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Psicopatologia ( EbooK )

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ser 
1 
gente criando o futuro 
Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz 
Diretor-presidente Jânyo Diniz 
Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo 
Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz 
Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira 
Autoria Juliana Zantut Nutri 
Projeto Gráfico e Capa DP Content 
DADOS DO FORNECEDOR 
Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design lnstrucional, 
Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. 
© Ser Educacional 2021 
Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro 
Recife-PE - CEP 50100-160 
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. 
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. 
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio 
ou forma sem autorização. 
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.0 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do 
Código Penal. 
Imagens de ícones/capa: © Shutterstock 
1 
ASSISTA 
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. 
1 
CITANDO 
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa 
relevante para o estudo do conteúdo abordado. 
1 
CONTEXTUALIZANDO 
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; 
demonstra-se a situação histórica do assunto. 
1 
CURIOSIDADE 
I _ J: _____ :_ ---- -----1- - 1-- ..1 -----L--C..I- - :_..._ _______ ..__ -- L -- - ____ _ _ ...__ 
\ 
' 
, 
, 
' 
1 
- -,-- ,-- - - - - -~- -----
tratado. 
1 
DICA 
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma 
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. 
1 
EXEMPLIFICANDO 
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. 
!
EXPLICANDO 
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da 
área de conhecimento trabalhada. 
Unidade 1 - Aspectos gerais da Psicopatologia 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 
Definição e evolução histórica da Psicopatologia ....................................................... 13 
Raízes históricas da Psicopatologia ......................................................... ................... 13 
Definição de psicopatologia .......................................................................................... 14 
Saúde e doença em Psicopatologia ................................................................................. 16 
Conceito de normalidade .............................................................................................. 16 
Critérios de normalidade ................................................................................................ 17 
Etiopatogenia em Psicopatologia ..................................................................................... 19 
Determinismos biológicos e o papel do meio ............................................................ 20 
Fatores de risco e de proteção para a saúde mental .............................................. 21 
O estudo das funções psíquicas ........................................................................................ 26 
O psicodiagnóstico .......................................................................................................... 27 
A entrevista ..................................................................................................................... 28 
O exame psíquico ........................................................................................................... 31 
Sintetizando ........................................................................................................................... 36 
Referências bibliográficas ................................................................................................. 37 
Unidade 2 - Funções psíquicas elementares e transtornos psicopatológicos 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 40 
Funções psíquicas elementares ........................................................................................ 41 
Alterações na consciência e na atenção .................................. ................................. 41 
Alterações na orientação e nas vivências de espaço e tempo .............................. 45 
Alterações na memória, na afetividade e na inteligência ........................................ 47 
Alterações na vontade e no agir .................................................. ................................. 52 
Funções psíquicas superiores ........................................................................................... 55 
Alterações na linguagem .............................................................. .... ........................... .. 56 
Alterações no pensamento e no juízo de rea lidade .................................................. 57 
Semiologia médica e psicopatológica ............................................................................ 59 
Semiologia médica ........................................................................................................ .. 59 
Nosologia e semiologia psicopatológica .................................................................... 60 
Transtornos psicopatológicos ou psiquiátricos ............................................................. 62 
Descrição dos transtornos psicopatológicos ............................................................. 62 
Sintetizando ........................................................................................................................... 67 
Referências bibliográficas ................................................................................................. 68 
Unidade 3 - Tratamento das psicopatologias, as neuroses, a ilusão e as alucinações 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 70 
Ambiente psiquiátrico e tratamento das psicopatologias ...................... ..................... 71 
Tratamento farmacoterápico .................................................................... ..................... 72 
Eletroconvulsoterapia ..................................................................................................... 72 
Tratamentos psicoterápicos .......................................................................................... 73 
O contexto social e familiar no desenvolvimento das psicopatologias .................... 77 
Influência familiar no desenvolvimento das psicopatologias .................................. 77 
Rede de apoio e cuidados na comunidade ................................................................. 78 
Neuroses e tratamento ........................................................................................................ 79 
Causas possíveis das neuroses ............................................................... .. ................... 80 
Diferenças entre a neurose e a psicose na infância ................................................ 82 
Tratamento das neuroses ............................................................................ ................... 85 
Ilusão e alucinação .............................................................................................................. 86 
Ilusão e pareidolia ........................................................................................................... 86 
Alucinações e sinestesia ............................................................................................... 88 
Sintetizando ........................................................................................................................... 91 
Referências bibliográficas .................................................................................................92 
Unidade 4 - Distimia, esquizofrenia, transtorno de personalidade antissocial e 
abordagens atuais de tratamento 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 95 
Transtorno depressivo persistente (distimia) ................................................................. 96 
Causas e diagnóstico ...................................................................................................... 97 
Esquizofrenia ou espectro da esquizofrenia ................................................................... 98 
Tinns r!P. P.sn11imfrP.ni::i .. ......................................... ................... . ............... lílíl 
Causas e diagnóstico .................................................................................................... 101 
Tratamento e prognóstico ............................................................................................ 103 
Transtorno de personalidade antissocial (TPAS) ......................................................... 105 
Causas e prevalência ................................................................................................... 106 
Diagnóstico e tratamento ............................................................................................. 107 
Abordagens atuais e alternativas para o tratamento das psicopatologias ............... 109 
Hospital-dia psiquiátrico .............................................................................................. 112 
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ................................................................. 113 
Trabalhos comunitários e alternativas de tratamento ............................................ 114 
Sintetizando ................................... ...................................................................................... 116 
Referências bibliográficas ............................................................................................... 117 
Olá, estudante! Seja bem-vindo! 
A Psicopatologia é essencial para o trabalho em saúde mental, seja em con-
sultórios ou em serviços de tratamento, pois apesar de ser considerada uma 
área autônoma, a Psicopatologia faz interface e fundamenta a prática de pro-
fissionais de saúde mental, como psicólogos, psiquiatras, neuropsiquiatras, te-
rapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais. 
A Psicopatologia é a ciência que trata dos transtornos mentais, suas causas, 
mudanças estruturais e funcionais e formas de sua manifestação. Esta ciência 
compreende a ordenação dos fenômenos psicopatológicos, a nosologia psi-
quiátrica, a semiologia psiquiátrica, a etiopatogenia dos transtornos mentais 
no desenvolvimento humano e a análise dos fatores de risco e de proteção 
para a saúde mental. 
Além disso, ela é usada para analisar as formas de tratamento psicológico 
do paciente psiquiátrico e conhecer a importância do contexto social e familiar 
no desenvolvimento das psicopatologias. 
Ao longo deste curso, vamos apresentar os conceitos centrais da Psicopa-
tologia e as ideias sobre normalidade e patologia, além de analisar as funções 
mentais e suas alterações. Por fim, vamos conhecer algumas psicopatologias, 
como neurose, esquizofrenia, transtorno de personalidade antissocial e os 
transtornos mentais que ocorrem na infância e na adolescência, assim como 
os contextos de tratamento das psicopatologias (o hospital-dia, o Centro de 
Atenção Psicossocial e os trabalhos em comunidades). 
PSICOPATOLOGIA • 
A professora Juliana Zantut Nutti é 
doutora (2001) e mestre (1996) em Edu-
cação pela Universidade Federal de São 
Carlos - UFSCAR, e é graduada em Psi-
cologia pela Universidade Federal de 
Uberlândia (1989). 
É autora de materiais didáticos instru-
cionais desde 2016, com diversas pro-
duções realizadas para uma série de 
disciplinas de cursos de Graduação e 
Pós-Graduação na modalidade de edu-
cação à distância. Atua como coorde-
nadora de cursos de especialização em 
Psicopedagogia Clínica e Institucional 
desde 2001. É docente de diversos mó-
dulos em cursos de Pós-Graduação na 
área de Psicopedagogia, sendo docente 
do Ensino Superior desde 1999. 
Currículo Lattes: 
http://lattes.cnpq.br/8740276268617428 
Dedico esse trabalho aos meus sobrinhos-netos Nicolas e Julian. Que eles se 
desenvolvam em uma sociedade digna e promovedora de saúde mental. 
Dedico-o, também, aos profissionais da área de saúde mental que auxiliam as 
pessoas que sofrem de enfermidades mentais e são excluídas socialmente. 
UNIDADE 
~ 
~ 
---• ---
PSICOPATOLOGIA • 
ser 
educacional 
Objetivos da unidade 
Conhecer a definição e a evolução histórica da Psicopatologia; 
Discutir os conceitos de normalidade e patologia em Psicopatologia; 
Analisar a etiopatogenia e as formas de estudo das funções psíquicas. 
Tópicos de estudo 
Defin ição e evolução histórica 
da Psicopatologia 
Raízes históricas da Psicopatologia 
Definição de psicopatologia 
Saúde e doença em Psicopatologia 
Conceito de normalidade 
Critérios de normalidade 
Etiopatogenia em Psicopatologia 
Determinismos biológicos e o 
papel do meio 
Fatores de risco e de proteção 
para a saúde mental 
O estudo das funções psíquicas 
O psicodiagnóstico 
A entrevista 
O exame psíquico 
PSICOPATOLOGIA • 
•• 
Definição e evolução histórica da Psicopatologia 
A Psicopatologia é uma área científica que estuda o transtorno mental nos 
seguintes aspectos: suas causas; as alterações estruturais e funcionais relaciona-
das ao quadro; métodos de investigação; e formas de manifestação, como sinais 
e sintomas. 
Os transtornos mentais se manifestam por meio do comportamento, cogni-
ção e experiências subjetivas anormais (CH ENIAUX, 2015). Sua evolução histórica 
está ligada à Medicina e aos estudos da Filosofia, da Psicologia e da psicanálise . 
•• 
Raízes históricas da Psicopatologia 
O termo psicopatologia foi usado pela primeira vez por Jeremy Bentham, 
em 1817, porém Esquirol e Griesinger, a partir da publicação de seus trabalhos 
na França, em 1837, e na Alemanha, em 1845, respectivamente, são os f unda-
dores oficiais dessa área (CHEN IAUX, 2015). 
As raízes históricas da Psicopatologia estão na tradição médica, o que a levou, 
em sua evolução, à observação longa e cuidadosa de um número considerável 
de pessoas com transtornos mentais. Por outro lado, a Psicopatologia também 
decorre da área humanista, como a Filosofia, a Literatura, as artes e a psicaná-
lise, que veem no transtorno e no so-
frimento mental formas de expressão 
e de reconhecimento das dimensões 
humanas que, sem a ocorrência desses 
fenômenos, permaneceriam ocultas. 
Um dos maiores representantes da 
área de Psicopatologia é o fi lósofo e 
psiquiatra alemão Karl Jaspers (1883-
1969), que afirmava que a Psicopatolo-
gia é uma ciência básica que dá apoio 
O tJ.:>1'1UIOll 10, C \..UJV \..VI II IC\,.II I I CI llU C 
aplicado a uma prática profissional e 
social concreta (DALGALARRONDO, 
2019). Figura 1. Karl Jaspers. 
PSICOPATOLOGIA • 
Oficialmente, a área de Psicopatologia nasceu e evoluiu a partir da prática 
psiquiátrica, que é uma especialidade médica que utiliza esses conhecimentos 
como os seus fundamentos. 
•• 
Definição de psicopatologia 
A palavra psicopatologia significa, etimologicamente, o discurso ou saber 
(logos) sobre o sofrimento (pathos) da mente (psykhé) (CECCARELLI, 2005). A 
área da Psicopatologia estuda uma variedade de transtornos mentais que são 
considerados como "vivências, estados mentais e padrões comportamentais 
que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica (as vivências dos 
doentes mentais (sic) possuem dimensão própria, genuína, não sendo apenas 
'exageros' do normal)" (DALGALARRONDO, 2019, p. 27). 
De forma mais ampla, a Psicopatologia é considerada como o conjunto de 
conhecimentos sistemáticos e elucida-
tivos referentes ao adoecimentomen-
tal do ser humano que, por ser uma 
área científica, não atribui critérios de 
valor nem de moralidade, nem pos-
sui dogmas e/ou verdades absolutas 
sobre as enfermidades mentais. Ao 
psicopatologista cabe a observação, 
identificação e compreensão dos ele-
mentos do transtorno mental, rejei-
tando-se os dogmas religiosos, filo-
sóficos, psicológicos ou biológicos, já 
que o conhecimento buscado deve ser 
permanentemente revisto e reformulado (DALGALARRONDO, 2019). 
, 
Portanto, a Psiquiatria representa a aplicação prática da Psicopatologia, 
mas se utiliza do conhecimento de outras disciplinas científicas. Também di-
fere da Neurologia e da Psicologia, pois é uma ciência autônoma, apesar de se 
beneficiar das tradições dessas duas áreas. As relações entre a Psicopatologia 
e a Psicologia possuem três classificações, de acordo com Sonenreich e Bassitt 
(1979), conforme se vê no Quadro 1: 
PSICOPATOLOGIA • 
QUADRO 1. RELAÇÕES ENTRE A PSICOPATOLOGIA E A PSICOLOGIA 
~ 
r 
1. Psicopatologia como a 
patologia do psicológico: 
a Psicopatologia f vista 
como uma subdisclplina da 
Psicologia geral e estuda os 
fen&nenos anormais. 
.... 
2. Psicopatologia como a psicologia 
do patológico: 
a Pskopatologla fuma dlnda 
audnoma que estuda as~ 
quantitativas do normal. Essa f a 
dasslfkação mais utllzada. 
3. Psicopatologia como 
semiologia psiquiátrica: 
a Psicopatologia se restringe ao 
estudo dos sintomas e sinais dos 
transtornos pslqui.icos. 
Ainda sobre as relações da Psicopatologia com as outras áreas de conheci-
mento, ela se relaciona a variadas abordagens e referenciais teóricos. 
Para Cheniaux (2015, p. 19), "não há apenas uma psicopatologia: são várias". 
Assim, elas podem ser divididas em dois grupos: explicativas e descritivas. As 
psicopatologias explicativas são baseadas nos modelos teóricos, em estudos ex-
perimentais e procuram esclarecer sobre a etiologia (conjunto de prováveis cau-
sas) dos transtornos mentais. Elas podem seguir uma abordagem psicodinâmica 
(por exemplo, a psicanálise), cognitiva, existencial, biológica ou social. 
No grupo das psicopatologias descritivas estão as linhas que enfatizam ades-
crição e a categorização das experiências anormais, de acordo com a informação 
dada pelo paciente e pela observação clínica de seu comportamento. É baseada 
na semiologia (ciência que estuda os símbolos e signos) e apoia a psiquiatria clíni-
ca, como é o caso da psicopatologia fenomenológica. No entanto, explicar e des-
crever são comportamentos complementares, pois somente se pode 
explicar algo que já foi descrito previamente. Em síntese, a Psicopa-
tologia é uma área científica que estuda os transtornos 
mentais, sua etiologia, sinais e sintomas e as alterações 
estruturais e comportamentais produzidas no indi-
víduo. É autônoma, mas dialoga e apoia o trabalho 
prático do psiquiatra e de outros profissionais de 
saúde mental. 
PSICOPATOLOGIA • 
•• 
Saúde e doença em Psicopatologia 
Uma das discussões mais complexas na Psicopatologia envolve os critérios 
de saúde e doença, isto é, de normalidade e de patologia em saúde mental. 
A distinção do que se considera como o normal e patológico em Medicina é 
imprecisa e até mesmo na Psiquiatria e na Psicopatologia, em que se uti lizam 
cotidianamente os termos, são questionados. 
•• 
Conceito de normalidade 
Cheniaux (2015) cita três critérios de normalidade: o subjetivo, o estatís-
tico e o qualitativo. De acordo com o critério subjetivo, considera-se como 
doente quem está sofrendo ou se sente doente. No critério estatístico ou 
quantitativo, considera-se normal o que é comum ou que está significante-
mente próximo da média. No critério qualitativo, o normal é considerado 
como aquilo que é adequado a um padrão funcional considerado como ideal. 
Um dos principais estudos sobre o conceito de normalidade em Psicopato-
logia foi realizada por Canguilhem, na obra O normal e o patológico, publicada 
em 1943. O autor apresenta duas concepções distintas sobre os transtornos: 
na primeira, apresenta a relação saúde-doença sob o ponto de vista quanti-
tativo e, na segunda, sob o ponto de vista qualitativo. A doença, sob o ponto 
de vista quantitativo, se diferencia do estado de saúde normal quando há 
uma perturbação no grau ou quantidade de 
equilíbrio do corpo: o organismo irá buscar 
o retorno ao estado quantitativo de equi-
líbrio, ou seja, a normalidade, anulando a 
doença e atingindo a cura (CANGUILHEM, 
2009). 
Sob o ponto de vista qualitativo, saúde e 
doença são tratados como estados distintos, 
não tendo um grau específico de diferença entre 
um e outro. A doença é pensada como algo que 
transforma o indivíduo e que o faz ser diferente 
do indivíduo anterior. 
PSICOPATOLOGIA • 
•• 
Critérios de normalidade 
Existem vários critérios de normalidade em Psicopatologia, como se pode verifi-
car a seguir (DALGALARRONDO, 2019): 
• Normalidade como a ausência de doença: de acordo com esse critério, a 
saúde é a ausência de sintomas, sinais ou doenças. O indivíduo considerado normal 
é aquele que não é portador de nenhum transtorno mental definido. Esse critério é 
considerado significativamente falho, pois se define a saúde não pelo que ela é, mas 
sobre o que falta ao indivíduo para ser normal; 
• Normalidade ideal: a normalidade é vista de forma utópica, pois se estabe-
lece uma norma idealizada do que se considera suspostamente como sadio e mais 
evoluído, utilizando critérios socioculturais e ideológicos arbitrários e, às vezes, dog-
máticos e doutrinários; 
• Normalidade estatística: o conceito de normalidade é considerado como 
aquilo que se observa mais frequentemente na população em geral e se aplica a 
fenômenos quantitativos. Sendo assim, os indivíduos que se encontram nos extre-
mos das curvas de distribuição normal (curva de Gauss) passam a ser considerados 
anormais ou doentes. Esse critério também é considerado falho, pois nem sempre 
fenômenos muito frequentes são um sinal de normalidade e seus extremos são 
anormais. Exemplos: cáries dentárias, uso abusivo de álcool, sintomas ansiosos e 
depressivos leves, entre outros; 
· Normalidade como bem-estar: critério definido pela Organização Mundial 
de Saúde (OMS) que concebe a saúde como o completo bem-estar físico, mental e 
social e não como ausência de doença. Esse conceito também é alvo de críticas por 
_,._, .... ._ .... ,. ,._.,, .__.._, •• ''".r ..... _. _,....,J._ ... " ..... , •' , ....... _. "._._,,._. ._ •• ''t"'' _._.,_,_., ,.,_. .... ._ ...... _. • ._ ......... , • ...... ......... ._b....,' , .... 
de utopia, pois poucas pessoas se classificariam na categoria de saudáveis; 
• Normalidade funcional: está fundamentada no critério da funcionalidade da 
pessoa.já que enquanto o fenômeno patológico é disfuncional a ponto de produzir 
sofrimento à própria pessoa e/ou ao seu grupo social; 
• Normalidade como processo: nesse critério, a normalidade é vista de forma 
dinâmica, não estática, considerando os aspectos dinâmicos do desenvolvimento 
psicossocial, de estruturações e reestruturações ao longo da vida e de crises e mu-
danças próprias do ciclo de desenvolvimento humano. Este critério é muito aplicado 
na psiquiatria infantil, do adolescente e do idoso; 
PSICOPATOLOGIA • 
• Normalidade subjetiva: utiliza-se a perspectiva subjetiva do sujeito como 
o principal indicador de determinação do estado de saúde. É falho porque as 
pessoas em algumas fases de transtorno mental podem se sentir muito bem e 
saudáveis, mas na verdade possuírem um quadro psicopatológico grave; 
• Normalidade como liberdade: muito usado na linha fenomenológica e 
existencial, que entende o transtorno mental como perda da liberdade exis-
tencial, como um constrangimento do ser, fechamento e limitação das possibi-
lidades de existência; 
• Normalidade operacional: é um critério arbitrário, com fins pragmáticos, 
em que as definições de normal e patológico são decididaspor especialistas 
a priori, e, posteriormente, tenta-se atuar com esses critérios, consciente de 
suas possíveis consequências. O normal é visto como uma idealização deter-
minada por médias aritméticas ou por estatísticas. No caso dos transtornos 
mentais, as estatísticas somente podem ser usadas para um certo número de 
pessoas, mas são aplicadas a um indivíduo. 
GRÁFICO 1. CURVA DE GAUSS 
~ 
Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/06/2021 (Adaptado' 
A finalidade dos critérios de normalidade e doença não é a de 
não emitir julgamento de valor, mas de se verificar a fun-
cionalidade da sua utilização para análise em fenôme-
nos, levando-se sempre em conta a posição filosófica do 
profissional. 
PSICOPATOLOGIA • 
ASSISTA 
Para compreender melhor os critérios de normalidade e 
doença, assista ao vídeo do canal Doxa e Episteme, Histó-
ria da Loucura na Idade Clássica Michel Foucault resumo, 
sobre a obra do filósofo Michel Foucault. Nele, vemos um 
resumo de como o autor estudou a loucura e os critérios 
de normalidade no decorrer da Idade Clássica. 
Pode-se concluir que os critérios de normalidade e de patologia, ou anor-
malidade, em Psicopatologia são variados em função de fenômenos específi-
cos com os quais se atua e das opções filosóficas e técnicas do profissional de 
saúde mental. 
Em alguns casos, podem ser utilizadas as associações de vá-
rios critérios de normalidade ou doença, de acordo 
com os objetivos pretendidos. O uso desses crité-
rios exige que os profissionais de saúde tenham 
uma postura crítica e reflexiva, pois o que se 
chama de normal e patológico deve ser conti-
nuamente estudado. 
Etiopatogenia em Psicopatologia 
•• 
Para discutir a etiopagenia, que é o estudo das causas das doenças e dos 
mecanismos patogênicos que atuam para desenvolvê-las, deve-se compreender 
a relação entre desenvolvimento humano, saúde e transtorno mental. 
A área da Psicopatologia que estuda os mecanismos de etiopatogenia é a 
psicopatologia desenvolvimental, que é uma área dinâmica e em evolução, cons-
truída a partir da obra de T. Achenbach, Developmental 
Psychopathology, publicada em 1974, e dos trabalhos 
de Sroufe, Cicchetti e Rutter. 
A psicopatologia desenvolvi mental engloba vi-
sões sociais, genéticas e desenvolvi mentais e anali-
sa hipóteses por meio de métodos epidemiológicos e 
estatísticos, a fim de entender as origens e o curso dos 
transtornos mentais (POLANCZYK, 2009). 
PSICOPATOLOGIA • 
Os estudos da área da psicopatologia desenvolvimental enfatizavam, ini-
cialmente, o processo de desenvol-
vimento e os transtornos mentais da 
infância, mas passaram a invest igar a 
continuidade dos transtornos entre a 
infância, a adolescência e a idade adul-
ta, além de realizar estudos sobre a 
alta proporção de adultos com trans-
tornos mentais já existentes na ado-
lescência. 
Os achados das pesquisas com a 
abordagem desenvolvimental inte-
gram a epidemiologia, genética, neu-
ropsicologia e estudos de exames de 
neuroimagem, demonstrando elevado 
potencial para a compreensão das origens dos transtornos mentais. 
Portanto, a psicopatologia desenvolvimental é um modelo conceituai do 
qual se desenvolvem estratégias de investigação científica e modelos teóricos, 
elaboram-se abordagens para a compreensão do como e porque determina-
dos indivíduos são mais propensos a desenvolverem transtornos mentais do 
que outros (POLANCZYK, 2009). 
•• 
Determinismos biológicos e o papel do meio 
Sobre as determinações biológicas, a influência ambiental e o papel do 
meio nos transtornos, a psicopatologia desenvolvimental afirma existir um 
consenso entre os pesquisadores de que é a inter-relação entre os fatores 
biológicos e as características ambientais que estão na origem dos transtor-
nos mentais. Entre os fatores biológicos, destacam-se a carga genética do 
indivíduo, e, no contexto ambiental, o cuidado parental, os relacionamentos 
interpessoais e a exposição a eventos estressares. 
Os principais achados da psicopatologia desenvolvi mental sobre a origem 
dos transtornos mentais, de acordo com Polanczyk (2009), estão listados no 
Quadro 2: 
PSICOPATOLOGIA • 
QUADRO 2. ACHADOS DA PSICOPATOLOGIA DESENVOLVI MENTAL SOBRE OS 
TRANSTORNOS MENTAIS 
~ 
Existe uma continuidade no 
processo de desenvolvimento dos 
transtornos mentais, pois o efeito 
das experiências prévias vividas 
pelos indivíduos permanece no 
decorrer do seu desenvolvimento. 
O momento de desenvolvimento 
em que o indivíduo se encontra 
é um fator fundamental para a 
compreensão de todos os outros 
fatores envolvidos na determinação 
do transtorno mental. 
Todos os indivíduos possuem uma 
tendência inata de se adaptarem 
bem ao seu meio ambiente, mas 
se o ambiente é patológico, a 
adaptação também será. 
Os transtornos mentais devem 
ser interpretados e analisados 
em relação ao contexto em que o 
indivíduo está inserido. 
Fatores de risco e de proteção para a saúde mental 
• 
Para compreendermos o papel dos fatores de risco e de proteção no de-
................. 1 •• - ....................................... , ,.J,.. ....................... 1 .......................... .... ,.. .................... , ........ ,,.. ............................... - ,... ........................... ..-
preender o que é o desenvolvimento humano. Segundo Xavier e Nunes (2015, 
p. 17), o desenvolvimento humano "é um terreno vasto, cuja natureza central é 
a de descoberta, mudança, avanços, novas aquisições e crescimento". 
O processo de desenvolvimento ocorre a cada momento, desde a con-
cepção do indivíduo até a sua morte e se relaciona à vida cotidiana, indo da 
aquisição da fala, passando pelo processo de aprendizagem escolar, pelas 
transformações físicas da adolescência, até as mudanças biopsicossociais da 
vida adulta e do processo de velhice. 
O desenvolvimento gera mudanças profundas, especialmente nas duas 
primeiras décadas de vida, as quais resultam em avanços significativos nas di-
mensões neuropsicomotora, cognitiva, afetiva, comportamental, social, den-
tre outras, com vários níveis de complexidade. O estudo do desenvolvimento 
humano analisa os marcos maturativos universais, como as transformações 
físicas e hormonais características da puberdade, que irão ocorrer em todos 
os indivíduos, independente da sua cultura. 
PSICOPATOLOGIA • 
Entretanto, devido à singularidade dos seres humanos, as diferenças indivi-
duais precisam ser consideradas no estudo do desenvolvimento. Isso significa 
que cada adolescente vive as mudanças corporais de uma maneira única e irá 
atribuir-lhes um significado específico de acordo com as suas experiências. As 
três principais concepções ou correntes explicativas do desenvolvimento nas 
ciências humanas são: 
· Inatismo: parte da ideia de que as situações que ocorrem depois do nas-
cimento não são importantes e pouco interferem no desenvolvimento. As qua-
lidades e capacidades básicas de cada ser humano, como a personalidade, va-
lores, hábitos, crenças, a forma de pensar e a conduta social, já estão prontas 
e em sua forma final no nascimento, não sofrendo quase nenhuma ou pouca 
diferenciação ao longo do desenvolvimento (XAVIER; NUNES, 2015). O papel do 
ambiente seria, portanto, não interferir ou interferir minimamente no proces-
so do desenvolvimento natural da pessoa. As origens do inatismo podem ser 
encontradas, por um lado, na teologia (na ideia de destino individual determi-
nado pela graça divina) e, por outro, em um entendimento incorreto das con-
tribuições da proposta evolucionista de Darwin, da embriologia e da genética 
(como as mudanças no desenvolvimento das espécies que decorrem de va-
riações hereditárias no qual o papel do ambiente seria limitado). A concepção 
inatista produziu uma abordagem autoritária e até pessimista para a educação 
de crianças e adolescentes, pois se o ser humano já nasce pronto, só se pode 
aprimorar o que ele é ou virá a ser. O ditado "pau que nascetorto morre torto" 
expressa a concepção inatista, que aparece ainda hoje nas escolas, camuflada 
pela ideologia das aptidões, da prontidão e do coeficiente de inteligência (QI) 
(XAVIER; NUNES, 2015); 
• Empirismo ou ambientalismo: a concepção empirista/ambientalista atri-
bui questões filosóficas a partir do comprometimento científico. O empirismo 
busca refletir o sobre o comportamento a partir de uma análise científica, par-
tindo de problemas específicos de laboratório e aplicáveis a como o mundo 
é conhecido (BATISTA, 2007). Esta concepção deriva do empirismo, _.... 
que é a corrente filosófica que enfatiza a experiência senso-
rial como a única fonte do conhecimento, e que é possível 
identificar, controlar e manipular os fatores que estão as-
sociados a essas experiências. 
PSICOPATOLOGIA • 
Na Psicologia, o maior defensor do empirismo é o estadunidense B. F. Skin-
ner, que se preocupou com a criação da filosofia do behaviorismo radical e, a 
partir dela, o desenvolvimento da ciência do comportamento, a qual analisa o 
comportamento humano sem descartar aspectos como raciocínio, desejos, fan-
tasias e sentimentos, classificando-os como comportamentos internos. Na con-
cepção de Skinner, o papel do ambiente é tão importante quanto a maturação 
biológica, distinguindo, neste ponto, da corrente filosófica do empirismo; 
· Interacionismo: para essa concepção, o desenvolvimento é decorrente do 
processo da constante interação entre sujeito e objeto. O sujeito tem um papel 
ativo na incorporação das estruturas cognitivas aos dados do ambiente, modi-
ficando-as para criar estruturas cada vez mais complexas que lhe permitem o 
domínio do ambiente e a sua transformação (XAVIER; NUNES, 2015). O desenvol-
vimento da aprendizagem é fruto desse processo que ocorre no sujeito através 
da interação com o ambiente, em que as estruturas vão sendo construídas. Os 
estímulos e as informações a que os indivíduos estão expostos vão sendo pro-
cessados através de um processo de construção, o que torna essa perspectiva 
também denominada como construtivismo. Várias correntes aparecem nesta 
tendência interacionista, com implicações importantes para o entendimento do 
desenvolvimento, do ensino e da aprendizagem. Uma delas é a que vem sen-
do denominada de sociointeracionista 
construtivista (ou construtivismo so-
ciointeracionista) e que envolve uma in-
terrelação entre as concepções de Pia-
get e Vygotsky (XAVIER; NUNES, 2015). 
O conhecimento é um processo social-
mente construído. Através da intera-
ção do sujeito com o outro, torna-se 
possível a incorporação dos conheci-
mentos sistematizados e o reconheci-
mento de sua determinação histórica, 
ao mesmo tempo em que esse mesmo 
sujeito se reconhece como participante 
do processo histórico de produção do 
conhecimento. 
Figura 2. B. F. Skinner (1904-1990), fundador do behav,o-
rismo r ad,cal. 
PSICOPATOLOGIA • 
A compreensão sobre as concepções explicativas do desenvolvimento hu-
mano auxiliam no estudo sobre os tatores de risco e de proteção na determi-
nação da saúde e do transtorno mental na infância e adolescência, pois esses 
fatores são extremamente importantes para a compreensão da trajetória de 
vida do sujeito em momentos posteriores de seu desenvolvimento. 
Estudos epidemiológicos apontam que há entre 10% e 20% de probabili-
dade de haver o desenvolvimento de 
transtorno mental entre crianças e 
adolescentes, o que chama a atenção 
para a importância da identificação 
desses fatores e para a necessidade 
de identificação e tratamentos preco-
ces de transtornos nesses momentos 
do desenvolvimento. 
Estudos e intervenções voltadas 
para o público infanto-juvenil revelam 
que os fatores envolvidos no desen-
volvimento e na trajetória da saúde mental dessa população são denominados 
fatores de risco e fatores de proteção. 
Os fatores de risco para a sa úde mental de crianças e adolescentes seca-
racterizam como eventos ou características de desenvolvimento que aumen-
tam as chances da ocorrência de desfechos negativos em saúde mental em 
fases posteriores da vida e em diferentes domínios, como na vida afetiva, aca-
dêmica, profissional e financeira. Também estão associados ao maior uso de 
serviços e de substâncias na fase adulta (ZAYAT et ai., 2018). A maior parte das 
evidências científicas sobre fatores de risco para a saúde mental na infância e 
adolescência é originada de estudos longitudinais, realizados em países desen-
volvidos, e foram pesquisados nos ambientes em que essas populações mais 
circulam, como no contexto familiar, escolar e comunitário. 
Os fatores de risco na infância e adolescência mais citados na literatura in-
cluem a existência de transtornos mentais maternos, o pertencimento à famí-
lia, a residência em bairros de nível socioeconômico baixo, a exposição a dife-
rentes formas de violência e o uso de práticas parenta is negativas e/ou cuidado 
parental empobrecido. 
PSICOPATOLOGIA • 
O nível socioeconômico familiar baixo implica na escassez de recursos mate-
riais, sociais e financeiros e no acesso limitado ou insuficiente a serviços, aumen-
tando a vulnerabilidade na infância e adolescência. Há evidências de que o nível 
socioeconômico familiar baixo aumenta o risco de desenvolvimento de todos 
os tipos de psicopatologias na infância, como a hiperatividade, problemas emo-
cionais, problemas de relacionamento entre pares e de conduta. A moradia em 
bairros com piores condições socioeconômicas na infância também é apontada 
como um fator de risco para taxas mais elevadas para a ocorrência de transtor-
nos psiquiátricos na infância (ZAYAT et ai., 2018). 
A exposição a diferentes formas de violência é frequentemente associada ao 
risco aumentado para psicopatologias na infância e adolescência. Em geral, as 
diferentes formas de exposição à violência podem ser classificadas em física, psi-
rnlAair;::1 c::,:1v11;::iil t:l n,:::::.alia8nri.::::a A ,::::.vnnc:::ir3n .::::inc::: rnnflitnc f;::amili;::iin::>c C:::,:::l rnnfio11r;::a 
como uma forma de violência doméstica. 
Um estudo longitudinal realizado por 17 anos revelou que a convivência e 
a comunicação entre pais e filhos permeadas por críticas, gritos e discussões 
foram definidas como uma forma de exposição aos conflitos familiares, e que 
quanto maior a frequência e a precocidade de exposição aos conflitos familiares, 
pior será o desfecho de saúde mental na vida adulta. As práticas parentais utili-
zadas pelos pais na criação de seus filhos são o conjunto de estratégias usadas 
para o cuidado e a socialização durante a infância e adolescência. Práticas paren-
ta is negativas de ambos os pais agem como um dos fatores de risco para a saúde 
mental na infância e adolescência (ZAYAT et ai., 2018). 
Apesar disso, muitos indivíduos que são expostos a esses fatores de risco 
parecem lidar bem e resistir às consequências prejudiciais desses fatores, indi-
cando que essa adaptação positiva é um importante processo que os mantêm 
protegidos de um transtorno de saúde mental e que podem contar com fatores 
que os auxiliam no desfecho positivo. 
Já os fatores de proteção são definidos como as características, eventos 
ou experiências que atenuam o impacto das experiências adversas ou fatores 
de risco, diminuindo a probabilidade de ocorrência de desfechos negativos ou 
aumentando a chance de desfechos positivos. Portanto, os fatores de risco e 
proteção costumam estar interrelacionados e formam um sistema complexo e 
interdependente. 
PSICOPATOLOGIA • 
Destacam-se enquanto fatores de proteção, a qualidade das interações so-
ciais e do ambiente de desenvolvimento na infância e adolescência (ZAYAT et ai., 
2018). Assim, é a qualidade do fator investigado que irá determinar o impacto 
no bem-estar na saúde mental de crianças, adolescentes e de futuros adultos. 
As práticas parentais, quando negativas, acarretam prejuízos para a saúde 
mental. Se forem positivas,serão benéficas para o desenvolvimento na infância 
e adolescência (ZAYAT et ai., 2018). Entre as práticas interpretadas como positi-
vas, temos a permissão de autonomia supervisionada ao adolescente, a com-
preensão, o cuidado e o ser solícito e generoso com o filho. 
Outros fatores de proteção podem ser o suporte social materno, que pode 
aumentar a sensação de bem-estar da mãe e permitir respostas mais adaptati-
vas frente a eventos estressantes; e a residência, durante a infância, em bairros 
com maiores níveis de participação em atividades sociais, esportivas e culturais 
(ZAYAT et ai., 2018). 
•• 
O estudo das funções psíquicas 
A alteração patológica das funções psíquicas e a desorganização mental po-
dem levar a pessoa à incapacidade de exercer ou exercer de modo disfuncio-
nal (com dificuldade) os seus papéis sociais e as atividades do cotidiano, causa 
sofrimento psicológico a ela e às pessoas ao redor (DALGALARRONDO, 2019). 
Os transtornos mentais são con- 1 
dições que devem ser diagnosticadas 
por profissionais de saúde capaci-
tados para essa tarera e que seJam 
treinados para o uso de métodos 
específicos de estudos das funções 
psíquicas alteradas. A seguir, iremos 
abordar as principais características 
do psicodiagnóstico, da entrevista e 
do exame psíquico, que são métodos 
que auxiliam o estudo ou avaliação 
das funções psíquicas dos pacientes 
da área de saúde mental. 
O psicodiagnóstico 
PSICOPATOLOGIA • 
•• 
A psicologia clínica desenvolveu o psicodiagnóstico, que é um instrumento 
auxiliar ao diagnóstico psicopatológico e que o psicólogo e demais profissio-
nais da área de saúde mental podem utilizar, desde que sejam devidamente 
capacitados. Porém, de acordo com o Conselho Federal de Psicologia, quando 
utilizado pelo psicólogo, considera-se que esse profissional deve: 
Construir argumentos consistentes da observação de fenômenos 
psicológicos; empregar referenciais teóricos e técnicos pertinentes 
em uma visão crítica, autônoma e eficiente; atuar de acordo com 
os princípios fundamentais dos direitos humanos; promover a rela-
ção entre ciência, tecnologia e sociedade; garantir atenção à saúde; 
respeitar o contexto ecológico, a qualidade de vida e o bem-estar 
dos indivíduos e das coletividades, considerando sua diversidade 
(CFP, 2019, p. 2). 
A aplicação dos testes projetivos para o conhecimento da estrutura de per-
sonalidade é um dos procedimentos mais utilizados na avaliação psicodiagnós-
tica. No Brasil, a compra, aplicação e análise da maioria desses testes é restrita 
a psicólogos. Um dos testes projetivos mais usados é o teste de Rorschach (tes-
te das manchas). 
Figura 3, Exemplo de placa de Rorschach. Fonte Shutterstock. Acesso em 30/06/2021. 
PSICOPATOLOGIA -
Podem-se, ainda, ser usados os testes de apercepção temática (TAT), de 
relações objetais de Phillipson, das pirâmides de Pfister e o desenho da casa-
-árvore-pessoa (HTP). A escolha dos testes dependerá do conhecimento e da 
experiência do profissional. Para o rastreamento de possíveis alterações cere-
brais, há a possibilidade de usar os testes de Bender e testes neuropsicológicos 
direcionados e destinados à detecção de alterações cognitivas mais específicas 
(DALGALARRONDO, 2019). 
•• 
A entrevista 
O principal instrumento de avaliação do paciente em Psicopatologia é a en-
trevista. Entrevistar é considerada uma arte a ser adquirida apenas por meio 
do treinamento supervisionado e com a experiência prática, mas assistir a au-
las e vídeos sobre entrevistas e estudar textos sobre o assunto pode auxiliar 
o iniciante. 
A técnica e a habilidade em realizar entrevistas são atributos funda-
mentais e insubstituíveis do profissional de saúde em geral e de saú-
de mental em particular. Tal habilidade é, em parte, aprendida e, em 
outra, intuitiva, patrimônio da personalidade do profissional, de sua 
sensibilidade nas relações pessoais (DALGALARRONDO, 2019, p. 66). 
É por meio de uma entrevista tecnicamente bem realizada que o profissio-
nal irá obter as informações necessárias para emitir uma hipótese diagnóstica 
clínica e sistematizar a intervenção e o planejamento terapêutico mais adequa-
do ao caso (DALGALARRONDO, 2019). 
A entrevista é um dos pilares da prática profissional em saúde mental, por-
que o profissional consegue extrair conhecimentos relevantes do encontro 
com o paciente e pode agir de forma útil e criativa, possibilitando 
a realização de duas etapas importantes da avaliação. 
A primeira etapa é a anamnese, que é o nome 
dado ao histórico dos sinais e sintomas que o 
paciente apresenta ao longo de sua história de 
vida, dos seus antecedentes pessoais e fami-
liares e de seu contexto social. A segunda etapa 
é o chamado exame psíquico ou mental. 
EXPLICANDO 
PSICOPATOLOGIA • 
Entre os manuais de psiquiatria, não existe uma uniformidade ou padronização 
absoluta quanto à estrutura da anamnese, pois algumas informações podem 
se adequar a mais de um item desse instrumento, sendo a sua divisão arbitrá-
ria e convencional. A anamnese psiquiátrica deve fornecer elementos para a 
formulação de uma hipótese diagnóstica e identificar os fatores que podem 
ter causado o transtorno, precipitando-o e perpetuando-o. 
De acordo com Cheniaux (2015), os objetivos básicos da entrevista para a 
obtenção de dados psiquiátricos são: a formulação de um diagnóstico, de um 
prognóstico e o planejamento terapêutico. 
Sobre a entrevista inicial, ela é considerada um momento essencial no diag-
nóstico e no tratamento em saúde mental. Dalgalarrondo (2019) adverte que 
o primeiro contato, se for bem conduzido, deverá produzir uma sensação de 
confiança no paciente em relação ao alívio de seu sofrimento. A entrevista ini-
cial mal realizada, no entanto, em que o profissional é negligente ou hostil com 
o paciente, em geral, são seguidas de abandono do tratamento. 
Assim, é a partir da entrevista que irá se estabelecer ou não a chamada 
aliança terapêutica entre médico e paciente. De acordo com Zuardi e Loureiro 
(1996), existem diferentes tipos de entrevistas que podem ser agrupadas em: 
abertas, estruturadas e semiestruturadas. 
Na entrevista aberta não há um roteiro pré-determinado a ser seguido, o 
que permite ao entrevistado falar mais livremente, determinando o curso da 
entrevista. Este tipo de entrevista permite um 
acesso mais fácil ao material inconsciente, 
através da observação da ordem em que os 
assuntos são comunicados pelo paciente, 
a associação que faz entre esses, as inter-
rupções e as respostas emocionais. As prin-
cipais desvantagens são: a pouca possibilidade 
de concordância entre os diferentes entrevistado-
res; a dificuldade para formulação de diagnósticos 
consistentes, em razão de uma investigação as-
sistemática dos sintomas; e o tempo imprevisto 
de realização. 
PSICOPATOLOGIA • 
Nas entrevistas estruturadas a obtenção das informações, o sequencia-
mento das perguntas e os registros dos resultados são sempre pré-determina-
dos. Os formulários das entrevistas contêm glossários que descrevem os ter-
mos empregados. A principal vantagem desse tipo de entrevista é elevar o grau 
de confiabilidade do diagnóstico psiquiátrico, facilitando a concordância entre 
os diferentes entrevistadores. A pequena flexibilidade desse tipo de entrevista, 
em determinadas circunstâncias, pode prejudicar a colaboração do paciente. 
As entrevistas semiestruturadas têm um nível de estruturação maior ou 
menor de acordo com a entrevista, possibilitando maior flexibilidade na se-
quência e/ou formulação das perguntas do que nas estruturadas. Estas entre-
vistas têm níveis elevados de confiabilidade (ZUARDI; LOUREIRO, 1996). 
A entrevista pode ocorrer no momento da internação do paciente, seja vo-
luntária ou involuntária, na consulta ambulatorial, ao responder a uma soli-
citação da enfermaria de um hospital geral, no domicílio de um paciente e, 
eventualmente, em via pública. 
Deveser realizada, preferencialmente, em ambiente fechado, com isola-
mento acústico e sem interrupções. Ao iniciar, é essencial a apresentação do 
profissional, a explicação sobre os objetivos da entrevista e a obtenção do con-
a entrevista, deve-se entrevistar os familiares ou pessoas de seu convívio que 
possam oferecer as informações, preferencialmente, com a concordância e a 
presença do paciente (CHENIAUX, 2015). 
De qualquer modo, sempre existem algumas regras básicas que devem 
ser seguidas. No início da entrevista, recomenda-se deixar o paciente falar 
livremente para, posteriormente, perguntar sobre temas mais específicos e/ 
ou assuntos duvidosos. Também é necessário saber quando e de que forma 
interromper a fala do paciente, sem cortar o seu fluxo de comunicação, e não 
permitindo que ele seja muito minucioso ou prolixo, o que pode prejudicar a 
obtenção dos dados da história clínica. O importante é saber como controlar e 
dirigir a entrevista. Não se deve formular perguntas de maneira mecânica ou 
monótona, mas em forma de um diálogo informal (CHENIAUX, 2015). 
Deve-se evitar o uso de perguntas sugestivas e que podem ser respondidas 
de forma monossilábica (sim, não ou talvez). Assim, em vez de perguntar "você 
está deprimido hoje?", pergunte: "como você está se sentindo hoje?". 
PSICOPATOLOGIA • 
Também não é adequado aceitar expressões usadas no cotidiano como: es-
tou nervoso, estou tenso ou tenho pânico, mas deve-se pedir ao paciente que 
explique o que isso significa de uma forma mais abrangente, com suas pró-
prias palavras. Outro aspecto importante sobre o manejo da entrevista é se 
certificar de que o paciente está compreendendo o significado das perguntas, 
utilizando uma linguagem acessível, evitando termos médicos e de uso restrito 
(CHENIAUX, 2015). 
DICA 
Uma dica importante sobre o manejo da entrevista é evitar a realização 
de muitas anotações ou de digitação constante no computador, pois isso 
transmite ao paciente que as anotações são mais importantes que a pró-
pria entrevista. O profissional precisa observar se isso incomoda o pacien-
te, e diminuir esses comportamentos {DALGALARRONDO, 2019). 
•• 
O exame psíquico 
Nos serviços de saúde pública, a falta de tempo dos profissionais, o excesso 
de trabalho, o estresse e as condições físicas de atendimento precárias são 
condições adversas para a realização de entrevistas. O profissional de saúde 
pode ficar impaciente para ouvir as pessoas com queixas pouco precisas, os 
chamados poliqueixosos, e acabarem rejeitando os pacientes que são mais va-
gos ou que são desorganizados psíquicamente. Porém, nesse tipo de atendi-
mento, a resiliência do entrevistador é mais do que necessária. 
Mesmo que o profissional não tenha mais do que alguns minutos para en-
trevistar, deve tentar ouvir e examinar o doente com respeito e criar um clima 
de confiança, a fim de propiciar o início de um vínculo e um atendi-
mento de boa qualidade. Nem sempre é a quantidade de tempo 
com o paciente que conta, mas sim a qualidade da 
atenção dispensada pelo profissional. A comu-
nicacão não verbal tem muita imoortância. 
pois inclui "uma carga emocional do ver e ser 
visto, do gesto, da postura, das vestimentas, 
do modo de sorrir ou expressar sofrimento" 
(DALGALARRONDO, 2019, p. 69). 
PSICOPATOLOGIA • 
Desse modo, a primeira impressão produzida pelo paciente no entrevistador é 
o produto de uma mistura de fatores, como a experiência do profissional, a trans-
ferência que o paciente estabelece com ele, os aspectos contratransferenciais do 
entrevistador e os valores pessoais e julgamentos que o profissional realiza, mes-
mo que se esforce para que isso não ocorra. 
Sobre os processos de transferência e contratransferência, estudados por Sig-
mund Freud, são considerados fundamentais para o profissional realizar entre-
vistas de forma mais consciente e habilidosa, pois fazem com que ele entenda 
determinados comportamentos dos pacientes de forma menos ingênua e mais 
aprofundada. 
Como transferência, entendem-se as atitudes e sentimentos do paciente com 
origens inconscientes, isso inclui sen-
timentos positivos, como confiança, 
amor e apego, e negativos, como raiva, 
desconfiança e hostilidade. Tais senti-
mentos, de acordo com Freud (1986), 
têm origem inconsciente em eventos 
da história de vida do paciente e fazem 
com que, no caso, o profissional de saú-
de passe a ocupar, no presente, o lugar 
que o pai ou a mãe ocupavam no pas-
sado. Como o paciente não tem cons-
ciência desse processo, considera esses 
sentimentos como experiências reais e 
não como reflexos ou repetições de sen-
t imentos do seu passado. Figura 4 s,gmund Freud fundador da psicanálo ,e. 
Para Jung (2013), a transferência é a projeção que o paciente faz, de forma in-
consciente, na figura do médico, dos afetos básicos que nutria pelas figuras signi-
ficativas de sua vida. Este é um fenômeno geral, não exclusivo da relação analítica, 
que pode ser observado nas relações íntimas entre duas pessoas. 
No caso do atendimento em saúde mental, o paciente projeta no médico e em 
outros profissionais, de forma inconsciente, os sentimentos que nutria por seus 
pais na infância. Pode sentir que o médico age como um pai severo, cruel e autor i-
tário e que a enfermeira é como uma mãe carinhosa e preocupada, por exemplo. 
PSICOPATOLOGIA • 
A contratransferência, por sua vez, é a transferência que o profissional 
estabelece com os pacientes da mesma maneira que o paciente, inconscien-
temente, com sentimentos que ele, o profissional, nutria no passado por pes-
soas significativas de sua vida (DALGALARRONDO, 2019). 
Isso explica o porquê de alguns pacientes despertarem sentimentos de 
raiva, medo, piedade, carinho e repulsa nos profissionais de saúde, sem mo-
tivos mais concretos. Quando essas reações contratransferenciais são iden-
tificadas, o profissional de saúde deve estar consciente de que elas são ori-
ginadas de seus conflitos pessoais, a fim de que ele lide com elas de forma 
mais objetiva. 
Passaremos, agora, a analisar os aspectos do chamado exame psíquico, 
que pode ter as denominações de exame do estado mental, exame mental, 
exame psicopatológico ou exame psiquiátrico. 
O exame psíquico é um dos principais instrumentos para a realização do 
diagnóstico em psiquiatria e visa o estabelecimento de um diagnóstico psi-
quiátrico, criação e desenvolvimento de aliança de trabalho e prognóstico do 
paciente. No exame psíquico, examina-se, de forma isolada, cada f unção psí-
quica do paciente, para depois formular-se a análise do todo psíquico (DAL-
GALARRONDO, 2019). 
A Psicopatologia importa-se, fundamentalmente, com a forma de cada 
função psíquica. Os conteúdos têm uma importância secundária. Por exem-
plo, a forma de um livro é aquilo que faz com que o reconheçamos e saibamos 
que se trata de um livro (que é a essência do objeto), o conteúdo é aquilo que 
define tal livro (a sua mensagem). 
Assim, o exame psíquico é uma forma de abstração da realidade e da tota-
lidade do psiquismo humano, ao decompor a totalidade psíquica em concei -
tos operativos para formular, mais tarde, os quadros nosológicos, ou seja, os 
quadros classificatórios e explicativos da doença. O exame psíquico se inicia 
no primeiro contato com o paciente, antes da obtenção dos dados de identi-
ficação. O profissional experiente é capaz de realizar a maior parte do exame 
do estado mental simultaneamente à coleta da história do transtorno dopa-
ciente. No modelo méd ico, a história sempre é vista como algo subjetivo, mas 
o exame psíquico, assim como o exame físico da Medicina Geral, é considera-
do um método objetivo de avaliação. 
PSICOPATOLOGIA • 
Na avaliação psiquiátrica, o que é observado pelo examinador representa 
o exame psíquico e as expressões de como o paciente se refere, bem como se 
elas são mais apropriadas à história do transtorno do que ao exame psíquico. 
QUADRO 3. ROTEIRODE EXAME PSÍQUICO 
~ 
1. Aspecto geral: cuidado pessoal, trajes, postura, mímica e atitude global do paciente. 
2. Nível de consciência. 
3. Orientação alo e autopsiqu1ca. 
4. Atenção. 
5. Memória (fixação e evocação). 
6. Sensopercepção. 
7. Pensamento (curso, forma e conteúdo). 
8. Linguagem. 
9. Inteligência. 
10. Juízo de realidade. 
11. Vida afetiva. 
12. Volição. 
13. Psicomotricidade. 
14. Consc1ênc1a e valoração do eu. 
15. Vivência do tempo e do espaço. 
16. Personalidade. 
17. Sentimentos contratransferenciais. 
18. Crítica em relação a sintomas e insight. 
19. Desejo de aJuda. 
20. Tratamento voluntário ou involuntário. 
Apesar de alguns aspectos do exame psíquico serem subjetivos, como a 
análise dos processos de pensamento, isso também ocorre no exame físico. 
Por exemplo, há elementos subjetivos relacionados diretamente às manipu-
lações do examinador no exame físico, como dor à palpação abdominal e a 
pesquisa da sensibilidade térmica do paciente. Porém, as vivências internas 
e subjetivas dos pacientes são expressas em seu comportamento não verbal 
e verbal, passando a ser observáveis e passíveis de descrição por outras pes-
soas, o que as torna objetivas. 
PSICOPATOLOGIA • 
Jaspers (1979) relata a ausência de fidedignidade em relatos de muitos pa-
cientes, afirmando que os doentes histéricos não merecem confiança e que a 
maioria das autodescrições psicopáticas deve ser considerada de modo crítico. 
Afirma, também, que as pessoas com psicopatologias podem relatar o que se 
espera deles para serem agradáveis ou quando notam interesse do médico por 
algum tema específico. 
No exame psíquico devem ser descritas as alterações presenciadas apenas 
durante a entrevista, pois é comum que a sintomatologia psiquiátrica mude 
de um momento para outro. Porém, nos casos em que a sintomatologia é in-
termitente, como em pacientes com alucinações e alterações do nível de cons-
ciência, é necessário fazer um exame psíquico mais amplo, com mais de uma 
observação e com intervalos de horas, ou, às vezes, de dias, entre um e outro 
exame. 
Na redação do exame, deve-se descrever as condições em que se realizou 
o diagnóstico, se foi no domicílio do paciente, em consultório ou ambulatório, 
no leito do hospital e se havia mais alguém presente. É importante entender 
que há uma influência mútua entre as funções mentais, e que a subdivisão 
dessas funções é meramente didática, pois as funções psíquicas são avaliadas 
de forma praticamente simultânea. Além disso, as funções psíquicas podem 
alterar-se quantitativa ou qualitativamente. 
Além do registro das alterações psicopatológicas das funções psíquicas, 
deve-se descrever, no exame, como estão as funções mentais 
preservadas. Não devem ser consideradas as possíveis causas 
das alterações, mesmo que haja hipóteses. Para a 
avaliação de algumas funções, como a memória, 
orientação e inteligência, devem ser realizadas 
perguntas específicas ou, até mesmo, testes. A 
redação do exame psíquico deve se restringir à 
descrição dos fenômenos observados, sem o uso 
de termos técnicos. 
Sintetizando 
PSICOPATOLOGIA • 
• 
A Psicopatologia é a área interdisciplinar do conhecimento que trata dos 
transtornos mentais, suas causas, mudanças estruturais, funcionais e formas de 
manifestação. 
Historicamente, a área de Psicopatologia se desenvolveu por meio da Medi-
cina, da qual herdou a preocupação com a observação cuidadosa das pessoas 
com transtornos mentais e de áreas humanistas, como a Filosofia, a Literatura, 
as artes e a psicanálise. Por isso, concebe o transtorno e o sofrimento mental 
como expressões da humanidade que permaneceriam desconhecidas se esses 
fenômenos não se manifestassem. 
Os conhecimentos da Psicopatologia são essenciais para o trabalho na área 
de saúde mental, pois dão o fundamento para a prática de psicólogos, psiquia-
tras, neuropsiquiatras, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes so-
ciais. Os conceitos de saúde e doença e os critérios para determinar a normalida-
de e a patologia são complexos, pois tratam de aspectos subjetivos, estatísticos 
e qualitativos. 
Sobre a etiopatogenia ou análise do conjunto de causas dos transtornos men-
tais, há consenso de que é a interrelação entre os fatores biológicos e as carac-
terísticas ambientais que originam os transtornos mentais. Os fatores biológicos 
são relacionados especialmente à herança genética do indivíduo, e o contexto 
ambiental se relaciona aos fatores de risco e de proteção para o desenvolvimen-
to de transtornos mentais. 
Na avaliação do paciente com transtornos mentais utilizam-se, dentre outros 
procedimentos, o psicodiagnóstico, a entrevista e o exame psíquico. 
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article/view/711 >. Acesso em: 30 jun. 2021. 
UNIDADE 
~ 
~ 
PSICOPATOLOGIA • 
ser 
educacional 
Objetivos da unidade 
Conhecer tanto as funções psíquicas elementares quanto as superiores, 
bem como os conceitos, tipos, alterações quantitativas e qualitativas e a inter-
relação entre elas; 
Entender os conceitos dos transtornos das funções psíquicas elementares e 
superiores;Estudar as diversas classificações e definições dos transtornos 
psicopatológicos. 
Tópicos de estudo 
Funções psíquicas elementares 
Alterações na consciência e na 
atenção 
Alterações na orientação e nas 
vivências de espaço e tempo 
Alterações na memória, na 
afetividade e na inteligência 
Alterações na vontade e no agir 
Funções psíquicas superiores 
Alterações na linguagem 
Alterações no pensamento e 
Semiologia médica e 
psicopatológica 
Semiologia médica 
Nosologia e semiologia psico-
patológica 
Transtornos psicopatológicos ou 
psiquiátricos 
Descrição dos transtornos psi-
copatológicos 
PSICOPATOLOGIA • 
•• 
Funções psíquicas elementares 
De acordo com Dalgalarrondo (2019), o estudo das funções psíquicas ele-
mentares e de suas alterações é um 
procedimento artificial que permite 
maior aprofundamento nos fatos da 
vida psíquica normal e patológica, bem 
como na autonomia dos fenômenos. 
Estuda-se de forma autônoma as 
funções psíquicas elementares, como 
a consciência, a atenção e a memória. 
Entretanto, não existem funções isola-
das nem alterações psicopatológicas 
compartimentalizadas; a pessoa adoece em sua totalidade. 
Alterações na consciência e na atenção 
•• 
A palavra consciência vem do latim, cum scientia, que deriva da tradução da 
palavra grega syneidesis. Cum scientia significa "uma ciência acompanhada de 
outra ciência, ou uma relação cognoscitiva com" (CHENIAUX, 2015, p. 38). 
Para Cheniaux (2015), consciência é a capacidade de termos um caráter 
neurológico, o que nos permite captar informações do ambiente e orientar-nos 
adequadamente. Em outras palavras, trata-se da lucidez. O autor ainda afirma 
que podemos considerá-la como o processo de coordenação e síntese de toda 
a atividade psíquica. 
A psicologia a define como: 
a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta 
para a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a consciên-
cia é a capacidade do indivíduo de entrar em contato com a realidade, 
perceber e conhecer os seus objetos (DALGALARRONDO, 2019, p. 88). 
A consciência nos permite estabelecer contato com a realidade e acessar o 
conhecimento dos fenômenos internos e externos. Suas alterações fisiológicas 
normais decorrem do sono, sonho e cansaço físico e mental. Já as alterações 
patológicas se dividem em quantitativas e qualitativas. 
PSICOPATOLOGIA • 
reza e a forma como uma pessoa 
experimenta fenômenos psíquicos 
variam. Sua linguagem, pensamento 
e emoções podem se tornar pouco 
compreensíveis e suas percepções se 
confundem. Além disso, torna-se difí-
cil se atentar a algo de maneira fixa e 
duradoura e, ainda, é possível perder 
a orientação temporal e espacial. 
As alterações patológicas quan-
titativas podem ocorrer em quadros 
neurológicos e psicopatológicos, com 
diminuição progressiva do nível de 
consciência e da vigilância. Em casos 
graves, é possível que a pessoa entre em coma profundo, sem resquício de 
atividade consciente. 
Podemos classificar os graus de rebaixamento da consciência em: 
· Obnubilação: diminuição ou rebaixamento da consciência. Seu grau 
de seriedade varia entre leve e moderado. No exame psíquico, o paciente 
aparenta estar desperto, mas a clareza em sua percepção diminui, sua com-
preensão se torna lenta e ele tem dificuldade em se concentrar. Além disso, 
não integra as informações sensoriais vindas do ambiente adequadamente; 
· Sopor: estado sob o qual há turvação da consciência. É necessário des-
pertar o paciente com um estímulo enérgico e, às vezes, doloroso. Apesar de 
sonolento, o paciente pode reagir defensivamente de modo involuntário; e 
• Coma: maior grau de rebaixamento do nível de consciência, onde não 
há atividade voluntária consciente ou, sequer, indícios dela. Entretanto, há 
sinais neurológicos, como movimentos oculares errantes e tremor 
de pálpebras (nistagmo). 
Já no caso das alterações qualitativas, Dalgalarrondo 
(2019) aponta que as variações se relacionam à ampli-
tude do campo de consciência. Em outras palavras, en-
quanto uma parte está normal, outra se altera. 
PSICOPATOLOGIA • 
QUADRO 1. ALTERAÇÕES QUALITATIVAS DE CONSCIÊNCIA 
Alteração qualitativa 
Estado crepuscular 
Estado segundo 
~ 
Descrição 
Presente na epilepsia e na histeria, trata-se do estreitamento do nível 
ou campo da consciência. A pessoa demonstra falta de vinculação 
com o mundo exterior, não fala ou fala pouco e parece estar 
psiquicamente "ausente". 
Estado patológico transitório parecido com o estado crepuscular. 
Caracteriza-se por uma atividade psicomotora coordenada, porém 
estranha à personalidade do sujeito acometido. É possível usar os 
termos "estado segundo" e "estado crepuscular" de forma indistinta, 
mas, geralmente, usa-se o primeiro termo para casos de natureza 
psicogenética e produzida por fatores emocionais, como choques 
emocionais intensos. Já o estado crepuscular possui causas orgânicas, 
como intoxica ões e traumatismo craniano. 
Dissociação da 
consciência 
Transe 
Semelhante ao sonho e desencadeada por situações significativas, 
conscientes ou inconscientes, essa divisão do campo da consciência 
leva à perda da unidade psíquica. Ocorre em quadros histéricos de 
tipo dissociativo. 
Estado de dissociação da consciência semelhante ao "sonhar 
acordado". Entretanto, há atividade motora automática e 
estereotipada, acompanhada de suspensão parcial dos movimentos 
voluntários. Apesar de comum nos contextos religiosos e culturais, 
como no espiritismo kardecista, nas religiões afro-brasileiras e 
religiões evangélicas pentecostais e neopentecostais, não se deve 
confundir o transe espiritual com o psicopatológico. 
Fonte DALGALARRONDO, 20 9, p. 99 (Adaptado). 
Cheniaux (2015) define a ideia de atenção como o direcionamento da 
consciência ou estado de concentração da atividade mental em relação a um 
determinado objeto ou assunto. 
Em termos simples, a atenção é a capacidade de se concentrar de forma 
espontânea ou ativa. Mais detalhadamente, trata-se do processo psicológico 
elementar, onde a atividade psíquica se concentra sobre um determinado es-
tímulo, seja sensação, percepção, afeto ou desejo, de modo que os conceitos 
e elaborações das percepções e do pensamento se fixem, definam-se, selecio-
nem-se e representem-se. 
Existem duas formas básicas de atenção: 
• Voluntária: deriva de um esforço intencional e consciente do indivíduo 
em relação a um estímulo ou objeto; e 
PSICOPATOLOGIA • 
· Espontânea (passiva ou involuntária): reação automática, não consciente 
e não intencional do indivíduo em relação aos estímulos; basicamente, são as 
características desses estímulos que a determinam. Por exemplo: alguns objetos 
despertam nossa atenção mais que outros. Essa é a tendência natural da ativida-
de psíquica de se orientar para os estímulos sensoriais e sensitivos do ambiente. 
O grau de concentração da atenção sobre determinado objeto depende do 
interesse, estado de ânimo e condições gerais do psiquismo do indivíduo. O in-
teresse e o pensamento dirigem a atenção, bem como a intensidade com a qual 
a pessoa a emprega. 
Para Dalgalarrondo (2019), as alterações da atenção interferem no proces-
so de aprendizagem. Entretanto, elas tendem a ser secundárias e decorrem da 
perturbação de outras funções, das quais o funcionamento normal da atenção 
depende. Alguns exemplos dessas perturbações são: cansaço; estados tóxicos; 
e estados patológicos que determinam a incapacidade de concentrar a atenção. 
QUADRO 2. ALTERAÇÕES QUALITATIVAS DE ATENÇÃO 
Alteração qualitativa 
Hipoprosexia 
Aprosexia 
~ 
Descrição 
Rebaixamento da capacidade de concentração, o que aumenta a 
fadiga e enfraquece a atenção. Comum nos estados infecciosos, na 
embriaguez alcoólica, nas psicoses tóxicas, na esquizofrenia e nos 
estados depressivos. 
Total perda da capacidade de atenção, independentemente da 
intensidade dos estímulos utilizados para ativá-la. 
obstinação indeterminadassobre objetos. 
Fonte· DALGALARRONDO, 2019, p. 105. {Adaptado). 
No exame psíquico da concentração e da atenção, o profissional de saúde deve: 
• Observar se o paciente está disperso ou atento e como ele se comporta em 
relação ao que acontece no ambiente; 
• Descrever se o paciente responde às perguntas prontamente ou se é neces-
sário repeti-las várias vezes; 
• Pedir ao paciente que realize operações aritméticas simples, como "2+2=?" 
ou que enumere os meses e dias da semana em ordem normal ou inversa, o que 
exigirá mais atenção. 
PSICOPATOLOGIA • 
•• 
Alterações na orientação e nas vivências de espaço e tempo 
O conceito de orientação se refere à capacidade do indivíduo de se situar 
em relação ao ambiente e a si mesmo. Essa função deriva da integração de 
outras funções psíquicas, como: percepção; atenção; memória; pensamento; 
inteligência; e afeto. 
Para Cheniaux (2015), ela resulta da atividade de apreensão (apercepção), 
que representa a capacidade de inter-relacionamento das percepções em dar 
sentido às informações perceptivas de um contexto. Por exemplo: quando ve-
mos um extenso gramado na tela da TV com algumas marcações brancas, duas 
traves, uma bola e homens de uniformes correndo, entendemos que se trata 
de uma partida de futebol. 
Existem dois tipos de orientação: 
• Autopsíquica: refere-se à própria pessoa . Consiste em elementos da 
consciência e do Eu. Permite a pessoa a capacidade de fornecer dados de sua 
identificação, saber quem é, qual é o seu nome, idade, nacionalidade, profis-
são, estado civil e outros dados; 
· Alopsíquica: refere-se ao meio externo e se subdivide em: 
· Temporal : permite ao indivíduo saber o dia da semana, do mês e ano 
em que se encontra. No desenvolvimento infantil, adquirimos esse tipo 
de orientação alopsíquica depois da espacial; 
• Espacial: possibilita a pessoa saber onde se encontra. Por exemplo: no 
caso de uma internação, a pessoa sabe se está em um hospital e qual é 
o seu nome, bem como o nome da rua, do bairro e da cidade; 
· Quanto às pessoas: permite reconhecê-las e identificá-las corretamente; 
• Situacional: orienta quanto aos motivos pelos quais estamos em de-
terminado lugar e quanto à relação que temos com as pessoas do lo-
cal. No caso de uma internação, o indivíduo sabe que está num hospital 
como paciente e que um médico o examinará. Este tipo de orientação se 
relaciona com os outros e com a orientação autopsíquica. 
Cheniaux (2015) afirma que os distúrbios de orientação podem ser parciais 
ou totais. Ainda, os efeitos sobre os diferentes tipos não ocorrem de maneira 
uniforme, uma vez que um t ipo pode se alterar enquanto outro se preser-
va. Um bom exemplo de um distúrbio parcial se dá na orientação temporal: 
o paciente sabe dizer qual é o mês e o ano atuais, mas não é capaz de especi-
ficar o dia do mês ou da semana. Se o distúrbio fosse total, ele desconheceria 
todos os dados. A orientação no tempo é mais frágil e se altera mais precoce-
mente do que a espacial, pois exige renovação constante. 
Também é possível dividir as alterações da orientação alopsíquica em: 
· Quantitativas: é o caso das desorientações, que resultam do prejuízo 
da atividade de a percepção e, consequentemente, dificultam a capacidade do 
indivíduo em apreender as informações sensoperceptivas. Essas alterações 
produzem uma sensação de perplexidade e estranheza em relação ao mundo 
externo; 
• Qualitativas: as falsas orientações são um bom exemplo. Mais comple-
xas, envolvem o rebaixamento do nível de consciência e a presença de distúr-
bios sensoperceptivos. 
Para examinar a orientação alopsíquica, basta solicitar ao paciente que diga 
a data do dia do atendimento ou que identifique o local da entrevista e as pes-
soas presentes. Se, durante a entrevista, seu comportamento indicar desorien-
tação, não é preciso avaliá-lo. 
Na orientação temporal, espera-se que o paciente consiga ordenar crono-
logicamente as informações solicitadas; especialmente, as mais recentes. Um 
erro de um ou dois dias quanto à data é normal, mas um erro grosseiro ao in-
formar a idade, por exemplo, significa uma desorientação no tempo. Conforme 
Cheniaux (2015), ao final da entrevista, pode-se pedir ao paciente que faça uma 
estimativa de quanto tempo se passou desde seu início. 
A avaliação mais precisa da orientação espacial envolve o questionamento 
ao paciente sobre o trajeto de casa até o hospital e vice-versa, considerando-se 
que ele conheça o local onde se encontra. Ressalta-se que uma desorientação 
espacial dentro da própria casa é mais grave do 
que em um local desconhecido, como a enfer-
maria de um hospital. 
Avalia-se a orientação do paciente sobre a 
situação e outras pessoas com base em seu com-
portamento, como, por exemplo, se ele entende o 
que ocorre ao seu redor, pela observação do seu relaciona-
mento com os familiares e se os reconhece como tais. 
PSICOPATOLOGIA • 
É importante detalhar as alterações mais comuns da orientação alopsíquica 
em alguns transtornos mentais: 
• Demência: a primeira orientação a se perder é a temporal. Com a pro-
gressão do quadro, os outros tipos sofrem gradualmente até que se chegue na 
autopsíquica. Falsas orientações podem ocorrer devido ao rebaixamento do 
nível de consciência e de a percepção. Já a desorientação se deve aos déficits 
dade de apreensão ou a percepção. As informações mais facilmente fixadas são 
as que despertam o interesse e possuem uma maior carga emocional. Elas têm 
um caráter de novidade, associam-se aos conhecimentos já adquiridos e usam 
mais de um canal sensorial ao mesmo tempo; por exemplo, a visão e a audição. 
A fase de conservação, conhecida como retenção ou armazenamento, refe-
re-se à manutenção de informações fixadas, mesmo que elas ainda estejam em 
estado de latência. Para Cheniaux (2015), as informações conservadas sofrem 
um processo de desintegração ao longo do tempo, o que leva à sua perda; das 
recentes para as antigas, das complexas para as simples e das menos organiza-
das para as mais organizadas. 
A fase de evocação, denominada rememoração ou recuperação, significa 
o retorno espontâneo ou voluntário das informações armazenadas na cons-
ciência. Os fatores afetivos podem influenciar a evocação, como é o caso da 
angústia. Por isso, esquecemos o que nos desagrada mais facilmente. Porém, 
a evocação de uma ideia nunca é idêntica à imagem perceptiva fixada. Afinal, 
cada vez que evocamos uma imagem, a reconstruímos com alterações. 
PSICOPATOLOGIA • 
A classificação das memórias se dividem em: 
• Sensorial, icônica, imediata ou de curtíssimo prazo: são as que têm mais 
uma função da atenção do que da memória, pois duram menos de um segundo 
e permanecem ativas o quanto for necessário, para que a percepção ocorra. Elas 
são frágeis e possuem capacidade muitíssimo limitada; 
• De curto prazo ou recente: são as que possuem capacidade de armazena-
mento bem limitada e duram o período de segundos a alguns minutos. O conceito 
de memória "de trabalho" corresponde à memória de curto prazo e se refere ao 
armazenamento temporário de informações para a realização de tarefas cogniti-
vas. Conforme Cheniaux (2015), esse tipo de memória é essencial para a fixação e 
evocação. Além disso, é necessária para as atividades cognitivas, como compreen-
são, raciocínio, tomada de decisões e planejamento de ações; 
· De longo prazo ou remota: são as que têm o objetivo de armazenar perma-
nente as informações fixadas há alguns minutos, o que possibilita sua evocação 
por muitos anos ou, até, pela vida toda. A capacidade de armazenamento dessas 
memórias é enorme. Dividem-se em: 
· Explícitas: contêm informações sobre o mundo e são acessíveis à cons-
ciência. É possível evocá-las voluntariamente e expressá-las em palavras; e 
• Implícitas: referem-se à aprendizagem sobre "como fazer as coisas". Re-
sultam na melhora do desempenho de uma atividade que precisa de infor-
mações

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