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Prévia do material em texto

Indaial – 2021
Homilética e 
Hermenêutica
Prof. Roney Cozzer
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Prof. Roney Cozzer
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
apresentação
Seja bem-vindo ao Livro Didático Homilética e Hermenêutica. Neste 
livro didático, estudaremos duas disciplinas em conjunto que são muito 
importantes para os estudos teológicos e bíblicos: Hermenêutica Bíblica e 
Homilética. E não apenas isso: elas são fundamentais, também, para a vida 
Ekklesia, isto é, da Igreja, em suas variadas manifestações denominacionais. 
E pode ser que você esteja já se perguntando: afinal de contas, por que 
estudar duas disciplinas da Teologia, com suas especificidades, num mesmo 
livro? A razão é que essas duas disciplinas, Hermenêutica e Homilética, 
“conversam” muito entre si e mantêm uma importante relação. Alguns autores, 
raramente, é verdade, mas há casos, chegam a denominar essa correlação de 
“Hermelética”. 
É interessante pensar a relação entre a Homilética e a Hermenêutica 
nos seguintes termos: a Homilética, de certo modo, utiliza-se dos resultados 
do trabalho da Hermenêutica. É que enquanto a Hermenêutica preocupa-se e 
ocupa-se do estudo da adequada interpretação do texto bíblico, a Homilética 
se preocupa e se ocupa do estudo de como comunicar a mensagem desse texto 
bíblico de modo contextualizado e leal às Escrituras Sagradas.
Este livro é estruturado em três unidades, em que abordaremos 
os aspectos conceituais da Hermenêutica e da Homilética. Começaremos 
refletindo sobre as bases bíblicas e teológicas da pregação cristã, tanto com 
base no Antigo Testamento como com base no Novo Testamento. 
Nas unidades dois e três, discorreremos sobre a origem e o 
desenvolvimento da Hermenêutica Bíblica e a interpretação bíblica. Por fim, 
na unidade três, trabalharemos com alguns conceitos e princípios essenciais 
a uma boa interpretação do texto bíblico. São temas comuns e amplamente 
abordados pelos diversos autores que se debruçam sobre os estudos em 
Hermenêutica Bíblica. Questões como a dos distanciamentos em Hermenêutica 
e a sua importância, as figuras de linguagem da Bíblia e os hebraísmos, bem 
como a Hermenêutica na pós-modernidade.
Agora, mãos à obra. E vamos nos aprofundar nessas disciplinas 
maravilhosas, Homilética e Hermenêutica.
Boa leitura e bons estudos!
Prof. Roney Cozzer
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO
 ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA ..................................................................... 1
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO............... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 BASES ANTIGOTESTAMENTÁRIAS ............................................................................................ 4
3 BASES NEOTESTAMENTÁRIAS .................................................................................................... 8
4 A PREGAÇÃO NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO: BREVE EXCURSÃO ....................... 15
5 BASES BÍBLICO-TEOLÓGICAS DA PREGAÇÃO .................................................................... 20
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 22
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 23
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO ................................................................. 25
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25
2 A IMPORTÂNCIA DE CONHECER A ESTRUTURA DE UM SERMÃO ............................. 27
3 O TEMA E A INTRODUÇÃO DO SERMÃO .............................................................................. 35
4 O DESENVOLVIMENTO DO SERMÃO...................................................................................... 38
5 A CONCLUSÃO DO SERMÃO ...................................................................................................... 39
6 O APELO: É PARTE DO SERMÃO? .............................................................................................. 40
7 REFERENCIANDO BIBLIOGRAFICAMENTE O SERMÃO ................................................... 41
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 42
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 43
TÓPICO 3 — A PREGAÇÃO EXPOSITIVA, TEMÁTICA E TEXTUAL .................................... 45
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45
2 O SERMÃO EXPOSITIVO............................................................................................................... 45
3 O SERMÃO TEMÁTICO ................................................................................................................. 47
4 O SERMÃO TEXTUAL ..................................................................................................................... 48
5 AFINAL DE CONTAS, QUAL O MELHOR? ............................................................................... 49
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 50
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 52
AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................53
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 55
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA .......................... 57
TÓPICO 1 — ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS ................................................................. 59
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 59
2 DEFINIÇÃO ETIMOLÓGICA ........................................................................................................ 60
3 DEFINIÇÃO TEOLÓGICA .............................................................................................................. 61
4 TRÊS PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS NA HERMENÊUTICA BÍBLICA .................... 67
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 72
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 73
TÓPICO 2 — A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E MEDIEVAL ........ 75
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75
2 A ESCOLA DE ALEXANDRIA ....................................................................................................... 77
3 A ESCOLA DE ANTIOQUIA .......................................................................................................... 80
4 A HERMENÊUTICA NA IDADE MÉDIA .................................................................................... 82
5 A HERMENÊUTICA NA REFORMA PROTESTANTE ............................................................. 83
6 A HERMENÊUTICA NA MODERNIDADE ................................................................................ 84
7 A HERMENÊUTICA NA PÓS-MODERNIDADE ...................................................................... 86
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89
TÓPICO 3 — MÉTODOS HERMENÊUTICOS NA MODERNIDADE ..................................... 91
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 91
2 O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO ............................................................................................ 92
3 O MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL ................................................................................. 93
4 O LIBERALISMO TEOLÓGICO .................................................................................................... 95
5 A REAÇÃO ORTODOXA ................................................................................................................ 96
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 101
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 105
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 106
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 108
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA .......................................................................... 111
TÓPICO 1 — O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL ................................. 113
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 113
2 O QUE SÃO OS DISTANCIAMENTOS EM HERMENÊUTICA .......................................... 116
3 A IMPORTÂNCIA DOS DISTANCIAMENTOS ...................................................................... 119
4 COMO DIMINUIR OS DISTANCIAMENTOS ........................................................................ 123
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 126
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 127
TÓPICO 2 — AS FIGURAS DE LINGUAGEM ............................................................................ 129
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 129
2 O QUE SÃO AS FIGURAS DE LINGUAGEM NA BÍBLIA .................................................... 130
3 AS FIGURAS DE COMPARAÇÃO E AS DE RELAÇÃO ........................................................ 134
4 AS FIGURAS DE DICÇÃO ............................................................................................................ 135
5 AS FIGURAS DE CONTRASTE ................................................................................................... 136
6 AS FIGURAS DE ÍNDOLE PESSOAL ......................................................................................... 139
7 OS HEBRAÍSMOS ........................................................................................................................... 140
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 142
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 143
TÓPICO 3 — A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE ....................................... 145
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 145
2 HERMENÊUTICAS PÓS-MODERNAS ...................................................................................... 149
3 HERMENÊUTICA E O AUTOR .................................................................................................... 150
4 HERMENÊUTICA E O LEITOR CONTEMPORÂNEO ........................................................... 151
5 O PROBLEMA DO “ANACRONISMO HERMENÊUTICO” ................................................. 152
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................................... 154
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 155
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 160
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 161
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 163
1
UNIDADE 1 — 
HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS 
BÁSICOS AO ENSINO E À 
PREGAÇÃO BÍBLICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer os fundamentos históricos e teológicos da pregação cristã;
• compreender o que é a Homilética;
• entender como o sermão deve ser estruturado;
• estruturar o sermão, conhecendo adequadamente cada uma das partes 
que o constitui;
• referenciar bibliograficamente um sermão, dando a ele bom aporte teó-
rico-teológico;
• saber diferenciar os três tipos clássicos de sermão, a saber: expositivo, 
temático e textual.
 Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, 
você encontrará autoatividades com o objetivo dereforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA 
 PREGAÇÃO
TÓPICO 2 – PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
TÓPICO 3 – A PREGAÇÃO EXPOSITIVA, TEMÁTICA E TEXTUAL
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — UNIDADE 1
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E 
TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste tópico, o primeiro de nosso livro, 
“conversaremos” sobre os fundamentos históricos e, também, teológicos da 
pregação. Essa reflexão é fundamental para entender a pregação, sua natureza, 
seu propósito e, claro, sua fundamentação bíblica, histórica e teológica.
A partir da compreensão dos elementos anteriormente mencionados, 
pode-se refletir sobre a grande importância que a pregação tem para a vida das 
diferentes comunidades de fé cristãs. É por meio da pregação que se comunica 
vida, esperança, otimismo, o Evangelho. Todavia, a pregação, mal compreendida 
e mal utilizada, dá lugar a conceitos que empobrecem os nossos discursos de fé 
e que, longe de “elevarem” as pessoas, contribuem para apequenar a vida cristã.
A pregação deve ser usada fundamentalmente para a proclamação do 
Evangelho. O púlpito cristão deve ter como destinação maior e prioritária a 
exposição bíblica pura. E o pregador deve ter consciência de que o espaço de que 
dispõe, perante a congregação, deve ser usado com essa finalidade. 
Dito isso, prosseguiremos, então, considerando fundamentos que são 
encontrados no Antigo Testamento, no Novo Testamento e noções teológicas 
sobre a pregação desenvolvidas e afirmadas ao longo da história do cristianismo. 
Devemos lembrar que estamos na ponta de uma longa tradição Homilética e, 
nesse sentido, vale muito a pena “ouvir” vozes antigas e o que elas entenderam 
da pregação cristã.
Prezado acadêmico, adiante você encontrará um quadro contendo algumas 
definições muito úteis sobre a Homilética. Essas definições são contribuições de importantes 
teólogos cristãos que auxiliam na compreensão do objeto de estudo da Homilética e 
da sua contribuição prática para a Igreja. O quadro está disponível no Tópico 2, quando 
discorreremos sobre as partes que compõem o sermão.
ESTUDOS FU
TUROS
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
4
Em nosso contexto, os fundamentos ou bases significam muito, pois é 
o conhecimento dos fundamentos elementares de uma disciplina que permite 
ao estudante articulá-la com a prática, entendendo-a de modo adequado. Não é 
possível começar uma casa pelo telhado. É preciso primeiro construir as bases, 
isto é, os fundamentos. Quando pensamos isso em relação a uma disciplina 
teológica ou não, podemos concluir que primeiro é necessário entender sobre 
quais conceitos principais ela se assenta e é construída (elaborada). É justamente o 
que se faz aqui. Vejamos, a seguir, alguns desses fundamentos para a Homilética.
2 BASES ANTIGOTESTAMENTÁRIAS
FIGURA 1 – FUNDAMENTOS
FONTE: <https://shutr.bz/2Yydo6s>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Começaremos este subtópico com uma pergunta provocadora: “Não 
seria uma espécie de anacronismo buscar no Antigo Testamento bases para a 
Homilética e, por extensão, para a pregação cristã?”
O que ocorre é que a pregação como nós a conhecemos hoje, evidentemente, 
não acontece nos tempos do Antigo Testamento. Todavia, isso significa dizer que 
não se pode encontrar bases para a prática da pregação nesse conjunto de livros 
que constituem o Antigo Testamento? Respondemos a isso afirmando que não, 
necessariamente. 
É possível, porém, uma fundamentação da Homilética e da pregação cristã 
a partir do Antigo Testamento sem incorrer em anacronismo. Porém, inicialmente, 
é preciso conceituar o termo “pregação” (com seus cognatos), o objeto de estudo 
da Homilética. Qual o seu significado? Consideremos os sentidos de pregação na 
perspectiva teológica e etimológica.
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
5
FONTE: <https://shutr.bz/3AoDNRz>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Do ponto de vista etimológico, a palavra “pregação” pode ser definida 
pelo menos a partir de três línguas que interessam aqui em nosso estudo: o 
hebraico (língua em que foi escrito o Antigo Testamento), o grego (língua em que 
foi escrito o Novo Testamento) e o latim. 
Em grego, a palavra mais comum é kerusso e ela ocorre sessenta vezes 
aproximadamente em toda a extensão do Antigo Testamento. Kerusso significa 
“proclamar como um arauto”. E há uma segunda palavra muito importante, 
que ocorre aproximadamente cinquenta vezes, euaggelizomai, que enfatiza a boa 
qualidade da mensagem e das boas-novas do Evangelho (PFEIFFER; HOWARD; 
REA, 2007, p. 1589).
O estudo em torno desses termos a partir das línguas bíblicas nos remete 
a outra questão de grande importância: qual o conteúdo da pregação cristã? Com 
efeito, a Homilética não se preocupa apenas com o como se deve pregar, mas, 
também, com o conteúdo da pregação. No Dicionário Bíblico Wycliffe (2007), pode-
se ler o seguinte: 
A natureza da pregação bíblica depende de seu conteúdo específico 
e da audiência à qual ela é dirigida. Considera-se que, normalmente, 
o conteúdo da pregação das epístolas seja o “evangelho” (Rm 1.15; 
15.20; 1 Co 1.17) com algumas variações, como “Cristo” (1 Co 15.12), 
“Cristo crucificado” (1 Co 1.23) ou a “palavra da fé” (Rm 10.8), que são 
mensagens para o mundo não cristão (PFEIFFER; HOWARD; REA, 
2007, p. 1589).
Devemos levar em conta, ainda, a palavra latina praedicare, que significa 
basicamente “proclamar”. O teólogo pentecostal Claudionor Corrêa de Andrade 
articula o significado da palavra “pregação” com praedicare, afirmando o seguinte: 
“pregação” vem do latim praedicare e significa “proclamação da 
Palavra de Deus”, visando a divulgação do conhecimento divino, a 
conversão dos pecadores e a consolação dos fiéis. A pregação deve ter 
FIGURA 3 – BASES BÍBLICAS
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
6
um caráter bíblico, evangélico e profético. Além de ter a Bíblia como 
base, há de mencionar a obra salvífica de Cristo, e mover o pecador a 
arrepender-se de seus pecados (ANDRADE, 2010, p. 303).
 
A pregação cristã, com efeito, assume esse sentido genérico de proclamar, 
de anunciar e de comunicar uma mensagem, e em seu caso, naturalmente, a 
mensagem de Jesus. Pode-se afirmar que desde os tempos do Novo Testamento, 
como temos descrito no Livro de Atos de Apóstolos, a pregação cristã vem cumprindo 
esse papel e vai se desenvolvendo na medida em que a atividade missionária dos 
discípulos aumenta, alcançando diversos lugares do Império Romano. Adiante, 
consideraremos um pouco mais esse desenvolvimento, quando refletirmos sobre 
as bases neotestamentárias para a pregação.
Todavia, que outros fundamentos bíblicos podemos identificar para a 
pregação cristã, no Antigo Testamento? Já mencionamos anteriormente que não 
podemos, de fato, encontrar muitos textos antigotestamentários que nos permitam 
afirmar que a pregação encontra sua forma atual nesses textos. Seria impróprio, 
sem dúvida. Porém, também vimos que, de modo embrionário, encontramos 
bases bíblicas para a pregação no Antigo Testamento. Já foi apresentada uma 
definição de natureza etimológica e agora serão considerados alguns aspectos 
bíblicos e teológicos.
O ato de profetizar no Antigo Testamento evoca a ideia de comunicar uma 
mensagem que vem de Deus. O pregador também é entendido como alguém que 
foi vocacionado para comunicar uma mensagem que não é dele próprio, mas 
do Senhor, o Evangelho. Werner Kaschel e Rudi Zimmer (2005, p. 129) definem 
a pregação da seguinte forma: “anúncio da mensagem divina, tanto no Antigo 
Testamento (Is 53.1) como no Novo Testamento (1 Co 1.21)”.
Em Isaías 53.1, encontra-se a palavra hebraica sh^emuw ( ), que signi-
fica “notícia, novas, rumor; notícia, novidades, novas; menção” (STRONG, 2002,H08052). O profeta, no Antigo Testamento, era aquele que anunciava a mensa-
gem que recebia de Iavé. Em Ezequiel 3, o profeta é comparado a uma atalaia, 
outra imagem importante para a pregação cristã. Ali, pode-se ler o seguinte: “ Fil-
ho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; da minha boca ouvirás 
a palavra e os avisarás da minha parte” (BÍBLIA, 1993, Ez. 3,17).
Na atualidade, e também na História da Igreja, essas imagens, a do profeta 
e a da atalaia, têm servido para alimentar o sentido do papel do pregador cristão. 
Todavia, é preciso ter claro que são contextos diferentes. Na verdade, a Igreja 
incorpora essas imagens, mas adaptando-as a sua própria realidade. Stott (1989), 
no entanto, procura demonstrar que a imagem do profeta, usada para definir o 
papel do pregador, é imprópria, ao menos no sentido bíblico do termo “profeta” 
no Antigo Testamento. Ele entende que a imagem mais adequada para o pregador 
é a do despenseiro, uma imagem presente no Novo Testamento, na epístola do 
apóstolo Paulo aos Coríntios, que exploraremos adiante. 
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
7
Stott, em seu livro O Perfil do Pregador (1989), oferece excelente contribuição 
no sentido de definir a missão do pregador. Mas a despeito da recusa de Stott 
quanto à imagem do profeta, no Antigo Testamento, aplicada ao pregador, é fato 
que a Igreja sempre fez essa associação: o pregador é visto como um profeta, mas 
também é visto pela imagem da atalaia.
Nosso entendimento é que essas comparações são importantes para 
evidenciar os fundamentos da pregação cristã no Antigo Testamento. Elas 
demonstram que Deus sempre se preocupou, no sentido de que seu povo recebesse 
sua mensagem. Pode-se notar, na verdade, que todo o Antigo Testamento é 
perpassado por essa comunicação. Deus fala com Adão e Eva, com os patriarcas, 
com reis pagãos, com as tribos de Israel em Josué e Juízes, com os reis de Israel e 
de Judá e com os repatriados, depois do cativeiro babilônico. O autor da Epístola 
aos Hebreus reflete esse processo comunicacional: “Havendo Deus, outrora, falado, 
muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas [...]” (BÍBLIA, 1993, 
Hb. 1,1).
Dessas duas imagens – profeta e atalaia – aplicadas ao pregador, pode-
se chegar a alguns pressupostos fundamentais para a pregação cristã. Tanto a 
imagem do profeta como a da atalaia sinalizam para o fato de que o pregador 
é portador de uma mensagem que é anterior a ele próprio, e que o transcende, 
mensagem que ele deve transmitir, levar adiante. Não é exatamente essa convicção 
que se encontra no apóstolo Paulo? Ele escreve: “ Se anuncio o evangelho, não 
tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim 
se não pregar o evangelho!” (BÍBLIA, 1993, 1Co. 9,16).
FIGURA 4 – RETRATAÇÃO DO PROFETA EZEQUIEL
FONTE: <https://shutr.bz/3lsQPZM>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Essa expressão evidencia um elemento que, de certo modo, também é visto 
nos profetas do Antigo Testamento e com muita força: uma espécie de compulsão 
divina. O teólogo batista Russell P. Shedd afirma que “atrás de toda pregação 
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
8
autêntica, há uma compulsão divina” (SHEDD, 1997, p. 1617). O profeta dos 
tempos bíblicos, do Antigo Testamento, falava também por inspiração. Era muito 
comum a expressão “assim diz o Senhor”. Essa expressão é tão recorrente que 
aparece 2.800 vezes em toda a extensão da Bíblia (COZZER, 2020, vol. 1, p. 289). E 
ela é entendida como uma espécie de autenticação da origem da mensagem que 
o profeta comunicava, e essa origem era o próprio Iavé.
Ainda que não se deva encarar a pregação cristã sob esse mesmo 
entendimento, paralelos úteis são traçados na sua Teologia. O pregador, assim 
entende-se, é também inspirado a comunicar com alegria a mensagem do 
evangelho, não nos moldes do profetismo do Antigo Testamento, mas como 
portador de boas-novas de salvação, em Cristo Jesus.
3 BASES NEOTESTAMENTÁRIAS
O Livro de Atos dos Apóstolos é muito importante para a Teologia da 
pregação. Nele encontra-se aquela que podemos considerar a primeira pregação 
cristã de que se tem registro, em seu segundo capítulo, pregação que foi proferida 
pelo apóstolo Pedro no dia de Pentecostes. 
FIGURA 5 – O NOVO TESTAMENTO
FONTE: <https://shutr.bz/3ludNjn>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Ao ler aquele sermão proferido por Pedro, pode-se encontrar aportes 
fundamentais para a prática do sermão, nas comunidades de fé cristãs. E há 
outros textos em Atos dos Apóstolos que registram outros sermões proferidos, 
inclusive por Paulo, em outras ocasiões. Também no corpus paulinum encontram-
se diversos aportes teológicos para a pregação aos quais devemos recorrer para 
aprofundar nossa compreensão do tema.
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
9
O apóstolo Pedro destaca-se como pregador em Atos. Nesse livro, 
encontram-se registrados pelo menos cinco grandes sermões pregados por ele: 
do lado de fora da casa onde o Espírito Santo havia enchido os primeiros cristãos 
(BÍBLIA, 1993, At. 2,14-40), no pórtico de Salomão (BÍBLIA, 1993, At. 3,11-26), 
perante as autoridades e dos anciãos do povo (BÍBLIA, 1993, At. 4,8-12), diante 
do Sinédrio (BÍBLIA, 1993, At. 5,29-32) e diante de Cornélio e seus convidados 
(BÍBLIA, 1993, At. 10,34-43). Outro “sermão” notável que precisa ser destacado 
é o que foi proferido por Estêvão, diante do Sumo Sacerdote e do Sinédrio, 
registrado em Atos 7. Há outros discursos registrados nesse livro que, com efeito, 
pode ser considerado o livro mais homilético do Novo Testamento.
Como fundamento bíblico para a pregação a partir de Atos, podemos 
destacar o fato de que a pregação cristã precisa ser cristocêntrica. Ao ler o sermão 
de Pedro, no dia de Pentecostes, que está registrado em Atos 2, fica evidente a sua 
ênfase na pessoa de Jesus. Note que quando se fala desse aspecto cristológico 
da pregação, isso implica referir-se ao conteúdo da pregação. E esse conteúdo 
precisa abordar a vida e a obra de Jesus. 
Após a experiência do Pentecostes, o relato bíblico registra que Pedro 
colocou-se de pé perante os presentes, juntamente com os onze, e dirigiu-lhes 
a palavra afirmando que aqueles que haviam sido cheios do Espírito Santo não 
estavam embriagados, mas que estava se cumprindo, naquele dia e naquelas 
pessoas, a promessa feita pelo profeta Joel, a respeito do derramar do Espírito 
(BÍBLIA, 1993, At. 2,22-24). 
O próprio conteúdo da pregação cristã é o Senhor Jesus. Infelizmente, 
em nossos dias, tornou-se muito comum que a pregação cristã se confunda 
com discursos de autoajuda, de violência contra o próximo e de autoafirmações 
que denotam arrogância religiosa e até mesmo teológica. O centro da pregação, 
contudo, precisa ser a vida e obra do Senhor Jesus Cristo e daquilo que diz 
respeito, de fato, à vida cristã genuína. 
Mais adiante, no livro de Atos, encontram-se outras pregações, como a 
que é registrada no capítulo 17, por ocasião da estada de Paulo na cidade de 
Atenas. No versículo 18, pode-se ler o seguinte: “e alguns dos filósofos epicureus 
e estóicos contendiam com ele, havendo quem perguntasse: que quer dizer esse 
tagarela? E outros: parece pregador de estranhos deuses; pois pregava a Jesus e a 
ressurreição” (BÍBLIA, 1993, At. 17,18). Note que o que gerava contenda da parte 
dos filósofos epicureus e estoicos com Paulo era, na verdade, a pessoa do Senhor 
Jesus e a ressurreição dos mortos.
Esse conteúdo cristocêntrico da pregação dos primeiros cristãos é 
recorrente em todo o livro de Atos. Devemos recordar que já em Atos 9, por 
ocasião do chamamento de Saulo de Tarso, o discípulo Ananias ouviu do 
Senhor a seguinte afirmação a respeito de Saulo: “vai, porque este é para mim 
um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem 
como perante os filhos de Israel” (BÍBLIA, 1993, At. 9,15).
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E ÀPREGAÇÃO BÍBLICA
10
Reiteramos que o centro da pregação cristã precisa ser a vida e obra do 
Senhor Jesus Cristo e daquilo que diz respeito de fato à vida cristã genuína, no 
seguimento desse Cristo que nos amou e rendeu sua vida por nós. Essa conclusão 
de que a pregação precisa ser essencialmente cristocêntrica pode ser feita não 
apenas com base em Atos dos Apóstolos, mas também em outros textos do Novo 
Testamento. Nos Evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João, a ênfase é no Reino 
de Deus. São diversos os textos em que se anuncia a chegada do Reino de Deus, 
inclusive por Jesus. O assunto do Reino de Deus é relativo ao próprio Cristo e 
ao discipulado cristão. O evangelista Lucas registra: “Interrogado pelos fariseus 
sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de 
Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de 
Deus está dentro de vós” (BÍBLIA, Lc. 17,20-21). 
Essa compreensão do que é o Reino de Deus e do que é Evangelho é 
fundamental à pregação. Constitui aquela que consideramos ser a principal base 
neotestamentária para a pregação cristã. E sem essa compreensão, a pregação fica 
comprometida, como de fato está hoje. Basta acessar as pregações disponíveis na 
internet, em sites como o YouTube, por exemplo, para perceber isso. Pouco ou 
quase nada se fala sobre o Evangelho, de fato. 
FIGURA 6 – PALAVRA DE DEUS
FONTE: <https://shutr.bz/302S6yv>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Outra importante base teológica neotestamentária para a pregação é 
a compreensão paulina a respeito das boas-novas. E por qual razão destacar a 
perspectiva paulina? Uma razão possível para esse interesse, e muito coerente, é 
o volume de material disponível no Novo Testamento que é atribuído ao apóstolo 
Paulo.
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
11
FONTE: <https://shutr.bz/3oPKn1i>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Todo esse volume literário é chamado de corpus paulinum. Cozzer 
(2020) descreve, de maneira bem sucinta, a maneira como o Novo Testamento é 
organizado e o conteúdo desse conjunto de textos do Novo Testamento chamado 
de corpus paulinum: 
Epístolas
Esta seção do Novo Testamento é também chamada de doutrina; 
é a seção epistolar, pois é constituída somente de epístolas. Ela está 
subdividida em três partes principais: 
1) Epístolas Paulinas, que são as epístolas escritas por Paulo e daí 
receberem esse nome; essas, por sua vez, podem ser catalogadas em 
quatro partes: 
a) primeiras epístolas; 
b) grandes epístolas; 
c) epístolas da prisão, e 
d) epístolas pastorais; 
2) Epístola aos Hebreus, endereçada a crentes judeus que passavam 
por aflições; esta carta aparece de forma destacada por seu conteúdo 
ser bem distinto das demais; e, 
3) Epístolas Gerais ou Universais, escritas por autores diversos, 
endereçadas a todos os cristãos, indistintamente. São também 
chamadas de Epístolas Católicas [...].
Profecia
Esta última seção em que está dividido o Novo Testamento também se 
constitui de um livro apenas, o Apocalipse [...]. (COZZER, 2020, vol. 
1, p. 293-295).
Com relação ao corpus paulinum e sua utilização do termo (e do conceito) 
a respeito do evangelho, Wright (2012, p. 227-237) comenta que leu todo o 
corpus paulinum em busca de entender como “Paulo pensava e falava acerca do 
evangelho”. A partir dessa extensa pesquisa, ele discorre a respeito de pelo menos 
seis abreviações que foram utilizadas por Paulo e que refletem a compreensão 
desse apóstolo a respeito do evangelho. Vejamos uma síntese a seguir a respeito 
de cada uma dessas abreviações delineadas por Wright.
FIGURA 7 – BOA-NOVA DO EVANGELHO
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
12
Prezado acadêmico, observe que os comentários que se seguem nesse diálo-
go com a obra de Wright (2012), fornecem ao pregador uma série de subsídios para produ-
zir sermões. Por isso é importante que você já inicie a leitura dos subtópicos a seguir com 
esta noção em mente, a fim de fazer melhor aproveitamento do conteúdo que se segue.
• O evangelho é a história de Jesus à luz das Escrituras.
 O Evangelho deve ser entendido como uma mensagem que está ancorada em 
fatos históricos sobre Jesus. E esse Jesus histórico esteve na Terra para realizar uma obra 
de salvação prometida no Antigo Testamento e cumprida nele. Wright (2012, p. 227) co-
menta que “[...] o evangelho é um relato dos acontecimentos da morte e da ressurreição 
de Jesus, entendido à luz das Escrituras do Antigo Testamento. A boa-nova é o que Deus 
prometeu na Escritura e, depois, concluiu em Jesus”.
 Essa compreensão do Evangelho como história é fundamental para que se com-
preenda a expressão do Novo Testamento que afirma em termos de “recepção do evan-
gelho”, como em 1 Coríntios 15.1: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos 
tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis” (BÍBLIA, 
1993, 1Co. 15,1).
 Por que a palavra “recebestes”? Justamente porque esse Evangelho não foi uma 
criação de Paulo, que havia trabalhado entre os coríntios por um período de dezoito me-
ses. Com a palavra “recebestes” ele estava indicando que o Evangelho era anterior a ele 
mesmo e constitui uma mensagem que registra eventos que ocorreram factualmente en-
volvendo Jesus. Paulo prossegue, em 1 Coríntios 15, afirmando o seguinte:
Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: 
que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, 
e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo 
as Escrituras, e que foi visto por Cefas e depois pelos doze. 
Depois, foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos 
quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. 
Depois, foi visto por Tiago, depois, por todos os apóstolos e, 
por derradeiro de todos, me apareceu também a mim, como 
a um abortivo (BÍBLIA, 1993, 1Co. 15,3-8).
 Note que Paulo alude a testemunhas oculares: Jesus “[...] foi visto, uma vez, por 
mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte [...]”. (BÍBLIA, 1993, 1Co. 15,6). 
Seria absurdo ele aludir a testemunhas oculares e afirmar aos seus leitores que grande par-
te delas estavam vivas ao tempo em que ele escreve seu texto, se ele não cresse realmente 
que os eventos que haviam sido testemunhados por essas pessoas não fossem factíveis. 
Logo, o Evangelho está assentado sobre fatos. E é nessa perspectiva que Paulo opera, em 
grande medida.
 Wright (2012, p. 228) afirma que o “[...] evangelho de Paulo, portanto, está arrai-
gado nas Escrituras e é moldado pelo reino de Deus. Ele é constituído da consumação de 
Jesus como Messias, cumprindo as Escrituras e encarnando o Messias”. Wright prossegue 
afirmando que a “[...] boa-nova é que o reino de Deus, prometido e definido nas Escrituras, 
agora é chegado na pessoa e na obra do Messias Jesus”. (WRIGHT, 2012, p. 228). 
ATENCAO
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
13
• O evangelho é uma nova humanidade redimida, uma única família de Deus.
 A mensagem do Evangelho é para todas as nações, para o mundo inteiro. O 
Evangelho cumpre, de certo modo, o plano divino no sentido de abençoar, em Abraão, 
todas as nações da Terra. Como afirma Wright, os acontecimentos relativos ao anúncio do 
Evangelho e da vida de Jesus “[...] tinha também raízes profundas no Antigo Testamento” 
(WRIGHT, 2012, p. 228). 
 Isso rompe com paradigmas muito profundos nos tempos bíblicos, sejam os an-
teriores à Era Cristã, sejam os do primeiro século depois de Cristo. Os judeus sempre nu-
triram um profundo nacionalismo, e esse é um dos paradigmas que marcam a história dos 
hebreus. Wright comenta:
As nações, ao que parecia, estavam completamente alienadas 
e fora do centro da família de Deus. Deus havia entrado em 
aliança com Israel, redimindo-os e dando-lhes sua Lei, havia 
lhes dado promessas e esperança, havia descido e feito sua 
morada entre eles. As nações, ao contrário, poderiam ser 
precisamente descritas por Paulo da seguinte maneira:Portanto, lembrai-vos de que, no passado, vós, gentios por 
natureza, chamados incircuncisão pelos que se chamam 
circuncisão, feita pela mão de homens, estáveis naquele 
tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, 
estranhos às alianças da promessa, sem esperança e sem 
Deus no mundo. (Ef 2.11,12) (WRIGHT, 2012, p. 229).
 Com Jesus Cristo, contudo, as barreiras caíram. Cristo é quem une a todos e 
nivela todos os homens. Em Colossenses (3,11), pode-se ler que nessa nova vida em Cris-
to “[...] já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, 
escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos” (BÍBLIA, 2021, Cl. 3,11). O Evangelho, 
portanto, acaba com esse estado de separação entre povos, judeus e gentios, entre senhor 
e servo, entre livres e escravos e entre homem e mulher. O texto de Efésios (2,13-18) é 
marcante nesse sentido. 
 Essa é a nova humanidade a que Wright se refere quando afirma que o evangelho 
é uma nova humanidade redimida, uma única família de Deus. Aqui, pode-se estabelecer 
um link com a compreensão cristã a respeito da Ekklesia, isto é, da Igreja universal que 
congrega pessoas que procedem de toda “[...] tribo, língua, povo e nação” (BÍBLIA, 1993, 
Ap. 5,9). 
• O evangelho é uma mensagem a ser transmitida ao mundo todo.
 A compreensão de que o Evangelho é mensagem que precisa ser proclamada a 
todo o mundo é uma das bases neotestamentárias para a pregação mais importantes que 
podemos destacar. Wright comenta que “[...] a própria natureza do evangelho é que ele é 
uma boa-nova que simplesmente tem que ser anunciada [...]” e que “[...] deve ser ouvido 
como a ‘palavra da verdade’ (Efésios 1.13; Colossenses 1.5,23)” (WRIGHT, 2012, p. 230).
 O Evangelho deve ser pregado a todas as nações indistintamente porque em 
Cristo todos são alcançados. As barreiras caíram e não deve haver distinção, como havia 
por parte dos judeus em relação aos gentios. O Evangelho “[...] é o poder de Deus para a 
salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (BÍBLIA, 1993, 
Rm. 1,16).
• O evangelho é transformação ética.
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
14
 A pregação do Evangelho possui um forte teor ético, que precisa ser levado em 
conta. Quando se pensa na proclamação do Evangelho, pode-se ter em mente que ela in-
clui convidar as pessoas a aceitarem essa ética do Evangelho em suas vidas. Do contrário, 
isto é, se esse apelo não existe, pode-se até questionar a legitimidade desse “evangelho” 
que se está pregando. 
 É preciso destacar que no Evangelho não é possível separar a crença doutrinária 
do modo de viver. É que as “[…] duas coisas são intrínsecas ao próprio evangelho […]”, con-
forme afirma Wright (2012, p. 232). É parte da ação do Evangelho no homem modificá-lo 
para melhor. O ensino paulino afirma que somos obra de Deus, criados para as boas obras 
(BÍBLIA, 1993, Ef. 2,8-10).
 Concluindo este subtópico, é importante destacar que no Novo Testamento tan-
to o ato de crer no Evangelho como o ato de obedecer ao Evangelho estão intimamente 
correlacionados. E essa precisa ser uma tônica da pregação cristã. Precisa ser e continuar 
sendo uma de suas bases neotestamentárias fundamentais, para que não sofra o prejuízo 
de se descaracterizar como Evangelho de fato.
• O evangelho é a verdade a ser defendida.
 Há, também, outra base neotestamentária para se compreender a pregação: ela 
possui um caráter apologético. Uma vez que se compreende que a verdade do Evangelho 
precise ser defendida, a pregação assume esse caráter. Wright afirma: “As boas-novas tam-
bém podem ser uma má notícia para aqueles cujos interesses pessoais sejam ameaçados 
por elas. Por essa razão, há uma batalha a ser travada, a fim de garantirmos que a verdade 
do evangelho seja preservada, esclarecida e defendida contra negações, distorções e trai-
ções” (WRIGHT, 2012, p. 235).
 Pensar sobre a questão apologética em relação ao Evangelho é fundamental, por-
que nos conduz a refletir sobre o que é o Evangelho de fato, e o que ele não é. E hoje con-
vivemos com diversos tipos de pregações que, conquanto se apresentem como “pregação 
do evangelho”, na verdade constituem discursos alienados da essência do Evangelho.
 Podem ser citados diversos exemplos desse fato. Ouve-se muitos discursos de 
autoajuda como se fossem a mensagem do Evangelho. Mas esses discursos se distanciam 
do cerne do Evangelho, porque eles buscam no próprio sujeito a orientação e o esforço 
necessários para o seu progresso pessoal, numa espécie de empreendedorismo individual, 
o que de per si não é negativo, quando não é apresentado como a mensagem do Evan-
gelho. O conteúdo da pregação cristã é o próprio Cristo, sua obra salvadora e sua vida em 
nós. 
 Outros apresentam um discurso extremamente radical relacionado à moralidade 
cristã, que geralmente é fruto de fundamentalismo religioso. Esse tipo de conteúdo é 
apresentado como “defesa do Evangelho” e da verdade, mas quem opera com esse tipo de 
abordagem parece não levar em conta o fato de que a graça de Deus foi dada a homens 
pecadores, que continuam sendo pecadores mesmo depois de alcançados pela graça.
 Não se está afirmando com isso que deva haver leniência para com o pecado e 
com atos e comportamentos que são contrários a uma vida de verdadeiro discipulado. 
Como pode se depreender do comentário no subtópico anterior, nossa abordagem não 
é de legitimação do pecado, mas podemos entender que a condição humana é marcada 
por problemas e limitações. 
 Pregações marcadas por radicalismo religioso tendem a criar ou vender a ima-
gem do “super cristão”, levando as pessoas a acreditarem numa espécie de utopia existen-
cial, que consiste em crer que é possível alcançar um elevadíssimo padrão de moralidade 
que, na prática, nunca será alcançado por ninguém. Mesmo aqueles cristãos mais com-
prometidos com Cristo e com a Igreja que conhecemos pessoalmente, e sobre os quais 
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
15
podemos ler na história do cristianismo, possuem e possuíram falhas morais, algumas 
gravíssimas, inclusive. É preciso equilíbrio entre a convicção de que é possível ser melhor 
sem ser perfeito.
 Devemos lembrar que a humanidade, em sua história, sempre foi marcada por 
egoísmo, hedonismo, violência sem limites, sexo irresponsável, ganância, engano e tan-
tos outros males que poderiam ser elencados. Por mais que a humanidade não deva ser 
encarada e entendida apenas nesses termos (seria impróprio), mas é fato que esses males 
assolam o homem há muitos séculos. Nesse sentido, o Evangelho é boa-nova, boa notícia, 
mas, também, confrontação, porque com efeito o homem é mau em seu coração e sente 
prazer na prática contínua de muitos desses males. O Evangelho confronta as condutas 
incorretas que praticamos, mas ele também é poder de Deus para modificar nossa ética 
no mundo da vida. É o que veremos no próximo subtópico.
• O evangelho é o poder de Deus transformando o universo.
O Evangelho é o poder de Deus agindo no mundo, na vida das pessoas, provocando 
transformações profundas. A obra de Cristo, seu ministério, sofrimento, sua morte e res-
surreição possibilitam que os homens tenham acesso a Deus e possam, assim, ser trans-
formados à imagem do próprio Cristo.
O ensino bíblico é no sentido de que o verdadeiro seguimento de Cristo não consiste só 
ou exclusivamente de uma compreensão intelectual de determinada verdade, mas em que 
se internalize na própria vida essa verdade. E aí está um elemento fundamental à fé cristã: 
a vivência concreta dos princípios do Evangelho. 
É só após a análise da importância cósmica de Cristo, de sua 
igreja e de sua cruz é que Paulo passa para a reconciliação 
pessoal dos cristãos. Os cristãos em Colossos poderiam ficar 
firmes em sua fé e esperança (Colossenses 1.23), porque a 
sua salvação estava atrelada à agenda do evangelho, a qual 
possui um alcance cósmico, englobando todo o espaço e o 
tempo. Não éde admirar que Paulo diga que ele está sendo 
proclamado “a toda a criatura debaixo do céu” (Colossenses 
1.23). (WRIGHT, 2012, p. 236).
 As compreensões de Wright, com as quais dialogamos até aqui, são importantes 
para que se possa perceber as bases bíblicas da pregação cristã no Novo Testamento. As 
definições apresentadas pelo referido autor, e aqui desdobradas, auxiliam nessa compre-
ensão. E pode-se perceber que com o passar do tempo, na história do cristianismo, tais 
compreensões têm sido sustentadas e servido de baliza para a proclamação do Evangelho. 
A seguir, faremos uma breve excursão pela história da pregação cristã.
4 A PREGAÇÃO NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO: BREVE 
EXCURSÃO
A história da pregação cristã se confunde com a própria história do 
cristianismo. O cristianismo sempre foi uma religião de proclamação e de 
argumentação em favor da fé cristã. Não por acaso ele formou não apenas 
teólogos brilhantes, mas, também, pregadores incríveis. E essa característica do 
cristianismo reflete muito sua dinamicidade ao longo de gerações.
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
16
FIGURA 8 – PÚLPITO CRISTÃO
FONTE: <https://shutr.bz/3luFbxE>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Um estudo dessa natureza, que busca considerar a história da pregação 
e, por que não dizer, da própria Homilética (por extensão), é importante porque 
nos permite perceber que a pregação não é uma prática que surge na Reforma 
Protestante, ou no grande avivamento da Inglaterra no século XVIII, com os 
Wesley. Muitos pregadores e teólogos reformados enfatizam tanto a pregação em 
Calvino e em outros reformadores, que fica a impressão de que a pregação surge 
com eles. Mas na verdade não foi assim.
Houve oradores notáveis que precederam o próprio Calvino, como 
Lutero, Agostinho e Orígenes. Na verdade, é correto compreender que Calvino 
não surge como pregador no vácuo, a partir do nada. Ele prega e se torna um 
pregador dentro de um contexto maior construído por outros que o precederam. 
A própria Reforma Protestante pode ser considerada um movimento de grandes 
proporções com ideias e conceitos comuns a diversos reformadores que os 
repetiram e corroboraram, como os cinco “somentes” da Reforma: somente a fé, 
somente a escritura, somente a graça, somente Cristo e glória somente a Deus (em 
latim, sola fide, sola escriptura, sola gratia, solus Christus e soli Deo gloria). 
A história da pregação deve remontar até o primeiro século, ao registro 
que temos dela no Livro de Atos. Conforme comentado anteriormente, a pregação 
proferida por Pedro no dia de Pentecostes, de acordo com registro de Atos 2, 
coloca-se como uma amostra da ênfase que o Livro de Atos dá à pregação. Há outras 
ocasiões em que sermões são proferidos, como a pregação de Pedro, quando no 
alpendre de Salomão (BÍBLIA, 1993, At. 3,12), ou Paulo, na sinagoga de Antioquia 
da Pisídia (BÍBLIA, 1993, At. 13,16).
É preciso levarmos em conta que o Livro de Atos é uma importante fonte 
de informação histórica sobre a pregação cristã, já que não dispomos de muito 
material a esse respeito no texto bíblico. Temos, ali, material suficiente para 
perceber o caráter da pregação apostólica, mas não exaustivo. Também não 
dispomos de muito material no que se refere à pregação entre o período apostólico 
e o tempo de Orígenes, que viveu entre os séculos II e III.
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
17
A despeito dessa ausência de material para maior pesquisa, acredita-se 
que a pregação era lida e explicada para a assembleia presente, seguindo um 
modelo que inicia no Novo Testamento. Mas em Orígenes acontece uma guinada 
na pregação, porque diferentemente de seus predecessores, ele não parte de um 
tema escolhido para a pregação, mas parte do próprio texto bíblico. A pregação 
era pautada por essa tendência de se escolher um tema e buscar textos bíblicos 
para confirmar o tema. Orígenes, por sua vez, transforma a homilia numa 
exposição das partes do texto bíblico escolhido, o que chamaríamos hoje de 
sermão expositivo. Importante destacar ainda que “[...] as homilias mais antigas 
que ficaram preservadas até nós são as de Orígenes” (CHAMPLIN, 1991, vol. 3, 
p. 154).
FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE ORÍGENES
FONTE: <https://bit.ly/3oLL9wc>. Acesso em: 20 ago. 2021.
Orígenes acreditava tanto na capacidade inata do pregador como no dom 
divino. E confiava mais na exposição simples e clara da palavra de Deus do que 
na retórica pagã. Uma vez que o sermão deve ter como fonte a palavra de Deus, o 
seu objetivo maior deveria ser a edificação espiritual do ouvinte. Porém, é preciso 
lembrar que Orígenes interpretava as Escrituras – isto é, sua Hermenêutica – a 
partir da alegorização (PARKER, 2019).
Na Bíblia, encontra-se alegorias, mas podemos falar de alegoria em 
termos de um modo de interpretar as Escrituras, modo esse que foi superado em 
definitivo na Reforma Protestante, que valorizou a interpretação gramatical do 
texto. A alegorização da Bíblia consiste em uma espécie de espiritualização do 
texto bíblico, mas de maneira forçosa. Trata-se de um método de interpretação 
que acabou contribuindo para interpretações distantes do que de fato o texto 
bíblico está afirmando, dando lugar, algumas vezes, a interpretações, no mínimo, 
inusitadas.
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
18
Na Patrística, a pregação foi marcada pela preocupação em demonstrar o 
verdadeiro evangelho resguardando-o das heresias. Esse período que se estende 
por pelo menos cinco séculos (para citar uma contagem mais “econômica”), é o 
período da gênese da literatura cristã. Movimentos como o Gnosticismo recebiam 
refutação dos primeiros teólogos da Igreja. Deve-se lembrar, inclusive, que a 
Patrística é justamente o período que abrange os primeiros séculos da Era Cristã, 
nos quais despontaram grandes teólogos que deixaram para a posteridade obras 
de grande importância, como Contra as Heresias, de Irineu.
Um aspecto muito importante da Teologia patrística é o seu inegável 
déficit para com a Filosofia grega. Ao ponto, inclusive, de ser considerada a 
primeira fase da Filosofia medieval, já que a Patrística é o período de tempo que 
decorre entre a Antiguidade e o início da Idade Média. Esse foi, sem dúvida, um 
período muito importante e produtivo para o Cristianismo. E esse vínculo com 
a Filosofia grega tinha razão de ser, já que o mundo, naquele tempo, a cultura 
helênica influenciava todo o mundo. A Filosofia era usada, inclusive, de modo 
racional, para defender o dogma contra aqueles que o atacavam. Havia certa 
semelhança entre ensinamentos cristãos e ensinamentos de filósofos gregos, de 
modo que isso serviu a esses teólogos.
Essa era, a Patrística, pode ser considerada a era dos grandes apologistas 
cristãos que buscavam defender com veemência a fé cristã. E faziam essa defesa 
com base filosófica, conforme mencionado acima. Destacam-se assim pensadores 
cristãos como Justino, Irineu de Lião, Orígenes, Clemente de Alexandria, dentre 
outros). 
Embora utilizando-se da Filosofia, é fato que esses pais apostólicos 
amavam muito as Escrituras e as utilizavam intensamente. Em que pese o fato 
de que eles deixaram muitos comentários às Escrituras. Os textos escriturísticos 
eram usados para a elaboração da defesa da fé cristã e para a sustentação dos 
argumentos apresentados por esses teólogos antigos. A filosofia era usada como 
uma espécie de etapa preparatória para a reflexão e a pregação cristã.
Parker (2019) comenta que os escolásticos contribuíram para a pregação 
ao dispensarem o formato de homilia, que não apresentava uma estrutura para 
o sermão, e adotaram uma estrutura formal em seus sermões. Segundo o autor:
Os escolásticos dispensaram a homilia e empregaram uma estrutura 
formal nos seus sermões. Esse formato foi empregado universalmente 
nos sermões acadêmicos, e como os estudantes eram treinados 
nesse método nas universidades, esse foi amplamente utilizadonas 
paróquias, apesar de a homilia nunca ter se extinguido completamente. 
Aqui, só é possível apresentar uma esquemática mínima desse formato 
incrivelmente complicado e sutil. O sermão era dividido em cinco 
partes:
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
19
Tema ou texto.
Pré-tema, para despertar o interesse das pessoas.
Introdução ao tema, para explicar seu significado.
Divisão em partes.
Desenvolvimento das partes (PARKER, 2019, p. 21).
Nos dois séculos que precederam a Reforma Protestante, a pregação 
escolástica declinou, reduzindo-se, por vezes, ao humorístico e ao burlesco, 
ainda que sempre tenha havido pregadores sérios e zelosos (PARKER, 2019, p. 
22). É na Era Escolástica que surge um homem muito importante na história do 
cristianismo, estudioso profundo e altamente competente, que trabalhou para 
traduzir a Bíblia para a língua inglesa, John Wycliffe (1328-1384). Parker (2019, p. 
22) comenta que Wycliffe: 
[...] se distanciou decisivamente da pregação medieval tanto em forma 
como em conteúdo. Ele retornou à homilia e fez da pregação a simples 
exposição das Escrituras. Em segundo lugar, ele delineia uma doutrina 
da Palavra que não parece ser fundamentalmente diferente daquela de 
Lutero ou Calvino.
 
Lutero, já no período da Reforma Protestante, pregou de modo expositivo, 
em alemão, entendendo que a pregação era a exposição da Palavra de Deus e que 
devia ter uma posição central na Igreja. O reformador Zuínglio, por sua vez, usou 
a homilia e pregou livros inteiros da Bíblia, de maneira continuada, iniciando esse 
esforço em 1519, em Zurique, com o Evangelho de Mateus (PARKER, 2019, p. 24). 
Calvino, que pode ser considerado como pertencente a uma segunda 
geração de reformadores, contribuiu com a Homilética no que tange à 
sistematização e à análise do sermão. Ele, juntamente com Lutero, Zuínglio e 
outros reformadores, pode ser considerado representante do modelo de pregação 
que prevaleceu no período da Reforma Protestante, um modelo que valorizava 
explorar o texto bíblico e que reconheceu a pregação da palavra de Deus como 
uma atividade fundamental e central do ministério cristão. No período da 
Reforma, afirma Parker (2019, p. 24) que “[...] a missa foi destronada de seu 
reinado usurpado na igreja, e o sermão colocado em seu lugar. O púlpito, em vez 
T. H. L. Parker (2019, p. 18) apresenta uma importante distinção que precisamos 
considerar aqui, ok? Veja só: ele distingue, na história da pregação cristã, o conceito de 
“homilia” do conceito de “kerygma”. A pregação como homilia era direcionada exclusivamente 
à igreja, ao passo que a pregação como kerygma era direcionada ao mundo pagão e tinha 
um caráter mais profético e agressivo.
ATENCAO
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
20
do altar, tornou-se o ponto central nas igrejas luteranas, calvinistas e anglicanas. 
A pregação foi vinculada às Escrituras tanto em forma quanto em substância”. 
Ele prossegue, apontando que o: 
[...] propósito da pregação, de acordo com os Reformadores, era 
expor e interpretar a Palavra de Deus nas Escrituras. Desse modo, 
eles promulgaram as Escrituras como o critério a partir do qual toda 
sua pregação deveria ser julgada. A pregação era a serva da Palavra 
eterna que Deus uma vez “pronunciou” e da qual foram testemunhas 
as palavras dos profetas e dos apóstolos. (PARKER, 2019, p. 24)
5 BASES BÍBLICO-TEOLÓGICAS DA PREGAÇÃO
A pregação cristã precisa ter como um de seus fundamentos teológicos a 
compreensão de que ela é parte da própria missão da Igreja. E a missão da Igreja 
inclui proclamar o evangelho, levando o kerigma ao mundo perdido e carente de 
salvação em Cristo. É claro que a missão da Igreja assume diferentes aspectos, 
como ser, também, educadora. Cozzer (2020) afirma o seguinte: 
A missão da Igreja, em sua anunciação do evangelho de Cristo, requer 
dela uma postura educadora. E ela vem assumindo isso ao longo 
dos séculos trazendo, inclusive, benefícios, no âmbito da Educação 
Pública. A Reforma Protestante teve como um de seus grandes ideais 
justamente o acesso à educação, ainda que básica, para a sociedade 
(COZZER, 2020, vol. 1, p. 367).
A missão da Igreja é anunciar boas-novas. E esse anúncio de boas-novas 
se dá com o próprio Jesus e, também, no corpus paulinum. Nesses, com maior 
ênfase, mas não apenas neles. Todo o Novo Testamento enfatiza as boas-novas 
de salvação em Jesus. Jesus é aquele que cumpre o sentido maior das profecias 
messiânicas de Isaías, vindo para reinar, fazendo crescer o seu reino de paz no 
mundo.
FIGURA 10 – PÚLPITO
FONTE: <https://shutr.bz/3BvnljI>. Acesso em: 4 ago. 2021.
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DA PREGAÇÃO
21
Outra base bíblica e teológica para a pregação é a eclesiológica. A 
Eclesiologia, enquanto disciplina teológica, é “[...] muito importante no âmbito 
da Teologia Sistemática e para a vida da Igreja do Senhor, bem como para 
a comunidade de fé local, que se reúne regularmente para cultuar a Deus” 
(COZZER, 2020, vol. 1, p. 767). 
Certo, mas como essa relação Igreja/pregação pode ser entendida como 
base teológica para a teologia da pregação? Compreender que a pregação como 
parte da missão da Ekklesia constitui em si uma importante base teológica para a 
Igreja. Nosso entendimento é que a correta compreensão da Igreja e de sua missão 
incidirá na qualidade da pregação. E o fluxo de volta também é verdadeiro: a 
correta compreensão da pregação reflete diretamente na qualidade de nossas 
comunidades de fé. Por isso, a pregação é assunto tão importante em Teologia. 
A seguir, refletiremos sobre o nosso principal objeto de estudo, o sermão. 
Avançamos agora para uma parte mais prática do nosso estudo: considerar as 
partes que compõem um sermão, cada uma delas, entendendo a sua finalidade 
na pregação e como preparar cada uma. Todas essas seções são fundamentais, e, 
quando bem-preparadas, contribuem diretamente para a qualidade da homilia, 
tanto no que se refere a sua qualidade teológica como no que se refere à qualidade 
da sua exposição perante a congregação. 
22
 Neste tópico, você aprendeu que:
• Os fundamentos históricos e teológicos da pregação cristã, bem como suas 
bases no Antigo Testamento, no Novo Testamento e algumas bases de 
natureza teológica.
• A história da pregação, o que permitiu uma visão panorâmica a respeito de 
como a pregação foi praticada ao longo da história do cristianismo.
• As diversas características do Evangelho a partir do corpus paulinum, 
conforme analisado por Wright (2012), características essas que devem refletir 
diretamente na pregação e na própria vida do cristão.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
1 Uma classificação muito tradicional para os sermões é aquela que os 
organiza em sermões expositivos, temáticos e textuais. Com base na 
definição de sermão expositivo, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) É o sermão elaborado a partir de um tema, logo, da cabeça do pregador. 
As divisões do sermão são articuladas com o tema.
b) ( ) É o sermão que é elaborado a partir do texto bíblico, que se utiliza de 
uma porção pequena de versículos, em geral um ou dois versículos.
c) ( ) É o sermão elaborado a partir do texto bíblico e que se utiliza de um 
grupo maior de versículos, podendo chegar a fazer uso de um livro 
inteiro.
d) ( ) É o sermão que tende a ser mais fácil de ser preparado e cuja aplicação 
é, também, mais simples.
2 A pregação cristã encontra suas bases tanto no Antigo e Novo Testamentos 
como na própria reflexão teológica. Em relação ao material bíblico, sabe-
se que há palavras importantes que refletem a ideia de comunicar uma 
mensagem, que é basicamente o objetivo da pregação cristã. E há bases 
bíblico-teológicas importantes para a pregação que precisam ser conhecidas 
pelo pregador. Tendo as bases bíblico-teológicas para a pregação em mente, 
analise as sentenças a seguir:
I- Uma dessas bases é a compreensão de que a pregação é parte da própria 
missão da Igreja.II- Uma dessas bases é a compreensão de que a pregação implica proclamar 
o evangelho do Senhor Jesus.
III- A base eclesiológica é também muito importante, mas sem relação com 
a questão da pregação, uma vez que ela tem que ver diretamente com a 
doutrina da Igreja.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças II a III estão corretas.
3 O sermão é constituído por diversas partes. O pregador precisa conhecer 
essas partes de modo adequado para que tenha condições tanto de preparar 
adequadamente o sermão como de expô-lo com clareza. Uma dessas partes 
constitutivas do sermão deve ter como qualidades a clareza, concisão e a 
brevidade. Ela aparece no início do sermão e serve para que, por meio dela, 
o pregador anuncie o conteúdo do que será ministrado. Pensando em qual 
parte aparece no início do sermão, assinale a alternativa CORRETA:
AUTOATIVIDADE
24
a) ( ) A introdução.
b) ( ) A conclusão.
c) ( ) O apelo.
d) ( ) O desenvolvimento.
4 Ao longo da história do cristianismo, a pregação sempre foi uma constante. 
Em cada período, ela se apresenta com determinadas características. Com 
efeito, a história da pregação quase se confunde com a história da Igreja. 
Disserte a respeito das características da pregação na Era Apostólica, no 
primeiro século.
5 Refletir sobre as bases teológicas da pregação leva a considerar o corpus 
paulinum, que representa uma grande parte do Novo Testamento. São ao 
todo treze epístolas e deve-se mencionar ainda a própria vida de Paulo, que 
foi dedicada em grande medida à atividade missionária e, por extensão, à 
pregação. Consciente desse fato, disserte a respeito da concepção paulina, 
presente no corpus paulinum do Evangelho.
25
TÓPICO 2 — UNIDADE 1
PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
1 INTRODUÇÃO
Muitas pessoas que se convertem ao Evangelho logo nos seus primeiros 
anos ou, por que não dizer, em seus primeiros meses de conversão, já começam 
a “pregar”. E há muitos cristãos que prosseguirão durante anos fazendo uso 
da Palavra ao púlpito de suas igrejas sem de fato entenderem como estruturar 
um sermão e em seguida expô-lo. A qualidade da exposição do sermão está 
diretamente ligada à forma como ele é pensado e preparado previamente. Para 
tratar dessa temática, é necessário aprofundarmos nossos conhecimentos sobre a 
Homilética.
FIGURA 11 – SERMÃO
FONTE: <https://shutr.bz/3anoUUU>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Uma definição clássica para a Homilética é a seguinte: “é a técnica e arte 
da preparação e exposição de sermões”. É técnica porque envolve objetivos, 
conhecimento do assunto a ser abordado no sermão, elaboração intelectual e 
organização. Mas é arte porque requer do pregador sensibilidade e percepção de 
natureza espiritual, racional e emocional.
Vejamos, na tabela a seguir, outras importantes e muito úteis definições 
de Homilética e alguns comentários relativos a ela de grandes teólogos cristãos e 
em obras teológicas cristãs. É muito importante conhecer as contribuições desses 
pensadores da fé cristã, porque isso nos possibilita ter uma visão mais abrangente 
26
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
e perceber a disciplina Homilética e a prática da pregação por meio de diferentes 
perspectivas que, em grande medida, são complementares. Tendo considerado 
essas conceituações, avançaremos para o estudo das partes que compõem o 
sermão.
QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DE HOMILÉTICA
FONTE: O autor
Devemos destacar um ponto, ainda, muito importante: a estreita correlação 
que há – ou que deve haver – entre a pregação e a Hermenêutica Bíblica. Neste 
subtópico, o objetivo é estudar as partes que compõem o sermão, mas há um 
elemento fundamental que antecede a elaboração dessas partes. E que elemento 
é esse?
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
27
2 A IMPORTÂNCIA DE CONHECER A ESTRUTURA DE UM 
SERMÃO
O conhecido homileta brasileiro Jilton Moraes, já no início de sua obra 
Homilética: da pesquisa ao púlpito (2007), comenta que utiliza o método de H. C. 
Brown Jr., considerado pioneiro no estudo da elaboração de sermões a partir de 
vários passos, de modo que o primeiro desses passos é a interpretação correta do 
texto bíblico. Assim, Moraes comenta o seguinte:
O desafio do método Brown é equipar o pregador para elaborar 
sermões textuais e expositivos a partir do aprofundamento da 
pesquisa do texto básico. Segundo esse método, a tarefa do preparo 
do esboço não começa com o título, divisões, introdução ou conclusão, 
com a elaboração da pesquisa que antecede essa tarefa. Ou seja, o 
pregador só está apto a iniciar o trabalho das divisões, da introdução 
e da conclusão depois de ter elaborado tal pesquisa preliminar, que 
vai da correta interpretação do texto até a escolha do título (MORAES, 
2007, p. 14).
Outro ponto muito importante que deve ser destacado é sobre a 
importância das partes do sermão. O Dr. Juan C. de la Cruz (2016) comenta que 
“[...] casi cualquier libro sobre predication que pretenda ser prático, proponderá em algún 
modo um orden que guie al predicador a passar del texto bíblico y del mensaje a la audiência 
del mundo bíblico, al mensaje bíblico al mundo actual del precador” (CRUZ, 2016, s.p.). 
Esse costume de estruturar o sermão em partes é fundamental para que ele possa 
ter concatenação nas ideias que apresenta, sequência lógica e organização. 
Antes de prosseguirmos na análise dessas partes constitutivas do sermão, 
considere os dois exemplos de sermões a seguir, um expositivo e outro temático, 
extraídos da Enciclopédia Teológica numa perspectiva transdisciplinar (COZZER, 
2020). Esses modelos ajudarão você, acadêmico, a perceber tanto as especificidades 
de cada um como, também, as diferenças entre tipos de sermões e como suas 
partes são organizadas. Conquanto a estrutura básica de um sermão seja TEMA 
– TEXTO BÍBLICO – INTRODUÇÃO – TÓPICOS – CONCLUSÃO, os esboços, 
conforme o tipo de sermão, podem apresentar certas diferenças.
Esse esforço para exemplificar os diferentes tipos de sermão é muito 
importante. Os sermonários, que são aqueles livros que contêm apenas esboços 
de sermões, são ferramentas muito úteis nesse sentido, justamente porque a 
consulta a eles permite visualizar de modo prático a elaboração de sermões. 
28
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
Os seguintes títulos auxiliarão muito você, estudante, nessa jornada. São obras 
que, para mim mesmo, têm sido muito úteis ao longo dos anos, compartilhando a Palavra 
de Deus: 
• BOYER, O S. 150 estudos e mensagens de Orlando Boyer. 6. ed. Rio de Janeiro: 
CPAD, 2005.
• MARINHO, R. M. A arte de pregar: como alcançar o ouvinte pós-moderno. 2. ed. rev. 
ampl. São Paulo: Vida Nova, 2008, Apêndices 1 e 2, nas páginas 261-72.
• MESQUITA, A. Ilustrações para enriquecer suas mensagens. Rio de Janeiro: CPAD, 
2005.
• PERES, A. C. Ilustrações selecionadas: pequenas histórias e experiências para ser-
mões e estudos bíblicos. 16. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
DICAS
A seguir, veremos um exemplo de sermão expositivo, retirado de Cozzer 
(2020, vol. 1, p. 755-761) e um exemplo sermão temático, retirado de Cozzer (2020, 
vol. 1, p. 788-790).
• Exemplo de esboço de sermão expositivo
Tema do sermão: A premente necessidade de obedecer aos preceitos do 
senhor
Texto bíblico de base: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no 
teu coração” (BÍBLIA, 1993, Dt. 6,6). 
INTRODUÇÃO
O Livro de Deuteronômio faz parte do Pentateuco e é tradicionalmente 
atribuído a Moisés, tanto entre cristãos quanto entre judeus. Um fato interessante 
sobre o título grego do livro é que ele seria uma interpretação equivocada de 
17.18, que conclui ser uma “segunda lei”, quando na verdade não se trata de uma 
segunda (outra) lei, mas, sim, da repetição da mesma Lei do Senhor, às vésperas 
de adentrarem na terra da promessa (CARSON et al., 2009).Assim, o livro reafirma 
e reaplica preceitos que estão contidos nos livros anteriores do Pentateuco para o 
povo de Israel. 
Embora se admita que Moisés seja o seu autor, é inegável que houve o 
trabalho de um editor posterior, até pelo fato de o livro trazer o relato da morte 
de Moisés, no capítulo 34. O postulado defendido pela hipótese documentária 
de que o livro seria resultado de vários autores, oriundos de várias escolas, é 
rejeitada neste esboço. No próprio Novo Testamento (e mesmo no Antigo) 
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
29
encontramos claras evidências de que Moisés foi o autor desse grupo de livros 
que contém importantes preceitos, que são, vários deles, reiterados nos textos 
neotestamentários. 
Esta teoria, atualmente, não se acha mais em sua forma original, mas 
seus desdobramentos continuam sendo uma constante na Academia Teológica. 
Com efeito, muitos comentadores bíblicos adotam as posições relacionadas à 
esta teoria. Todavia, a Hipótese Documentária vem sofrendo questionamentos 
e mesmo autores que a adotam reconhecem que ela possui sim suas limitações 
(BROWN; FITZMYER; MURPHY, 2007). 
ESBOÇO RESUMIDO
1. Introdução e chamado a obedecer aos preceitos que seguem (vv. 1-3).
2. O Shemá de Israel e o chamado à obediência (vv. 4-9).
3. O Senhor faz promessas ao seu povo quanto à posse da terra (vv. 10, 11).
4. Instruções diversas ao povo sobre como proceder na terra da promessa (vv. 
12-19).
5. Instruções quanto às gerações futuras (vv. 20-25).
ESBOÇO HOMILÉTICO
O presente sermão reflete sobre a importância de obedecer aos preceitos 
do Senhor. Note-se que já no início do capítulo 6 do Livro de Deuteronômio, o povo 
é convidado a obedecer a Iavé, pondo em prática os seus mandamentos.
Introdução e chamado a obedecer aos preceitos que seguem (vv. 1-3)
É interessante observar que Moisés orienta o povo a respeito dos “[...] 
mandamentos, os estatutos e as normas que Iahweh vosso Deus ordenou ensinar-
vos, para que os coloqueis em prática [...]” (v. 1, BJ). Esses preceitos deveriam ser 
postos em prática na terra que agora o povo passava a dominar. A bênção de Deus 
por vezes é condicional. Conquanto Deus prometa a bênção e a ministre sobre 
seus filhos, em muitos momentos ela vem mediante a observância de preceitos ao 
longo de nossa vida.
Deus estabelece seus preceitos (v. 1)
“Estes, pois, são os mandamentos [...]” (v. 1, ARC). Os mandamentos de 
Deus precisam ser conhecidos para então serem obedecidos. O salmista escreveu: 
“Tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos” 
(Sl. 119,4).
30
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
O temor ao Senhor na observância dos mandamentos (v. 2)
“Para que temas ao Senhor, teu Deus” (v. 2). O temor do Senhor é o 
princípio da sabedoria, como ensina o Livro de Provérbios (1,7). O temor do Senhor, 
não o medo, leva-nos a evitar o mal. Um ser humano que não teme nada e nem 
ninguém tende a ser inconsequente em suas ações. 
O Shemá de Israel e o chamado à obediência (vv. 4-9)
Deparamo-nos agora com um dos textos mais conhecidos do Antigo 
Testamento, tanto entre judeus como entre cristãos. É um texto que exalta o 
Senhor, o Deus de Israel, como o único deus verdadeiro. Esse texto tem servido 
como um pilar ao monoteísmo judeu e ao monoteísmo cristão, ainda que cada 
uma dessas religiões entenda o monoteísmo ao seu próprio modo.
Moisés instrui o povo na vontade de Deus
Nesta seção, temos o conteúdo transmitido por Moisés ao povo quanto 
ao seu procedimento na terra da promissão. O texto começa conclamando Israel 
a ouvir: “Ouve, Israel [...]” (v. 4). Obedecer ou não aos mandamentos e preceitos 
que se seguem serão determinantes sobre o futuro de Israel. Ouvir aqui é muito 
mais do que um simples escutar. É atentar. Um olhar sobre o futuro é lançado 
nesta passagem. Vale ressaltar que toda a religião e vida do povo israelita deve 
girar em torno da verdade de que “o Senhor nosso Deus, é o único Senhor” (v. 4). 
A adoração e o serviço de Israel devem ser exclusivos a Iavé. “As quatro palavras 
(Javé, nosso Deus, Javé, Um) podem ser traduzidas de diversas maneiras, mas 
destacam que o Deus de Israel não era um de um panteão, mas soberano e objeto 
de toda a dedicação” (COUSINS apud BRUCE, 2009, p. 363).
A preservação deste ensino
Um fato interessante que se observa em Deuteronômio, capítulo 6, é 
o cuidado exigido por Deus ao povo no sentido de que ele preservasse “estas 
palavras” (v. 6). As gerações futuras precisam ser cientificadas deste ensino. Essas 
palavras deveriam fazer parte da rotina do povo, de sua vivência diária e não 
apenas num dia específico da semana (o sábado). Com efeito, esta preocupação 
deve fazer parte, também, da realidade da Igreja no século XXI. O cuidado com 
o ensino das verdades bíblicas é essencial para que tenhamos filhos saudáveis 
e adultos tementes a Deus. Deuteronômio 6, neste sentido, pode ser unido a 
outros diversos textos, inclusive os neotestamentários, que tratam da questão da 
instrução e do ensino bíblico.
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
31
O Senhor faz promessas ao seu povo (vv. 10,11)
Embora Israel, ao longo de sua trajetória, tenha sido por vezes infiel ao 
Senhor, Ele, contudo, reitera sua aliança com seu povo. Essa aliança retorna aos 
antepassados dos israelitas: “[...] na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaque 
e Jacó” (v. 10). Deus não esquece as suas promessas. Ele as cumpre no tempo 
devido. 
Interessante considerar que o povo sofredor no Egito havia esquecido essa 
promessa, mas Deus não! O que os israelitas estavam para ver com seus olhos era 
uma terra desejada por um povo do deserto, mas o desfrute dessa dádiva de 
Deus estava condicionado a que as pessoas ouvissem os preceitos do Altíssimo. 
O recebimento de uma promessa de Deus requer responsabilidade também. 
Mais do que pedirmos a Deus para que Ele cumpra o que nos tem prometido, 
devemos pedir que Ele nos dê estrutura e sabedoria para receber suas dádivas e 
para as administrarmos com prudência. Riquezas nas mãos de tolos podem ser 
destrutivas e reduzidas a nada.
 Advertências ao povo (vv. 12-19)
Encontram-se neste trecho algumas advertências ao povo de Israel. Essas 
advertências podem ser contextualizadas para nós, hoje, e nos trazer, assim, 
orientação. É interessante lembrar que por ocasião de sua tentação no deserto, o 
Senhor Jesus usou versículos desta seção.
O povo deve cuidar para não se esquecer do Senhor, seu Deus
Aqui, o Decálogo, ou seja, os dez mandamentos, é reiterado. Na 
prosperidade a que estavam prestes a ser introduzidos, o povo não deveria 
esquecer-se do seu Deus. A idolatria tão presente entre os povos ao redor deveria 
ser evitada, sempre: “Não seguireis outros deuses, os deuses dos povos que 
houver à roda de vós” (v. 14). O versículo 13 viria a ser usado séculos mais tarde 
pelo Redentor para repelir uma das tentações de Satanás contra Ele, o que sugere 
que o valor doutrinário deste texto não está confinado aos tempos de Israel no 
deserto ou mesmo em Canaã. Noutras palavras, este versículo foi reatualizado 
em uma circunstância específica vivida por Jesus e pode ser reatualizado também 
em nossas vidas.
Advertência contra o perigo de se tentar o Senhor
Massá é lembrado como um evento que pode ensinar o povo (v. 16. cf.: 
Êxodo 17.1ss), que deve aprender as lições do passado. Jesus reiterou isso ao 
responder a Satanás: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus” (Mt. 
4,7), citando justamente Deuteronômio 6.16. “Pôr Deus à prova é tentar forçá-lo a 
demonstrar a sua divindade ao impor condições a ele” (COUSINS apud BRUCE, 
2009, p. 364). Deus está para muito além desse tipo de categoria humana.
32
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
O povo deve ser contínuo em observar os mandamentos do Eterno
A palavra usada é “diligentemente” (v. 17). Essa observância é para a 
vida. É diária. É contínua. Como visto em 6.6,7: “E estas palavrasque hoje te 
ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado 
em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te”. Requer 
esforço. A obediência é condição para que o povo desfrute das bênçãos de Deus. 
O povo deve viver em retidão: “E farás o que é reto e bom aos olhos do Senhor” 
(v. 18). Essa conduta ética é bastante reforçada nos ensinos do Novo Testamento, 
começando pelos preceitos de Jesus e indo até os textos epistolares. Os discípulos 
serão reconhecidos por suas obras e frutos (Mt. 5,16; Ef. 5,7-11; Fp. 2,12-18).
Instruções quanto às gerações futuras (vv. 20-25)
Assim como nós mesmos somos beneficiários de outros que nos 
antecederam em temor e obediência a Deus, assim também devemos nós 
prosseguir em transmitir às novas gerações os preceitos valiosos e indeléveis 
das Escrituras. O inesquecível comentarista devocional da Bíblia, F. B. Meyer, 
comentando Deuteronômio 6.1-19, afirma o seguinte: “Não nos esqueçamos de 
quantos de nossos privilégios e vantagens espirituais do presente devem ser 
creditados às orações e lágrimas, aos trabalhos e sofrimentos dos que nos legaram 
preciosas heranças, a nós, seus filhos e herdeiros! Estamos bebendo de cisternas 
que nunca cavamos!” (MEYER, 2002, p. 94). Essa transmissão passa pelo “dirás 
a teu filho” (v. 21) e, também, pelo “E o Senhor nos ordenou que fizéssemos” (v. 
24). O dizer precisa ser confirmado pelo fazer. “Vós sois o sal da terra” (Mt. 5,13), 
ensinou o Mestre Supremo. 
CONCLUSÃO
A pós-modernidade (uma das expressões usadas para tentar definir nosso 
tempo) tem como uma de suas principais características a abolição dos valores. 
Nesta época, o valor maior é não ter nenhum valor. Falar de preceitos, princípios 
doutrinários e de observância a mandamentos pode soar até como algo ofensivo 
na “era das opiniões”. Nas Escrituras, contudo, encontramos a ação redentora de 
Deus descrita em termos progressivos e em favor da humanidade. Israel deveria 
responder a seus filhos relatando os feitos do Senhor no passado. 
Essa atividade redentora de Deus para com Israel era complexa, mas 
simples ao mesmo tempo. Israel fora escravo no Egito e Deus atentou para seu 
sofrimento realizando feitos prodigiosos e libertando-o da escravidão (vv. 21-
25). Assim, também, Deus fez conosco, tirando-nos da escravidão do pecado (Jo. 
8,31-36). Trouxe-nos das trevas para sua maravilhosa luz. E agora, devemos viver 
conforme o padrão estabelecido pelas Escrituras, que está acima de opiniões e 
visões filosóficas. O que éramos e quem somos deve servir para demonstrar a 
ação redentora de Deus em nossas vidas também, para nossos filhos, que poderão 
perceber, assim, que Deus é real e que sua ação salvadora é eficaz. Obedecer, pois, 
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
33
ao Senhor, é uma necessidade premente, pois só fazendo isso seremos capazes 
de comunicar uma vida transformada a nossos filhos e a outros que nos cercam, 
inspirando-os a uma vida feliz na presença do Senhor.
• Exemplo de esboço de sermão temático
Tema do sermão: A importância de se ter objetivos
Texto bíblico de base: “Então o anjo do Senhor veio, e sentou-se debaixo 
do carvalho que estava em Ofra e que pertencia a Joás, abiezrita, cujo filho Gideão 
estava malhando o trigo no lagar para o esconder dos midianitas. Apareceu-
lhe então o anjo do Senhor e lhe disse: O Senhor é contigo, ó homem valoroso” 
(BÍBLIA, 1993, Jz. 6,11-12).
INTRODUÇÃO
O livro de Juízes alude à uma época sombria para o povo de Israel: havia 
desunião política, guerras internas, opressão estrangeira, depravação moral e 
espiritual. Mas Juízes é também um livro que evidencia o cuidado de Deus com 
seu povo, providenciando libertadores para salvá-los da agressão que vinha de 
fora. Juízes é também um livro excepcional para se refletir sobre liderança. Ele 
registra as histórias de líderes notáveis que, alguns deles, apesar de seus erros 
crassos, puderam ser usados por Deus para livrar Israel. Homens como Sansão e 
Gideão.
No texto em particular, escolhido para servir de base para este sermão, 
encontramos justamente Gideão num ato de esforço e sendo chamado pelo anjo 
do Senhor de “homem valoroso”. De sua determinação podemos extrair algumas 
lições preciosas sobre a importância de se cultivar objetivos nobres e importantes 
em nossas vidas.
Prosseguindo quando todos fazem o que não agrada a deus
“Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor [...]” (v. 1). 
Um homem, Gideão, ousa prosseguir quando todos faziam o que não agradava 
a Deus. Manter-se íntegro numa geração de corrompidos não é fácil. Fazer o bem 
quando todos fazem o mal não é fácil. E insistir em fazer o bem quando todos não 
acreditam mais no bem, é de fato muito difícil. Todavia, como bem ensinam as 
Escrituras, “[...] não nos cansemos de fazer o bem, porque no tempo certo faremos 
a colheita, se não desanimarmos” (Gl. 6, 9, NAA).
Mantendo o objetivo, mesmo sob opressão
“Porque, cada vez que Israel semeava, os midianitas e os amalequitas, 
como também os povos do Oriente, subiam contra ele” (v. 3). Um homem ousa 
manter seu objetivo mesmo quando três povos vão contra o seu povo: midianitas, 
amalequitas e “outros povos da região a leste deles” (v. 3). Como se já não bastasse 
34
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
a sua própria nação fazer o que desagradava ao Senhor, outros povos vizinhos 
os oprimiam. Mesmo assim, ele prossegue. Enfrenta desafios internos e externos. 
Mas isso não o impede de manter-se focado em seu objetivo. Era preciso malhar 
o trigo e ele assim o fazia.
O povo empobreceu por causa da opressão, como se pode ler em 6.6: “Por 
causa de Midiã, Israel empobreceu tanto que os israelitas clamaram por socorro 
ao Senhor” (NVI). O povo de Israel escondia-se, enquanto Gideão trabalhava: “Os 
midianitas dominaram Israel; por isso os israelitas fizeram para si esconderijos 
nas montanhas, nas cavernas e nas fortalezas” (v. 2); Gideão, contudo, “[...] estava 
malhando trigo num tanque de prensar uvas” (v. 11).
Podemos aprender com isso que, em nossas vidas, é preciso manter o 
objetivo, confiando no Pai. Os dias difíceis virão, certamente. A noite chegará. 
A tempestade nos alcançará. O cristão pode, contudo, permanecer firme em 
seu objetivo, sabendo que dias alegres ajudarão a esquecer os dias tristes, que o 
amanhecer dissipará o sombrio noturno e que a bonança superará a tempestade 
violenta.
Deus auxilia na consecução desse objetivo
“Então, veio o Anjo do Senhor [...] e lhe disse: O Senhor é contigo, homem 
valente” (vv. 11,12). Deus vem em favor do seu servo e lhe envia um mensageiro 
celeste para animá-lo a prosseguir. Nas horas mais difíceis, o Senhor mostra-se 
presente e não desampara os seus. Em nossa caminhada nos vemos por vezes 
cansados e desanimados. Portas fechadas, críticas injustas, omissão daqueles 
que poderiam nos ajudar e ausência de pessoas importantes para nós são alguns 
dos diversos fatores que podem nos levar à frustração e à tristeza. Todavia, Ele 
vem em nosso socorro. Não nos desampara e quando menos esperamos, nos 
momentos improváveis da vida, Ele nos socorre.
CONCLUSÃO
Gideão questiona o Senhor e apela para a história passada de seu povo 
dizendo: “[...] Onde estão todas as suas maravilhas que os nossos pais nos contam 
quando dizem: ‘Não foi o Senhor que nos tirou do Egito?’ Mas agora o Senhor 
nos abandonou e nos entregou nas mãos de Midiã” (v. 13). Mesmo sendo o menor 
na casa de seu pai, foi capaz, com o auxílio do Senhor, de se tornar o libertador 
de uma nação inteira. A história de Gideão é inspiradora para nós, no sentido de 
que devemos prosseguir em busca dos objetivos que são os objetivos de Deus. O 
Senhor desejava libertar o seu povo, e a libertação do povo do Senhor tornou-se 
o objetivo de Gideão.
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
35
3 O TEMA E A INTRODUÇÃO DO SERMÃO
O tema do sermão ou título do sermão não é propriamente uma parte 
constitutivado sermão, mas um elemento fundamental. É por meio do tema que 
se anuncia o conteúdo do sermão, de maneira objetiva, é claro, mas provocativa. 
Entenda-se “provocativa” aqui não em sentido pejorativo, mas positivo: que 
instiga, que provoca curiosidade, que anima para ouvir. É importante que 
o tema inclua palavras que estão na estrutura do sermão, de fato. E mais que 
isso: é importante que o tema inclua palavras-chave do sermão, que são aquelas 
palavras que carregam conceitos essenciais ao sermão e que são recorrentes. 
Repare no esboço do sermão temático que foi disponibilizado anteriormente, 
cujo título é A importância de se ter objetivos, que a palavra “objetivo” aparece 
no desenvolvimento e, inclusive, no segundo tópico do esboço. E é uma palavra 
essencial à proposta do sermão.
FIGURA 12 – INTRODUÇÃO 
FONTE: <https://shutr.bz/3iP7l4K>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Observe que os dois esboços de sermões apresentados anteriormente 
possuem várias partes constitutivas em comum, como a introdução, os tópicos (o 
desenvolvimento do sermão, também chamado de corpo de sermão) e a conclusão. 
Porém, note, também, que eles se diferenciam na extensão dos comentários e no fato 
de que o esboço do sermão textual estrutura ou organiza as suas partes a partir do texto 
bíblico, ao passo que o temático não parte do texto bíblico para organizar suas partes. 
Vejamos, a seguir, cada uma dessas partes.
UNI
36
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
O tema de um sermão pode ser mais bem elaborado, mas não deve ser 
confundido com o modelo de títulos de trabalhos científicos, que normalmente 
são mais extensos e mais elaborados. Veja os exemplos a seguir, a fim de ilustrar 
a diferença entre eles: 
QUADRO 2 – DIFERENÇAS ENTRE TEMAS
FONTE: O autor.
A escolha do texto bíblico é outra parte fundamental da elaboração do 
esboço do sermão. É tão importante justamente porque é o texto bíblico pregado 
que será o material de trabalho do pregador. E isso será independente de o sermão 
ser textual, temático, expositivo ou mesmo ocasional. 
O pregador pode optar por trabalhar com uma série de sermões, caso ele 
tenha essa possibilidade em sua igreja local, em que aborda temas e/ou livros 
inteiros das Escrituras. Ele terá, assim, uma rica e inesgotável fonte para produzir 
suas pregações. É claro que as Escrituras são a fonte primária e fundante da 
pregação, mas não precisam ser a única fonte.
As fontes complementares para a pregação são muitas e variadas: os 
livros, a experiência pessoal, o encontro e o reencontro diário com o Evangelho 
e com Cristo que nos leva a repensar convicções e certezas, o dia a dia, as 
necessidades de nossas comunidades de fé, questões sociais (sem transformar a 
pregação em discursos sociológicos) e notícias locais, nacionais e internacionais. 
Não estamos, com isso, inferindo que discursos sociológicos sejam negativos. 
Todavia, insistimos em que o púlpito cristão precisa destinar-se exclusivamente à 
exposição da palavra de Deus.
Confira, no vídeo O problema da Assembleia de Deus, um exemplo de como 
um pregador traz para dentro do sermão uma vivência pessoal e a utiliza em conexão com 
o assunto abordado na pregação: 
Disponível em: https://youtu.be/imfJsrmeSzo. Acesso em: 3 jul. 2021.
DICAS
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
37
A introdução é uma parte fundamental do esboço do sermão. Começar 
bem é essencial, inclusive no sermão. A introdução do sermão é a parte que 
anuncia de modo mais abrangente o conteúdo do que será abordado na pregação. 
Por meio dela, o pregador anuncia a quer chegar. E, sem dúvida, o pregador já 
deve chegar ao púlpito tendo claro o ponto alto da pregação, o seu clímax. Moraes 
(2007) alerta para o fato de que “o pregador que não fixa com clareza o propósito 
de sua mensagem tende a ficar falando em círculos intermináveis” e que “para 
pregar com objetividade, relevância e vigor, o pregador precisa trabalhar com um 
propósito claro, de tal modo que conheça o rumo a seguir em sua mensagem e 
saiba aonde pretende chegar com sua comunicação” (MORAES, 2007, p. 79).
Robson Moura Marinho (2008) cita Duane Liftin que por sua vez comenta 
o seguinte: 
Você nunca tem uma segunda chance de causar uma primeira 
impressão!” Marinho prossegue afirmando que, no sermão, “[...] a 
primeira impressão exerce um papel decisivo, e geralmente irreversível. 
Ou seja, se não aproveitar bem os primeiros minutos do sermão, você 
não terá uma nova chance de começar de novo! (MARINHO, 2008, p. 
225).
Marinho (2008) prossegue destacando algumas qualidades de uma boa 
introdução, que comentaremos a seguir. São as seguintes: 
• Atratividade: desperta a atenção do ouvinte e provoca-lhe interesse. 
• Objetividade: ela não pode ser longa, e não precisa explicar o sermão; ela 
introduz o ouvinte no assunto geral do sermão.
• Concisão: a introdução não deve ser prolixa.
• Brevidade: se a introdução for longa demais, ela pode cair no vazio e 
deixar o ouvinte sem entender de fato onde o pregador busca chegar com o 
desenvolvimento do sermão.
• Modéstia: a introdução não deve anunciar aquilo que de fato não conseguirá 
abordar. Deve ser objetiva, concisa e se pautar também pela humildade. 
Marinho (2008, p. 228) afirma: “[...] Em vez de exagerar e dar a impressão de 
arrogância, seja modesto, deixe que o conteúdo fale por si mesmo e demonstre 
consistência”.
Imagine um pregador, em certa ocasião, anunciar na introdução que seu 
sermão tinha 10 tópicos, mas não conseguir passar do terceiro depois de 40 minutos! 
Agora Outro erro crasso é o pregador falar por trinta minutos ou mais e dizer que essa é 
apenas a introdução do seu sermão, dando aquele ar de sabedoria e de arrogância.
UNI
38
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
• Bom senso: esta qualidade tem a ver com outras qualidades já elencadas, 
como concisão e brevidade. Marinho (2008, p. 229) comenta que a introdução 
“[...] tem de ser coerente com o tema, com a congregação e com o espírito 
cristão”.
• Clareza: a introdução precisa ser clara, de modo que o ouvinte logo perceba 
do que se trata o conteúdo geral da pregação.
• Planejamento: a introdução também é parte da elaboração do esboço do 
sermão. Ela não é uma parte qualquer que deva ser relegada à menor 
importância. “Mais uma vez o preparo é fundamental. Alguns pregadores 
têm a ingenuidade de preparar o corpo do sermão e deixar a introdução para 
o improviso” (MARINHO, 2008, p. 229).
4 O DESENVOLVIMENTO DO SERMÃO
Chegamos, agora, ao corpo do sermão, também chamado de 
desenvolvimento ou esqueleto do sermão. É no desenvolvimento do sermão que 
constarão os tópicos, constituindo a sua estrutura principal. É importante, a essa 
altura do nosso estudo, que você retorne aos exemplos de esboços de sermões 
apresentados anteriormente para que possa visualizar os tópicos na prática. 
FIGURA 13 – ESCREVENDO
FONTE: <https://shutr.bz/3AviNsm>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Cozzer (2018c) comenta que o desenvolvimento pode ser entendido como:
 
[...] as partes do sermão, propriamente ditas. Se o sermão for temático 
ou textual, sugiro que sejam em média três tópicos. Há exceções, é claro. 
Existem temas e textos que possibilitam e exigem uma quantidade 
maior de tópicos, mas é preciso pensar esta questão sempre em 
conexão com o tempo que será disponibilizado para a exposição do 
sermão. Há igrejas que dão mais tempo (uma hora, por exemplo), ao 
passo que outras dão menos tempo (meia hora) (COZZER, 2018c, p. 
74-75).
 
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
39
FONTE: <https://shutr.bz/3iOHJFj>. Acesso em: 4 ago. 2021.
O autor prossegue destacando que um: 
[...] aspecto muito importante que precisa ser observado quanto aos 
tópicos é a sua sequencialidade. Noutras palavras, os tópicos precisam 
combinar entre si. O final de um tópico deve introduzir o tópico 
seguinte. Deve haver coerência entre eles. Há pregadores que não 
observam isto na construção de seus esboços,o que reflete de modo 
muito negativo na exposição. Os ouvintes não conseguem identificar 
uma sequência lógica, harmoniosa. E além disto, o sermão fica mais 
didático [...] (COZZER, 2018c, p. 74-75).
5 A CONCLUSÃO DO SERMÃO
 Uma vez desenvolvidos os tópicos, é hora de concluir o sermão. O 
que foi afirmado anteriormente sobre a importância da introdução vale também 
para a conclusão: ela é uma parte fundamental do sermão e não deve ser feita de 
improviso ou para simples preenchimento de esboço. 
A conclusão do sermão não é uma parte do sermão de pouca relevância. 
Algumas pessoas tendem a subestimar a importância da conclusão, 
mas isso é um erro. A conclusão ajuda a consolidar na mente do 
ouvinte a mensagem central do sermão. É o fechamento do sermão.
O pregador precisa saber a hora de parar. Há pessoas que prosseguem 
quando deveriam parar, numa pregação. Moraes (2007) conta que 
“depois de ouvir por uns 30 ou 40 minutos o sermão naquele domingo, 
uma piedosa irmã ficou impaciente diante da crise que se tornou 
visível no púlpito: o pregador, falando em círculos intermináveis, 
não conseguia encontrar o caminho para concluir sua mensagem. 
Mais tarde aquela irmã declarou: ― Eu orei pedindo a Deus que 
tivesse misericórdia do pregador e o ajudasse a terminar o sermão” 
(MORAES, 2007, p. 164, grifos do autor). Começar bem é necessário; 
concluir também. 
Uma conclusão bem-feita, coerente e que resume bem a proposta geral 
do sermão, que foi desdobrada nos tópicos, significa o coroamento do 
sermão. Na conclusão as divagações devem ser evitadas. Em todas as 
partes, mas principalmente na finalização do sermão. O pregador deve 
ser objetivo e direto ao concluir seu sermão (COZZER, 2018c, p. 75-76).
FIGURA 14 – CONCLUSÃO
40
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
A conclusão também precisa ser pronunciada com cuidado pelo pregador. 
E ela precisa existir também na proclamação. Há pregadores que simplesmente 
não conseguem encerrar seus sermões com uma boa conclusão. Se a primeira 
impressão passada pela introdução é fundamental, a última que é transmitida 
pela conclusão também o é. Por isso, a necessidade da conclusão ser devidamente 
preparada.
6 O APELO: É PARTE DO SERMÃO?
Depois da conclusão, pode-se mencionar o apelo. Alguns o consideram 
uma parte do esboço e do sermão, por conseguinte. Vamos adotar o entendimento 
aqui de que o apelo é “uma parte à parte”. Ele pode ser entendido como uma 
extensão, um apêndice, não parte essencial do sermão. Com isso não se pretende 
afirmar que o apelo não seja importante. Ele é! Porém, não necessariamente 
integra o sermão. 
FIGURA 15 – APELO 
FONTE: <https://shutr.bz/3oPUAus>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Alguns cuidados devem ser tomados em relação à prática do apelo e um 
deles é que “o apelo não deve ser apelativo”. Cozzer (2018c) comenta o seguinte:
Nas vezes em que pude ministrar aulas de Homilética, costumava 
dizer que “o apelo não deve ser apelativo”. O apelo deve ser entendido como 
um convite que é feito de modo gracioso. Ainda me lembro de minha saudosa 
mãe, no momento do apelo, após concluir suas pregações. Ela detestava apelos 
demorados. E sempre dizia que “Jesus não é penca de bananas oferecida em feira”. 
Era a sua forma direta e simples de dizer que Jesus não era mercadoria barata 
para ficar sendo empurrado forçosamente para os outros. Ele mesmo disse: “Se 
alguém quiser vir após mim”.
Infelizmente, o sensacionalismo tomou conta de grande parte da pregação 
na Igreja brasileira, seja pentecostal ou não. E isso torna a prática do apelo 
inadequada, em alguns casos extremados. Imagine situações em que o pregador 
começa a debater com pessoas que visitam o culto, criando uma situação de 
TÓPICO 2 — PARTES QUE COMPÕEM O SERMÃO
41
extremo constrangimento. O apelo deve ser profundo e claro, mas indireto, no 
sentido de não ser direcionado à pessoa A ou B que esteja presente no momento 
do apelo.
7 REFERENCIANDO BIBLIOGRAFICAMENTE O SERMÃO
Por fim, há uma parte fundamental na elaboração de esboços de sermões e 
que geralmente não é mencionada pelos homiletas: a referenciação bibliográfica 
do esboço. Mesmo que não se dedique uma seção específica no esboço para 
essa finalidade, o pregador deve saber fazer essa referenciação e a faça de fato. 
A preocupação com tal questão evidencia honestidade intelectual e respeito ao 
trabalho de outros. É muito comum ouvir pregadores apresentando ideias e dando 
a entender claramente que elas são suas, quando sabemos que não são. Temos 
consciência de que uma pregação não é um artigo científico falado, mas isso não 
significa que o pregador não possa citar suas fontes, inclusive de modo oral. Volte 
aos esboços que foram disponibilizados como exemplos, anteriormente, e repare 
que neles constam referências bibliográficas que indicam as fontes consultadas. 
Isso enriquece o sermão e aumenta sua credibilidade, pois reflete que ele é 
produto de pesquisa séria.
42
RESUMO DO TÓPICO 2
 Neste tópico, você aprendeu que:
• Cada uma dessas partes constitui o sermão: o tema, a introdução, o 
desenvolvimento e a conclusão do sermão. E além desses elementos 
constitutivos da estrutura do sermão, aprendeu, também, sobre a importância 
de fundamentar teoricamente o esboço com boas referências bibliográficas e 
sobre a importância do apelo.
• O pregador e a pregadora precisam conhecer cada uma das partes do sermão: 
sua finalidade, suas qualidades e devem saber prepará-las adequadamente, 
para que o sermão possa ser comunicado com eficiência.
• A Introdução do sermão deve possuir qualidades como concisão, brevidade, 
objetividade e modéstia.
• A Conclusão do sermão é uma das suas partes constitutivas de grande 
importância, e deve receber especial atenção do pregador em seu preparo.
43
1 Uma definição clássica para a Homilética é a seguinte: “Homilética é a 
técnica e arte da preparação e exposição de sermões”. É técnica porque 
envolve objetivos, conhecimento do assunto a ser abordado no sermão, 
elaboração intelectual e organização. Pensando na elaboração do sermão 
dentro da Homilética, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O sermão precisa ser organizado, isto é, estruturado previamente.
b) ( ) O sermão deve ser proferido sempre de maneira espontânea.
c) ( ) A elaboração prévia do sermão inibe a ação do espírito na vida do 
pregador.
d) ( ) A preparação prévia do sermão contribui para confundir o pregador.
2 A elaboração de sermões a partir de passos é muito importante, pois 
permite ao pregador construir seu sermão de maneira coerente e lógica, 
concatenando bem as ideias e dando progressão à mensagem a ser 
comunicada no sermão. O homileta brasileiro Jilton Moraes comenta, em 
seu livro Homilética: da pesquisa ao púlpito (2007), que faz uso do método 
de H. C. Brown Jr. A partir dos desafios do método Brown, assinale a 
alternativa CORRETA:
a) ( ) O desafio do método Brown consiste em que o sermão seja preparado 
começando com o título, as divisões, introdução e conclusão.
b) ( ) O desafio do método Brown consiste em equipar o pregador para 
elaborar sermões considerando a conclusão o seu ponto alto, e nem 
tanto a partir do aprofundamento na pesquisa.
c) ( ) O desafio do método Brown consiste em equipar o pregador para 
elaborar sermões textuais e expositivos a partir do aprofundamento da 
pesquisa do texto básico.
d) ( ) O desafio do método Brown consiste em equipar o pregador para 
elaborar sermões textuais e expositivos a partir da temática escolhida, 
que norteará o desenvolvimento do sermão.
3 O sermão é constituído de partes que devem receber atenção cuidadosa do 
pregador em sua elaboração. A partir dos conhecimentos adquiridos sobre 
as partes constituintes do sermão, analise as sentenças a seguir:
I- O tema é uma dessas partes constitutivas do sermão.
II- A introdução do sermão é a parte em que se anuncia de modo resumido 
o conteúdo do que será falado.
III- O desenvolvimento é a parte do sermão que contémo seu conteúdo 
propriamente dito.
Assinale a alternativa CORRETA:
AUTOATIVIDADE
44
a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
4 A Introdução é uma parte constitutiva fundamental do sermão. É um 
erro pensar que ela não deve receber a devida atenção e ser preparada 
cuidadosamente. A introdução de um sermão deve possuir algumas 
qualidades. Disserte sobre algumas dessas qualidades que devem 
caracterizar a introdução.
5 Quando o sermão é bem elaborado em suas seções, isso contribui para que 
ele seja relevante e atrativo. Como foi mencionado no texto-base, um sermão 
deve possuir uma introdução, uma conclusão e um desenvolvimento. 
Todavia, há outros elementos que podem ser considerados como o apelo. 
Disserte sobre o que é o apelo e como ele deve ser feito.
45
TÓPICO 3 — UNIDADE 1
A PREGAÇÃO EXPOSITIVA, TEMÁTICA E TEXTUAL
1 INTRODUÇÃO
Chegamos, agora, a uma parte muito importante do nosso estudo 
em Homilética: a diferenciação entre os diferentes tipos de sermão. São eles o 
Expositivo, o Temático e o Textual. Essa é uma classificação geral, mas há outras 
formas de classificar os sermões. Aqui, para efeitos didáticos de abrangência, 
consideramos essa classificação mais usual para nosso estudo.
Essa classificação dos sermões é muito usual em Homilética e de grande 
importância. Não por acaso é amplamente utilizada por diversos homiletas, ainda 
que se reconheça a validade de outras formas de classificar os sermões e que 
esses tipos mesclam elementos uns dos outros. Essa classificação ajuda também 
em outros aspectos, como por exemplo, pregar conforme o perfil do culto. O 
sermão temático cabe bem em cultos festivos, ao passo que o sermão textual e 
o expositivo, em cultos de ensino. Naturalmente, será preciso conhecer cada um 
desses tipos para assim poder fazer usos deles com maestria.
Marinho (2008, p. 191) comenta que “[...] os sermões podem ser classificados 
quanto ao assunto ou quanto ao conteúdo geral”. O mesmo autor prossegue que 
há uma classificação mais tradicional, e que nela os sermões podem ser assim 
classificados:
Interpretativos
Éticos
Devocionais
Doutrinários
Filosóficos ou apologéticos
Sociais (família, educação etc.)
Evangelísticos (MARINHO, 2008, p. 191).
2 O SERMÃO EXPOSITIVO
O sermão expositivo é muito valorizado por diversas denominações 
cristãs e, às vezes, até “idolatrado”. Vamos partir da ideia de que todos os tipos 
são válidos e oferecem a sua contribuição. Tanto o sermão expositivo como o 
temático e o textual possuem vantagens e desvantagens, que devem ser levadas 
em conta pelo pregador.
46
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
No sermão expositivo, todas as ideias saem do texto e do contexto. A 
ideia central, as divisões principais e todas as subdivisões originam-se 
de uma passagem maior da Bíblia e são interpretadas à luz do contexto, 
o qual fornece o tema e as aplicações do sermão. O texto escolhido 
pode ser um milagre de Cristo, uma parábola, um episódio, uma cena 
bíblica, um salmo, ou mesmo um capítulo qualquer da Bíblia. É a 
exposição do texto propriamente dita (MARINHO, 2008, p. 200).
Uma grande vantagem do sermão expositivo é que ele expõe como 
nenhum outro tipo o texto bíblico em si. Por isso mesmo é chamado de expositivo. 
É o texto bíblico que deverá ser amplamente explorado hermeneuticamente para 
ser assim compartilhado com a comunidade de fé. Isto, é claro, representa um 
desafio e muito trabalho para o pregador. 
FIGURA 18 – DIÁLOGO
FONTE: <https://shutr.bz/3lt60lI>. Acesso em: 4 ago. 2021.
A construção de um esboço de sermão expositivo é, em essência, um 
trabalho exegético. Deve-se, inclusive, ter o cuidado de não transformar o 
sermão expositivo numa espécie de comentário bíblico falado, o que também 
seria válido, noutro contexto... A pregação precisa ser sempre marcada por certa 
dinamicidade. E deve ter como preocupação precípua aplicar a mensagem do 
texto, transpondo-o ao ouvinte pós-moderno. Com efeito, não adianta expor sem 
aplicar. 
É importante lembrar ao aluno que o sermão expositivo difere do textual 
em alguns aspectos. O expositivo é todo estruturado a partir do texto bíblico (divisões e 
subdivisões), ao passo que o textual constrói suas divisões principais a partir do texto bíblico, 
mas não as subdivisões. Outra diferença importante é que o expositivo é mais extenso que 
o textual. Enquanto o textual utiliza poucos versículos, o expositivo pode chegar a explorar 
até mesmo um livro inteiro da Bíblia.
LEMBRETE
TÓPICO 3 — A PREGAÇÃO EXPOSITIVA, TEMÁTICA E TEXTUAL
47
Uma das grandes vantagens do sermão expositivo, talvez a maior, é que 
ele expõe com maior profundidade o sentido do texto bíblico. Nesse sentido, 
podemos afirmar que ele é mais exegético. E vale lembrar que a palavra “exegese” 
vem do grego e significa “extrair”. Assim, a tarefa exegética no texto bíblico é 
entendida como o esforço para extrair o significado do texto bíblico em estudo.
Uma grande desvantagem do sermão expositivo é que ele tende a ser 
“teológico demais” para as nossas comunidades de fé. Se o pregador não tiver 
cuidado com a sua exposição perante a congregação, ele pode fazer parecer que 
está comunicando mais um discurso acadêmico-teológico do que um sermão, de 
fato.
Marinho (2008, p. 202) alista algumas vantagens e desvantagens do sermão 
expositivo que organizamos de maneira objetiva na tabela a seguir:
QUADRO 3 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SERMÃO EXPONSIVO
FONTE: Adaptado de Marinho (2008, p. 202-204)
3 O SERMÃO TEMÁTICO
O sermão temático é o preferido dos pregadores pentecostais. É 
amplamente utilizado nas igrejas de tradição pentecostal, e basta uma consulta 
rápida na internet ou frequentar uma igreja pentecostal para perceber essa 
realidade. Demérito por isso? De modo algum! O problema da pregação 
pentecostal, sem dúvida, não é por ela utilizar majoritariamente o tipo temático, 
mas, sim, por outros fatores. 
O sermão temático é aquele em que o pregador elabora um tema e busca 
nas Escrituras embasamento bíblico para suas ideias. Deve-se lembrar que, em 
muitos casos, essas ideias derivam justamente do texto bíblico, embora nem 
sempre. Marinho (2008, p. 193) comenta o seguinte sobre o sermão temático:
No sermão temático, o pregador determina o assunto que deseja e 
então busca os textos bíblicos para formar as divisões principais que 
vão apoiar o assunto escolhido. Em outras palavras, primeiro vem o 
tema, depois vêm os textos bíblicos. É o método mais usado por ser 
o de mais fácil preparo. É muito útil para os sermões doutrinários e 
evangelísticos, que precisam basear-se em diferentes temas da Bíblia 
(MARINHO, 2008, p. 193).
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UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
O sermão temático possui diversas vantagens. Uma das principais é a 
sua facilidade de aplicabilidade. Todavia, essa vantagem pode tornar-se uma 
desvantagem. Muitos pregadores, no afã de aplicarem a mensagem bíblica, 
acabam não tendo critério exegético algum e vilipendiam o texto bíblico em nome 
da contextualização. Infelizmente, isso tem dado lugar a absurdos ao púlpito 
cristão. 
O sermão temático precisa ser cuidadosamente preparado. Os tópicos, 
bem como a ideia central, precisam ter bom aporte bíblico e teológico. Ele deve ser 
pensado em termos contemporâneos, mas bíblicos também. Do contrário, deixará 
de ser pregação cristã. O fato desse tipo de sermão ser de mais fácil preparação 
não deve ser pressuposto para o descuido na sua preparação ou mesmo para uma 
preparação rasa. Quanto mais pesquisa, mais qualidade o sermão tenderá a ter. 
4 O SERMÃO TEXTUAL
O sermão textual é aquele que emana do texto bíblico, geralmente um 
trecho pequeno. Ele difere do sermão expositivo nesse sentido, que, por sua 
vez, é elaborado a partir de um conjunto maior de versículos, podendo até ser 
pensadoa partir de um livro inteiro da Bíblia. O sermão textual parte de um texto 
pequeno, normalmente um ou dois versículos servem de base e, assim, as partes 
ou tópicos do sermão vão sendo elaborados. E, claro: a ideia central do sermão 
brota justamente desse texto bíblico escolhido pelo pregador.
FIGURA 19 – TEXTO BÍBLICO
FONTE: <https://shutr.bz/3DwrKDM>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Enquanto no sermão temático o assunto sai da cabeça do pregador e dali 
ele busca aporte bíblico para fundamentar o tema, no textual, o assunto parte do 
texto bíblico. É um método que também possui várias vantagens, como o fato 
TÓPICO 3 — A PREGAÇÃO EXPOSITIVA, TEMÁTICA E TEXTUAL
49
de explorar em certa medida o texto bíblico, contribuir para fixar a atenção dos 
ouvintes na passagem e de ser mais fácil de preparar. E tanto quanto os anteriores, 
ele requer dedicação e aprofundamento bíblico. 
5 AFINAL DE CONTAS, QUAL O MELHOR?
Respondemos a esta pergunta afirmando que todos são ótimos e podem 
ser explorados pelo pregador. E essa variedade só tem a enriquecer a homilia 
cristã. O que procuramos demonstrar é que todos os tipos possuem deficiências, 
como também vantagens. Percebe-se a ênfase exacerbada que alguns teólogos 
e pregadores reformados dão ao sermão expositivo em detrimento dos outros 
tipos. O nosso entendimento é que tal postura é negativa. Não é por se concentrar 
num determinado modelo de pregação que os sermões serão, via de regra, isentos 
de problemas. Com efeito, temos visto muito legalismo religioso, reducionismo 
e generalizações grotescas, bem como muita arrogância teológica e religiosa 
presentes em sermões, inclusive no contexto reformado que tanto valoriza a 
pregação expositiva sob a alegação de que ela é a melhor. O melhor caminho é 
o equilíbrio e a sensatez, desenvolvendo, assim, a capacidade de utilização de 
todos os tipos de sermões, sempre se mantendo fiéis ao texto bíblico e prezando 
pela boa aplicação da mensagem cristã ao mundo pós-moderno.
Prezado acadêmico, buscamos deixar bem claro que a preparação do sermão 
requer cuidado hermenêutico. Nas unidades a seguir, poderemos conhecer esta disciplina 
extraordinária, a Hermenêutica Bíblica, e com esse conhecimento é que o pregador 
poderá assim preparar melhor seus sermões e comunicá-los com mais segurança para a 
comunidade de fé.
ESTUDOS FU
TUROS
50
UNIDADE 1 — HOMILÉTICA – DOS CONCEITOS BÁSICOS AO ENSINO E À PREGAÇÃO BÍBLICA
LEITURA COMPLEMENTAR
CAMPO DE AÇÃO DE HOMILÉTICA
Roney Ricardo Cozzer
Recomendamos a leitura do trecho da obra Homilética: importa que o 
evangelho seja anunciado (2018c), intitulado “Campo de ação da Homilética”, que 
discorre sobre a Homilética e seu campo de ação, indicando a utilidade prática 
da disciplina, além de reforçar algumas conceituações importantes já estudadas 
nesta unidade. O texto está disponível a seguir:
CAMPO DE AÇÃO DA HOMILÉTICA
A Homilética em suas aplicações tem por campo de ação a vida do 
pregador, responsável pela transmissão da mensagem divina. Também a própria 
Igreja funciona como campo de ação da Homilética, que recebe a pregação. E 
ainda: os pecadores, que ouvem a proclamação da Palavra. A Homilética ainda se 
relaciona com outras disciplinas teológicas, dadas as suas aplicações, tais como a 
Hermenêutica, a Exegese, a Ética cristã e a Teologia do Obreiro.
O que é “pregação”? 
Mas afinal, o que é a pregação? A palavra “pregação” vem do latim 
praedicare e significa “proclamação da Palavra de Deus, visando a divulgação 
do conhecimento divino, a conversão dos pecadores e a consolação dos fiéis. 
A pregação deve ter um caráter bíblico, evangélico e profético. Além de ter a 
Bíblia como base, há de mencionar a obra salvífica de Cristo, e mover o pecador a 
arrepender-se de seus pecados”.
Os dois lados da pregação
Quais são os dois lados da pregação ou proclamação da Palavra de Deus? 
Robson Moura Marinho, em seu livro A arte de Pregar: como alcançar o ouvinte 
pós-moderno (2008), chama a atenção para o fato de que a pregação é um milagre 
duplo:
 
A pregação bíblica é um milagre duplo. O primeiro milagre é Deus 
usar um homem imperfeito, pecador e cheio de defeitos para transmitir 
a perfeita e infalível Palavra de Deus. Trata-se de um Ser perfeito 
usando um ser imperfeito como seu porta-voz. Só um milagre pode 
tornar isso possível. O segundo milagre é Deus fazer que os ouvintes 
aceitem o porta-voz imperfeito, escutem a mensagem por intermédio 
do pecador e finalmente sejam transformados por essa mensagem. 
Esse é o grande milagre da pregação! (MARINHO, 2008, p. 179)
TÓPICO 3 — A PREGAÇÃO EXPOSITIVA, TEMÁTICA E TEXTUAL
51
Assim, a pregação tem de fato dois lados: o divino e o humano. Quando 
pregamos o Evangelho no poder e na unção do Espírito Santo vivenciamos em 
nós mesmos este milagre: a ação de Deus através de nós, seres humanos falíveis, 
pecadores. O Deus Santo e Verdadeiro usa seres humanos imperfeitos para a 
transmissão de Sua verdade salvadora. Não é, pois, a pregação um grande feito 
quando ministrada dessa forma? É preciso que tenhamos isso em mente, de que 
o humano coopera com o divino na transmissão do evangelho para os pecadores.
A DEPENDÊNCIA DE DEUS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO 
DA PALAVRA
Paulo deixou o exemplo da dependência de Deus para proclamar o 
evangelho. Ele pediu aos crentes de Éfeso que orassem a fim de que ele fosse um 
arauto ousado na proclamação do mistério do evangelho. Vale a pena ler suas 
palavras em Efésios 6.18-20:
Orem sempre, guiados pelo Espírito de Deus [...] Não desanimem e 
orem sempre por todo o povo de Deus. E orem também por mim, a 
fim de que Deus me dê a mensagem certa para que, quando eu falar, 
fale com coragem e torne conhecido o segredo do evangelho. Eu sou 
embaixador a serviço desse evangelho, embora esteja agora na cadeia. 
Portanto, orem para que eu seja corajoso e anuncie o evangelho como 
devo anunciar. 
Paulo se mostra dependente de Deus para anunciar a Sua Palavra. Jamais 
deve o pregador se apoiar exclusivamente em seu próprio cabedal de conhecimento 
secular, bíblico e teológico, pois ainda que ele tenha amplo conhecimento nesses 
ramos do saber, se não depender de Deus, sua mensagem não haverá de produzir 
efeitos. Vale destacar a importância da vida devocional no ministério da pregação, 
visto que quanto maior for a nossa comunhão com Deus mais frutos haveremos 
de produzir no ministério da exposição da Palavra. É Dele que devemos buscar 
e receber nossos sermões. É a Ele que devemos perguntar pelo que pregar. O 
propagador do evangelho que realmente está comprometido com a divulgação 
do evangelho jamais prescindirá do auxílio do Pai através do Espírito Santo.
FONTE: COZZER, Roney Ricardo. Homilética: importa que o evangelho seja anunciado. 
Curitiba, PR: Editora Emanuel, 2018, p. 15-18.
52
RESUMO DO TÓPICO 3
 Neste tópico, você aprendeu que:
• Os três tipos de sermão, conforme essa tradicional classificação para os 
sermões: o sermão expositivo, o temático e o textual.
• A possibilidade de fazer uso dos três tipos de sermão sem necessariamente 
escolher um e preterir outros. O equilíbrio e a sensatez são fundamentais nessa 
utilização, tendo em vista que os três tipos possuem vantagens e desvantagens 
e podem dar a sua contribuição.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
53
1 Os sermões podem ser classificados em textuais, expositivos e temáticos. 
Essa é uma forma muito usual de classificar os sermões, embora não seja 
a única, é claro. Pensando na definição de cada tipo de sermão, analise as 
sentenças a seguir:
I- O sermão textual é aquele que emana do texto bíblico.
II- O sermão expositivo é aquele que emana do tema do sermão.
III- O sermão temático é aquele que emana do texto bíblico.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças II e III estãocorretas.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 
2 Todos os três tipos de sermão – textual, expositivo e temático – podem 
ser definidos a partir de suas características principais. Quanto ao sermão 
expositivo, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Nesse tipo de sermão, todas as ideias derivam do tema escolhido.
b) ( ) Nesse tipo de sermão, todas as ideias derivam dos tópicos do sermão.
c) ( ) Nesse tipo de sermão, todas as ideias saem da cabeça do pregador.
d) ( ) Nesse tipo de sermão, todas as ideias brotam do texto e do seu contexto.
3 Todos os três tipos de sermão – textual, expositivo e temático – podem 
ser definidos a partir de suas características principais. Quanto ao sermão 
temático, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Nesse tipo de sermão, todas as ideias brotam do texto e do seu contexto.
b) ( ) Nesse tipo de sermão, as ideias derivam do tema escolhido.
c) ( ) Nesse tipo de sermão, as ideias derivam da análise do texto bíblico.
d) ( ) Nesse tipo de sermão, as ideias emanam do contato com as ferramentas 
exegéticas empregadas na análise do texto.
4 Todos os três tipos de sermão são úteis e possuem vantagens e desvantagens. 
Como afirmado no texto-base do Tópico 3, não se propõe a preferência de 
um tipo em detrimento de outros. Todos são reconhecidos como úteis e 
com seus respectivos prós e contras. Sendo assim, disserte sobre algumas 
vantagens e limitações do sermão textual.
AUTOATIVIDADE
54
5 Todos os três tipos de sermão são úteis e possuem vantagens e desvantagens. 
Como afirmado no Tópico 3, não se propõe a preferência de um tipo em 
detrimento de outros. Todos são reconhecidos como úteis e com seus 
respectivos prós e contras. Disserte sobre algumas vantagens e limitações 
do sermão expositivo.
55
REFERÊNCIAS
ANDRADE, C. C. de. Dicionário Teológico: edição revista e ampliada e um su-
plemento biográfico dos grandes teólogos e pensadores. Rio de Janeiro: CPAD, 
2010.
BÍBLIA. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução: João Ferreira 
de Almeida. 2. ed. Brasília: Sociedade Bíblia do Brasil, 1993.
BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Bíblia on-line [Site]. 2021. Disponível em: https://www.
bibliaonline.com.br/nvi. Acesso em 28 jul. 2021.
BROWN, R. E. FITZMYER, J. A. MURPHY, R. E. Novo Comentário Bíblico São 
Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Ed. Academia Cristã; Paulus, 2007.
BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: 
2009.
CARSON, D. A. et al. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 
2009.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 3. São 
Paulo: Candeia, 1991.
COZZER, R. R. Eclesiologia: a doutrina da Igreja. Cariacica: Instituto de Educa-
ção Cristã CRER & SER, 2018a.
COZZER, R. R. Contribuições da Leitura Popular da Bíblia para a formação 
integral do indivíduo: uma proposta de ensino a partir da educação cristã. 
Dissertação (Mestrado em Teologia) – Faculdades Batista do Paraná, Curitiba, 
2018b. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/
coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_traba-
lho=6383521. Acesso em: 3 jul. 2021b.
COZZER, R. R. Homilética: importa que o evangelho seja anunciado. Curitiba: 
Editora Emanuel, 2018c.
COZZER, R. R. Enciclopédia Teológica numa perspectiva transdisciplinar. Vol. 
1. São Paulo: Editora Reflexão, 2020.
COZZER, R. R. O problema da Assembleia de Deus. YouTube, 29 jun. 2021. Dis-
ponível em: https://youtu.be/imfJsrmeSzo. Acesso em: 3 jul. 2021.
CRUZ, J. C. de la. 7 pasos hacia la predicación expositiva. Revista Via Teológi-
ca, [s. l.], v. 17, n. 34, dez. 2016.
56
KASCHEL, W. ZIMMER, R. Dicionário da Bíblia de Almeida. 2. ed. São Paulo: 
Sociedade Bíblica do Brasil, 2005. 
LEITE, S. C. MARCIONILO, M. et al. Lexicon: Dicionário Teológico enciclopédi-
co. São Paulo: Loyola, 2003.
MARINHO, R. M. A arte de pregar: como alcançar o ouvinte pós-moderno. 2. 
ed. São Paulo: Vida Nova, 2008.
MEYER, F. B. Comentário Bíblico. 2. ed. Tradução: Amantino Adorno Vassão. 
Belo Horizonte: Betânea, 2002.
MORAES, J. Homilética: da pesquisa ao púlpito. 2. ed. São Paulo: Vida, 2007.
PARKER, T. H. L. Os oráculos de Deus: uma introdução à pregação de João Cal-
vino. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.
PFEIFFER, C. F. HOWARD, V. F. REA, J. (ed.) Dicionário Bíblico Wycliffe. 2. 
ed. Tradução: Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
SHEDD, R. P. (ed.). Bíblia Shedd. Tradução: João Ferreira de Almeida. 2. ed. 
São Paulo: Edições Vida Nova; Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997.
STOTT, J. R. W. O perfil do pregador. São Paulo: Editora Sepal, 1989.
STRONG, J. Dicionário Bíblico: léxico hebraico, aramaico e grego. São Paulo: 
Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
57
UNIDADE 2 — 
ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA 
HERMENÊUTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender o sentido da palavra “Hermenêutica”;
• conhecer de maneira introdutória a história da Hermenêutica Bíblica;
• entender os pressupostos básicos de determinados métodos hermenêu-
ticos;
• saber diferenciar os métodos Histórico-Crítico e Histórico-Gramatical.
 Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS
TÓPICO 2 – A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E 
 MEDIEVAL
TÓPICO 3 – MÉTODOS HERMENÊTICOS NA MODERNIDADE
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
58
59
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, nesta unidade, estudaremos a respeito da origem 
e do desenvolvimento da Hermenêutica Bíblica, bem como consideraremos a 
sua colossal contribuição para a leitura e compreensão das Escrituras, ao longo 
do tempo, na História do Cristianismo. Houve grande avanço, inclusive, nas 
pesquisas hermenêuticas, de modo que é possível afirmar que a Hermenêutica 
transpôs os limites da Teologia, sendo objeto de estudo em diversas áreas, como, 
por exemplo, na Filosofia.
Uma compreensão mais adequada da Hermenêutica passa pelo estudo 
do seu desenvolvimento histórico e, também, dos conceitos principais, a partir 
de sua definição etimológica e teológica. Esse procedimento, inclusive, de sempre 
recorrer à etimologia de termos e ao seu sentido teológico, é constante nas 
Ciências Humanas e muito contribui para a elucidação da disciplina em si e de 
seus objetivos. E, claro, de suas contribuições. 
Vale mencionar, ainda, nesta introdução, a grande contribuição da 
Hermenêutica para a Igreja, em suas muitas comunidades de fé, para a leitura 
e compreensão das Escrituras. Parece pouco uma ciência toda dedicada à 
interpretação de um livro antigo? A princípio, sim, mas isso não é pouco. O que 
ocorre é que a Bíblia se coloca como um livro singular na história, e, como nenhum 
outro, impactou profundamente e ainda impacta. 
A Bíblia é livro que orienta a fé e a práxis religiosa de milhões de pessoas, 
ao redor do mundo. Ela está na base de praticamente todas as atividades que 
são desenvolvidas em igrejas cristãs, como a pregação, o ensino, a liturgia, o 
discipulado, dentre outras. Com isso, estamos procurando demonstrar que é 
a maneira como se interpreta as Escrituras que orienta a fé e a ação religiosa e 
vivencial da Igreja. 
Tal fato sinaliza para a importância da disciplina em si e para a importância 
do ato interpretativo. E sinaliza, também, é claro, para o cuidado que esse ato 
interpretativo deve receber. Com efeito, a maneira como se interpreta o texto 
bíblico desembocará em ações concretas na realidade da vida. Interpretação e 
ação têm estreita conexão.
TÓPICO 1 — 
ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
60
FIGURA 1 – A BÍBLIA
FONTE: <https://shutr.bz/3FyJhwL>.Acesso em 27 jul. 2021.
2 DEFINIÇÃO ETIMOLÓGICA
A palavra “Hermenêutica” é oriunda da língua grega. O termo grego 
hermeneutikós significa “interpretação”, “arte de interpretar” (HOUSTON, 2012 
apud DICK, 2002, p. 163). Na verdade, há alguns termos cognatos de Hermenêutica 
no grego bíblico. Bentho (2005, pp. 60-61) destaca a palavra diermeneusen, que 
significa “explicar ou interpretar” e o termo mathermeneuo, “traduzir, tradução, 
dar significado”.
Bentho (2005, p. 60) comenta que a “[...] interpretação como explicação 
enfatiza os aspectos discursivos da compreensão, em vez de sua dimensão 
expressiva”. O mesmo autor prossegue comentando o uso da palavra diermeneusen 
em Lucas (24,25-27): “Jesus estava trazendo à compreensão dos discípulos o 
significado oculto do texto. Em vez de apenas discorrer sobre o texto, explicou-o 
e explicou-se a si mesmo em função deles”. 
Um fato muito interessante, ainda em relação às palavras envolvidas na 
busca pelo significado da palavra “Hermenêutica”, é que ela guarda relação com 
o nome do deus da mitologia grega chamado Hermes. Cozzer (2020, vol. 1, p. 372) 
comenta:
Em Atos 14.12, pode-se ler que Paulo, juntamente com seu compa-
nheiro de viagens missionárias, Barnabé, receberam dos habitantes de 
Listra nomes de deuses gregos. A Bíblia afirma que “a Barnabé cha-
mavam Júpiter e a Paulo, Mercúrio, porque era ele o que dirigia a pa-
lavra”. Mas “Mercúrio” e “Júpiter” são nomes romanos dados à eles; 
Mercúrio é, na verdade, o equivalente de Hermes. Note-se no texto 
que Paulo foi chamado de Hermes por ser ele que falava, ou, como 
consta na King James Atualizada, “a Paulo chamaram Hermes, pois 
era ele quem falava com poder”.
No pensamento mitológico grego antigo, o deus Hermes, como 
representado na Figura 2, era o deus responsável por “interpretar” as mensagens 
dos deuses direcionadas aos homens. Hermes era o deus que trazia e interpretava 
essas mensagens. Sempre retratado na Antiguidade com asas nos pés, Hermes 
TÓPICO 1 — ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS
61
“[...] era tido como o mensageiro divino e intérprete dos deuses, e que também 
era o deus da eloquência, que os romanos chamavam de Mercúrio” (CHAMPLIN, 
vol. 3, 1991, p. 95).
FIGURA 2 – RETRATAÇÃO ARTÍSTICA DO DEUS GREGO HERMES
FONTE: <https://shutr.bz/3FA3UIL>. Acesso em 14 jul. 2021.
Há quem se sinta desconfortável pelo fato de a palavra “Hermenêutica” ser 
relacionada ao nome desse deus grego, Hermes. Uma origem pagã para a palavra 
“Hermenêutica”? Mesmo que o seja, isso não compromete em absolutamente 
nada a contribuição e o valor da Hermenêutica Bíblica para a Igreja. E no mais, 
diversas palavras e ideias incorporadas pela cultura ocidental carregam algum 
sentido mitológico, pagão ou mesmo idolátrico, mas que, por efeito de semântica, 
assumem significados absolutamente distintos.
Sobre a utilização da palavra “hermenêutica”, Champlin (vol. 3, 1991, p. 
1) comenta que “[...] o uso comum dessa palavra alude à interpretação de textos 
escritos, especialmente bíblicos, embora também de natureza filosófica, legal etc.” 
Champlin prossegue comentando que “as atividades da filosofia das ciências 
sociais são consideradas, por muitos especialistas, como mais aparentadas à 
hermenêutica do que às ciências exatas, as quais já usam métodos de laboratório 
em suas pesquisas”.
3 DEFINIÇÃO TEOLÓGICA
Do ponto de vista teológico, a Hermenêutica pode ser entendida como 
um esforço disciplinar para aprofundar a compreensão do texto bíblico. Como 
ciência teológica, trata-se de um campo de estudos muito profundo e com diversos 
desdobramentos.
 
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
62
Bentho (2005, p. 55) comenta que “a hermenêutica não é apenas a arte 
ou a ciência da interpretação de qualquer texto; antes de tudo, é uma ciência 
que procura também o significado da palavra como evento histórico, social e de 
vida”. Isso significa dizer que o trabalho do hermeneuta é árduo.
Há várias contribuições valiosas no sentido de definir a Hermenêutica, 
em autores que são referência no estudo dessa disciplina tão fundamental. 
Para Bentho (2005, p. 55), a Hermenêutica, como ciência, “[...] é objetiva, pois 
está fundada em fatos concretos, isto é, na verdade bíblica”. Noutras palavras, a 
Hermenêutica Bíblica, como qualquer outra ciência, possui um objeto maior de 
estudos: o texto bíblico.
A Hermenêutica Bíblica, enquanto ciência teológica, tanto possui um 
objeto de estudo (o texto bíblico) como, também, se justifica como campo de 
pesquisa. E o que justifica a Hermenêutica? Deve-se mencionar que a Bíblia é 
um conjunto de textos que foram sendo reunidos ao longo de muito tempo. São 
diversos livros, 66 ao todo, escritos por autores diversos, em contextos diferentes 
e em épocas distintas.
Não se deve deixar de considerar também que há diferentes perspectivas 
a respeito da constituição da Bíblia nas diferentes tradições cristãs históricas. 
Pode-se falar de pelo menos três cânons bíblicos: o cânon católico, o protestante e 
o judaico. O protestante e o judaico se assemelham num sentido: eles não incluem 
os livros de Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico (não o Eclesiastes), 
Baruque, 1 e 2 Macabeu e os quatro acréscimos a livros canônicos, a saber, Ester 
(a Ester, 10.4 – 16.24), Cântico dos Três Santos Filhos (a Daniel, 3.24-90), História 
de Suzana (a Daniel, cap. 13) e Bel e o Dragão (a Daniel, cap. 14).
Esses livros que não constam das Bíblias de edição protestante são chamados 
pelos protestantes de “apócrifos” e pelos católicos de “deuterocanônicos”. 
Teólogos protestantes encaram com olhar crítico a inclusão desses livros no 
cânon católico, o que ocorreu no Concílio de Trento no século XVI, como é o 
caso do teólogo pentecostal Antonio Gilberto: “A aprovação dos apócrifos 
pela Igreja Romana foi uma intromissão dos católicos em assuntos judaicos, 
porque, quanto ao cânon do Antigo Testamento, o direito é dos judeus e não de 
outros. Além disso, o cânon do Antigo Testamento estava completo e fixado há 
muitos séculos” (GILBERTO, 2007, p. 65).
Todavia, deve-se mencionar também que há vários teólogos protestantes 
que veem com olhar muito positivo o estudo desses livros. O autor deste livro, 
conquanto aceite a ideia de um cânon inspirado e fechado, alinhando-se a uma 
tradição teológica mais ortodoxa, lamenta profundamente que em nossas igrejas 
de matriz protestante tenha se consolidado a ideia muito equivocada de que esses 
livros devem ser evitados e não possuam qualquer valor, quando sabe-se que isso 
não é verdade. A pesquisa bíblica avança e tem demonstrado que esses livros são 
uma fonte de pesquisa fundamental, inclusive para a Hermenêutica dos livros 
TÓPICO 1 — ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS
63
canônicos, além de possibilitarem a possibilidade de conhecer melhor o mundo 
dos séculos precedentes a Cristo e também o primeiro século, em que surge o 
Novo Testamento.
O período abrangido na produção dos livros bíblicos é enorme. Mais 
de mil anos. A pesquisa bíblica mais conservadora chega a estimar 1.600 anos, 
embora os exegetas orientados pelo método histórico-crítico certamente evitariam 
uma estimativa tão longa assim. Seja como for, é consenso que foi um período 
realmente muito longo.
Todo esse tempo e, também, a diversidade de lugares e contextos em que 
os livros bíblicos foram sendo produzidos incluíram uma diversidade de hábitos, 
costumes, situações históricas, mudanças políticas internas e externas, impérios 
mundiais que caíram e outros que se levantaram, dentre outros elementos que 
refletem diretamente no texto. 
Daí decorre que a Bíblia possui em seu texto elementos de um passado 
distante, absolutamente estranho ao leitor contemporâneo. Que sentido faz 
para o leitor do século 21, só para citar um exemplo, a expressão contida em 
Gênesis 24.2: “Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa”? O leitor certamente 
se surpreenderá ao descobrir que existe considerável possibilidade de que essa 
tradução, na verdade, reflita o costumede pôr a mão no próprio órgão genital 
masculino, num ato de juramento, na Idade Antiga, no Oriente Médio.
Um absurdo? Para nosso padrão cultural ocidental, certamente sim, mas 
não para aqueles povos. Fatos como esse a respeito da Bíblia evidenciam a enorme 
necessidade de se considerar determinados aspectos inerentes ao texto bíblico 
para, só assim, poder interpretá-lo melhor, e de maneira mais precisa. E mesmo 
com esse cuidado, há muitas passagens que permanecem sendo absolutamente 
discutíveis entre os estudiosos, restando apenas as aproximações coerentes.
Ainda refletindo sobre a Hermenêutica Bíblica na condição de ciência 
teológica, deve-se mencionar que ela também problematiza, ou, dito de outra 
forma, ela considera problemas em sua pesquisa e busca apresentar determinadas 
soluções para eles. E isso é absolutamente positivo, pois é justamente desse 
esforço que decorrem as suas grandes contribuições.
Na medida em que o hermeneuta vai percebendo determinados problemas 
interpretativos, ele apo determinadas afirmações a respeito do texto bíblico, 
reafirma outras e busca equilibrar seu trabalho interpretativo. Infelizmente, em 
nossas comunidades de fé, é muito comum que determinados dogmas cristãos 
sejam postos como inquestionáveis, sob o pretexto de que refletir sobre eles e sua 
coerência com a vida de fé implica na perda da fé. 
É preciso lembrar que a vida de fé pode ser coerente com a honestidade 
intelectual. A vida de fé deve pautar-se numa compreensão fiel ao texto bíblico, 
aceitar o que a Bíblia, de fato, afirma e assim aplicar seus princípios ao próprio 
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
64
comportamento. Não se deve negar o fato de que há complexos de ignorância 
que perduram em nossas igrejas porque negligencia-se esse cuidado com uma 
abordagem honesta e imparcial do texto bíblico.
Tudo o que a Igreja ensina a respeito da Bíblia é correto? É certo que não, 
mas tudo que a Igreja ensina a respeito da Bíblia ser incorreto também não é uma 
afirmação verdadeira. Como a interpretação bíblica é um esforço essencialmente 
humano, é natural que haja limites e problemas nessa interpretação. Ocorrem 
determinadas compreensões deficientes que, não poucas vezes, solidificam-se na 
história das denominações cristãs.
Deve-se mencionar, no entanto, que essas mesmas denominações 
manifestam crescente interesse pela atividade hermenêutica e pela Teologia de 
modo geral. Com isso, estamos procurando demonstrar que a Hermenêutica 
presta um serviço fundamental à Igreja, colocando-se como uma disciplina 
teológica de grande relevância, embora nem sempre reconhecida. 
Prosseguindo na definição teológica da Hermenêutica Bíblica e na 
consideração de contribuições de diversos teólogos, considera-se a definição de 
Champlin (vol. 3, 1991, p. 95), que afirma que “a Hermenêutica é a ciência das 
leis e princípios de interpretação e explanação. Em relação aos estudos bíblicos 
e teológicos, o principal aspecto desse estudo diz respeito à compreensão das 
Escrituras Sagradas, e por que meios essa compreensão deve ser atingida”. 
Essa afirmação pressupõe que nem sempre as Escrituras podem 
ser compreendidas. Como mencionado anteriormente, a Bíblia apresenta 
dificuldades de diversas naturezas que comprometem a sua melhor e mais 
adequada compreensão, dificuldades que podem ser superadas pela aplicação de 
princípios hermenêuticos.
FIGURA 3 – CORRELAÇÃO
FONTE: <https://shutr.bz/3v1cMlO>. Acesso em 15 jul. 2021.
TÓPICO 1 — ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS
65
Na busca por uma definição teológica para a Hermenêutica, não se 
deve deixar de levar em conta a correlação estabelecida entre as disciplinas. 
As disciplinas teológicas possuem elementos em comum, objetos de estudo em 
comum e até mesmo compartilham de determinados aportes teóricos. 
Dada a justificativa (isto é, o que torna a disciplina necessária) da 
Hermenêutica Bíblica, e o fato de que ela é uma disciplina que muito se correlaciona 
com outras, vamos nos referir a ela, nesta disciplina, como disciplina teológica de 
base. Com isso, buscaremos comunicar que a Hermenêutica oferece pressupostos 
e aportes teóricos essenciais para outras disciplinas, como a Exegese, a Homilética, 
entre outras.
Champlin (vol. 3, 1991, p. 95) comenta que “[...] a Hermenêutica deve 
ser estudada, logicamente, antes da exegese, a qual vale-se dos princípios 
hermenêuticos em suas investigações e conclusões”. A Exegese é devedora à 
Hermenêutica, em certa medida, e ambas possuem como objeto de estudo o texto 
bíblico. 
Cozzer (2019a, p. 10-11), quando comenta sobre dificuldades bíblicas, 
afirma que é preciso levar em conta as contribuições de duas ciências teológicas, 
a saber, a Introdução Bíblica e a Hermenêutica Bíblica:
Duas importantes ciências bíblicas devem aqui ser consideradas: a 
Isagoge Bíblica e a Hermenêutica Bíblica. A primeira versa sobre vários 
aspectos da Bíblia, abordando-a sob dois ângulos básicos, inerentes 
mesmo às Sagradas Escrituras: 
1) a Bíblia considerada como livro e um livro muito antigo e, 
2) a Bíblia considerada como a Palavra de Deus, isto é, a mensagem 
de Deus. 
A Isagoge Bíblica é uma ciência muito ampla, que inclui várias 
subdisciplinas, tais como a Crítica Textual, formação, preservação e 
tradução da Bíblia, usos e costumes dos tempos bíblicos, dentre outras, 
e claro, as dificuldades bíblicas [...].
A segunda ciência a ser considerada é a Hermenêutica Bíblica, também 
chamada de Hermenêutica Sagrada, que é a ciência que se ocupa da 
interpretação dos textos bíblicos com vistas à compreensão adequada 
do seu sentido. A Hermenêutica, portanto, relaciona-se também com o 
assunto das dificuldades bíblicas, uma vez que estas podem causar um 
entrave ao correto entendimento das Escrituras. Por isso é importante 
que o leitor dedique-se a conhecê-las. Isso o ajudará muito na melhor 
assimilação da mensagem bíblica, com as suas muitas nuances 
(COZZER, 2019a, p. 10-11).
As dificuldades bíblicas são aqueles textos que oferecem algum tipo de 
complexidade na compreensão para o leitor atual. Essas dificuldades podem 
ser de naturezas diversas e não devem ser confundidas com “contradição”. Um 
texto difícil da Bíblia pode ser difícil porque se mostra contraditório ou se mostra 
contrário a outro texto bíblico, mas a aplicação de princípios hermenêuticos 
no estudo dessas passagens contribuirá para a superação dessas aparentes 
contradições (COZZER, 2019a, p. 14-15).
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
66
As dificuldades bíblicas se dão em algumas áreas, como se segue:
Moral: que envolvem alguma dificuldade de ordem moral, como no 
exemplo do caso do extermínio dos povos cananeus, do incesto de Ló 
com suas duas filhas, dentre outros casos;
Teológica: que envolvem alguma dificuldade no campo teológico, 
como no caso da “discrepância” entre as epístolas de Romanos e Tiago 
(fé e obras);
Matemática ou numérica: são aquelas que implicam dificuldades com 
números na Bíblia, como no caso do texto de 1 Samuel 6.19 lido em 
versões diferentes; em algumas lê-se 50.070 homens enquanto noutras 
se lê 70 homens;
Geográfica: são aquelas dificuldades relacionadas à Geografia Bíblica. 
Um exemplo: o caso dos dois cegos de Jericó, onde num Evangelho 
se lê que Jesus entrava em Jericó e noutro se lê que ele saía de Jericó?;
Histórica: são dificuldades bíblicas relacionadas à História, como o 
interessante caso dos heteus, um povo que embora citado pela Bíblia, 
durante muito tempo, não se encontrou vestígio que comprovasse sua 
existência;
Cultural: são aquelas dificuldades de compreensão das narrativas 
bíblicas em face das profundas diferenças culturais entre os povos 
bíblicos e a cultura que envolve o leitor contemporâneo (o exemplo 
da poligamia na vida de grandes personagens bíblicos como Abraão);
Linguística: dificuldades oriundas de traduções imperfeitas para 
a língua receptora, no nosso caso, o português; um bom exemplo, 
que discutiremos depois, são os dois textos a seguir:Hebreus 11.21 e 
Gênesis 47.31 que relatam o mesmo episódio, mas divergem quanto a 
Jacó ter se apoiado sobre a extremidade do bordão ou sobre a cabeceira 
da cama (COZZER, 2019a, p. 18-19).
A Hermenêutica guarda certa relação com outras disciplinas, além da 
Isagoge Bíblica (ou Introdução Bíblica), da Exegese e das Dificuldades Bíblicas. Ela 
pode ser conectada à Crítica Textual, à Educação Cristã, à Homilética e, em maior 
ou menor grau, a diversas outras, que têm em comum o uso da Bíblia.
Todavia, não se deve pensar que a Hermenêutica também não depende de 
conhecimentos de outras áreas para realizar seu trabalho. O hermeneuta precisará 
possuir conhecimento nas línguas bíblicas, a saber, o hebraico, aramaico e grego, 
para, tão logo, interpretar o texto. Será necessário o emprego de ferramentas 
hermenêuticas, como dicionários bíblicos, léxicos e gramáticas das línguas 
bíblicas, livros que abordem o pano de fundo cultural, histórico, religioso e social 
dos tempos bíblicos, dentre outras ferramentas.
Importante destacar, no que se refere à dependência da Hermenêutica 
de outras áreas de conhecimento, que será necessário ao trabalho hermenêutico 
o conhecimento teológico, isto é, o conhecimento da própria Teologia como área 
maior de estudo. 
TÓPICO 1 — ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS
67
O trabalho hermenêutico é essencialmente um esforço teológico. Estamos 
na ponta de uma longa tradição teológica que jamais deve ser negligenciada nessa 
labuta. Concluímos este subtópico com a importante observação de Silva e Kaiser 
Jr. (2002, p. 186): “O uso da teologia no processo interpretativo muitas vezes 
transforma algo, que de outro modo seria uma divagação pouco interessante, 
numa experiência poderosa e cheia de vida”.
4 TRÊS PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS NA HERMENÊUTICA 
BÍBLICA
Há três pressupostos que jamais devem ser ignorados no estudo da 
Hermenêutica Bíblica, ao custo de não estarmos, de fato, fazendo hermenêutica, 
se não levarmos em conta esses três elementos, a saber:
• O autor do texto (hagiógrafo sagrado).
• O texto (que contém a mensagem estudada pela Hermenêutica).
• O leitor contemporâneo.
FIGURA 4 – BÍBLIA
FONTE: <https://shutr.bz/3AvlHwY>. Acesso em 27 jul. 2021.
O primeiro pressuposto, o autor do texto bíblico, precisa ser descoberto e 
“conhecido” pelo estudioso da Hermenêutica Bíblica. Na Exegese orientada pelo 
Método Histórico-Gramatical e, também, pelo Método Histórico-Crítico, leva-
se em conta fatores que viabilizam a percepção parcial de quem é o autor de 
determinado texto bíblico.
Esse interesse pelo autor envolve a busca por elementos biográficos sobre 
ele registrados no próprio texto bíblico e, quando for o caso, fora do texto bíblico. 
Inclui, ainda, a busca pelas suas características e peculiaridades literárias, que 
podem ser observadas na análise literária.
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
68
Devemos lembrar que a Bíblia foi escrita por dezenas de autores, o que 
a torna um texto muito composto e variado. E tal fato estabelece distinções 
profundas. Há diferenças substanciais entre os textos paulinos e os textos petrinos, 
para citar um exemplo. E, claro, as experiências vividas por esses dois apóstolos, 
várias delas registradas em textos neotestamentários, influíram na produção dos 
seus conjuntos de textos. 
O segundo pressuposto fundamental da Hermenêutica é o texto bíblico. 
Há diversos fatores relacionados ao texto bíblico que necessariamente precisam 
ser levados em conta no trabalho hermenêutico. É conhecida a máxima que afirma 
que “o texto bíblico não caiu pronto do céu”, o que traz essa consciência de que 
os textos bíblicos foram produzidos em variados contextos históricos, políticos, 
geográficos, culturais, religiosos e sociais, e isso influencia no resultado do texto. 
Todos esses panos de fundos merecem atenção em particular. E devem 
ser considerados conforme o período em que o texto em estudo foi escrito. Por 
exemplo: o contexto político e social do mundo na época do apóstolo João, no 
primeiro século da Era Cristã, é absolutamente diferente do contexto político e 
social que envolve o profeta Malaquias, pelos idos dos anos 400 a.C. 
O texto bíblico deve ser estudado também enquanto texto. Por mais que 
seja absolutamente necessário considerar os contextos dos quais ele emerge, deve-
se analisar os aspectos próprios do texto, como a sua gramática e determinados 
aspectos linguísticos. 
Por mais que possa haver variação na qualidade dos textos bíblicos, um 
autor, quando escreve, seja ele erudito ou não, escreve seguindo a estrutura básica 
da sua língua, bem como observando determinadas regras gramaticais básicas. 
As línguas bíblicas possuem características que precisam ser consideradas 
no trabalho hermenêutico. Há, inclusive, peculiaridades próprias nessas línguas. 
Com relação ao grego bíblico, isto é, o grego do Novo Testamento, Geisler e Nix 
(1997) comentam o seguinte:
O grego do Novo Testamento adaptou-se de modo adequado à 
finalidade de interpretar a revelação de Cristo em linguagem teológica. 
Tinha recursos linguísticos especiais para essa tarefa por ser um 
idioma intelectual. Era um idioma da mente, mais que do coração, e 
os filósofos atestam isso amplamente. O grego tem precisão técnica de 
expressão não encontrada no hebraico. Além disso, o grego era uma 
língua quase universal. A verdade do Antigo Testamento a respeito 
de Deus foi revelada inicialmente a uma nação, Israel, em sua própria 
língua, o hebraico. A revelação completa, dada por Cristo, no Novo 
Testamento, não veio de forma tão restrita. Em vez disso, a mensagem 
de Cristo deveria ser anunciada no mundo todo: “[...] em seu nome 
seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as 
nações, começando por Jerusalém” (Lc 24,47) (GEISLER; NIX, 1997, 
p. 127).
TÓPICO 1 — ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS
69
O hebraico bíblico, por sua vez, também possui as suas particularidades 
que precisam ser consideradas. E o estudo em torno dessas especificidades 
desemboca numa série de desdobramentos que refletem na tradução do texto 
bíblico, bem como na compreensão teológica das passagens. O estudo dos aspectos 
linguísticos, portanto, não pode ser deixado de lado no estudo hermenêutico.
O terceiro pressuposto fundamental da Hermenêutica é o leitor 
contemporâneo. Pode parecer até contraditório, a princípio, afirmar que o 
leitor contemporâneo seja um pressuposto fundamental no campo de estudos 
da Hermenêutica, mas o fato é que sem ele a Hermenêutica não faria o menor 
sentido!
FIGURA 5 – ESTUDANDO A BÍBLIA
FONTE: <https://shutr.bz/3Ax34Jf>. Acesso em 16 jul. 2021.
Deve-se mencionar, aqui, que a virada hermenêutica se deu justamente 
em torno do leitor, enfatizando seu papel e sua importância na interpretação. 
A chamada Nova Hermenêutica focaliza justamente no leitor contemporâneo e 
estabelece um estreito diálogo com a Filosofia.
Na esteira desse diálogo entre Teologia e Filosofia, e Hermenêutica e 
Filosofia, estão teólogos e filósofos destacados como Rudolf K. Bultmann (teólogo 
do Novo Testamento) e Martin Heidegger (filósofo alemão). Heidegger enfatizava 
“[...] a importância da linguagem como algo anterior à humanidade, como um 
poder que teria moldado a compreensão dos homens. A própria existência 
humana seria definida linguisticamente; e, através da linguagem, chegaríamos a 
entender o ser humano” (CHAMPLIN, 1991, vol. 3, p. 96). 
Rudolf K. Bultmann fez uma espécie de convergência entre o 
existencialismo heideggeriano e estudos do Novo Testamento. Heidegger propôs 
a ideia de existência autêntica que vem pela percepção da própria finitude, 
percepção que produz angústia. Diante dessa realidade, o ser humano se move 
no esforço para dar ou encontrar sentido para sua vida. 
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
70
O esforço de Bultmann, por sua vez, foi buscar contextualizar a mensagem 
do Evangelho para o homem moderno, marcado pela racionalidade e pela recusa 
dos mitos fundamentes de civilizaçõesantigas, inclusive as bíblicas. É preciso 
receber a mensagem do Evangelho pela fé e, assim, viver uma vida autêntica pelo 
encontro com o Evangelho.
Para compreender a mensagem do Novo Testamento, Bultmann entendeu 
que era preciso remover os mitos para, de fato, chegar a essa mensagem. Champlin 
(1991, vol. 3, p. 96) comenta que a “[...] verdadeira hermenêutica tem a tarefa de 
compreender de que modo o evangelho de Cristo aplica-se ao homem moderno. 
Há nisso uma fé de que o evangelho, verdadeiramente, dirige aos homens uma 
mensagem universal, mensagem essa que pode ser determinada”.
FONTE: <https://shutr.bz/3v7sI6o>. Acesso em 27 jul. 2021.
A Nova Hermenêutica leva em conta as contribuições da Hermenêutica e 
da Exegese do século XIX, com a diferença de que ela foca no leitor contemporâneo 
e na mensagem do texto bíblico mais do que no próprio texto. Essa ênfase levou 
alguns autores a falarem na morte do autor, como Kevin J. Vanhoozer (2005). 
A mensagem não deve permanecer presa num texto, mas ser ressignificada na 
vida do leitor que dela se apropria, na atualidade. Nesse sentido, “[...] a tarefa 
da Hermenêutica e da pregação, portanto, é a liberação. Uma vez liberada, a 
mensagem pode nos transformar” (CHAMPLIN, 1991, vol. 3, p. 96).
FIGURA 6 – INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA
Querido acadêmico, ao final desta unidade, você encontrará um texto a respeito 
do pensamento do grande teólogo bíblico do Novo Testamento, Rudolf K. Bultmann. Esse 
texto será importante para que você possa compreender melhor a proposta de Bultmann e 
como ela impactou os estudos sobre o Novo Testamento.
DICAS
TÓPICO 1 — ORIGEM, DEFINIÇÃO E CONCEITOS
71
Prezado estudante, adiante estudaremos a respeito dos métodos exegéticos 
de estudo da Bíblia chamados de Histórico-Crítico e Histórico-Gramatical. Eles constituem 
dois grandes métodos de estudo da Bíblia que vêm passando por revisões e melhoramentos 
ao longo do tempo, e permanecendo como modos de estudo da Bíblia, na Academia 
Teológica, ainda que sofrendo significativas revisões e dando lugar a novas contribuições.
ESTUDOS FU
TUROS
72
 Neste tópico, você aprendeu que:
• A palavra “Hermenêutica” deriva do grego e denota interpretação, tradução, 
explicação. Isto auxilia na compreensão do objetivo da disciplina.
• A Hermenêutica pode ser entendida como um esforço disciplinar para 
aprofundar a compreensão do texto bíblico, isto é, de sua mensagem. 
• A Hermenêutica Bíblica é uma “disciplina de base”, no sentido de que dela 
dependem outras disciplinas, como a Exegese, a Homilética, dentre outras.
• Há três pressupostos fundamentais no estudo da Hermenêutica Bíblica, a 
saber: o autor, o texto e o leitor contemporâneo.
RESUMO DO TÓPICO 1
73
1 Conforme indicado neste material didático, a palavra “Hermenêutica” 
deriva da língua grega e significa “interpretação”, “arte de interpretar”. 
Todavia, a palavra também remete ao nome de um deus grego que, na 
mitologia grega, era responsável por trazer a mensagem dos deuses aos 
homens e interpretar essas mensagens para eles. Sobre que deus era esse, 
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Apolo.
b) ( ) Iavé.
c) ( ) Hermes.
d) ( ) Zeus.
2 A Hermenêutica Bíblica é uma disciplina teológica muito rica e dialoga com 
outras áreas de conhecimento, para além, inclusive, dos limites da própria 
Teologia. Com base nas definições dadas à Hermenêutica Bíblica, analise as 
sentenças a seguir:
I- Ela pode ser entendida como arte.
II- Ela pode ser entendida como ciência.
III- Ela é subjetiva, pois depende da interpretação do hermeneuta.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.
3 A Hermenêutica Bíblica possui características e métodos que permitem que 
ela seja considerada como uma verdadeira ciência teológica. E nessa esteira, 
deve-se pensar, também, no que justifica o seu trabalho, o seu campo de 
estudo. Pensando na justificativa para o trabalho da Hermenêutica, assinale 
a alternativa CORRETA:
a) ( ) A Bíblia é Palavra de Deus e este fato lembra que é o Espírito Santo que 
faz o leitor contemporâneo entender o texto bíblico, e tal fato justifica a 
existência da Hermenêutica Bíblica.
b) ( ) A Bíblia, como livro inspirado por Deus, não carece de princípios 
hermenêuticos para sua melhor elucidação, e tal fato justifica a 
existência da Hermenêutica Bíblica.
c) ( ) A Bíblia é um livro essencialmente religioso, logo não se deve aplicar 
em seu estudo princípios hermenêuticos, tendo em vista que na 
condição de livro religioso, o seu entendimento é absolutamente fácil.
AUTOATIVIDADE
74
d) ( ) A Bíblia carece da aplicação e utilização de princípios interpretativos 
e métodos para ser adequadamente interpretada, e tal fato justifica a 
existência da Hermenêutica Bíblica.
4 Na medida em que o hermeneuta vai lidando com o texto bíblico, percebe 
determinados problemas interpretativos, e, então, relativiza afirmações a 
respeito do texto bíblico, reafirma outras e busca equilibrar seu trabalho 
interpretativo. Infelizmente, em nossas comunidades de fé, é muito comum 
que determinados dogmas cristãos sejam postos como inquestionáveis, sob 
o pretexto de que refletir sobre eles e sua coerência com a vida de fé implica 
na perda da fé. Todavia, não necessariamente! É preciso lembrar que a vida 
de fé pode ser coerente com a honestidade intelectual. Considerando isso, 
disserte sobre a relação entre a vida de fé e a interpretação do texto bíblico.
5 A Hermenêutica viveu uma verdadeira virada, que foi chamada de a 
“virada Hermenêutica” e “Nova Hermenêutica”. Naturalmente, houve 
revisão de determinados conceitos e ênfase em outros. Discorra sobre como 
a Nova Hermenêutica passou a encarar o leitor contemporâneo da Bíblia no 
processo interpretativo.
75
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Considerar a história da interpretação bíblica no Cristianismo é 
fundamental para o estudo da Hermenêutica Bíblica, e isso se dá por diversas 
razões. Quem somos hoje, como cristãos, é resultado em grande medida das 
compreensões que foram sendo amadurecidas, ao longo de muitos séculos, em 
torno do texto bíblico.
Nossas denominações e tradições cristãs são o reflexo de um longo processo 
interpretativo em torno da Palavra de Deus. Mesmo que você seja membro de 
uma pequenina comunidade de fé, que seja independente, ainda assim ela se 
insere num contexto maior, que guarda muito do que uma parte considerável do 
Cristianismo entende a respeito da Bíblia.
Afinal de contas, onde começa a história da interpretação? Poderiam ser 
mencionados os Targums judaicos, que faziam uso tanto do sentido explícito 
quanto do sentido oculto das leis mosaicas, ou, ainda, rabinos importantes 
como Hillel, que ofereceu regras de interpretação. E outros fatos e personagens 
históricos podem ser indicados como precursores dessa história. 
FIGURA 7 – CRISTIANISMO PRIMITIVO
FONTE: <https://shutr.bz/30eiGoB>. Acesso em 27 jul. 2021.
TÓPICO 2 — 
A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO 
PRIMITIVO E MEDIEVAL
76
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
É preciso mencionar, no entanto, que, de certo modo, a história da 
interpretação bíblica deve começar na própria história bíblica. Com efeito, os 
livros da Bíblia já constituem em si mesmos esforços para interpretar a revelação 
de Deus. O conjunto da obra bíblica, no Antigo Testamento, é uma hermenêutica 
da criação e da relação de Deus com o seu povo Israel e, depois, com a Igreja. 
A Bíblia também se constitui de textos que se retroalimentam e se 
interpretam e reinterpretam. Há usos constantes de textos bíblicos entre os livros 
bíblicos. Noutras palavras, os livros bíblicos utilizam outros livros bíblicos, e esse 
uso, inevitavelmente, implica uma hermenêutica. Silva e Kaiser Jr. (2002, p. 202) 
comentam que “[...] os escritores do Novo Testamento usaram quase 300 citações 
do Antigo Testamento juntamentecom centenas (ou até milhares, de acordo com 
alguns) de outras alusões a ele”. 
Nosso entendimento, aqui, é que a própria Bíblia precisa ser levada em 
conta no que concerne à história da interpretação. Os textos neotestamentários em 
muitos momentos ressignificam textos do Antigo Testamento sem necessariamente 
adulterá-los. Um exemplo clássico dessa Hermenêutica é o uso que o evangelista 
Mateus faz do texto do profeta Oséias (Mateus, 2.15, citando Oséias, 11.1).
Mateus aplica a Jesus o texto de Oséias (11.1), que afirma o seguinte: 
“Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho” (BÍBLIA, 
1993, Os. 11.1). Em Mateus (2.15), pode-se ler: “e lá ficou até à morte de Herodes, 
para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do 
Egito chamei o meu Filho” (BÍBLIA, 1993, Mt. 2.15).
É interessante notar que há uma diferença fundamental entre os textos: 
em Oséias, o “menino” é uma nação, Israel, ao passo que em Mateus, “meu Filho” 
é referência a um indivíduo, a saber, o Senhor Jesus. Mateus aplica a profecia de 
Oséias à pessoa de Jesus vendo num evento específico de sua vida o cumprimento 
de uma profecia antigotestamentária. O texto ganha luz na vida de Jesus. 
A tabela a seguir é uma interessante ferramenta que lhe auxiliará na 
percepção panorâmica da história da interpretação bíblica. Naturalmente, 
ela não é e não pretende ser exaustiva, tendo em vista a amplitude e a riqueza 
desse assunto. Todavia, se coloca como uma ferramenta muito útil, no sentido 
de organizar, em ordem cronológica, os documentos, personagens e instituições 
que têm relação com a história da interpretação das Escrituras. Após a leitura 
e contemplação da tabela a seguir, prosseguiremos com nosso estudo sobre a 
história da interpretação, considerando as escolas de Alexandria e de Antioquia.
TÓPICO 2 — A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E MEDIEVAL
77
FONTE: <https://bit.ly/3Fzbd3r>. Acesso em: 17 jul. 2021.
2 A ESCOLA DE ALEXANDRIA
Alexandria foi uma importante cidade do Egito, famosa, na Antiguidade, 
por sua enorme biblioteca. Essa biblioteca foi fundada por Ptolomeu I, cerca de 
300 a.C. 
Alexandria acabou por substituir Atenas como o grande centro intelectual 
do mundo, na época. A biblioteca passou por destruições, decorrentes de guerras, 
mas, também, por reconstruções, de modo que no século II, Aulo Gélio declarou 
que a biblioteca tinha 700 mil livros (CHAMPLIN, 1991, vol. 1, p. 107).
QUADRO 1 – HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
78
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA
FONTE: <https://bit.ly/3oQHYU8>. Acesso em: 27 jul. 2021.
Alexandria possuía uma expressiva comunidade de judeus vivendo nela. 
Na verdade, a cidade contava com a presença de três grandes etnias: os gregos, os 
egípcios e os judeus. Não havia perseguição contra os judeus nessa cidade, e isso 
contribuiu diretamente para que essa comunidade crescesse ali. 
Esse florescimento da comunidade judaica na cidade egípcia de 
Alexandria possibilitou contribuições fundamentais ao estudo das Escrituras. 
Em Alexandria, o pensamento hebraico entrou em contato com a filosofia grega, 
encontro do qual surge o pensador judeu Filo (cerca de 50 d.C.), que teve como 
discípulo Tito Flávio Clemente, que foi considerado o primeiro grande mestre da 
escola de Alexandria (SILVA; KAISER JR., 2002, p. 210).
Filo de Alexandria foi um judeu que se tornou muito importante para 
a história da interpretação, destacando-se como o mais influente expoente do 
método alegórico de interpretação. Suas obras são divididas em três categorias 
ou gêneros, a saber: exegéticas, filosóficas e políticas. González (2008) explica que 
em seus escritos de natureza exegética, ele utiliza a alegoria para explicar a obra 
criadora de Deus como se encontra no Gênesis. E Filo interpreta também outros 
livros do Antigo Testamento se utilizando desse método alegórico. 
Sua intenção com a utilização do método alegórico é estabelecer uma 
conexão entre a fé judaica e a filosofia grega. E nesse esforço para conectar fé 
judaica e filosofia grega ele, naturalmente, irá fazer uso da linguagem filosófica e 
de conceitos filosóficos retirados de Platão e do estoicismo. É claro que na história 
do Cristianismo em particular, esse diálogo irá se repetir, mais especificamente 
na Idade Média, no período do Escolasticismo e em Tomás de Aquino. 
O método hermenêutico da escola de Alexandria foi a alegoria. Alegorizar 
é falar uma coisa em termos da outra. É um tipo de linguagem que opera por 
substituição de elementos para chegar a uma significação. E deve-se mencionar 
TÓPICO 2 — A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E MEDIEVAL
79
que na Bíblia encontram-se alegorias, como a que está em Gálatas (4.21-31). Porém, 
a alegoria como método de interpretação funciona de outra forma. A alegoria 
como figura retórica de linguagem na Bíblia pode ser entendida como se segue:
É uma figura retórica que geralmente consta de várias metáforas 
unidas, representando cada uma delas realidades correspondentes. 
Exemplo: “Eu Sou o Pão Vivo que desceu do céu, se alguém dele 
comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo, 
é a minha carne [...] Quem comer a minha carne e beber o meu sangue 
tem a vida eterna”. Esta alegoria tem sua interpretação nesta mesma 
passagem das Escrituras (Jo 6.51-65). Noutras palavras, a própria 
perícope bíblica explica a alegoria (COZZER, 2020, vol. 1, p. 673).
Como método hermenêutico, significa interpretar as Escrituras 
alegoricamente. Não é o mesmo que simplesmente identificar uma alegoria 
na Bíblia, mas olhar e compreender suas passagens em termos de alegorias. A 
palavra “alegoria” vem do grego e significa basicamente “falar por outro”. O 
termo correlato à alegoria aparece em Gálatas (4,24): “Estas coisas são alegóricas 
[...]” (BÍBLIA, 1993, Gl. 4,24).
As alegorias diferem de outras figuras de linguagem da Bíblia, como das 
parábolas, por exemplo. Nas parábolas, o significado das narrativas é mantido 
distinto da própria narrativa em si, ao passo que na alegoria, esse significado se 
mescla à própria narrativa. Zuck (1994) comenta o seguinte:
Uma parábola é uma história baseada em fatos do cotidiano 
com o objetivo de ilustrar ou aclarar uma verdade. Apesar de ter 
base plausível, ela pode não ter realmente ocorrido com todos os 
detalhes como foi apresentada. Os acontecimentos históricos podem 
servir de ilustrações, mas as parábolas são histórias especiais, não 
necessariamente fatos históricos, contadas para ensinar certa verdade. 
Como se baseiam na realidade, diferem das alegorias e das fábulas [...] 
(ZUCK, 1994, p. 225).
Virkler (1987, p. 134) também destaca o fato de que na interpretação 
bíblica, as parábolas diferem das alegorias, no sentido de que as alegorias abrem 
precedente para diversos pontos de comparação:
Em se tratando de interpretação, parábolas e alegorias diferem em 
outro ponto principal: a parábola possui um foco, um núcleo, e os 
detalhes são significativos apenas enquanto se relacionam com esse 
núcleo; a alegoria geralmente tem diversos pontos de comparação, não 
necessariamente concentrados ao redor de um núcleo. Por exemplo, 
na parábola do grão de mostarda (Mateus 13.31,32), o objetivo central 
é mostrar a divulgação do evangelho a partir de um minúsculo 
grupo de cristãos (o grão de mostarda) até chegar a um corpo de 
amplitude mundial de crentes (a árvore crescida em sua plenitude). 
A relação entre o grão, a árvore, o campo, o ninho, e as aves é casual; 
e esses detalhes adquirem significado só em relação com a árvore em 
crescimento. Contudo, a alegoria da armadura do cristão (Efésios 6), 
possui diversos pontos de comparação. Cada peça da armadura do 
cristão é significativa e cada uma é necessária para que o cristão esteja 
totalmente armado (VIRKLER, 1987, p. 134).
80
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
FIGURA 9 – ALEGORIA 
FONTE: <https://shutr.bz/303dovV>.Acesso em 27 jul. 2021.
Como método hermenêutico, a alegorização buscava sempre um sentido 
mais profundo e espiritual nas passagens das Escrituras. Segundo Silva e Kaiser 
Jr. (2002, p. 211), “[...] o lema da escola de Alexandria era: ‘A menos que você 
acredite, você não irá compreender’”. Na Unidade 1, pudemos ver na prática o 
que esse método fazia com o texto, oferecendo a ele um significado distante do 
significado pretendido pelo autor.
Esse método alegórico de interpretação da Bíblia é herdeiro, em grande 
medida, do pensamento platônico, que via duas realidades coexistindo juntas: 
um mundo visível e outro emblemático, um material e outro invisível. Mas como 
bem observam Silva e Kaiser Jr. (2002, p. 212), “[...] em nenhum texto da Bíblia 
ensina-se tal doutrina de sombras e imagens ou a doutrina das correspondências. 
Essas doutrinas são diretamente derivadas da filosofia secular daquela época; por 
isso, as Escrituras não podem ser culpadas de defender tal ponto de vista”.
3 A ESCOLA DE ANTIOQUIA
A escola de Antioquia se colocou em oposição à escola de Alexandria no 
que se refere à interpretação das Escrituras. Silva e Kaiser Jr. (2002, p. 213) afirmam 
que o verdadeiro fundador dessa escola foi Luciano de Samosata, já no final do 
terceiro século d.C. Os dois maiores discípulos dessa escola foram Teodoro de 
Mopsuestia e João Crisóstomo. Lopes (2013, p. 134) comenta que Luciano foi 
quem deu origem a uma tradição de estudos que preconizava o conhecimento das 
línguas originais, e ainda, que “[...] atribui-se a Luciano (embora sem evidências 
concretas) uma recensão e uniformização dos textos gregos da sua época, dando 
origem ao texto Bizantino ou Sírio, que foi o texto grego do Novo Testamento 
adotado pela igreja até meados do século passado”.
TÓPICO 2 — A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E MEDIEVAL
81
FONTE: <https://shutr.bz/3oMPT4L>. Acesso em 27 jul. 2021.
O método hermenêutico da escola de Antioquia era a theoria, palavra grega 
que significa “ver”. O interesse estava na integridade da história e do sentido 
natural das passagens bíblicas. Isso não quer dizer, contudo, que os exegetas 
dessa escola não se preocupassem com o sentido espiritual da passagem, mas 
eles não desvinculavam esse sentido espiritual do sentido natural da passagem, 
como faziam os exegetas do método alegórico da escola de Alexandria.
Silva e Kaiser Jr. (2002, p. 213) afirmam que os “[...] estudiosos de Antioquia 
davam grande ênfase à ideia da theoria referir-se basicamente ao fato de que 
havia uma visão ou percepção da verdade espiritual no cerne do acontecimento 
histórico que os escritores da Bíblia estavam registrando”. Não se tratava de 
buscar um sentido duplo, mas, sim, um sentido único presente na naturalidade 
do texto bíblico.
Lopes (2013) destaca alguns dos princípios que regiam a Hermenêutica 
antioquena, princípios que demarcavam significativa distinção da Hermenêutica 
alexandrina. Lopes (2013) começa mencionando a valorização do sentido literal do 
texto. Em seguida, a theoria, aqui já citada. Lopes (2013, p. 136) afirma o seguinte: 
[...] esse termo designa o estado mental dos profetas que recebiam 
as visões, em oposição à alegoria. É uma intuição ou visão pela qual 
o profeta pode ver o futuro por meio das circunstâncias presentes. 
Depois da visão, é possível para ele descrever em seus escritos tanto o 
significado contemporâneo dos eventos bem como seu cumprimento 
futuro”. 
Lopes (2013, p. 136) prossegue destacando, ainda, outros dois princípios, 
a saber, a historicidade dos relatos e a intenção autoral. Como se poderá perceber 
mais adiante, há significativas semelhanças com a Hermenêutica da Reforma 
Protestante e com princípios do Método Histórico-Gramatical.
FIGURA 10 – LETRAS HEBRAICAS
82
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
4 A HERMENÊUTICA NA IDADE MÉDIA
O período da Idade Média, que se inicia com a queda do Império Romano, 
no final do século V a.C., e se estende por mil anos aproximadamente, foi chamado 
de “Idade das trevas”, de maneira muito inadequada, o que, inclusive, tem sido 
revisto, tendo em vista que nesse longo período muita coisa aconteceu e muito foi 
produzido no campo intelectual. 
FIGURA 11 – IDADE MÉDIA
FONTE: <https://bit.ly/30iJbtb>. Acesso em 27 jul. 2021.
Diversas universidades foram fundadas, ocorreram descobertas e 
avanços científicos, ocorreram movimentos, em grande medida, culturais, como 
a Renascença e o Escolasticismo, dentre outros fatos que podem ser elencados. 
A despeito desses fatos, Silva e Kaiser Jr. (2002, p. 215) entendem que para a 
Igreja e para a Hermenêutica, a Idade Média não foi uma época brilhante, na qual 
“[...] muitos membros do clero, sem falar nos leigos, eram ignorantes até mesmo 
sobre o que a Bíblia dizia”, e permanecia a adoção da interpretação pelo sentido 
quádruplo. 
Agostinho, tido como um dos principais representantes da escola 
Ocidental, defendeu um sentido quádruplo das Escrituras, a Quádriga. Lopes 
(2013, p. 150) afirma que a Quádriga tem sua elaboração atribuída a João Cassiano, 
que morreu no final do século V. Silva e Kaiser Jr. (2002, p. 214) comentam que 
a “[...] ilustração usual desse sentido quádruplo surgiu por volta de 420 d.C. nas 
Conferências de João Cassiano [...]”. A Quádriga distingue quatro sentidos nas 
Escrituras, a saber:
1. O sentido literal ou histórico: busca o sentido evidente e óbvio do texto.
2. O sentido alegórico ou cristológico: é o sentido mais profundo apontando 
sempre para Cristo.
3. O sentido tropológico ou moral: relacionado ao cristão em sua conduta.
4. O sentido anagógico ou escatológico: relacionado ao futuro. 
TÓPICO 2 — A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E MEDIEVAL
83
FONTE: <https://shutr.bz/3v1UMIo>. Acesso em 27 jul. 2021.
Devemos lembrar que houve precedentes importantes que “pavimentaram 
o caminho” para que a Reforma Protestante pudesse caminhar. Martinho 
Lutero (1483-1546) rompeu radicalmente com o método alegórico das Escrituras 
valorizando o sentido literal das Escrituras. E outros reformadores também 
seguiram a mesma tendência de rejeitar a alegoria e interpretar a Bíblia de modo 
literal.
João Calvino (1509-1564) valorizou muito a interpretação literal das 
Escrituras. Ele escreveu que “[...] as Escrituras têm apenas um sentido, que é o 
sentido literal” (CALVINO apud SILVA; KAISER JR., 2002, p. 217). Naturalmente, 
ele reconhecia que há na Bíblia alegorias e similitudes, mas mesmo essas figuras 
deveriam ser interpretadas pelo viés da literalidade.
A Quádriga foi adotada pela Igreja na Idade Média, mas houve outro 
princípio de interpretação que ganhou importância nesse período, chegando à 
Reforma Protestante, no século XVI, que afirmava a necessidade da tradição na 
interpretação das Escrituras.
5 A HERMENÊUTICA NA REFORMA PROTESTANTE
Um dos pontos de maior ruptura entre a Reforma Protestante e a Igreja 
Católica foi na questão da autoridade da tradição versus tradição da Igreja. Lopes 
(2013, p. 159) afirma que “[...] os reformadores rejeitaram e combateram o conceito 
de que a hierarquia da igreja era a autoridade máxima em questões religiosas. 
Eles insistiram que a Bíblia era o juiz maior de todas as controvérsias religiosas, 
interpretando-se a si mesma ao longo de suas partes”.
FIGURA 12 – MONUMENTO DA REFORMA PROTESTANTE
84
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
Um fato muito importante que precisa ser considerado quando se estuda 
a Hermenêutica na Reforma Protestante é o lugar que a Bíblia ocupou nesse 
evento de proporções gigantescas. A Reforma foi um movimento, também, 
hermenêutico, justamente porque valorizou muito as Escrituras, reconhecendo-a 
como superior à tradição da Igreja e entendendo que ela deveria ser dada ao povo. 
Essa valorização das Escrituras pode ser percebida num dos principais lemas da 
Reforma: Sola Scriptura, que significa “somente as Escrituras”.
Diversos empreendimentos foram realizados no sentido de difundir a 
leitura da Bíblia eaprofundar a sua pesquisa. Lutero a traduziu para o alemão, 
Erasmo (1467-1536) publicou a primeira edição crítica do Novo Testamento em 
grego, no ano de 1516, e Johannes Reuchlin publicou uma gramática hebraica, um 
léxico hebraico, uma obra sobre acentuação e ortografia hebraica e, ainda, uma 
interpretação gramatical dos sete salmos de penitência (SILVA; KAISER JR., 2002, 
p. 216).
6 A HERMENÊUTICA NA MODERNIDADE
Para considerar a Hermenêutica na Modernidade, cumpre levar em conta 
o que foi o Iluminismo, movimento intelectual que ocorreu no seio da Europa no 
século XVIII. Foi um movimento que causou um profundo impacto nas Ciências 
e na própria sociedade nos decênios que se seguiram. Lopes (2013, p. 183) 
entende esse movimento como uma espécie de revolta contra o poder da religião 
institucionalizada e contra a religião em geral. 
Lopes (2013, p. 183) afirma que “[...] as pressuposições filosóficas do 
movimento foram moldadas, em primeiro lugar, pelo racionalismo de Descartes, 
Spinoza e Leibniz, e pelo empirismo de Locke, Berkley e Hume”. Lopes prossegue 
afirmando que “mesmo sendo teoricamente contrárias entre si, as duas filosofias 
concordavam que Deus tem de ficar de fora do conhecimento humano. O efeito 
combinado de ambas produziu profundo impacto na Hermenêutica bíblica”.
TÓPICO 2 — A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E MEDIEVAL
85
FONTE: <https://bit.ly/3oR19Nh>. Acesso em 21 ago. 2021.
Nosso entendimento é que Lopes, em sua abordagem, mostra-se um 
pouco reducionista, como é típico das abordagens teológico-fundamentalistas. 
O Iluminismo foi um movimento intelectual que trouxe grandes 
contribuições para a humanidade, inclusive para a pesquisa bíblica, conquanto não 
concordemos com vários dos pressupostos que orientaram essa nova abordagem 
ao texto bíblico, notadamente marcada pelo racionalismo. É preciso equilíbrio 
ao avaliar um movimento dessa magnitude, e evitar dogmatismos, na mesma 
medida em que não se deixa de considerar aquelas crenças que consideramos 
ameaçadoras à fé cristã bíblica e histórica.
É na Modernidade que surgirão duas correntes de pensamento muito 
importantes para a pesquisa bíblica, a saber: a Busca do Jesus histórico e o Método 
Histórico-Crítico. Adiante, abordaremos o que é o Método Histórico-Crítico, de 
maneira introdutória. Concluímos este subtópico destacando que a Hermenêutica 
na Modernidade foi marcada por uma forte ênfase na racionalidade, o que serviu 
para delimitar a ruptura com as convicções em milagres entendidos como fatos 
históricos e na inerrância bíblica. A Bíblia passou a ser estudada estritamente 
como literatura antiga e houve o questionamento de uma série de pressupostos 
relacionados à autoria e à datação dos livros bíblicos, dentre outros fatores. No 
tópico seguinte, consideraremos com mais detalhes os métodos hermenêuticos 
da Modernidade.
FIGURA 13 – AUGUSTE COMTE
86
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
7 A HERMENÊUTICA NA PÓS-MODERNIDADE
Inicialmente, precisamos ter uma compreensão elementar do que vem a 
ser Pós-modernidade para, em seguida, podermos refletir sobre Hermenêutica 
na Pós-modernidade. A expressão “Pós-modernidade”, grosso modo, é um 
indicativo de uma época, uma forma de periodização da História.
Um fato interessante sobre o conceito de “Pós-modernidade” é que não há 
consenso entre os estudiosos do tema quanto à sua legitimidade, já que em seu 
entendimento não seria possível falar de uma Pós-modernidade. A Modernidade 
ainda estaria vigorando, ao menos em parte.
FIGURA 14 – A ERA DIGITAL
FONTE: <https://shutr.bz/3oPjjPz>. Acesso em 27 jul. 2021.
Porém, é fato, também, que há razoável consenso entre outro grupo de 
estudiosos a respeito da nomenclatura, o que pode ser percebido pelo amplo 
uso que dela se faz na literatura especializada. A Pós-modernidade é entendida 
como uma época com suas especificidades, que começou no século XX e assinala 
profundas rupturas com a Modernidade, ainda que possa guardar algumas 
semelhanças.
A Hermenêutica, nesse período, sofreu, naturalmente, grande impacto, 
assim como sofreram diversas outras áreas do conhecimento. Uma característica 
da Hermenêutica pós-moderna é a sua ênfase no leitor contemporâneo e na sua 
contribuição. 
Outra característica da Hermenêutica pós-moderna (podemos falar 
no plural, de hermenêuticas pós-modernas) é a sua marcante relativização da 
verdade, característica que é positiva em alguns aspectos, mas negativa em 
outros. Positiva porque aplica humildade no sujeito, levando-o a reconhecer que 
a verdade é muito grande e não cabe em sistemas hermenêuticos. Isso leva a 
uma conclusão: os diversos sistemas interpretativos (hermenêutica pentecostal, 
teologia reformada, teologia católica, teologia da libertação, teologia feminista 
TÓPICO 2 — A HERMENÊUTICA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E MEDIEVAL
87
etc.) podem oferecer determinadas contribuições. Por outro lado, há o risco de, 
nessa relativização, se afirmar tudo e não se afirmar nada; reconhecer os diferentes 
lugares interpretativos e não se conhecer o próprio tópos de onde se produzem 
afirmações. Novamente, no que se refere à Hermenêutica Bíblica, é preciso 
equilíbrio, evitar os fundamentalismos e abertura ao diálogo em fidelidade às 
Escrituras e ao Evangelho.
A Busca do Jesus Histórico foi uma pesquisa extensa, produzida por diversos 
teólogos e dividida em, pelo menos, três fases. A primeira fase foi chamada de Old quest 
(“Antiga questão”) e tem como marco inicial a publicação da obra de Hermann S. Reima-
rus, em 1753. A segunda fase foi denominada de New quest (“Nova questão”), que repre-
sentou uma renovação no interesse pela busca do Jesus histórico, a partir de 1953, com 
a conferência intitulada “O Problema do Jesus Histórico”, realizada pelo Professor Ernst 
Käsemann (1906-1998), discípulo de Rudolf K. Bultmann. Por fim, a terceira fase, ocorrida 
no final do século XX, foi marcada pela cientificidade, e “[...] diverge de modo significativo 
da segunda quando afirma que a ênfase na mensagem de Jesus sem considerar de modo 
mais profundo seu ambiente vivencial (i.e., o contexto social e histórico em que ele viveu)”, 
“[...] o torna desencarnado e distorce sua real imagem” (ANDRADE, 2014, p. 62).
INTERESSA
NTE
88
RESUMO DO TÓPICO 2
 Neste tópico, você aprendeu que:
• O conhecimento da história da interpretação bíblica é essencial ao estudo da 
Hermenêutica Bíblica, tendo em vista que nos encontramos na extremidade 
de uma longa tradição interpretativa. 
• A escola de Alexandria, no Egito, era orientada pelo método alegórico de 
interpretação das Escrituras. 
• A escola de Antioquia era orientada pela theoria em sua interpretação das 
Escrituras, isto é, ela prezava pela interpretação mais literal, ainda que se 
levasse em conta, também, o sentido espiritual. 
• A interpretação na Modernidade foi marcada pelo racionalismo, o que 
levou a exegese e a Hermenêutica, nesse período, a romperem com o 
sobrenaturalismo bíblico e outras convicções eclesiais em torno da Bíblia, 
mas, em contrapartida, fez avançar a pesquisa em torno do texto bíblico, 
aprofundando significativamente os estudos no campo da Crítica Bíblica.
89
1 Um elemento fundamental no estudo da Hermenêutica Bíblica é o seu 
desenvolvimento ao longo da história do Cristianismo e mesmo antes da 
Era Cristã. Naturalmente, na pesquisa científica, deve-se sempre indagar 
o porquê de se empreender determinado esforço de pesquisa. A partir 
da justificativa do porquê de estudar a história da interpretação bíblica, 
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Quem somos hoje, como cristãos, é resultado, em grande medida, das 
compreensões hermenêuticas que foram sendo amadurecidas ao longo 
de muitas gerações.
b) ( ) Quem somos hoje, como cristãos, não guarda relação com a 
interpretação bíblica do passado. Daí a necessidade de se construir 
uma Hermenêutica própria.
c) ( ) Nossas igrejas não possuem nada que indique guardar certa relação 
com a interpretação nopassado. Disso decorre a necessidade de uma 
Hermenêutica própria.
d) ( ) Nossas tradições teológicas não possuem nada que indique guardar 
certa relação com a interpretação no passado. Disso decorre a 
necessidade de uma Hermenêutica própria.
2 No estudo do desenvolvimento histórico da interpretação bíblica, 
consideram-se os diversos pensadores, as diferentes formas e correntes 
interpretativas que surgiram no decurso do tempo. Porém, e no que se refere 
ao conjunto total de livros da Bíblia, sendo ela constituída de várias vozes, 
vários autores, de diferentes tempos? Partindo do que se deve levar em 
conta no âmbito da Hermenêutica Bíblica, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Deve-se considerar o fato de que a Bíblia constitui-se de textos que 
não se reinterpretam, pelo simples fato de serem substancialmente 
distintos entre si.
b) ( ) Deve-se considerar o fato de que a Bíblia é uma diversidade textual 
e que seria arriscado, do ponto de vista hermenêutico, interpretar 
um livro bíblico a partir de outro, ou mesmo interpretar uma porção 
textual menor a partir de outra.
c) ( ) Deve-se levar em conta o fato de que, embora existam pontos 
convergentes nos diferentes textos bíblicos, eles não se retroalimentam 
ou se reinterpretam.
d) ( ) Deve-se considerar o fato de que a Bíblia também constitui-se de textos 
que se retroalimentam e se interpretam e reinterpretam.
3 Diversos tipos de interpretação foram desenvolvidos no passado, entre 
cristãos e judeus, na busca pelo sentido do texto bíblico. Houve, também, 
ocorrência de alguns fatos que contribuíram diretamente para a interpretação 
bíblica e que são elencados na história da Hermenêutica. Um desses fatos 
AUTOATIVIDADE
90
foi a realização de uma tradução do Antigo Testamento, originalmente 
escrito em língua hebraica, para o idioma grego, entre os séculos II e III e 
a.C. Pensando na tradução responsável por esse fato, assinale a alternativa 
CORRETA:
a) ( ) A Septuaginta.
b) ( ) A Vulgata Latina.
c) ( ) A Tradução de João Ferreira D’Almeida.
d) ( ) A Peshita.
4 A Quádriga foi um dos diversos modos de interpretação que foram sendo 
desenvolvidos ao longo do tempo. Foi utilizada durante a Idade Média e 
distinguia quatro sentidos nas Escrituras. Delineie, de maneira objetiva, 
esses quatro sentidos.
5 Alexandria foi uma importante cidade do Egito, famosa, Antiguidade, 
por sua enorme biblioteca. Essa biblioteca foi fundada por Ptolomeu I, 
cerca de 300 a.C. Alexandria acabou por substituir Atenas como o grande 
centro intelectual do mundo, na época. A cidade possuía uma expressiva 
comunidade de judeus vivendo nela e acabou se tornando uma referência, 
na Antiguidade, de um modo de interpretar as Escrituras. Disserte sobre 
em que consistia o método interpretativo da escola de Alexandria.
91
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Os assuntos abordados neste tópico têm estreita correlação. O estudo 
em torno do Método Histórico-Crítico requer que se considere o Liberalismo 
teológico, uma vez que ambos estão apoiados em pressupostos comuns. Noutra 
mão, o Método Histórico-Gramatical está alinhado com a Ortodoxia teológica, e 
ambos se apoiam, também, em pressupostos comuns.
O conhecimento dos pressupostos desses métodos é necessário para se 
entender como a interpretação bíblica é feita na prática. A ideia de “método” 
sinaliza justamente para o modo de fazer, o “como fazer” de uma ciência, seja ela 
qual for. Em nosso caso, a Hermenêutica bíblica. Entender os métodos Histórico-
Gramatical e Histórico-Crítico também é fundamental para se perceber que há 
diferentes modos de interpretar a Bíblia, que refletem diferentes tradições cristãs. 
Ao estudante de Teologia cabe conhecê-los e considerar suas possibilidades 
e limites, contribuições e problemas. Infelizmente, convivemos em nossas igrejas 
com a ideia de “leituras perigosas”, que incentiva as pessoas a evitar a leitura de 
obras alinhadas com o Método Histórico-Crítico e com o Liberalismo Teológico, 
mas a Ortodoxia Teológica, por sua vez, também possui problemas e igualmente 
precisa ser avaliada criticamente.
FIGURA 15 – LÂMPADA DO CONHECIMENTO
FONTE: <https://shutr.bz/3mDKSIV>. Acesso em: 27 jul. 2021.
TÓPICO 3 — 
MÉTODOS HERMENÊUTICOS NA MODERNIDADE
92
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
2 O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO
Esse método exegético pode ser entendido como um conjunto de críticas 
bíblicas, algumas de caráter diacrônico. Noutras palavras, há críticas que buscam 
entender como o texto chegou à sua forma final. Trata-se de um trabalho exegético 
do texto bíblico, levando em conta os aspectos formativos desse texto, a depender 
da crítica que esteja sendo utilizada.
O Método Histórico-Crítico surge no final do século XVII e vai se 
desenvolvendo nos séculos XVIII e XIX, e não necessariamente terminou, como 
afirma Lopes (2013, p. 189). Ele continua em uso, ainda que tendo passado por 
reelaborações. Lopes afirma que “[...] uma boa parte dos supostos resultados 
“infalíveis” desse método continua ainda hoje a influenciar os estudos acadêmicos 
da Bíblia, como fatos provados, em vez do que são na realidade: meras hipóteses”.
Lopes, nessa compreensão em particular a respeito do Método Histórico-
Crítico, comete um erro crasso ao não distinguir o método em si dos pressupostos 
de teólogos e exegetas que operaram por ele. O Método Histórico-Crítico é uma 
metodologia exegética que, naturalmente, refletirá na forma como se entende o 
texto, mas não necessariamente constitui algum tipo de hipótese teológica, como 
pressuposto por Lopes.
O Método Histórico-Crítico foi fundamental para a crítica bíblica. Abriu 
caminho para o estudo científico em torno do texto bíblico, aprofundando muito 
os estudos exegéticos. Isso, contudo, não significa que devamos ser acríticos em 
relação ao método. O exegeta Uwe Wegner, que opera pelo referido método, 
afirma com muito equilíbrio:
[O Método Histórico-Crítico] cultiva uma academicidade alheia à 
maioria dos integrantes das comunidades, criando barreiras entre 
teólogos e teólogas e o povo leigo. O exegeta histórico-crítico tende 
a uma atitude de arrogância diante de outras ou outros colegas 
considerados “ingênuos” ou conservadores. Favorece uma espécie de 
idolatria do intelecto e de tudo o que é racional e racionalizável, em 
detrimento de outros modos de percepção da realidade. Muitas vezes, 
um estudo racional dos textos anda paralelamente a um aumento das 
dúvidas de fé (WEGNER, 1998, p. 33).
FIGURA 16 – PESQUISA
FONTE: <https://shutr.bz/3FyCGlQ>. Acesso em 27 jul. 2021.
TÓPICO 3 — MÉTODOS HERMENÊUTICOS NA MODERNIDADE
93
A despeito desses limites, contudo, o Método Histórico-Crítico é o que 
prevalece na Academia Teológica, com contribuições fundamentais. Exegetas que 
operaram por ele entregaram uma enorme produção exegética que trouxe à tona 
muitos conhecimentos a respeito da vida e do pensamento nos tempos bíblicos, 
contribuindo para aclarar o sentido das passagens bíblicas.
FIGURA 17 – ACADEMICIDADE
FONTE: <https://shutr.bz/3mFoSgL>. Acesso em 27 jul. 2021.
O texto bíblico foi “dissecado” nesse método, que o encarou como 
resultado de um processo de editoração até que chegasse ao formato final, no qual 
se encontra atualmente. Entende que o texto bíblico é múltiplo e fragmentário, 
uma espécie de costura de textos que foi sendo feita ao longo do tempo e com a 
participação de vários autores. Com isso, rejeita, por exemplo, a autoria mosaica 
do Pentateuco e da maioria dos textos bíblicos, por encontrar neles indícios 
literários de que houve participação de autores diversos.
3 O MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL
O Método Histórico-Gramatical valoriza os aspectos histórico e gramatical 
do texto bíblico. É um método essencialmente sincrônico, não diacrônico. A 
palavra é entendida como inserida dentro de um contexto histórico. Ela brota 
de contextos históricos. Zuck (1994, p. 89) concorda que o “[...] contexto em que 
determinada passagem bíblica foi escrita influi no entendimentoque se terá dela”.
O exegeta orientado por esse método entende que o sentido do texto, 
quando foi entregue pelo delimitaçãoógrafo sagrado, pode ser parcialmente 
recuperado. Por meio de diversas análises, busca-se chegar a esse sentido 
pretendido pelo autor do texto. Como se pode perceber, o método valoriza muito 
o papel do autor na construção do sentido.
Na prática, ambos os métodos, o Histórico-Crítico e o Histórico-
Gramatical, podem ser aplicados seguindo alguns passos, como propõem 
diversos exegetas. Wegner (1998, p. 11) comenta que a Hermenêutica “[...] 
designa mais particularmente os princípios que regem a interpretação dos textos; 
a exegese descreve mais especificamente as etapas ou os passos que cabe dar em 
94
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
sua interpretação”. Segue-se uma sugestão para se fazer uma exegese pensada/
elaborada em diálogo tanto com o Método Histórico-Crítico como com o Método 
Histórico-Gramatical. Esse passo a passo conta com pelo menos cinco passos.
FIGURA 18 – PESQUISANDO 
O primeiro passo consiste em delimitar a perícope que será estudada. 
Isso é chamado de “delimitação do texto bíblico”. O segundo passo consiste em 
realizar uma tradução própria, isto é, uma tradução que é feita pelo estudante. 
Essa ação permitirá que se observem determinados aspectos gramaticais que 
não poderiam ser notados, possivelmente, consultando-se exclusivamente as 
traduções em português.
FONTE: <https://shutr.bz/3v1nWaz>. Acesso em 27 jul. 2021.
Recomendo duas obras e um artigo em particular que oferecem passos para 
a exegese de perícopes bíblicas, explicando de modo minucioso cada um desses passos: 
• ALEXANDRE JÚNIOR, M. Exegese do Novo Testamento: um guia básico para o estu-
do do texto bíblico. São Paulo: Vida Nova, 2016.
• KUNZ, C. A. Método histórico-gramatical: um estudo descritivo. Revista Via Teológica. 
Curitiba: FTBP, 2008, n. 16, vol. 2. 
• WEGNER, U. Exegese do Novo Testamento: manual de metodologia. São Leopoldo: 
Sinodal; São Paulo: Paulus, 1998.
DICAS
TÓPICO 3 — MÉTODOS HERMENÊUTICOS NA MODERNIDADE
95
O terceiro passo é o da análise literária que considera a lexicografia do 
texto, sua análisegia, semântica, sintaxe e o estilo. Analisa possíveis figuras de 
linguagem presentes, como metáforas e hipérboles, por exemplo. O quarto passo 
é fazer a crítica textual da passagem, que deve incluir considerar as variantes 
textuais, tipo de texto que foi utilizado, dentre outros aspectos. Por fim, o quinto 
e último passo é fazer a aplicação da passagem ao ouvinte/leitor contemporâneo. 
A Exegese (e a Hermenêutica) deve ser posta a serviço das comunidades de fé. Os 
resultados das suas investigações devem ser aplicados à vida, ao serviço cristão, 
em favor da melhor compreensão das Escrituras e da própria religião cristã.
4 O LIBERALISMO TEOLÓGICO
O pensamento liberal sofre duros ataques de teólogos cristãos, e com a 
popularização da internet, esses ataques ganharam mais notoriedade. Mas essa 
rejeição ao Liberalismo teológico definitivamente não é de agora. Todavia, é 
preciso diálogo e que sejam consideradas as contribuições de ambos os lados, 
tanto da Ortodoxia teológica quanto do Liberalismos teológico.
Nos círculos eclesiais em geral há grande rejeição ao pensamento 
liberal. E vários teólogos que estão alinhados com a Igreja comumente 
apresentam rejeição a muitos pressupostos liberais. No prefácio da 
obra Teologia Contemporânea: a influência das correntes filosóficas 
e teológicas na Igreja (2012) de Abraão de Almeida, um livro na 
verdade reeditado, publicado originalmente em 2002, o Pastor e 
Teólogo N. Lawrence Olson (1910-1993), que atuou como missionário 
a serviço das Assembleias de Deus no Brasil, mormente no estado de 
Minas Gerais, autor do Best Seller O plano divino através dos séculos, 
publicado originalmente em 1974, comenta negativamente a respeito 
da Teologia Liberal e chama a atenção dos leitores no sentido de terem 
cuidado com o pensamento liberal, sendo algo a evitar. 
Olson fala em termos de “[...] essa nociva Alta Crítica” e a coloca como 
“[...] apenas uma minúscula parte do arsenal que o inimigo preparou 
para atacar a integridade da Igreja” (OLSON in ALMEIDA, 2012, 
p. vi). Um radicalismo por parte de um teólogo da Igreja? A que é 
possivelmente a principal razão dessa rejeição é o fato do pensamento 
liberal excluir o elemento sobrenatural das Escrituras, o que acaba por 
colocar Jesus como um personagem histórico e não divino, os milagres 
Para uma abordagem detalhada sobre o que é e como fazer a delimitação do 
texto, você pode assistir essa aula aberta, disponível no YouTube: 
Disponível em: https://youtu.be/JSezYoQ2t_I. Acesso em: 17 jul. 2021.
DICAS
96
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
como relatos míticos e não como factualmente históricos, dentre outros 
aspectos atrelados à questão do sobrenaturalismo bíblico (COZZER, 
2020, vol. 1, pp. 85-88).
O Liberalismo teológico é, também, um tipo de Hermenêutica, pois 
constituiu um modo de entender a Bíblia absolutamente distinto do modo 
como a Igreja interpretava as Escrituras até então. Um pensador fundamental 
do Liberalismo teológico foi Friedrich Daniel E. Schleiermacher (1768-1834). Ele 
entendeu que a religião não deveria ter origem num livro, ou mesmo na razão 
ou, ainda, em qualquer elemento externo. E nessa esteira, Schleiermacher irá 
enfatizar a possibilidade de a religião encontrar sua fonte em nosso sentimento 
de dependência de outro alguém.
Diversos autores se seguiram a Schleiermacher orientados por pressupostos 
muito semelhantes. Houve o entendimento de que os textos neotestamentários, 
assim como os do Antigo Testamento, eram carregados de mitos, que Jesus seria 
unicamente um homem (não o Filho de Deus encarnado) que precisava ser 
recuperado nos textos dos Evangelhos dos acréscimos helenísticos (Adolf von 
Harnack) e míticos (Rudolf K. Bultmann). 
FIGURA 19 – FRIEDRICH SCHLEIERMACHER 
FONTE: <https://bit.ly/3FwCSSJ>. Acesso em 27 jul. 2021.
5 A REAÇÃO ORTODOXA
A reação ortodoxa ao Liberalismo teológico foi no sentido de reafirmar a 
crença no sobrenaturalismo bíblico, na divindade de Jesus, na inerrância bíblica 
e em outras doutrinas cardeais para o Cristianismo bíblico e histórico. Nesse 
sentido, a Ortodoxia Teológica ofereceu grande contribuição. 
TÓPICO 3 — MÉTODOS HERMENÊUTICOS NA MODERNIDADE
97
A palavra “ortodoxia” vem da junção de duas palavras gregas, a saber: 
orthós, “reto”, e dóxia, “opinião”. “Ortodoxia” passa a indicar, no contexto 
teológico, “crença correta”. Conquanto a palavra seja usada para identificar 
a Teologia de diversas denominações cristãs, admite-se que se pode falar em 
ortodoxias. 
Champlin (vol. 4, 1991, p. 633) faz a seguinte observação: 
[...] os vícios de várias ortodoxias (e há muitas) é que elas equiparam 
a crença certa (conforme elas a julgam) com a verdade. Entretanto, a 
história tem frequentemente demonstrado, nos campos da ciência, da 
filosofia e da religião, que a ortodoxia de uma geração é contradita por 
alguma heterodoxia, e que esta última, ao obter poder, torna-se uma 
nova ortodoxia.
Reconhecendo essa verdade, exposta por Champlin, e considerando o fato 
de que o conhecimento é limitado e de que a verdade do Evangelho não cabe nos 
diversos sistemas teológicos, noutras palavras, essa verdade está muito acima 
desses sistemas, tem-se defendido a ideia de uma Ortodoxia dialogal, dialogal 
porque reconhece contribuições de outros sistemas. Conquanto defenda uma 
verdade absoluta, não é defendido necessariamente um absolutismo teológico.
Historicamente, a Ortodoxia Teológica pode ser definida a partir de alguns 
pressupostos básicos e comuns às diferentes tradições cristãs, a despeito dessa 
enorme variedade existente no interior do Cristianismo. Há doutrinas que têm 
sido chamadas de “doutrinas cardeais” e que se assentam sempre nas Escrituras. 
Noutras palavras, os teólogos ortodoxos buscam fundamentar essas convicções 
doutrináriasnas Escrituras. 
O Novo Testamento forma a base dessa ortodoxia cristã, e os 
pronunciamentos dos concílios definiram e delinearam crenças. 
Porém, deve ficar entendido desde o princípio que nem todas as 
ideias foram igualmente aceitas. Antes de tudo, devemos considerar o 
cisma, quanto a algumas questões importantes, entre as igrejas cristãs 
Oriental e Ocidental. Posteriormente, a Igreja Ocidental fragmentou-
se, durante a Reforma Protestante; e vem-se fragmentando cada vez 
mais, desde então. E foi assim que muitas ortodoxias arrogantes 
surgiram, do seio dessa Igreja fragmentada.
Os estudiosos liberais pensam que qualquer busca pela ortodoxia é 
tempo perdido, além de ser uma atividade amortecedora e estagnadora, 
pois nada teria a ver com a verdade, ainda que posta a serviço do mero 
conforto mental. É que a mente humana insiste em obter sistemas 
fechados, completos, que solucionem todos os problemas, liberando o 
indivíduo da necessidade de continuar buscando e crescendo.
Assim sendo, a verdadeira busca pela verdade deve evitar a estagnação, 
e, no entanto, à base mesma da formulação de qualquer sistema 
ortodoxo temos uma grande dose de estagnação (CHAMPLIN, 1991, 
vol. 4, p. 634).
98
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
A crítica apresentada por Champlin é muito importante, pois evidencia os 
limites da Ortodoxia Teológica, mas, como afirmado anteriormente, há doutrinas 
e elementos doutrinários comuns, defendidos historicamente ao longo de séculos, 
pela Igreja Cristã, que constituem pontos de convergência entre as igrejas. 
Algumas dessas doutrinas históricas são a doutrina da ressurreição de 
Jesus, da Segunda Vinda de Jesus, da inerrância bíblica, do monoteísmo trinitário, 
da salvação pela graça de Deus manifestada em Cristo, da queda e da necessidade 
de remissão dos pecados, dentre outras. Como bem observado por Champlin, 
acima, não houve unanimidade entre os cristãos quanto a essas e outras doutrinas 
ao longo do tempo, mas houve enorme consenso entre diversos segmentos do 
Cristianismo ao longo dos séculos.
A Ortodoxia teológica pode ser claramente distinguida quando comparada 
ao Liberalismo Teológico. Ela oferece uma contribuição fundamental no sentido 
de definir uma Teologia que se identifica como cristã, o que permite falar a partir 
de um lugar comum para milhões de pessoas ao longo de gerações. Champlin 
afirma:
A busca por uma verdadeira ortodoxia é a mesma coisa que a busca 
pela verdade e pela autoridade. [...] Em primeiro lugar, existem 
certas verdades fundamentais, nas Sagradas Escrituras, que nos 
orientam nessa busca. Um verdadeiro cristão vê em Jesus tanto o 
Logos encarnado quanto o Senhor Deus. Essas são verdades fatuais do 
Novo Testamento, segundo pode-se ver em vários trechos bíblicos: 1 
Coríntios 15.1-11; Gálatas 1.6-9; 1 Timóteo 6.3; 2 Timóteo 4.3,4; 1 João 
4.1-3 [...]. Porém, é mister que entendamos que a verdade é vastíssima, 
e que a nossa busca para conhece-la melhor está em estado de fluxo. 
A estagnação sempre é amortecedora, não tendo utilidade na busca 
real pela verdade. A Palavra de Deus é maior do que a Bíblia, a qual 
é um reflexo escrito da Palavra. A Palavra Viva é mais vasta que a 
palavra escrita; o Logos é maior do que qualquer livro ou coletânea de 
livros. Isso posto, qualquer busca pela verdade deve ser caracterizada 
por um crescimento contínuo. Os homens estacionam o trem de sua 
verdade em alguma estação; mas a verdade real prossegue caminho 
(CHAMPLIN, 1991, vol. 4, p. 634).
A despeito da enorme contribuição da Ortodoxia Teológica, deve-
se mencionar que nem sempre a reação ortodoxa, ou pelo menos a reação de 
algumas de suas alas, em nossos dias, e em nosso país, é saudável. No afã de 
defender verdades fundamentais da fé cristã e de se produzir uma Apologética 
cristã, teólogos ortodoxos produzem ataques pessoais de baixo nível, produzem 
campanhas de boicote a determinadas obras e chegam a conclusões sem terem o 
cuidado na análise do conteúdo proposto. 
Todavia, a Ortodoxia Teológica também é feita por teólogos equilibrados, 
que se abrem ao diálogo e se utilizam das contribuições das diversas correntes 
de pensamento teológico. É perfeitamente possível falar a partir de um lugar 
comum e dialogar com outras contribuições teóricas. Não é necessário agredir 
para afirmar convicções teológicas e doutrinárias. 
TÓPICO 3 — MÉTODOS HERMENÊUTICOS NA MODERNIDADE
99
FONTE: <https://shutr.bz/2YHu23Z>. Acesso em 27 jul. 2021.
Infelizmente, no Brasil, tornou-se comum produzir Teologia com base 
em desqualificação e na construção de caricaturas a respeito de outras tradições 
teológicas. E isso não acontece apenas do lado ortodoxo, mas mesmo na Academia 
Teológica nota-se a presença de abordagens reducionistas e até ridicularizantes 
de tradições teológicas e religiosas. Tal atitude deve ser evitada sempre.
Reagindo a pressupostos liberais, a Ortodoxia Teológica vem reafirmando 
suas convicções por meio de publicações e de documentos. A Declaração de 
Chicago sobre a Inerrância Bíblica, em 1978, que reafirmou a convicção na 
inerrância da Bíblia, em seu Artigo XII, afirma: 
Afirmamos que, em sua totalidade, as Escrituras são inerrantes, 
estando isentas de toda falsidade, fraude ou engano. Negamos que 
a infalibilidade e a inerrância da Bíblia estejam limitadas a assuntos 
espirituais, religiosos ou redentores, não alcançando informações de 
natureza histórica e científica. Negamos ainda mais que hipóteses 
científicas acerca da história da terra possam ser corretamente 
empregadas para desmentir o ensino das Escrituras a respeito da 
criação e do dilúvio (NETO, 2021, s.d.).
No Artigo XIV, também pode-se ler o seguinte: “Afirmamos a unidade e a 
coerência interna das Escrituras. Negamos que alegados erros e discrepâncias que 
ainda não tenham sido solucionados invalidem as declarações da Bíblia quanto à 
verdade” (NETO, 2021, s.d.).
FIGURA 20 – EQUILÍBRIO
100
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
A Declaração foi produzida Hyatt Regency O'Hare, em Chicago, no verão de 
1978, durante uma conferência internacional suprema de líderes evangélicos interessados. 
Ela foi assinada por aproximadamente 300 eruditos evangélicos famosos, incluindo Boice, 
Norman L. Geisler, John Gerstner, Carl F. H. Henry, Kenneth Kantzer, Harold Lindsell, John 
Warwick Montgomery, Roger Nicole, J.I. Packer, Robert Preus, Earl Radmacher, Francis 
Schaeffer, R.C. Sproul e John Wenham (NETO, F. S. A. Declaração de Chicago sobre a Iner-
rância da Bíblia. Monergismo. 2021.
Disponível em: https://bit.ly/3lt2lo8. Acesso em: 30 jul. 2021.
DICAS
A Ortodoxia Teológica contribui no sentido de reafirmar essas verdades 
fundamentais e, ainda, no sentido de apontar para o fato de que o Cristianismo 
se apoia sobre fatos e convida à vida concreta. Ela chama a atenção para o fato 
de que a fé cristã precisa ser, também, prática, não apenas concreta. A Ortodoxia 
Teológica sempre esteve muito alinhada a movimentos cristãos que valorizavam 
a piedade cristã, a leitura e o estudo devocional da Bíblia e a vida com Deus, 
como o Pentecostalismo, em suas origens.
Outro aspecto relevante a ser considerado ainda com relação ao 
Pentecostalismo é que a despeito de não ter uma tradição teológica 
tão extensa como o tem as denominações históricas, ele cumpre papel 
preponderante no combate aos pressupostos liberais contrários às 
Escrituras, às heresias, aos falsos ensinos e deturpações da Palavra de 
Deus (COZZER, 2020, vol. 1, p. 488).
Horton (1916-2014), importante teólogo pentecostal estadunidense, 
escreveu o seguinte:
Minha opinião é que você não pode conhecer as Escrituras à parte do 
poder de Deus. O conhecimento puro e simples da letra pode levar à 
morte, mas “o Espírito vivifica” (2 Co 3.6). Eis a razão de estarem os 
pentecostais na linha de frente da batalha contra os liberais (que são, 
na verdade, anti-sobrenaturalistas), os secularistas, as doutrinas da 
Nova Era e todas as forças anticristãs conhecidas ou não(HORTON, 
1997, p. 9).
Naturalmente, os teólogos ortodoxos utilizam o Método Histórico-
Gramatical como método hermenêutico em função do seu alinhamento com 
essas verdades centrais da fé cristã e abertura ao sobrenaturalismo bíblico. Existe 
harmonia, também, com pressupostos hermenêuticos da Reforma Protestante, 
que são reafirmados pela Ortodoxia Teológica, o que permite uma identificação 
fundamental com esse movimento religioso, social e político.
TÓPICO 3 — MÉTODOS HERMENÊUTICOS NA MODERNIDADE
101
LEITURA COMPLEMENTAR
RUDOLF KARL BULTMANN
Roney Ricardo Cozzer
FIGURA 21 – RUDOLF KARL BULTMANN
FONTE: <https://bit.ly/3iRrR4J>. Acesso em: 16 jul. 2021.
Chegamos, agora, a mais um dos grandes pensadores cristãos do século 
20. E esse é um pensador também muito criticado no contexto evangélico, mas 
isso se dá certamente, em grande medida, por desconhecimento da obra de 
Bultmann. Ele estudou profundamente o contexto ou cenário que dá origem ao 
Novo Testamento, mas fazendo isso sem desconectar-se da sua própria realidade 
no século 20. Deve ser destacado já de partida que Bultmann não foi um teólogo 
sistemático, mas deve ser entendido – e com justiça – como um teólogo bíblico, 
que se dedicou de fato ao estudo profundo do Novo Testamento.
Bultmann nasceu na Alemanha, em 20 de agosto de 1884 e faleceu em 
1976, aos 91 anos. Foi catedrático da Universidade de Marburg, na Alemanha, 
durante muitos anos (de 1921 até 1951 quando se aposentou) e produziu diversos 
textos de cunho histórico, teológico e interpretativos sobre o Novo Testamento. 
Marburg foi a universidade onde ele lecionou até o fim da vida em 1976. 
Dentre os pontos interessantes a respeito da vida e obra de Bultmann, 
é que ele fez parte da Igreja Confessante, composta por teólogos igualmente 
destacados como o suíço Karl Barth, inclusive, que rejeitaram e se opuseram 
ao nazismo. Bultmann estudou nas melhores universidades alemãs: Tübingen, 
Berlim e Marburg e era herdeiro de uma rica tradição protestante (GRENZ; 
OLSON, 2013, p. 100).
É importante destacar também, já de partida, que conquanto reconheçamos 
as contribuições notáveis de Bultmann e de outros grandes teólogos cristãos 
(contemporâneos ou não), tal reconhecimento não significa endosso absoluto da 
102
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
integralidade de suas obras. Não é diferente aqui com relação ao pensamento 
bultmanniano. Como cristãos confessos e cheios de fé, discordamos radicalmente 
de alguns resultados do trabalho de Bultmann, como alguns vistos em seu 
programa de demitologização do Novo Testamento que vê a ressurreição de Jesus 
como mito, e não como fato na História.
[...] ele se recusava a reconhecer qualquer disparidade profunda entre 
a exegese e a Teologia sistemática, afirmando que, na verdade, a tarefa 
de ambas é explicar a existência humana em relação a Deus ao ouvir 
a Palavra de Deus, que se dirige ao indivíduo por meio do Novo 
Testamento. Por causa de sua contribuição a essa questão mais ampla 
do método teológico, Bultmann tem sido uma voz insuperável no meio 
da Teologia sistemática bem como dos estudos do Novo Testamento 
(GRENZ; OLSON, 2013, p. 100).
No senso comum de muitos evangélicos brasileiros, Bultmann tem sido 
considerado um teólogo liberal. O curioso, contudo, é que o próprio Bultmann 
se considerou um aliado de Barth no sentido de dar uma resposta ao liberalismo 
teológico em seu tempo. Sua crença é de que a revelação, o kerigma, é suficiente 
para o conhecimento de Deus. “[...] Seguindo as ideias do filósofo existencialista 
Martin Heidegger, Bultmann interpretou essa mensagem exclusivamente em 
termos de condição humana que ele via caracterizada pela ansiedade e até mesmo 
pelo desespero” (GRENZ; OLSON, 2013, p. 100). É correto afirmar sobre ele que 
seu esforço foi no sentido de projetar a sua visão cristã através do existencialismo.
Bultmann encontrou um modo eficiente de conciliar conceitos do 
pensamento heideggeriano e o seu próprio pensamento. Ele estabeleceu alguns 
paralelos entre conceitos da obra de Heidegger e conceitos bíblicos, como por 
exemplo, fé e pecado com “existência autêntica” e “existência inautêntica”. E 
esse esforço se dá em Bultmann por ele estar buscando explicar a mensagem 
do Evangelho em seu próprio contexto, isto é, em sua própria época. Havia um 
desencontro entre o homem moderno e o homem do período do Novo Testamento, 
em que a concepção do universo é mítica. Bultmann mantêm seu inelutável 
interesse em chegar ao cerne da mensagem do Novo Testamento removendo as 
camadas mitológicas que a cobrem e poder assim comunicar essa mensagem ao 
homem contemporâneo. 
A existência autêntica de Heidegger só é possível, segundo Bultmann, 
mediante a resposta do homem por meio da fé à graça de Deus, oferecida ao 
homem pela proclamação cristã (o kerigma). E essa resposta do homem constitui 
em si um milagre de Deus. Noutras palavras, o homem não pode por si 
mesmo experimentar essa existência autêntica; ele depende da graça de Deus 
experimentada por um ato de fé.
O sentido da ressurreição para Bultmann não é em termos factuais, 
históricos. Isso não significa dizer que Bultmann não aceitasse a pessoa de Jesus 
e sua cruz como fatos históricos. Ele não considerou que um homem realmente 
tivesse voltado dentre os mortos, mas cria na existência real de Jesus e que Ele 
TÓPICO 3 — MÉTODOS HERMENÊUTICOS NA MODERNIDADE
103
veio a morrer numa cruz. Para Bultmann, foi justamente a crucificação que 
exaltou Jesus à posição de Senhor. Para ele, a fé na ressurreição implicava “[...] fé 
na eficácia salvadora da cruz” (GRENZ; OLSON, 2013, p. 100).
O pensamento de Bultmann, evidentemente, deve ser criticado. Ele 
possui limites sérios. A despeito de suas contribuições, não podemos negar que 
esse grande pensador caminhou para certo ceticismo no que tange à fé histórica 
do Cristianismo quanto a milagres, a ressurreição e outras narrativas de fatos 
sobrenaturais das Escrituras, que ele entendeu como sendo mitos.
O conservadorismo teológico prossegue em ver a obra de Bultmann com 
suspeição e com certa justiça, em função da sua compreensão a respeito de mito 
e Bíblia. E não pode ser negado que sua visão diferiu substancialmente da visão 
tradicional, inclusive quanto à Revelação de Deus à humanidade.
Grenz e Olson (2013) irão afirmar que “independentemente da questão 
das formulações doutrinárias corretas e das críticas relacionadas a vários aspectos 
de suas posições, o principal problema teológico está no centro da proposta de 
Bultmann” (GRENZ; OLSON, 2013, p. 112). Os autores prosseguem dizendo 
que esse problema irá se tornar evidente em pelo menos três pontos fracos no 
pensamento bultmanniano: exegese, vida de fé e a natureza de Deus.
Outro ponto fraco no pensamento de Bultmann é com relação à vida de fé. 
Para ele, “[...] a fé é uma decisão pessoal sobre o viver autêntico, compreendida 
de modo extremamente individualizado” (GRENZ; OLSON, 2013, p. 113). 
Seguindo na trilha da compreensão existencialista, ele acabou por limitar muito 
ao individual a esfera de ação da fé reduzindo assim sua dimensão eclesial, 
comunitária e social. A fé, em termos neotestamentários, tem implicações que 
transbordam à própria esfera do individual, no cristão. Ela possui implicações 
abrangentes projetando o cristão para o outro. 
Do mesmo modo, não é sem importância o fato de que seus escritos 
raramente falem da igreja. Do ponto de vista de avanços teológicos 
subsequentes, podemos concluir apenas que a Teologia de Bultmann 
fornece uma soteriologia útil, ainda que parcial, mas carece de uma 
eclesiologia satisfatória (GRENZ; OLSON, 2013, p. 113).
Em um texto publicado originalmente em 1958, e intitulado Das Befremdiliche 
des christlichem Glaubens, traduzido como “Por que a fé cristã causa estranheza” 
(BULTMANN, 2001, p. 383), Bultmann discorre sobre o sentido do Cristianismo, 
sobre o significado do Cristianismo e conclui em dado momento que “[...] cada 
qual precisa decidirpara si próprio o que é fé cristã” (BULTMANN, 2001, pp. 
385-86). Ele argumenta logo em seguida que o que vem a ser Cristianismo não 
necessariamente fica restrito à subjetividade do indivíduo, mas que a explicação 
sobre o que vem a ser o Cristianismo pode ser feita mediante o conhecimento 
da história, não história como fatos frios que se sobrepõem, mas sim, e em suas 
próprias palavras, “o dilema resolve-se se considerarmos o que é autêntica relação 
com a história, ou seja, o que é relação histórica com a história” (BULTMANN, 
104
UNIDADE 2 — ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA
2001, p. 386). “História” em Bultmann assume um sentido diferente do sentido 
ordinário que conhecemos. Para ele, ela requer envolvimento, e ele afirma que 
o historiador tem a sua própria subjetividade envolvida levando-o a participar 
como pessoa (BULTMANN, 2001, p. 386). Só havendo esse envolvimento o 
sujeito pode compreender os eventos ocorridos na própria História. É após essa 
conjuntura existencial do sujeito que ele pode compreender seu sentido histórico. 
Dito isto, Bultmann então lança o problema: “Qual a consequência disso para a 
pergunta pela essência da fé cristã?” e em seguida, ele mesmo responde: “Ela 
somente é reconhecível a partir da história do Cristianismo, mas só para aquele 
que estiver existencialmente envolvido nesta história” (BULTMANN, 2001, p. 
387). Bultmann está deslocando o Cristianismo do conceito de um evento ocorrido 
na História para a posição de algo contínuo, que retroage e que é escatológico. 
A despeito de reconhecer que Jesus Cristo inaugurou uma nova era, deixando o 
velho éon para trás e inaugurando uma nova era, tudo isso permanece atrelado 
ao existencialismo, que ele usa como “trilho” por onde corre o “trem” da sua 
Teologia. 
FONTE: COZZER, R. R. (no prelo). Doutrinas Bíblicas. São Paulo: Instituto Teológico 
Quadrangular.
105
RESUMO DO TÓPICO 3
 Neste tópico, você aprendeu que:
• O Método Histórico-Crítico é constituído por um conjunto de procedimentos 
e críticas, como as Críticas da Fonte e da Redação, por exemplo. 
• O Método Histórico-Gramatical valoriza os aspectos histórico e gramatical do 
texto bíblico, entendendo a palavra como evento histórico. 
• Na aplicação de métodos exegéticos, são dados alguns passos, como a 
delimitação do texto bíblico e a realização de uma tradução própria. Há outros 
passos importantes.
• O Liberalismo Teológico e a Ortodoxia Teológica são duas correntes de 
pensamento teológico que divergem estruturalmente em determinados 
pressupostos, porém ambas oferecem suas contribuições, as quais devem ser 
levadas em conta.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
106
1 Há diversos métodos interpretativos das Escrituras com as suas contribuições 
específicas para o esforço de pesquisa em favor da melhor compreensão do 
texto bíblico. Um desses métodos é o Histórico-Crítico. Sobre esse método, 
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Esse método exegético pode ser entendido como um conjunto de 
críticas bíblicas, algumas de caráter diacrônico.
b) ( ) Esse método exegético pode ser entendido como um conjunto de 
críticas bíblicas, algumas de caráter sincrônico.
c) ( ) Esse método exegético pode ser entendido como uma crítica bíblica 
específica, não composto de várias críticas, de caráter diacrônico.
d) ( ) Esse método exegético pode ser entendido como uma crítica bíblica 
específica, não composto de várias críticas, de caráter sincrônico.
2 Tanto o Método Histórico-Gramatical como o Método Histórico-Crítico 
pautam-se pela aplicação de uma espécie de passo a passo na análise de uma 
Perícope Bíblica. Um desses passos é a análise literária, que compreende 
considerar alguns elementos. Com base nos elementos compreendidos pela 
análise literária, analise as sentenças a seguir:
I- Essa análise considera a lexicografia, a sintaxe e a morfologia, mas 
desconsidera o estilo do texto.
II- Essa análise considera a lexicografia, a sintaxe e a morfologia do texto.
III- Essa análise considera o estilo do texto.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.
3 A reação ortodoxa ao Liberalismo Teológico foi no sentido de reafirmar a 
crença no sobrenaturalismo bíblico, na divindade de Jesus, na inerrância 
bíblica e em outras doutrinas cardeais para o Cristianismo bíblico e histórico. 
Nesse sentido, a Ortodoxia teológica ofereceu grande contribuição. 
Pensando na representação da Ortodoxia, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) “Ortodoxia” passa a indicar, no contexto teológico, “crença incorreta”.
b) ( ) “Ortodoxia” passa a indicar, no contexto teológico, “crença particular 
de um grupo religioso”.
c) ( ) “Ortodoxia” passa a indicar, no contexto teológico, uma espécie de 
equivalência do Liberalismo Teológico.
d) ( ) “Ortodoxia” passa a indicar, no contexto teológico, “crença correta”.
AUTOATIVIDADE
107
4 O Método Histórico-Gramatical valoriza os aspectos histórico e gramatical 
do texto bíblico. A palavra é entendida como inserida dentro de um 
contexto histórico. Zuck (1994, p. 89) concorda que o “[...] contexto em que 
determinada passagem bíblica foi escrita influi no entendimento que se 
terá dela”. Considerando isto, disserte a seguir sobre características desse 
método de interpretação das Escrituras.
5 O Método Histórico-Crítico pode ser considerado como um método 
composto, no sentido de que há várias críticas que são utilizadas em sua 
aplicação. Ele emprega a Crítica da Forma, Crítica da Redação e a Crítica 
das Fontes, dentre outros procedimentos. Tem sido amplamente utilizado 
no campo da crítica bíblica. Disserte a seguir a respeito da importância 
desse método.
108
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE JR., M. Exegese do Novo Testamento: um guia básico para o 
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dução: Cesar de F. A. Bueno Vieira. São Paulo: Vida Nova, 1994.
110
111
UNIDADE 3 — 
A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender a importância da interpretação bíblica;
• entender o que são os distanciamentos bíblicos e sua importância para 
o estudo das Escrituras;
• conhecer as figuras de linguagem e compreender o que são os 
hebraísmos;
• compreender como a Hermenêutica é entendida na contemporaneidade.
 Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL
TÓPICO 2 – AS FIGURAS DE LINGUAGEM
TÓPICO 3 – A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
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UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste primeiro tópico, será abordada a questão da 
“distância” que há entre o leitor contemporâneo da Bíblia e os seus autores. 
Essa distância é objeto de interesse na Hermenêutica Bíblica há muitos anos. Ela 
refere-se aos diferentes contextos nos quais os textos bíblicos emergem, que são 
de natureza cultural, religiosa, política, social, geográfica, histórica e linguística. 
A maioria dos cristãos acostumou-se a ler a Bíblia como um texto muito 
familiar, que perpassa, por vezes, a sua formação religiosa cristã. Existe a tentação 
infundada, mas compreensível, de se pensar que a Bíblia é um texto absolutamente 
familiar a nós, em nossa cultura. Porém, ela não é!
Os diferentes contextos que geram o texto bíblico, isto é, o seu sitz im 
leben, são muito distintos dos nossos. A Bíblia é escrita em línguas diferentes 
da nossa, por pessoas com hábitos culturais e religiosos muito diferentes dos 
nossos. A organização social, a estrutura familiar, os grupos religiosos e o cenário 
político internacional em que os textos bíblicos vão sendo produzidos incidem 
diretamente neles. A Bíblia reflete de muitos modos esses contextos.
A Hermenêutica Bíblica tem como um de seus pressupostos importantes 
a convicção de que o conhecimento desses contextos é fundamental para a 
compreensão da Bíblia. E nisso haverão de concordar exegetas de diferentes 
tradições teológicas e hermenêuticas. É esse conhecimento do sitz im leben da 
Bíblia que permitirá a melhor compreensão de fragmentos textuais, perícopes 
inteiras e, claro, livros completos das Escrituras.
TÓPICO 1 — 
O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL
A expressão sitz im leben é alemã e é muito utilizada em Exegese bíblica para 
indicar o “lugar na vida” que dá origem aos textos bíblicos. Noutras palavras: essa expressão 
indica os diferentes contextos sociais, culturais, familiares, religiosos e políticos em que 
viveram os autores bíblicos, e sinaliza, ainda, para a influência desses ambientes no próprio 
texto bíblico.
INTERESSA
NTE
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
114
Essa expressão alemã, sitz im leben, significa basicamente “lugar da vida”, 
ou “lugar vivencial”. Tem sido usada na Exegese para indicar o mundo em que 
a Bíblia surge. Todavia, uma questão fundamental que precisa ser considerada é 
a seguinte: não se pode falar de um único mundo em que a Bíblia (Figura 1) se 
origina, mas, sim, vários.
FIGURA 1 – BÍBLIA
FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2721/search/117>. Acesso em: 8 ago. 2021.
O que ocorre é que o conjunto total dos 66 livros que compõem o cânon 
bíblico demorou vários séculos para ser completado. A Bíblia não é resultado de 
um projeto editorial que objetivava produzi-la tal como a conhecemos hoje. A 
posição mais ortodoxa defende que foram demandados cerca de 1.600 anos para 
que os 39 livros do Antigo Testamento e os 27 do Novo fossem todos escritos, 
mas a posição mais alinhada com o Método Histórico-Crítico permite concluir 
um período menor, de mil anos aproximadamente. Essa, naturalmente, é uma 
estimativa aproximada.
Seja como for, fato é que muita coisa acontece numa janela de tempo tão 
extensa assim, seja em nível nacional, seja em nível internacional. As mudanças 
são profundas. Por exemplo, o mundo na época da escrita do livro de Daniel 
(admitindo-se o século VI a.C. como data provável) tinha, inicialmente, o Império 
Babilônico como a grande potência mundial e o aramaico como língua franca 
no Oriente Médio. No primeiro século da Era Cristã, a potência agora era outra, 
o Império Romano, e a língua franca era o grego koiné, falado não apenas no 
contexto palestino, mas no contexto de todo o Império.
Se voltarmos mais ainda no tempo, ao período patriarcal, teremos um 
cenário ainda mais diferente. O famoso Código de Hamurábi, inscrito numa 
estela (um tipo de rocha trabalhada) e em outros documentos, reflete muito do 
estilo de vida dessas sociedades do segundo milênio a.C. Esse documento leva 
o nome de Hamurábi, que foi o sexto rei da Babilônia (COZZER, vol. 1, 2020, p. 
332). No referido código, pode-se ler: “Se alguém roubar gado ou ovelhas, ou 
uma cabra, ou asno, ou porco, se este animal pertencer a um deus ou à corte, o 
TÓPICO 1 — O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL
115
ladrão deverá pagar trinta vezes o valor do furto”. O mesmo trecho prossegue 
afirmando o seguinte: “se tais bens pertencerem a um homem libertado que serve 
ao rei, este alguém deverá pagar 10 vezes o valor do furto, e se o ladrão não tiver 
com o que pagar seu furto, então ele deverá ser condenado à morte” (Código de 
Hamurábi).
O fragmento acima permite perceber que a economia da época era, ainda, 
medida em animais, além do uso de ouro e prata. Esse cenário é bem diferente do 
de Jesus e de seus discípulos. Tanto a geopolítica como as condições socioculturais 
do Oriente Médio haviam mudado de modo significativo, ainda que não se possa 
falar de grandes avanços tecnológicos. E dos tempos bíblicos aos dias de hoje, as 
mudanças que ocorreram foram profundas em diversos aspectos. 
Essas mudanças naturalmente abrem um abismo enorme entre o mundo 
bíblico e o nosso, entre os códigos comunicacionais do universo bíblico e os 
nossos. Fazer esse caminho de volta buscando entender esses distintos contextos 
coloca-se, portanto, como uma tarefa imprescindível da Hermenêutica Bíblica, 
bem como da Exegese, cada qual ao seu modo. 
As palavras no texto bíblico podem ser entendidas como “eventos” 
históricos, justamente porque entende-se que elas emergemde cenários históricos. 
E nesses cenários elas podem ter significados diferentes daqueles que elas 
assumem para nós, hoje. Esse fato histórico-linguístico não é apenas de âmbito 
semântico, mas vivencial, histórico, social, político e religioso.
Logo, interpretar implica, também, resgatar o sentido de um texto em seu 
ambiente geracional. A história precede a palavra, e as palavras são o registro de 
eventos concretos que envolveram pessoas em situações históricas. E isso vale 
mesmo para textos não narrativos, uma vez que aquele que escreve um texto, 
seja esse texto de qualquer natureza (narrativo, prosódico, poético, epistolar etc.), 
envolve elementos do cotidiano de quem escreve e das pessoas mencionadas no 
texto. E com a Bíblia isso não é diferente.
Nos subtópicos seguintes refletiremos sobre os distanciamentos em 
Hermenêutica. Podemos ser tentados a considerar a questão dos distanciamentos 
sempre de modo negativo. Todavia, os distanciamentos são fundamentais. Devem 
ser considerados não apenas em termos de dificuldades para a compreensão do 
texto bíblico, mas, também, como distinguidores de realidades muito diferentes 
das nossas. Isso permite que compreendamos nosso próprio contexto e percebamos 
os limites necessários na aplicação da mensagem bíblica à nossa própria vida. 
Com efeito, essa aplicação precisa ser não apenas piedosa e orientada por um 
desejo sincero de conformar a própria vida ao Evangelho, mas deve ser, também, 
responsável e pautar-se pela honestidade intelectual em relação ao texto bíblico. 
Vejamos, então, o que são os distanciamentos e a sua importância.
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
116
2 O QUE SÃO OS DISTANCIAMENTOS EM HERMENÊUTICA
Os distanciamentos bíblicos ou distanciamentos em Hermenêutica Bíblica 
são aquelas diferenças existentes entre o contexto do leitor contemporâneo da 
Bíblia e o contexto ou dos contextos dos quais emerge o texto bíblico. Esses 
distanciamentos são de diversas naturezas. 
O seu estudo é necessário para que se possa compreender melhor as 
passagens da Bíblia, uma vez que o texto bíblico carrega em si aspectos da vida, do 
estilo de sociedade, elementos religiosos e outros aspectos daqueles povos dentre 
os quais os textos bíblicos foram produzidos. Esses distanciamentos demarcam 
diferenças profundas entre o mundo bíblico e o mundo contemporâneo e por isso 
mesmo precisam ser cuidadosamente estudados.
A Crítica Textual é uma ciência dedicada a estudar os manuscritos bíblicos, 
catalogando-os e comparando-os, a fim de identificar um texto que possa ser 
entendido como primordial. De certo modo, esse trabalho indaga a respeito da 
“[...] fidelidade desses textos. Se mesmo hoje, com todo o avanço da tecnologia de 
impressão e digitalização, acontece de um texto original não ser transmitido de 
maneira fiel, o que dizer dos tempos anteriores à prensa de Gutenberg, onde os 
documentos eram feitos manualmente?” (COZZER, vol. 1, 2020, p. 352). 
FIGURA 2 – FIGURA REPRESENTATIVA DA PRENSA DE GUTENBERG, DO SÉCULO XV
FONTE: <https://shutr.bz/2YyLMy4>. Acesso em 14 ago. 2021.
Esse esforço para “recuperar o original” evidencia os distanciamentos 
que há entre nós e o texto bíblico, “[...] assim, num certo sentido, os críticos 
textuais trabalham justamente para ‘recuperar o original’ e diminuir esses 
distanciamentos, possibilitando ao leitor contemporâneo, séculos depois da 
produção dos autógrafos, ler o que o autor original de fato quis comunicar” 
(COZZER, vol. 1, 2020, p. 352).
TÓPICO 1 — O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL
117
Nas Escrituras, encontra-se vários tipos de distanciamentos. Augustus 
Nicodemus Lopes (2013) indica diversos distanciamentos: o temporal, contextual, 
cultural, linguístico, autoral, natural, espiritual e moral. Esses distanciamentos 
podem ser entendidos assim:
• Distanciamento temporal: o leitor contemporâneo distante da Bíblia em 
termos de tempo. Em outras palavras, os 66 livros bíblicos foram escritos há 
muito tempo. O último livro do cânone bíblico a ser escrito foi o Apocalipse, 
tradicionalmente aceito como tendo sido redigido por volta do ano 96 d.C. Os 
livros do Antigo Testamento estão, naturalmente, ainda mais distantes de nós 
no tempo e tal fato coloca determinadas dificuldades para a interpretação.
• Distanciamento contextual: as circunstâncias que envolveram a produção do 
texto escriturístico estão perdidas no tempo. Algumas dessas circunstâncias 
são perceptíveis, ao menos em parte, ao passo que muitas outras não. Fato é 
que os contextos em que viveram os autores bíblicos são fundamentalmente 
diferentes dos nossos contextos hoje.
• Distanciamento cultural: a Bíblia foi escrita em uma cultura muito diferente 
das contemporâneas. Na verdade, pode-se falar de culturas, no plural, 
haja vista que a Bíblia foi escrita ao longo de um período muito extenso e 
naturalmente culturas extinguiram-se e surgiram. As diferenças culturais 
entre o universo bíblico e o nosso são muito sensíveis. E quando não são 
consideradas, isso pode dar lugar a más interpretações de perícopes bíblicas 
ou mesmo de unidades textuais menores.
• Distanciamento linguístico: as línguas bíblicas já não são mais existentes. Elas 
não existem no sentido de que deixaram de existir tal como eram nos tempos 
em que os livros bíblicos foram escritos. Hoje se fala de “hebraico bíblico” 
e “grego bíblico”, mas a forma como esses idiomas se achavam quando os 
textos bíblicos foram escritos já não existe mais. Essas línguas, assim como 
outras, mudaram substancialmente ao longo desse período que nos separa 
do tempo em que esses textos foram produzidos. E esse distanciamento se 
define não apenas por este fato, mas porque os textos hebraico e grego de 
que dispomos hoje, em seus milhares de manuscritos, e que servem de base 
para as diversas traduções existentes, são bem diferentes do nosso idioma, o 
português, inclusive na grafia. 
• Distanciamento autoral: o leitor contemporâneo está distante dos autores 
bíblicos. (LOPES, 2013). Esses sujeitos históricos tiveram suas vivências, em 
contextos históricos, sociais e religiosos, e essa experiência naturalmente 
influiu diretamente em seus textos. A busca pelo autor é um pressuposto 
fundamental em Hermenêutica Bíblica. Buscar o autor significa identificar 
um estilo literário, peculiaridades teológicas daquele dado autor e perceber 
como as suas vivências contribuíram para o texto que ele entregou.
O trabalho hermenêutico consiste, em grande medida, no esforço para 
diminuir esses distanciamentos sem anulá-los, tendo em vista a sua importância. 
Procura-se, com isso, aproximar-se o máximo e melhor possível ao que o autor 
original quis, de fato, comunicar. Para a Igreja, esse interesse não é apenas de 
natureza literária, mas, também, devocional e ética, uma vez que ela recebe a 
Bíblia como livro que orienta sua vida, fé e prática. 
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
118
A Igreja procura viver o evangelho que se encontra registrado nas 
Escrituras. E o correto entendimento do Evangelho, com seus diferentes aspectos, 
coloca-se, assim, como uma tarefa fundamental e fundante da própria vida de 
fé, no seguimento de Cristo. Como se pode notar, a Hermenêutica se estabelece 
como uma disciplina essencial à Teologia e à vida da Igreja. 
Temos nos referido à Hermenêutica, seja por escrito ou verbalmente, em 
palestras e aulas, como uma “disciplina de base” para a Igreja. E tem-se defendido 
ainda a sua transposição didática para a vida das comunidades de fé, uma vez 
que muito do que fazemos enquanto igreja depende diretamente do texto bíblico. 
Nossas músicas, liturgias de culto, pregações e programas de ensino com seus 
conteúdos emanam na interpretação que fazemos do texto bíblico, seja ela certa ou 
errada. O reino de Deus, para ser estabelecido entre nós, precisa partir da correta 
interpretação da mensagem de Deus contida em sua Palavra escrita. Isto mostra 
a importância de uma disciplina teológica dedicada a ajudar na compreensão 
adequada da Bíblia.Na Bíblia, especialmente no livro de Isaías, a ideia de Deus retornando 
para reinar com seu povo é muito forte. Christopher J. H. Wright (2012), no 
entanto, comenta que a ideia de Deus retornando ou da promessa de Deus 
retornar para estar com seu povo, não é exclusiva do livro de Isaías, mas que 
este “[...] é um tema encontrado em vários momentos, principalmente no período 
pós-exílio, quando ainda havia a sensação de que, embora o templo houvesse 
sido reconstruído, o próprio Deus nunca havia realmente posto um fim no exílio, 
retornando ao seu templo e mantendo todas as grandiosas promessas proféticas” 
(WRIGHT, 2012, p. 223). Wright prossegue, citando John Dickson, que por sua 
vez afirma o seguinte: 
No cerne da mensagem do evangelho (no Antigo e Novo Testamentos) 
está a ideia do governo de Deus como rei, em outras palavras, a de seu 
reino. Quando os primeiros cristãos proclamaram esse evangelho do 
Algo muito importante e fundamental que precisa aqui ser destacado é a 
respeito da importância fundamental dos teólogos para a Igreja do Senhor. Um fato curioso, 
mas muito real e não tão comentado pelas pessoas, é que teólogos também sofrem 
com o preconceito das pessoas, nas igrejas. Ainda, ouve-se expressões como “A Teologia 
esfria o crente”, “Todo teólogo é frio”, “Teologia demais afasta as pessoas de Deus”, dentre 
outros complexos de ignorância. No vídeo a seguir, é possível refletir justamente sobre 
o problema do preconceito contra teólogos. Convido você a assisti-lo e depois analisar 
sobre a necessidade de as igrejas investirem na Teologia e na formação de novos teólogos: 
COZZER, Roney R. O que eu fiz com a rejeição? | Preconceito contra teólogos. [Vídeo]. 
Disponível em: https://youtu.be/PIvJx-Nsf1E. Acesso em: 4 set. 2021.
ATENCAO
TÓPICO 1 — O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL
119
reino, eles não estavam copiando o “evangelho” do reinado romano; 
ao contrário, expunham o Império Romano como uma fraude. Era 
Deus, e não qualquer rei humano, quem governava sobre tudo. Esse é 
o tema central do evangelho cristão.
Qual é a ideia mais importante que norteia a nossa missão em 
relação ao mundo? [...] A resposta tem a ver com o monoteísmo (um 
só Deus) ou, mais precisamente, com o monoteísmo cristológico – o 
senhorio do único Deus verdadeiro por intermédio de seu Messias. 
[...] Simplificando e colocando isso em termos práticos, o objetivo da 
pregação do evangelho – e da divulgação do evangelho – é ajudar o 
nosso próximo a perceber o reinado e o senhorio de Deus sobre sua 
vida e a submeter-se a ele.
[No entanto] o evangelho cristão não só anuncia o conceito de que 
“Deus reina”, mas descreve exatamente como esse reinado foi 
revelado ao mundo [...]; o conteúdo central do evangelho é a obra do 
rei ungido de Deus, Jesus. Por meio de seu nascimento, seus milagres, 
seu ensino, sua morte e ressurreição, o reino de Deus foi manifesto (e 
será consumado mediante seu retorno). Falar o “evangelho”, portanto, 
envolve falar das obras do Messias Jesus (DICKSON, J. apud WRIGHT, 
2012, p. 224).
É interessante considerar esse aspecto do Evangelho, porque podemos 
perceber que ele possui uma implicação prática. Com isso está se afirmando que 
a mensagem de boas-novas em Cristo não é apenas assentida intelectualmente, 
mas experienciada na prática. Essa mensagem implica numa transformação ética 
e isso pode ser percebido por diversas expressões do Novo Testamento, em Jesus, 
em João Batista e em Paulo e nos demais apóstolos. Em Romanos 1.5, para citar 
um exemplo, pode-se ler o seguinte: “Por intermédio de quem [Jesus] viemos a 
receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre 
todos os gentios” (BÍBLIA, 1993). O apóstolo Tiago afirma que a fé sem as obras 
está morta (Tg. 1, 14-17) e convida seus leitores à prática da Palavra: “Tornai-
vos, pois, praticantes da Palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós 
mesmos” (Tg. 1, 22).
3 A IMPORTÂNCIA DOS DISTANCIAMENTOS
Os distanciamentos bíblicos são importantes por alguns fatores que 
precisamos considerar. Em primeiro lugar, pode-se mencionar o fato de que 
pelos distanciamentos percebe-se as particularidades do mundo bíblico. Se esses 
distanciamentos não forem considerados de algum modo, as pessoas são tentadas 
a pensar que os contextos bíblicos são idênticos aos nossos, quando isso não é 
verdade.
Outro fato que torna os distanciamentos muito importantes é que por eles 
somos levados a refletir sobre nossa própria realidade. Essa reflexão surge como 
que por contraste. Algo só pode ser diferente para nós se dispormos de um ponto 
de referência. Isso aparentemente é algo óbvio de se considerar, mas se trata de 
uma obviedade para a qual nem sempre atentamos. 
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
120
Nas diferentes comunidades de fé cristãs é muito comum que as pessoas 
leiam a Bíblia e simplesmente queiram reproduzir em sua própria realidade 
determinados hábitos e costumes que simplesmente não fazem sentido num 
contexto como o nosso. Um exemplo interessante a este respeito é a postura de 
muitas igrejas – ainda! – com relação à figura da mulher. Ainda convivemos com 
discursos de base machista e patriarcalista, derivados de textos bíblicos que são 
ambientados em culturas orientadas por esse viés, patriarcal, que se perderam no 
tempo. A discussão sobre pastorado feminino, por exemplo, muitas vezes traz à 
tona textos bíblicos para se defender a ideia de que a mulher não pode ser pastora 
porque não há base bíblica. Todavia, em muitas denominações que se orientam 
por esse argumento recorrente é sempre comum que a mulher desenvolva uma 
série de atividades de diferentes naturezas: elas lideram setores menores da 
igreja local e mesmo setores maiores, dirigem corais e grupos, ensinam, pregam, 
plantam igrejas, são missionárias, limpam banheiros, cuidam da cozinha e das 
cantinas e para tudo isso não há qualquer tipo de entrave hermenêutico. Mas 
pastorear não podem porque “não é bíblico”... 
Como podemos perceber, pelo exemplo acima citado, a interpretação 
da Bíblia também é questão de coerência e honestidade intelectual. Ela precisa 
primar por princípios hermenêuticos sérios que contribuem diretamente para 
dar imparcialidade nessa interpretação do texto bíblico. É muito perigoso 
usar a Palavra de Deus para legitimar nossos dogmas, crenças e costumes. E 
esses distanciamentos evidenciam que nem sempre o que a Bíblia está de fato 
comunicando legitima esses dogmas, crenças e costumes. Em alguns momentos, 
um pastor sério, e um estudioso sério das Escrituras, legitimarão sim esses dogmas, 
crenças e costumes, mas por outras vias, e não pela violência e truculência com o 
texto bíblico a fim de ajustá-lo para atender a interesses de natureza dogmático-
religiosa.
Tomando-se como exemplo o distanciamento linguístico, o fato 
anteriormente mencionado fica bem claro. As línguas bíblicas são diferentes 
do idioma português em diversos aspectos: grafia, sintaxe, morfologia etc. O 
conhecimento dessas línguas ajuda muito na melhor compreensão da mensagem 
bíblica. Porém, o conhecimento de outro idioma depende do conhecimento do 
idioma vernacular e deve-se partir dele. Esse idioma vernacular servirá de aporte 
e referencial para o conhecimento de outra língua. E disso decorre, também, a 
importância de se valorizar o próprio idioma.
TÓPICO 1 — O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL
121
FONTE: <https://shutr.bz/3oMPT4L>. Acesso em: 14 ago. 2021.
Um resultado muito positivo de se reduzir os distanciamentos pode ser 
o de inviabilizar determinados modos de interpretação bíblica que deturpam o 
sentido real do texto bíblico, como o método alegórico. A fim de exemplificar esse 
modo de interpretação do texto bíblico, considere a interpretação que Orígenes 
faz da passagem bíblica da parábola do Bom Samaritano:
O homem que caiu entre os ladrões é Adão. Como Jerusalém representa 
o céu, assim também Jericó, para onde se dirigia o viajante, representa 
o mundo. Os dois ladrões são osinimigos do homem, o Diabo e seus 
serviçais. O sacerdote representa a lei, e os levitas representam os 
profetas. O bom samaritano é o próprio Cristo. O animal sobre o qual 
o homem ferido foi colocado é o corpo de Cristo que carrega o Adão 
caído. A hospedaria é a Igreja; as duas moedas, o Pai e o Filho; e a 
promessa do samaritano de voltar outra vez é o segundo advento de 
Cristo (PFEIFFER. HOWARD. REA, 2007, p. 1458).
A despeito de parecer, a princípio, um arranjo bem feito, o fato é que 
essa é uma interpretação equivocada de um texto bíblico. Outros teólogos 
como Agostinho e Tertuliano também praticaram esse tipo de interpretação 
das Escrituras, mas houve outros que rejeitaram a alegorização como forma de 
interpretação bíblica. Foi o caso dos patriarcas da cidade de Antioquia. Mas o fato é 
que a alegorização prevaleceu durante muito tempo (PFEIFFER; HOWARD; REA, 
2007). Obviamente, essa forma de compreender o Antigo e o Novo Testamentos 
haveria de refletir, também, na pregação. 
Durante a Reforma foram feitos significativos progressos nos estudos 
bíblicos, que refletiram no entendimento e na interpretação das 
parábolas. Assim, as alegorias foram, de forma geral, rejeitadas.
Se Lutero e Calvino erraram em sua interpretação das parábolas, isso 
se deve apenas à sua ansiedade de encontrar “A Doutrina da Reforma” 
em todas as partes das Escrituras, inclusive nas parábolas de Jesus 
(PFEIFFER; HOWARD; REA, 2007, p. 1458).
FIGURA 3 – O ALFABETO HEBRAICO
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
122
Pode-se afirmar que esse modo alegorizante de interpretar e pregar as 
Escrituras, estabelecida por Orígenes, durou então até praticamente o período da 
Reforma Protestante. Houve renovação na pregação, mesmo antes da Reforma, 
no século XVI, despertando grande interesse nas pessoas para ouvir sermões, 
como no século XI e no século XIII, quando a pregação medieval prosperou, 
com a ajuda das ordens religiosas dos Dominicanos e dos Franciscanos, as duas 
fundadas como ordens homiléticas, isto é, voltadas à pregação. Todavia, foi 
durante a Reforma que o modo de interpretar as Escrituras mudou, de fato, e de 
modo significativo.
E por que a redução dos distanciamentos inibe, de certo modo, 
interpretações absurdas da Bíblia como no exemplo aqui citado? O que ocorre 
é que a percepção desses distanciamentos aproxima mais o intérprete do que de 
fato a Bíblia está dizendo, pois essa redução o aproxima mais do sentido original 
do texto bíblico e que não cabe nas passagens espiritualização a todo custo e 
alegorização.
Grandes nomes utilizavam a alegorização como método interpretativo das 
Escrituras, como Orígenes (185-253/254 d.C., aproximadamente), que foi discípulo 
de Clemente. Também Agostinho, que introduziu elementos importantes para a 
interpretação bíblica, mas não deixou de orientar-se pelo método alegórico. Ele 
valorizava o sentido literal e histórico das Escrituras, mas não deixou de operar 
pelo método alegórico.
Orígenes, seguindo o método alegórico de Filo de Alexandria, buscou dar 
ao método uma fundamentação bíblica. Ele declarou que as Escrituras possuíam 
um sentido triplo: o corpóreo ou carnal, físico e espiritual. Carne corresponderia 
ao sentido mais óbvio do texto; o sentido físico indicava o entendimento num 
nível intermediário e, por fim, o sentido espiritual, que corresponderia a um nível 
mais profundo de compreensão. Para captar essa compreensão mais profunda 
(espiritual), seria necessária a anagoge (palavra que significa “ascendente”), 
método que consistia em ascender a alma do nível da carne para o nível espiritual.
Não se pretende aqui desvalorizar a leitura da Bíblia como leitura 
devocional e teológica. Reconhece-se a necessidade e importância de valorizar 
a Bíblia como leitura devocional e teológica, tendo nisso um dos motivos para o 
estudo contínuo da Bíblia Sagrada. Nessa esteira, reflitamos sobre o problema de 
se considerar a Bíblia unicamente em termos científicos:
Aqui está um ponto muito importante que deve ser considerado 
por acadêmicos de Teologia que por vezes podem ser tentados a 
encarar a Bíblia apenas sob uma perspectiva científica, na medida em 
que vão tendo contato com diferentes perspectivas metodológicas e 
hermenêuticas quanto ao texto bíblico, ignorando assim o aspecto 
teológico e devocional da leitura bíblica. Mais do que analisar a 
Bíblia usando ferramentas exegéticas e as diversas críticas do Método 
Histórico-Crítico, deve o acadêmico de Teologia reconhecer que o 
uso desses recursos poderá ser posto como apoio para o melhor 
entendimento da Bíblia e sua consequente aplicação como Palavra 
TÓPICO 1 — O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL
123
FONTE: <https://shutr.bz/3v03mHr>. Acesso em: 15 ago. 2021.
4 COMO DIMINUIR OS DISTANCIAMENTOS
A diminuição dos distanciamentos se dá pela aplicação dos princípios 
científicos de interpretação da Bíblia oferecidos pela Hermenêutica e pela 
utilização de ferramentas de pesquisa hermenêutica, como dicionários bíblicos, 
léxicos, comentários bíblicos, dicionários de língua portuguesa, dicionários 
teológicos e atlas bíblico. Podem ser mencionados, ainda, os recursos digitais, 
hoje amplamente utilizados.
Ainda que se reconheça neste trabalho que a interpretação bíblica é arte 
e não apenas um ato de natureza científica, não se deixa de reconhecer que 
uma interpretação do texto bíblico ancorada apenas em aspectos psicológicos e 
emocionais pode ser prejudicial ao real significado do texto.
de Deus para a vida. O aspecto devocional da Bíblia não precisa ser 
negligenciado mediante o uso de recursos técnicos para o melhor 
entendimento das Escrituras. Noutras palavras, a Exegese não deve 
jamais suprimir a leitura teológica das Escrituras. James I. Packer, 
conhecido teólogo inglês, afirma o seguinte a respeito da leitura 
teológica da Bíblia: “Ler a Bíblia “teologicamente” significa lê-la com o 
foco em Deus: seu ser, seu caráter, suas palavras e obras, seu propósito, 
sua presença, seu poder, suas promessas e seus preceitos” (PACKER, J. 
I. in: GRUDEM; COLLINS; SCHREINER, 2013, p. 29).
Esse modo de leitura da Bíblia precisa ser respeitado pela Academia 
teológica e pelos exegetas profissionais, uma vez que vem, ao longo de gerações, 
alimentando a fé e a práxis de inúmeras comunidades de fé. O estudo dos 
distanciamentos pode, em certo grau, contribuir para o aprofundamento dessa 
leitura, afinal, Deus revelou-se na História dos homens e das mulheres que com 
Ele se relacionaram e cujas histórias encontram registradas na Bíblia. Com efeito, 
a história precede a Palavra.
FIGURA 4 – LENDO A BÍBLIA 
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
124
Ainda que se reconheçam os diversos distanciamentos que separam 
o intérprete atual do autor do texto bíblico, ainda sim essa distância 
pode ser diminuída por meio do esforço para se aperceber do 
conteúdo presente naquela dada mensagem bíblica. Mas aqui se nota a 
necessidade dos recursos científicos da Hermenêutica, uma vez que o 
olhar pelo viés artístico pode ser embaçado pela sobrecarga de emoção 
que se pode extrair da leitura do texto. Não por acaso Deus proveu o 
homem de razão e emoção, mente e coração. É a complementaridade 
entre a frieza da ciência e o calor da arte que contribuirão diretamente 
para que se chegue ao sentido do texto bíblico. A visão artística 
impede que se ignore o elemento estético presente na Bíblia, ao passo 
que a visão científica não permite que se construam interpretações 
equivocadas baseadas unicamente em símbolos estilísticos (COZZER, 
vol. 1, 2020, p. 488).
Como se pode depreender do texto citado, o trabalho interpretativo do 
texto bíblico requer a conjugação de fatores diversos, como considerar o aspecto 
artístico e científico da Bíblia. Na medida em que essas diferentes variáveis vão 
sendo levadas em conta, o texto bíblico vai sendo “descortinado” para o leitor 
contemporâneo. Diminuir os distanciamentos, portanto, é essencial e constitui 
uma tarefa essencialmente hermenêutica. 
FIGURA5 – CONJUGAÇÃO DE FATORES
FONTE: <https://shutr.bz/2YHMSrK>. Acesso em: 13 ago. 2021.
Tal pressuposto, contudo, não significa, irrestritamente, que a descoberta 
do significado pretendido pelo autor seja sempre possível. Ao lidar com a Bíblia, 
lida-se com um texto milenar, que passou por muitas edições e releituras no decurso 
de todo esse tempo. Todavia, também não se pode, irrestritamente, concluir que 
não esteja ali um núcleo central de uma mensagem que foi comunicada pelo autor. 
E o esforço da Hermenêutica e da Exegese bíblicas é justamente aproximar-se o 
máximo possível, e de modo responsável, desse sentido pretendido.
O fato de que o texto “perde-se do autor” quando sai de sua mão é 
reconhecido por importantes teólogos e filósofos. Mais adiante será mencionado 
o trabalho do filósofo francês Paul Ricoeur, que contribuiu no sentido de 
demonstrar que o texto escapa ao autor, podendo seu sentido, inclusive, sobrepor-
TÓPICO 1 — O ABISMO CULTURAL, LITERÁRIO E GRAMATICAL
125
se ao sentido pretendido pelo autor quando assumido pelo leitor. Para falar como 
Ricoeur, “o que o texto significa agora é mais importante do que a intenção do 
autor quando escreveu” (RICOEUR apud SILVA; KAISER, 2002). 
Um fator importante para auxiliar na redução dos distanciamentos é o 
estudo da própria história da interpretação bíblica. Com efeito, as Ciências Sociais, 
como também as Ciências Humanas de modo geral, dialogam diretamente com 
a Hermenêutica e tem nela um caminho metodológico, de certo modo, para 
produzir seu conhecimento. Com efeito, já foi proposto que a Hermenêutica 
nem deve ser uma disciplina, ou componente das Ciências Humanas, mas a 
própria intérprete das Ciências Humanas. Naturalmente, esta Hermenêutica que 
opera nessa relação com as Ciências não é a Bíblica, mas a filosófica, ainda que a 
Hermenêutica Bíblica esteja dentro do amplo campo das Ciências Humanas.
Outra razão importante para estudar a história da interpretação é que 
“um conhecimento da história da interpretação pode ser uma das proteções 
mais eficazes contra o erro interpretativo” (SILVA; KAISER, 2002, p. 202). Essa 
visão panorâmica sobre o desenvolvimento histórico da interpretação possibilita, 
também, notar a evolução e o avanço na compreensão do texto bíblico. Nesse 
esforço, determinadas convicções são reforçadas e reafirmadas ao longo do 
tempo, ao passo que outras são abandonadas e algumas relativizadas. 
Não se deve deixar de mencionar que os autores do Antigo Testamento, 
bem antes do primeiro século, utilizam outros textos antigotestamentários. E, 
claro, deve-se considerar também a tradição oral, que precede a tradição escrita. 
Num certo sentido, a tradição escrita é resultado da tradição oral. Com efeito, 
como diria o filósofo francês Paul Ricoeur, a história precede a palavra.
126
 Neste tópico, você aprendeu que:
• Existe um “abismo” entre o leitor contemporâneo e o texto bíblico e que esse 
abismo pode dificultar de modo substancial a correta interpretação da Bíblia.
• A Bíblia é um conjunto de textos que foram produzidos em contextos 
diferentes dos nossos, e que esses contextos vivenciais são chamados de Sitz 
im leben, o “lugar na vida” dos autores bíblicos, que reflete diretamente no 
texto bíblico.
• Há diversos tipos de distanciamentos, como o cultural, o linguístico, 
histórico, religioso e outros; esses distanciamentos precisam ser identificados, 
considerados e diminuídos pela aplicação de princípios interpretativos 
oferecidos pela Hermenêutica. 
• Os distanciamentos são fundamentais no estudo da Bíblia, pois eles permitem 
que se note as especificidades do texto bíblico, suas particularidades, bem 
como os diferentes ambientes geracionais desse rico texto.
RESUMO DO TÓPICO 1
127
1 A maioria dos cristãos condicionou-se a ler as Escrituras como um texto 
que lhe é absolutamente familiar. A Bíblia, em diferentes tradições cristãs, 
tornou-se um texto-base para a formação religiosa e humana das pessoas. 
Todavia, há distanciamentos profundos entre ela e o leitor contemporâneo, 
ocidental e que vive no século 21. Sobre esses distanciamentos, assinale a 
alternativa CORRETA:
a) ( ) Esses distanciamentos podem ser diminuídos e devem ser encarados 
como sendo de muita importância para a interpretação do texto bíblico.
b) ( ) Esses distanciamentos podem ser ignorados pelo leitor e devem ser 
encarados como sendo de muita importância para a interpretação do 
texto bíblico.
c) ( ) Esses distanciamentos não podem ser diminuídos, uma vez que a 
Bíblia é um texto muito antigo, distante de nós muitos séculos.
d) ( ) A diminuição desses distanciamentos pode comprometer o significado 
real do texto bíblico. Cabe ao hermeneuta não buscar, assim, superá-
los.
2 Os distanciamentos bíblicos são aquelas diferenças que existem entre os 
contextos bíblicos e os contextos que envolvem o leitor contemporâneo 
da Bíblia. Esses distanciamentos podem ser de natureza cultural, social, 
religiosa, linguística, dentre outras. Com base na compreensão de que os 
distanciamentos são importantes para a interpretação bíblica, analise as 
sentenças a seguir:
I- Os distanciamentos bíblicos devem ser diminuídos pela aplicação de 
princípios hermenêuticos, mas não ignorados.
II- Os distanciamentos bíblicos acabam por evidenciar a grande semelhança 
existente entre os contextos bíblicos e o nosso, apesar das pequenas 
diferenças.
III- Os distanciamentos bíblicos, quando não considerados, comprometem 
uma compreensão mais responsável do texto bíblico.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
AUTOATIVIDADE
128
3 A interpretação da Bíblia não consiste apenas na utilização de princípios 
científicos do campo da Hermenêutica. Ela é, também, um esforço artístico, 
no sentido de que exige do intérprete sensibilidade para compreender 
determinadas passagens bíblicas. Considerando esse fato, classifique com 
V para as sentenças verdadeiras e com F para as falsas:
( ) A interpretação ancorada apenas em aspectos psicológicos e emocionais 
compromete o adequado entendimento da mensagem bíblica.
( ) A interpretação ancorada apenas em aspectos científicos compromete o 
adequado entendimento da mensagem bíblica.
( ) A interpretação é, em essência, um esforço científico e apenas isto.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
4 Os distanciamentos bíblicos são aquelas diferenças existentes entre o leitor 
contemporâneo da Bíblia e o texto bíblico com seus diferentes aspectos, 
isto é, os aspectos que ele reflete. Esses aspectos são culturais, religiosos, 
sociais etc. Disserte a respeito de como esses distanciamentos podem ser 
importantes para a tarefa de interpretação do texto bíblico se eles contribuem 
para separar o leitor do texto bíblico.
5 Conquanto sejam, reconhecidamente, muito importantes para a 
interpretação bíblica, isto não significa dizer que eles não representem 
desafios à tarefa interpretativa das Escrituras. Considerando esse fato 
a respeito dos distanciamentos, disserte sobre como eles podem ser 
diminuídos.
129
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste tópico, levaremos em conta as figuras de 
linguagem presentes no texto bíblico. É claro: não será possível abordar esse 
assunto tão rico de maneira exaustiva, dada a sua extensão, mas será apresentada 
uma descrição útil e que lhe instrumentará para poder reconhecer a importância 
desses recursos literários e identificá-los no texto bíblico.
O entendimento do que são as figuras de linguagem e, em especial, em 
relação à Bíblia, é muito importante para a Hermenêutica bíblica. A ignorância a 
respeito desse assunto pode dar lugar a interpretações equivocadas de passagens 
das Escrituras. E, ainda: deve-se considerar também as suas especificidades.Conquanto figuras de linguagem sejam comuns aos diferentes idiomas, na Bíblia 
elas estão em uso conectadas ou inseridas em seu ambiente geracional (sitz im 
leben), ao que se deve dar atenção.
O Professor de Literatura Inglesa da Universidade de Glasgow, W. 
McNeile Dixon, faz um interessante comentário a respeito da beleza das figuras 
de linguagem que vale muito considerar aqui: 
Se me perguntassem qual foi a maior força utilizada na formação da 
história [...] eu responderia [...] a linguagem figurada. Os homens 
vivem pela imaginação; a imaginação governa nossas vidas. A mente 
humana não é um foro de debates, como querem os filósofos, mas sim 
uma galeria de arte [...] Elimine as metáforas (ou seja, a linguagem 
figurada) da Bíblia e seu espírito vivo se dissipará [...] Os profetas, os 
poetas, os líderes são todos mestres da metáfora, e com ela cativam a 
alma humana (W. McNeile, DIXON apud: ZUCK, 1994, p. 167).
O texto de McNeile evidencia a importância e a riqueza desse assunto. 
Zuck (1994, p. 167) comenta, ainda, que a “[...] Bíblia contém centenas de figuras 
de linguagem. E. W. Bulinger agrupou as figuras de linguagem da Bíblia em mais 
de 200 categorias e forneceu 8000 exemplos bíblicos, sendo que o sumário ocupou 
28 páginas para relacionar as 200 categorias”. Essa enorme presença das figuras 
de linguagem nas Escrituras justifica um estudo específico, em Hermenêutica, a 
respeito delas.
TÓPICO 2 — 
AS FIGURAS DE LINGUAGEM
130
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
2 O QUE SÃO AS FIGURAS DE LINGUAGEM NA BÍBLIA
Neste subtópico, discorreremos sobre o que são as figuras de linguagem 
e sua importância para a interpretação bíblica. As figuras de linguagem são 
“[...] recursos linguísticos empregados pelo literato para expressar de modo 
concreto suas ideias, evocando algum tipo de imagem real, comparação, ou 
de correspondência entre as palavras e pensamento” (BENTHO, 2005, p. 307). 
Segundo Roy B. Zuck, elas são “[...] formas literárias em que os autores põem 
de lado intencionalmente determinadas regras gramaticais” (ZUCK, 1994, p. 
167-168). As figuras de linguagem também são utilizadas para embelezar e dar 
vivacidade ao texto:
À guisa de exemplo, e com vistas a tornar prático o que se pretende 
aqui comunicar, pode ser citado o caso do uso da poesia no Antigo 
Testamento, que é recorrente e está também para fora dos limites 
dos “livros poéticos”, propriamente ditos. Os textos poéticos 
veterotestamentários são de uma beleza ímpar, mas encerram 
por vezes estruturas literárias complexas e empregam figuras de 
linguagem que dão vivacidade ao texto de uma forma deslumbrante, 
como no caso de onomatopéias e apóstrofes. Em Jó 9.26, por exemplo, 
encontra-se o exemplo de uma onomatopéia onde o som de um verbo 
hebraico presente na frase imita o som da águia (ou falcão peregrino) 
no momento em que se lança sobre a presa a uma elevada velocidade 
(COZZER, vol. 1, 2020, p. 488).
FIGURA 6 – FIGURAS DE LINGUAGEM
FONTE: <https://shutr.bz/3oVvSJd>. Acesso em 16 ago. 2021.
As figuras de linguagem podem ser entendidas como recursos literários, 
já que suas finalidades são variadas. Elas não têm apenas uma finalidade estética, 
mas funcional também. Como elemento comum às diversas línguas humanas, 
elas estão presentes, naturalmente, não apenas na literatura, mas, também, em 
nosso cotidiano, em nosso idioma, o português. Quem nunca ouviu as expressões 
a seguir?
• “A chaleira está fervendo”.
• “O carro passou voando”.
TÓPICO 2 — AS FIGURAS DE LINGUAGEM
131
• “Está chovendo canivetes”.
• “Morri de rir”.
Note-se já de partida que tentar interpretar figuras de linguagem de modo 
literal constitui um erro grave. Elas fogem ao sentido literal e operam no campo 
do figurativo, como se pode perceber nos exemplos acima. Sobre esse cuidado na 
interpretação de figuras de linguagem, considere a explicação a seguir:
As figuras de linguagem são muito abundantes e quando são 
conhecidas pelo leitor da Bíblia, esse conhecimento será essencial para 
a correta compreensão de passagens bíblicas e para se evitar alguns 
erros comuns na interpretação bíblica. Um exemplo bem popular de 
um erro dessa natureza é o esforço que muitos fazem para identificar 
o camelo e a agulha, mencionados por Jesus em Marcos 10.25. 
Guardando-se as devidas proporções, querer identificar na História 
bíblica o que seria a agulha e o camelo é como querer explicar em 
termos literais o sentido da frase “está chovendo canivetes”. 
O que ocorre é que em Marcos 10.25 encontra-se o uso de uma figura 
de linguagem chamada hipérbole, que consiste do exagero ou da 
diminuição de determinadas expressões com vistas a dar ênfase ao 
que se está procurando comunicar. Simplesmente não faz sentido 
tentar explicar em termos literais tal frase. Esse esforço simplesmente 
tiraria o efeito da hipérbole (COZZER, 2021, pp. 48-49).
FIGURA 7 – CAMELO
FONTE: <https://shutr.bz/3oR5oIN>. Acesso em: 14 ago. 2021.
Entender que as figuras de linguagem não devem ser interpretadas 
literalmente é muito importante para que o texto faça sentido e a interpretação 
não dê lugar a compreensões absurdas e que não são coerentes com o sentido do 
texto bíblico. A preocupação da Hermenêutica é sempre no sentido de elucidar 
o que o texto significa, e isso inclui compreender que mensagem ou ênfase nas 
figuras de linguagem na Bíblia dão a mensagem bíblica.
Uma pergunta importante que precisa ser feita aqui é a seguinte: por que a 
Bíblia usa figuras de linguagem? Bentho (2005) apresenta algumas das principais 
razões para o uso das figuras de linguagem pelos autores bíblicos:
132
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
• Elas acrescentam cor e vida (cf.: Sl., 18.2).
• Chamam a atenção (cf.: Fp., 3.2 e Tg., 3.6).
• Concretizam conceitos abstratos ou intelectuais.
• Ficam mais bem registradas na memória (cf.: Os., 4.16).
• Sintetizam uma ideia – Exemplo: o Salmo 23.
• Estimulam a reflexão. Considere os textos de Sl., 52.8 e Is., 1.8.
FIGURA 8 – CLASSIFICAÇÃO
FONTE: <https://shutr.bz/3lCiOGR>. Acesso em: 15 ago. 2021.
As figuras de linguagem também podem ser classificadas. Essa classificação 
auxilia na percepção dos diferentes tipos de figuras, bem como suas diferentes 
utilidades. Bentho (2005, p. 307) as classifica da seguinte maneira:
• Figuras de comparação: Símile e Metáfora.
• Figuras de dicção: Pleonasmo e Hipérbole.
• Figuras de relação: Sinédoque e Metonímia.
• Figuras de contraste: Ironia, Parábola, Litote e Eufemismo.
• Figuras de índole pessoal: Prosopopeia e apóstrofe.
É fundamental ao estudante da Bíblia a identificação das figuras de 
linguagem da Bíblia. Embora toda língua possua suas figuras de linguagem, 
no caso da Bíblia, essas figuras são específicas, até pelo fato de pertencerem aos 
idiomas bíblicos e estarem ambientadas em contextos históricos, sociais e culturais 
distantes do nosso. Se lidas sem que isso seja observado, parecerão literais e, em 
alguns momentos, até absurdas, fazendo com que se perca seu real sentido no 
contexto da passagem bíblica em que são usadas.
Antes de prosseguirmos analisando as diferentes categorias de figuras de 
linguagem, é importante destacar também a importância do estudo dos gêneros 
literários presentes na Bíblia. São dois assuntos que podem ser estudados dentro 
de um mesmo interesse na Hermenêutica e na Exegese Bíblicas: o estudo das 
características literárias de determinada perícope e/ou livro da Bíblia.
TÓPICO 2 — AS FIGURAS DE LINGUAGEM
133
Os gêneros literários são classes ou categorias em que se dividem as obras 
literárias ou os textos, já que numa mesma obra (ou livro bíblico), podem estar 
agrupados dois ou mais gêneros literários (o livro de Jó, por exemplo, que tanto 
possui narrativas como possui textos poéticos). O filósofo grego Aristóteles foi o 
primeiro a apresentar uma classificação para textos. 
Na literatura, os gêneros são vários: narrativa, drama, épico, lírico, fábula, 
conto, novela, dentre outros. Nos livros bíblicos encontram-se diversos gêneros 
literários,dos quais podemos mencionar alguns: narrativas, poesia, salmo, 
crônica, sabedoria (sapiencial), evangelho, Atos, epístola, apocalipse, parábola. 
É necessário que se considere cada um desses gêneros no estudo da Bíblia e 
da Hermenêutica Bíblica. Cada gênero possui as suas especificidades e isso reflete 
diretamente na forma como o texto é formado e organizado. Conhecer o gênero 
em que determinado texto está redigido é um passo ou princípio de interpretação 
bíblica. A própria Constituição Dogmática Dei Verbum, promulgada em 1965 
pelo Concílio Vaticano II, afirma categoricamente que para descobrir a intenção 
dos hagiógrafos, é preciso levar em consideração os “gêneros literários”.
Para alguns hermeneutas, inclusive, a identificação do gênero literário 
é parte da exegese de perícopes bíblicas. É o caso de Henry A. Virkler (1987) 
que indica como alguns passos para se fazer uma boa análise léxico-sintática: 1) 
identificar o gênero literário usado na passagem que se está analisando (prosa, 
poesia, apocalíptica etc.); 2) investigar o desenvolvendo do tema pelo autor em seu 
contexto; 3) reconhecer as divisões naturais do texto bíblico (aqui entra o trabalho 
de segmentação do texto); 4) identificar os conectivos dentro dos parágrafos e 
sentenças; 5) identificar o significado isolado das palavras; 6) analisar a sintaxe; 
e 7) transmitir em palavras não técnicas os resultados obtidos de tal pesquisa, 
tornando-a acessível ao leitor comum (VIRKLER, 1987, p. 73).
Essas formas literárias (gêneros) diversas presentes no texto bíblico 
possuem suas especificidades que precisam ser conhecidas e identificadas pelo 
intérprete. A forma como o texto “funciona” difere conforme o gênero. Gordon D. 
Fee e Douglas Stuart (2011) concordam que “para interpretar o ‘lá e antigamente’ 
dos textos bíblicos, você não somente precisa saber algumas regras gerais que se 
A Constituição Dogmática Dei Verbum Sobre a Revelação Divina pode ser 
encontrada no link: www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/
vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html.
DICAS
134
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
aplicam a todas as palavras da Bíblia, como também você deve aprender as regras 
especiais que se aplicam a cada uma dessas formas literárias (gêneros)” (FEE; 
STUART, 2011, p. 30).
Quando se afirma que conhecer cada gênero literário significa entender 
como o texto “funciona”, está se fazendo um esforço didático para demonstrar 
que um salmo é diferente, por exemplo, de um texto profético. Enquanto num 
salmo, o padrão é de expressão do autor em direção a Deus, numa profecia o 
padrão é de expressão de uma mensagem divina aos interlocutores. 
[...] A maneira de Deus nos comunicar sua Palavra no “aqui e agora” 
frequentemente diferirá de uma forma para outra. Por exemplo, 
precisamos saber como um salmo, uma forma frequentemente 
direcionada a Deus, funciona como a Palavra de Deus para nós, e 
como certos salmos diferem de outros, e como todos eles diferem das 
“leis”, que frequentemente eram destinadas a pessoas em situações 
culturais que já não mais existem. Como tais “leis” falam conosco, e 
como diferem das “leis” morais, que sempre são válidas em todas as 
circunstâncias? Essas são as questões que a dupla natureza da Bíblia 
nos impõe (FEE; STUART, 2011, p. 30).
A questão dos gêneros literários sinaliza para a importância que tem 
não apenas o conteúdo dos textos bíblicos, mas também a forma pela qual esse 
conteúdo é posto, ou, ainda, o estilo pelo qual ele é comunicado. Pode não parecer 
a princípio, mas a forma como esse conteúdo é colocado influi diretamente na 
compreensão de sua mensagem.
3 AS FIGURAS DE COMPARAÇÃO E AS DE RELAÇÃO
As figuras de comparação são aquelas que estabelecem algum tipo de 
comparação e geralmente contribui didaticamente para o entendimento do que 
se está comunicando. Essas figuras são o símile e a metáfora. Essas duas figuras 
são muito parecidas, mas com uma diferença importante entre elas.
FIGURA 9 – COMPARAÇÃO 
FONTE: <https://bit.ly/3AukN3Z>. Acesso em: 14 ago. 2021.
TÓPICO 2 — AS FIGURAS DE LINGUAGEM
135
A metáfora é uma comparação em que um elemento imita ou representa 
outro, quando são essencialmente diferentes. Em João 10.7 e 9, encontra-se uma 
metáfora na fala de Jesus: “Eu sou a porta”. Note que nesse tipo de figura, o 
elemento que é comparado confunde-se com o elemento a que se compara. Jesus 
não diz que é “como uma porta”, mas, sim, que Ele “é a porta”.
No símile, uma figura também muito comum na Bíblia, ocorre que uma 
coisa lembra outra de maneira explícita. É o caso do texto de 1 Pedro (1.24), em 
que se lê que “toda a carne é como a erva”, e, ainda, também em Lucas (10.3), 
em que se lê o seguinte: “Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio dos 
lobos[...]”. O símile utiliza expressões como “assim como”, “tal qual”, “tal como” 
e “como”.
4 AS FIGURAS DE DICÇÃO
As figuras de dicção são o pleonasmo e a hipérbole. O pleonasmo é uma 
redundância e emprega vocábulos que, gramaticalmente, seriam desnecessários. 
Todavia, essa figura assim o faz para dar elegância ao texto e, também, dar ênfase 
ao que se afirma. Gênesis 40.23 é um bom exemplo de um pleonasmo na Bíblia: 
“O copeiro-chefe, todavia, não se lembrou de José, porém dele se esqueceu”. 
A redundância fica clara nesse versículo. Note que a expressão “porém dele se 
esqueceu” é absolutamente desnecessária, do ponto de vista gramatical, uma 
vez que é antecedida da expressão “não se lembrou de José”. A presença dessa 
redundância, contudo, dá ênfase à ideia de que José foi esquecido.
A hipérbole, por sua vez, constitui uma afirmação exagerada em que se 
diz mais do que o significado literal com o objetivo de dar ênfase, como a que se 
encontra em João 21.25: “Há, porém, ainda, muitas outras coisas que Jesus fez. 
Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro 
caberiam os livros que seriam escritos”. 
FIGURA 10 – EXAGERO 
FONTE: <https://shutr.bz/3veEjkd>. Acesso em: 14 ago. 2021.
136
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
A hipérbole constitui uma intensificação da expressão, e que geralmente 
choca e chama a atenção. Isso acaba por contribuir didaticamente para a 
comunicação da mensagem, no sentido de que o leitor tem sua atenção voltada 
ao que está registrado. Essa intensificação ou exagero – deve-se mencionar – é 
intencional por parte do autor. Ele quer chamar a atenção para algum ensino ou 
fato em particular. A hipérbole é um recurso estilístico muito utilizado, inclusive, 
em nossa linguagem cotidiana. Quem nunca falou ou ouviu, por exemplo, a 
seguinte frase: “Estou morrendo de fome!”
Anteriormente, foi mencionada a necessidade de o leitor da Bíblia saber 
identificar as figuras de linguagem e como elas funcionam, a fim de evitar 
interpretações absurdas do texto bíblico. Na pregação, já houve pregadores 
afirmando que esse texto, de João 21.25, deveria ser entendido literalmente... É 
difícil acreditar que absurdos como esse sejam afirmados de púlpitos de igrejas 
e eventos evangélicos, mas infelizmente isso acontece. Isso também mostra a 
necessidade de boa interpretação bíblica.
5 AS FIGURAS DE CONTRASTE
As figuras de contraste são aquelas que estabelecem algum tipo de contraste 
de ideias. A ironia, parábola, litote e eufemismo são figuras de contraste. 
A ironia consiste em expressar-se o contrário do que se está dizendo ou 
afirmando, como em Gênesis 3.22. Também se encontra outro exemplo de ironia 
em 1 Reis 19.4, em que se pode ler: “Ele mesmo, porém, se foi ao deserto, caminho 
de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte 
e disse: Basta; toma agora, ó Senhor, a minha alma, pois não sou melhor do que 
meus pais”. A ironia é a expressão “pois não sou melhor do que meus pais”. O 
profeta Elias estava, na verdade, afirmando que ele era melhor que seus pais.
A ironia, assim como outras figuras de linguagem, também chama a 
atenção. Ela pode ser usada com sentido de sarcasmo ou expressandoo ridículo. 
Um exemplo interessante encontra-se em 2 Samuel 6.20, em que se pode ler a 
ironia empregada pela esposa do rei Davi, Mical, após ele ter dançado perante 
a nação: “Quando Davi regressou para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, 
saiu ao seu encontro e lhe disse: — Que bela figura fez o rei de Israel no dia de 
hoje, descobrindo-se diante das servas de seus servos, como se descobre um sem-
vergonha qualquer!” (BÍBLIA, 1993, 2 Samuel 6.20).
A parábola consiste em comparar por meio de narrativas. Significa “pôr 
ao lado”. As parábolas tanto elucidam como, também, ocultam dos ouvintes, em 
algumas ocasiões, o sentido real contido na mensagem. Como recurso didático, 
foram amplamente utilizadas por Jesus.
TÓPICO 2 — AS FIGURAS DE LINGUAGEM
137
Uma parábola é uma história baseada em fatos do cotidiano 
com o objetivo de ilustrar ou aclarar uma verdade. Apesar de ter 
base plausível, ela pode não ter realmente ocorrido com todos os 
detalhes como foi apresentada. Os acontecimentos históricos podem 
servir de ilustrações, mas as parábolas são histórias especiais, não 
necessariamente fatos históricos, contadas para ensinar certa verdade. 
Como se baseiam na realidade, diferem das alegorias e das fábulas [...] 
(ZUCK, 1994, p. 225).
A palavra “parábola” tem origem no termo grego parabolé e significa 
“colocar uma coisa ao lado da outra; comparação”. A parábola é uma narrativa 
alegórica constituída de personagens, elementos do cotidiano das pessoas 
no tempo de Jesus, incidentes e atitudes que, através de comparações, auxilia 
diretamente na compreensão de assuntos que se acham além do entendimento 
do ouvinte (ou do leitor). A seguir, as 44 parábolas de Jesus registradas nos 
Evangelhos, listadas em ordem alfabética: 
1. O administrador desonesto (Lc., 16.1-9). 
2. O amigo importuno (Lc., 11. 5-8).
3. As bodas (Mt., 22.1-14).
4. O bom samaritano (Lc., 10. 29-37). 
5. A casa vazia (Mt., 12. 43-45). 
6. Coisas novas e velhas (Mt., 13. 51-52). 
7. O construtor de uma torre (Lc., 14. 28-30). 
8. O credor incompassivo (Mt., 18. 23-35). 
9. O dever dos servos (Lc., 17. 7-10). 
10. As dez virgens (Mt., 25.1-13). 
11. Os dois alicerces (Mt., 7. 24-27). 
12. Os dois devedores (Lc., 7. 40-43). 
13. Os dois filhos (Mt., 21. 28-32). 
14. A dracma perdida (Lc., 15. 8-10). 
15. O fariseu e o publicano (Lc., 18. 9-14). 
16. O fermento (Mt., 13. 33). 
17. A figueira (Mt., 24. 32-33). 
18. A figueira estéril (Lc., 13. 6-9). 
19. O filho pródigo (Lc., 15. 11-32). 
20. A grande ceia (Lc., 14. 15-24). 
21. Jejum e casamento (Lc., 5. 33-35). 
22. O joio (Mt., 13. 24-30, 36-43).
23. O juiz iníquo (Lc., 18. 1-8). 
24. Os lavradores maus (Mt., 21. 33-46). 
25. Os meninos na praça (Mt., 11. 16-19). 
26. A ovelha perdida (Lc., 15. 3-7). 
27. O pai vigilante (Mt., 24. 42-44). 
28. A pedra rejeitada (Mt., 21. 42-44). 
29. A pérola (Mt., 13. 45-46). 
30. Os primeiros lugares (Lc., 14. 7-11). 
31. A rede (Mt., 13. 47-50). 
32. O rei que vai para a guerra (Lc., 14. 31-32). 
138
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
33. O remendo com pano novo (Lc., 5. 36). 
34. O rico e Lázaro (Lc., 16. 19-31 – embora neste trabalho não consideremos esta 
passagem uma parábola). 
35. O rico sem juízo (Lc., 12. 16-21). 
36. O semeador (Mt., 13. 3-9, 18-23). 
37. A semente (Mc., 4. 26-29). 
38. A semente de mostarda (Mt., 13. 31-32). 
39. O servo fiel (Mt., 24. 45-51). 
40. Os servos vigilantes (Mc., 13. 33-37). 
41. Os talentos (Mt., 25. 14-30). 
42. O tesouro escondido (Mt., 13. 44). 
43. Os trabalhadores da vinha (Mt., 20. 1-16).
44. O vinho e os odres (Lc., 5. 37).
O litote consiste em não expressar diretamente o que se pensa, ou então 
negar o contrário daquilo que se quer afirmar, conforme explica Bentho (2005, p. 
324). A expressão “não muito depois desses dias”, em Atos 1.5, é um litote.
Kaiser e Silva (2002) assim se expressam sobre litotes:
Litotes são uma forma de declaração incompleta que afirma algo ao 
negar seu contrário. Assim, por exemplo, Paulo asseverou em Atos 
21.39: “Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante 
da Cilícia”. Abraão menosprezou a si mesmo, ele que era só “pós e 
cinzas” (Gênesis 18.27), a fim de aumentar a grandeza de Deus (SILVA; 
KAISER JR., 2002, p. 93).
O eufemismo consiste em abrandar a força de determinadas expressões. 
A palavra “dormem” em 1 Tessalonicenses 4.13 é eufemismo para aqueles que 
haviam morrido. Ocorre que as vezes as frases/expressões soam realmente muito 
duras e impactantes, sendo então colocadas de modo mais suave por meio do 
eufemismo. Em nosso idioma encontramos diversos eufemismos como “gordinho” 
para gordo, por exemplo. Enquanto “gordo” soa ofensivo, “gordinho” soa mais 
afetivo.
O exemplo anteriormente citado, de 1 Tessalonicenses 4.13, que emprega a 
palavra “dormir” em lugar de “morreram”, como eufemismo, nos leva novamente 
à questão da importância de se identificar as figuras de linguagem no processo 
interpretativo a fim de se evitar compreensões equivocadas do texto bíblico. Esse 
texto tem sido usado para se defender a doutrina do sono da alma, que afirma 
que as pessoas, depois que morrem, entram numa espécie de sono, um estado de 
inconsciência, contrariando, assim, a crença predominante no Cristianismo que 
há pleno estado de consciência após a morte. 
Comentando esse texto de 1 Tessalonicenses 4.13, Norman L. Geisler e Ron 
Rhodes (2006) informam que há ocorrências de textos na Bíblia que referem aos 
mortos como estando adormecidos, e que a partir deles, alguns grupos religiosos 
TÓPICO 2 — AS FIGURAS DE LINGUAGEM
139
como os adventistas do sétimo dia concluem que a alma da pessoa que morre não 
fica em estado de consciência no período entre a morte e a ressurreição. Todavia, 
refutando esse ensino, os mesmos autores prosseguem explicando o seguinte:
As almas tanto dos crentes como dos incrédulos estão conscientes 
no período entre a morte e a ressurreição. Os incrédulos estão em 
tormento consciente (veja Marcos 9.43-48; Lucas 16.22,23; Apocalipse 
19.20), e os crentes estão em gozo consciente (Filipenses 1.23). 
“Dormir” é referência ao corpo físico, e não à alma. O sono é uma 
figura de linguagem apropriada para representar a morte do corpo, 
uma vez que a morte é temporária até a ressurreição – ocasião em que 
o corpo “despertará” (GEISLER; RHODES, 2006, p. 433-434). 
Com efeito, no que tange à condição do indivíduo depois da morte, há 
vários textos bíblicos que evidenciam estado de consciência, e não de inconsciência 
ou como que estando numa espécie de sono. Moisés, a respeito de quem a Bíblia 
afirma ter falecido, aparece consciente no monte da transfiguração junto a Jesus 
e a Elias (Mateus 17.3). Jesus, na cruz, momentos antes de falecer, entrega seu 
espírito ao Pai (Lucas 23.46), dando a entender justamente estado de consciência 
após a sua morte. Paulo afirma, em 2 Coríntios 5.8, que quando deixamos esse 
corpo, habitamos com o Senhor. Esses, e outros exemplos, podem ser elencados 
para evidenciar que a alma continua consciente no pós-morte.
6 AS FIGURAS DE ÍNDOLE PESSOAL
As figuras de índole pessoal são a apóstrofe e a prosopopeia. A apóstrofe 
consiste em uma interrupção do discurso com o intuito de dirigir-se a uma pessoa 
ou coisa personificada, como acontece no Salmo 114.5,6: “Que tens, ó mar, que 
assim foges? E tu, Jordão, para tornares atrás? Montes, por que saltais como 
carneiros? E vós, colinas, como cordeiros do rebanho?”. Se você ler o verso quatro, 
ele não se dirige a elementos inanimados, mas no verso cinco, aqui citado, o autor 
dá uma guinada no texto e passa a falar com esses elementos como personificados.
FIGURA 11 – APÓSTROFE
FONTE: <https://shutr.bz/3asIr6q>. Acesso em 14 ago. 2021.
A prosopopeia, por sua vez, implica na personificação de seres 
inanimados, como ocorre em Isaías 44.23: “Regozijai-vos, ó céus, porque o Senhor 
fez isso; exultai, vós, ó profundezas da terra; retumbai com júbilo, vós, montes, 
140
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
vós, bosques e todas assuas árvores, porque o Senhor remiu a Jacó e se glorificou 
em Israel”. Note-se que esses elementos da natureza são apresentados com 
características e sentimentos humanos, como se fossem pessoas.
7 OS HEBRAÍSMOS
Os hebraísmos são expressões exclusivas da língua hebraica, que surgem, 
em grande medida, dos contextos vivenciais dos autores bíblicos, contextos 
esses marcados por uma forma de vida campestre e com a presença constante 
de animais diversos. Os hermeneutas Eric Lund e P. C. Nelson (2006, p. 142) 
entendem que os hebraísmos são “[...] certas expressões e construções peculiares 
do idioma hebreu que ocorrem em nossas traduções da Bíblia [...]”.
FIGURA 12 – MANUSCRITO
FONTE: <https://shutr.bz/3oSFzbw>. Acesso em: 13 ago. 2021.
Bentho (2005) destaca a necessidade de se conhecer o ambiente cultural 
em que os textos bíblicos são produzidos, a fim de que se possa entender 
adequadamente os hebraísmos:
Para que haja uma compreensão adequada das Escrituras, é necessário 
uma compenetração e empatia com a cultura hebraica. Os hagiógrafos 
deixaram registrados nas Escrituras os matizes culturais e formas 
próprias de expressão semita que nos causam estranheza à primeira 
vista. São frases recheadas de figuras selváticas e campestres, todas 
retiradas da observação do ambiente que cercava os escritores sacros.
[...] Hebraísmos são determinadas expressões idiomáticas encontradas 
nas Escrituras, que registram a forma de comunicação específica 
dos judeus. São idiotismos familiares à cultura hebraica de então, 
desconhecida do exegeta e que não podem ser determinadas a priori, 
mas somente através de um estudo consciencioso (BENTHO, 2005, pp. 
209-211).
TÓPICO 2 — AS FIGURAS DE LINGUAGEM
141
Os hebraísmos preservam um pouco da mentalidade dos hebreus dos 
tempos bíblicos e a sua forma de compreender temas como a vida, a religião, a 
família, dentre outros. E diversos hebraísmos são incorporados no texto grego do 
Novo Testamento, o que deve ser lembrado aqui. Seguem alguns exemplos de 
hebraísmos:
• No Salmo 108.9, pode-se ler: “[...] sobre Edom atirarei a minha sandália [...]”; 
Bentho (2005) explica que neste “[...] texto, ‘lançar a sandália’ refere-se ao ato 
de tomar posse de alguma coisa ou dominar sobre algo” (BENTHO, 2005, p. 
211).
• “Filhos de iniquidade”, ou “filhos da perversidade”, em 1 Crônicas 17.9.
• “Cálice de salvação”, no Salmo 116.12,13; a palavra “cálice” aqui significa 
“sorte admirável de assistência divina”.
• “Pedra de escândalo” ou “pedra de tropeço”, em Isaías 8.14, como referência 
a uma pessoa que é motivo ou ocasião de escândalo, de pecado.
Acontece de alguns hebraísmos não serem reconhecidos como tal, 
em língua portuguesa, e isso contribui para má interpretação. Um exemplo 
interessante é a expressão “espírito de vida” ou “sopro de vida” que aparece em 
Gênesis 6.17 e é repetida em Apocalipse 11.11 (na expressão grega πνεῦμα ζωῆς). 
Também a expressão “pedra de escândalo”, acima citada, é outro exemplo que 
ocorre no Novo Testamento, nos textos de Romanos (9. 33) e 1 Pedro (2. 8) 
(COZZER, vol. 1, 2020).
Para maior aprofundamento do estudo sobre hebraísmos, recomenda-se a 
seguinte leitura: LUND, E.; NELSON, P. C. Hermenêutica: princípios de interpretação das 
Sagradas Escrituras. 2. ed. São Paulo: Vida, 2006.
DICAS
https://bibliaportugues.com/greek/4151.htm
https://bibliaportugues.com/greek/2222.htm
142
RESUMO DO TÓPICO 2
 Neste tópico, você aprendeu que:
• As figuras de linguagem estão presentes na Bíblia em abundância e são muito 
importantes para a interpretação da mensagem bíblica.
• As figuras de linguagem são recursos literários que são empregados no 
texto com vistas a enriquecê-lo, tornar mais claras as suas ideias e dar mais 
vivacidade ao texto bíblico.
• Há razões importantes que justificam o uso das figuras da linguagem, a 
saber: Elas acrescentam cor e vida; chamam a atenção; concretizam conceitos 
abstratos ou intelectuais; ficam mais bem registradas na memória; sintetizam 
uma ideia e estimulam a reflexão.
• As figuras de linguagem podem ser classificadas em Figuras de comparação: 
Símile e Metáfora; figuras de dicção: Pleonasmo e Hipérbole; figuras de 
relação: Sinédoque e Metonímia; figuras de contraste: Ironia, Parábola, Litote 
e Eufemismo; e figuras de índole pessoal: Prosopopeia e Apóstrofe.
143
1 As figuras de linguagem são recursos literários muito presentes no texto 
bíblico. Elas são recursos literários que dão vida e cor ao texto bíblico e 
ajudam no sentido de fixar ideias, comparar e dar ênfase a determinadas 
afirmações e verdades. Dito isso, assinale a seguir a alternativa CORRETA:
a) ( ) As figuras de linguagem estão muito presentes na Bíblia, e o 
conhecimento delas contribui significativamente para a melhor 
interpretação da mensagem da Bíblia.
b) ( ) O conhecimento dessas figuras de linguagem está mais para o campo da 
Linguística e não contribui de modo significativo para a interpretação 
da mensagem da Bíblia.
c) ( ) O conhecimento das figuras de linguagem não mantém qualquer 
relação com a possibilidade de se evitar interpretações equivocadas ou 
mesmo absurdas em torno do texto bíblico.
d) ( ) O conhecimento desses recursos literários se dá apenas no aspecto 
gramatical, não no que se refere ao pano de fundo histórico, social e 
cultural dos diferentes contextos bíblicos.
2 As figuras de linguagem podem ser classificadas, o que ajuda a entender 
a sua utilização e a finalidade de seu uso na Bíblia. Dito isso, analise as 
sentenças a seguir:
I- Símile e metáfora são figuras de dicção.
II- Símile e metáfora são figuras de comparação.
III- Ironia e parábola são figuras de contraste.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.
3 As figuras de linguagem têm uma utilidade no texto bíblico. São usadas 
com finalidades específicas. Dito isso, classifique V para as sentenças 
verdadeiras e F para as falsas:
( ) As figuras de linguagem acrescentam cor e vida ao texto bíblico.
( ) As figuras de linguagem acrescentam cor e vida ao texto bíblico.
( ) As figuras de linguagem sintetizam uma ideia.
AUTOATIVIDADE
144
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – F – V.
4 O entendimento do que são as figuras de linguagem contribui diretamente 
para a melhor interpretação bíblica. Elas cumprem determinadas funções 
em relação ao texto e entender essas funções ajuda, também, a perceber a 
finalidade do seu uso. Dito isso, discorra a seguir sobre o que justifica o uso 
de figuras de linguagem no texto bíblico.
5 As figuras de linguagem de comparação são o símile e a metáfora. As duas 
são muito parecidas, mas com uma diferença importante. Discorra a seguir 
sobre o que diferencia uma figura da outra.
145
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Inicialmente, neste tópico, precisamos considerar o que vem a ser a Pós-
Modernidade, para assim podermos considerar a Hermenêutica nesta conjuntura 
histórica. Essa pode parecer uma tarefa óbvia e fácil de ser realizada, mas constitui 
um grande desafio conceituar a Pós-Modernidade. O entendimento do que é a Pós-
Modernidade é muito importante, inclusive, para o diálogo com determinadas 
disciplinas teológicas, como a própria Hermenêutica, a Homilética, a Poimênica, 
dentre outras. A Teologia deve ser contextualizada, deve pisar o “chão da vida”, 
e daí decorre a necessidade de se entender o que é a Pós-Modernidade e como ela 
incide sobre as nossas vidas e sobre a reflexão teológica.
Todavia, é claro que essa correlação entre disciplinas é muito recorrente 
na Teologia, e ela deve de fato acontecer. O conhecimento, especialmente nos dias 
de hoje, não pode operar de modo fragmentário e exclusivamente disciplinar. 
Esse diálogo entre as disciplinas é fundamental e absolutamente necessário.
FIGURA 13 –PÓS-MODERNIDADE
FONTE: <https://shutr.bz/3oPjjPz>. Acesso em 15 ago. 2021.
Neste trabalho, a Pós-Modernidade tanto é entendida como uma época 
que sucede, mas não supera totalmente, a Modernidade, como também constitui 
uma espécie de ideologia (o pós-modernismo). Essa ideologia supervaloriza 
tendências e práticas comuns, na realidade ocidental, hoje, como o consumismo, 
por exemplo. 
TÓPICO 3 — 
A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
146
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
Elizabeth Gomes (2010, p. 72) comenta que “[...] hoje, o desejo de consumo 
é considerado como de grande importância. É dado imprescindível na máquina 
que move o mercado. O grande prazer da maioria dos brasileiros é passear no 
shopping e comprar”. A mesma autora reconhece que somos “[...] seduzidos pelo 
prazer de consumir, de comprar, não por causa de uma necessidade verdadeira, 
mas de uma necessidade percebida, presumida – e pelo simples prazer”.
Esse consumismo exacerbado, que também acaba por “consumir” as 
pessoas que o praticam, é uma das variadas características da Pós-Modernidade. 
Há várias outras características da Pós-Modernidade que permitem entendê-la 
um pouco melhor, apesar de sua complexidade. E tão complexo é o assunto que 
não há unanimidade entre os estudiosos, até mesmo quanto ao uso do termo 
“Pós-Modernidade”.
Diversos teóricos vêm dando sua contribuição para explicar a Pós-
Modernidade, dentre eles alguns que se tornaram notáveis, como o sociólogo 
polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), com o seu conhecido conceito de 
“modernidade líquida”. Bauman usa a ideia de “Pós-Modernidade” inicialmente, 
mas depois desenvolve o conceito de modernidade líquida, que servirá de base 
para diversas obras suas.
FIGURA 14 – ZYGMUNT BAUMAN, SOCIÓLOGO
FONTE: <https://shutr.bz/3FD3y47>. Acesso em: 15 ago. 2021.
O que Bauman busca comunicar com seu conceito de modernidade líquida 
é que o tempo atual é marcado por uma fragilização, uma liquefação e pelo 
esfacelamento de relações e estruturas, outrora seguras, estáveis, firmes. Tudo 
hoje está “derretendo”: a família, o casamento, as estruturas sociais, a política e 
até o próprio Estado...
O educador Edgar Morin reconhece que a situação atual da humanidade 
é desafiadora. Para ele, a “situação é paradoxal sobre a nossa Terra. As 
interdependências multiplicaram-se. A consciência de ser solidários com a vida e 
TÓPICO 3 — A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
147
a morte, de agora em diante, une os humanos uns aos outros”. Morin prossegue 
e afirma que a “[...] comunicação triunfa, o planeta é atravessado por redes, fax, 
telefones celulares, modems, internet. Entretanto, a incompreensão permanece 
geral. Sem dúvida, há importantes e múltiplos progressos da compreensão, mas 
o avanço da incompreensão parece ainda maior [...]” (MORIN, 2000, p. 93). 
Porém, a proposta de Bauman é uma dentre outras. E há outras expressões 
que buscam definir nosso tempo. Uns preferem “Modernidade Tardia”, e há os 
que chegam a dizer que nem “pós”, nem “hiper” e nenhuma outra nomenclatura 
seria possível. O Doutor em Ciências Humanas Luiz Roberto Benedetti, por sua 
vez, afirma o seguinte:
Não há nada mais ambíguo do que o termo Pós-modernidade. 
Expressão usada a torto e a direito, no pressuposto de que o interlocutor 
participe de um mundo comum no interior do qual a linguagem 
adquire significado. Essa ambiguidade constitui, entretanto, a sua 
marca. Ela é o pós-moderno da Modernidade: indefinível, fluido e 
inconsciente.
Ninguém ousa definir a Pós-modernidade. A tentativa de definição é, 
por si só, uma atitude que contraria seus cânones (se é que existem). 
Situá-la no espaço e no tempo segundo características marcantes 
é a única atitude plausível [...]. (BENEDETTI apud TRASFERETTI; 
GONÇALVES, 2003, p. 53, grifo nosso).
Com efeito, diversas são as marcas da Pós-Modernidade, como o 
consumismo exacerbado mencionado anteriormente. Também a ênfase na 
relatividade moral e conceitual; a decadência moral e a profunda quebra de valores 
e de paradigmas que orientaram a sociedade durante séculos; o individualismo e 
o hedonismo como parâmetros de orientação pessoal e para as relações humanas, 
dentre outras, são marcas definidoras da Pós-Modernidade. 
Essa marca do pós-modernismo, sem dúvida, é devastadora para o 
homem. Dentro da hermenêutica, tem-se que somente o evangelho poderá, de 
fato, modificar o homem para melhor, é o evangelho do Senhor Jesus. Wright 
afirma que a aceitação do Evangelho, por uma pessoa, provoca uma mudança 
radical. Ele afirma:
[…] Uma mudança radical de vida acompanha a fé e as boas-novas. 
O arrependimento e a fé não podem ser separados. Quando o povo 
perguntou a João Batista o que ele entendia por arrependimento, esse 
profeta foi implacavelmente prático (Lucas 3.7-14). Paulo concorda 
com ele. O evangelho envolve despir a roupa imunda do velho homem 
e vestir as roupas que trazem o aroma da semelhança com Cristo. Na 
verdade, Paulo usa exatamente as mesmas palavras: “novo homem” 
(kainos anthropos), tanto para a união de judeus e gentios na nova 
família de Deus, única e multinacional, quanto para o novo modo de 
vida que essa comunidade deve demonstrar (Efésios 4.24). (WRIGHT, 
2012, p. 231).
Outra característica interessante dessa era é o que Antonio Cruz (1996) 
denominou como “retorno ao sentimento”. Ele realça o fato de que a Pós-
Modernidade rompeu drasticamente com o racionalismo da Modernidade. Há 
148
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
um retorno ou mesmo uma idolatria do sentimento, o que pode ser notado em 
algumas práticas que são até mesmo incoerentes e irracionais, mas praticadas 
pelas pessoas em larga escala a fim de atender seus próprios desejos.
Todavia, o que todo esse conjunto de características da Pós-Modernidade 
tem a ver com a tarefa interpretativa das Escrituras? Naturalmente, a forma de 
se ler e interpretar a Bíblia nessa conjuntura também sofreu revisões. Um dos 
impactos diretos da Pós-Modernidade sobre a interpretação bíblica foi a ênfase 
que ela deu ao leitor contemporâneo, provocando uma espécie de deslocamento 
do foco hermenêutico do autor para o leitor pós-moderno.
Por mais que atualmente haja uma forte tendência de se atribuir 
o sentido do texto ao leitor e não mais ao autor, na Exegese Bíblica 
clássica a busca recai sobre os autores bíblicos e em como seus leitores 
primários receberam esses textos. Essa tendência de se atribuir o 
sentido do texto ao leitor e não ao autor está presente nas hermenêuticas 
pós-modernas, grandemente influenciadas pelo método de Jacques 
Derrida. Cumpre, perguntar, todavia, se o mesmo método de 
Derrida - o Desconstrutivismo - for aplicado ao Desconstrutivismo, o 
Desconstrutivismo sobreviverá? Esta pergunta é importante para que 
seja avaliado se essa tendência nas hermenêuticas pós-modernas é de 
todo segura e até mesmo viável (COZZER, vol. 1, 2020, p. 359).
Naturalmente, a teoria de Derrida, como tantas outras pode e deve ser 
questionada. Toda proposta teórica possui seus limites e necessita, inclusive, ser 
reformulada em determinados aspectos. E não se está aqui negando, em absoluto, 
que Derrida esteja certo em alguma medida quanto aos pressupostos que 
apresenta ou que ofereça contribuições importantes ao pensamento. E ainda: não 
se está negando aqui que o leitor possua importância no processo interpretativo. 
Com efeito, nem todos os pressupostos pós-modernos devem ser encarados em 
termos negativos.
FIGURA 15 – LEITORA
FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/6564/search/298>. Acesso em 15 ago. 2021.
TÓPICO 3 — A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
149
A valorização que se dá ao leitor contemporâneo do texto bíblico, pelas 
diferentes hermenêuticas pós-modernas, é positiva em certa medida. Porém, é 
fato também que as ideologias presentes na Pós-modernidade recaíram sobre 
a Hermenêutica, em certa medida, de modo negativo. Um olhar mais atento 
permitirá ao estudante perceber isso. Essa tendência de relativizar tudo, de 
remover o sentidodaquilo que antes era firme e seguro e a particularização cada 
vez maior da cosmovisão (maneira de olhar o mundo) de alguma forma também 
podem ser vistas nas Hermenêuticas pós-modernas. O texto por vezes é usado 
na verdade para legitimar militâncias pessoais, o que leva a um engajamento 
que não é hermenêutico em essência, mas eisegético. Aqui, é preciso sim buscar 
contribuições das Hermenêuticas pós-modernas, mas considerando a necessidade 
de ter cuidados.
2 HERMENÊUTICAS PÓS-MODERNAS
Nem tudo que se refere à Pós-Modernidade necessariamente é negativo. As 
hermenêuticas pós-modernas podem ter um viés positivo quando se consideram 
as seguintes características:
• Sua valorização do leitor contemporâneo e do seu tópos (grego) ou sitz im leben 
(alemão). A Exegese e a Hermenêutica tradicionais valorizam muito o sitz im 
leben do hagiógrafo sagrado – o que é fundamental! – mas muito pouco ou 
quase nada falam sobre o leitor contemporâneo que se debruça sobre este 
texto.
• Seu foco em determinados anseios que subjazem na ênfase que dão a 
determinados temas. Por exemplo, a hermenêutica feminista que busca 
valorizar o papel da mulher no plano salvífico; a hermenêutica da Teologia 
da Libertação que valoriza o pobre etc.
Na esteira dessa reflexão sobre Hermenêutica e Pós-Modernidade, deve-
se mencionar que Jesus foi um homem de seu tempo, e que falou a pessoas de 
seu tempo. A Teologia Cristã tem diante de si o desafio de contextualizar-se sem 
descaracterizar-se. Ela é cristã, não geral ou secular, mas é direcionada a pessoas 
inseridas num contexto geral e secular, mesmo que essas sejam cristãs. Se, 
enquanto teólogos e teólogas, negligenciamos ou nos fechamos ao nosso tempo, 
jamais teremos condições de falar ao homem pós-moderno.
É preciso equilibrar a questão da relação da Igreja com a cultura vigente. 
Vale considerar aqui as seguintes palavras: “A Igreja sempre teve de confrontar 
sua cultura e existir em tensão com o mundo. Ignorar a cultura é arriscar-
se à irrelevância; aceitar a cultura sem críticas é arriscar-se ao sincretismo e à 
infidelidade” (VEITH JR, 2021c). A Igreja do Senhor é depositária de valores 
perenes como o valor à vida, à família, à verdade e a dignidade humana. Ela é 
“coluna e firmeza da verdade”, como podemos ler em 1 Timóteo 3.15.
150
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
A Igreja não é ou não deve ser uma espécie de grupo separatista que se 
isola da sociedade. Ela é a própria sociedade e só será realmente capaz de falar ao 
mundo se falar com ele. Em dias difíceis e incertos, permanece viva a fé, que de 
uma vez por todas foi dada aos santos (Judas 1.3). Como cristãos, não devemos nos 
entregar a esse pessimismo corrosivo de drena o ânimo das pessoas, mas seguir 
em frente, confiando N’aquele que é Senhor dos céus e da terra. E, nesse sentido, 
a boa interpretação da Bíblia, feita com responsabilidade, seguindo princípios 
hermenêuticos, haverá de contribuir no sentido de fortalecer o desenvolvimento 
dessa missão.
Alguns autores cristãos, no entanto, parecem encarar apenas aspectos 
negativos na influência da Pós-Modernidade sobre o texto bíblico. Lopes (2013) 
vê como consequências das influências do pós-modernismo na interpretação 
bíblica contemporânea os seguintes aspectos: 
• O abandono dos métodos críticos para a reconstrução do processo histórico 
de formação de textos, esforço típico do Método Histórico-Gramatical, para 
dar lugar a uma interpretação centrada no leitor contemporâneo.
• Abertura a uma pluralidade de interpretações em lugar de uma interpretação 
única.
• O abandono do esforço no sentido de resgatar o sentido original da passagem 
bíblica.
• Ceticismo quanto à possibilidade de se chegar ao sentido pretendido pelo 
autor do texto bíblico.
• Ocorre uma busca do sentido das passagens bíblicas numa relação direta com 
o leitor, em detrimento de uma busca pelo sentido do texto no autor, sua 
intenção autoral (LOPES, 2013).
3 HERMENÊUTICA E O AUTOR
Um dos pressupostos fundamentais da Hermenêutica é o autor do texto 
bíblico, o hagiógrafo sagrado. Identificar o autor do texto não apenas como um 
nome perdido na história, mas reconhecendo suas demandas, características, 
peculiaridades, modo de escrever (estilo literário), dentre outros elementos 
relativos a ele, é um passo indispensável na tarefa da interpretação bíblica.
Cada autor bíblico, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, possui 
suas particularidades e especificidades. E mesmo se seguirmos no trilho do Método 
Histórico-Crítico que não afirma categoricamente a identidade dos autores dos 
textos bíblicos, reconhecendo diversas autorias como fruto de pseudonímia, fato 
é que autores trabalharam esses textos e deixaram ali seus traços autorais. 
Desse modo, é possível identificar elementos comuns nos estilos literários 
presentes nos diferentes livros da Bíblia. E a relação que se estabelece com a 
“biografia” dos autores ajuda a clarear o sentido do texto bíblico. Por exemplo, 
TÓPICO 3 — A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
151
quando se conhece a história da vida do apóstolo Paulo, tal como descrita em 
Atos dos Apóstolos e em outras partes do Novo Testamento, a vivacidade com 
que Gálatas se apresenta ganha mais sentido. Só para citar um exemplo do Corpus 
paulinum...
Tanto os autores propriamente ditos dos livros bíblicos como aqueles 
editores anônimos que trabalharam o texto a posteriori impingiram nele suas 
características e intencionalidade. No esforço hermenêutico, isto é, na busca pelo 
sentido do texto, deve-se sempre levantar algumas indagações que podem ser 
consideradas fundamentais: Por que este autor registrou este fato? Por que ele 
afirmou isto? Para quem? Em que circunstância? Qual a sua teologia? O que 
pretende ensinar?
Como se pode concluir, a Hermenêutica não é ciência apenas do texto, 
mas também a pesquisa sobre os eventos e pessoas históricos que produziram 
esse mesmo texto. Com efeito, é um trabalho de “juntar peças”. Requer cuidado e 
dedicação, bem como o uso de ferramentas adequadas. 
4 HERMENÊUTICA E O LEITOR CONTEMPORÂNEO
Identificar o leitor contemporâneo em suas demandas e cosmovisão, 
pois isso sem dúvida afetará a maneira como se interpreta (eisegese) o texto 
bíblico. O leitor é muito importante no processo interpretativo e diversos autores 
fundamentais em Hermenêutica e Filosofia destacaram a sua importância, como 
é o caso do filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005).
Uma vez que os textos foram escritos, seus significados não são mais 
determinados pela compreensão que os leitores originais tinham 
desses mesmos textos. Cada público subsequente pode ler agora 
sua própria situação no texto, pois um texto, diferentemente da fala, 
transcende suas circunstâncias originais. As novas leituras não são em 
nada menos válidas. Elas não devem ser completamente contraditórias 
à compreensão do público original, mas podem ser diferentes, mais 
ricas, ou mais empobrecidas (SILVA; KAISER, 2002, p. 30).
Sobre o trabalho de Paul Ricoeur, no sentido de valorizar o leitor 
contemporâneo da Bíblia e discorrer sobre o fato de que o texto é ressignificado a 
partir do momento em que sai do autor, Silva e Kaiser (2002) afirmam o seguinte:
O trabalho de Paul Ricoeur é especialmente conhecido nesse sentido. 
Entre suas inúmeras ideias sugestivas, devemos notar sua ênfase na 
distinção das relações entre falar-ouvir e escrever-ler. No discurso oral, 
o sentido do discurso se sobrepõe à intenção do orador. “Dentro do 
discurso escrito, porém, a intenção do autor e o sentido do texto deixam 
de coincidir [...] o rumo do texto deixa escapar o horizonte finito vivido 
por seu autor. O que o texto significa agora é mais importante do que 
a intenção do autor quando escreveu” (Paul Ricoeur. Interpretation 
Theory: Discourse and the Surplus of Meaning (Fort Worth: Texas 
Christian University, 1976, p. 29-30). Embora o próprio Ricoeur não 
152
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
fosse um estudioso da Bíblia, ele estava profundamente interessadono pensamento religioso e, portanto, muitos teólogos e estudantes da 
Bíblia tem sido influenciados pelo seu trabalho (SILVA; KAISER, 2002, 
p. 225).
Logo, reconhece-se que o significado do texto se desprende do autor do 
texto, em certa medida, quando o texto sai de sua mão. Dali para frente, ele será 
ressignificado, ou, ainda, aplicado ao leitor contemporâneo que dele se apropria. 
Por mais que possa existir enorme resistência de alas mais conservadoras e 
fundamentalistas do Protestantismo quanto a esse pressuposto, fato é que esses 
movimentos também ressignificam o texto bíblico em suas homilias e ensinamentos 
regulares. No final, no que tange à Bíblia, ninguém consegue escapar a esse fato 
habilmente indicado por Ricoeur.
5 O PROBLEMA DO “ANACRONISMO HERMENÊUTICO”
Um cuidado fundamental em Hermenêutica bíblica é em relação ao 
anacronismo hermenêutico. Em História, isto é, na ciência História, o anacronismo 
consiste de uma espécie de erro de cronologia, em que se atribui características 
contemporâneas a eventos, fatos, personagens e a culturas do passado com o 
olhar contemporâneo, sem levar em conta as especificidades desses eventos, 
fatos, personagens e culturas do passado em seu próprio ambiente vivencial.
Por vezes, em minhas aulas de Hermenêutica, discorri sobre o que 
tenho chamado de “anacronismo hermenêutico”, pegando emprestado 
um conceito da História (o conceito de anacronismo) e transpondo-o 
para a Hermenêutica. Interpretar as Escrituras é, em grande medida, 
lançar um “olhar para trás”, é “voltar” na História para entender o 
pano de fundo ou, para pegar emprestada uma expressão da Exegese, 
o sitz im leben da perícope bíblica. Mas esse “retorno ao passado” 
requer cuidado na interpretação dos dados históricos disponíveis: se 
eles forem lidos com o nosso olhar de século 21, com toda sua carga 
cultural, fenomenológica, epistemológica e filológica, certamente 
não compreenderemos adequadamente o que o hagiógrafo sagrado 
tencionou comunicar (COZZER, 2020, p. 397).
TÓPICO 3 — A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
153
FONTE: <https://shutr.bz/3lvYFlx>. Acesso em: 15 ago. 2021.
Por meio do anacronismo hermenêutico, introduz-se no texto bíblico 
um sentido que ele realmente não possui, mas que é próprio do leitor. E esse 
anacronismo pode ser de natureza científica na interpretação de passagens como 
Gênesis capítulos um, dois e três, que consiste em interpretar esses relatos da 
criação com o viés da Ciência contemporânea, totalmente desconhecida para o 
autor de Gênesis. 
Esse anacronismo pode ser também de natureza social, como é o caso da 
interpretação feita por grande parte das igrejas evangélicas em relação a Israel, 
numa espécie de “xenofobia invertida”, que prefere Israel e pretere as demais 
nações do mundo em nome de uma interpretação que é mais nacionalista do que 
bíblica, de fato.
Essa questão merece, assim, especial cuidado por parte do estudante da 
Hermenêutica, a fim de evitar esses anacronismos e produzir uma análise mais 
responsável do texto bíblico. A Bíblia possui uma mensagem que perpassa épocas 
e circunstâncias e se aplica a todos os homens, em todos os tempos. É por meio do 
estudo hermenêutico sério da Palavra que essa mensagem vai sendo descortinada 
em sua amplitude e pode, por fim, ser aplicada ao leitor pós-moderno, que poderá 
conformar sua própria vida ao evangelho.
FIGURA 16 – AVISO: ANACRONISMO
154
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
FIGURA 17 – ÉTICA CRISTÃ
FONTE: <https://shutr.bz/3FyrV3f>. Acesso em: 15 ago. 2021.
Concluindo este tópico, fica reiterada a importância de se valorizar 
diversos aspectos relacionados à interpretação bíblica. Tanto é preciso “voltar ao 
autor” do texto bíblico como pensar a forma como o leitor contemporâneo recebe 
e interpreta o texto bíblico. Se isso não for feito, a Bíblia será reduzida apenas a 
uma espécie de documento histórico, quando sabemos que ela é intensamente 
utilizada como fonte de devoção, fé e vivência comunitária dos princípios morais 
e religiosos que dela emanam.
6 CONCLUSÃO
A Hermenêutica Bíblica é uma disciplina de fundamental importância para 
o cristão individualmente e para a coletividade cristã. Para alguns, ela pode ser 
apenas mais uma disciplina teológica muito técnica, bizarra talvez e que deveria 
ficar a cargo apenas dos letrados e estudiosos. Contudo, a Hermenêutica pode ser 
transposta didaticamente para a vida das comunidades de fé, auxiliando-as na 
melhor interpretação da mensagem da Bíblia.
Uma vez realizada uma interpretação de qualidade, poderemos contar 
com sermões de qualidade. Se nossas pregações são precárias, carregadas de 
misticismo e triunfalismo religiosos, que em nada edificam e promovem a genuína 
fé, isso começa na precária interpretação dos textos bíblicos. Se forem aplicados os 
princípios hermenêuticos de compreensão do texto bíblico, certamente homilias 
mais sensatas e relevantes serão produzidas. 
TÓPICO 3 — A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
155
FIGURAS DE LINGUAGEM DA BÍBLIA
Roney Ricardo Cozzer
INTRODUÇÃO
É importante destacar [...] que a Bíblia não foge à regra no sentido de que, 
como livro, seus autores empregaram a linguagem de seu tempo. O Espírito Santo, 
ao inspirar os autores bíblicos, usou a sua linguagem, nela inclusos os gêneros 
literários e o vocabulário próprios do contexto em que esses autores viveram. 
As figuras de linguagem são muito abundantes e quando as conhecemos, 
interpretamos melhor o texto bíblico. É importante ressaltar aqui que embora a 
Bíblia seja plenária e verbalmente inspirada por Deus, ela foi escrita seguindo 
critérios e tendências literárias, de modo que muitas vezes o escritor bíblico, 
ao desenvolver o texto, tinha em mente um plano a ser seguido. Passaremos a 
considerar aqueles que consideramos serem as principais figuras de linguagem 
encontradas no texto bíblico.
FIGURA 18 – BÍBLIA
FONTE: <https://shutr.bz/3AoDNRz>. Acesso em: 15 ago. 2021.
1. COMPARAÇÃO E CONTRASTE
No texto bíblico encontramos em alguns momentos a associação de duas 
ou mais ideias que são iguais ou parecidas. Isso é chamado de comparação. 
Temos um exemplo em Gênesis 22.17 onde Deus mesmo compara a descendência 
de Abraão com as estrelas do céu e com a areia que está na praia do mar. Palavras 
e expressões como “tal como”, “igual a”, “como” e “semelhante” expressam 
justamente a ideia de comparação. 
LEITURA COMPLEMENTAR
156
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
O contraste é o oposto da comparação, pois indica diferença nas qualidades 
que estão sendo salientadas. Palavras e expressões como “mas”, “ou”, “de outra 
forma” e “entretanto” indicam contraste. Um exemplo interessante temos no 
livro dos Salmos, no Salmo 1, onde lemos o contraste que o salmista apresenta 
entre aquele que atenta para a Lei do Senhor e aquele que não o faz.
2. METÁFORA
Esta figura tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos, 
caracterizando-se um com o que é próprio do outro. Exemplo: Ao dizer Jesus: “Eu 
Sou a videira verdadeira”, Jesus se caracterizou com o que é próprio e essencial 
da videira (pé de uva); e ao dizer aos discípulos: “Vós sois as varas”, caracterizou-
os com o que é próprio das varas. Outros exemplos: “Eu Sou o caminho”, “Eu Sou 
o pão vivo”, “Judá é leãozinho”, “Tu és minha Rocha”, etc.
3. SINÉDOQUE
Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela 
parte, o plural pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa. Exemplo de 
um caso em que se toma a parte pelo todo: “até o meu corpo repousará seguro”, 
em vez de dizer simplesmente “meu corpo” (Sl 16.9). Um exemplo de quando se 
toma o todo pela parte: “[...] beberdes o cálice”, em lugar de dizer “do cálice”, isto 
é, parte do que há no cálice.
4. METONÍMIA
Emprega-se esta figura quando se aplica a causa pelo efeito, ou o sinal ou 
símbolo pela realidade que indica o símbolo. Exemplos: Jesus emprega a causa 
pelo efeito: “Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos”, em lugar de dizer que eles 
tinha os escritosde Moisés e dos profetas (Lc 16.29). Jesus emprega o símbolo 
pela realidade que o mesmo indica: “Se eu não te lavar, não tem parte comigo”. 
Lavar é o símbolo da regeneração.
5. PROSOPOPEIA
Esta figura é usada quando se personificam as coisas inanimadas, 
atribuindo a elas os feitos e ações das pessoas. Exemplos: “Onde está, ó morte, o 
teu aguilhão?” (1 Co 15.55). Paulo trata a morte como se fosse uma pessoa. Em 
Isaías 55.12 podemos ler: “Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante 
de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas”. Também em Salmos lemos: 
“Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram. Da terra brota 
a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar” (Sl 85.10,11).
TÓPICO 3 — A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
157
6. IRONIA
Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se quer dizer, 
porém sempre de tal modo que se faz ressaltar o sentido verdadeiro. Exemplo: 
“Clamai em altas vozes [...] e despertará”. Elias dá a entender que chamar por 
Baal é completamente inútil (1 Rs 18.27).
7. HIPÉRBOLE
É a figura pela qual se representa uma coisa como muito maior ou menor 
do que em realidade é, para apresentá-la viva à imaginação. É um exagero. 
Exemplos: “Também vimos ali gigantes [...] e éramos aos nossos próprios olhos 
como gafanhotos [...] as cidades são grandes e fortificadas até aos céus” (Num. 
13.33). No livro do Evangelho de João encontramos um exemplo interessante: 
“Creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos” (Jo 
21.25). Ainda no livro de Salmos, podemos ler: “Rios de águas correm dos meus 
olhos, porque não guardam a tua lei” (Sl 119.136).
8. ALEGORIA
É uma figura retórica que geralmente consta de várias metáforas unidas, 
representando cada uma delas realidades correspondentes. Exemplo: “Eu Sou o 
Pão Vivo que desceu do céu, se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão 
que eu darei pela vida do mundo, é a minha carne [...] Quem comer a minha carne 
e beber o meu sangue tem a vida eterna”. Esta alegoria tem sua interpretação 
nesta mesma passagem das Escrituras (Jo 6.51-65). Noutras palavras, a própria 
perícope bíblica explica a alegoria.
9. FÁBULA
É uma alegoria histórica, na qual um fato ou alguma circunstância se 
expõe em forma de narração mediante a personificação de coisas ou de animais. 
Em 2 Reis 14.9 temos um exemplo: “O cardo que está no Líbano, mandou dizer ao 
cedro que lá está: Dá tua filha por mulher a meu filho; mas os animais do campo, 
que estavam no Líbano, passaram e pisaram o cardo”. Com esta fábula Jeoás, rei 
de Israel, responde a proposta de guerra feita por Amazias, rei de Judá.
 
10. ENIGMA
É algo que se propõe a ser descoberto. Exemplo: “Do comedor saiu comida 
e do forte saiu doçura” (Jz 14.14).
11. TIPO
O tipo pode ser uma pessoa, um evento do Antigo Testamento ou mesmo 
um objeto. Ele tem por objetivo fazer uma indicação para um cumprimento futuro. 
Os tipos indicam que serão cumpridos futuramente. Assim, todo tipo encontra 
158
UNIDADE 3 — A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
seu antítipo, isto é, a pessoa ou evento em que o tipo se cumpre. Exemplos: A 
serpente de metal levantada no deserto foi mencionada por Jesus como um tipo 
para representar sua morte na cruz (Jo 3.14). Jonas no ventre do grande peixe foi 
usado como tipo por Jesus para representar a sua morte e ressurreição (Mt 12.40). 
O primeiro Adão é um tipo para Cristo o último Adão (1 Co 15.45).
12. SÍMBOLO
Representa alguma coisa ou algum fato por meio de outra coisa ou fato 
familiar que se considera a propósito para servir de semelhança ou representação. 
Exemplos: Representa-se: A majestade pelo leão, a força pelo cavalo, a astúcia 
pela serpente, o corpo de Cristo pelo pão, o sangue de Cristo pelo cálice etc.
13. PARÁBOLA
Apresentada sob a forma de narração, relatando fatos naturais ou 
acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de ilustrar uma ou várias 
verdades importantes. Exemplos: O semeador (Mt 13.3-8); ovelha perdida, 
dracma perdida e filho pródigo (Lc. 15), dentre muitas outras.
14. SÍMILE
Procede da palavra latina similis que significa “semelhante” ou “parecido 
a outro”. É uma analogia. Comparação de coisas semelhantes. Exemplos: “Pois 
quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com 
os que o temem” (Sl 103.11). “Como o pai se compadece de seus filhos, assim (do 
mesmo modo) o Senhor se compadece dos que o temem” (Sl 103.13).
15. INTERROGAÇÃO
Somente quando a pergunta encerra uma conclusão evidente é que é uma 
figura literária. A interrogação é uma espécie de figura em que o orador questiona 
seu interlocutor mas sabendo de antemão que ninguém vai responder. Exemplos: 
“Não fará justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25). “Não são todos eles espíritos 
ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?” 
(Hb 1.14). “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?” (Rm 8.33). “Com 
um beijo trais o Filho do homem?” (Lc 22.48).
16. APÓSTROFE
O vocábulo indica que o orador se volve de seus ouvintes imediatos para 
dirigir-se a uma pessoa ou coisa ausente ou imaginária.Exemplos: “Ah, Espada 
do Senhor, até quando deixarás de repousar?” (Jr 47.6). “Meu filho Absalão, meu 
filho, meu filho Absalão!” (2Sm 18.33).
TÓPICO 3 — A HERMENÊUTICA E A CONTEMPORANEIDADE
159
17. ANTÍTESE
“Inclusão, na mesma frase, de duas palavras, ou dois pensamentos, que 
fazem contraste um com o outro”. Exemplos: “Vê que proponho hoje a vida e 
o bem, a morte e o mal” (Dt 30.15). “Entrai pela porta estreita (larga é a porta e 
espaçoso o caminho que conduz a perdição e são muitos os que entram por ela) 
porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são 
poucos os que acertam com ela” (Mt 7.13,14).
18. PROVÉRBIO
Trata-se de um ditado comum, uma máxima, uma reflexão contida numa 
frase. Exemplos: “Médico cura-te a ti mesmo” (Lc 4.23).”Nenhum profeta é bem 
recebido em sua própria terra” (Mt 6.4; Mt 13.57).
19. PARADOXO
Denomina-se paradoxo a uma preposição ou declaração oposta à opinião 
comum. Exemplos: “Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Mt 
8.22). “Coais o mosquito e engolis o camelo” (Mt 23.24). “Porque quando sou 
fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12.10).
CONCLUSÃO
Ainda que as figuras de linguagem (ou linguagem figurada) consistam de 
um distanciamento do uso comum da língua, sua utilidade na língua e no texto é 
inegável. E deve ser dito que não apenas o conhecimento das figuras de linguagem 
representa um passo importante para a compreensão dos textos bíblicos, mas 
também as próprias figuras de linguagem em si mesmas contribuem para 
melhorar nosso entendimento do texto. Dito de outra forma, podemos afirmar 
que a presença de figuras de linguagem no texto bíblico cumpre também um 
papel pedagógico-hermenêutico. Considere o caso das figuras de linguagem de 
natureza hiperbólica. As hipérboles são fundamentais para nos ajudar a perceber 
a ênfase pretendida pelo autor, quando elas ocorrem. Assim como “Estou com um 
boi no estômago” é suficiente para deixar bem claro para nós que a pessoa que 
pronuncia esta figura de linguagem comeu muito e está muito satisfeita, também 
um camelo passando pelo fundo da agulha é muito satisfatório para nos mostrar 
o grande perigo do amor às riquezas, ao dinheiro. Assim, a linguagem figurada 
na Bíblia deve ser estudada com a devida atenção, em função da sua importância.
FONTE: COZZER, R. R. Enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar. Vol. 1. São 
Paulo: Reflexão, 2020. 
160
RESUMO DO TÓPICO 3
 Neste tópico, você aprendeu que:
• A Hermenêutica tem sido amplamente estudada na contemporaneidade, isto 
é, na Pós-Modernidade, e que essa interferiu na forma de se interpretar o 
texto bíblico.
• Não há um consenso absoluto a respeito do que vem a ser a Pós-Modernidade 
e que diversas propostas teóricas têm sido apresentadas, como a do sociólogo 
Zygmunt Bauman.
• As hermenêuticas pós-modernas precisamser encaradas com cautela, mas 
que oferecem contribuições importantes para o estudo das Escrituras.
• Tanto o leitor contemporâneo como o hagiógrafo sagrado constituem 
pressupostos fundamentais para a Hermenêutica Bíblica.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
161
1 Na esteira da reflexão sobre Hermenêutica e Pós-Modernidade é importante 
mencionar que Jesus foi um homem de seu tempo e que falou a pessoas de 
seu tempo. Ele falava do céu com os pés no chão. Com base no exposto, 
analise as sentenças a seguir:
I- A Teologia cristã precisa contextualizar-se sem descaracterizar-se.
II- A Teologia cristã precisa interagir com o contexto social.
III- A Teologia cristã deve fechar-se em absoluto para a Pós-modernidade, 
face aos seus enormes desafios.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas
2 A Pós-Modernidade pode ser entendida por meio de suas diversas 
características. Uma dessas características é aquela que Antonio Cruz 
chama de “retorno ao sentimento”. Pensando na definição adequada para 
essa característica, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Retorno ao sentimento significa que a Pós-modernidade rompeu 
drasticamente com o racionalismo da Modernidade.
b) ( ) Retorno ao sentimento significa que a Pós-modernidade voltou a 
superstição religiosa típica da Idade Média.
c) ( ) Retorno ao sentimento significa que a Pós-modernidade ignora 
qualquer tipo de racionalidade.
d) ( ) Retorno ao sentimento significa que a Pós-modernidade não nutre 
qualquer interesse por reflexões, sejam elas de que natureza forem.
3 Um cuidado fundamental em Hermenêutica bíblica é em relação aos 
anacronismos hermenêuticos. Esse conceito de “anacronismo hermenêutico” 
pega emprestado um conceito da ciência História para indicar determinadas 
interpretações impróprias do texto bíblico. Assinale a seguir a alternativa 
que compreende a CORRETA definição de anacronismo hermenêutico:
a) ( ) Anacronismo hermenêutico implica em entender eventos do passado 
bíblico exclusivamente pelas lentes da atualidade.
b) ( ) Anacronismo hermenêutico implica em entender eventos do passado 
bíblico utilizando-se princípios hermenêuticos.
c) ( ) Anacronismo hermenêutico implica em entender eventos do passado 
bíblico sem considerar o autor do texto.
AUTOATIVIDADE
162
d) ( ) Anacronismo hermenêutico implica em entender eventos do passado 
bíblico da forma mais fidedigna possível.
4 Tanto o autor do texto bíblico quanto o leitor contemporâneo da Bíblia 
foram reconhecidos, neste trabalho, como elementos fundamentais à 
Hermenêutica. Tendo isto em mente, discorra a respeito da importância do 
leitor para a interpretação.
5 Na Hermenêutica valoriza-se o autor do texto bíblico e ao longo de muito 
tempo defendeu-se a ideia de que é preciso “retornar ao autor” para 
entender o que ele quis de fato comunicar em seu texto. Considerando isto, 
disserte a respeito da importância de se perceber as características literárias 
dos diferentes autores bíblicos.
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