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Hermenêutica bíblica Aula 4: Hermenêutica e homilética Apresentação Esboçaremos nesta aula a importância da hermenêutica bíblica para a homilética. A hermenêutica lhe garante uma interpretação sólida, �el e contextualizada dos textos bíblicos. Identi�caremos ainda os pensadores da Escolástica e das artes liberais consagradas na Idade Média para se de�nir a arte da boa pregação na transmissão do conteúdo da fé. Objetivos Exempli�car a importância da hermenêutica bíblica para a homilética; Identi�car a homilética como uma das mais comuns práticas de transmissão do conteúdo da fé; Reconhecer a importância da hermenêutica bíblica para a homilética. Primeiras palavras Homilética é a arte de pregar ou de fazer a homilia, uma das práticas mais comuns de transmissão do conteúdo da fé. É falar da Bíblia para a assembleia do povo em: Pregações; Sermões; Homilias; Catequese; Prédica; Conferência; Discurso. Conheçamos ainda três vieses diferentes para o termo “homilética”: 1 Etimologia Do grego homiletikos, que deriva de homilos (em português, “multidão” ou “assembleia do povo”). Já homilia quer dizer “discurso com a �nalidade de agradar”. 2 Teologia Conhecida como a arte de pregar, ela utiliza os princípios da retórica com a �nalidade especí�ca de falar sobre o conteúdo da Bíblia. 3 História Herança da retórica grega que o Cristianismo nomeou como homilética. Dessa forma, é possível concluir que hermenêutica e retórica têm ligações profundas e inseparáveis, já que “retórica” vem do termo grego rhetorike: arte de falar bem, comunicar de forma clara e transmitir ideias com convicção. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Vale lembrar ainda que a retórica mantém relação estrita com a oratória, a arte de falar bem em público, cujo objetivo é se expressar pela fala com eloquência e persuasão utilizando um discurso bonito, bem preparado e empostado. Saiba mais Acesse o vídeo: Como persuadir as pessoas usando a retórica de Aristóteles. Os �lósofos gregos deixaram grandes, belas e sólidas heranças para a humanidade, principalmente no campo da educação. O princípio da educação grega era a formação integral. A própria família tinha essa responsabilidade de acordo com a tradição religiosa. Muitas atividades reuniam os gregos em comemoração. Esses eram os momentos que faziam a educação se desenvolver naturalmente. O ensino das letras e dos cálculos demorou um pouco mais para se difundir, pois, na formação escolar, a preocupação recaía, prioritariamente, sobre a prática esportiva. Entendida pelos gregos como a formação do homem, de seu espírito e de sua alma, a Filoso�a se desenvolveu a partir dos seguintes itens: • Busca do conhecimento; • Estudo da natureza, do ser humano e das artes ; • Observação e investigação do mundo. 1 "[...] não se [pode] evitar o emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura ou educação. Nenhuma delas [coincide], porém, com o que os gregos entendiam por paideia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez. [...] [Trata-se de] todas as formas e criações espirituais e [do] tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos por bildung ou pela palavra latina cultura." (AQUINO, s/d, I, q. 2., a. 1) javascript:void(0); https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0123/aula4.html Para que possamos compreender com profundidade o sentido da re�exão em relação à retórica e à oratória ao falarmos de hermenêutica bíblica, vamos fazer uma breve viagem de volta a um tempo longínquo: a Idade Média. Nosso objetivo é superar sua classi�cação como a idade das trevas. Figura: Sermão medieval. O período conhecido como Idade Média marcou o surgimento da Patrística e contribuiu signi�cativamente para o conhecimento cientí�co, a Filoso�a e a educação. Demarcada pela forte presença de pregadores, exegetas, teólogos e apologetas no debate público, essa época caracterizou-se por: Transmissão do saber na defesa da verdade; Questões teológicas que suscitavam a discussão �losó�ca. Também apresentaremos nesta aula o método de ensino da Escolástica e as artes liberais exercidas pelos homens livres. Com elas, seus alunos recebiam a preparação devida tanto para disciplinas acadêmicas quanto para pro�ssões. De�nitivamente, não podemos estudar a hermenêutica bíblica sem fazer jus ao grande patrimônio construído na Idade Média e deixado a nós de herança. Na busca da harmonização entre fé e razão, a escolástica transitou pelo pensamento de dois teólogos: 1 Santo Agostinho Defensor da primazia da fé, à qual a razão devia se subordinar a �m de restaurar a condição decaída da racionalidade humana. 2 São Tomás de Aquino Defensor de certa autonomia da razão para obter respostas (base do aristotelismo) sem negar sua subordinação à fé. Neste cenário, surgem 4 movimentos importantes. Conheça-os a seguir: Clique nos botões para ver as informações. 1. Patrística Realizado em 325 d.C., o Concílio de Niceia estabeleceu a �delidade e a padronização nas questões de fé. Isso tornou possível à Igreja enfrentar os inúmeros desa�os representados pelas dissidências internas e pelos sistemas rivais. Após sua conversão, que aconteceu aos 32 anos, depois de uma vida pregressa e do encontro com a fé, Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) retomou a Patrística dos primeiros pais (padres) da Igreja. Esta �loso�a cristã dos três primeiros séculos pregava a: Elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo; Defesa contra os ataques de pagãos e as heresias que maculavam os dogmas da fé. A Patrística ainda combinou elementos da fé com os princípios �losó�cos de nomes importantes da Filoso�a, como Platão (428-347 a.C.) e Plotino (204- 270 d.C.). Essa foi a grande contribuição de Santo Agostinho para a época, que, conservando os argumentos da fé cristã, evocou a razão para manter a unidade da Igreja por longo tempo. Figura: Agostinho de Hipona. 2. Escolástica No século XIII, São Tomás de Aquino (1225-1274) foi o grande nome da Escolástica. Com a atualização de suas bases pelo pensamento de Platão e a sintonia de aspectos da natureza com os valores espirituais, tal método �losó�co ampliou-se quando Aquino também lhe introduziu alguns elementos da �loso�a de Aristóteles. Além dos �lósofos antigos, a Escolástica obviamente compreendia o estudo da Bíblia e dos padres da Igreja. Esses autores dos primeiros séculos do Cristianismo eram considerados fontes de autoridade da fé e da santidade. Para esse frade católico, a Filoso�a era uma espécie de serva da Teologia. Eis suas palavras sobre o tema: Uma vez que a intenção principal desta ciência sagrada é transmitir o conhecimento de Deus, e não só segundo o que é em si (secundum quod in se est), mas também segundo o que é como princípio e �m das coisas, especialmente da criatura racional, como é manifesto a partir do que foi dito (q. 1, a. 7); tencionando nós expor esta ciência, trataremos, primeiro, de Deus; em segundo lugar, do movimento da criatura racional para Deus; e, em terceiro lugar, de Cristo, que, segundo a sua humanidade, é, para nós, via de acesso a Deus. (AQUINO, s/d, I, q. 2., a. 1) Para responder às exigências da fé, a Escolástica foi o método de aprendizagem crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias no período compreendido entre os séculos IX e XVI. Obra de São Tomás de Aquino, a Suma teológica é a maior contribuição dessa escola �losó�ca. O principal objetivo da Escolástica era conciliar o ideal de racionalidade – corpori�cado pela tradição grega do platonismo e do aristotelismo – e a experiência de contato direto com a verdade revelada – a essência da fé cristã. Figura: Tomás de Aquino. Esta vertente da �loso�a medieval veio das artes ensinadas nas escolas do século XII. Elas incluíam dois grupos: Trivium: Lógica, gramática e retórica;Quadrivium: Aritmética, música, geometria e astronomia. 3. Artes liberais A partir do século IX, surgiram novos estudos e re�exões que envolviam intelectuais oriundos do clero, das escolas catedralícias e das universidades. O foco desse estudo centrou-se nos tratados �losó�cos antigos, propiciando a formação de movimentos como o Escolasticismo e o Humanismo. 4. Outras re�exões teológicas e �losó�cas Saiba mais Veja mais sobre os assuntos tratados. Acesse: Santo Agostinho - homem entre tempos Quem foi Santo Tomás de Aquino? Atividade 1 - Herdadas da Antiguidade Clássica e organizadas na Idade Média, as artes liberais eram divididas em: a) Trivium (lógica, gramática e música) e quadrivium (aritmética, lógica, música e gramática). b) Quadrivium (música, química e retórica) e trivium (lógica, astronomia, música e geometria). c) Trivium (astronomia, música e retórica) e quadrivium (retórica, astronomia, música e geometria). d) Trivium (lógica, matemática e retórica) e quadrivium (aritmética, retórica, música e geometria). e) Trivium (lógica, gramática e retórica) e quadrivium (aritmética, astronomia, música e geometria). A importância da retórica e da homilética para a hermenêutica bíblica É hora de retomar a ligação entre estes três conceitos: hermenêutica bíblica, homilética e retórica. Regressamos longinquamente no tempo para buscar as origens da retórica e da homilética, rati�cando a preocupação de grandes �lósofos e/ou teólogos cristãos com a arte de: 1 Interpretar 2 Pregar 3 Ensinar a Teologia 4 Estudar a palavra de Deus javascript:void(0); javascript:void(0); Retórica e homilética são sinônimos, mas, ao tratarmos de pregação pública da Bíblia e dos assuntos sacros, a homilética assume o lugar de fala na Teologia. A retórica, assim, acaba sendo utilizada no campo profano da fala pública. Já perceberam como é importante a missão de um homiliasta? Você já teve experiências negativas ou positivas com isso? Como foi a homilia ou pregação que você ouviu? Anunciar a palavra de Deus não é uma ação qualquer. Essa missão exige preparação, dedicação, pesquisa, estudo e regras que possam fazer com que isso seja um momento signi�cativo e transformador para os �éis. Jesus Cristo foi claro ao dizer: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura." (Mc 16,15) Saiba mais Conheça as Técnicas para montar uma pregação de impacto. Atividade 2 - O Papa Francisco, em um de seus ricos documentos, dedicou uma seção a explicar como deve ser a homilia: "é um gênero peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro duma celebração litúrgica; por conseguinte, deve ser breve e evitar que se pareça com uma conferência ou uma lição". (FRANCISCO, s/d) A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um pastor com o seu povo. De fato, sabemos que os �éis lhe dão muita importância. Muitas vezes, tanto eles como os próprios ministros ordenados sofrem: uns, a ouvir; os outros, a pregar. É triste que assim seja. Em qual documento o Papa Francisco dedicou uma seção à homilia? a) Exortação apostólica Evangelii gaudium b) Encíclica Lumen fidei c) Exortação apostólica Gaudete et exsultate d) Exortação apostólica Amoris laetitia e) Encíclica Laudato si Homilia e pregação Ao longo de cada aula, tentamos reforçar a importância da hermenêutica bíblica. Essa área da Teologia protege a interpretação dos Textos Sagrados das manipulações diversas que levam às muitas ideologias que mascaram a verdade e a essência da mensagem de Deus. É uma ciência que cuida, zela, orienta e clari�ca, junto à exegese, o real sentido dos textos da Bíblia. javascript:void(0); Como também já é sabido, a hermenêutica bíblica não afasta a importância de uma contextualização do texto, mas permanece atenta para que ela não tire o foco dele ou esvazie seus sentidos e signi�cados. Interpretar um texto bíblico é uma tarefa árdua se o intérprete quiser manter sua essência e originalidade sem deixar de, ao mesmo tempo, contextualizá-lo. Contextualizar signi�ca trazer tal texto para a vida atual, iluminando a realidade. Figura: Padre Zezinho na Igreja de São Francisco de Assis, em São Paulo/SP. Geralmente, “intérpretes” (homiliasta) da Bíblia também são: Pregadores; Evangelizadores; Comunicadores; Catequistas; Pastores; Padres; Missionários; Outras categorias que têm a Bíblia como fonte de sua ação religiosa. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Considerações sobre Homilética Clique no botão acima. Considerações sobre Homilética Na maioria dos casos, tais “intérpretes” são os responsáveis pela homilética, uma das práticas mais comuns de transmissão do conteúdo da fé. Cabe então à hermenêutica bíblica lhe garantir uma interpretação sólida, �el e contextualizada dos textos bíblicos. São Paulo já re�etia sobre a necessidade de preparação do pregador: “E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz dos que trazem alegres novas de boas coisas”. (ROMANOS 10,15) O sermão da montanha é o modelo perfeito de homilia. Jesus com sabedoria, conhecimento e linguagem clara, faz a mais bela homilia/pregação. Figura: O sermão da montanha (1890), pintura de Carl Heinrich Bloch. Na exortação apostólica Evangelii gaudium, o Papa Francisco fala sobre o anúncio do evangelho no mundo atual. No excerto abaixo, ele re�ete sobre a bela tarefa do pregador: O pregador tem a belíssima e difícil missão de unir os corações que se amam: o do Senhor e os do seu povo. O diálogo entre Deus e o seu povo reforça ainda mais a aliança entre ambos e estreita o vínculo da caridade. Durante o tempo da homilia, os corações dos crentes fazem silêncio e deixam-No falar a Ele. O Senhor e o seu povo falam-se de mil e uma maneiras diretamente, sem intermediários, mas, na homilia, querem que alguém sirva de instrumento e exprima os sentimentos, de modo que, depois, cada um possa escolher como continuar a sua conversa. A palavra é, essencialmente, mediadora e necessita não só dos dois dialogantes, mas também de um pregador que a represente como tal, convencido de que “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus”. (2 Cor 4, 5)(FRANCISCO, 135-159, s/d) Não são raras as vezes em que escutamos dos �éis de qualquer dominação religiosa a insatisfação com os seus “pregadores”. Há muitas observações que identi�cam as inúmeras falhas no exercício da homilética. Falhas constituídas por muitas vertentes, como: Falta de formação e de compreensão aprofundada do texto; Distanciamento entre fé e vida; Discursos enfadonhos e longos; Falta de didática e de empatia com a assembleia; Choque de informações. 135. A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um pastor com o seu povo. 136. Renovemos a nossa con�ança na pregação, que se funda na convicção de que é Deus que deseja alcançar os outros através do pregador e de que Ele mostra o seu poder através da palavra humana. 137. A homilia é um retomar desse diálogo que já está estabelecido entre o Senhor e o seu povo. Aquele que prega deve conhecer o coração da sua comunidade para identi�car onde está vivo e ardente o desejo de Deus e também onde é que esse diálogo de amor foi sufocado ou não pôde dar fruto. 138. A homilia não pode ser um espetáculo de divertimento, não corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e signi�cado à celebração. 139. [...] a pregação cristã encontra, no coração da cultura do povo, um manancial de água viva tanto para saber o que se deve dizer como para encontrar o modo mais apropriado para o dizer. 140. Este âmbito materno-eclesial, onde se desenrola o diálogo do Senhor com o seu povo, deve ser encarecido e cultivado através da proximidade cordial do pregador, do tom caloroso da sua voz, da mansidão do estilo das suas frases, da alegriados seus gestos. 141. O Senhor compraz-Se verdadeiramente em dialogar com o seu povo, e compete ao pregador fazer sentir esse gosto do Senhor ao seu povo. Palavras que abrasam os corações. Todos esses dados representam quanto a homilética, em muitas situações, tem sido “qualquer coisa”, menos a arte de pregar ou de fazer homilia. Voltamos a citar o Papa Francisco na exortação apostólica Evangelii gaudium: A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um pastor com o seu povo. De fato, sabemos que os �éis lhe dão muita importância; e, muitas vezes, tanto eles como os próprios ministros ordenados sofrem: uns a ouvir e os outros a pregar. É triste que assim seja. A homilia pode ser, realmente, uma experiência intensa e feliz do espírito, um consolador encontro com a palavra, uma fonte constante de renovação e crescimento. (FRANCISCO, s/d, 135) A ausência da “arte” homilética provoca fragilidades no estudo bíblico, já que grande parte da formação do �el acontece pelas mensagens proferidas em pregações e homilias. Também há danos provocados na dimensão da fé, pois uma pregação ou homilia mal proferida não renova os sentidos dela, podendo até levantar dúvidas que, caso não sejam explicadas, podem gerar crises e afastamentos. Temos a oportunidade de refazer os sentidos da homilia e da pregação nas palavras de Papa Francisco: Figura: Pastor Silas Malafaia. 142. Um diálogo é muito mais do que a comunicação duma verdade. Realiza-se pelo prazer de falar e pelo bem concreto que se comunica através das palavras entre aqueles que se amam. Na homilia, a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem. Não se trata de verdades abstratas ou de silogismos frios, porque se comunica também a beleza das imagens que o Senhor utilizava para incentivar a prática do bem. 143. O desa�o duma pregação inculturada consiste em transmitir a síntese da mensagem evangélica, e não ideias ou valores soltos. O pregador tem a belíssima e difícil missão de unir os corações que se amam: o do Senhor e os do seu povo. 144. A identidade cristã, que é aquele abraço batismal que o Pai nos deu em pequeninos, faz-nos anelar, como �lhos pródigos – e prediletos em Maria –, pelo outro abraço, o do Pai misericordioso que nos espera na glória. Fazer com que o nosso povo se sinta, de certo modo, no meio desses dois abraços é a tarefa difícil, mas bela, de quem prega o Evangelho. (FRANCISCO, 135-144, s/d) O protestante Martinho Lutero também manifestava essa preocupação séculos antes. Ele pretendia oferecer uma pregação que pudesse cumprir com excelência a incumbência de transmitir �elmente a mensagem de Deus. Para isso, ele apontava virtudes que um pregador deve ter: Além de apontar as virtudes que deve ter um bom pregador, Lutero oferecia didaticamente as pistas necessárias para que essa pregação atingisse seu objetivo. Para isso, o pregador deveria ter clara em sua mente a mensagem que quer transmitir, levando em conta o contexto e o público para o qual está pregando. Um bom pregador deve ter as seguintes qualidades e virtudes. Primeiro, deve saber ensinar direito e corretamente. Segundo, deve ter boa cabeça. Terceiro, deve ser bem articulado. Quarto, deve ter boa voz. Quinto, boa memória. Sexto, deve saber parar. Sétimo, deve estar certo do que fala e ser aplicado. Oitavo, deve investir na sua tarefa o corpo e a vida, os bens e a honra. Nono, deve saber aturar o desprezo de todos. Figura: Sermão de Martinho Lutero em Wartburg. O pai do Protestantismo deixou ensinamentos contundentes acerca da homilética: a) Técnicas diferentes: O pregador é como o marceneiro; seu instrumento é a palavra de Deus. Entre os ouvintes da pregação há pessoas diferentes e de diversos tipos. Por isso, o pregador não deve cantar sempre o mesmo canto e ensinar sempre da mesma maneira. Dependendo dos ouvintes, deve ele, conforme as circunstâncias, ameaçar, atemorizar, repreender, advertir, consolar, reconciliar. O pregador deve conhecer o mundo muito bem e reconhecer que ele é desesperadamente mau, propriedade do diabo, na melhor das hipóteses. (LUTERO apud KIRST, 1985, p. 182) b) Ensinar de modo singelo e dizer muito com poucas palavras: O pregador deve ser capaz de ensinar as pessoas simples e iletradas de modo singelo, arredondado e correto, pois ensinar é mais importante do que admoestar. Temos que ser amas de leite; temos que ser como a mamãe que dá de mamar aos �lhinhos, balbucia e brinca com ele, dá-lhe o peito de mamar e não pode dar vinho nem bebida forte [...] Eu sou inimigo ferrenho daqueles que, nas suas prédicas, se orientam pelos ouvintes importantes e eruditos, e não pelo povo em geral; a este não dão atenção. [...] Dizer muito com poucas palavras, de modo correto e breve, é uma arte e uma grande virtude; mas dizer nada com muita conversa é idiotice. (ibid., 182) c) Transmitir, de modo simples e breve, o teor principal, buscando a glória de Deus: Vocês façam a sua parte! Se não conseguirem pregar uma hora, deixem por meia ou por um quarto de hora. E não se orientem sempre pelos outros, querendo imitá-los [...] procurem trazer de modo simples e breve o teor principal da prédica, e depois deixem-na por conta de Deus, nosso Senhor. Busquem, com toda a simplicidade, apenas a glória de deus, não a fama e o aplauso de pessoas, e orem para que Deus lhes dê entendimento e boca, e aos ouvintes um ouvido bem apurado; e deixem Deus agir. Pois, acreditem, a pregação não é obra humana; pois eu, embora seja a esta altura um pregador velho e experiente, �co com medo quando preciso pregar. (ibid., 189) d) Ser, pela força de Deus, forte na fraqueza: Deus, nosso Senhor, instituiu seu mais alto ministério de modo muito singular; ele o atribuiu aos pregadores, esses pobres pecadores e mendigos, que dizem e ensinam, mas di�cilmente viverá de acordo. Assim, a força de Deus anda sempre na fraqueza, e, quanto mais fraco ele for em nós, tanto mais ele será forte. (ibid., p. 88) Outra questão sobre a homilética também vem ganhando espaço nas re�exões religiosas: a glamourização da �gura do pregador. A mídia tem sido utilizada por muitos deles. Vários �éis criticam essa exposição ao perceberem que nem sempre o centro dessa exposição é a fé, mas a promoção pessoal. Em muitos canais de TV e de internet, é fácil encontrar programas diversos que usam da retórica na tentativa de persuadir os incautos. Há vários casos do tipo, o que já é conhecido como a espetacularização do discurso religioso. Saiba mais Comédia de 1992 dirigida por Richard Pearce e estrelada pelos atores Steve Martin e Debra Winger, Fé demais não cheira bem aborda essa questão. Assista a este �lme e re�ita sobre sua mensagem, tendo em vista a re�exão proposta neste curso sobre a importância da homilética. Veja o trecho dublado da película. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atividade Geralmente, os “intérpretes” da Bíblia são também pregadores, evangelizadores, comunicadores, catequistas, pastores, padres, missionários e tantas outras categorias cuja Bíblia funciona como fonte de ação religiosa. Eles, na maioria dos casos, são responsáveis pela homilética, que é considerada a arte de pregar ou de fazer a homilia. Ela é uma das práticas mais comuns de transmissão do conteúdo da fé. Como são chamados aqueles que fazem uso da homilética? a) Homiliasta b) Homiléticos c) Retóricos d) Hermenêutico e) Exegetas Notas artes1 A educação pelas artes era fundamental para gerar este homem. Esse processo era resumido pela palavra paideia, impossível de traduzir em virtude de seus inúmeros signi�cados. Referências _______. Bíblia católica. Disponível em: https://www.bibliacatolica.com.br/. Acesso em: 15 abr. 2019. _______. Bíblia online. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/. Acesso em: 15 abr. 2019. _____. Como persuadir as pessoas usando a retórica de Aristóteles. In: Acima da média. 17 jan. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=slI87fzFeq8.Acesso em: 16 abr. 2019. _____. Fé demais não cheira bem - dublagem VTI Rio. In: Fã de dublagem. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AbhUQboOhKQ. Acesso em: 16 abr. 2019. _____. Quem foi Santo Tomás de Aquino?. In: Lobo conservador. 8 mar. 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wPNx0D925Dk. Acesso em: 16 abr. 2019. _ ____. Santo Agostinho - homem entre tempos. In: Bunker do Dio. 23 ago. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0X98bWEPBlA. Acesso em: 16 abr. 2019. AQUINO, T. de. Summa teológica. Campinas: Ecclesiae, s/d. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); FRANCISCO. A alegria do evangelho. Exortação apostólica Evangelii gaudium do Papa Francisco ao episcopado, ao clero, às pessoas consagradas e aos �éis leigos sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Rio de Janeiro: Paulinas, s/d. HIPONA, A. de. A cidade de Deus – parte I. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1989. ISQUIERDO, G. Dicas para pregar pela primeira vez. 22 nov. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8YE29OAzo_Q. Acesso em: 16 abr. 2019. ISQUIERDO, G. Técnicas para montar uma pregação de impacto: como pregar a palavra?. 25 set. 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=etSR1g7V2Yc. Acesso em: 16 abr. 2019. JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 1995. LUTERO, M. apud KIRST, N. Rudimentos de homilética. Sinodal/Paulinas: São Leopoldo/São Paulo, 1985. SANTOS, B. S.; COSTA, R. da. História da �loso�a medieval. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2015. SOUZA, N. M. M. (Org.). História da educação: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna, Idade Contemporânea. São Paulo: Avercamp, 2006. VAZ, H. C. de L. Escrito de �loso�a III – �loso�a e cultura. São Paulo: Loyola, 1997. Próxima aula Bíblia como coleção de livros: uma biblioteca; Palavras divinas e humanas divinamente inspiradas na Bíblia; Narração da revelação e da aliança de Deus com o povo eleito. Explore mais Acesse as opções a seguir para aprimorar seus conhecimentos: Dicas para pregar pela primeira vez. Pregação e práticas. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); Pregação e práticas. A interpretação da Bíblia na Igreja. javascript:void(0); javascript:void(0);
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