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AULA 4 PLANEJAMENTO E SUSTENTABILIDADE URBANA Profª Tharsila Maynardes Dallabona Fariniuk 2 INTRODUÇÃO A gestão de resíduos sólidos é um desafio para as cidades, especialmente no que diz respeito à saúde pública e à viabilidade e sustentabilidade ambiental. A cadeia de existência e produção de um resíduo sólido é complexa e incide sobre múltiplos fatores, tais como: a qualidade do meio ambiente, a geração de emprego e renda, a ocupação de espaços urbanos, a geração de energia etc. Nesta aula, vamos estudar um pouco sobre todos esses aspectos. No Tema 1, abordaremos de modo panorâmico a questão dos resíduos sólidos no Brasil, entendendo melhor os conceitos, e a Lei n. 12.305/2010, que orienta a prática. O Tema 2 abordará a destinação dos resíduos sólidos, a partir das tipologias existentes e permitidas pela legislação e também das estatísticas atualizadas de utilização dessas estratégias no Brasil. No terceiro tema, abordaremos a questão da legislação ambiental aplicada à gestão dos resíduos sólidos, estabelecida pela Constituição Federal de 1988 e também por legislações, decretos e resoluções, em especial as do Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Estudaremos de forma panorâmica alguns dos instrumentos que regem o gerenciamento de tipologias específicas de resíduos. No quarto tema, abordaremos a questão da gestão de resíduos sólidos por meio do ciclo em etapas retroalimentáveis e que representam desafios para a gestão pública. Falaremos sobre algumas estratégias para aprimoramento da sustentabilidade social e ambiental nesse processo, incluindo noções de logística reversa para gestão dos resíduos sólidos. Por fim, no último tema, apresentaremos uma reflexão sobre a importância da inovação na gestão dos resíduos sólidos, especialmente no que diz respeito a estratégias de baixo custo e/ou adoção de novas tecnologias no processo. Discutiremos também sobre as tendências para a gestão de resíduos, baseadas especialmente no compartilhamento de responsabilidades no meio urbano. Boa aula, bons estudos! TEMA 1 – PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NAS CIDADES BRASILEIRAS Para começarmos a discussão sobre a gestão de resíduos nas cidades brasileiras, vamos retomar brevemente os conceitos atrelados ao tema e também 3 algumas estatísticas panorâmicas dessa questão. Discutiremos, ainda, alguns dos principais instrumentos estabelecidos na legislação que orienta a gestão de resíduos sólidos no país. 1.1 Panorama dos resíduos sólidos no Brasil No Brasil, a gestão de resíduos sólidos é orientada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), determinada pela Lei n. 12.305/2010. A PNRS determina que resíduo sólido é o conjunto de materiais, objetos e substâncias resultantes da atividade humana que são descartados em estado sólido ou semissólido, ou que possuem particulares que inviabilizam o descarte na rede de água ou esgoto. A figura 1 apresenta os tipos de resíduos sólidos conforme a PNRS, alguns dos quais retomaremos com mais detalhes ainda nesta aula. Figura 1 – Categorias de Resíduos Sólidos, segundo a PNRS Fonte: elaborado com base em Brasil, 2010. Vamos falar agora especificamente sobre resíduos sólidos urbanos. Dados da Abrelpe de 2020 mostram que a geração de resíduos sólidos aumenta anualmente no Brasil. Na última década, esse aumento foi ainda mais expressivo. Em 2010, o país gerava 67 milhões de toneladas de resíduos por ano, com uma geração per capita média de 348kg/ano. No ano de 2019, a geração de resíduos 4 passou a ser de 79 milhões de toneladas por ano e de 379 kg per capita. As regiões Nordeste e Sudeste são as que mais contribuem para essa geração. Figura 2 – Índice de cobertura de coleta de RSU, por região brasileira Fonte: elaborado com base em Abrelpe, 2020. 1.2 PNRS A legislação criada em 2010 estabelece que a gestão de resíduos sólidos deve ser pautada por princípios e metas compartilhadas entre o Governo Federal, os estados e os municípios, em vistas a um desenvolvimento mais ambientalmente sustentável no Brasil. Podemos destacar alguns dos princípios e instrumentos estabelecidos na lei: • proteção da saúde pública; • uma visão sistêmica sobre a gestão de resíduos, considerando as variantes sociais, econômicas, tecnológicas e culturais além da própria preocupação ambiental; • ecoeficiência – redução do impacto ambiental e redução do consumo de recursos naturais; • reconhecimento do resíduo sólido como um bem de valor econômico e social, gerador de emprego e renda; • adoção e desenvolvimento de padrões sustentáveis de produção e consumo de produtos e de tecnologias limpas; e • incentivo à indústria da reciclagem e integração dos catadores de recicláveis na gestão compartilhada de resíduos (Brasil, 2010). A legislação também estabelece uma ordem de prioridade para a gestão de resíduos, que pode ser observada na figura 2. 5 Figura 3 – Ordem de prioridade na gestão de resíduos sólidos Fonte: elaborado com base em Brasil, 2010. TEMA 2 – TIPOLOGIAS DE DESTINAÇÃO: ATERROS E LIXÕES Os resíduos sólidos podem ser dispostos de diversas maneiras no meio ambiente, e algumas alternativas são mais sustentáveis do que outras. Além disso, nem todas as tipologias de destinação são permitidas no Brasil. Neste tema, vamos estudar quais são as alternativas mais conhecidas de disposição final dos resíduos, bem como analisar algumas estatísticas de utilização no Brasil. 2.1 Alternativas de disposição final de resíduos Existem diversas alternativas de disposição final de resíduos sólidos, cada uma com suas vantagens e desvantagens e nem todas são permitidas ou largamente utilizadas no Brasil. O quadro 1 apresenta algumas dessas tipologias. Quadro 1 – Alternativas de disposição final de resíduos sólidos Tipologia Descrição Aterros sanitários Distribuição de rejeitos segundo protocolos de empilhamento, compactação e soterramento, de forma a minimizar a poluição no solo e nos corpos hídricos. Utiliza-se estruturas de drenagem de chorume e gás (fig. 4). Lixão Disposição de resíduos a céu aberto, sem protocolos de controle, organização, compactação ou proteção do meio (fig. 5). Aterros controlados Medida paliativa que possui rigidez situada entre aterros sanitários e lixões, com algum tipo de controle operacional e ambiental, porém pouco rigoroso. Usinas de incineração Queima do lixo em temperaturas altas. Ao longo do tempo, foi considerada uma alternativa nociva ao meio ambiente por gerar gases tóxicos e por desperdiçar material que poderia ser melhor aproveitado. Atualmente, discute-se sobre alternativas que reaproveitam a queima para geração de energia. 6 Composta gem Estratégia de transformação para alguns tipos de resíduos orgânicos, especialmente os domésticos. Nesse processo, a matéria é decomposta por processos físicos e químicos, com a ajuda de animais invertebrados, tais como minhocas. Fonte: Fariniuk, 2021. Figuras 4 e 5 – Aterro sanitário e lixão, respectivamente Créditos: DedMityay/Shutterstock e vchal/Shutterstock. Saiba mais Para conhecer mais sobre o funcionamento dos aterros sanitários, visite o Portal Resíduos Sólidos, em que se apresentam esquemas didáticos dessa estrutura de destinação. Disponível em: <https://portalresiduossolidos.com/aterro-sanitario/>. Acesso em: 27 set. 2021. 2.2 Destinação final de resíduos sólidos urbanos Os dados recentes do levantamento da Abrelpe mostram que, em 2019, apenas 59,5% dos resíduos sólidos gerados no Brasil possuíam uma destinação adequada, conforme as resoluções da PNRS. E atenção a essa informação, que provocará uma reflexão interessante: a pesquisa aponta que os 40,5% de RSU inadequadamente destinados impactam diretamente a saúde de mais de 70 milhões depessoas, resultando em um custo ambiental e de saúde próximo a 1 bilhão de dólares por ano. A figura 6 apresenta esse dado segmentado por tipologia de destinação e por região do país. 7 Figura 6 – Destinação final de RSU no Brasil, por tipologia e região Fonte: elaborado com base em Abrelpe, 2020. É possível observar, a partir dos dados, que, mesmo após a existência da legislação, ainda há um percentual bastante significativo de destinação incorreta dos resíduos sólidos em todas as regiões do país. Uma das causas possíveis para isso é a falta de compartilhamento de responsabilidades em toda a cadeia de produção dos resíduos. Veja o que dizem Leite e seus colaboradores em publicação de 2019: Em outros países, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, envolvendo fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores, titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, tem conseguido minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, reduzindo a disposição de resíduos sólidos no solo, o que não vem acontecendo no Brasil (Leite et al., 2019, p. 7) Nos próximos temas, aprofundaremos a questão do papel da gestão no processo de planejamento e gerenciamento de resíduos. TEMA 3 – AS LEIS AMBIENTAIS APLICADAS NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL A Constituição Federal de 1988, complementada por legislações, decretos e resoluções específica, fornece uma série de instrumentos de direcionam e estabelecem critérios para a gestão dos resíduos sólidos de diversos tipos. Neste tema, falaremos de modo panorâmico sobre as principais normalizações que regem esse processo. 8 3.1 Disposições da legislação ambiental no Brasil A legislação brasileira prevê, por meio da Constituição de 1988, em seu artigo 24, que compete à federação e aos estados a legislação sobre as questões ambientais e proteção dos recursos naturais. A principal legislação que orienta esse processo é a PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente, Lei n. 6.938/1981, a qual instituiu a criação do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Porém, de modo geral, a gestão dos resíduos sólidos na escala da cidade se dá por meio da atuação municipal, que deve ser adequada àquela proposta em nível nacional e estadual. De acordo com Santaella et al. (2014), um dos principais pontos estabelecidos pela legislação brasileira no que diz respeito aos resíduos sólidos está na PNRS está na atribuição de diversas responsabilidades ao poder público, e também na criação de instrumentos de acesso à informação para cumprimento da política ambiental. A lei também estabelece a criação do SINIR – Sistema Nacional de Informações sobre Gestão dos Resíduos Sólidos – que inclui também a gestão sobre o saneamento básico e sobre os recursos hídricos, dois tópicos que estudaremos mais à frente nessa disciplina. Além disso, a legislação da PNRS prevê a proibição da destinação de resíduos sólidos em determinados espaços (ver figura 7), o que é complementado pela Lei de Crimes Ambientais de 1998. Essa lei pune a poluição causadora de danos à saúde humana e a fauna e flora, incluindo o lançamento de resíduos de qualquer natureza (sólidos, gasosos, líquidos, oleosos) em descumprimento aos regulamentos. Figura 7 – Proibições na destinação de resíduos sólidos, conforme PNRS Fonte: elaborado com base em Brasil, 2010. 9 3.2 Algumas resoluções específicas Ao longo do tempo, diversas foram as determinações e regulamentações sobre o dejeto de resíduos sólidos no ambiente. As resoluções do Conama, em especial, principalmente ao longo dos anos 1990, determinaram uma série de especificações e normas para tipos específicos de rejeitos, a exemplo de resíduos originados nas áreas da saúde, atividade industrial e construção civil. O quadro 2 apresenta algumas dessas legislações, que, conforme nossa sugestão, podem ser aprofundadas como complementação de seus estudos. Quadro 2 – Algumas legislações e resoluções ambientais Lei Descrição Lei n. 6.938/81 e Decreto n. 99.274/90 Cria e regulamenta o Sistema de Licenciamento Ambiental. Resolução n. 1 e n. 11 do Conama de 1986 Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatórios de Impacto do Meio Ambiente (RIMA). Resolução n. 8, Conama de 1991 Dispõe sobre a incineração e poluição do ar. Lei n. 10.888, de 2001 Disposições sobre descartes de materiais perigosos, tais como pilhas e baterias, eletroeletrônicos, lâmpadas fluorescentes e materiais como chumbo e mercúrio. Resolução n. 283, Conama de 2001 Disposições sobre destinação de resíduos de saúde. Resolução n. 307, Conama de 2002 Disposições sobre destinação de resíduos da construção civil. Fonte: Fariniuk, 2021. E qual o impacto da legislação para a gestão pública dos espaços urbanos? Para refletir sobre isso, vale a pena observar como funciona a legislação de países considerados altamente desenvolvidos. Conforme explica a pesquisadora e consultora legislativa da Câmara dos Deputados Ilidia Juras (2012), na atualidade, o enfoque da gestão de resíduos deve ser em normatizar os padrões de produção e de consumo e não apenas cuidar dos modos de destinação e manejo dos resíduos originados nesse processo. Porém, a legislação brasileira de 2010 (PNRS) apresenta um avanço importante no que diz respeito às responsabilidades compartilhadas de todo o ciclo de vida dos produtos e rejeitos – no conceito de “responsabilidade estendida ou alargada” (p. 49). E isso significa uma combinação de ações educativas, 10 campanhas de conscientização e incentivo à participação de todos os entes da sociedade. Assim, vamos finalizar esse tema com a seguinte reflexão, que servirá de gancho para abordagens futuras: De acordo com essa visão, a sociedade pode ser considerada um agente importante na produção de informação em nível local e ajudar para a determinação dos dados mais fortes ou relevantes, bem como quais opções são possíveis, em relação aos estudos sobre os riscos e perigos de danos ao meio ambiente. A medida da participação social mostra-se essencial igualmente para a constatação acerca da real efetividade das políticas públicas aplicadas. Destaca-se, ainda, que as consequências positivas da participação refletem-se principalmente quando os mecanismos de diálogo com a sociedade dão-se não somente na fase de escolha e divulgação das respostas, mas também no processo de enquadramento do problema e na avaliação dos riscos, que precedem a fase de decisão (Santaella et al., 2014, p. 96). TEMA 4 – COLETA, LOGÍSTICA E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS A gestão de resíduos sólidos é um processo em cujas etapas residem diversos desafios. Neste tema, discutiremos sobre essas etapas e também sobre as formas de incrementar o ciclo de gestão com estratégias para aprimoramento da sustentabilidade social e ambiental. 4.1 Ciclo da gestão dos resíduos sólidos A gestão dos resíduos sólidos pode ser entendida como um processo cíclico, uma vez que após a fase de tratamento dos desejos, diversos materiais podem ser reaproveitados e utilizados novamente. Além disso, a destinação dos dejetos impacta, em menor ou menor grau, o meio ambiente, o que implica em consequências e respostas para a sociedade e os espaços. Podemos compreender o ciclo a partir de 5 etapas, apresentadas na figura 8 a seguir: 11 Figura 8 – Ciclo da gestão dos resíduos sólidos Fonte: Fariniuk, 2021. A geração é a etapa inicial, determinada principalmente pelos hábitos de produção e de consumo domésticos e industriais. Essa etapa se beneficia de campanhas de conscientização para minimização da geração de resíduos. Os dados de 2020 da Abrelpe apontam que, apenas em termos de resíduos orgânicos, cada brasileiro descarta 170kg de matéria anualmente – o que corresponde a mais de 45% do total de resíduosproduzidos no país. Outros tipos de resíduos em quantidade significativa na composição gravimétrica são o plástico, o papel e os metais. As tendências apontam que até o ano de 2050, a geração de resíduos sólidos no Brasil aumentará em 50%, o que implica diretamente no gerenciamento das próximas etapas desse ciclo. A etapa de acondicionamento consiste no armazenamento dos resíduos em recipientes apropriados até que se faça a coleta. O acondicionamento deve ser adequado de forma a minimizar riscos de contaminação, prevenir acidentes e minimizar impactos olfativos e visuais, além de seguir as normas da ABNT. A etapa de coleta e transporte é determinada por meio do planejamento municipal de gestão dos resíduos sólidos e pode ser segmentada em três tipologias principais: a) a coleta regular, de resíduos domiciliares e industriais, geralmente responsável por cerca de 50% dos montantes destinados a limpeza urbana; b) a coleta seletiva, de materiais que podem ser reciclados ou reutilizados e que pressupõe uma ação prévia dos cidadãos na separação e triagem dos resíduos; c) a coleta especial, relacionada a resíduos tóxicos, patogênicos, entulhos etc. Segundo Santaella (2014), o processo de transporte deve ser planejado desde a escolha e porte dos veículos até os trajetos utilizados, considerando: 12 • volume e peso do lixo diário; • sistema viário, fluxos, traçado, direção e pavimentação das vias; • zoneamento urbano, áreas de ocupação residencial, comercial e industrial e localização dos grandes produtores de resíduos, tais como feiras, hospitais e mercados; • localização de saída e recolhimento dos veículos em relação aos locais de destinação final dos resíduos; e • necessidade de estações de transbordo ou de transferência. Na etapa de tratamento, os resíduos devem passar por uma triagem a fim de destiná-los corretamente. Essa destinação poderá ser feita de diversas formas, conforme apresentamos no quadro 1 por meio de processos mecânicos (separação física de materiais), bioquímicos (reação de componentes ou ação de animais e micro-organismos), ou térmicos (ação do calor) que visam a redução do volume de resíduos gerados. A fase de reciclagem e reutilização é uma etapa de triagem que pode acontecer de modo concomitante à etapa de tratamento. Nesse processo, faz-se a valorização dos resíduos que podem ser reaproveitados ou transformados em matérias-primas para novos produtos e usos. As gestões municipais devem buscar a integração de diversos atores nesse processo, especialmente os catadores, que são responsáveis por um montante muito significativo da triagem de material com valor nas cidades. Nessa etapa, portanto, fica ainda mais visível o componente social do processo de gestão de resíduos. 4.2 A logística reversa na gestão de resíduos sólidos Logística reversa é o processo de planejamento, operação e controle dos fluxos após a venda e o consumo de produtos, no sentido inverso do ciclo, por meio de canais de distribuição. Nesse processo, pode-se agregar valor aos produtos, aos materiais e às empresas que praticam uma boa gestão desse ciclo inverso (Leite, 2002). A logística reversa é um processo originado nos processos produtivos empresariais, mas cada vez mais figura como etapa importante do planejamento na gestão municipal, pois contribui para a redução de danos dos resíduos no meio ambiente. De que forma? Por meio do recolhimento de produtos e resíduos tóxicos que são “devolvidos” ou coletados pelos fabricantes e/ou comerciantes. Esses 13 resíduos podem ser eletrônicos ou de informática, óleos, pneus, lâmpadas, eletrodomésticos e peças, câmeras fotográficas, pneus etc. Há diversos desafios na implementação de uma cadeia de logística reversas, especialmente no que diz respeito à integração entre o poder público e as empresas, conforme aponta a figura 9. Figura 9 – Desafios para a gestão da LR para resíduos sólidos Fonte: elaborado com base em Couto e Lange, 2017. Conforme apontam os pesquisadores Couto e Lange (2017), estatísticas levantadas por diversos institutos apontavam, em 2017, que diversos municípios brasileiros possuíam PEVs – Pontos de Entrega Voluntária – em que a própria população destina resíduos em locais apropriados, de maneira voluntária e podendo receber alguma contrapartida. Na ocasião, quase 80% dos municípios brasileiros possuíam PEVs para destinação de óleos utilizados, porém apenas 15% possuíam pontos de coleta de pneus e uma quantidade ainda menor de municípios (menos de 5%) possuía campanhas de destinação de eletrônicos e/ou agrotóxicos. Saiba mais Que tal conhecer um modelo proposto para a gestão pública por meio da logística reversa de resíduos sólidos? Conheça a tese da pesquisadora Karina Fernanda da Silva (2020). 14 SILVA, K. F. da. Proposta de modelo de gestão pública orientado para a sustentabilidade de cadeias de logística reversa pós-consumo de resíduos sólidos especiais. (Tese de doutorado). Programa de Pós-Graduação em Pesquisas e Administração, UFMG, Belo Horizonte, 2020. TEMA 5 – INOVAÇÃO E TECNOLOGIA PARA GESTÃO DE RESÍDUOS Inovar na gestão dos resíduos sólidos é uma tarefa desafiadora e ao mesmo tempo necessária, no sentido de aprimorar a sustentabilidade das cidades e de mitigar as mudanças climáticas. Neste tema, discutiremos algumas estratégias de inovação e utilização de tecnologias para o processo de gestão, bem como as tendências de desenvolvimento de novas alternativas, baseadas em cada vez mais compartilhamento de ideias entre atores do meio urbano. 5.1 Soluções de baixo custo e adoção de tecnologias O processo de inovação na gestão dos resíduos sólidos é uma estratégia de propulsão social e territorial e pode ser orientado por processos de inovação simples, a partir de soluções de baixo custo e/ou por meio do uso de tecnologias aplicadas às fases do ciclo de gestão dos resíduos. Vamos falar sobre cada uma dessas vertentes. Em primeiro lugar, as soluções de baixo custo podem ser entendidas como gestão criativa de resíduos, que engloba estratégias econômicas e sociais, tais como: • economia circular, que busca reaproveitar materiais dentro da própria cadeia produtiva; • utilização de iniciativas locais de incentivo à reciclagem na geração de empregos e combate à pobreza; • programas de incentivo à valorização dos materiais recicláveis e que contribuam para combater a insegurança alimentar, como os que fornecem câmbio de alimentos por kg de material descartado corretamente; e • criação de programas que utilizem “moedas verdes” para o câmbio de materiais recicláveis por outros tipos de bem material, estratégia que possui a vantagem de dinamização da economia local (Neves, 2020). 15 Em segundo lugar, as soluções tecnológicas podem ser adotadas ao longo das etapas do ciclo de resíduos, por meio de instrumentos tecnológicos ou digitais ou por inovação nos processos em si. O quadro 3 apresenta algumas dessas possibilidades. Quadro 3 – Possibilidades tecnológicas e inovadoras na gestão de resíduos sólidos Fase Estratégia Definição Coleta e Transporte Coleta subterrânea Armazenamento de resíduos no subsolo, que exigem baixa manutenção, especialmente em regiões de altas temperaturas. SIG – Sistemas de Informação Geográfica Gerenciamento e otimização do trajeto de deslocamento dos resíduos, por meio de instrumentos de automação e rastreio. Tratamento Sistemas de triagem automatizados Por meio de sensores, câmaras e espectroscopia que identifica a composição dos materiais e otimiza a classificação desses. Sistemas de autoclavagem Separação e esterilização de resíduos por meio de vapor de água. Sistema Fluffling Separação de traços orgânicos dos materiais sólidos (neste caso, a “polpa” orgânica denomina-se fluff). Vermicompostagem Utilização de vermes (minhocas) para processar resíduose gerar materiais ricos em minerais para reaproveitamento na agricultura. Reciclagem e Reutilização Biodegradação de plásticos Controle do processo de degradação de plásticos para evitar contaminação do solo. Deinking Technology Remoção das tintas dos papéis para reaproveitamento da celulose. Gaseificação Transformação da matéria de aterros em vapor que será convertido em produtos químicos, energia, combustíveis e fertilizantes. Fonte: elaborado com base em IPEA, 2021. 5.2 Tendências para o futuro da gestão de RSU Não é possível destrelar a gestão de resíduos sólidos das questões maiores que envolvem a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. A poluição e erosão do solo causada por dejetos, bem como a existência de espaços de destinação de lixo inadequados contribuem para a existência de ilhas de calor, poluição e prejuízos ao meio. Isso gera impactos negativos no solo, ar, águas, 16 fauna e a flora (sistemas esses que, conforme conversamos anteriormente, estão totalmente interligados e são influentes na qualidade de vida urbana). Figura 10 – Algumas tendências na gestão de resíduos sólidos Fonte: Fariniuk, 2021. Além dessas tendências, pode-se mencionar também a adoção de sistemas indiretos, integrados ao processo de planejamento da gestão de resíduos. Um exemplo é a utilização do método BIM – Building Information Modeling –, uma estratégia que se origina na área corporativa da construção civil e que estabelece modelos digitais de construção do planejamento. Essa estratégia pode ser utilizada no sentido de cruzar dados paramétricos e planejar a gestão de desperdícios em novos empreendimentos. Assim, contribui- se de modo indireto para o gerenciamento de dejetos, desperdícios e destinações inadequadas no meio ambiente (Costa; Oliveira, 2020). Futuramente, discutiremos a questão do abastecimento, da gestão de águas e do saneamento ambiental, aspectos diretamente relacionados ao tema do planejamento para a sustentabilidade urbana. 17 REFERÊNCIAS ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2020. Abrelpe: São Paulo, 2020. BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial: 2010. COSTA, R. M.; OLIVEIRA, M. B. As vantagens do BIM na redução da geração de resíduos. In: MAZIERO, R. Resíduos Sólidos: desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Synapse Editora, 2020. COUTO, M. C. L.; LANGE, L. C. Análise dos sistemas de logística reversa no Brasil. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 22 n. 5, p. 889-898, set/out 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-41522017149403>. Acesso em: 27 set. 2021. IPEA. Resíduos sólidos urbanos no Brasil: desafios tecnológicos, políticos e econômicos. Publicado em 9 de julho de 2020. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/artigos/artigos/217-residuos- solidos-urbanos-no-brasil-desafios-tecnologicos-politicos-e-economicos>. Acesso em: 27 set. 2021. JURAS, I. A. G. Legislação sobre resíduos sólidos: comparação da Lei n. 12.305/2010 com a legislação de países desenvolvidos. Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Brasília, 2012. LEITE, N. D. et al. Lixões, aterros controlados e aterros sanitários: o que mudou no Brasil após a publicação da Lei Federal 12.305/2010? In: 30º CONGRESSO ABES 2019. Natal, 16-19 jun. 2019. Disponível em: <http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/55137/1/2019_eve_ndleite.pdf>. Acesso em: 27 set. 2021. LEITE. P. R. Logística reserva: nova área da logística empresarial. Revista Tecnologística, mai. 2002. Disponível em: <http://www.limpezapublica.com.br/textos/logistica_reversa_- _nova_area_da_logistica_empresarial_(1).pdf> Acesso em: 2 set. 2021. NEVES, F. O. Inovações sociais e territoriais na gestão de resíduos sólidos urbanos: troca de lixo reciclável por alimentos. Sociedade & Território, v. 32, n. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.305-2010?OpenDocument 18 1, 2020. Disponível em: <https://doi.org/10.21680/2177- 8396.2020v32n1ID19446>. Acesso em: 27 set. 2021. SILVA, K. F. da. Proposta de modelo de gestão pública orientado para a sustentabilidade de cadeias de logística reversa pós-consumo de resíduos sólidos especiais. (Tese de doutorado). Programa de Pós-Graduação em Pesquisas e Administração, UFMG, Belo Horizonte, 2020.
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