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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Desenvolvimento das Competências Socioemocionais Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Rutinéia Cristina Martins Revisão Textual: Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução; • Autocrítica; • Altruísmo; • Carisma; • Debate de Ideias; • Gestão do Intelecto; • Gestão da Emoção; • Intuição Criativa; • Resiliência. Fonte: Getty Im ages Objetivos • Conhecer aspectos da obra de Augusto Cury, que fundamenta esta unidade; • Definir e compreender as competências socioemocionais: Gestão do intelecto, Autocríti- ca, Resiliência, Altruísmo, Carisma e Intuição criativa; • Pesquisar como são desenvolvidas e o seu papel na formação de pensadores. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais UNIDADE Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais Contextualização Ana Terra (de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo) personifica a mulher gaúcha, corajosa, lutadora. Vive um caso de amor com Pedro Missioneiro, o índio que sua família abrigou, posteriormente, morto pelos irmãos dela que querem assim “salvar a honra” da família. Depois disso, a família toda a despreza, somente a mãe mantém o diálogo. Ana tem o filho, que recebe o nome do pai. Anos mais tarde, a fazenda é invadida por saque- adores castelhanos. Sua cunhada, Eulália, foge e se esconde com as crianças. Os homens ficaram para proteger a fazenda com armas e Ana ficou para despistar os bandidos, pois sabia que se eles chegassem a entrar na casa veriam que lá morava alguma mulher. O pai e os irmãos foram mortos. Ana foi estuprada por todos os homens da tropa dos castelha- nos até perder a consciência. Recupera-se e comanda o que restou da família na recons- trução de suas vidas na mudança para o povoado de Santa Fé, onde assume a função de parteira. Nas palavras de Scliar (2008): “ Penso nela como uma espécie de sinônimo de mãe, ventre, terra, raiz, verticalidade, permanência, paciência, espera, perseverança, coragem moral.” (SCLIAR, 2008). Vamos assistir a um trecho do filme, dirigido por Jayme Monjardim, sob a forma de minis- série exibida pela Rede Globo de Televisão, de 1 a 4 de janeiro de 2014, em que podemos ver uma adaptação dessa linda história. Disponível em: https://youtu.be/17nOLE9hsFg Figura 1 – O tempo e o vento: Cléo Pires vive o papel que foi de sua mãe Fonte: Divulgação Resiliência, paciência, coragem, intuição criativa. Que códigos da inteligência a perso- nagem Ana Terra decifrou? Que competências socioemocionais o autor Érico Veríssimo pôde mostrar construídas nessa heroína e personagem de destaque da literatura brasileira? 6 7 Introdução Os objetivos desta unidade são conhecer aspectos da obra de Augusto Cury, que a fundamenta – O Código da Inteligência (2008) e estabelecer suas relações com as com- petências socioemocionais (para as quais usaremos a sigla CSE): Gestão do intelecto, Autocrítica, Resiliência, Altruísmo, Carisma, Intuição criativa, Debate de ideias e Ges- tão da emoção. Os códigos da inteligência ultrapassam os limites da lógica porque seu domínio faz com as pessoas se diferenciem das demais por se tornarem o seu “eu” como “gestor da psique“ (CURY, 2008), ou seja, alguém que domina as suas particularidades psico- lógicas definidas nas próprias emoções. Desta forma, começa-se a entender a relação entre os códigos da inteligência e as competências socioemocionais (CSE): os códigos da inteligência são os alicerces das inteligências múltiplas, uma das principais teorias que consideram a não-fragmentação humana, o que possibilita ir além do raciocínio lógico, decifrando as emoções, motivações e o pensamento das consequências antes de praticar os atos. Cury (2008, p.59) resume assim tais ideias: “Quem é mais inteligente não é quem tem mais cultura acadêmica, mas quem mais desenvolveu os códigos da inteligência como pensar antes de reagir, gerenciar pensamentos, contemplar o belo, filtrar estímulos estressantes”. A relação entre as CSE e os códigos da inteligência se estreita à medida que as com- petências são desenvolvidas a partir da construção de habilidades, entendidas como a maneira como se pode conquistar o executar da competência com qualidade maior ou com primor mais significativo (ANTUNES, 2017), à medida que se considera competência como a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. No que se refere às competências socioemocionais, esses recursos não são práticos, trata-se de aprender a mobilizar os próprios sentimentos frente a situações que implicam desafios (PERRENOUD apud GENTILI e BENCINI, 2002). Simões (2018, p.3), explica que tais competências como abertura ao novo, autogestão, engajamento com os outros, amabilidade e resiliência emocional podem colaborar na formação e saúde mental de crianças, adolescentes e até mesmo adultos. Em resumo: As competências socioemocionais são definidas como um conjunto de traços,comportamentos e habilidades que incluem tipicamente: 1. Variáveis como atitude, valores,interesse e curiosidade, 2. Variá- veis de temperamento e personalidade como abertura a novas expe- riências, amabilidade, conscienciosidade, extroversão e estabilidade emocional, 3. Variáveis sociais como liderança, sensibilidade social e habilidade de trabalhar com outros, 4. Construtos voltados à au- toeficácia, autoestima e identidade pessoal, 5. hábitos de trabalho, tais como esforço, disciplina, persistência e manejo de tempo, assim como 6.Emoções direcionadas a tarefas específicas, notadamente entusiasmo e ansiedade. (ABED et. al. apud SANTOS, 2018) 7 UNIDADE Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais Como desenvolver competências em sala de aula? É o título de uma importante obra de Celso Antunes – educador brasileiro nascido em 1937, licenciado em Geografia, Mestre em Educação e Especialista em Inteligência e Cognição (ANTUNES, 2020). Nessa obra, o autor trata de temas importantes para a inter-relação entre as competên- cias cognitivas (relativas à aprendizagem) e as competências socioemocionais, tais como os quatro pilares para a educação do século XXI (Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser). Junta-se a isso, as inteligências múltiplas e as múl- tiplas competências, completando o livro com as competências que precisam ser desen- volvidas por professores e alunos. Mais que um manual para docentes, é livro de cabeceira para aqueles que buscam compreender e promover o desenvolvimento de competências na escola e outros espaços. A seguir, os códigos de inteligência, entendidos como competências socioemocionais ou inseridos na sua construção. Autocrítica Analisar o própriocomportamento? Verificar os próprios erros? Ter noção das potencialidades? Figura 2 Fonte: Getty Images A autocrítica se refere à capacidade interna do indivíduo de realizar uma crítica de si mesmo. Ela implica na análise de seus atos, da sua maneira de agir, dos erros cometidos e das possibilidades de realizar uma autocorreção (SANTANA, 2019). O objetivo é o aprimoramento do indivíduo, contribuindo para com seu processo de autoconhecimen- to, em que pode identificar suas dificuldades e pontos fortes. 8 9 Ter autocrítica significa ter maturidade e aceitação para entender que identificar pontos de melhoria não é se depreciar como pessoa, mas almejar o seu crescimento pessoal. Também é diferente de lamentar os erros do passado. É analisá-los para construir o futuro. A análise não se concentra apenas nos erros, mas no papel do indivíduo enquanto ser humano, profissional e participante da sociedade, pensando nas consequências dos seus atos para além do aqui e agora. É preciso buscar o equilíbrio entre autorreflexão e autova- lorização, pensar antes de agir e conseguir enxergar além dos erros. Desenvolver a autocrítica não é um processo individual, pois inclui tomada de atitu- des para com as pessoas com quem se convive, como a humanização, que é o ato de mostrar-se como se realmente é, o que dá mais credibilidade ao indivíduo, ao invés de camuflar pontos menos admiráveis. As pessoas entenderão que generosidade e outras qualidades estão presentes no ser humano comum, que também tem falhas, mas busca saná-las. No relacionamento com outras pessoas, não é difícil enxergar defeitos, porém, o ideal não é acusar, mas primeiro elogiar e valorizar as virtudes, antes de atacar o que é negativo, visando ter generosidade com quem se relaciona familiar ou profissionalmente. As pessoas não devem ser conhecidas superficialmente. No decorrer da convivência, é preciso buscar conhecer os interesses daqueles com quem se convive. Isso facilita esta- belecer os limites de relacionamentos e manter uma relação amistosa. A autocrítica traz consciência e permite que cada um não seja carrasco de si próprio, e muito menos dos outros, mas que sejam posturas construtivas. Altruísmo Será que altruísmo é o antônimo de egoísmo, como pensou o filósofo francês Augusto Comte? Para Augusto Cury (2008, p.84), é a capacidade de se colocar no lugar dos outros, é o segredo da afetividade social, da capacidade de se doar, cuidar, proteger, expressando grandeza de alma, generosidade, compaixão, dentre outras virtudes ligadas à importância que se dá às pessoas, seus sentimentos e necessidades. O altruísmo é a capacidade de se colocar no lugar dos outros. Segundo Cury (2008, p. 8), é o segredo da afetividade social, da capacidade de se doar, cuidar, proteger quem nos cerca. Por conta dessa capacidade, consegue-se perceber o contexto em que outros se inserem, captar seus conflitos e preocupações. Quando uma pessoa é altruísta, costu- ma ser uma fiel servidora, valorizando os seres humanos. Essa CSE pode ser encontrada em diversas pessoas, destacando-se em vários líderes religiosos, membros e líderes de organizações não-governamentais ou qualquer tipo de pessoa que age para compreen- der a natureza alheia e/ou promover a sua melhoria. Um exemplo foi o sociólogo Her- bert de Souza, mais conhecido como Betinho, idealizador de uma campanha nacional contra a fome na década de 1990 – Ação da Cidadania, contra a fome, a miséria e pela vida, que além de campanha, deu origem a uma organização não governamental. 9 UNIDADE Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais Figura 3 – Betinho, o irmão do Henfi l Fonte: Wikimedia Commons Para ser altruísta, é preciso construir uma postura positiva diante da vida, acredi- tando no potencial do ser humano no sentido de fortalecer o sentimento de gratidão. Desenvolver essa competência socioemocional envolve a valorização das pessoas, indo além de comportamentos observáveis e buscando a razão dos sentimentos e ações. Em situações de poder, o indivíduo deve utilizá-lo para promover crescimento e aprimora- mento de seus liderados, ao invés de subjugar e silenciar. O altruísmo não é uma competência inata. Pode ser desenvolvida desde a infância, sendo a família a primeira escola para essa tarefa, uma vez que o primeiro passo é a criança estar diante de bons exemplos, que podem ser encontrados na família, escola, religião e em outras instituições. Além dos exemplos, é essencial que a criança seja en- sinada a compartilhar aquilo que possui com outros, como lanches e brinquedos. Esse ensinamento deve perdurar até a idade adulta. A literatura infantil pode auxiliar os pais e educadores a mostrarem exemplos para os pequenos. Uma observação que se faz é que desenvolver o altruísmo não é um processo isolado, mas que se constrói juntamente com outras CSE e habilidades socioemocionais, como o respeito e a empatia. Lugares e Pessoas: Herbert de Souza Nascido em 03 de novembro de 1935, na cidade de Bocaiúva, em Minas Gerais, Herbert José de Souza, popularmente conhecido como Betinho, foi um homem de grande atuação em traba- lhos sociais no Brasil.Formado em Sociologia e Política de Administração Pública pela Univer- sidade de Minas Gerais, ergueu a bandeira da transformação social, voltado para o sentido da união e da congregação com projetos e obras como a fundação da Ação Popular para fundação do socialismo no Brasil, luta contra a ditadura militar (1964-1985), motivo pelo qual foi exila- do, retornando em 1979.Em 1993 fundou a Ação da Cidadania, programa de luta pela vida e contra a miséria, combatendo a fome e o desemprego através da democratização da terra. Betinho era portador de hemofilia, uma doença transmitida geneticamente, que apresenta deficiência na coagulação do sangue, podendo causar graves hemorragias. Em consequência da doença, Herbert de Souza fazia transfusões de sangue constantemente, sendo acometido pela aquisição do vírus HIV (Human Immunodeficiency Vírus), vírus da imunodeficiência huma- na, causador da AIDS. Dois de seus irmãos, o cartunista Henfil e o músico Chico Mário, falece- ram pelos mesmos problemas. Com uma belíssima história de vida, de luta pelos direitos do próximo, aos 61 anos de idade, Betinho faleceu, no Rio (BARROS, 2020). 10 11 Carisma O conceito de carisma é muito próximo ao de altruísmo. Cury (2008, p.100) define altruísmo como o segredo da paixão pela humanidade, enquanto carisma é o segredo da paixão pela vida. Os dois juntos significam estar de bem consigo e com os outros. Envolve a capacidade de encantar, envolver e surpreender. Em sentido geral, carisma é “despertar admiração, respeito ou fascinação; qualidade de quem fascina ou atrai, despertando a simpatia das pessoas com as quais convive” (DICIO, 2009). Um indiví- duo carismático possui um conjunto de qualidades que o caracterizam como um sujeito notável, admirável ou fascinante aos olhos de outros indivíduos. Pessoas carismáticas são exímias observadoras e tiram o foco de si próprias: costu- mam escutar mais do que falar e ouvem as pessoas indistintamente, valorizando seus feitos. Segundo Fernandes (2016), ao conversarem, escolhem bem as palavras, não discutem as falhas dos outros e admitem as suas. Acrescenta-se o bom humor e a inteligência emocional para que se possa comunicar e ouvir o outro sem julgamentos. Assim, pode-se dizer que esses comportamentos são dicas para que se desenvolva o carisma. Agora, pode-se ensinar? Figura 4 – Seção de psicoterapia Fonte: Getty Images Ensinar carisma é praticar e incentivar outros a determinadas ações e comportamen- tos que auxiliam no seu desenvolvimento (CURY, 2008, p.107): Ter prazer em elogiar e contribuir com os outros; Surpreender a si e aos outros, valorizar e agradecer a todas as pessoas que contribuam com você; Não se deixar enredar pelo ciúme e pela inveja, ter prazer com o sucesso dos outros e dentro do possível procurar contribuir com eles; Valorizaras pequenas coisas, jamais desprezar os pequenos detalhes. Debate de Ideias Debate de ideias é um código da inteligência que não conseguimos traduzir em compe- tência socioemocional porque requer e fomenta habilidades que constroem competências 11 UNIDADE Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais relacionadas à liderança e gestão do intelecto. Segundo Cury (2008, p. 93), o debate de idéias é o alicerce da formação de pensadores, o segredo que fundamenta os intelectos livres, destemidos, intrépidos, seguros, participativos. É o que habilita o trabalho em equipe, a in- teração e troca de experiências. Enfim, é a possibilidade de comunicação e expressão. Conseguir debater ideias é romper com o silêncio e a timidez paralisantes, inserindo-se nos grupos e sociedade. Isso é possível quando o indivíduo é instigado a expressar seus pensamentos, questionar o conhecimento transmitido e a sua produção. Ser crí- tico e questionador é um dos primeiros passos para a construção de um líder, seja de uma equipe ou do próprio intelecto. Quem domina o debate de ideias deixa fluir o raciocínio, ex- põe, e não impõe o que pensa, não coloca os seus paradigmas como verdades absolutas e possibilita que outros se exponham e participem do diálogo. Para decifrar esse código da inteli- gência, Cury (2008, p.100) resume como conduzir o processo: “Treinar trabalhar em equipe, valorizar a força do grupo, co- laborar, interagir, traçar objetivos, valorizar idéias mesmo que inaproveitáveis, romper com o processo de isolamento e pro- mover a cooperação.” Gestão do Intelecto Identidade Por: Mia Couto Preciso ser um outro Para ser eu mesmo Sou grão de rocha Sou o vento que a desgasta Sou o pólen que a desgasta Sou areia sustentando O sexo das árvores Existo onde me desconheço Aguardando pelo meu passado Ansiando a esperança do futuro No mundo que combato, morro No mundo por que luto, nasço. Fonte: https://bit.ly/2xyvJmc O poema de Mia Couto (1955-presente), escritor e biólogo moçambicano, começa a nossa reflexão do que seria a gestão do intelecto e das emoções, o que se relaciona diretamente com a autogestão ou gestão de si próprio, algo que é possível quando se tem a consciência plena da sua identidade, isto é, seus limites e potencialidades. Figura 5 – Duas pessoas conversando Fonte: Adaptado de Getty Images 12 13 Em resumo, um gestor é o “indivíduo responsável pela administração e pelo geren- ciamento (planejamento, organização, controle e direção) dos bens ou dos negócios que pertencem a outra pessoa, empresa ou instituição” (DICIO, 2009). Um gestor do intelecto gerencia a sua compreensão do mundo e de si próprio, é um coordenador dos seus pen- samentos. Para Cury (2008, p.65), é alguém que preserva a saúde psíquica e, por isso, torna-se cada vez mais tranquilo e sereno ao longo do tempo, não se abalando com o que pensam e falam sobre ele. Valoriza a sua qualidade de vida, evitando ser escravo do pas- sado ou do presente e de se fazer vítima de pensamentos perturbadores. Figura 6 Fonte: Getty Images Desenvolver a gestão do intelecto significa tomar atitudes que envolvem a discussão das próprias inquietações – medos, ansiedades, preocupações e angústias – consigo pró- prio e com interlocutores, buscar constantemente a sua identidade e seus objetivos, de modo a identificar os seus anseios e seu papel na sociedade. Ao deparar-se com críticas ou comentários negativos, o gestor do intelecto precisa usar de questionamentos e dúvi- das sistemáticas para averiguar o fundamento de tais comentários e que posturas deve tomar diante de seu conteúdo, ao invés de simplesmente aceitá-los e deixar-se abalar. Gestão da Emoção E as emoções? Como ser um gestor? Um gestor da emoção é alguém que se posiciona como administrador dos sentimen- tos, gerenciador das inseguranças, dos temores, dos medos, das angústias, do humor triste, do ciúme, da agonia, da aflição (CURY, 2008, p. 127). Diante das diversas adver- sidades da vida, não se pode impedir que essas emoções existam, mas se pode geri-las, impedindo que sejam paralisadoras da vontade, fazendo com que o indivíduo caminhe sempre em direção ao prazer e à tranquilidade. Essa gestão parte do autoconhecimento 13 UNIDADE Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais e da ciência dos próprios objetivos, o que possibilita a capacidade de escolher, decidir, traçar caminhos, estabelecer metas. Sobre as Emoções As emoções exercem uma força incrivelmente poderosa no comportamento huma- no. Emoções fortes podem fazer com que você faça ações que você normalmente não pode realizar ou evite situações que você gosta. Por que exatamente temos emoções? O que nos faz ter esses sentimentos? Pesquisadores, filósofos e psicólogos propuseram diferentes teorias para explicar o como e o porquê por trás das emoções humanas. O que é emoção? Na psicologia, a emoção é muitas vezes definida como um estado complexo de senti- mento que resulta em mudanças físicas e psicológicas que influenciam o pensamen- to e o comportamento. A emocionalidade está associada a uma série de fenômenos psicológicos, incluindo temperamento, personalidade, humor e motivação. Segun- do o autor David G. Meyers, a emoção humana envolve “excitação fisiológica, com- portamentos expressivos e experiência consciente”. Fonte: CHERRY, 2018 Um gestor da emoção certamente tem desenvolvidas as competências de carisma e altruísmo, sendo uma pessoa envolvente, agradável e positivamente influenciadora. Por isso, torna-se seguro de si, autoconfiante, autodeterminado, o que favorece a solidez da autoestima e a estabilidade emocional (CURY, 2008, p. 135). Desenvolver a competência da gestão da emoção envolve posturas que evitam des- confortos, decepções e frustrações, como não exigir de si próprio e de outros mais do que se pode dar, e não esperar reconhecimento por aquilo que se fez a outrem. Genero- sidade, tolerância e altruísmo são necessários para compreender os traumas alheios: por trás de uma pessoa que fere, existe alguém que foi ferido e que precisa mais de socorro do que de julgamentos. Como não se nasce com tais competências desenvolvidas, o ges- tor das emoções precisa ter estratégias para não ser invadido pelas emoções negativas. Isso inclui a seletividade daquilo que é ou não relevante em determinadas situações e, principalmente, ter autodeterminação em seus objetivos e metas de vida, o que vai fazer com que não perca seu foco. Intuição Criativa Quando se pensa em criatividade, as expressões da arte sempre vêm à mente: co- res, pinceis, tintas, notas musicais. Contudo, a criatividade vai além: é a capacidade de criar, produzir ou inventar coisas novas, bem como a capacidade de transformar situações e inovar no modo de agir (PPDC, 2019). Por outro lado, a intuição pode ser entendida como o conhecimento claro, direto ou imediato da verdade, sem o auxílio do raciocínio. Sendo assim, a intuição criativa seria uma competência em que a capacidade de produzir o novo para as situações apresentadas acontece de maneira espontânea. 14 15 A intuição criativa é o que liberta o imaginário, produz novos conhecimentos, refi- na o olhar multifocal diante dos fenômenos físicos, psíquicos e sociais para vê-los sob múltiplos ângulos (CURY, 2008, p. 107). Liga-se à ousadia, aventura e atrevimento por direcionar-se sempre à busca do inédito. Muito diferente de fantasia ou superstição, exige conhecimento de uma situação para poder encontrar soluções inovadoras. Essa competência nos permite ser livres para a utilização das próprias ideias, usando a ima- ginação para transportar para o real coisas que não estão ao alcance dos sentidos, tais como os sentimentos mais profundos (MOSER, 2015, p. 6). Desenvolver a intuição criativa é ir além de deixar a imaginação fruir de forma desor- denada, o que equivocadamente se considera liberdade. É tirar as amarras da mente hu- mana, ultrapassar paradigmas rígidos e respostaspadronizadas, buscando a imaginação para aliviar e/ou resolver os focos de tensão, posto que o uso de ideias criativas parte da necessidade de resolver situações-problema. Figura 7 – Conceito de ideias criativas e inovação Fonte: Getty Images Assim, a título de ilustração, imaginemos que um jovem de 22 anos praticou um delito e foi condenado a um ano de prisão. Ao sair, está verdadeiramente arrependido e procura meios de se sustentar sem usar o crime como recurso para obtenção de ren- da. No contexto social brasileiro, em que há uma diminuição no número de empregos oferecidos e discriminação a ex-presidiários, esse jovem pode usar estratégias comuns de obtenção de renda, como entregar currículo a uma grande empresa e aguardar ser chamado para entrevista? Será preciso buscar recursos dentro de si para saber que habilidades desenvolver e aplicar para resolver a situação. Provavelmente terá que aprender a empreender, num processo de autoconhecimento em que irá identificar quais suas melhores potencialida- des: Vender? Cozinhar? Oferecer quais serviços? De que maneiras? Cury (2008, p.109) aponta que uma das ferramentas para decifrar o código da in- tuição criativa é ser resiliente, para enxergar o caos como oportunidade criativa. Dessa maneira, pode-se desenvolver habilidades que jamais seriam pensadas e almejadas. 15 UNIDADE Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais Resiliência Para entender o que é a resiliência, voltemos ao exemplo da personagem principal do livro, Ana Terra. O escritor Moacyr Scliar descreve esta personagem da obra O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, como a personificação da mulher gaúcha, corajosa, lu- tadora. Vive um caso de amor com Pedro Missioneiro, o índio que sua família abrigou, posteriormente, morto pelos irmãos dela que querem assim “salvar a honra” da família. Nas palavras do autor: “Penso nela como uma espécie de sinônimo de mãe, ventre, ter- ra, raiz, verticalidade, permanência, paciência, espera, perseverança, coragem moral” (SCLIAR, 2008). A resiliência é a capacidade de sobreviver às intempéries da existência (CURY, 2008, p. 5). Na Física, é a propriedade dos materiais que acumulam energia, e que quando sub- metidos a situações de estresse, como rupturas ou um momento de tensão, podem ou não ser danificados, e, caso sejam, eles terão a capacidade de voltar ao normal (SIGNI- FICADOS, 2011). A ideia de resiliência se completa com a definição de psicoadaptação, que é a adaptação da emoção humana de sentir prazer ou dor diante da exposição de um mesmo estímulo (PPDC, 2019). Segundo Cury (2008, p. 62), todos têm o fenômeno da psicoadaptação em seu psiquismo. Sem esse fenômeno uma mãe jamais suportaria a perda de um filho, uma criança não sobreviveria a uma violência sofrida na infância e um adulto não suportaria os vexames, humilhações sociais, crises financeiras e outras situações de sofrimento. Não se trata de se acostumar com a dor, mas de retomar a vida após traumas. Como na Física, é voltar ao normal após o momento de tensão, ainda que haja marcas. Figura 8 Fonte: Getty Images Nesse ponto, voltamos à Ana Terra. A personagem sofreu todas as humilhações por ter perdido a sua virgindade e engravidado de um indígena, grupo racial e social discri- minado no século XVIII, teve seu filho e o criou desprezada pela família e sem o apoio do companheiro, que fora assassinado. Educou o filho, também chamado Pedro, como o pai, segundo os padrões que julgava mais corretos. Após reerguer-se diante desses 16 17 acontecimentos, a família é atacada por castelhanos e além de perder pai e irmãos, é brutalmente violentada para defender a família que a desprezou. A partir daí, comanda o que dela restou na reconstrução de suas vidas em outro lugar, onde busca uma nova ocu- pação: parteira. O pequeno trecho mostra que Ana tem desenvolvidas as competências como altruísmo, gestão do intelecto, gestão da emoção, intuição criativa e resiliência. Conseguiu enfrentar medos e traumas, recuperar-se de situações difíceis e reinventar-se, tornando-se chefe de família, em outro lugar e com outras tarefas. Uma pessoa resiliente precisa superar suas perdas, tragédias e frustrações, reco- nhecendo as derrotas como passos para as vitórias e para o amadurecimento frente às situações colocadas pela vida, valorizando os percalços e enfrentando as adversidades. O caminho para o desenvolvimento dessa competência é equilibrar as emoções, sem psicoadaptar-se ao estímulo negativo. Assis (2018) aponta quatro passos para o desen- volvimento da resiliência: • Tomar consciência sobre qual é o seu maior propósito e a sua principal busca; • Valorizar as ações e sentimentos que promovem confiança para enfrentar com flexibilidade as situações de crise, superar dificuldades e preservar a sua capacidade de seguir em frente; • Buscar um novo significado para essas crenças rígidas e inflexíveis, que muitas vezes nos fazem agir da mesma forma e com as mesmas atitudes para situações que exigem soluções criativas; • Desenhar e definir os passos que serão necessários para treinar as crenças rígi- das e inflexíveis, que foram identificadas como vulneráveis e que devem ser reestru- turadas e flexibilizadas. Assim, pode-se verificar a necessidade de outras competências, como a gestão do intelecto e a intuição criativa para construir a resiliência. 17 UNIDADE Os Códigos da Inteligência e o Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros O menino do pijama listrado BOYNE, J. O menino do pijama listrado. Trad. Augusto Pacheco Calil. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2007. O Código da Inteligência CURY, A. O Código da Inteligência. Rio de Janeiro: Ediouro, 2008. Vídeos Palestra Augusto Cury Gestão da Emoção https://youtu.be/E7OA9C1QHCE Inteligências, competênciase habilidades https://youtu.be/V0oqZBkMavQ https://go.aws/34HOPmJ Leitura Competências socioemocionais SIMÕES, R. Competências socioemocionais. São Paulo: Nova Escola/Editora Abril, 2018. https://go.aws/34HOPmJ 18 19 Referências ASSIS, P. Quatro passos fundamentais para desenvolver resiliência. SOBRARE, 2018. 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