Modulo 1 - Fisioterapia Esportiva

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Introdução
Sabemos que atualmente as pessoas estão cada vez mais investindo em saúde e em qualidade de vida por meio da prática de atividades físicas e esportes acessíveis, como corrida de rua, lutas, natação, musculação, crossfit, entre outros. Essas atividades não orientadas, muitas vezes executadas por um praticante ainda não preparado para as demandas físicas que o exercício requer, podem resultar em lesões, prejudicando funções musculares e articulares, como em joelhos, tornozelos e coluna vertebral. A Fisioterapia Esportiva tem como foco a prevenção de lesões, e quando já instaladas, o trabalho será de recuperação.
O fisioterapeuta pode auxiliar na fase de preparação dos atletas e dos esportistas amadores, realizando avaliação física, indicando correções posturais, calçados adequados e até mesmo gestos desportivos que possam gerar menor sobrecarga, com base em diversos conhecimentos, tais como anatomia, biomecânica, fisiologia e bioquímica. Esses conhecimentos são aplicados na orientação de exercícios de alongamento, reorganização postural e muscular, propriocepção, cinesioterapia e eletrotermofototerapia, entre outros recursos que surgem a cada dia nesse segmento. Assim são preparados os trabalhos de reequilíbrio muscular e articular, para prevenir e recuperar as lesões.
Neste tema vamos abordar o desenvolvimento da Fisioterapia Esportiva, tendo uma visão geral da sua forma de atuação interdisciplinar, científica e de grande impacto no segmento do esporte.
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O surgimento da Fisioterapia Esportiva
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o surgimento da Fisioterapia Esportiva.
Surgimento da fisioterapia esportiva: origem do esporte moderno e seu desenvolvimento
A prática esportiva nos remete ao início da civilização, e suas origens estão intimamente ligadas à luta do homem por sobrevivência. Se observarmos as disputas vivenciadas à época, elas envolviam os atos de correr, saltar, lançar objetos a distância, caçar e nadar, o que era necessário para a sobrevivência no meio primitivo em que viviam, desenvolvendo habilidades motoras e sensitivas que, posteriormente, passaram a ser observadas como requisitos nas primeiras competições esportivas da Antiguidade.
Com o passar do tempo, o esporte evoluiu, com significativas manifestações na Grécia e na Roma Antiga. Podemos dizer que os gregos foram os primeiros a reconhecer a importância das atividades físicas para o aprimoramento do ser humano e da sociedade.
Podemos destacar ainda Sócrates, Aristóteles e muitos outros filósofos que confirmavam a importância da educação física entre os gregos.
Para Sócrates, mestre de Platão, após a música, era a ginástica que deveria educar os jovens (RAMOS, 1983 apud VALENTINA; NATALI, 2018). O filósofo Platão afirmava que a ginástica unia aos cuidados do corpo o aperfeiçoamento do pensamento elevado, honesto e justo (VALENTINA; NATALI, 2018).
Segundo Tubino (1992), o primeiro registro da concepção de esporte moderno data de 1828, na Inglaterra, por meio de Thomaz Arnold, diretor de um colégio que utilizou os jogos físicos praticados pela aristocracia e burguesia, incorporando-os aos métodos da educação escolar. Isso também inclui o chamado fair-play, que significa a atitude educada na disputa esportiva, com respeito às regras, aos adversários e à arbitragem, o que evidenciou a função pedagógica das práticas esportivas.
Já no esporte moderno, surgiram equipes esportivas que não se caracterizavam apenas como um conjunto de ações técnicas e táticas, mas expressavam manifestações em busca do sucesso coletivo e de representação de cidades e até de nações. O esporte, agora competitivo, tinha como características o confronto, a comparação e a avaliação constante de seus participantes.
Transição do esporte moderno para o esporte contemporâneo
O marco internacional ocorreu com a Carta Internacional de Educação Física e Esporte, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), editada em 1978, que afirmava ser o esporte um direito de todas as pessoas. À época, o esporte moderno tinha como expectativa única o rendimento. Porém, ao assumir a contemporaneidade, passa a apresentar uma abrangência social muito maior, incorporando as pessoas comuns, as pessoas com deficiências, os idosos e as perspectivas da educação e do lazer, além do desempenho já existente no momento histórico anterior.
O esporte de desempenho, por sua vez, compreende:
Esporte de rendimento
Exige um alto nível de empenho e desempenho profissional.
Esporte de alto rendimento
Também objetiva desempenho, mas em níveis de exigência um pouco menores quanto à equipe e qualificação multidisciplinar envolvida.
Os recordes mundiais alcançados por atletas em diferentes modalidades têm levado os esportes de alto rendimento a superar limites imaginados a cada instante, em decorrência da constante aprimoração nas áreas de desenvolvimento motor, coordenativo e habilidades técnicas, necessárias para a capacidade de superação em todas as modalidades do alto rendimento.
Desenvolvimento da Fisioterapia
Na Antiguidade, há indícios de que entre 4000 a.C. e 395 d.C. havia uma forte preocupação com as pessoas que apresentavam as chamadas “diferenças incômodas”, expressão utilizada para o que era considerado doença, utilizando na época recursos hídricos, calor, frio e eletricidade (através de “peixes elétricos”) associados ao movimento humano, ou seja, ao emprego de recursos físicos como forma de tratamento. Isso nos permite correlacionar a palavra que tem origem no grego physis, “natureza”, e thrapeia, “tratamento”.
Avançamos e chegamos nos séculos XV e XVI, descritos como um momento de crescimento científico e literário, havendo a retomada dos estudos na área da saúde, com as concepções curativa e de manutenção do estado normal existente em indivíduos sãos. Assim, a atividade física passa a ser importante para a manutenção da saúde, o tratamento e a correção de enfermidades.
Costureiras em longas mesas na sala de costura da A. T. Stewart’s Dry Goods Store, na Broadway com a 10th Street, propriedade do multimilionário comerciante irlandês Alexander Turney Stewart (1803-1876).
Quando falamos da necessidade de atenção funcional na saúde, não podemos deixar de citar a Revolução Industrial, que trouxe toda uma transformação social, determinada pela produção em larga escala, com o desenvolvimento rápido e sem planejamento das cidades, com condições sanitárias precárias, jornadas de trabalho extensas e a utilização de maquinários novos e desconhecidos, sem proteções e sem instruções adequadas para o seu manuseio. Todo esse novo quadro promoveu o desenvolvimento de novas doenças.
Nesse momento, a Medicina passou a ser impulsionada por novos surtos de epidemias, desenvolvendo-se em direção ao tratamento de doenças e sequelas, muitas vezes originadas no ambiente laboral, intensificando o atendimento hospitalar. Isso levou ao surgimento de novas especialidades médicas, predominando uma assistência curativa e reabilitadora.
Como resposta a todo esse processo que muitas vezes deixava sequelas, o exercício físico – juntamente com outras modalidades terapêuticas desenvolvidas para pessoas que apresentavam patologias – passou a ser a forma mais utilizada de tratamento. Na história da Fisioterapia, podemos destacar grandes acontecimentos que levaram ao seu desenvolvimento:
· as duas grandes guerras mundiais;
· o processo acelerado de industrialização;
· o aumento dos acidentes de trabalho.
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Atenção!
A Fisioterapia no decorrer da história, assim como as demais profissões da área de saúde, também direcionou o seu trabalho e a sua atuação profissional para as atividades predominantemente curativas e reabilitadoras. Atualmente a preocupação dessa profissão está voltada para um campo mais amplo que envolve a prevenção, a promoção e a manutenção da saúde, além da reabilitação e da reintegração social do indivíduo.
Desenvolvimento da Fisioterapia no Brasil
O desenvolvimento da Fisioterapia no Brasil teve uma relação com a necessidade da suapopulação em termos de saúde, pois existia um grande número de portadores de sequelas da poliomielite (distúrbios do sistema locomotor) e o crescente aumento de acidentes de trabalho com mutilações, necessitando de readaptações, e de ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial.
Esses fatores somados ocasionaram a diminuição da mão de obra disponível, o que pressionou o Estado no sentido de tomar medidas para garantir a força de trabalho – pois sabemos que uma população saudável é a base para o desenvolvimento econômico da sociedade.
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Resumindo
A Fisioterapia surgiu nesse momento como um instrumento eficaz, reabilitando e restaurando a capacidade física dos acidentados e mutilados ou, quando necessário, contribuindo para a adaptação em outra função laboral.
A Fisioterapia foi regulamentada como profissão no país por meio do Decreto-Lei nº 938, de 13 de outubro de 1969, tornando-a ofício de nível superior. Em 1975 é criado o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e os Conselhos Regionais (CREFITOS) pela Lei nº 6.316. Trata-se de órgãos fiscalizadores, normatizadores, que exercem o controle ético das profissões de fisioterapeuta e de terapeuta ocupacional. Atualmente estamos cada vez mais aliando conhecimento científico e técnico, a fim de garantir a nossa inserção no mercado de trabalho, como uma profissão autônoma e sólida. O COFFITO reconhece quinze especialidades:
· Fisioterapia em Acupuntura
· Fisioterapia Aquática
· Fisioterapia Cardiovascular
· Fisioterapia Dermatofuncional
· Fisioterapia Esportiva
· Fisioterapia em Gerontologia
· Fisioterapia do Trabalho
· Fisioterapia Neurofuncional
· Fisioterapia em Oncologia
· Fisioterapia Respiratória
· Fisioterapia Traumato-ortopédica
· Fisioterapia em Osteopatia
· Fisioterapia em Quiropraxia
· Fisioterapia em Saúde da Mulher
· Fisioterapia em Terapia Intensiva
Resolução nº 337, de 8 de novembro de 2007
O COFFITO, por meio da Resolução nº 337/2007, reconheceu a especialidade de Fisioterapia Esportiva, levando em conta sua evolução acadêmica, científica e social, e a importância do esporte para a saúde, bem como a manutenção da saúde funcional do indivíduo para a prática esportiva. Considera, ainda, a atividade física voltada para a promoção, o restabelecimento e/ou manutenção do estado de saúde, para a prática esportiva amadora e profissional e para o lazer como área de atuação do fisioterapeuta esportivo.
Importante ressaltar que o COFFITO cita a relevância da Carta de Londrina, que foi produzida durante o I Fórum Nacional dos Docentes da Fisioterapia Esportiva, realizado no Paraná, no mês de novembro de 2005, por meio da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE), que sugeriu diretrizes para normatização do ensino de pós-graduação referente à área de Fisioterapia Esportiva. A seguir, vamos acompanhar um trecho deste documento.
Destaques da Carta de Londrina
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Os registros dos títulos de especialista em fisioterapia esportiva serão promovidos pelo COFFITO em obediência aos requisitos estabelecidos na Resolução COFFITO nº 336/2007, que dispõe sobre especializações profissionais da fisioterapia e registros profissionais de títulos de especialidade.
O fisioterapeuta deve ficar atento ao edital disponibilizado pelo COFFITO para o exame da concessão de títulos de especialistas, que informa a data da avaliação escrita e os requisitos exigidos por intermédio da parceria entre o COFFITO e a SONAFE. A referida resolução aborda, ainda, que a atuação do fisioterapeuta na especialidade de Fisioterapia Esportiva se caracteriza pelo exercício profissional desde a promoção de atenção básica direta à saúde do paciente por meio do diagnóstico cinético-funcional bem como a eleição e execução de métodos fisioterapêuticos pertinentes a este, observando os seguintes aspectos relacionados à prática esportiva:
· atividade física no contexto da saúde, do esporte e do lazer;
· exercício e condicionamento físicos dentro do processo da recuperação funcional, seguindo os critérios de retorno à prática esportiva;
· relação do esporte e atividade física no contexto da saúde coletiva e da prevenção das lesões;
· fisiologia do exercício, propriedades biomecânicas do tecido musculoesquelético, e características biomecânicas das lesões esportivas;
· fatores predisponentes (extrínsecos e intrínsecos) relacionados com as modalidades esportivas;
· fatores epidemiológicos e predisponentes à ação da assistência fisioterapêutica especializada na área;
· contextualização dos diferentes níveis de complexidade de atenção à saúde e das políticas públicas de saúde, com enfoque especial para a atenção básica, garantindo a promoção da saúde de atletas profissionais e praticantes de atividades esportivas, incluindo aqueles com deficiência ou necessidades especiais, bem como a prevenção de lesões e a recuperação funcional em casos de comprometimentos.
Podemos concluir, então, o que é Fisioterapia Esportiva:
É uma especialidade da Fisioterapia que tem como objetivos prevenir e tratar lesões e/ou disfunções musculoesqueléticas decorrentes da prática desportiva, sendo a especialidade reconhecida por meio da Resolução nº 337/2007.
Quem é o fisioterapeuta desportivo?
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É aquele especializado no atendimento a atletas profissionais ou amadores, utilizando-se de técnicas e métodos de tratamento que atendam às necessidades desses atletas a partir de evidências científicas, a fim de promover a reabilitação funcional e o retorno às atividades esportivas.
Inserção da Fisioterapia no esporte
A participação da Fisioterapia nas modalidades desportivas pode ser destacada a partir do futebol, que é um esporte de importância mundial, especialmente para o Brasil. Nos últimos anos, o futebol tem sofrido muitas mudanças, principalmente no que diz respeito às exigências físicas, que são cada vez maiores, obrigando os atletas a trabalhar em seus limites máximos, o que facilita a predisposição para o desenvolvimento de lesões.
Ganhou então importância a atuação do profissional de fisioterapia em equipes de futebol, ao longo da grande evolução que esse esporte sofreu, principalmente na segunda metade do século XX. A seguir, saiba mais a respeito de três fisioterapeutas bastante conhecidos no esporte brasileiro.
Nilton Petrone (Filé)
Fisioterapeuta do Flamengo, conhecido como Filé, ganhou notoriedade durante a Copa de 1990, na Itália. Na ocasião, foi contratado para fazer a reabilitação do atacante Romário, que havia sofrido uma fratura-luxação no tornozelo às vésperas do mundial. Na época, outros jogadores da seleção também se trataram com ele, que é especializado em acelerar recuperações.
Dr. Claudionor Delgado do Nascimento
É da área de Fisioterapia Esportiva, sendo graduado em Fisioterapia pela Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro (ERRJ) em 1976. Considerado por seus pares um dos fundadores da Fisioterapia Esportiva no Brasil, foi o primeiro fisioterapeuta da seleção brasileira de futebol profissional (1994-1998).
Dra. Gerseli Angeli
Destaca-se na participação das mulheres fisioterapeutas no âmbito esportivo. É doutora em Fisiologia do Exercício e a primeira mulher a assumir o cargo de fisiologista em um clube de futebol profissional no Brasil: chegou ao Barueri para o Campeonato Paulista de 2007, utilizando os banhos de crioimersão para a recuperação dos atletas.
Atualmente, a SONAFE aderiu à campanha ElesPorElas (#HeForShe) de Solidariedade da ONU Mulheres pela igualdade de gênero, com a ação #MaisMulherNaFisioterapiaEsportiva, entendendo a importância de incentivar a participação feminina tanto no esporte como na fisioterapia esportiva, não devendo haver discriminação quanto ao gênero na escolha do profissional em qualquer modalidade esportiva, no esporte masculino ou feminino.
No atual cenário, é amplamente divulgada a ação e a importância da Fisioterapia na área desportiva, em que destacamos a seguinte notícia divulgada no site do Comitê Olímpico do Brasil (COB) com fala de Flávia Rocco, fisioterapeuta do COB:
Estrutura de pontae acompanhamento da fisioterapeuta do COB fizeram a diferença na Missão Europa para tênis de mesa:
O trabalho da fisioterapia contribui muito para que não tenham lesões por conta do tempo paradas e fez com que as atletas estivessem 100% para todos os treinos. Uma queixa inicial já era tratada de imediato, então estavam sempre zeradas para treinar. Como estive com o grupo durante um longo período, foi possível realizar uma análise do gestual esportivo de cada uma delas e orientar as correções necessárias (posturas e compensações) para também evitar futuras lesões.
(COB, 2020)