a sala por cada equipe e avaliado por eles. No término da aula, as 
crianças expuseram seus trabalhos no corredor da escola. 
Os resultados foram muito bons. As crianças puderam expor suas visões de 
passado e presente, tendo como ponto de referência dois períodos distintos, mas que por elas 
puderam ser ligados por comparações representadas pelos desenhos dirigidos por tema. 
2 O ÍNDIO HOJE E O ÍNDIO DE ONTEM 
Um dos objetivos para o ensino de História para o primeiro ciclo do Ensino 
Fundamental, conforme os PCN (1997, p. 50), é trabalhar com as crianças a questão do Índio. 
É indicado como introdução a esses estudos, caracterizar e questionar o modo de vida 
indígena de uma comunidade mais próxima, na região, observando e relevando as questões 
econômicas, sociais, culturais, artísticas e religiosas. Com estas questões discutidas, é 
proposto traçar paralelos de diferenças e igualdades entre essas comunidades indígenas e da 
comunidade onde vive a criança e sua escola, identificando, assim, diferenças culturais a serem 
trabalhadas. 
O objetivo desses estudos é ajudar a criança a compreender as diferenças 
culturais existentes tanto entre comunidades indígenas, quanto a sua própria, e assim ter uma 
visão diferenciada em relação aos povos indígenas de maneira que os percebam como povos 
históricos e com costumes e culturas diferentes entre si. 
 Esses estudos foram trabalhados através de reportagens e fontes iconográficas, 
uma vez que nas proximidades da cidade de Ribeirão Preto não existem comunidades 
indígenas que possam ser objeto de estudo para a classe. 
 A turma realizou um trabalho escrito em duplas de análise e opinião de algumas 
pequenas reportagens de indígenas hoje no Brasil e suas dificuldades. 
2.1. CARACTERIZAR A VIDA HOJE DAS CRIANÇAS, PERMITINDO QUE ELAS MESMAS EXPRESSEM SUAS 
CONDIÇÕES DE VIDA ATRAVÉS DE CONVERSAS NA SALA. 
As conversas em sala de aula em conjunto com os alunos, ajudaram a conhecê-
los melhor, e, assim, poder trabalhar suas necessidades. Geralmente as crianças, não 
acostumadas a esse tipo de atividade, poderão imaginar que a aula não começou ainda, e 
pedirão para passar “lição” na lousa. A “famosa indisciplina” com essas conversas também 
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poderá aparecer, o que exigirá uma maior energia do professor para a organização do debate 
com as crianças. 
Aproveitando os dados obtidos em aulas anteriores sobre os estudos pessoais 
dos alunos, em discussão na sala de aula, as crianças acrescentaram ainda alguns costumes 
que elas possuem sobre música, dança, jogos, brincadeiras, tipo de alimentação, etc. 
A cada volta ao passado, foi feito um paralelo com os itens discutidos 
anteriormente e a sociedade Colonial brasileira, de maneira que as crianças pudessem ser 
envolvidas com as questões do passado pelos laços de igualdade e diferença. 
2.2. APRESENTAR O MODO DE VIDA INDÍGENA MAIS PRÓXIMO POSSÍVEL DA REGIÃO, PERMITINDO QUE 
AS CRIANÇAS LEVANTEM QUESTÕES RELACIONADAS AO MODO DE VIDA DELES E AO SEU 
PRÓPRIO MODO DE VIDA 
Com o objetivo de levar as crianças a conhecerem um pouco da cultura indígena, 
foi feito um trabalho de comparação entre a vida indígena atual e a de antes, no período do 
achamento com a utilização de gravuras e interpretação destas. 
Foi lançada uma pergunta para a classe relacionada ao achamento do Brasil e 
aos povos que souberam disso lá na Europa durante o período de 1500. O interesse que 
despertou em alguns povos europeus de virem para o Brasil a fim de explorarem a terra, 
organizando-se assim o seu povoamento, foi discutido com a turma. 
Um debate foi aberto às crianças sobre o encontro dos nativos do Brasil e os 
portugueses. As crianças manifestaram suas opiniões e expressaram a preocupação com a 
grande diferença de cultura desse encontro. 
Nesse momento de discussão de encontros, e também ao falar sobre o escambo 
que era praticado aqui entre Portugueses e Índios, um aluno questionou como seria possível 
esse contato se não falavam a mesma língua. Isso mostra que o ensino de História passou de 
fato para questões elaboradas pelas crianças com participação ativa e reconstrução de 
informações passadas. 
A vinda desses indivíduos e as conseqüências foram também lançadas na 
discussão. As crianças relataram a questão do desmatamento das florestas do Brasil, a 
organização de cidades e mistura de raças. 
Nesse momento, o conteúdo foi elaborado por elas sobre a questão do encontro 
de culturas entre Portugal e Nativos no Brasil de 1500. 
 600 
2.3. AJUDAR AS CRIANÇAS A IDENTIFICAREM DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS DE ESPAÇO, VIVÊNCIA, 
CULTURA E RELIGIÃO 
Fazendo paralelos da atualidade conhecida pelas crianças sobre os indígenas 
com os de tempos antigos do Brasil, as crianças puderam questionar a luta pela terra e outras 
atividades que se modificaram no comportamento dessas sociedades. 
Relatório da aula sobre índios, feito por um aluno da 4ª série: 
 Os índios ontem e hoje 
Ontem os índios eram felizes e tinham muitas terras, os índios eram os donos 
do Brasil, ele eram donos de toda essa terra. 
As tribos eram felizes ninguém brigava por terras. 
Mas hoje os índios não têm lugar para morar, alguns índios pedem esmola. 
Muitos são assassinados com tiros, esfaqueados e até queimados. 
Os índios brigam para uma terra, um lugar para viver. 
Muitas tribos passam fome e até morrem por desnutrição. 
Não é justo que as pessoas façam isso com os índios [...] 
2.1. A ESCOLA INDÍGENA ANTIGA E A ATUAL, RELACIONANDO COM A PRÓPRIA VIDA ESCOLAR DA 
CRIANÇA 
Trabalhando com a questão indígena, as crianças puderam levantar dados sobre 
a vida do índio hoje e como foi no passado. Com um teatrinho apresentado pelas crianças, em 
meio a uma aula expositiva, os contatos entre indígenas e portugueses na conquista do Brasil 
foram discutidos. A escola atual instituída nas aldeias indígenas no Estado de São Paulo foi 
mostrada para as crianças por um pequeno livreto sobre Educação Indígena, elaborado pela 
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo no ano de 2002, distribuído nas escolas 
Públicas, pelo qual questões de comparação foram levantadas a todo momento. A educação 
indígena antiga também foi exposta, e as crianças foram motivadas a fazerem redações sobre a 
escola do índio hoje e ontem. Ainda no assunto indígena, as crianças fizeram debates escritos 
sobre reportagens atuais que mostram o tratamento que os índios vêm recebendo no país. 
3 AS RELAÇÕES DE TRABALHO 
O cultivoda terra, as relações dos trabalhadores do Período Colonial em 
comparação com os trabalho executados hoje. 
Ao começar a falar com as turmas sobre as relações de trabalho, foram abertas 
discussões sobre as diversas profissões de seus familiares. Com a ajuda de recortes de 
revistas, foram discutidas outras profissões. As relações de trabalho foram aos poucos sendo 
exploradas. Após trabalhar com a profissão dos pais e outras, foi aberta uma discussão em 
 601 
torno do trabalho infantil doméstico, partindo de um encarte infantil de Jornal (ROMEU, 2003). 
Em grupo, as crianças discutiram e debateram reportagens desse artigo e montaram redações 
expondo suas idéias. 
 Foi utilizada, também, uma pequena reportagem da TV (Jornal Hoje,16/04/2003) 
sobre trabalho infantil, que foi gravada em fita VHS e depois passada para as crianças como 
material ilustrativo para o assunto. Textos de livros também foram utilizados como material de 
apoio para a elaboração de uma redação sobre o trabalho infantil. 
Ao encerrar o assunto de relações de trabalho, foi discutida a questão dos 
direitos, deveres e leis do trabalho. Foi realizado, também, em conjunto com a classe, um 
orçamento fictício doméstico para ilustrar os gastos e ganhos de uma família. Depois as 
crianças elaboraram uma redação sobre a aula e o que mais entenderam. 
Redação de uma aluna: 
“Esse salário é mínimo mesmo! 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou o salário para R$ 240 reais 
mais o povo gostou por muito pouco tempo, o povo depois queria um salário 
mais alto mas ele disse... 
Por enquanto terá que ser esse valor por que eu quero acabar com a fome e 
pretendo abaixar o custo de vida. 
Mas para um pai de família é muito difícil viver com esse salário pois o aluguel 
está muito alto ele tem que pagar também água, luz, e os alimentos e comprar 
remédios, roupas, sapatos, etc... 
Mas o povo tem que se agüentar com esse salário, o quanto pois as coisas 
estão difícil para todo mundo porque ninguém tem dinheiro para as coisas que 
devem comprar. “ 
Ao fazer a transposição para o passado, o trabalho escravo foi apresentado no 
período Colonial do Brasil. As crianças fizeram análise da letra da música de Jorge Amado 
“Canto do Trabalho” e parte da poesia de Castro Alves “O Navio Negreiro”, na lousa, em 
conjunto. Elas usaram o dicionário, buscando palavras difíceis, para fazerem as análises e 
também traçaram comparações diversas com suas próprias vivências. 
Foram utilizados mapas da África, Mundi e do Brasil para ilustrar o trajeto do 
navio negreiro. Transparências com gravuras também ajudaram na ilustração do interior do 
navio e também do mercado de escravos organizado aqui no Brasil nesse período. Muitas 
perguntas e debates foram levantados a cada gravura apresentada. 
As crianças organizaram-se em grupos e, em cartolinas, expressaram seus 
conhecimentos adquiridos e experiências sobre temas apresentados durante a aula. Foi 
montado um painel com os trabalhos e exposto no corredor na Escola. 
 602 
Em continuidade ao assunto anterior, uma aula sobre o Engenho Colonial foi 
elaborada, com o objetivo de ajudar as crianças a questionarem a sociedade do Engenho no 
período Colonial do Brasil. Exploramos objetos de trabalho como a foice que tanto é utilizada 
hoje em dia como foi no passado. Discutimos o processo de industrialização do açúcar, 
especialmente no que se refere à mão-de-obra escrava do passado e a atual do coletor de cana 
de nossa região. 
Nesse paralelo as crianças experimentaram um pouco de açúcar como ilustração 
da aula e discutiram “seu gosto doce e amargo” como preparação para elaboração de redação 
com tema sugerido: “O açúcar é amargo”2. Alguns dos resultados foram: 
Para nós o açúcar é doce, mas você acha que para os negros o açúcar é doce? 
O trabalhador de hoje é quase igual os escravos só que não tem castigo. Só 
que o trabalho é duro e o açúcar ainda é amargo. 
O açúcar é amargo? Bom, essa é a questão para os negros que são açoitados. 
Sim porque quando uma pessoa não sente mais o doce da vida, até açúcar fica 
amargo. Bom, como eu disse nada mais faz sentido. 
O açúcar é amargo para os cortadores de cana porque eles sofrem dia por dia, 
sol por sol para sobreviverem. 
Antigamente os negros não ganhavam um tostão, hoje mesmo os trabalhadores 
de cana ganhando dinheiro, eles acham o dinheiro miserável.” 
Um aluno, durante a exposição da aula e a discussão, relatou, com base em 
suas experiências familiares, o dia a dia de um coletor de cana de açúcar, seu alimento, 
moradia, transporte. Os demais alunos também participaram contando histórias de seus 
familiares e outros fatos conhecidos por eles. 
3.1. EXPLORAÇÃO DOS MEIOS DE TRANSPORTE DA ATUALIDADE RELACIONANDO COM OS DE 
ANTIGAMENTE 
Houve uma conversa na sala com as crianças sobre a necessidade de o homem 
se transportar. Elas lembraram vários meios de transporte. 
 Neste momento, as crianças trabalharam em duplas. Cada dupla recebeu uma 
folha de sulfite e uma gravura de um meio de transporte colada. Perguntas foram colocadas na 
lousa para as crianças copiarem e responderem na folha com a gravura. As perguntas foram: 1. 
Descreva seu meio de transporte; 2. Que nome você acha que ele tem?; 3. É antigo ou 
moderno?; 4. Você acha que hoje em dia se usa esse meio de transporte? 
 Após a discussão das duplas, cada uma apresentou seu trabalho explicando 
suas respostas. 
 603 
 As crianças inventaram nomes para os meios de transporte, relataram suas 
observações, etc. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 O desenvolvimento desse projeto foi a ligação entre a teoria dos bancos da 
Universidade e a prática no cotidiano da Educação Básica. 
O Ensino de História no ciclo I do Ensino Fundamental da Escola Pública do 
Estado de São Paulo está mudando, ao menos na EE. Dr. Meira Júnior em Ribeirão Preto, onde 
foi desenvolvido esse projeto na 4ª série E do período da tarde. 
Apesar das resistências, há professores que buscam um ensino diversificado, 
dando oportunidade a projetos de pesquisa nesse sentido. 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais são um importante Material de Ensino 
para conhecer os vários temas que podem ser desenvolvidos com os alunos e como 
desenvolvê-los. 
É importante que a criança participe, se reconheça como um ser histórico, agente 
transformador de seu tempo. Ela deve buscar os conteúdos dentro dos temas críticos da 
História como disciplina escolar. 
Para tanto, é fundamental o papel do professor como um mediador do processo 
de aprendizagem, que direciona esse trabalho no sentido de despertar no aluno sua 
historicidade, quanto indivíduo de uma sociedade em constante mudanças. 
 Com a conclusão desse projeto destacam-se as experiências adquiridas no 
exercício prático da teoria aprendida durante a graduação. Foram quatro anos desenvolvendo e 
aprendendo questões relacionadas à História e seu ensino. Porém, a licenciatura não preenche 
todos os aspectos da prática do professor. E não poderia ser diferente, uma vez que o professor 
tem sua formação realmente integral, na prática, no cotidiano da sala de aula. 
 Esse projeto desenvolvido em sala de aula com os alunos da quarta série do 
Ensino Fundamental durante o ano de 2003, foi de grande importância para o estabelecimento 
dessa ponte entre a teoria e a prática ao ligar a Universidade e o Ensino Fundamental no que 
se refere a licenciatura do curso de História. Nesse sentido, a disciplina de História foi 
questionada como uma produtora de conhecimento do indivíduo, que é um ser histórico em seu 
próprio tempo. Os conteúdos prontos e distantes da realidade do aluno tão utilizados, são 
substituídos por uma História que caminha junto com a criança em seu presente em paralelo 
 
2 Título com base naobra “Açúcar Amargo” de Luiz Puntel da Ed: Ática 
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com estudos de outros tempos e pessoas que também fizeram suas histórias. 
 Assim sendo, o aluno passa a questionar sua realidade individual, que é uma 
experiência histórica, fazendo-o despertar para sucessivos exercícios de reflexão que levarão a 
produção de conhecimento não só no âmbito escolar, mas para a vida. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
CABRINI, Conceição. et al. O ensino de História: Revisão urgente. 2. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 1986 
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. 10. ed, Rio de Janeiro: Vozes, 2000 
NADAI, E., BITTENCOURT, C. M. F. Repensando a noção de tempo histórico no Ensino. In: 
PIASKY, Jaime (Org.). O ensino de história e a criação do fato. 3. ed. São Paulo: Contexto, 
1991. 
NIDELCOFF, M. T. A escola e a compreensão da realidade. São Paulo: Brasiliense. 1987 
Parâmetros Curriculares Nacionais: História, Geografia. Secretaria de Educação Fundamental. 
– Brasília: MEC/SEF, 1997. 
PETRUCI, Maria das Graças, R, M. O Ensino de História na Escola Fundamental: a proposta e 
a prática. Franca, SP – UNESP – FHDSS, 1997. 
VIGOTSKY, L. S. A Formação social da mente. Ed: Martins Fontes, São Paulo, 1991 
FURLAN, S.A., SCARLATO, F.C., CARVALHO, A. F. Eu e o outro: a construção da cidadania. 
Coleção Verso e Reverso. Geografia e História. Livros 3 e 4. Editora Nacional. São Paulo, 2000 
ROMEU, Gabriela. Quem trabalha não brinca. Folha de São Paulo, São Paulo, 19 de abril de 
2003. Folhinha, p.3. 
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Educação Indígena. 2. ed. São Paulo. 2002. 
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. Ed: Ática, 2 Ed, São Paulo, 2001. 
OUTRAS FONTES 
FILMES 
História do Brasil. Vol. I – A descoberta e o início da colonização. SBJ Produções. São Paulo, 
Brasil. 
TELEVISÃO 
Socorro às crianças. Reportagem. Jornal Hoje. Rede Globo de Televisão (Brasil).16/04/2003

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