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LESÃO MEDULAR E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL Por Vanessa C. Furtado Tulio e Mayara Santiago Goslar 2 Sumário 1. Introdução ....................................................................................................... 2. O que é Lesão Medular? ................................................................................ 3. Graus de limitação do paciente com Lesão Medular ................................ 4. Padrões Internacionais para a classificação da Lesão Medular ............... 5. Metas Funcionais para o paciente com Lesão Medular ............................ 9. Fisioterapia Neurofuncional na Lesão Medular ......................................... 6. Quais são as consequências que uma Lesão Medular pode gerar? ........ 10. Orientações ..................................................................................................... 7. Tratamento ..................................................................................................... 11. Sobre as autoras ............................................................................................ 8. Órteses e Adaptações .................................................................................... 12. Referências ..................................................................................................... 03 04 06 08 10 12 13 14 16 24 27 28 3 Esse e-book foi desenvolvido com o objetivo de conscientizar a popula- ção sobre a Lesão Medular, além de fornecer informações sobre a interven- ção fisioterapêutica e orientações para pacientes e familiares. Introdução Autoras do e-book Vanessa C. Furtado Tulio e Mayara Santiago Goslar, respectivamente. 4 O QUE É LESÃO MEDULAR? A Lesão Medular é descrita pela American Spinal Cord Association (ASIA) como “uma diminuição ou perda da função motora e/ou sensitiva e/ou autonô- mica abaixo do nível da lesão, podendo ser uma lesão parcial ou total, devido a lesões dos elementos neuronais dentro do canal vertebral”.1 Ou seja, é uma lesão decorrente de um evento traumático ou não, onde há comprometimento das estruturas do canal medular (medula, cone medular e cauda equina) em todo o segmento abaixo da lesão. A medula, órgão do sistema nervoso central, é dividida em 31 segmentos, subdivididos em: cervical (8 segmentos), torácica (12 segmentos), lombar (5 seg- mentos), sacrais (5 segmentos) e coccígeo (1 segmento).2 Qualquer dano a um desses segmentos, poderá manifestar diversas alterações que serão vistas ao longo deste material. De modo geral, a lesão medular pode ser dividida em duas categorias: trau- máticas e não traumáticas. As lesões medulares traumáticas, também conhecida como Traumatismo Raquimedular (TRM), correspondem a maioria dos casos e são decorrentes de acidentes automobilísticos, trauma/agressão, ferimento por arma branca ou de fogo, quedas, esportes, entre outros. Segundo a National Spinal Cord Injury Statistical Center, o Brasil é o segundo país com maior número de casos de lesão medular traumática.3 Devido à alta incidência desse tipo de lesão, os tratamentos serão devidamente abordados nesse e-book, tendo também aplicação na outra categoria. As lesões de causas não traumáticas correspondem a aproximadamente 20% dos casos e incluem tumores, neoplasias medulares, deformidades graves da co- 5 luna vertebral, hérnia de disco, disfunções vasculares, algumas infecções como mielite transversa, doenças neurológicas como esclerose múltipla e alterações congênitas como mielomeningocele.4 A lesão medular apresenta duas fases: a fase do choque medular e a fase de automatismo medular. Na primeira fase, que dura desde a lesão até aproxi- madamente 6 a 12 meses, a medula apresenta um importante edema e todas as funções abaixo da altura da lesão ficam cessadas, ou seja, o indivíduo pode não apresentar nenhuma função das áreas acometidas. Conforme entra na segunda fase, denominada fase de automatismo medular, algumas dessas funções passa- rão a ser percebidas devido a regressão do edema medular.5 FIGURA 1 Fonte: https://aosla.com.br/ftp/edudatabase/openfiles/aos_da_n1m3t2_botelho_prt.pdf 6 GRAUS DE LIMITAÇÃO DO PACIENTE COM LESÃO MEDULAR Cada indivíduo irá apresentar determinadas características conforme o nível e extensão da lesão. São elas: • O nível da lesão representa a altura da lesão (segmento medular com- prometido) que resultará na área corporal acometida. • A extensão da lesão que caracteriza dois padrões de lesão: completa ou incompleta. Na primeira, toda comunicação neural é interrompida, ine- xistindo atividades motoras e de sensibilidade do nível da lesão para baixo. Porém, pode existir o que chamamos de Zona de Preservação Parcial (ZPP), que se refere a áreas de função motora e sensorial preservadas abaixo do nível neurológico. Na segunda, há atividade motora e/ou sensorial abaixo da lesão.2,5 Em contexto geral, a lesão medular se manifesta por: • Paralisia ou paresia (diminuição de força) dos músculos abaixo do ní- vel da lesão; • Alteração do tônus muscular; • Modificação dos reflexos superficiais e profundos; ausência ou altera- ção de sensibilidade; • Perda de controle esfincteriano; • Alterações de sudorese; • Perda do controle de temperatura corporal; • Disfunção sexual; • Alterações autonômicas. 4,9 7 PLEGIA OU PARESIA? Considerando que o comprometimento pode ser completo (plegia) ou incompleto (paresia), o paciente pode ser classificado como: • Tetraplégico: paralisia de músculos dos membros superiores, tronco e membros inferiores. • Paraplégico: paralisia de músculos dos membros inferiores e tronco. • Paraparético ou tetraparético: paresia (contração muscular voluntá- ria com redução de força muscular) de músculos de membros inferiores e/ ou membros superiores. Porém, essa classificação não é recomendada pela ASIA. 1,2,4,5 FIGURA 2 8 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A CLASSIFICAÇÃO DA LESÃO MEDULAR Classificado por: • NÍVEL NEUROLÓGICO • NÍVEL SENSITIVO • NÍVEL MOTOR O nível neurológico é definido como o nível mais baixo da medula com função motora e sensorial preservada.1,2 Essa avaliação é imprescindível e obrigatoria- mente padronizada pela ASIA e deve ser aplicada pelo seu fisioterapeuta. É esse nível que servirá como “guia” da reabilitação, pois todas as habilidades acima dele devem ser garantidas assim como proporcionar o máximo de estimulação abaixo dele, portanto, é a meta mínima de funcionalidade a ser trabalhada pela fisioterapia. O nível sensorial é definido como o segmento mais distal da medula que tem função normal em ambos os lados do corpo. O nível motor tem a mesma defi- nição, mas com relação à força muscular, considerando o último nível em que a força é pelo menos grau 3, com a anterior sendo 5.2,4 ESCALA DE CLASSIFICAÇÃO NEUROLÓGICA DA LESÃO MEDULAR (ASIA) Essa escala permite a classificação da lesão medular, e assim se determina o prognóstico do paciente e seu estado atual. Sendo dividida em dois componen- tes de avaliação: de funcionamento (sensitivo e motor) e tipo de lesão (completa ou incompleta) 21. A avaliação sensitiva (sensibilidade ao toque leve e agulhada) engloba 28 dermá- tomos (área da pele inervada) bilateralmente, sendo a sensibilidade dolorosa ava- liada com auxílio de uma agulha descartável e o toque leve com algodão. Inclui-se 9 a avaliação do esfíncter anal externo para ser classificado integralmente o tipo de lesão (completa ou incompleta). O exame motor avalia 10 miótomos (grupo de fibras musculares inervadas) específicos bilateralmente para completar a avaliação 21,22. O resultado da avaliação classifica os tipos de lesão em cinco categorias: A (Lesão completa, não tem função motora ou sensitiva abaixo da lesão) B (Lesão incompleta, sensibilidade preservada parcialmente/totalmente e sem função motora abaixo da lesão) C (Lesão incompleta, função motora preservada abaixo da lesão com a maiorparte dos músculos chaves com grau de força menor que 3) D (Lesão incompleta, função motora preservada abaixo da lesão com força graduada como igual ou maior que 3) E (Normal, função motora e sensitivas intactas) FIGURA 3 Fonte: American Spinal Injury Association (ASIA, 2019) 10 METAS DE FUNCIONALIDADE DO PACIENTE COM LESÃO MEDULAR NIVEL NEUROLÓGICO META MÍNIMA DE FUNCIONALIDADE C1-C3 Mobilidade em cadeiras de rodas motorizada através de comandos com a cabeça ou queixo, dependente de respirador portátil. C4 Elevação de ombros; Mobilidade independente em ca- deiras de rodas motorizada através de comandos com a cabeça ou queixo. C5 Ombros ativos; Flexão de cotovelo (bíceps); Realizar ati- vidades simples com as mãos; Manter-se sentado com o apoio dos braços; Conduzir cadeira de rodas. Capaz de diminuir pontos de pressão com movimentos mínimos. C6 Extensão de punho; Controle parcial de tronco su- perior; Realizar algumas transferências de forma ati- va; Realizar algumas AVD’s independentemente, com adaptações. C7 Extensão de cotovelo (tríceps); Independência nas transferências e AVD’s (atividades de vida diária) com adaptações, se necessário; Pode dirigir carro adaptado. 11 C8-T1 Movimentação de dedos; Buscar independência sem a necessidade de dispositivos de assistência para as AVD’s, independência no leito e consegue realizar push-up’s (se empurrar para cima com os braços). T2-T6 Controle total de membros superiores e parcial de tronco, (classificados como paraplégicos). T7-T11 Função dos músculos abdominais e extensores de tronco; Realiza atividades sem apoio posterior de tron- co, indicado a utilização de cadeira de rodas manual para função energética. T12-L1 Controle da pelve. L2 Flexão de quadril (levantar a coxa). L3 Extensão de joelho (quadríceps); Ficar em pé sem au- xilio ou andar utilizado órteses do tipo tornozelo-pé (AFO). L4-L5-S1 Marcha independente ou com órtese maleolar (SMO). Fonte: Adaptado de Pulaski, 2002. 12 QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS QUE UMA LESÃO MEDULAR PODE GERAR? • Espasticidade: aumento do tônus muscular, velocidade dependente. Pode apresentar clônus (movimentos involuntários de flexão e extensão al- ternadamente); • Dor neuropática: dor imprecisa em região com alteração da sensibili- dade; • Alterações musculoesqueléticas: ossificação heterotópica (presença de tecido ósseo em locais onde normalmente não existe osso), osteoporose, lesão de ombro, atrofia muscular, entre outras; • Alterações vasculares: hipotensão postural (ao assumir a posição sen- tada ou em pé gera uma queda da pressão arterial), trombose venosa pro- funda (TVP), disreflexia autonômica (crise hipertensiva); • Bexiga neurogênica/intestino neurogênico: desregulação por altera- ção na integração do sistema nervoso autônomo (involuntário) e piramidal (voluntário) após a lesão; • Úlceras por pressão: ocorrem devido a perda de mobilidade e déficit sensitivo.2,4 13 TRATAMENTO No atendimento inicial, qualquer paciente com politraumatismos deve ser considerado suspeito de lesão medular. O tratamento requer cuidados desde a fase de internação até o pós trauma. Devem ser realizados exames comple- mentares, atenção ao posicionamento e a reabilitação deve iniciar no hospi- tal4. Importante salientar a necessidade de acompanhamento multidisciplinar com médico, fisioterapeuta, psicólogo e terapeuta ocupacional, entre outros profissionais. 14 ÓRTESES E ADAPTAÇÕES ÓRTESES A utilização de órteses em pacientes com lesão medular, é de grande valia visto a grande vantagem de evitar-se deformidades ortopédicas. Para auxílio na estabilização e/ou posicionamento de membros superiores estão disponíveis ór- teses para indivíduos que tendem a apresentar contraturas de punho e dedos, podendo ser utilizada para função de um dos segmentos apenas. Extensores de cotovelo são prescritos em situações para evitar a flexão do membro, podendo estar associada a supinação de antebraço, normalmente apresenta-se em pa- cientes com lesões em C5 e C6 onde observa-se uma dissinergia (alteração da coordenação) entre agonistas e antagonistas, que abrangem flexores de cotovelo e extensores de cotovelo e pronação, respectivamente 11. FIGURA 4 Fonte: https://www.abbr.org.br/abbr/oficina_ortopedica/index.html 15 ADAPTAÇÕES As adaptações para pacientes com lesão medular podem ser prescritas e providenciadas ainda em fase hospitalar, como para alimentação e higiene. Elas abrangem desde o espessamento de talheres até a duplicação nas alças de apoio para tornar mais fácil a atividade. Também são observados e modificados a altu- ra dos objetos dispostos para o indivíduo tanto em ambiente hospitalar quanto em ambiente domiciliar, com objetivo de facilitar a tarefa 12. Relacionado a independência funcional durante as transferências tem-se dis- ponível para utilização, cintas e/ou tábuas de transferência, porém devem ser devidamente prescritas para que não haja contraindicação 12,13. Para pacientes com nível alto de lesão, quando permitido, o uso de compu- tadores de software com comando por movimentos cervicais pode ser indica- do para realização de AVD´S 12,13,14. Para outras adaptações especificas para seu caso, consulte seu terapeuta ocupacional e fisioterapeuta, considerando que um profissional não substitui o outro. 16 FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL NA LESÃO MEDULAR 17 FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL Existem inúmeras abordagens com o objetivo de potencializar a neuroplasti- cidade através de técnicas de reabilitação. A fisioterapia neurofuncional objetiva aperfeiçoar as capacidades do paciente para que seja capaz de atingir a melhor condição funcional e pessoal, retomando a participação social. Em pacientes com lesão medular o objetivo é a recuperação funcional, que pode ser verdadeira ou por compensação. Na recuperação motora verdadeira, buscamos a execução das atividades da mesma forma como era realizado antes da lesão. Na compensação, há estratégias que são adotadas para executar as tarefas7. 18 FISIOTERAPIA INTENSIVA ASSOCIADA A UTILIZAÇÃO DE VESTES TERAPÊUTICAS A fisioterapia neurofuncional intensiva engloba até quatro horas de treina- mento, diariamente, onde o tratamento é focado e embasado de forma indivi- dual para a realidade e necessidade de cada paciente visando os benefícios que essa abordagem pode trazer para cada um19. A fisioterapia quando feita de forma regular e diária, pode ser as- sociada a vestes terapêuticas que visam potencializar os resultados agregados ao paciente, sendo a ves- te considerada como uma órtese proprioceptiva, melhorando alinha- mento e ajustes a nível biomecânico e consciência corporal. Entre os métodos de tratamen- to está o PediaSuit Protocol, que consiste em uma terapia intensiva de quatro horas por dia, cinco dias na semana, totalizando 80 horas de tratamento, sendo seguida de um período de manutenção de 2 sema- nas e 1 hora/dia 20. O método consiste em um traje composto por colete, shorts, joelheiras e sapatos que são adaptados especialmente para cada indivíduo e suas particula- ridades com ganchos e elásticos dispostos de forma específica. Além disso, esse método conta com diversos acessórios que ampliam as possibilidades de ativida- des com objetivo de melhorar a função e força muscular 19,20. 19 FES (ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA FUNCIONAL) Esta técnica é utilizada para promover contração verdadeira por meio de es- timulação elétrica em músculos que não apresentam recrutamento normal dos mesmos 16. O FES é utilizado para aumentar a independência dos pacientes em suas AVD’s, auxiliando em: locomoção, ortostatismo (ficar em pé) e dar funcionalida- de. Estudos comprovam que mesmo após cessar a estimulação elétrica, o efeito permanece, pois inibe a evolução do déficit neuromotor17. A eletroestimulação gera uma contração dos músculos paréticos (redução da função) atravésdas vias sensitivas, onde ocorre a entrada dos estímulos por vias aferentes que chegam até o SNC (sistema nervoso central), ativando o meio mus- cular e mecanismos reflexos necessários para reprodução de atividade motora18. Como resultado do método, observa-se alterações e evoluções positivas a longo prazo no circuito nervoso da medula, podendo restaurar parcialmente a função que havia sido comprometida em decorrência da lesão17. FIGURA 5 20 NEUROMODULAÇÃO A neuromodulação clínica inclui várias técnicas de estimulação de estruturas do sistema nervoso com objetivo de promover modificações e adaptações es- truturais e/ou funcionais. Essas técnicas podem ser invasivas ou não invasivas, porém neste material iremos abordar apenas técnicas não invasivas, que podem ser realizadas pelo fisioterapeuta neurofuncional. A neuromodulação clínica não invasiva é indicada no tratamento de sintomas da lesão medular. Existem evidências científicas de benefícios no tratamento da espasticidade e da função muscular nesses pacientes23, 24, 25. A técnica de neuromodulação não invasiva mais utilizada e estudada no tra- tamento de sintomas da lesão medular é a Estimulação Magnética Transcraniana (TMS – do inglês Transcranial Magnetic Stimulation). Essa técnica utiliza a apli- cação de campo eletromagnético em estruturas do sistema nervoso de forma 21 segura para modificar a atividade nervosa, modulando as conexões e induzindo a neuroplasticidade – capacidade do sistema nervoso de modificar e adaptar sua estrutura e/ou função frente a estímulos ou em resposta a lesões. A TMS é uma técnica indolor e segura. É importante ressaltar que para que a intervenção seja realizada com segurança e os efeitos neuromodulatórios de- sejados sejam alcançados, é indispensável que a avaliação das indicações e con- traindicações e a aplicação da técnica sejam realizadas por um profissional com formação nas técnicas de neuromodulação. TREINAMENTO LOCOMOTOR Trata-se de uma abordagem da fisioterapia neurofuncional que busca aprimorar ou adquirir a marcha (capacidade de andar), nos pacientes que se enquadram na função. O treinamento locomotor possui diversos benefícios como: melhora da mobi- lidade articular, fortalecimento muscular, melhorar a capacidade cardiorrespiratória, entre outros. A recuperação locomotora de indivíduos com lesão medular é uma das principais prioridades para esses pacientes. Existem algumas formas de realizar esse treinamento: barras paralelas, solo com auxílio de dispositivos (an- dador, muletas, bengala), esteira neurofuncional com suporte parcial de peso, dispositivo robótico etc. No treino nas barras paralelas (foto), o paciente utiliza a força dos braços para auxiliar a posição em pé e o fisioterapeuta pode auxiliar no movimentos dos membros inferiores. Na esteira neurofuncional, o suporte parcial do peso 22 do paciente realizado pela máquina, facilita a troca de passos quando realizada ativamente ou ativo-assistido (com a ajuda do terapeuta). Podemos aumentar o recrutamento muscular na tarefa quando associado à eletroestimulação de qua- dríceps e consequente aumento da ativação muscular.10 Foi desenvolvida a órtese robótica, Lokomat, para a utilização da esteira sem o auxílio de terapeutas para suporte durante a execução do movimento, ofere- cendo outras possibilidades dentro da marcha cinemática11. Há mais de duas décadas estes dispositivos são utilizados e validados no ambiente clínico, porém, ainda não se tem evidências suficientes para estabelecer parâmetros de superio- ridade sobre o treinamento locomotor em solo12. ROBÓTICA Um dos fatores que mais impactam na vida do paciente que sofre lesão me- dular é a perda do ato de andar. Nos anos 90, começou a ser estudado sobre treino de marcha com suporte parcial de peso em lesados medulares (lesão com- pleta) objetivando melhorar a funcionalidade e independência, apesar do foco da reabilitação em pacientes com ASIA A ou B seja locomoção em cadeiras de rodas objetivando independência7. FIGURA 6 23 A terapia robótica de locomoção permite o movimento dos membros inferio- res de forma semelhante à marcha normal, gerando uma melhor coordenação e ativação muscular em pacientes com lesão medular incompleta, estimulando sensorialmente todos os parâmetros necessários para potencializar a plastici- dade neuronal, além disso, ocorre benefícios em funções cardiorrespiratórias e ortopédicas7,8. Existem diversos dispositivos de terapia robótica de marcha, são elas: Loko- mat, LokoHelp, G-EO System, Gait Trainer e HapticWalker 7. A terapia locomotora robótica pode ser associada a realidade virtual. Assim, o paciente é submetido a diferentes situações que são simuladas no aparelho. FIGURA 7 Também existem outros dispositivos robóticos que atuam na reabilitação dos membros su- periores em indivíduos com tetraplegia. Retirado de: https://lcmagalhaes.com.br/exoesquele- to-aprovado-para-uso-clinico-e-pessoal/ REALIDADE VIRTUAL A realidade virtual é uma abordagem computadorizada para com o paciente em que é possível simular ambientes ou atividades, através de dispositivos como videogames, Nintendo Wii (incluindo o Wii Balance Board) e plataforma Nirvana7. Nesse modelo dinâmico de terapia, o foco é a interação. 24 Além da motivação, ao se tratar de marcha, os benefícios incluem melhora do controle postural, qualidade de movimento, controle motor, padrão de marcha, ativação sensorial e ativação de neurônio-espelho7,8. A terapia por realidade virtual pode ser utilizada mais abrangentemente, como na melhora do controle de tronco desses pacientes e na melhora da per- cepção do corpo no espaço9. FIGURA 8 Retirado de: https://www.micropress.com.br/2016/08/23/pacientes-paraplegicos-estao-se- recuperando-com-ajuda-da-realidade-virtual/ ORIENTAÇÕES Orientações para pessoas com lesão medular e familiares/cuidadores: • Seguir as orientações poderá melhorar a qualidade de vida e gerar independência dentro do quadro individual de cada paciente e suas particu- laridades; • Inicie o tratamento fisioterapêutico assim que puder, quanto mais precocemente é realizada a avaliação e iniciado o tratamento, maior e me- lhores serão as respostas e evoluções; 25 • Peça para que seu fisioterapeuta ensine maneiras de aliviar a pressão quando sentado na cadeira de rodas, isso ajudará a evitar lesões na pele e soltar a tensão no quadril e coluna. • Não interrompa o tratamento, para que não haja perdas motoras e para que se possa prevenir possíveis contraturas e deformidades; • Procure serviços de fisioterapia neurofuncional com profissionais es- pecializados; • Siga corretamente as orientações do seu fisioterapeuta, para otimiza- ção dos ganhos já alinhados em terapia; • Converse com a sua equipe de reabilitação sobre as adaptações que serão necessárias em ambiente domiciliar para que o dia a dia se torne mais viável a nível de independência; • Em caso de cuidadores, certifiquem-se de esclarecer todas e quais- quer dúvidas relacionadas a transferências do paciente, para que sejam evi- tadas as quedas e possíveis lesões; • Necessário em casos de pacientes com alterações de sensibilidade, redobrar os cuidados com temperatura altas/baixas e objetos pontiagudos, para evitar possíveis acidentes; • Em casos de pouca mobilidade, necessário que seja solicitado a mu- dança de decúbito a cada duas horas e observado possíveis manchas na pele ou lesões que possam indicar a abertura de úlceras de pressão para que se- jam rapidamente tratadas; • Realizar as atividades propostas pelo seu fisioterapeuta. Quando ne- cessário solicitar auxílio do familiar/ cuidador para que a atividade não traga riscos e para que mantenha a qualidade; • Mantenha sempre em dia os retornos em seu médico, assim como os medicamentos que devem ser tomados. Para que associado às terapias 26 obtenha-se um acompanhamento adequadode suas evoluções; • Em casos de deambulação, solicite ao seu fisioterapeuta uma avalia- ção para que seja observado a necessidade de dispositivos de auxílio como andadores ou muletas, para reduzir o risco de quedas e otimizar a deambu- lação; • Em casos de necessidade de cadeira de rodas, opte por cadeiras que sejam próprias para o seu caso. O fisioterapeuta poderá retirar as medidas específicas e prescrever a cadeira de rodas que se encaixe da melhor manei- ra para o caso; • Solicite ao seu fisioterapeuta que lhe ensine formas de alongamento ativo ou com acessórios encontrados em casa que possam lhe auxiliar, e em caso de necessitar de auxílio solicite a mesma explicação para o seu cuida- dor; Retirado de: https://universidadelivredoesporte.org/comparacao-entre-os-niveis-de- agilidade-e-forca-em-atletas-cadeirantes/ Pratique alé m das ativ i- dades presc ritas pelo se u fisioterapeut a, atividad es que lhe tr agam praze r, como esporte s. Lembrand o sempre de s er supervisio - nado quando necessário. 27 SOBRE AS AUTORAS Vanessa C. Furtado Tulio (CREFITO/8 280153-F) Fisioterapeuta do Centro de Excelência em Recuperação Neurológica (CERNE) – Unidade Curitiba. Graduação em Fisioterapia pela Universidade Positivo. Pós-graduação em Fisioterapia Neurofuncional pela Faculdade Inspirar. Possui formações em: Pediasuit (básico), PNF inter- nacional níveis I e II (Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva) pelo IPNFA, Realidade Virtual para Reabilitação de Pessoas com Condições Neurológicas (por Judith Deutsch – EUA), Terapia por Restrição e Indução do Movimento, Treinamento Locomotor, Bandagem Neuromuscular, Manuseio de Tronco e Membros Inferiores, Liberação Miofascial e Reabilitação Vestibular. As- sociada ABRAFIN. Mayara Santiago Goslar (CREFITO/8 240464-F) Fisioterapeuta do Centro de Excelência em Recuperação Neurológica (CERNE) – Unidade Curitiba desde 2017. Graduação em Fisioterapia pela Universidade Positivo. Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-ortopédica pela Universidade Positivo. Possui formações em: Pediasuit (básico), Bandagem neuromuscular em pacientes neurológicos, Terapia por contensão indu- zida, crochetagem miofascial, estimulação precoce, método ABA, Terapia por Contensão In- duzida em Membros Superiores, cinesiologia e biomecânica, Manuseio de tronco e membros inferiores. 28 REFERÊNCIAS 1. American Spinal Cord Association (ASIA). Disponível em:<www.asia-spinalinjury.org/. Acesso em: 01 jun 2021. 2. O’SULLIVAN, S.; SCHMITZ, T. Fisioterapia: avaliação e tratamento. 5 ed. Manole: São Paulo, 2010. 3. National Spinal Cord Injury Statistical Center. Lésion de la Medula Espinal. Datos y cifras a la Vista. Birmingham: NSISC; 2011. 4. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programá- ticas Estratégicas e Departamento de Atenção Especializada. Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular. – 2. ed – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 5. STROKES, M. Neurologia para Fisioterapeutas. São Paulo: Editorial Premier, 2000. 6. 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