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AULA 2 PLANEJAMENTO E SUSTENTABILIDADE URBANA Profª Tharsila Maynardes Dallabona Fariniuk 2 INTRODUÇÃO O bem-estar urbano pode ser incrementado de muitas maneiras, e uma delas é uma eficiente gestão dos espaços abertos e verdes. Um planejamento que considere o desenvolvimento em paralelo à preservação do meio ambiente é um dos princípios nas novas agendas urbanas sustentáveis. Nesta aula, falaremos um pouco sobre isso. No primeiro tema, abordaremos alguns conceitos sobre espaços verdes urbanos, bem como categorizações dessas áreas. Faremos também uma breve retrospectiva história sobre a implantação desse espaço nas cidades. O segundo tema abordará a questão da contribuição da gestão ambiental sistêmica para as cidades, apresentando fatores de pressão sobre ecossistemas naturais e benefícios do planejamento integral voltado para essa finalidade. O terceiro tema apresentará métodos de avaliação da flora e fauna urbana, iniciando por um panorama sobre fatores que incidem na alteração e na dispersão de espécies. O material também apresentará métodos de mensuração e de delimitação de indicadores de avaliação. O quarto tema abordará a questão da integração das áreas verdes com espaços urbanos. Falaremos sobre qualidades da integração ambiental e também sobre planos de infraestrutura urbana, abordando características importantes e exemplos mundo afora. Por fim, no quinto tema falaremos sobre a gestão da fauna urbana, iniciando por uma caracterização e seguindo com recomendações para a gestão, onde abordaremos boas práticas para a gestão desse nicho em específico. Boa aula, bons estudos! TEMA 1 – ÁREAS VERDES E ESPAÇOS LIVRES A presença de áreas verdes nas cidades contribui de muitas formas para o incremento do bem-estar urbano. Um planejamento que considere essa preservação está também, direta ou indiretamente, incidindo de forma positiva sobre a saúde pública, sobre a qualidade de vida e sobre a identidade urbana. Neste tema, vamos estudar um pouco sobre as características desses espaços e sua importância. 3 1.1 Áreas verdes e livres urbanas: conceitos e categorias Um dos conceitos clássicos sobre as áreas verdes e espaços livres urbanos é o proposto pelo professor Vladimir Bartalini, ainda na década de 80 (1986), quando afirma que esses elementos urbanos possuem 3 funções: a) a função visual ou paisagística; b) a função recreativa ou de lazer; e c) a função ambiental. As três podem – e idealmente devem – existir conjuntamente. O autor comenta que esses espaços possuem um atributo significativo que é o de reforçar a identidade visual de um local quando criam vínculos importantes entre a população e o contexto em que habitam. Esses espaços são importantes nas cidades não apenas para garantir a preservação de elementos naturais – como a sustentabilidade de espécies, a permeabilidade do solo e a melhora do clima – mas também como incremento da qualidade de vida e do bem-estar urbano. Acompanhe esta reflexão: A política de um sistema de áreas verdes também não pode se limitar à aquisição ou reserva de grandes áreas nas periferias das cidades. Pode ser um procedimento louvável, sobretudo se se tratar de áreas onde a proteção de certos processos naturais se faz necessária. Mas é também necessário considerar alternativas para suprir carências e melhorar as condições ambientais nos locais onde há maior concentração populacional e, portanto, grande demanda de uso (Bartalini, 1986, p.54, grifo nosso). As áreas verdes urbanas podem ser categorizadas de diversas formas, mas, para fins didáticos, vamos conhecer aqui uma caracterização bem conhecida, determinada por Gerhard Richter, em 1981. O autor divide esses espaços em nove tipologias, conforme apresenta a figura 1: Figura 1 – Tipologias de áreas verdes e espaços livres urbanos Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021, com base em Richter, 1981. 4 A ideia da presença de áreas verdes nas cidades está relacionada, também, com uma reserva de espaço necessária para a manutenção da qualidade do ambiente, do ar e das águas, algo que acaba se perdendo quando esses espaços não existem ou são pouco cuidados. A esse respeito, veja o que dizem os pesquisadores Loboda e De Angelis (2005): Os projetos de construção, intervenção ou reabilitação das áreas verdes públicas de um modo geral veem-se constantemente envolvidos em polêmicas que somente agravam sua penúria renitente. A tendência é que, se não tomarmos uma providência no que diz respeito à reabilitação dessas áreas, não somente suas estruturas físicas, mas, sobretudo, suas funções sociais, geoambientais e estéticas, os únicos espaços de uso coletivo tendem a ser cada vez mais privados shopping-centers, condomínios residenciais, edifícios polifuncionais e não as nossas praças, parques e vias (Loboda; De Angleis, 2005, p.131, grifo nosso). 1.2 Uma breve retrospectiva dos espaços verdes urbanos A forma como os espaços verdes foram trabalhados nas cidades diz muito sobre os contextos de cada época e sobre a formação da sociedade. O espaço verde como local de encontro, de contemplação ou de prática de atividades é um reflexo da sociedade que o compõe e o mantém. Vamos relembrar de que forma esses espaços foram incorporados às funções da cidade ao longo do tempo. Para fazer esse breve retrospecto, vamos contar com as contribuições de Loboda e De Angelis (2005), Bellé (2013) e Lima et al. (2021). No Egito Antigo e também na Mesopotâmia, os espaços verdes urbanos já possuíam uma função microclimática e de conforto térmico, além da função ornamental, e se utilizava até mesmo sistemas de irrigação e estruturação vertical. Na China Antiga, os espaços verdes eram tratados sob uma perspectiva mais naturalista, e a presença das pessoas junto à natureza tinha um caráter simbólico e religioso. Outras civilizações antigas também utilizavam tais espaços para melhoria do bem-estar urbano, especialmente sob o ponto de vista do prazer visual e olfativo. A Grécia Antiga – que é até hoje um dos berços do planejamento urbano – consolidou as áreas verdes como local de encontro, como paisagem para as ideias e para as discussões filosóficas e, assim, tais espaços começam também a ter a função de lazer, recreação e descompressão. Com a chegada da Idade Média, surgem os primeiros espaços verdes com função medicinal, a partir da criação de jardins botânicos que funcionavam como farmácias a céu aberto para as experimentações dos alquimistas. A idade 5 renascentista, por sua vez, consolida o espaço verde no processo de planejamento da cidade, posicionando o paisagismo em função das edificações e dando início a diversas correntes paisagísticas aplicadas até os dias de hoje. Foi nos séculos XVIII e XIX, no entanto, que as áreas verdes passam a ter sua função ambiental mais valorizada, a partir da necessidade da existência de ambientes preservados em meio à insalubridade das cidades industriais. Surge a corrente inglesa, com parques públicos românticos e orgânicos que buscavam um retorno à natureza e um distanciamento da atividade antrópica urbana. Também aqui nas Américas isso pode ser observado; no Brasil, temos a implantação do Passeio Público do Rio de Janeiro, que agrega diversas das funções já comentadas. Com o passar do tempo, as áreas verdes urbanas passaram a ser cada vez mais um diferencial na identidade das cidades e tornaram-se elementos de disputa e de interesse das gestões. Ao longo dos anos, novas tecnologias e estratégias de conservação passaram a ser adotadas. Criou-se novas políticas públicas em diversos países, com a finalidade de buscar uma “descompressão” dos ecossistemas do planeta e de primar pela preservação e pela sustentabilidade dos meios, visando o bem-estar das gerações futuras. Figura 2 – Breve linhado tempo sobre funções das áreas verdes Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021. TEMA 2 – CONTRIBUIÇÃO PARA AS CIDADES Qual a importância de se adotar um planejamento urbano mais sustentável ambientalmente? Neste tema, falaremos sobre como contribuir para que os ecossistemas naturais sejam cada vez mais respeitados no processo de desenvolvimento urbano. 6 2.1 A pressão sobre os ecossistemas naturais A falta de preocupação com as áreas verdes urbanas, além de desencadear efeitos sobre o meio em si, a partir da contaminação do solo e da poluição de elementos naturais, por exemplo, também gera prejuízos no âmbito econômicos e social. As populações mais vulneráveis são geralmente as mais atingidas, ao serem marginalizadas para locais sem qualidade ambiental, com infraestrutura prejudicada e condições insalubres (Miranda; Decesaro, 2018). Isso ocorre de modo cíclico, pois a falta de planejamento nos diversos âmbitos da gestão gera instabilidades sociais, marginalização e consequente ocupação em áreas irregulares, ao mesmo tempo em que essa ocupação desordenada acentua e evidencia problemáticas ambientais. Isso quer dizer que gestão econômica e social e planejamento ambiental não podem ser desassociados um do outro, e que a preservação do meio ambiente é, também, elemento fundamental na busca por cidades mais equitativas e equilibradas. Figura 3 – Gestão sustentável e retroalimentável Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021. 7 Uma vez que as grandezas não podem ser desassociadas, conclui-se que a falta de planejamento na área ambiental gera consequências severas para a vida nas cidades e, consequentemente, gera mais demandas emergenciais e dificuldades para a gestão. Vamos elencar algumas dessas consequências: • crescimento populacional sem a devida acomodação em condições ideais – marginalização e ocupação irregular do solo; • consumo indiscriminado de matérias-primas e de energia sem as condições necessárias de acomodação e renovação do meio fornecedor; • poluição dos ecossistemas aquáticos e redução dos níveis de lençóis freáticos; • poluição do ar, emissão de poluentes; • alteração na morfologia do solo (cortes, aterros e erosões); • impermeabilização do solo; • alteração no microclima urbano e criação de ilhas de calor; • alteração nas populações de fauna e flora e mudanças significativas nas cadeias alimentares; • desordenamento na gestão de resíduos sólidos (domésticos e industriais); e • criação de nichos de insalubridade urbanos, proliferação de pestes, vírus e bactérias. 2.2 Benefícios do planejamento ambiental sistêmico O planejamento ambiental sistêmico, que valoriza a importância das áreas verdes urbanas, contribui consideravelmente para a sociabilidade entre indivíduos – que procurarão tais espaços para encontro, lazer, descompressão etc. Esse processo é o que urbanista dinamarquês Gehl (2013) chama de “cidade viva”, onde os interesses públicos estão voltados também para espaços que proporcionem uma ligação emocional com os indivíduos. Após a era industrial, se fez cada vez mais necessária a preservação (ou inserção) de áreas verdes nos centros urbanos, especialmente no sentido de melhorar a insalubridade de espaços degradados pela atividade industrial e pelo adensamento sem planejamento. No Brasil, esse processo se intensificou já no século XIX, conforme abordamos no Tema 1, e foi fortalecido a partir dos anos 8 2000, com a criação de uma legislação mais específica para conservação de parques urbanos (Cardoso; Vasconcellos Sobrinho; Vasconcellos, 2015). Assim sendo, as áreas verdes desempenham uma série de funções no meio urbano. Elas funcionam como um “respiro” entre as edificações (Barros; Virgilio, 2003) e estimulam convívio social, mas vão além daquele entendimento tradicional de mera preservação de áreas naturais, conforme pode ser observado na figura a seguir: Figura 4 – Benefícios de áreas verdes urbanas Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021, com base em Beretta et al., 2018. TEMA 3 – MÉTODO COMPOSTO PARA AVALIAÇÃO DE FLORA E FAUNA A gestão da fauna e da flora urbana exige processos constantes de diagnóstico e prognóstico dos meios; para isso, é fundamental que existam processos claros e efetivos de avaliação das condições da vida nos espaços verdes urbanos, considerando arborização, vegetação, animais, zoonoses etc. Neste tema, falaremos um pouco sobre fatores que incidem sobre esse processo e também sobre alguns métodos de definição de indicadores de avaliação. 3.1 Sobre alterações e dispersões na fauna e flora urbana Durante a pandemia da COVID-19, especialmente nos primeiros meses, houve a manifestação de diversas manifestações da flora e fauna urbana a partir 9 do isolamento de seres humanos. Isso pôde ser observado especialmente em locais de grande atividade turística mundo afora. Esse processo tornou evidente o impacto da intervenção do ser humano no planeta, que, ao utilizar menos determinados espaços, gerou limpeza das águas, melhoria da qualidade do ar e menos danos à vegetação (Soares; Pinto, 2020). Além da presença humana, o que mais contribui para o equilíbrio ou desequilíbrio da fauna e flora urbana? Beretta et al. pontuam que alguns fatores são: a diversidade de espécies, a boa qualidade de cobertura vegetal, o controle da iluminação artificial em espaços naturais e a presença de água. Além disso, tais fatores contribuem também – ainda que de modo mais indireto – no controle da temperatura urbana. Os autores propõem, também, que tais fatores sejam utilizados como indicadores de avaliação da presença da fauna em meio urbano, considerando-os fatores de atração ou de dispersão da fauna nas áreas verdes urbanas. Quadro 1 – Fatores de atração ou dispersão para o desenvolvimento da fauna urbana Grupo Item Vegetação Diversidade de espécies Qualidade da cobertura vegetal Área sombreada Conjunto de áreas verdes nas proximidades Água Presença ou ausência de espelhos d´água Dimensão de espelhos d´água Proximidade dos espelhos d´água com a vegetação Vias do entorno Tráfego de veículos no entorno Tráfego de pedestres no entorno Iluminação Quantidade de postes e pontos de luz Posicionamento das luminárias Tipo de lâmpadas Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021, com base em Beretta et al., 2018. 3.2 Métodos de mensuração Há muitas formas de se mensurar a qualidade ambiental de um espaço, em consideração às suas características de fauna e flora. Braga et al. Apresentam, em 2004, uma pesquisa com alternativas bastante interessantes que podem ser adaptadas pelas gestões aos contextos locais. Os indicadores devem ser pré- 10 determinados de acordo com cada contexto, porém os autores começam sugerindo que a definição dos critérios esteja baseada em quatro temas principais, que englobam desde as características do meio em si até a capacidade institucional: i. qualidade do sistema ambiental local; ii. qualidade de vida humana (condições de vida, saúde local, segurança ambiental); iii. pressão antrópica (urbana, industrial, agropecuária e cobertura vegetal); e iv. capacidade política e institucional (autonomia política, gestão pública e índice de participação popular). Além disso, é importante também determinar a qualidade dos critérios elaborados segundo quatro pressupostos: Figura 5 – Pressupostos para elaboração dos critérios de avaliação Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021, a partir de Braga et al., 2004. Por fim, os autores ainda fazem uma observação sobre como os dados obtidos devem ser considerados. Essa reflexão é interessante, pois, embora se aplique nesse momento aos índices ambientais, pode ser estendida à avaliação em outros campos da gestão pública: Os dados considerados ricos são aqueles de fácil obtenção e periodicidade contínua e ampla. Os considerados suficientes são aquelesque embora não disponíveis com periodicidade constante, podem ser produzidos com base em outros dados de periodicidade mais adequada. Os dados considerados pobres são aqueles cuja obtenção é de extrema dificuldade, sendo necessária muitas vezes a realização de pesquisas de campo. (Braga et al., 2004, p. 32, grifo nosso) 11 TEMA 4 – INTEGRAÇÃO DAS ÁREAS VERDES COM ESPAÇOS URBANOS O manejo de áreas verdes é desafiador à medida em que é preciso integrar os espaços naturais com o processo de urbanização, de forma a permitir a eventual expansão urbana de maneira ordenada, planejada e sustentável. Neste tema, falaremos sobre as qualidades da integração ambiental e sobre a importância de planos de infraestrutura verde. 4.1 Qualidades da integração ambiental A integração das áreas verdes no meio urbano desempenha importantes papéis em cinco eixos. • Social – possibilidade de lazer. • Ecológica – incremento do bem-estar no meio ambiente (qualidade do ar, água e solo), fundamental ao desenvolvimento de todas as espécies, inclusos os seres humanos. • Educativa – são ambientes de desenvolvimento da percepção e conscientização ambiental. • Estética – diversificação da paisagem construída e ornamentação da cidade. • Psicológica – recreação, relaxamento e descompressão suscitados pela natureza (Bargos; Matias, 2011). Por outro lado, quando a urbanização ocorre – especialmente de maneira espontânea – sempre implica em algum impacto sobre a cobertura vegetal das cidades. Segundo Rotermund (2012), alguns impactos negativos da ação de urbanização sobre o território são: • mudanças nos perfis dos terrenos (cortes, aterros etc.) para implantação da infraestrutura e edificações; • alteração de características físicas e químicas do solo; • compactação e impermeabilização do solo; • dificuldades ao desenvolvimento das raízes da vegetação (crescimento e retirada de nutrientes); • rebaixamento do nível de lençóis freáticos e redução da disponibilidade hídrica; 12 • aumento da temperatura (tanto do ar quanto das superfícies, pela reflexão da radiação solar nos pavimentos); • poluição do ar (partículas danosas, materiais tóxicos e fuligem sobre o meio natural); e • perda de biodiversidade (isolamento ou migração de espécies, ou ainda pelo paisagismo exclusivamente voltado a espécies exóticas, impactando a fauna que não consegue se adaptar). Uma das maneiras de equilibrar esse processo é adotar estratégias que combinem a preservação do meio natural nativo com a criação de novas áreas verdes de promoção da biodiversidade. As florestas urbanas antropogênicas são um bom exemplo de alternativa. Dias (2016) comenta que elas representam o conjunto de todas as áreas verdes criadas e mantidas pelos seres humanos, tais como jardins, praças, parques lineares etc. Embora não sejam compostas por mata nativa, também ajudam a manter o controle da temperatura e da umidade, e melhoram a qualidade do ar ao absorver partículas de CO2 e repor o oxigênio. 4.2 Planos de infraestrutura verde A importância do desenvolvimento de um plano de infraestrutura verde se dá especialmente em 4 eixos, conforme mostra a figura a seguir: Figura 6 – Por que é preciso desenvolver um plano de infraestrutura verde? Fonte: elaborado por Fariniuk, com base em Rotermund, 2012. Ao longo do tempo, planos de infraestrutura verde, com maior ou menor assertividade, foram utilizados para melhorar as condições de desenvolvimento ou desenho urbanos. O quadro 2 apresenta alguns exemplos: 13 Quadro 2 – Alguns exemplos de planos de infraestrutura verde Plano Local e data Características Plano Haussmann Paris, séc. XVIII Abertura de espaços e inserção de parques públicos em larga escala, condizentes a um desenho urbano específico Parques Ingleses pós-industriais Inglaterra, séc. XIX Recuperação de áreas degradadas por meio de parques ornamentais, criados a partir da influência de Ebenezer Howard. Recuperação do Rio Cheonggeyechon Seul, anos 2000 Parque linear com arborização intensa para recuperação do rio degradado desde o século XIV. Parques Urbanos de Curitiba Curitiba, anos 1960 a 1990. Reserva de grandes áreas urbanas para parques de drenagem urbana Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021. Propomos como encerramento desse tema a seguinte síntese, como reflexão: Como indicador de qualidade ambiental as áreas verdes precisam ser consideradas ainda conforme sua distribuição e dimensão espacial para que o planejamento urbano e ambiental supra as necessidades da sociedade e não apenas seja conduzido à valorização e preservação da vegetação no meio urbano por uma questão meramente preservacionista (Bargos; Matias, 2011, p.186). TEMA 5 – GESTÃO DA FAUNA URBANA A gestão da fauna é desafiadora à medida que deve administrar em paralelo às boas condições de sobrevivência e desenvolvimento das espécies e o controle de pragas e zoonoses, com base na orientação da legislação e em processos de avaliação constantes, conforme já mencionamos no Tema 3. 5.1 Considerações gerais sobre a fauna urbana A fauna urbana é o conjunto de espécies de animais presentes no meio urbano e pode ser categorizada em três grupos: Figura 7 – Tipologias da fauna urbana 14 Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021, com base em Vale e Prezoto, 2019. Deve-se considerar, ainda, que eventualmente os meios urbanos também servem de abrigo ou passagem para a chamada fauna exótica invasora, que é composta por animais que não fazem parte originalmente daquele ecossistema, mas que se adaptaram de alguma forma ao meio (São Paulo, 2013). O processo de urbanização desordenada, associado a condições de insalubridade de depredação do meio ambiente, pode levar a um aumento de pragas urbanas, o que faz com que a gestão obrigatoriamente esteja em constante monitoria de zoonoses. Moreira (2015) comenta que há alguns cientistas que consideram as invasões de determinadas espécies em meio urbano como desastres naturais, o que incide diretamente sobre o processo de conservação e diagnóstico do território. São necessárias medidas constantes de detecção precoce dessas alterações no meio, a fim de mitigar os impactos negativos; esse processo, no entanto, é muito vezes subestimado ou acaba por não se tornar uma prioridade da gestão. Sugerimos algumas medidas a serem adotadas para evitar tais prejuízos: • constância e qualidade no serviço de limpeza urbana, especialmente em locais onde a população solicita intervenções; • instalação de dispositivos físicos de proteção para minimizar a reprodução ou nidificação excessiva de espécies nocivas; 15 • métodos sonoros de afastamento para espécies específicas; • planejamento de longo prazo para redução da população da espécie nociva; e • realização constante de pesquisas e levantamentos para identificação das espécies e mapeamento de comportamentos nocivos. 5.2 Boas práticas para a gestão da fauna urbana A presença das áreas verdes, como já vimos, é fundamental para a conservação da fauna urbana. A arborização urbana, em especial, mesmo que de forma pontual ao longo das vias, também pode contribuir positivamente para esse processo. Vejamos alguns destaques sobre o papel da arborização na gestão da fauna urbana: Figura 8 – O papel da arborização na gestão da fauna urbana Fonte: elaborado por Fariniuk, 2021, com base em Brun et al, 2007. Além disso, outras estratégias adotadas pelo setor público também podem ser elencadas para ajudar na gestão da fauna urbana: 16 • priorizar a conservação, manutenção e criação das áreas verdes; • diagnósticos corretos e constantes sobre a permanência e sobrevivência das espécies no meio urbano; • difundir conhecimento sobre o modo de vida do animal; • informar sobre condutas corretas no trato dos animais urbanos; • capacitação de profissionais para atuarjunto às áreas de vivência/passagem dos animais; • campanhas educativas sobre criminalização de maus tratos, abandono e tráfico de animais, em obediência à legislação; e • campanhas educativas sobre ações de prejuízo aos habitats, tais como descarte incorreto do lixo (Beretta et al., 2018). A questão da conscientização e o papel da gestão pública na conscientização coletiva, inclusive, estará presente em outras discussões futuramente. 17 REFERÊNCIAS BARGOS, D. C.; MATIAS, L. F. Áreas verdes urbanas: um estudo de revisão e proposta conceitual. REVSBAU, Piracicaba, v. 6, n. 3, 2011, p. 172-188. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/revsbau/article/view/66481/38295> Acesso em: 24 set. 2021. BARROS, M. V. F.; VIRGILIO, H. Praças: espaços verdes na cidade de Londrina. Universidade Estadual de Londrina, Londrina: 2003. BARTALINI, V. Áreas verdes e espaço livres urbanos. Paisagem e Ambiente, 1986, v. 1-2, p. 49-56. Disponível em: <https://doi.org/10.11606/issn.2359- 5361.v0i1-2p49-56>. Acesso em: 24 set. 2021. BELLÉ, S. Apostila de paisagismo. IFRS: Bento Gonçalves, 2013. BERETTA, V. Z.; SANTOS, S. M.; LONGO, R. M. Indicadores de atração e dispersão de fauna em áreas verdes públicas no município de Campinas (SP). In: JORNADA de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar. 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