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odontologia AIS - Área III - Unidade I - Volume 4 pag 80


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4
ÀREA TEMÁTICA III - AIS
AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E 
DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE 
DOS POVOS INDÍGENAS
MINISTÉRIO DA SAÚDE
PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO DE 
AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE 
(AIS) E AGENTES INDÍGENAS DE 
SANEAMENTO (AISAN)
BRASÍLIA – DF
2016
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde.
Programa de Qualificação de Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN) / Ministério da Saúde, 
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 
2016.
16 v. : il. 
Conteúdo: Área temática I – AIS e AISAN: Promoção da saúde no território indígena: Unidade I: territórios e povos indígenas no Brasil, 
Unidade II: saúde, doença e atenção nos territórios indígenas, Unidade III: políticas de saúde e atenção primária no Brasil e na saúde indígena, 
Unidade IV: promoção e educação em saúde indígena; Área temática II – AIS: processo de trabalho do agente indígena de saúde: Unidade I: 
processo de trabalho e planejamento em saúde; Área temática III – AIS: Ações de prevenção a agravos e doenças e de recuperação da saúde 
dos povos indígenas: Unidade I –Saúde da família indígena, volumes 1, 2, 3, 4, Unidade II: a saúde do jovem, do adulto e do idoso, volumes 1 
e 2, Unidade III: saúde e natureza; Área Temática II – AISAN: Prevenção e operacionalização de ações e procedimentos técnicos na área de 
saneamento: Unidade I: ambiente e saúde, Unidade II: manejo das águas, dos esgotos e dos resíduos sólidos; Área temática III – AISAN: O 
processo de trabalho do AISAN: Unidade I: produção de informação em saneamento e saúde ambiental no contexto da atenção básica aos 
povos indígenas, Unidade II: Processo de trabalho do AISAN e sua atuação na equipe de saúde.
ISBN 978-85-334-2382-4 Obra completa
ISBN 978-85-334-2393-0 Área Temática III – AIS, Unidade I, Volume 4
1. Saúde indígena. 2. Educação na saúde. 3. Formação profissional em saúde. I. Título.
CDU 614(81=082)
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2016/0327
Título para indexação
Qualification Program for Indigenous Health Agents (AIS) and Indigenous Sanitation Agents (AISAN)
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial 
– Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total 
desta obra, desde que citada a fonte. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser aces-
sada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: <www.saude.gov.br/bvs>.
Elaboração, distribuição e informações
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
Departamento de Gestão da Educação na Saúde
Coordenação-Geral de Ações Técnicas em Educação na Saúde
Diretoria de Gestão da Educação na Saúde
Esplanada dos Ministérios, bloco G, sala 725
CEP: 70058-900 – Brasília/DF
Telefone: 55 (61) 3315-3814 / 3315-3630
Site: www.saude.gov.br/sgtes
E-mails: sgtes@saude.gov.br / deges@saude.gov.br
Coordenação
Alexandre Medeiros de Figueiredo
Antônio Alves de Souza
Gleisse de Castro Fonseca
Hêider Aurélio Pinto
Mônica Diniz Durães
Rivaldo Venâncio da Cunha
Rui Arantes
Organização e revisão
Lanusa Terezinha Gomes Ferreira
Monica Diniz Durães
Rui Arantes
Coordenação pedagógica e revisão técnica
Sofia Beatriz Machado de Mendonça
Renata Palópoli Pícoli
Rui Arantes
Coordenação de área temática
Ana Lúcia de Moura Pontes
Ana Paula Massadar Morel
Érika Kaneta Ferri
Evelin Plácido dos Santos
Maurício Soares Leite
Patrícia Rech Monroe
Vânia Fernandes Rabelo
Colaboração técnica
Gleisse Castro Fonseca
Danielle Soares Cavalcante
Luciana de Oliveira Fernandes
Lucimar Correa Alves
Vera Lopes dos Santos
Revisão geral
Antônio Alves de Souza
Danielle Soares Cavalcante
Gleisse de Castro Fonseca
Lucimar Correa Alves
Vera Maria Borralho Bacelar
Colaboração
Leila Resende Castro Herculano
Luciana de Oliveira Fernandes
Maria Emilia Aracema
Vera Lopes dos Santos
Revisão SESAI
Danielle Soares Cavalcante
Élida Amorim Valentim Mourão
Flávia Carneiro Nunes
Gabriel Côrtes
Gizeli de Lima
Leticia Moreira Oliveira
Lysiane de Castro Pereira Paiva
Vera Maria Borralho Bacelar
Normalização
Delano de Aquino Silva – Editora MS/CGDI
Ilustração
Wanick Correa Flores
Capa, projeto gráfico e diagramação
MV Agência
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
2016 Ministério da Saúde.
Tiragem: 1ª edição – 2016 – 20 exemplares
Ficha Catalográfica
ÀREA TEMÁTICA III - AIS
Ações de Prevenção a Agravos e Doenças e de Recupera-
ção da Saúde dos Povos Indígenas
UNIDADE I - VOLUME 4
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
Departamento de Gestão da Educação na Saúde
PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO DE 
AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE (AIS) 
E AGENTES INDÍGENAS DE 
SANEAMENTO (AISAN)
BRASÍLIA – DF
2016
Ordenar a formação de recursos humanos para o Sistema Único de Saúde (SUS) por meio do planejamento, coordenação e apoio às atividades relacionadas ao trabalho e à educação na área de saúde 
tem sido um compromisso constante do Ministério da Saúde, sobretudo, 
a partir da criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na 
Saúde (SGTES). 
Para garantir o direito à saúde, previsto na Constituição Federal e no âm-
bito de seu escopo de atuação, a SGTES realiza parcerias com as demais 
secretarias do Ministério da Saúde, bem como com as Escolas Técnicas do 
SUS (ETSUS), docentes e profi ssionais de saúde de instituições de ensino 
e de serviços de saúde. A partir dessas parcerias, a SGTES defi ne diretrizes 
para a formação e qualifi cação dos profi ssionais, produzindo materiais di-
dáticos e de apoio ao desenvolvimento dos cursos, sob a coordenação do 
Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)/Coordenação 
Geral de Ações Técnicas da Educação na Saúde. 
Este material é uma ação conjunta entre a Secretaria de Gestão do Tra-
balho e da Educação na Saúde (SGTES) e a Secretaria Especial de Saúde 
Indígena (SESAI) em parceria com a Fiocruz Mato Grosso do Sul, a partir 
do reconhecimento da importância da missão do Agente Indígena de Saúde 
(AIS) e do Agente Indígena de Saneamento (AISAN) no contexto da quali-
fi cação das ações de saúde junto às famílias indígenas.
Os AIS e os AISAN estão distribuídos em todas as regiões do país e con-
tribuem signifi cativamente para os avanços e as melhorias da saúde dos 
povos indígenas brasileiros, principalmente nas ações voltadas à redução 
da mortalidade infantil, cobertura pré-natal, melhorias nas condições sani-
tárias, acesso à água de qualidade, acompanhamento das crianças, vacina-
ção e vigilância à saúde da população indígena em geral.
Esta iniciativa pretende, portanto, contribuir e facilitar o trabalho dos 
AIS e AISAN na desafi adora missão diária de ser um promotor de saúde 
e um agente de cidadania. Com base neste objetivo central, este material 
didático oferece subsídios para a otimização dos seus resultados e melhor 
utilização das ferramentas de trabalho disponíveis. Agradecemos a todas 
e todos que contribuíram para a elaboração do presente material didático, 
trazendo os seus conhecimentos teóricos e práticos, numa construção co-
letiva, democrática e participativa, valorizando mais ainda o resultado fi nal 
do trabalho.
Desejamos, por fi m, que este curso contribua para a qualifi cação dos 
AIS e AISAN, tornando-os mais preparados para o cumprimento de suas 
missões sociais.
SECRETARIA DE GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE
SECRETARIA ESPECIAL DE SAÚDE INDÍGENA
Anabele Pires Santos 
Nutricionista. Especialista em Saúde Indígena – UNIFESP. Doutoranda no Programa de 
Pós-Graduação em Medicina Translacional – UNIFESP. Tutora do Curso de Especialização 
em Saúde Indígena - UNASUS/UNIFESP.
Mariana Maciel Queiroz
Membro do Projeto Xingu coordenando a Área Técnica de Saúde da Mulher. Especialistaem Ginecologia e Obstetrícia - Hospital Israelita Albert Einstein, Especialista em Saúde 
Indígena – UNIFESP.
Maurício Soares Leite
Nutricionista. Mestre e doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública/ 
Fiocruz Professor adjunto do Departamento de Nutrição e do Programa de Pós-Gradua-
ção em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina.
Pablo Natanael Lemos
Cirurgião-Dentista do Projeto Xingu - EPM/UNIFESP. Especialista em Saúde Coletiva, Saú-
de Indígena e Gestão em Saúde. Mestrando em Saúde Pública - FSP/USP.
Patricia Rech Monroe
Enfermeira, especialista em Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde (FSP USP)
Mestre em Saúde Pública (FSP USP). Professor-tutor do Curso de Especialização em Saú-
de Indígena - UNASUS/UNIFESP.
Rui Arantes
Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca 
da Fundação Oswaldo Cruz-RJ (ENSP/Fiocruz). Atua como Pesquisador Assistente na 
Fiocruz Mato Grosso do Sul desenvolvendo projetos na área de saúde dos Povos Indí-
genas.
Sofia Beatriz Machado de Mendonça
Médica Sanitarista. Antropóloga. Coordenadora do Projeto Xingu, programa de extensão 
universitária da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo EPM/
UNIFESP.
Vanessa Moreira Haquim
Nutricionista do Projeto Xingu - programa de extensão universitária da Escola Paulista de 
Medicina da Universidade Federal de São Paulo EPM/UNIFESP. Especialista em Nutrição e 
Saúde na Pobreza pela UNIFESP. Mestranda em Ciências da Saúde pela UNIFESP.
TEXTO 1 - AGRAVOS E DOENÇAS MAIS 
COMUNS NA INFÂNCIA: POR QUE AS 
DOENÇAS NA INFÂNCIA PREOCUPAM?
TEXTO 2 - DESNUTRIÇÃO
TEXTO 3 - DOENÇAS DIARREICAS
15
20
38
TEXTO 4 - INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS 
AGUDAS (IRA)
TEXTO 5 - A SAÚDE BUCAL DAS 
CRIANÇAS E A CÁRIE
BIBLIOGRAFIA
59
80
84
INTRODUÇÃO 11
Nesta Unidade vamos estudar sobre as características e os papéis sociais da família; a alimentação e nutri-ção nas famílias indígenas; o ciclo de vida e as fases 
que envolvem a gravidez, o parto, puerpério, o crescimento 
e o desenvolvimento da criança. Por fi m vamos conhecer al-
guns agravos e doenças mais comuns na infância.
Vamos refl etir sobre o trabalho do Agente Indígena de Saú-
de (AIS), do Agente Indígena de Saneamento (AISAN) e da 
Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) nas ativi-
dades de prevenção, proteção e recuperação da saúde e nas 
ações de promoção da saúde junto com a comunidade, se-
tores governamentais, a sociedade indígena e não indígena.
Para atingir os objetivos propostos nesta Unidade, vamos 
conversar sobre os seguintes assuntos: 
- Agravos e doenças mais comuns na infância: desnutri-
ção, anemia, infecções respiratórias agudas - IRA, doenças 
diarreicas e cárie; sinais e sintomas das doenças mais co-
muns na infância; trabalho do AIS, AISAN e demais mem-
bros da EMSI nos cuidados e prevenção dessas doenças.
UNIDADE I - VOLUME 4
14 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena14 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
AGRAVOS E DOENÇAS 
MAIS COMUNS NA 
INFÂNCIA: POR 
QUE AS DOENÇAS 
NA INFÂNCIA 
PREOCUPAM? 
nos cinco textos a seguir, você vai estudar sobre algumas do-enças e problemas que acometem com frequência crianças 
menores de cinco anos: desnutrição e anemia, infecções res-
piratórias agudas, doenças diarreicas e cárie. Existem muitas ou-
tras doenças que afetam as crianças, mas vamos falar delas em 
outros cadernos.
Nestes textos, você vai entender:
- porquê essas doenças acometem mais as crianças;
- como fi ca o corpo doente; quais são os sinais e sintomas;
- quais são os sinais de perigo e complicações das doenças;
- o que o Agente Indígena de Saúde (AIS), o Agente Indígena 
de Saneamento (AISAN), a Equipe Multidisciplinar de Saúde 
Indígena (EMSI), a família e a comunidade podem fazer no 
acompanhamento dos casos de doenças e na prevenção em 
crianças saudáveis.
TEXTO 1
Patricia Rech Monroe e Sofia Beatriz Machado de Mendonça.
AGRAVOS E DOENÇAS MAIS COMUNS NA INFÂNCIA: POR QUE AS DOENÇAS NA INFÂNCIA PREOCUPAM? 15AGRAVOS E DOENÇAS MAIS COMUNS NA INFÂNCIA: POR QUE AS DOENÇAS NA INFÂNCIA PREOCUPAM? 15
Na sua comunidade, quais são os problemas e doenças que afetam 
as crianças? Você já deve ter percebido, na sua comunidade, que 
as crianças até cinco anos têm mais diarreia e gripe do que os 
jovens e adultos. Por que isso acontece? Leia este texto e discuta 
com seus colegas: por que crianças indígenas morrem mais que 
crianças não indígenas no Brasil?
ATIVIDADE PROPOSTA
A chamada taxa de mortalidade infantil quer dizer o número de 
mortes de menores de um ano de idade por cada 1.000 nascidos 
vivos, em um determinado lugar e ano. Serve para saber o risco 
de um nascido vivo morrer durante o seu primeiro ano de vida. 
Por exemplo, se a taxa de mortalidade infantil for de 30 por 1.000 
nascidos vivos em um país no ano de 2012, isso quer dizer que, de 
cada 1.000 crianças que nasceram em 2012, 30 delas morreram 
antes de completar um ano de vida. Podemos calcular a mortalidade 
infantil de qualquer território: um país, uma cidade, um Distrito 
Sanitário Especial Indígena (DSEI) e até mesmo uma aldeia. Para 
isso, precisamos de duas informações: total de crianças menores 
de um ano que nasceram vivas e total de crianças menores de um 
ano que morreram naquele ano.
Como você viu no texto “Como produzir informação em saúde”, 
da Área Temática I, a taxa de mortalidade infantil (também chamada 
de TMI) é um indicador que refl ete as condições de vida, o acesso 
aos serviços e a qualidade da atenção à saúde da população. Ela 
mostra o risco que uma criança tem de morrer antes de completar 
um ano. 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifi ca a TMI em 
três tipos:
1. TMI alta: acima de 50 óbitos por 1.000 nascidos vivos
Acontece em países como Afeganistão, Angola, Haiti, Paquis-
tão e Somália. Nesses países, a maioria das pessoas não tem 
acesso à água potável e a esgoto sanitário. As fezes fi cam a céu 
aberto ou em fossas, transmitindo doenças. A alimentação é 
muito fraca, as pessoas não conseguem plantar nem ter dinheiro 
para alimentar a família. 
MORTALIDADE INFANTIL DE CRIANÇAS 
INDÍGENAS NO BRASIL
16 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
Vivem em moradias muito precárias, sujas e sem coleta de 
lixo. Moram muitas pessoas aglomeradas no mesmo lugar e a 
transmissão de doenças é rápida. As pessoas convivem com 
baratas, ratos e insetos nas casas. Alguns lugares são desertos 
sem água. Outros são cidades muito cheias. 
São lugares onde acontecem muitos confl itos e guerras, com 
muitas mortes infantis causadas pela violência. O acesso aos 
serviços de saúde é muito difícil, não há profi ssionais de saúde 
sufi cientes, principalmente nas regiões mais afastadas da cida-
de. Faltam hospitais, postos de saúde, medicamentos, equipa-
mentos e materiais para o trabalho da equipe. Poucos profi ssio-
nais de saúde trabalham nesses lugares. As crianças morrem de 
todo tipo de doenças, como diarreia, pneumonia, tuberculose, 
malária, Aids e até de fome e de sede. 
2. TMI média: entre 21 e 49 óbitos por 1.000 nascidos vivos
Acontece em países como Paraguai, Egito, Bolívia, África do 
Sul e Índia. São países com uma condição geral de saneamento 
básico, segurança alimentar e acesso a serviços de saúde um 
pouco melhor, mas ainda morrem muitas crianças todo ano.
Existe muita desigualdade social, quer dizer, poucas famílias 
são ricas e conseguem ter uma boa condição de vida. A maio-
ria da população vive em condições de vida muito difíceis, não 
conseguem se alimentar bem, não tem saneamento básico nem 
acesso a serviços de saúde quando precisam. Existem poucos 
profi ssionais trabalhando nas regiões rurais, a maioria fi ca tra-
balhando nas cidades.
3. TMI baixa: abaixo de 20 óbitos por 1.000 nascidosvivos
Países como França, Noruega, Japão, Cuba e Canadá possuem 
a TMI abaixo de cinco óbitos por 1.000 nascidos vivos. Nesses 
países, existem boas condições de vida, saneamento básico 
para todos, boa alimentação, educação e acesso a serviços de 
saúde de qualidade. Todas as famílias possuem uma condição 
de vida parecida, não existem pessoas pobres, todos têm acesso 
às mesmas coisas. Mesmo nas regiões rurais e afastadas, exis-
tem equipes e serviços de saúde para todos. 
Hoje, o Brasil também está nessa faixa, com uma TMI geral de 
13 óbitos por 1.000 nascidos vivos. Mas existem regiões do Brasil 
onde a TMI está na faixa de médio risco, principalmente em regi-
ões rurais, fl orestas e municípios pequenos. 
AGRAVOS E DOENÇAS MAIS COMUNS NA INFÂNCIA: POR QUE AS DOENÇAS NA INFÂNCIA PREOCUPAM? 17
De acordo com a classifi cação da OMS, nos últimos 20 anos, os 
povos indígenas que vivem no Brasil passaram de alto risco para 
médio risco de morte no primeiro ano de vida. 
Em 1999, a taxa de mortalidade infantil indígena foi de 97 óbitos 
por 1.000 nascidos vivos no Brasil. 
Quase metade desses óbitos foram causados por doenças 
transmissíveis (infecções respiratórias, enteroparasitoses, diarreia, 
malária, tuberculose) e a desnutrição. No mesmo ano, a TMI das 
crianças brasileiras não indígenas era de 29 por cada 1.000 nasci-
dos vivos. Nessa época, morriam três vezes mais crianças indíge-
nas, comparando com as não indígenas.
Segundo o SIASI, em 2002, a TMI de crianças indígenas foi de 
55,82 por 1.000 nascidos vivos. No mesmo ano, as crianças não 
indígenas tinham uma taxa de mortalidade de 25 por 1.000, ou 
seja, proporcionalmente, o dobro de crianças indígenas morreu, 
comparadas às não indígenas.
No ano de 2009, a mortalidade infantil geral no Brasil tinha 
diminuído bastante, foi de 15 óbitos por 1.000 nascidos vivos. 
A mortalidade infantil indígena também diminuiu, mas não 
acompanhou a redução brasileira: tivemos 37,54 óbitos de menores 
de um ano, para cada 1.000 nascidos vivos, segundo o SIASI.
Em 2013, a TMI indígena foi de 43,46 por 1.000, enquanto a 
nacional foi de 15 por 1.000. Outra informação preocupante: Entre 
todos os indígenas do país, de 2007 até 2013, a cada 100 pessoas 
que morreram, aproximadamente 40 foram crianças menores de 
cinco anos. Entre os não indígenas do país, a cada 100 pessoas que 
morreram, somente cinco foram crianças menores de cinco anos. 
Algumas das principais causas de morde em indígenas menores 
de cinco anos são complicações das doenças respiratórias agudas, 
desnutrição e doenças diarreicas, além das causas externas, como 
traumas, afogamentos e agressões. Os próximos textos vão nos 
ajudar a conhecer melhor essas doenças, como elas aparecem 
entre as crianças, coimo se complicam e o que o AIS e sua equipe 
podem fazer.
De acordo com a classifi cação da OMS, nos últimos 20 anos, os 
povos indígenas que vivem no Brasil passaram de alto risco para 
médio risco de morte no primeiro ano de vida. 
Em 1999, a taxa de mortalidade infantil indígena foi de 97 óbitos 
por 1.000 nascidos vivos no Brasil. 
Quase metade desses óbitos foram causados por doenças 
transmissíveis (infecções respiratórias, enteroparasitoses, diarreia, 
malária, tuberculose) e a desnutrição. No mesmo ano, a TMI das 
crianças brasileiras não indígenas era de 29 por cada 1.000 nasci-
dos vivos. Nessa época, morriam três vezes mais crianças indíge-
nas, comparando com as não indígenas.
Segundo o SIASI, em 2002, a TMI de crianças indígenas foi de 
55,82 por 1.000 nascidos vivos. No mesmo ano, as crianças não 
indígenas tinham uma taxa de mortalidade de 25 por 1.000, ou 
seja, proporcionalmente, o dobro de crianças indígenas morreu, 
comparadas às não indígenas.
No ano de 2009, a mortalidade infantil geral no Brasil tinha 
diminuído bastante, foi de 15 óbitos por 1.000 nascidos vivos. 
A mortalidade infantil indígena também diminuiu, mas não 
acompanhou a redução brasileira: tivemos 37,54 óbitos de menores 
de um ano, para cada 1.000 nascidos vivos, segundo o SIASI.
Em 2013, a TMI indígena foi de 43,46 por 1.000, enquanto a 
nacional foi de 15 por 1.000. Outra informação preocupante: Entre 
todos os indígenas do país, de 2007 até 2013, a cada 100 pessoas 
que morreram, aproximadamente 40 foram crianças menores de 
cinco anos. Entre os não indígenas do país, a cada 100 pessoas que 
morreram, somente cinco foram crianças menores de cinco anos. 
Algumas das principais causas de morde em indígenas menores 
de cinco anos são complicações das doenças respiratórias agudas, 
desnutrição e doenças diarreicas, além das causas externas, como 
traumas, afogamentos e agressões. Os próximos textos vão nos 
ajudar a conhecer melhor essas doenças, como elas aparecem 
entre as crianças, coimo se complicam e o que o AIS e sua equipe 
podem fazer.
18 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
AGRAVOS E DOENÇAS MAIS COMUNS NA INFÂNCIA: POR QUE AS DOENÇAS NA INFÂNCIA PREOCUPAM? 19
DESNUTRIÇÃO
como já estudamos, para a biomedicina, nutrição é a ciência que estuda o conjunto de alimentos e nutrientes necessários 
para o crescimento, desenvolvimento e manutenção do corpo 
das pessoas em cada fase da vida. Quando a criança não cresce e 
não se desenvolve bem, dizemos que ela está com desnutrição.
A desnutrição é uma doença que enfraquece muito a pessoa e 
pode acontecer em qualquer idade, mas ocorre mais facilmente em 
bebês e crianças menores de cinco anos. Ela é mais grave nessa 
fase pois o corpo da criança está se formando ainda. A desnutrição 
pode deixar as crianças com problemas de saúde para o resto da 
vida, se não for tratada. 
TEXTO 2
DESNUTRIÇÃO E POVOS 
INDÍGENAS
Um tema que vem ganhando espaço nas 
discussões sobre a situação dos povos indígenas 
no país, e mais especifi camente sobre suas 
condições de saúde, diz respeito a alimentação e 
nutrição deste segmento da população brasileira. 
Os debates não se restringem aos ambientes 
acadêmicos ou aos fóruns políticos, mas chegam, 
ainda que esporadicamente, aos grandes 
jornais e televisões. Infelizmente, isso acontece 
geralmente em situações dramáticas, como no 
caso das mortes por desnutrição de crianças 
Guarani no Mato Grosso do Sul, há poucos anos, 
com mobilização imediata. 
Vanessa Moreira Haquim, Anabele Pires Santos, Mariana Maciel Queiroz, Maurício Soares Leite e 
Sofia Beatriz Machado de Mendonça.
20 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena20 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
DESNUTRIÇÃO 21DESNUTRIÇÃO 21
Responsabilidades de pessoas, de instituições 
e de partidos políticos são apuradas, e soluções 
– adequadas ou não – são rapidamente 
apresentadas e colocadas em prática. Muitas 
vezes os próprios povos indígenas são acusados 
pelos não indígenas. Não sabem cuidar de suas 
crianças, dizem os jornais. Ou não trabalham 
o sufi ciente, dizem. Ou o alcoolismo entre os 
adultos é a causa da falta de cuidado com as 
crianças. Às vezes os jornais ou a televisão 
afi rmam que sua cultura faz com que alimentem 
primeiro os mais velhos, para depois dar de 
comer às crianças. A discriminação é clara 
e só aumenta o preconceito contra os povos 
indígenas. Ou seja, contra justamente quem 
está sofrendo com as mortes. Então, tão 
rapidamente, como apareceram, estas notícias 
desaparecem dos jornais, até que novas mortes 
de crianças aconteçam.
Fonte: Modifi cado de Leite, M.S. & Santos, R.V., 2005. Desnutrição 
entre os índios. Ciência Hoje, julho de 2005, pp. 71-73. Rio de Janeiro.
Nós precisamos refl etir sobre tudo isso. Você já viu falas 
parecidas com essas? O que pensa sobre elas?
A desnutrição pode acontecer por vários motivos, principalmente 
quando a criança não se alimenta direito ou fi ca doente. Quando 
a criança não se alimenta bem, ela perde peso, deixa de crescere enfraquece. Além de enfraquecer, a criança desnutrida pode 
adoecer muito rápido. Os casos de doenças mais simples, como 
gripe, na criança desnutrida podem evoluir rapidamente para casos 
graves, como pneumonia. Nesse período, se ela não for tratada, seu 
estado de saúde fi ca muito ruim, podendo até causar morte.
22 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
O I INQUÉRITO NACIONAL DE SAÚDE 
E NUTRIÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS
Em 2009, foi realizada a primeira grande pesquisa 
sobre saúde e nutrição dos povos indígenas no Brasil. 
O I Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos 
Povos Indígenas foi muito importante por se tratar 
da primeira pesquisa que esteve em todos os DSEI 
do país. O levantamento encontrou uma situação 
muito grave: a desnutrição atingia muitas crianças 
indígenas (uma em cada três tinha desnutrição, 
entre as menores de cinco anos). A situação foi 
mais grave na região Norte do país, mas também 
era grave nos DSEI das outras regiões. Os dados 
ainda registraram muita anemia entre as crianças. 
Além disso, mostraram que existe uma grande 
desigualdade entre as condições de saúde e nutrição 
das crianças indígenas e as condições das crianças 
não indígenas. Isso quer dizer, como já vimos no 
texto sobre o perfi l epidemiológico dos povos 
indígenas, que encontraram muito mais desnutrição 
nas crianças indígenas do que nas crianças não 
indígenas. 
Quando pesquisaram a anemia, encontraram 
a mesma situação: mais da metade das crianças 
indígenas com menos de cinco anos tinha anemia. 
As crianças indígenas também eram mais atingidas 
do que as crianças não indígenas que tinham 
sido avaliadas em outras pesquisas. Isso mostra 
uma situação que precisa ser mudada com muita 
urgência.
DESNUTRIÇÃO 23
MAS POR QUE AS CRIANÇAS 
INDÍGENAS SÃO TÃO ATINGIDAS PELA 
DESNUTRIÇÃO E PELA ANEMIA?
O Inquérito também investigou os problemas e, como já dis-
semos, encontrou muitas causas. Os pesquisadores dizem que são 
muito importantes os problemas relacionados ao acesso à terra e à 
produção de alimentos pelas comunidades. Eles também mostram 
que as condições sanitárias nas comunidades pesquisadas eram 
muito precárias, muitas vezes com problemas ou mesmo a falta de 
sistemas de tratamento de água e de dejetos e de recolhimento do 
lixo. Foram registrados problemas causados pela água contamina-
da, pelas internações por diarreia e por infecções respiratórias. O 
Inquérito mostrou, ainda, que a suplementação de ferro nem sem-
pre acontecia. 
Com esse tipo de situação, muito comum entre os povos indí-
genas do Brasil, não podemos aceitar que ainda se diga que a re-
sponsabilidade ou a culpa pela desnutrição da criança é de seus 
pais. Nós estamos falando de um tipo de situação que aconte-
ce mesmo com todo o cuidado dos pais da criança; e os adultos 
também enfrentam condições que facilitam a ocorrência de prob-
lemas de saúde. Estes problemas são causas muito importantes 
de desnutrição e de anemia e precisam ser solucionados para que 
possam ser superados.
Muitos povos têm suas 
próprias explicações sobre o 
problema da desnutrição. É 
muito importante que a sua 
equipe conheça as explicações 
do seu povo. Você e sua equipe 
já conversaram sobre esse 
problema?
24 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
COMO SABER SE A CRIANÇA ESTÁ 
DESNUTRIDA?
O que é a desnutrição
A desnutrição é uma doença causada por falta de alimentação e por 
descumprimento de regras no cuidado com a família. A desnutrição é 
mais comum nos meninos e nas meninas. Também pode atingir os idosos 
e algumas mulheres gestantes. Quando um casal tem criança pequena, 
se eles fi zerem relação sexual, pode causar emagrecimento da criança. 
Isso pode causar desnutrição na criança porque ela não vai ter vontade 
de se alimentar bem; sempre que ocorrer uma epidemia de gripe ou diar-
reia, essa criança vai apresentar sintomas mais graves. Até mesmo outro 
tipo de sintomas a relação sexual dos pais pode provocar na criança. Os 
fi lhos dos pais e das famílias que não cuidam bem das crianças e quando 
os pais têm preguiça de cuidar dos fi lhos, essas crianças estarão sempre 
desnutridas. A desnutrição também acontece porque alguns rapazes e 
moças, que ainda são novos, se casam, sem saber as regras de como 
cuidar de uma criança, ou até mesmo de si próprios.
Fonte: Wâtan khwê wa nhõ twâ – Livro sobre nutrição. Agentes de Saúde e Pro-
fessores Kisêdjê. Projeto Xingu/Unifesp/MEC/UFMG, 2012.
Nem sempre é fácil saber se a criança está desnutrida. A 
desnutrição não é como a gripe, quando a criança sente mal estar, 
dores e febre. Às vezes a família só vai saber que a criança está com 
desnutrição quando ela apresenta alguma outra doença. Por isso é 
importante que a equipe e a família saibam identifi car os principais 
sinais que acontecem com a criança que está com desnutrição. 
A identifi cação e o tratamento de crianças com desnutrição 
pode ajudar a prevenir doenças graves e até mesmo evitar a morte 
da criança. Alguns casos de desnutrição podem ser tratados na 
própria aldeia, mas outros devem ser tratados no Polo Base ou nos 
hospitais. 
Como já vimos em outro momento, podemos saber que a criança 
está desnutrida através da avaliação do seu estado nutricional, ou 
seja, pesando e medindo a criança.
A comunidade percebe a desnutrição como um problema em sua 
área de abrangência? Por quê? O que o seu povo pensa sobre a 
desnutrição e como ela pode acontecer?
ATIVIDADE PROPOSTA
DESNUTRIÇÃO 25
FIGURA 1: exemplo de criança desnutrida
Se você não estudou este tema, volte no caderno sobre 
crescimento e desenvolvimento.
SINAIS E SINTOMAS DA CRIANÇA COM 
DESNUTRIÇÃO
Para entender melhor sobre o problema da desnutrição, é 
importante identifi car os principais sinais clínicos encontrados 
na criança que está desnutrida. Existem diferentes graus de 
desnutrição. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 
a criança pode ter desnutrição leve, considerada de 1o grau; 
desnutrição moderada, de 2o grau; ou ainda desnutrição grave, de 
3o grau. Dependendo do grau de desnutrição ela vai apresentar 
sinais e sintomas diferentes.
26 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
A criança desnutrida pode apresentar os seguintes sinais e 
sintomas:
• Fica magra.
• Fica MUITO magra.
• Fica sem fome.
• Fica fraca.
• Fica com a pele seca.
• Fica com os dentes malformados.
• Pode fi car inchada (com edema – em casos mais graves).
• Fica com cabelos fracos e sem cor (claros).
• Fica irritada e muitas vezes parece cansada e sonolenta.
• Fica desidratada e com muita sede.
• Não cresce como as outras crianças da mesma idade.
• Adoece muitas vezes.
É importante estar atento a todos os sinais e sintomas. Uma 
criança que estiver MUITO magra pode ter um tipo de desnutrição 
chamado marasmo. O marasmo é uma forma de desnutrição 
muito grave. A criança tem marasmo se estiver MUITO magra e 
com pouca gordura no corpo.
FIGURA 2: Crianças com desnutrição grave – sinais de Marasmo e Kwashiorkor
DESNUTRIÇÃO 27
As crianças com marasmo precisam de tratamento urgente e 
devem ser encaminhadas para um hospital. Para essa avaliação, 
retire toda a roupa da criança e observe se a criança apresenta 
os sinais clínicos de uma criança MUITO magra. Nesse caso, é 
importante observar se:
• existe pouco músculo e pouca gordura nos ombros, braços, 
nádegas e pernas;
• é possível ver facilmente o contorno das costelas;
• o quadril parece pequeno se comparado ao tórax e ao abdome.
O rosto de uma criança MUITO magra pode parecer o de uma 
pessoa velha. O abdome também pode parecer grande.
Uma criança com inchaço (edema) nos dois pés pode ter uma 
doença chamada Kwashiorkor, que é outra forma de desnutrição 
muito grave. A criança pode apresentar-se tímida, irritada, com 
cabelo fi no, pele seca e escamosa, especialmentenos braços, e 
“cara de lua cheia”. 
Observe e palpe para determinar se a criança tem edema em 
ambos os pés. Use seu dedo polegar para pressionar suavemente 
por alguns segundos o lado superior de cada pé. A criança tem 
edema se fi car uma marca funda no pé, quando você levantar o seu 
dedo polegar, que demora para voltar ao normal. Muitas crianças 
com edema em ambos os pés também estão MUITO magras.
PRINCIPAIS DOENÇAS 
A desnutrição faz com que a criança fi que doente muitas vezes, 
pois o seu corpo fi ca fraco e não tem força para se defender. As 
principais doenças que ocorrem quando a criança está desnutrida 
são:
• As infecções respiratórias agudas (IRA).
• As diarreias (agudas e persistentes).
• As parasitoses intestinais.
• A tuberculose em suas diferentes formas.
• Algumas carências nutricionais específi cas (vitamina A, ane-
mia ferropriva etc).
Para um bom acompanhamento, 
toda equipe precisa saber quem são e 
quantas são as crianças desnutridas.
28 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
IDENTIFICANDO AS CAUSAS DA 
DESNUTRIÇÃO
1. A desnutrição é um problema de saúde na sua aldeia?
2. Na sua experiência profissional, você percebe um adoecimento 
mais rápido das crianças que estão com desnutrição? Do que 
elas adoecem mais?
ATIVIDADE PROPOSTA
É importante conhecer e mapear quem são as crianças 
desnutridas da comunidade, mas isso não é sufi ciente, é preciso 
investigar cada caso para saber o que realmente está acontecendo. 
Em primeiro lugar precisamos conhecer a história dessa criança, 
perguntando para a mãe ou outros cuidadores da criança:
• A criança foi amamentada com o leite materno? Por quanto 
tempo? 
Quando a criança é amamentada com o leite materno, é mais 
difícil ela ter desnutrição, pois como vimos, o leite materno é rico 
em muitos nutrientes que ajudam a proteger a criança. Quanto 
mais a criança mama o leite da mãe, mais saúde ela vai ter.
• Quantos irmãos a criança tem? Tem outros irmãos pequenos?
Quando a criança tem muitos irmãos, pode acontecer da mãe 
não conseguir prestar atenção sufi ciente na alimentação de to-
dos os fi lhos, inclusive da criança desnutrida. Nesse caso, você 
que é agente de saúde, pode conversar com a mãe dessa criança 
para entender se isso está acontecendo e para que ela dê uma 
maior atenção à alimentação da criança desnutrida.
• A criança está sendo bem cuidada? A casa onde ela mora tem 
boas condições de limpeza? 
Conversar com a família para saber se os pais têm cumprido 
as regras tradicionais de cuidado da criança, se ela está sendo 
bem alimentada, se a família cuida da higiene da criança e da 
limpeza da casa. A criança que não está sendo bem cuidada e 
que mora num lugar contaminado tem mais chances de fi car 
desnutrida.
• A criança está comendo bem? Quais são os alimentos ofere-
cidos? Em que quantidade?
Conversar com a família para saber se a criança está comen-
do alimentos tradicionais, a variedade e a quantidade de alimen-
tos oferecidos, quantas vezes por dia a criança está comendo, se 
não está faltando alimentos na casa, se a família oferece alimen-
tos industrializados e perigosos para a saúde da criança.
DESNUTRIÇÃO 29
COMO SABER SE A CRIANÇA ESTÁ 
COMENDO BEM?
Saber que a criança está se alimentando não é sufi ciente, 
precisamos investigar o que ela está comendo e o quanto ela está 
comendo! 
Para isso, podemos perguntar à mãe ou ao responsável pela 
criança como foi a alimentação dela em alguns dias anteriores. 
Exemplo:
• Ela comeu algo durante a manhã? O que? Qual quantidade?
• Ela comeu algo no meio do dia? O que? Qual quantidade?
• Ela comeu algo durante a tarde? O que? Qual quantidade?
• Ela comeu algo durante a noite? O que? Qual quantidade?
• Ela comeu algo antes de dormir? O que? Qual quantidade?
É preciso procurar entender quais são 
as causas da desnutrição!
Veja o que, para os Yudjá, no Parque Indígena do Xingu, causa a 
desnutrição:
O que é e o que provoca a desnutrição?
A desnutrição é provocada pela falta de uma alimentação completa e sau-
dável. Também é causada pela falta de frutas. Se a criança comer alimen-
tos contaminados e sujos, se não tiver um bom saneamento básico e não 
tiver higiene domiciliar e higiene na aldeia, ela vai fi car doente e pode fi car 
desnutrida. O casamento precoce, quando os pais são muito novos e não 
sabem cuidar dos fi lhos, causa desnutrição. A falta de escovação também 
pode causar desnutrição, porque com cárie e dor de dente a pessoa não se 
alimenta bem. É importante também lavar as mãos antes de comer e depois 
de fazer cocô para evitar doenças. Os pais também precisam respeitar as 
regras durante o período de resguardo, quando as crianças são pequenas.
Fonte: Atxuã seha. Nutrição. Agentes de Saúde e professores Yudja. Projeto Xingu/
Unifesp/MEC/UFMG, 2012.
• A criança tem apresentado sintomas de alguma doença?
Conversar com a família para saber se a criança apresenta 
sintomas de alguma doença (febre, dores, diarreia, vômito, cho-
ra demais, feridas, cansaço, etc). Se a família contar sobre algum 
desses sintomas, a criança precisa ser examinada. Como já vi-
mos, a criança desnutrida tem mais facilidade de pegar qualquer 
doença”.
30 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
COMO ENFRENTAR A DESNUTRIÇÃO?
Em primeiro lugar, é preciso que toda a equipe conheça o que 
seu povo pensa sobre a desnutrição, alimentação e saúde. Para 
isso é preciso fazer muitas conversas com as comunidades.
Vigilância nutricional e alimentar
A equipe de saúde deve fazer vigilância alimentar e nutricional nas 
aldeias, pesar as crianças todos os meses, acompanhar as crianças 
desnutridas e em situação de risco e acompanhar a alimentação de-
las. Deve informar a família sobre o estado nutricional, explicar para a 
família oferecer alimentos balanceados e respeitar as regras para não 
deixar acontecer desnutrição na criança. Cuidar dos produtos da roça 
para sua família e para outras famílias, que também podem cuidar dos 
seus alimentos. Nós, Agentes Indígenas de Saúde (AIS), também temos 
o dever de acompanhar e cuidar das crianças, mas não somos só nós, os 
agentes de saúde, que devemos fazer este trabalho. Os caciques, as re-
presentantes das mulheres, os professores e os conselheiros das aldeias 
precisam ajudar no trabalho dos AIS, fazer o trabalho em conjunto com 
os caciques na conscientização da comunidade, para que as pessoas fa-
çam roças para alimentar as famílias. Os professores também precisam 
fortalecer o trabalho dos AIS e dos agentes de manejo na plantação das 
frutas para nossas crianças em nossas aldeias. A equipe de saúde não 
indígena deve trabalhar direito, orientar a comunidade sobre doenças e 
alimentação, ajudando os AIS a explicar sobre os problemas de saúde e 
alimentação para a comunidade. As pessoas que têm salário precisam 
comprar somente alimentos bons para sua família e coisas boas.
Fonte: Koa ka’arana ore jemu’e awera imome’wara. Agentes de Saúde e professo-
res Kawaiwete. Projeto Xingu/Unifesp/MEC/UFMG, 2012.
Muitas vezes é difícil obter todas essas respostas.Nesse 
momento, é importante perguntar para a mãe ou o responsável 
se a criança está comendo os alimentos tradicionais que são 
adequados para a idade dela de acordo com as regras do seu povo. 
A visita domiciliar é um bom momento para fazer essas perguntas 
e observar como a criança vive. 
Uma das estratégias para entender o que está acontecendo com 
a criança é observá-la e acompanha-la desde que ela acorda até 
ela dormir. Fazer uma história do dia da criança e anotar tudo o 
que ela comeu, quem ofereceu, o que ela fez etc. Essa observação 
pode revelar muitas coisas, inclusive quem pode ajudar a tratar a 
criança. Às vezes pode ser a avó, ou a tia, porque os pais estão 
com outros problemas ou outras crianças para cuidar. Em alguns 
casos a criança pode estar tomando café antes de comer o beiju 
e comisso perde a fome e não come bem. Tudo isso precisa ser 
mapeado, investigado. Por isso, você deve conhecer todas as 
crianças desnutridas de sua aldeia e área de abrangência. 
DESNUTRIÇÃO 31
A IMPORTÂNCIA DA CONVERSA COM 
A COMUNIDADE
A conversa com a comunidade pode ajudar muito a equipe na 
identifi cação das causas da desnutrição e também no planejamento 
de soluções para os problemas. Uma forma de conversar coma 
comunidade sobre o problema da desnutrição e sobre outros 
problemas de saúde é construir junto com os membros da 
comunidade a rede explicativa, onde vai ser feita uma refl exão 
sobre a origem e as explicações do problema.
Se a desnutrição foi identifi cada como um problema na sua 
comunidade, use as seguintes perguntas para montar a rede 
explicativa:
• Qual é o problema de saúde?
• Por que a desnutrição é um problema?
• Por que acontece a desnutrição?
Depois é importante criar com a comunidade um plano de 
soluções para os problemas identifi cados na rede explicativa com 
propostas de ações em diferentes locais envolvendo as instituições 
relacionadas à saúde e outros setores:
• Aldeia
• Polo base
• DSEI
• Outros setores
Veja a seguir um exemplo das explicações da desnutrição e o 
plano de soluções que foi elaborado por um povo de um DSEI do 
Mato Grosso:
O acompanhamento do estado nutricional (pesar e medir) das 
crianças deve ser realizado mensalmente sempre que possível. 
Assim podemos perceber se a criança está perdendo peso ou 
deixando de crescer. Acompanhar o crescimento da criança é 
muito importante, pois quando percebemos que a criança não está 
ganhando peso, podemos agir em conjunto com a comunidade, 
a família e a equipe de saúde para que essa criança não fi que 
desnutrida. Quando a criança está com MUITO baixo peso, o 
acompanhamento deve ser feito com um intervale menor, por 
exemplo de quinze em quinze dias, ou até semanalmente se 
necessário, para que seja acompanhada com maior cuidado, 
observando como está sua alimentação e ajudando a criança a 
ganhar peso mais rápido.
32 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
DESNUTRIÇÃO 33
34 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
Alguns povos indígenas elaboraram propostas conjuntas de 
enfrentamento da desnutrição, propondo a criação de animais 
domésticos como galinhas ou peixes, para comer em tempos de 
muita chuva e pouca comida. Fizeram projetos para recuperação 
das terras para o plantio. Mobilizaram os jovens para derrubar e 
plantar roças comunitárias. Plantar hortas e árvores frutíferas 
no entorno das aldeias. Cuidar e proteger as crianças que estão 
mais vulneráveis ou em risco de ter desnutrição. Existem muitas 
estratégias de enfrentamento do problema da desnutrição, mas é 
importante saber que elas devem ser construídas em conjunto: a 
equipe de saúde junto com a comunidade e com outros setores, 
como a escola, a Fundação Nacional do Índio (Funai), as associações 
indígenas, as Organizações Não Governamentais (ONGs), os 
municípios, entre outros.
1. Como é uma alimentação saudável para as crianças do seu 
povo?
2. Você vai observar o dia de uma criança de dois a sete anos 
na sua aldeia. Escolha uma criança nessa faixa de idade e 
acompanhe o dia dela desde que ela acorda até ela dormir, à 
noite. Observe o que ela faz, como ela brinca, com quem ela 
brinca, quem cuida dela, quem dá comida para ela, o que ela 
come, até ela dormir novamente.
3. Faça um relato desta observação, discuta o caso com seus 
colegas e apresente na próxima etapa, em sala de aula.
ATIVIDADE PROPOSTA
Veja no quadro a seguir como avaliar a criança com desnutrição 
e o que fazer em cada situação. Procure ler e estudar junto com 
seus colegas e com a equipe de saúde de seu Polo Base. Vocês 
podem planejar as ações educativas e de acompanhamento dos 
casos de desnutrição em sua área de abrangência.
Lembre-se, sempre, de conversar com 
a equipe sobre os casos de desnutrição. 
Muitas vezes as pessoas apenas registram 
os dados nos formulários e fi chas e se 
esquecem de acompanhar as crianças.
DESNUTRIÇÃO 35
36 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
DESNUTRIÇÃO 37
DOENÇAS 
DIARREICAS
TEXTO 3
OBJETIVOS
• Entender porquê as doenças diarreicas acontecem mais nas 
crianças;
• Estudar como fi ca o corpo doente, quais são os sinais de peri-
go e as complicações da diarreia
• Compreender e refl etir sobre o papel do AIS, AISAN, da EMSI, 
da família e da comunidade nas ações de recuperação, prote-
ção, prevenção e promoção da saúde, relacionadas às doen-
ças diarreicas.
Você já acompanhou crianças com diarreia na sua comunidade? 
Conte como foi seu trabalho e da EMSI. 
Conte o que aconteceu com a criança e a família.
Para seu povo, por que a diarreia acontece?
Existem tratamentos tradicionais para diarreia? 
Existem cuidados para a criança não pegar diarreia?
ATIVIDADE PROPOSTA
Patricia Rech Monroe e Sofia Beatriz Machado de Mendonça.
38 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena38 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
DOENÇAS DIARREICAS 39DOENÇAS DIARREICAS 39
A TRANSMISSÃO E OS FATORES DE 
RISCO DAS DOENÇAS DIARREICAS
No mundo inteiro, a diarreia acontece principalmente em famílias 
e comunidades que moram em lugares onde não há saneamento 
básico com água potável e esgoto; que não conseguem ter uma boa 
alimentação por falta de dinheiro ou falta de recursos naturais para 
plantar, pescar e caçar; e que não recebem uma boa assistência à 
saúde, lugares onde não há equipes de saúde, estrutura, materiais 
e equipamentos para o trabalho de saúde. A doença é uma das 
maiores causas de adoecimento e morte, principalmente em 
crianças abaixo de dois anos e idosos. As diarreias são causadas 
por vários tipos de micro-organismos, como bactérias, vírus e 
protozoários, e por vermes. Os micróbios (ou micro-organismos) 
causadores de diarreia são seres vivos muito pequenos, invisíveis 
para os nossos olhos. Eles vivem no intestino do ser humano e 
podem viver em todo o ambiente: na terra, na água, nas plantas, em 
animais e nos objetos que usamos. Os vermes vivem no ambiente, 
na terra, dentro de animais e de seres humanos. 
No texto “Saúde e Natureza” você vai conhecer melhor 
os tipos de micróbios (também chamados de micro-
organismos) e de vermes. Vai estudar como os cientistas 
não indígenas descobriram que eles existem, o ciclo de vida 
e também muitas doenças causadas por eles. 
A transmissão da diarreia acontece de muitas formas. Nas 
diarreias causadas por vermes e micróbios, a transmissão acontece 
pela via fecal-oral, quer dizer, a pessoa doente contamina o 
ambiente com suas fezes e a pessoa saudável leva até a boca o 
micróbio ou verme causador da doença, sem perceber.
As fezes da pessoa doente podem contaminar a água dos 
rios, lagoas e poços; a terra, as plantas e a roça; os animais que 
se alimentam de plantas; o terreno em volta das casas; a rede, 
colchão, roupas, toalha, lençol e cobertor que a pessoa doente usou. 
Quando a pessoa doente não lava bem as mãos depois de evacuar, 
os micróbios das fezes fi cam na sua mão e ela pode contaminar 
qualquer objeto que pegar, como os utensílios de cozinha, incluindo 
panela, balde, cuia, copos, prato, colher; os acessórios de banheiro, 
como vaso sanitário, botão de descarga, torneira, maçaneta da 
porta; toalhas, roupas, ferramentas e brinquedos. 
40 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
A contaminação acontece quando os micro-organismos são transportados 
de um lugar para outro lugar ou objeto, em quantidade sufi ciente para causar 
a doença, se a pessoa entrar em contatocom os micro-organismos neste 
novo lugar. Por exemplo, na frase “a pessoa sujou suas mãos com fezes e 
contaminou a maçaneta da porta e os copos em cima da mesa”. 
Usamos a palavra transmissão para dizer que uma doença passou de um 
organismo para outro, pode ser de um animal para um ser humano ou entre 
os seres humanos. Por exemplo: “a criança mais velha, que estava doente, 
transmitiu a diarreia para seus irmãos”.
As moscas, abelhas, formigas, baratas, ratos, gatos e cachorros 
podem passar pelas fezes de uma pessoa doente e depois 
contaminar alimentos, água armazenada em casa e objetos.
Nas diarreias causadas por vírus, a transmissão acontece 
também pelo contato direto, isto é, de uma pessoa doente para 
outra, pela saliva, espirro e tosse. Por isso, os casos de diarreia 
por vírus aumentam rápido e podem chegar a uma epidemia na 
comunidade e na Terra Indígena.
A mulher doente que não lava as mãos depois de evacuar pode 
transmitir a doença para o bebê quando vai amamentar, porque ela 
mexe nos seios e no bebê com a mão contaminada.
comunidade e na Terra Indígena.
FIGURA 3: formas de transmissão
DOENÇAS DIARREICAS 41
A complicação mais rápida e perigosa 
da diarreia é a desidratação.
O que você acha que acontece no corpo humano quando ele está 
com desidratação? Por que ela é perigosa?
ATIVIDADE PROPOSTA
A ÁGUA EM NOSSO ORGANISMO: 
CONCEITO DE HIDRATAÇÃO E 
DESIDRATAÇÃO
No conhecimento da biomedicina, o corpo humano é formado 
por várias estruturas e órgãos. O corpo também é formado por 
água. Ela está em todas as partes do corpo e no sangue. Todos os 
líquidos que bebemos têm água: suco, água de coco, mingau, leite, 
chá. As frutas também têm muita água misturada nelas. Algumas 
raízes, como a mandioca, batata, cará, cenoura, inhame, têm 
bastante água também e todos os outros alimentos sempre têm 
um pouco de água.
Depois que ingerimos qualquer tipo de líquido e alimento, a 
água é absorvida no intestino durante a digestão. Então ela vai para 
a corrente sanguínea e se mistura com o sangue, que é composto 
por aproximadamente 85% de água.
A água presente no sangue passa por todas as partes do nosso 
corpo, órgãos e tecidos, até chegar em todas as células. Ela ajuda 
a transportar nutrientes, hormônios e anticorpos pelo sistema 
linfático e circulatório. E ajuda a retirar as toxinas e venenos que as 
células produzem. 
A diarreia é uma doença que começa com a alteração repentina 
(que aparece de repente) no hábito intestinal. Acontece um 
aumento da frequência (do número de vezes) das evacuações, 
junto com uma diminuição da consistência das fezes, que fi cam 
líquidas ou semilíquidas. Dizemos que a pessoa está com diarreia 
quando ela faz cocô mais vezes que o normal e mais mole que o 
normal. Em alguns casos, aparece muco (um tipo de catarro) e 
sangue nas fezes. A pessoa também pode ter náusea, vômito, febre 
e dor abdominal.
42 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
O sangue também passa pelos rins, que são um tipo de fi ltro. 
Neles, toda a toxina que o corpo produz normalmente é misturada 
com a água do sangue e eliminada pela urina.
Podemos dizer que a água em nosso corpo é um tipo de solvente, 
ela está misturada ao sangue, levando os nutrientes e retirando as 
toxinas em todo o organismo. 
Veja na imagem algumas funções importantes da água em nosso 
corpo:
FIGURA 4: funções da água no organismo humano
Em um homem adulto, o organismo precisa de quatro litros 
de água para realizar bem todas essas funções. Pelo sistema 
circulatório, o sangue faz passar por nossos rins um volume total 
de 1.500 litros de água a cada dia.
A quantidade de água no corpo das crianças, proporcionalmente, 
é maior do que nos adultos: as crianças de até dois anos têm 80% 
de água na composição do corpo. Entre 20 e 40 anos de idade, 
a pessoa tem 60% de água na composição do corpo. Quando as 
crianças estão com diarreia e vômito perdem mais líquidos que os 
adultos. 
DOENÇAS DIARREICAS 43
FIGURA 5: gráfi co como a água entra em nosso corpo
FIGURA 6: gráfi co como a água sai do nosso corpo
Por isso é preciso fi car muito atento quando uma criança está 
com diarreia. 
Vamos olhar dois gráfi cos: o primeiro mostra de que maneiras a 
água entra em nosso corpo. O segundo mostra como eliminamos 
a água do corpo, quer dizer, de que formas ela sai do nosso corpo. 
Veja os gráfi cos e converse com outros AIS da sua turma sobre o 
que vocês entenderam.
44 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
Isso é importante para entender o conceito de hidratação 
e desidratação. Dizemos que o organismo está hidratado 
quando ele tem água sufi ciente para fi car saudável e manter 
o bom funcionamento dos órgãos. O organismo desidratado 
está com pouca água, que não é sufi ciente para manter um bom 
funcionamento de todos os órgãos. 
Quando ingerimos a mesma quantidade de água que sai do nosso 
corpo, conseguimos manter nossa hidratação, fi camos hidratados. 
Quando perdemos muita água pelas fezes, urina, transpiração ou 
respiração e não ingerimos o sufi ciente para repor, nosso corpo fi ca 
desidratado. 
SINAIS E SINTOMAS DA DESIDRATAÇÃO
Como podemos saber quando uma pessoa está desidratada? 
 Você já deve ter visto uma planta seca por causa da falta de 
chuva ou porque alguém se esqueceu de molhar. Como ela fica? 
Ela fica diferente da planta normal? Por quê?
ATIVIDADE PROPOSTA
O que você viu de diferente na planta seca, são os sinais de que 
ela não está normal.
Quando o corpo humano está desidratado, também aparecem 
sinais de desidratação, aquilo que conseguimos enxergar de 
diferente no corpo da pessoa doente.
Sinais de hidratação: a criança está bem hidratada quando seus 
olhos têm lágrimas e estão úmidos e brilhantes; a boca tem saliva 
e a língua está úmida; a pele está fi rme; a quantidade de urina está 
normal; o batimento do coração está normal; a respiração está 
normal; e ela não tem sede. A criança está alerta, presta atenção, 
olha e brinca quando conversamos com ela.
DOENÇAS DIARREICAS 45
Sinais de hidratação: a criança está 
bem hidratada quando seus olhos têm 
lágrimas e estão úmidos e brilhantes; a 
boca tem saliva e a língua está úmida; 
a pele está fi rme; a quantidade de urina 
está normal; o batimento do coração 
está normal, a respiração está normal e 
ela não tem sede. A criança está alerta, 
presta atenção, olha e brinca quando 
conversamos com ela. 
FIGURA 7: sinais de 
hidratação
Sinais de desidratação: quando a criança 
está desidratada, sua boca e língua fi cam 
secas; os olhos fi cam fundos, sem brilho e 
secos; quando a criança chora, sai poucas 
lágrimas e pode até mesmo parar de sair 
lágrimas. A pele fi ca parecendo borracha, 
quando seguramos a pele com nosso dedos, 
fazendo uma prega, ela demora pra voltar 
ao normal. A criança faz pouco xixi e pode 
até mesmo parar de urinar. Ela fi ca com 
muita sede. A criança fi ca mais sonolenta 
ou irritada. Em casos graves, o batimento 
do coração fi ca mais rápido e a respiração 
fi ca mais profunda e rápida. Ela pode fi car 
prostrada, com o corpo mole e caidinha, 
com os olhos parados e não reage quando 
conversamos com ela. FIGURA 8: sinais de 
desidratação
É muito importante o AIS e as 
famílias conhecerem os sinais de 
desidratação, para fi carem alertas 
e avisarem a EMSI sempre que 
uma criança com diarreia fi car 
desidratada.
FIGURA 7: sinais de
46 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
TIPOS DE DOENÇAS DIARREICAS
Outra complicação importante da diarreia nas crianças é 
a desnutrição, principalmente quando acontecem episódios 
repetidos e frequentes de diarreia. Você já estudou sobre as 
complicações da desnutrição e como ela pode deixar a criança 
mais vulnerável às doenças. Mais à frente vamos estudar sobre o 
ciclo vicioso da diarreia e desnutriçãojuntas.
Na biomedicina, falamos que as diarreias podem ser de três 
tipos, depende do tempo de duração da doença:
• Diarreia aguda: a pessoa doente tem sinais e sintomas de um 
até 14 dias.
• Diarreia persistente: é quando a diarreia se prolonga por mais 
de 14 dias, até 30 dias.
• Diarreia crônica: é aquela diarreia que continua por mais de 
30 dias com os sintomas ou tem três ou mais episódios de 
diarreia aguda no período de 60 dias. 
1. Diarreia aguda
É o tipo de diarreia mais comum. É uma doença autolimitada, 
ou seja, sua duração é de um a 14 dias, em média uma semana, e 
termina mesmo quando não é feito um tratamento específi co.
As causas mais comuns de diarreia aguda são:
• Vírus: o mais frequente é chamado de Rotavirus.
• Bactérias: existem muitas bactérias, ou as toxinas (veneno) 
que elas produzem que podem causar diarreia. A mais conhe-
cida é a Escherichia coli.
• Protozoários: o mais comum é a Giardia lamblia.
• Remédios: em algumas pessoas, remédios que são usados 
para tratar outras doenças podem provocar diarreia. Por 
exemplo: alguns antibióticos, como a amoxicilina.
• Alimentos: existem alguns alimentos que podem causar diar-
reia, principalmente se forem ingeridos em grande quanti-
dade. Por exemplo: açúcar, balas e doces; gordura como a 
gordura da carne, óleo para cozinhar; frutas que não estão 
maduras, leite de vaca; pequi; açaí. Outro tipo de diarreia 
causada por alimentos é a intoxicação alimentar. Ela aconte-
ce quando ingerimos alimentos estragados, ou seja, apodre-
cidos ou contaminados por micro-organismos durante o seu 
preparo (pelas mãos ou utensílios contaminados) e pela má 
conservação de alimentos que fi cam expostos muito tempo 
ao calor e ao ar. As bactérias são os micro-organismos mais 
comuns nas intoxicações alimentares, como a Salmonella.
DOENÇAS DIARREICAS 47
• Estado emocional: algumas pessoas quando fi cam muito ner-
vosas sentem dor de barriga e têm diarreia, mas em geral, 
nestes casos, ela passa rápido.
• Outras doenças: às vezes a diarreia é uma alteração inicial de 
outras doenças, como malária, pneumonia e infecção urinária.
No quadro de diarreia aguda, o intestino reage e fi ca infl amado, 
aumentando os movimentos peristálticos.
Movimentos peristálticos são movimentos involuntários, 
realizados pelos músculos do tubo digestivo (intestinos e 
esôfago). Esses movimentos de contração e relaxamento 
dos músculos empurram devagar o bolo alimentar pelo tubo 
digestivo, para que a digestão aconteça no local certo. 
Na diarreia, os movimentos estão empurrando todo o conteúdo 
do intestino bem rápido, não há tempo para absorver a água, 
nutrientes e os sais minerais como o sódio e potássio. Com isso, 
aumenta o número de evacuações e as fezes fi cam mais moles, até 
mesmo líquidas.
A principal complicação da diarreia é a 
desidratação causada pela perda rápida de 
água nas fezes. Por isso, o tratamento principal 
é manter a criança bem hidratada, ou seja, 
recebendo líquido sufi ciente para seu organismo 
continuar funcionando bem. 
Fatores de risco para a criança ter diarreia:
• Não ter água potável (tratada) para beber
• Não ter boa higiene pessoal e na casa
• Criança que para de mamar o leite materno antes de comple-
tar seis meses
• Criança que nasce com peso baixo (menor que 2.500 Kg)
• Criança desnutrida tem mais diarreia e, quando tem, é mais 
grave
O que o profi ssional da EMSI examina e avalia no paciente com 
diarreia:
Conversando com a família e com o doente. Perguntar sempre:
• Qual a idade do paciente?
• Que dia começou a diarreia?
48 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
• Quantas vezes evacuou hoje?
• Quantas vezes evacuou no dia anterior?
• As fezes estão amolecidas ou líquidas?
• Está piorando ou melhorando?
• Apareceu sangue ou muco (catarro) nas fezes?
• Ele comeu alguma coisa diferente?
• Ele está vomitando? Quantas vezes por dia? 
• Está vomitando só agua ou alimentos?
• O paciente está apresentando outros sinais e sintomas, como 
dor de barriga, dor de cabeça, fraqueza, pouca vontade de co-
mer ou mamar?
• O paciente teve febre?
• O paciente tem sede?
• O paciente está fazendo xixi?
• O paciente já teve diarreia antes? Há quanto tempo foi isso?
• Tem mais gente na casa com os sintomas? 
Examinando o doente. No exame físico, o profi ssional da EMSI 
verifi ca:
• Peso e estado nutricional: teve perda de peso depois que co-
meçou a diarreia? Está desnutrido ou eutrófi co?
• Estado geral: o paciente está ativo, atento, tranquilo, irritado, 
desanimado, sonolento ou caidinho e mole (prostrado)?
• Temperatura: tem febre?
• Boca e língua: a boca e a língua estão úmidas ou secas?
• Olhos: estão normais ou fundos? Quando chora tem lágrimas 
ou o olho está seco?
• Prega da pele: quando faz a prega da pele, ela volta rápido ou 
demora? 
FIGURA 9: fazendo a prega da pele: segure a pele entre dois dedos, assim… Se a pele 
não voltar logo ao normal, a pessoa pode estar desidratada.
DOENÇAS DIARREICAS 49
• Frequência cardíaca: está normal ou aumentada?
• Frequência respiratória: está normal ou o paciente está can-
sado, com respiração rápida e difícil?
• Abdome: o ruído dos movimentos peristálticos está aumen-
tado? Dói quando aperta?
• Mãos e pés: estão quentes ou frios? Estão úmidos e suados?
• Fontanela (moleira) em bebês: está normal ou está funda?
Tratamentos
A diarreia aguda é uma doença autolimitada, a maioria dos casos 
não é tratada com medicamentos. 
O tratamento mais importante é manter a criança bem 
hidratada e evitar a desidratação, que pode matar! Se não é feita 
a reposição de água e de sais minerais, o corpo da criança entra 
em um quadro perigoso de queda de pressão arterial, perda 
de consciência, convulsões, coma, falência de órgãos, parada 
cardíaca e morte.
Plano 1: tratamento do paciente sem desidratação 
O que fazer:
- Pesar a criança duas vezes ao dia – pela manhã e à tarde, todos 
os dias, enquanto durar a diarreia. Anotar o horário e o peso.
- Avisar a EMSI da sua área ou Polo Base assim que puder, pas-
sando o caso. 
- Explicar para a família a importância de dar mais água, min-
gau, suco natural, chá ou leite materno para a criança.
- Após orientação da equipe, dar soro de reidratação oral (enve-
lope) ou soro caseiro após cada evacuação (usar colher, copo, 
cuia ou seringa):
• Crianças até seis meses - dar 50 ml
• Crianças de seis meses a um ano - dar 100 ml
• Crianças de um a dois anos - dar 150 ml
• Crianças acima de 2 anos - dar 200 ml
- Lembre-se de que a criança pode sentir náusea e não conse-
guir tomar o soro, por isso ele deve ser dado para a criança 
bem devagar, um pouquinho de cada vez.
- Anotar o horário e a quantidade de soro que a criança tomou. 
- Anotar o horário quando a criança urinar, evacuar, vomitar ou 
se alimentar.
50 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
DOENÇAS DIARREICAS 51
Plano 2: tratamento do paciente com pouca desidratação
O que fazer:
- Pesar a criança duas vezes ao dia – pela manhã e à tarde, todos 
os dias, enquanto durar o quadro diarreico. Anotar o horário 
e o peso.
- Avisar a EMSI da sua área ou Polo Base. A criança deve ser 
acompanhada pela equipe. Ou a equipe se desloca para sua 
aldeia ou a criança deve ser encaminhada para o Polo Base ou 
Unidade Básica de Saúde. A EMSI deve iniciar a Terapia de 
Reidratação Oral (TRO).
- Iniciar a TRO: a criança deve receber o soro oral (de envelope 
ou caseiro) na dose correta, que é de 50 ml/kg no período de 
4 a 6 horas. Por exemplo, uma criança de 6 kg precisa tomar 
300 ml no período de 4 a 6 horas para repor a água e os sais 
minerais (sódio e potássio) que está perdendo.
- A criança deve receber o soro oral aos poucos, em pequenas 
quantidades, várias vezes, para não vomitar. Pode ser usada 
colherzinha ou seringa.
- Anotações e balanço hídrico: o profi ssional deve anotar o ho-
rário em que a TRO começou,a quantidade de soro que a 
criança tomou e o horário de cada tomada. Ao fi m de 4 ou 
6 horas a criança precisa tomar toda a quantidade calculada 
para o seu peso.
- Deve-se anotar também a hora e a quantidade aproximada 
de urina e fezes que a criança eliminou. Se a criança mamar, 
comer ou vomitar, também deve ser anotado. 
- Se a criança vomitar, esperar 10 minutos para continuar o soro.
- Passar para a equipe todos os registros que você fi zer durante 
o dia sobre o que a criança ingeriu e eliminou.
- A criança que é amamentada pode continuar recebendo o lei-
te da mãe à vontade. A criança mais velha pode continuar 
tomando normalmente outros líquidos naturais que a famí-
lia oferecer: água, mingau, suco natural, chá, água de coco. O 
refrigerante, suco em pó e suco de caixinha não podem ser 
oferecidos enquanto a criança estiver doente. Esses produtos 
não hidratam bem e muitas vezes pioram a diarreia. 
Se a criança começar a apresentar qualquer sinal ou 
sintoma da situação 2 (veja o quadro anterior), é preciso 
começar o plano de tratamento 2.
52 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
“Quando a equipe de saúde, junto com o AIS, sabe explicar 
bem sobre a importância do soro oral, sobre a doença e o 
que a desidratação faz no corpo da criança, a família entende 
que o soro é um tipo de tratamento... É remédio mesmo, não 
é só água para encher a barriga da criança... Mas precisa 
paciência para explicar, mostrar a doença no fi lme, na foto... 
Tem mãe que não quer dar o soro porque ela acha que a 
diarreia vai piorar com essa água. Na nossa cultura, não é 
bom tomar água pura quando tem diarreia, isso é novidade 
para nós. Pode tomar mingau e alguns tipos de sucos, não 
é qualquer fruta que pode. Mas se a gente explicar do jeito 
certo e se mãe ver que tem um resultado, que a equipe fi ca lá 
com a criança direto, dando o soro devagar e acompanhando, 
ela vai confi ar. Mas se o enfermeiro vai lá na casa, deixa uma 
jarra de soro com a mãe e vai embora, para ela isso é igual a 
uma jarra de água mesmo”. 
Fonte: Depoimento de AIS. Relatório de ofi cina de vigilância da saúde, Projeto Xingu/
UNIFESP, 2004
A Terapia de Reidratação Oral (TRO) deve ser feita sempre por uma 
pessoa da equipe. O AIS que recebeu treinamento pode fazer junto com os 
outros membros da EMSI. Durante a TRO, o soro oral não deve ser entregue à 
família, porque é um tratamento supervisionado. O profi ssional precisa dar a 
dose certa e anotar todas as vezes que a criança tomou, recusou ou vomitou. 
Quando a TRO é feita de forma supervisionada, aumenta muito a chance de 
a criança se recuperar e não fi car com desidratação grave, que pode matar.
Assim, a equipe tem um controle do balanço hídrico, ou seja, 
da quantidade de água ou líquidos que está entrando no orga-
nismo e da quantidade que está sendo eliminada pela criança.
- Outros medicamentos: a criança pode precisar de medicamen-
tos para febre ou para diminuir os vômitos, de acordo com a 
avaliação médica. Por exemplo, nas diarreias causadas por 
Rotavírus a criança vomita muitas vezes, por isso não con-
segue tomar o soro e desidrata muito rápido. Nestes casos, 
a equipe avalia a necessidade de usar antiemético injetável, 
para continuar a TRO.
DOENÇAS DIARREICAS 53
Após o período da TRO, depois que a criança receber toda dose 
de soro calculada, deve-se continuar dando o soro oral depois de 
cada evacuação, seguindo as doses:
• Crianças até seis meses - dar 50 ml
• Crianças de seis meses a um ano - dar 100 ml
• Crianças de um a dois anos - dar 150 ml
• Crianças acima de dois anos - dar 200 ml
A criança que é amamentada pode continuar recebendo o leite 
da mãe à vontade. A criança mais velha pode continuar tomando 
normalmente outros líquidos naturais que a família oferecer: água, 
mingau, suco natural, chá, caldos ou água de coco.
Se a criança em tratamento continuar piorando, ou se o 
caso já chegar para você com sinais e sintomas da situação 
3 do quadro anterior, é preciso começar o plano 3.
Plano 3: tratamento do paciente com desidratação grave 
O que fazer:
- Pesar a criança. Anotar o horário e o peso.
- Avisar a EMSI da sua área ou Polo Base. A criança deve ser 
encaminhada imediatamente. Se não conseguir falar com a 
equipe, remova a criança de qualquer jeito para a sua refe-
rência. 
- Enquanto isso, tente dar o soro oral aos poucos, mas não insis-
ta se a criança estiver vomitando muito.
- Durante o transporte da criança para o Polo Base ou Unidade 
Básica de Saúde, anotar se teve vômitos, o número de evacu-
ações, se está urinando, se está mamando, aceitando alimen-
tos ou líquidos.
- Durante a viagem de remoção, oriente a mãe a proteger a 
criança do sol, porque ela perde mais água pelo suor, fi cando 
desidratada mais rápido.
- Hidratação venosa: a criança deve receber o soro na veia, pres-
crito e administrado pela EMSI. Outros medicamentos injetá-
veis para febre e vômitos podem ser usados, de acordo com a 
necessidade e a avaliação da equipe.
Tratamento com antibióticos e antiprotozoários 
Algumas diarreias agudas causadas por bactérias e protozoários 
precisam de tratamentos específi cos. A EMSI deve avaliar o caso.
54 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
2. Diarreia persistente
A duração desse quadro é de 14 a 30 dias e, geralmente, a 
causa é infecciosa, ou seja, causada por bactérias ou protozoários. 
Acontece principalmente com crianças desnutridas e abaixo de 
três anos.
O corpo da criança desnutrida é mais fraco, não tem proteção 
contra os micro-organismos. Quando a criança desnutrida tem uma 
diarreia persistente, ela não consegue absorver bem os nutrientes 
dos alimentos, assim perde peso e piora a desnutrição.
Por outro lado, a desnutrição também causa uma piora da diarreia 
persistente. Chamamos isso de círculo vicioso da doença. É muito 
grande a chance de uma criança desnutrida morrer quando tem 
uma diarreia persistente, sem acompanhamento e sem tratamento.
Para recuperar a saúde da criança, é preciso quebrar esse 
círculo vicioso. Isso só é possível se os profi ssionais de saúde, 
família e comunidade trabalharem juntos, para o tratamento e 
acompanhamento da criança e nas ações de vigilância nutricional, 
vigilância em saúde e segurança alimentar que já conversamos em 
outros textos.
3. Diarreia crônica
É a diarreia que dura mais de 30 dias ou quando ocorrem três ou 
mais episódios de curta duração num período de dois meses. Pode 
ser causada por parasitoses, como amebíase ou giardíase; alergia 
ao leite de vaca; ou pode ser sinal de outras doenças mais graves. 
A equipe deve ser avisada e fi car atenta para identifi car, avaliar 
e acompanhar um caso de diarreia crônica. Em geral a diarreia 
crônica cursa junto com a desnutrição.
IMPORTANTE
Preparo do soro de reidratação oral
O SRO (soro de reidratação oral) é embalado em um pequeno 
pacote ou envelope protegido da luz. É um pó para solução oral. 
Após a diluição em 1 litro de água, sua composição é de glicose, 
cloreto de sódio, cloreto de potássio e citrato de sódio.
Além da água, o SRO também repõe alguns sais minerais (sódio 
e potássio) muito importantes para o funcionamento de todo o 
corpo, músculos, coração e cérebro. Ele contém um pouco de 
glicose, para oferecer energia para o organismo. 
Cuidados durante o preparo do soro de reidratação oral:
• Verifi car a data de validade do pacote e se ele está limpo e 
seco. Não usar o soro se ele estiver com data de validade ven-
cida ou se a embalagem estiver úmida, suja ou aberta.
DOENÇAS DIARREICAS 55
• Usar uma vasilha, jarra ou outro tipo de recipiente com tam-
pa que mostre a medida de 1 litro. Lembre-se de lavar bem o 
recipiente com água e sabão. Se não houver tampa pode ser 
usado papel toalha, gaze ou outro tipo de material limpo e 
seco para manter o frasco tampado.
• Usar somente água fria, fi ltrada ou fervida.Se usar agua fervi-
da, precisa esperar ela esfriar para misturar o pó.
• Respeitar o volume total de 1 litro e misturar bem todo o con-
teúdo do pacote.
• Não ferver o soro depois de preparado.
• Não misturar nenhum outro ingrediente, como açúcar.
• Anotar a data e a hora em que foi preparado. Após o preparo, 
o soro pode fi car em temperatura ambiente (15ºC a 30ºC) e 
deve ser usado em até 24 horas. Após esse tempo, jogar fora 
o que sobrou e preparar outro pacote.
Como preparar o soro caseiro
Se faltar o envelope de SRO, pode ser usado o soro caseiro, 
apenas em último caso, se não tiver outro jeito de hidratar a criança.
• Lave bem as mãos com água e sabão. Pegue um copo limpo, 
de 200 ml, com água fria que esteja fi ltrada ou fervida.
• Acrescente um punhado de açúcar (com a mão fechada) e 
uma pitada de três dedos de sal. Misture bem.
Você também pode utilizar a colher-medida, distribuída nos 
postos de saúde:
• Lave bem as mãos com água e sabão. Pegue um copo limpo, 
de 200 ml, com água fria que esteja fi ltrada ou fervida.
• Misture duas medidas rasas de açúcar e uma medida rasa de 
sal. Para fazer certo a medida rasa, encha a medida da colher, 
passe a uma espátula ou as costas de uma faca, retirando o 
excesso de sal ou açúcar. 
É muito comum as pessoas acreditarem que dar algo para 
beber pode piorar a diarreia. É fácil pensar isso, quando se vê as 
fezes líquidas numa criança, mas os líquidos naturais não causam 
diarreia. Ela vai continuar mesmo que a pessoa não beba líquidos. 
Mas dar líquidos ajuda a pessoa a fi car forte e a sair do quadro de 
desidratação, que pode matar. Também ajuda a “limpar” o sistema 
digestivo, retirando micro-organismos. O AIS e a EMSI têm um 
trabalho muito importante de orientar e ajudar as famílias a 
conhecerem e entenderem mais sobre os perigos da desidratação. 
56 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
O QUE O AIS E O AISAN DEVEM FAZER? 
Espaço para registro de palavras novas
Anote aqui palavras do texto que você não conhece e pesquise o 
signifi cado com seus professores, colegas e no dicionário.
Ações de prevenção individual e ações de promoção da saúde 
coletiva relacionadas às doenças diarreicas:
• Melhoria da qualidade da água.
• Destino adequado de lixo e dejetos.
• Ações de controle de moscas, formigas e baratas.
• Medidas de higiene individual e de manipulação de água e ali-
mentos.
• Orientação dos familiares da criança doente para não trans-
mitir a doença.
• Ações de educação em saúde, particularmente em áreas de 
elevada incidência de diarreia.
• Participar da articulação com escolas, lideranças, mulheres, 
associação indígena, para o desenvolvimento de ações coleti-
vas, como mutirões de limpeza e ações educativas.
• Explicar sobre o que acontece com o corpo da pessoa com 
diarreia e desidratação, para entenderem a importância da 
terapia de reidratação oral.
• Verifi car com a EMSI se está acontecendo a vacinação contra 
o Rotavirus. Esta vacina ajuda a controlar os surtos de diarreia 
causados por este vírus. Rotavírus, em geral, causa quadros 
graves, de transmissão rápida para um número grande de 
crianças e aldeias.
Ações de acompanhamento e recuperação da saúde da criança 
com diarreia:
• Vigilância das doenças diarreicas.
• Conhecer sinais e sintomas das complicações.
• Acompanhar as consultas e visitas da equipe, buscando tirar 
dúvidas, aprender e exercitar.
• Registro dos casos de diarreia.
• Comunicação com a equipe.
DOENÇAS DIARREICAS 57
58 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena58 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
INFECÇÕES 
RESPIRATÓRIAS 
AGUDAS (IRA)
TEXTO 4
OBJETIVOS
SISTEMA RESPIRATÓRIO: 
TRANSMISSÃO, SINAIS E 
SINTOMAS DAS IRA
• Entender porquê as infecções respiratórias agudas afetam 
mais as crianças;
• Estudar como fi ca o corpo doente, os sinais de perigo e as 
complicações das doenças respiratórias agudas;
• Compreender e refl etir sobre o papel do Agente Indígena de 
Saúde (AIS), da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena 
(EMSI), da família e da comunidade nas ações de recupera-
ção, proteção, prevenção e promoção da saúde relacionadas 
às doenças respiratórias agudas. 
Quais são as doenças respiratórias que você conhece? Para seu 
povo, por que elas acontecem?
ATIVIDADE PROPOSTA
As doenças respiratórias são um conjunto de doenças 
causadas por micro-organismos e outros agentes, como poluição, 
substâncias tóxicas, fumaça e cigarro, que atacam o caminho do ar, 
que chamamos de sistema respiratório. Essas doenças podem ser 
AGUDAS ou CRÔNICAS.
Patricia Rech Monroe e Sofia Beatriz Machado de Mendonça.
INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS (IRA) 59INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS (IRA) 59
As doenças ou Infecções Respiratórias Agudas (IRA) têm 
início rápido e duram em média sete dias. A gripe, o resfriado, a 
pneumonia, a otite média aguda e a amidalite são exemplos de IRA. 
Sempre são causadas por micro-organismos, como vírus, bactérias 
e fungos. 
As Doenças Respiratórias Crônicas demoram mais para 
apresentar sinais e sintomas; melhoram e voltam ao longo da vida; 
são mais difíceis de tratar e curar. Geralmente são causadas pela 
poluição, poeira, fumaça e cigarro. São exemplos a asma, a rinite 
alérgica e a doença pulmonar obstrutiva crônica. Neste texto, não 
vamos estudá-las, pois não acontecem tanto nas crianças, como as 
IRA. Para entender melhor como as Infecções Respiratórias Agudas 
atacam nosso organismo, vamos estudar agora o caminho do ar, ou 
sistema respiratório. 
O caminho do ar: o sistema respiratório
O sistema respiratório é o conjunto de órgãos que fazem a 
entrada, a fi ltração, o aquecimento, a umidifi cação e a saída do ar 
do nosso organismo.
A respiração e a troca dos gases acontecem nos pulmões, mas 
para o ar chegar lá deve percorrer várias partes de uma estrutura, 
que recebe o nome de vias aéreas, ou caminho do ar. As vias aéreas 
são divididas em via aérea superior e via aérea inferior.
A via aérea superior tem a função de preparar o ar do meio 
ambiente para entrar nos pulmões, ou seja, fi ltrar, esquentar e 
umidifi car o ar. Cada componente da via aérea superior trabalha 
realizando uma atividade. A via aérea superior é formada por: 
nariz, orofaringe, laringe, ouvidos e seios da face.
Nariz - a parte de dentro se chama cavidade nasal. As laterais 
do nariz recebem o nome de asa de nariz. A cavidade nasal possui 
pelos que são importantes para fi ltrar, umedecer e esquentar o ar.
Orofaringe - é um tubo que começa na cavidade nasal e 
segue para baixo, no pescoço. A porção de cima da faringe tem 
uma comunicação com o canal do ouvido. A parte de baixo tem 
comunicação com a boca e serve de passagem para o ar e os 
alimentos. As amídalas fi cam na orofaringe e protegem contra a 
entrada de vírus e bactérias.
Laringe - é um tubo curto que liga a faringe na traqueia. A laringe 
tem uma tampa chamada epiglote que não deixa o alimento entrar 
na traqueia. Na laringe temos as cordas vocais, por onde o ar passa 
e produz a voz e a fala.
Seios da face - são cavidades (buracos) cheias de ar que fi cam 
dentro dos ossos da face. Nestes seios da face também pode 
acontecer uma infl amação ou infecção, chamada sinusite. 
60 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | Saúde da Família Indígena
FIGURA 10: Via aérea superior
A via aérea inferior tem a função de continuar a levar o ar até os 
pulmões. É formada pela traqueia e pelos brônquios.
Traqueia – é um tubo que entra no tórax e se divide em dois 
brônquios. Por dentro, a traqueia é forrada por mucosa e pequenos 
pelos chamados cílios, que têm a função de expulsar a poeira, 
micro-organismos e secreção.
Brônquios – são dois tubos que entram no pulmão e se dividem 
em bronquíolos, que continuam se dividindo

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