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1 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P MEDICINA Hemorragias 3M1 – HEMORRAGIAS DA GESTAÇÃO Primeira metade da gestação: • Gestação ectópica • Abortamento Segunda metade da gestação: • Descolamento prematuro de placenta • Placenta prévia GESTAÇÃO ECTÓPICA: • 95% tubária • 5% outras localizações O local correto para acontecer a implantação do embrião e o local mais provável de isso acontecer (por características do tecido endometrial) é na cavidade endometrial. Mas o embrião tem o potencial de se conectar em qualquer lugar que ele cair – possibilidade de gestações se desenvolverem em lugares variados (gestação ectópica). Gestação abdominal – muito rara, há poucas possibilidades de evoluir até o parto. As outras localizações impossibilitam ainda mais o desenvolvimento da gestação. FATORES DE RISCO: • Dano tubário progresso causado por: o Ectópica prévia (10%) o Salpingite (doença inflamatória pélvica) o Endometriose – lesões nas trompas o Apendicite – supura, infecção etc o Cirurgias anexiais – retirada de tumor próximo que lesou a região • Infertilidade – pct tem dificuldade de engravidar, tem grande possibilidade da trompa dela ser danificada de alguma forma • Reprodução assistida – algum mecanismo de implantar o embrião • Tabagismo – a fecundação acontece no início da trompa e ai o embrião é empurrado para dentro do útero para ser implantado, o que faz isso é principalmente o movimento ciliar das paredes da trompa. O tabagismo reduz o movimento ciliar dessas células. Paciente com DIU: menos risco de engravidar. Paciente grávida com DIU: mais risco de ectópica. O diu reduz o risco de gravidez tópica e ectópica, só que ele reduz muito mais a chance de uma gravidez tópica do que de uma gravidez ectópica. Então se estiver grávida e estiver com diu tem mais risco de ter gravidez ectópica. DIU não é fator de risco de gravidez ectópica. QUADRO CLÍNICO: Ectópica rota: • Dor abdomino-pélvica intensa • Sangramento vaginal pequeno – grande parte do sangramento está dentro do abdome • Irritação peritoneal (descompressão brusca + em abdome e fundo de saco) • Distensão abdominal • Mucosas hipocoradas • Taquicardia • Hipotensão Ectópica rota: quando a gestação cresce demais e a estrutura que estava abrigando-a não é mais capaz de suportar ela, ela rompe e tem um quadro de hemorragia abdominal que vai gerar sinais e sintomas. É um quadro que lembra uma apendicite em termos de dor – dor de irritação peritoneal. • Colpocentese demonstra sangue no fundo de saco – agulha com seringa para aspirar sangue, usado antigamente • USG mostra sangue livre na pelve – área escura é líquido livre • BHCG + Diferenciar de cisto hemorrágico – pode ter quadro de irritação peritoneal também. Então a diferença é que o BHCG vai estar positivo na ectópica rota. 2 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P MEDICINA Ectópica íntegra: • Pode cursar com dor e sangramento leves • Diagnóstico por imagem/laboratório • BHCG + USG permite diagnosticar antes de romper e piorar o quadro. Imagem de baixo – corpo uterino, implantação do saco gestacional na cicatriz cesariana. Imagem maior – região anexial, saco gestacional. Imagem típica: bolinha anecoica (saco gestacional com líquido amniótico) com halo hiperecogênico. Isso é quando está integra, depois que rompe é diferente. Evolução: A gestação íntegra não cresce até romper sempre. Nem sempre vai ser operada também. Abortamento tubário • Pode cursar com pequena agudização do sangramento • Evolui com reabsorção e resolução espontânea Crescimento e rotura • Rotura leve a hemorragia profusa • Abdome agudo hemorrágico Gestação de localização indeterminada: • BHCG + • Útero vazio ao USG • Sem saco gestacional ectópico ao USG • Seriar USG e BHCG quantitativo – normalmente é feito semanalmente Pct estava tentando engravidar, está com menstruação atrasada, com cólica – faz a USG e não tem bebê em lugar nenhum e o BHCG +. O que fazer? É o estado de gestação de localização indeterminada – ainda não está vendo porque está pequena demais então seria o USG e o BHCG para ter uma ideia do que está acontecendo. Se o BHCG estiver caindo provavelmente teve uma perda antes de chegar a tamanho visível. Se começa a subir o BHCG uma hora vai aparecer no USG. TRATAMENTO: Gestação ectópica rota? Sim – cirurgia (laparotomia – aberta). O quadro clínico (dor abdominal, pequeno sangramento transvaginal, irritação peritoneal, abdome distendido) é diagnóstico de ectópica rota – não precisa de USG, colpocentese. Isso significa que se a pct está com o quadro clínico, mas está estável pode pedir USG antes de intervir. Mas se a pct está chocando e não tem USG – abre a pct. Ou seja, o diagnóstico é clínico – pode abrir independente de USG. Não é ectópica rota – está íntegra, não tem quadro de abdome agudo hemorrágico, não está sangrando para dentro da barriga. Se não está rota, pode ter 2 quadros diferentes: • Gestação avançada demais – opera de qualquer forma, mesmo não tendo rompido. Avançada de mais é: BHCG > 5mil ou massa anexial > 3,5cm – não pode fazer tratamento medicamentoso. • Gestação com BHCG < 5mil ou massa anexial < 3,5cm pode pensar em tratamento medicamentoso (metrotexato). Se o BHCG < 1.500 e percebe-se que ele está decaindo, não precisa nem de medicamento, é só acompanhar pq pode estar acontecendo um abortamento tubário. A conduta é pela gravidade do quadro. ABORTAMENTO: Interrupção da gestação antes das 20 semanas ou 500g de peso fetal. Aborto: produto do abortamento. Nasceu com 21 semanas não é mais abortamento, é parto. Nasceu com 600 gramas é parto. Se perder com 6 meses não é abortamento, é parto de natimorto. Abortamento é o processo do aborto sair. 3 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P MEDICINA Chance de perda gestacional por idade gestacional. Por isso é importante identificar o que foi abortamento e o que foi parto natimorto pq abortamento é muito comum. Frequência: • Estudos experimentais: em torno de 25% das gestações • Gestações subclínicas. Muitas vezes que a mulher teve um atraso e depois sangra, foi uma abortamento subclínico. A única causa realmente dessas é a doença sexualmente transmissível. Levantar peso não afeta, estresse não afeta. CAUSAS: Anembrionados: 50% Carga genética do zigoto não é suficiente nem para gerar embrião. Embrionados: • Aneuploidias (45, X, trissomias, triploidia, tetraploidias) – defeito de um cromossomo. • Euplóides: fatores de risco maternos (doenças sexualmente transmissíveis etc) No primeiro trimestre, 60% das perdas são por aneuploidia. E pq acontece isso? Pq tem tanta formação errada? Pq isso aumenta a medida que a díade da mulher aumenta? Pq os óvulos são acumulados e não produzidos constantemente e aí com o tempo mais frequente fica os defeitos dos óvulos. Fatores de risco: • Infecções (incerto) • DII, LES, tuberculose, câncer, cardiopatias cianóticas • Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo • Radioterapia • Diabetes Mellitus descompensado • Hipotireoidismo • Anomalia uterina • Uso de drogas (álcool e cocaína) • Desnutrição severa e obesidade mórbida • Procedimentos cirúrgicos • Exposição a toxinas CLASSIFICAÇÃO: Primeira distinção para quando pct chega com ameaça de abortamento (sangramento, com cólica, início de gestação) – a primeira informação que tem que ter é se o colo do útero está fechado ou aberto. Colo aberto: • Abortamento inevitável: perda de líquido vaginal com dilatação do colo • Abortamento incompleto: perda de sangue com dilatação do colo Hoje, na prática: se existe dilatação cervical o abortamento é inevitável, incompleto, e está em curso. Essa classificação é antiga. Inevitável: quando não tem sangramento. Incompleto: quando tem sangramento.Isso não faz sentido pq o fim seria o mesmo. Então hoje o termo seria abortamento em curso. 4 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P MEDICINA Se o colo está aberto – já começou e ainda não terminou. Colo fechado: Se o colo está fechado tem algumas possibilidades: Ameaça de abortamento • Dor e sangramento no início da gestação • DDX com gestação ectópica pode não ter acontecido/começado e aí por mais que exista o risco também tem a possibilidade dele não acontecer; Abortamento retido: • Constatação tardia (antigamente) de morte fetal sem expulsão • Hoje: comprovação e falência gestacional sem expulsão com USG Se faz USG, colo fechado, e constata que houve morte fetal. Abortamento completo: • Dor e sangramento profuso com eliminação de restos • Se duvidoso (não tiver sangramento importante), avaliar com USG e BHCG. Pode ser que já aconteceu o abortamento, já expulsou e o colo já fechou. Então a pct chega referindo que teve uma dor muito forte, sangramento volumoso com pedaços (mostra foto – saco gestacional é uma bolinha branca); daí você toca e vê que o colo já fechou – isso é um abortamento completo. Diagnóstico é clínico. Abortamento séptico ou infectado • Qualquer caso que apresente febre, secreção fétida. • Menos comum na atualidade. BHCG demora cerca de um mês para negativar, então na maioria das vezes ainda vai ter beta positivo – mesmo em caso de abortamento completo. CONDUTA: Abortamento • Hemorragia: esvaziamento imediato (AMIU/curetagem) e uterotônicos Pct com sangramento grave, prejudicando a hemodinâmica – faz esvaziamento imediato do útero, pode usar uterotônicos (ocitocina). • Infecção: esvaziamento imediato (AMIU/curetagem) + clindamicina + gentamicina No caso de infecção também faz esvaziamento imediato pq antibiótico sozinho não é capaz de tratar a massa infectada lá dentro. Outros casos: expectante x medicamentosa x cirúrgica Discutir com a paciente. Pct está com abortamento retido ou em curso, mas não está com hemorragia nem infecção, faz o que? Todos os protocolos consideram que as 3 condutas possíveis (expectante, medicamentosa e cirúrgica) são equivalentes – não tem nem pior nem melhor. Então leve em conta a decisão da paciente. Mas é importante saber que: um expectante pode virar medicamentoso e medicamentoso pode virar cirúrgico. AMIU – aspiração manual intrauterina. • Expectante o Reavaliar semanalmente o Risco pequeno de infecção e hemorragia o Bom sucesso até 14 dias o Podem ser necessárias outras medidas – após 2 semanas sem resultado. Durante as duas semanas que a pct está esperando ela teve quadro de cólica intensa, sangramento intenso depois a cólica e sangramento cessaram – problema resolvido, abortamento completo. Se isso não aconteceu, passa para conduta medicamentosa. • Medicamentoso o Misoprostol -> intra-hospitalar – pq no Brasil o aborto é ilegal o Risco pequeno de hemorragia o Pode ser necessária intervenção cirúrgica • Cirúrgico o Curetagem ou AMIU o Hospitalização e anestesia o Risco pequeno de perfuração uterina o Risco pequeno de sinequias – aderências que deixam a pct infértil o Risco pequeno de COMPREMETER FERTILIDADE o Definitivo – não tem como falhar 5 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P MEDICINA Cureta – colher com borda cortante. Amiu – é menos traumático que a cureta. SANGRAMENTO NA SEGUNDA METADE: Durante o trabalho de parto ativo e passivo é comum sangramento leve devido laceração de diminutos vasos cervicais. Importante excluir lesão cervical ou vaginal – certificar que o sangramento é uterino. Sabourin, 2012: 806 mulheres com hemorragia entre 22 e 28 semanas • Sem causa definível 37% - pode ser mais misteriosa • DPP 32% • Placenta prévia 21% • Cervical 7% • Outras etiologias 3% DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA: • Ou abruptio placentae • Desprendimento da placenta, normalmente implantada, antes do parto. • Hemorragia na decídua basal geral descolamento das membranas • Pode ser crônica ou aguda, parcial ou total Crônica – quadros repetidos de sangramento com o descolamento cada vez mais progressivo. Mas na maioria das vezes é um quadro mais agudo mesmo. Pode ter descolamento parcial ou total. Obs: hematoma subcoriônico – sangramento atras da placenta mostrado no USG no primeiro trimestre de gestação – tem sido chamado de DPP, tecnicamente é um DPP, mas como acontece no primeiro trimestre e é um quadro de abortamento, deve ser chamado de hematoma subcoriônico. • Pode levar a morte de feto e gestante por hemorragia • 1 em cada 200 nascimentos • 1 óbito fetal a cada 2000 nascimento. DPP agudo: Quadro mais clássico é de desprendimento súbito levando a morte do feto em minutos. Vida materna em risco. DPP crônico: Descolamentos parciais possivelmente recidivantes. Não ocorre parto ou óbito fetal num primeiro momento. FATORES DE RISCO: • DPP prévio (12 a 22% de recidiva) • Idade e paridade altas • Síndromes hipertensivas – principal fator de risco, normalmente a pct descola em pico hipertensivo importante • ROPREMA – ruptura prematura de membranas amnióticas • Corioamnionite • Gemelares • Polidrâmnio • Tabaco e cocaína • Trombofilias Álcool – não provoca morte, mas malformações? Cigarro – provoca morte? QUADRO CLÍNICO: • Sangramento TV (transvaginal) - frequente, mas não é necessário – pode ter DPP oculto • Dor abdominal intensa • Hipertonia uterina sustentada – como se o útero tivesse entrando em contração e não saísse mais. • Sinais de SFA Quando o quadro é grave o diagnóstico costuma ser evidente. Então o bebe está bradicardico, pct com dor intensa e barriga dura é DPP mesmo que o sangramento não esteja exteriorizando. Quadro clínico menos intenso: • Suspeitar sempre que sangramento 6 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P MEDICINA • Excluir placenta prévia e sangramentos extrauterinos • USG é pouco sensível – para enxergar o descolamento • RM pode auxiliar, mais precisão Na prática, se a pct está instável hemodinamicamente, vai para cesariana. Pct estável – e o feto? Feto a termo cirurgia. Feto pré-termo – se ele estiver em SFA e hemorragia intensa vai para cirurgia. Se feto prematuro, mas sem SFA e sem hemorragia intensa: avaliar se risco de uma hora para outra ela descolar é maior que os risco da prematuridade. Não operar é uma conduta de exceção. Conduta: Cesárea Característica do sangramento não diferencia DPP de placenta prévia – o que diferencia é a USG, que mostra claramente a placenta prévia. Se tiver com hemorragia intensa , a conduta das duas é a mesma – cesárea. PLACENTA PRÉVIA: • Placenta implantada sobre ou próxima ao orifício cervical interno (OCI) • Aproximadamente 1 a cada 350 nascimentos são de bebes com placenta implantada nesse orifício • Descolamentos de dimensão variável – vai apresentar descolamento de placenta • Pode provocar hemorragia perigosa • Pode impedir o parto vaginal Placenta prévia – é como se ela estivesse antes do bebê na saída do útero. O bebê quer sair e a placenta está prévia à ele. Se a placenta descolar o bebê morre (DPP), e o bebê precisa passar pelo orifício cervical para nascer, então a conclusão é: se tiver uma placenta implantada sobre o orifício cervical, o bebe não consegue nascer via vaginal. Placenta prévia – migração placentária • Crescimento do segmento inferior • Trofotropismo: placenta busca vascularização Por conta desses dois fatores a placenta sobe. O que é subir? Ela vai ser implantada em local mais alto à medida que a gestação passa. Crescimento do segmento inferior: Quando o embrião implanta na transição do colo e do corpo, a primeira imagem mostra a placenta recobrindo o orifício cervical, só que com o tempo, esse ponto sobe e aí a placentanão vai mais recobrir o orifício cervical. Então o segmento inferior cresce para cima levando a placenta junto com ele. Trofotropismo – a placenta busca vascularização. A parte próxima ao colo do útero é pouco vascularizada, a parte do corpo é mais ricamente vascularizada, então, a tendencia é que a placenta vá morrendo e crescendo para a região mais acima. Boa parte das placentas prévias na gestação não se mantém prévias até o parto. Tem que ter cuidado com o diagnóstico precoce de placenta prévia. • Placenta prévia centro-total: recobre OCI • Placenta prévia marginal: borda a menos de 2cm do OCI • Placenta de inserção baixa: borda a mais de 2 cm do OCI – não é placenta prévia, pode tentar parto normal. FATORES DE RISCO: • Idade materna 7 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P MEDICINA • Multiparidade • Gemelaridade • Cesariana anterior – cicatriz atrapalha o trofotropismo • Tabagismo QUADRO CLÍNICO: • Sangramento na segunda metade da gestação • Dor ausente • USG – mostra bem Inserção sobre o orifício. CONDUTA: Gestação • Deve-se internar paciente durante episódio de sangramento • Sangramento importante indica cesariana (pesar riscos x benefícios) • Quando sangramento ausente paciente acompanhada em casa • Repouso absoluto (afastar pelo INSS) e abstinência sexual • Evitar exames vaginais (toque) Parto: • Pode-se tentar parto vaginal na placenta de inserção baixa • Na placenta prévia marginal ou total é indicada cesariana • Planejar parto para pré-termo tardio ou termo precoce (34 a 38 semanas) Placenta inserida baixa – orientar repouso, não ter relação sexual etc e precisamos seriar o USG para ver se a placenta sobe. Referências: - WWW.UPTODATE.COM - Obstetrícia de Williams, 25ta edição, Cunningham, F.G. (org), dezembro 2020 - ACOG Practice Bulletin No. 191: Tubal Ectopic Pregnancy. Obstetrics & Gynecology: February 2018 - Volume 131 - Issue 2 - p e65- e77 doi: 10.1097/AOG.0000000000002464 http://www.uptodate.com/
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