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12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 1/51 Cognição social Prof.ª Valeria Guimarães Leal Descrição Psicologia cognitiva e seus conceitos fundamentais: definições de crenças, atitudes e valores, estereótipos e percepção social, representações sociais (funções, valores e abordagem estrutural). Propósito A psicologia cognitiva é responsável pelo estudo da percepção, do aprendizado, da lembrança e do pensamento do indivíduo, e suas raízes, na filosofia e na fisiologia, se unem para formar o núcleo da Psicologia. A análise das teorias geradas pelo homem comum sobre tais temas contribui para a compreensão de seu comportamento no meio social e dos fenômenos variados, como saúde, doença mental, violência, justiça, desemprego e amizade. Objetivos Módulo 1 Psicologia cognitiva e cognição social Compreender os fenômenos sociocognitivos. Módulo 2 Crenças, atitudes e valores Identificar a influência de crenças, atitudes e valores no comportamento humano. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 2/51 Módulo 3 Teoria das representações sociais Aplicar a teoria das representações sociais. Módulo 4 Estereótipos e percepção social Reconhecer a formação dos estereótipos e seu papel na percepção social. A cognição social é o estudo do modo pelo qual o indivíduo forma inferências com base nas informações sociais que capta do ambiente. Isso pode ser explicado pelo fato de que, quando entramos em contato com o ambiente social que nos cerca, percebemos outros indivíduos, conhecemos membros de grupos diferentes, e interagimos com tais pessoas e grupos. O estudo da cognição é responsável por reunir uma série de microteorias que, no decorrer do tempo, desenvolveram-se no cenário da Psicologia Social, para esclarecer o modo por meio do qual as pessoas pensam sobre si mesmas e sobre outros fatos, geram impressões sobre outros indivíduos ou grupos sociais, e explicam comportamentos e eventos. A cognição social se apoia no modelo de processamento de informação que considera atenção e percepção, memória e julgamento como etapas do processo cognitivo. Esse campo se dedica a estudar o conteúdo das representações mentais e os mecanismos subjacentes ao processamento da informação social. Seu foco se encontra nos modelos pelos quais impressões, crenças e cognições sobre estímulos sociais se originam e afetam o comportamento. Introdução 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 3/51 1 - Psicologia cognitiva e cognição social Ao �nal deste módulo, você será capaz de compreender os fenômenos sociocognitivos. Fundamentos da psicologia cognitiva Origens e correntes de pensamento A psicologia cognitiva é o estudo da forma pela qual as pessoas percebem, aprendem, lembram-se de algo e pensam sobre as informações. Outras áreas de estudo para os psicólogos cognitivos são as bases biológicas da cognição, assim como a atenção, a consciência, a percepção, a memória, o imaginário, a linguagem, a solução de problemas, a criatividade, a tomada de decisões, o raciocínio, as mudanças na cognição em termos de desenvolvimento que ocorrem durante a vida, a inteligência humana e diversos outros aspectos do pensamento humano. A origem da psicologia cognitiva já mostrava suas ideias iniciais durante a primeira metade do século XX, quando ainda prevaleciam duas correntes de pensamentos na psicologia. Confira a seguir quais são elas: Centrados no comportamento, os psicólogos behavioristas elaboravam as teorias de aprendizagem e condicionamento, concebidas a partir de experiências, especialmente aquelas nas quais se observava o comportamento de animais em situações cuidadosamente planejadas. Behaviorismo Psicanálise 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 4/51 Voltada para o estudo do inconsciente e do desenvolvimento, e a estrutura e a dinâmica do psiquismo, destacando o impacto das experiências vivenciadas na primeira infância. Na abordagem behaviorista, o estudo do psicólogo norte-americano Frederic Skinner (1904-1990) era voltado a descrever – e não em explicar – o comportamento. Por não se preocupar com o que ocorria dentro do organismo, a abordagem de Skinner foi denominada abordagem do “organismo vazio”. Nessa visão, o homem seria controlado e operado por forças ambientais, pelo mundo exterior, e não pelas forças internas. Posteriormente, psicólogos como o canadense Albert Bandura (1925-2021) e o norte-americano Julian Rotter (1916- 2014) – que, em princípio, eram behavioristas, mas de um modo bem diferente de Skinner – começaram a questionar a total negação dos processos mentais ou cognitivos. Esses estudiosos preconizavam uma aprendizagem social ou uma abordagem sociobehaviorista, apoiando-se em um pensamento mais amplo em direção a um movimento cognitivo (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E., 2012). A psicologia cognitiva se diferencia do behaviorismo em numerosos aspectos. Primeiro, os psicólogos cognitivos estudam não somente a mera resposta aos estímulos, mas também o processo de aquisição do conhecimento. Na psicologia cognitiva, o que se destaca são os processos mentais diante de eventos, e não as conexões estímulo- resposta. Desse modo, o foco é a mente e não o comportamento. Contudo, isso não significa que o psicólogo cognitivo descarte o comportamento. O fato é que as reações comportamentais não são a única fonte de pesquisa e análise. É por meio da observação das respostas comportamentais que podemos avaliar e chegar a conclusões sobre os processos mentais associados a essas reações. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 5/51 Edward Tolman. O psicólogo norte-americano Edward Tolman (1886-1959) é visto por alguns autores como um pioneiro da psicologia cognitiva moderna. Ele pensava que, para compreender o comportamento, era preciso levar em consideração seu propósito e seu plano. Em outras palavras, todo o comportamento era dirigido a algum objetivo. Já o psicólogo estadunidense George Miller (1920-2012) e o psicólogo alemão Ulric Neisser (1928-2012) tiveram um papel de destaque no surgimento da psicologia cognitiva, mas não foram fundadores da psicologia cognitiva no sentido formal da palavra. A colaboração deles está na forma de um centro de pesquisa e de livros, considerado o marco no desenvolvimento da psicologia cognitiva – um trabalho inovador e influente (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E., 2012). Psicologia social A partir dos anos 1980, o cognitivismo se estabeleceu de vez como abordagem preponderante no cenário norte- americano e na psicologia social psicológica, que concebia o indivíduo como parte de um sistema. No início, a psicologia social se dedicava a estudar os processos socioculturais do homem. Posteriormente, passou a focar nos processos intraindividuais e se tornou mais individualista, denominando-se psicologia social psicológica. Essa visão explica os sentimentos, pensamentos e comportamentos do indivíduo na presença real ou imaginada de outras pessoas. Em outras palavras, foca nos estudos de como o indivíduo responde aos estímulos do grupo. Devido a isso, as pesquisas na área da cognição social passaram a ser alvo de grande interesse. Seu propósito fundamental é compreender os processos cognitivos que se encontram subjacentes aos pensamentos sociais. Cada vez mais os fatores cognitivos são observados e analisados por psicólogos pesquisadores. Entre esses fatores, destacamos: A teoria da atribuição da psicologia social; A teoria da dissonância cognitiva; A motivação e a emoção; A personalidade; A aprendizagem; A memória; A percepção; 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 6/51 A percepção; O processamento da informação na tomada de decisões ou na soluçãode problemas. Nas áreas aplicadas, como a psicologia clínica, comunitária, educacional e industrial-organizacional, também há ênfase nos fatores cognitivos. O processo de socialização do ser humano é composto por uma constante coleta e troca de informações realizadas por meio de diferentes estímulos sociais (pessoas, classe, família, escola, instituições etc.), os quais, quando processados, levam a julgamentos. Em função do contínuo interesse que despertam, três tópicos podem ser considerados centrais para a psicologia social. Saiba quais são eles a seguir: Cognição social Atitudes Processos grupais Princípios da cognição social Delimitação do campo de estudo A cognição social pode ser vista como uma subárea da Psicologia, já que abarca uma série de microteorias, que foram surgindo no contexto da psicologia social em uma tentativa de entender como os indivíduos formam pensamentos a respeito deles mesmos, de outras pessoas, dos fatos e grupos sociais, e como explicam comportamentos e eventos. A cognição social é, sobretudo, o estudo de como as pessoas fazem inferências sobre informações obtidas no meio social, como elas se percebem, interpretam, representam e se lembram de informações sobre elas mesmas e os demais, 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 7/51 como tais inferências são formadas e afetam o comportamento. Além disso, está fundamentada no processamento da informação e nos processos cognitivos como atenção, percepção, memória e o julgamento. No que diz respeito a esses processos cognitivos, eles são influenciados por tendenciosidades, esquemas sociais, heurísticas (atalhos para o conhecimento da realidade social) e automatismos (comportamento exibido inconscientemente). Comumente, tendemos a descobrir as causas dos comportamentos, tanto nossos quanto de outras pessoas (FERREIRA, 2010). Esquemas sociais No contato do indivíduo com seu mundo social, os estímulos são transformados em informações, que, por sua vez, são representadas cognitivamente (em forma de estruturas mentais de conhecimento), e construídas, organizadas e armazenadas na memória em classes. Essas estruturas são chamadas de esquemas sociais e influenciam o modo como reagimos aos eventos sociais. Possuímos os seguintes esquemas: De nós mesmos Tímido, calmo, extrovertido. De gênero Masculino, feminino. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 8/51 De pessoas Médico, psicólogo, político, engenheiro. De determinados grupos Negro, asiático, mulçumano. Do comportamento em certos ambientes Salas de aula, festas, cerimônias religiosas. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 9/51 Exemplo Quem frequenta festas sabe que há bebidas, comida, música alta, pessoas dançando, conversando, e paquerando. Nada disso é surpresa para quem já foi a uma festa, pois, pela experiência passada, um esquema se formou sobre o que esperar ao ir a um evento como esse. Já para quem nunca foi a uma festa, a incerteza pode causar certa ansiedade. Os esquemas sociais agem sobre os processos cognitivos, pois informações coerentes com nossos esquemas recebem nossa maior atenção, assim como a maneira como armazenamos a informação e recordamos dela. Profecias autorrealizadoras Um modo como os esquemas sociais afetam nosso comportamento pode ser visto por meio das profecias autorrealizadoras, que, também, são uma forma pela qual os esquemas são mantidos. Mas o que significa uma profecia autorrealizadora? Trata-se de mostrar um padrão de comportamento que, orientado por esquemas sociais, faz com que o indivíduo, para o qual esse comportamento se destina, seja influenciado por ele e responda de forma a atender ao que estaria sendo esperado. Em outras palavras, é quando agimos de acordo com nossos esquemas sociais, e tal maneira de agir, muitas vezes, induz a resultados compatíveis com estas expectativas, reforçando-as ao invés de contestá-las. Exemplo 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 10/51 Imagine um treinador de basquete que diz que seu jogador na posição de armador não consegue fazer cestas de 3 pontos por ser o mais baixo. Dessa forma, quando há oportunidade, pede para ele passar a bola. O jogador acaba se convencendo de que não é capaz e acaba não dando mais atenção a treinar arremessos desse tipo. Por consequência, passa a errar as cestas de 3 pontos, confirmando a profecia do treinador de que ele não seria capaz. Primazia e priming Os esquemas sociais são postos em prática ou ativados por meio de processos conhecidos como primazia e priming. A primazia diz respeito a informações recentes que são capazes de ativar um esquema. Assim, o conhecido efeito primazia se refere ao fenômeno em que prestamos mais atenção às informações que nos são apresentadas em primeiro lugar. Esse fenômeno pode ser associado ao impacto que sofremos com as primeiras impressões, por exemplo. Outra forma de ativação de esquemas sociais é o priming, que consiste na maneira como um primeiro estímulo afeta as respostas que um indivíduo apresenta a estímulos subsequentes, de modo inconsciente e automático, podendo alterar nosso julgamento e nossas avaliações. Exemplo Seguranças de aeroporto que lidam quotidianamente com infratores e traficantes tornam-se propensos a perceber o comportamento das pessoas em termos de criminalidade, especialmente quando algum comportamento considerado suspeito é observado. Frente a esse comportamento, o segurança pode ignorar qualquer outra informação e deter o sujeito que se torna, para ele, perigoso. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 11/51 A ativação do esquema devido ao efeito priming ocorre de forma inconsciente. Dependendo da importância do evento social, os esquemas sociais são ativados de imediato sem a necessidade de muito esforço . Heurísticas e construção de categorias Outros elementos importantes para o paradigma do processamento de informações são as heurísticas e a construção de categorias. A heurística ou atalhos mentais é um método rápido de chegar a conclusões ao tentarmos conhecer o ambiente social, mas nem sempre nos leva a conclusões corretas. Diariamente, somos submetidos a uma série de informações, mas temos uma capacidade limitada para processar todas essas informações sociais, e, por isso, lançamos mão de heurísticas para enfrentar o grande volume e complexidade das informações sociais. Portanto, erros e distorções em nossos julgamentos e tomadas de decisão são cometidos (FERREIRA, 2010). Exemplo Ao recebermos a informação de que, nos cursos de Odontologia, há mais mulheres que homens, utilizamos esse conhecimento para afirmar que há mais mulheres atuando clinicamente como dentistas que homens, o que pode não ser verdade. Na literatura, podemos encontrar diferentes tipos de heurísticas. Rodrigues, Assmar e Jablonski (2012) nos dão exemplos de heurísticas de representatividade, que consistem em levar em conta a semelhança entre dois objetos para deduzir que um possui características daquele com o qual se aparece. Um exemplo disso é quando consideramos que os produtos mais caros são de melhor qualidade. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 12/51 Podemos dizer que é usar um atalho para chegar a uma conclusão, utilizando a semelhança da situação observada com um esquema cognitivo previamente adquirido. Desse modo, ao concluir que a nova situação é representativa do esquema anterior, é possível chegar rapidamente a um julgamento. Outra heurística muito comum é o uso de um ponto de referência para a construção de julgamentos. Geralmente, o ponto de referência utilizado para se fazer esse julgamento é a pessoa que o emite. Exemplo Uma pessoa mais extrovertidatende a julgar uma pessoa menos extrovertida como tímida ou pouco sociável; uma pessoa que mora em um país de clima frio tem a tendência a considerar temperaturas acima dos 35 graus insuportáveis. Com isso, podemos observar que o falso consenso consiste em acreditar que certo posicionamento sobre uma situação específica é compartilhado pelas demais pessoas. O risco é levar a aceitar nossa visão de mundo correta, sem antes fazer nenhuma crítica. As diferentes heurísticas apresentadas aqui são usadas quando o assunto em questão não tem muita importância, quando nos encontramos exaustos cognitivamente, ou quando temos urgência em emitir julgamentos e não temos muita informação sobre o assunto. Pesquisas demonstraram que grande parte do nosso comportamento social é orientado por pensamentos automáticos, independentemente de nossa consciência dele. A seguir, veremos que o comportamento é uma função de: Fontes internas Oriundas de pensamentos conscientes com base no comportamento. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 13/51 Fontes externas São apenas percepções do comportamento dos outros. O ambiente externo pode influenciar o comportamento de uma pessoa, de modo que ela mesmo não perceba conscientemente. Nosso comportamento também pode ser manifestado de forma automática, sem participação consciente. Entretanto, fenômenos mais complexos podem exigir um maior grau de processamento, mais controlado e consciente, o que dependerá de habilidades cognitivas do percebedor em relação ao meio social. As heurísticas e a construção de categorias Neste vídeo, a especialista reflete sobre os diversos tipos de heurísticas e a sua importância no estudo e na compreensão do comportamento social. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 14/51 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A psicologia cognitiva surge em resposta a muitas críticas que foram feitas ao behaviorismo. Qual é a principal diferença entre a psicologia cognitiva e o behaviorismo? A O behaviorismo destaca as conexões entre estímulo e reposta, e a psicologia cognitiva é focada no inconsciente. B A psicologia cognitiva é focada no desenvolvimento da primeira infância, e o behaviorismo é centrado na teoria de aprendizagem. C O behaviorismo é centrado no comportamento humano, e a psicologia cognitiva estuda os processos mentais diante de eventos. D O behaviorismo destaca os processos mentais, e a psicologia cognitiva foca no comportamento humano. E O behaviorismo estuda o comportamento diante do ambiente, e a psicologia cognitiva estuda o inconsciente coletivo. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 15/51 Parabéns! A alternativa C está correta. O psicólogo cognitivo estuda os processos mentais: como a pessoa percebe, motiva-se e aprende diante de eventos. Já o behaviorismo estuda o comportamento humano baseado em reações estímulo-resposta, sem levar em conta os processos mentais. Questão 2 Alguns autores consideram que, atualmente, a cognição social é o modelo e enfoque dominante na psicologia social. Sobre a cognição social, é correto afirmar que: Parabéns! A alternativa A está correta. A cognição social é um campo de estudo da Psicologia, que busca compreender a forma como as pessoas se percebem a si mesmas e entre elas, para poder explicar e fazer inferências sobre o comportamento social. A Estuda como as pessoas compreendem a si mesmas e às outras em um contexto. B É um campo da psicologia que estuda os processos grupais. C É um subgrupo da Sociologia. D Está fundamentada no comportamento estímulo-resposta no contexto social. E Não possui relação com os processos psicológicos básicos. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 16/51 2 - Crenças, atitudes e valores Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a in�uência de crenças, atitudes e valores no comportamento humano. Crenças Conceito de crenças Na cognição social, o conceito de crenças é muito estudado e pesquisado. Portanto, podemos dizer que tem um lugar de destaque. Krüger (2011) destaca que uma afirmação qualquer feita por um indivíduo, tendo como origem a própria experiência e sendo esta afirmação aceita por pelo menos um indivíduo, ela passa a ser uma crença. E as crenças se originam sempre individualmente, sendo que o grau de sua aceitação subjetiva varia bastante. As crenças se apresentam por meio da linguagem oral ou escrita e, sendo assim, podem ser avaliadas. São representações mentais, uma vez que seu conteúdo é simbólico. Estão conectados a essas crenças os processos cognitivos, afetivos e motivacionais. Quando as crenças são originárias de algo com o qual nos identificamos ou que tem valor, são mais intensas do que as formadas por meio de uma mera percepção sem muita importância (KRÜGER, 2018). 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 17/51 O indivíduo resiste mais fortemente a mudar crenças que são, para ele, mais relevantes do que crenças superficiais, como, por exemplo, opiniões. As opiniões são crenças superficiais construídas a partir da interação social. Quanto menos temos convicção a respeito de algo, mais frágil é a crença. Bem (1973) afirma que a compreensão de um homem sobre si mesmo e do seu meio é formada a partir de crenças, e que elas são produtos da experiência direta do homem com o meio. Tipos de crenças Em 1981, o pesquisador Rockeach (apud PEREIRA; MONTEIRO, 2020) disse que as crenças nos homens estão organizadas em um sistema arquitetônico e que, para o homem, não é possível conceber que as crenças existam fora dessa organização. Segundo esse autor, as crenças estão organizas em seu sistema de forma concêntrica, com crenças centrais e periféricas. Confira quais são elas: Tipo A – Crenças primitivas (consenso 100%) São as crenças mais centrais e incontestáveis. São tidas como verdades absolutas de um indivíduo sobre a realidade física, social e a natureza do eu. São formadas a partir do contato direto com o objeto da crença e reforçadas por um consenso social. As crenças primitivas possuem a capacidade de reunir outras crenças. Exemplos: - “Eu acredito que isto é uma mesa.” - "Eu acredito que esta é minha mãe.” - “Eu acredito que meu nome é Maria.” Tipo B – Crenças primitivas (consenso 0) São crenças centrais e incontestáveis, mas diferem do tipo A, uma vez que não necessitam do consenso social para reforçá-las. As afirmativas dessa classificação abarcam as crenças em algumas coisas que nenhuma outra pessoa poderia ter conhecimento e, como consequência, não importa se os outros acreditam. Exemplo: Existe a crença de que alguém pode ter de justificar o porquê de certos hábitos ou práticas pessoais. “Eu sempre tiro os aparelhos eletrônicos da tomada porque assim tenho certeza de que mesmo desligados não 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 18/51 - Eu sempre tiro os aparelhos eletrônicos da tomada, porque, assim, tenho certeza de que, mesmo desligados, não gastam energia.” Tipo C – Crenças de autoridade Não são crenças centrais. Têm origem na infância e são, de início, compartilhadas com outras pessoas que exercem influência sobre desenvolvimento da criança, porém, com o passar do tempo, a criança percebe que não são válidas. Exemplos: - Papai Noel; - Cuca; - Fada dos dentes. Tipo D – Crenças derivadas Formam-se mais por meio do processo de identificação do que pelo contato direto com o objeto da crença. É uma forma de crença de autoridade, a qual é oriunda da influência dos meios de comunicação, de pessoas, de objetos ou de instituições. Exemplos: - “Eu acredito que o Brasil é um continente, pois eu ouvi isso naquela emissorade TV famosa.” - “Eu acredito que o céu é aqui, pois o líder da minha religião afirmou isso.” Tipo E – Crenças inconsequentes Não têm uma justificativa plausível para sua ocorrência, baseiam-se em situações de preferência. São associadas a questões de gosto e consideradas inconsequentes por apresentarem pouca ou nenhuma ligação com outras crenças. Não necessitam de reforço do consenso social. Exemplo: - “Eu acredito que beleza é questão de gosto. Para mim, você é bonito.” Nem todas as crenças possuem a mesma importância para o indivíduo, podendo elas serem centrais ou periféricas. Quanto mais central for uma crença, maior será a resistência à mudança. E, por conseguinte, quanto mais central for a crença modificada, maior será a repercussão no sistema de crenças. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 19/51 As crenças e atitudes humanas têm como alicerce quatro processos do homem. Confira a seguir: Os dois últimos implicam interagir com os outras pessoas. Segundo Bem (1973), dentre as crenças primitivas, a fé na validade da experiência sensorial é a mais importante. O autor justifica essa afirmação exemplificando que acreditamos que um objeto continua com o mesmo tamanho e forma quando dele nos afastamos, embora sua imagem visual mude: ele continua no mesmo lugar quando não o estamos olhando. É possível analisar cada crença até que se chegue à crença básica ou crença primitiva, da qual esta se originou. Atitudes De�nição de atitudes No contexto sociopsicológico, a atitude é um constructo dos mais antigos. Por parte dos psicólogos sociais, em todas Cognitivos (pensar) Emocionais (sentir) Comportamentais Sociais 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 20/51 as épocas, o estudo das atitudes tem sido de grande consideração. No que diz respeito a esses estudos, a década de 1930 foi marcada pelo desenvolvimento das escalas de medida de atitude. Porém, na segunda metade dessa década, os psicólogos sociais se preocuparam em procurar os determinantes das atitudes. Na década de 1940, os resultados dessas investigações foram publicados. Conhecer as atitudes de uma pessoa em relação a determinados objetos permite que se façam suposições a respeito de seu comportamento. Para cada um de nós, as atitudes exercem funções específicas, ajudando-nos a formar uma ideia mais estável da realidade em que vivemos. Apresentamos, a seguir, definições de atitude de alguns importantes estudiosos da psicologia social. Louis Thurstone Em 1928, segundo Rodrigues (1976), o psicólogo norte-americano Louis Thurstone (1887-1955) definiu a atitude como a intensidade de afeto a favor ou contra um objeto psicológico. Harry Triandis Em 1971, foi descrita pelo psicólogo grego Harry Triandis (1926-2019) como uma ideia carregada de emoção que predispõe um conjunto de ações a um conjunto específico de situações sociais (RODRIGUES, 1976). Gordon Allport Em 1935, o psicólogo estadunidense Gordon Allport (1897-1967) definiu atitude como “um estado mental e neurológico de prontidão, organizado através da experiência, e capaz de exercer uma influência diretiva ou dinâmica sobre a resposta do indivíduo a todos os objetos e situações a que está relacionada” (RODRIGUES, 1976, p. 395-396). 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 21/51 Componentes atitudinais Rodrigues (1976) diz a que a atitude é composta por um componente cognitivo, um componente afetivo e um componente comportamental. A seguir, vamos entender melhor esses componentes. Componente cognitivo O componente cognitivo de uma atitude é formado por crenças e demais componentes cognitivos (maneira de encarar o objeto, conhecimento etc.) relativos ao objeto daquela atitude. É necessário que se tenha alguma representação cognitiva do objeto antes que se tenha uma atitude em relação ele. Exemplo Pessoas que não gostam do estilo de música sertanejo o consideram um estilo brega, de baixo nível cultural, de “sofrência” etc. Fabrigar e Wegener Fabrigar e Wegener (2010 apud FERREIRA, 2010) estabeleceram que as atitudes podem ser definidas como avaliações gerais e duradouras que oscilam de um extremo positivo a um negativo dos objetos presentes no mundo social, o que compreende pessoas, grupos, comportamentos etc. Segundo esse conceito, fazem parte delas as cognições e os afetos sobre tais objetos. Allport Na década de 1930, Allport compilou por volta de cem definições, e mesmo que nem todas fossem amplamente aceitas, alguns temas eram recorrentes nas várias definições oferecidas pelos autores. Um exemplo disso está no fato de estas definições se encontrarem relacionadas a diversas manifestações, incluindo as crenças, os valores e as opiniões, e de elas abarcarem avaliações de objetos sociais. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 22/51 Algumas vezes, a representação cognitiva que a pessoa tem de um objeto social é vaga ou errônea. Quando a representação cognitiva é vaga, seu afeto a respeito do objeto tem uma tendência a ser fraco. Quando a representação cognitiva é errônea, independentemente de corresponder ou não à realidade, a intensidade do afeto não é influenciada. Componente afetivo Pode ser definido, para alguns, como sentimento pró ou contra determinado objeto social. Somente a atitude tem esse componente. Crenças e opiniões não o têm. Exemplo Uma pessoa pode crer que a origem da raça humana é proveniente de extraterrestres e manter essa crença em um nível cognitivo, sem envolver nenhum afeto. Dessa forma, não é possível dizer que essa pessoa tem uma atitude em relação à origem da raça humana, e sim uma crença. Opinião também é uma crença e podemos classificá-la como Tipo E. Porém, se somássemos a essa cognição um componente afetivo, poderíamos dizer que a pessoa tem uma atitude sobre esse assunto se estivesse em uma discussão acalorada defendendo sua crença. Componente comportamental Em 1965, os pesquisadores Newcomb, Turner e Converse concluíram que o papel das atitudes sociais na determinação do comportamento é criar um estado de predisposição à ação e, em certa situação, derivar em um comportamento (RODRIGUES, 1976). Exemplo 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 23/51 Uma pessoa que torce para um time de futebol possui afetos e cognições a respeito desse time, capaz de predispor o sujeito em um campeonato a emitir comportamentos de acordo com tais afetos e cognições, o que, no caso, seria torcer pelo time em questão. Assim, podemos entender que as atitudes compreendem o que as pessoas pensam, sentem e como elas gostariam de se comportar em relação a um objeto atitudinal. O comportamento é determinado não apenas pelo que as pessoas gostariam de fazer, mas também pelas normas sociais, em outras palavras, o que elas pensam que devem fazer, pelos hábitos, ou seja, o que elas geralmente têm feito, e pelas consequências esperadas de seu comportamento. Exemplo Uma pessoa de determinada religião pode ter uma atitude fortemente negativa com pessoas de outra religião, porém trata com educação e respeito um grupo dessa outra religião quando está em um mesmo evento no qual foi convidado com esse grupo. Ou seja, em uma reunião social, prevalecem as normas sociais, mesmo sendo seu afeto não amistoso com pessoas de outra religião. Valores Concepção e classi�cação de valores Segundo Rodrigues (1976), os valores são categorias gerais também portadoras de componentes cognitivos, afetivos e predisponentes de comportamento, diferenciando-se das atitudes por sua generalidade. Os valores podem conter uma infinidade de atitudes. Por exemplo, o valor religião envolve atitudes em relação a Deus, à igreja, às recomendações próprias da religião etc. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html#24/51 Em 1951, uma escala foi proposta por Allport, Vernon e Lindzey (RODRIGUES, 1976). Ela padronizava a classificação das pessoas de acordo com a importância dada por elas aos seis valores a seguir: Atividade social Altruísmo e filantropia. Estética Harmonia, beleza de formas, simetria. Praticalidade Utilidade e pragmatismo, dominância de enfoques de natureza econômica. Teoria Aspectos racionais, críticos, empíricos e busca da verdade. Poder Influência, dominância e exercício do poder em várias esferas. Religião Aspectos transcendentes, místicos e procura de um sentido à vida. Teoria de valores e tipos motivacionais Schawatz (1992; 1994 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2012) propôs uma teoria de valores que teve como origem uma série vasta de estudos transculturais. Essa teoria é considerada referência obrigatória em qualquer estudo a respeito do assunto. Nela, os valores são compreendidos como objetivos ou metas trans-situacionais que variam em relevância. São como convicções morais que 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 25/51 orientam a vida das pessoas. Dez tipos motivacionais de valores são listados por Schawatz e organizados em uma hierarquia, de acordo com a relevância de sua função e de seus efeitos práticos, psicológicos e sociais para os sujeitos. A seguir, confira quais são eles: Benevolência Busca da proteção e de favorecimento do bem-estar dos outros. Tradição Concordância com costumes e ideias de natureza religiosa e cultural. Conformidade Controle de ações ou de impulsos socialmente condenáveis. Segurança Defesa de equilíbrio e da imperturbabilidade da sociedade, das relações e do próprio eu. Poder Controle sobre pessoas ou recursos, almejando status e prestígio. Realização Procura de sucesso pessoal pela evidenciação de competência, em conformidade com os padrões sociais. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 26/51 Dimensões de ordem superior A primeira dimensão é referente a um conflito entre a independência própria, por meio de ações que têm como meta a mudança, e a busca por estabilidade e preservação da tradição. Essa dimensão é formada por dois polos opostos: Abertura à mudança Correlaciona os tipos motivacionais dos valores autodireção e estimulação. Conservação Hedonismo Procura de sensações gratificantes e prazer. Estimulação Busca de agitação, novidades e desafios. Autodireção Busca de autonomia de pensamentos e de ações. Universalismo Busca de capacidade de entendimento, condescendência e proteção para com todas as criaturas da Terra. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 27/51 Conservação Combina os tipos dos valores segurança, conformidade e tradição. A segunda dimensão reflete um conflito no qual de um lado se encontra a busca do bem-estar dos outros e sua aceitação como iguais, e de outro lado, a busca do sucesso pessoal e do domínio sobre os outros. Nesse caso, há oposição entre os seguintes polos: Autotranscedência Conjuga os tipos motivacionais dos valores benevolência e universalismo. Autopromoção Combina os tipos dos valores poder e realização. O hedonismo compartilha elementos de abertura à mudança e de autopromoção. De forma resumida, a característica de generalidade dos valores e de especificidade das atitudes faz com que uma mesma atitude possa ser oriunda de dois valores diferentes. Exemplo Uma pessoa pode ter uma atitude favorável ao dar um sanduíche e um café à uma pessoa com fome por valorizar a caridade e o bem-estar do outro, e outra por valorizar o desejo de mostrar-se poderoso e superior. A relação entre crença, atitudes e valores 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 28/51 Neste vídeo, a especialista explica os conceitos de crença, atitudes e valores e reflete, ilustrando com exemplos, as relações e as implicações destes conceitos no comportamento social. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 29/51 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 No sistema arquitetônico organizado por Rockeach, há crenças centrais e periféricas. As crenças mais resistentes à mudança, que fazem um indivíduo afirmar “Eu acredito que isto é um carro”, são classificadas como: Parabéns! A alternativa D está correta. As crenças primitivas (consenso 100%) são o tipo mais central do sistema e mais resistentes à mudança. São aquelas crenças incontestáveis, consideradas verdades absolutas. A Crenças tipo C - Crenças de autoridade. B Crenças tipo D - Crenças derivadas. C Crenças tipo E - Crenças inconsequentes. D Crenças tipo A - Crenças primitivas (consenso 100%). E Crenças tipo B - Crenças primitivas (consenso 0). Questão 2 A escala de valores de Allport, Vernon e Lindzey, cujo objetivo é avaliar valores pessoais ou motivações básicas, está organizada em seis valores. A filantropia seria que tipo de valor? A Religião B Poder C Estética 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 30/51 3 - Teoria das representações sociais Ao �nal deste módulo, você será capaz de aplicar a teoria das representações sociais. Princípios teóricos Origens da teoria das representações sociais As origens da teoria das representações sociais estão presentes tanto na sociologia e antropologia, com os estudos de Émile Durkheim (1858-1917) e Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939), quanto na psicologia construtivista, sócio-histórica e cultural, com os estudos de Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934), resultando em um vínculo entre o social e o individual (BERTONI; GALINKIN, 2017). Parabéns! A alternativa D está correta. A filantropia é um valor de atividade social por meio do qual o sujeito procura o bem de todos e da comunidade, e não se centra somente de forma egoísta em si mesmo. D Atividade social E Praticalidade 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 31/51 Essa teoria foi inicialmente proposta pelo psicólogo social Serge Moscovici (1925-2014), com a publicação do livro La psychanalyse, son image et son public (1961). É uma abordagem psicossociológica do processo de construção do pensamento social. O estudo das representações sociais pode ser compreendido como o ato de identificar a “visão de mundo” que grupos ou indivíduos possuem ou empregam na sua forma de agir e posicionar. Assim, a teoria pode ser vista como um pensamento social que resulta das experiências, crenças e trocas de informações contidas na vida rotineira, propagadas ou recebidas pela comunicação e tradições. As representações sociais constituem um conjunto de conceitos, imagens e explicações que se originam no senso comum, em se tratando das interações e comunicações interpessoais. Sobre tais circunstâncias, elas vão se modificando à medida que novos significados vão sendo agregados à realidade. Um exemplo de representação social muito comum nos anos 1980 foi a boneca Barbie. Nela, havia embutidos conceitos de beleza e feminilidade do senso comum. Muitas meninas queriam ser a Barbie. As representações sociais têm como função dar sentido ao desconhecido, convertendo o não familiar em algo familiar. Para que isso ocorra, os processos de ancoragem e objetivação são usados como apoio. Processo de ancoragem Como afirma Moscovici: [...] quando estudamos representações sociais, nós estudamos o ser humano, enquanto ele faz perguntas e procura respostas ou pensa, e não enquanto ele processa informação ou se comporta. Mais precisamente enquanto seu objetivo não é comportar-se, mas compreender”. MOSCOVICI, 2003, p. 43 apud CAMINO et al., 2013, p. 423 As representações sociais possuem a capacidade de criar relações entre as abstraçõesdo saber e das crenças e a 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 32/51 As representações sociais possuem a capacidade de criar relações entre as abstrações do saber e das crenças e a concretude da vida do sujeito em seus processos de interação social, porque: As representações sociais são construídas na fronteira entre o psicológico e o social. A ancoragem tem como função inserir o fenômeno não familiar em um conjunto de categorias e imagens familiares, de forma que ele possa ser interpretado (FERREIRA, 2010). As pessoas, de um modo geral, quando não conseguem descrever algo e comunicá-lo para outros indivíduos, criam uma resistência e experimentam um negacionismo. Esse acontecimento ou objeto que foi incapaz de ser descrito por elas deve ser incluído nos sistemas de crenças delas. Portanto, ancorar é atribuir nomes e categorias à realidade, colocando-as em um contexto comum e familiar. Quando damos um nome ou uma classificação a algo que não era familiar, ele passa a ser familiar, e podemos imaginá-lo, representá-lo. Assim, asseguramos sua incorporação social. Durante o processo de ancoragem, o novo objeto é reajustado, para que possa se inserir em uma categoria conhecida, passando a possuir características dessa categoria, tornando-se algo familiar e com sentido. Exemplo Para lidar com as incertezas e todas as mudanças advindas do coronavírus durante a pandemia, muitas pessoas passaram a usar a expressão “o novo normal”, buscando ancorar todas as alterações em nossa rotina e em nosso comportamento como uma nova condição do que seria normalidade nesse momento, procurando diminuir o desconforto gerado. Processo de objetivação A objetivação visa transformar o que é abstrato em algo concreto e que, por conseguinte, possa ser assim tocado (FERREIRA, 2010). Objetivar é transformar uma imagem, algo mental, em algo concreto, tangível, ao invés de ser apenas um elemento do pensamento. O processo de objetivação implica três movimentos simultâneos. São eles: Seleção e descontextualização 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 33/51 Leva em conta valores religiosos ou culturais, experiências anteriores, conhecimentos prévios etc., os sujeitos retiram algumas informações a respeito do objeto que eles querem representar de um conjunto total informações. É a construção de um modelo figurativo, de imagens estruturadas, que reproduzirão de um modo visível algo que antes não passava de um conceito. Os elementos que foram construídos passam a ser identificados como elementos da realidade do objeto. Aquilo, que antes era estranho, passa a ser naturalizado e é incorporado. Exemplo Retomando o exemplo do coronavírus, foram feitas representações concretas que destacavam a importância do uso de máscaras para vencer a resistência inicial em relação à população. Ao entenderem os riscos de como o vírus se propagava, a máscara passou a ser um objeto de uso comum, e as pessoas passaram a implementá-lo em seu cotidiano. De acordo com Moscovici (2003 apud CAMINO et al., 2013), os indivíduos não se resumem a receptores passivos de informação, muito menos a meros seguidores de ideologias ou crenças coletivas. Os indivíduos são pensadores ativos que, ao se defrontarem com os mais diversos eventos presentes no dia a dia das interações sociais, criam e comunicam suas próprias representações e soluções apropriadas para as questões nas quais se encontram. Desse modo, a influência do social não é vista como um estímulo que atinge o indivíduo, e sim como um contexto de relações nas quais o pensamento é formado. Formação do núcleo figurativo Naturalização dos elementos 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 34/51 A teoria das representações sociais e seus conceitos básicos Neste vídeo, a especialista explica em que consiste a teoria das Representações Sociais e ilustra os conceitos de ancoragem e objetivação, destacando a importância dos mesmos. Funções e abordagens Universos rei�cados e consensuais Existem dois tipos de universos de pensamento. Confira a seguir: Universo rei�cado É considerado o lado científico do pensamento, no qual são definidos o certo e o errado, verdadeiro e falso. Nele, existem papéis e categorias definidos segundo os contextos apresentados. O nível de participação na produção de conhecimento é determinado unicamente pelo nível de qualificação. Existe uma objetividade, uma lógica e uma metodologia. Universo consensual Diz respeito a atividades intelectuais da interação social cotidiana. Esse universo se encontra em constante movimento. É composto pelas representações sociais, mas a matéria-prima para a formação dessas realidades consensuais se origina do universo reificado e do saber cotidiano. Por exemplo, construímos opiniões de noções apreendidas e compartilhadas na escola, em casa, na rua, na mídia. Funções das representações sociais 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 35/51 Para que possamos compreender a dinâmica das interações sociais e esclarecer os determinantes das práticas sociais, é indispensável identificar as funções das representações sociais. De acordo com Camino et al. (2013), há quatro funções essenciais. Confira a seguir quais são elas: Possibilidade de os indivíduos compreenderem e explicarem a realidade, a partir das representações sociais, está relacionada à função de conhecimento. As representações sociais definem o quadro de referência comum que permite e facilita a comunicação social, concedendo a transmissão e divulgação do conhecimento prático do senso comum. Refere aos processos de comparação social, é de extrema importância a função identitária das representações sociais, uma vez que estas definem a identidade e concedem a proteção da especificidade dos grupos. Ao mesmo tempo, esta função assume um papel fundamental no controle social exercido pela coletividade sobre cada um de seus membros. Representações são responsáveis por guiar os comportamentos e as práticas sociais. Assim, existe um sistema de pré-decodificação da realidade, um manual orientador para ação. Representações sociais possibilitam justificar os comportamentos e as tomadas de posição por parte dos sujeitos. Desse modo, nas relações entre grupos, essa função esclarece alguns comportamentos postos em uso frente a outro grupo. Portanto, as representações mantêm e justificam a diferenciação social, sendo capaz de estereotipar as relações entre grupos, colaborando para a discriminação ou mantendo entre eles um afastamento social. Observando a descrição das funções das representações sociais, vimos que elas não são somente um conceito teórico e abstrato, mas também são fundamentais nas relações sociais. Outra coisa que também fica evidente é sua relação com as atividades práticas do cotidiano. Conhecimento Identitária Orientação Justificadora 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 36/51 As representações sociais são eventos observáveis complexos, sempre ativados e em ação na vida social, que contêm uma riqueza de elementos informativos, ideológicos, cognitivos, normativos, valores, atitudes, opiniões, crenças e imagens. Teoria do núcleo central O pesquisador Abric e seus colaboradores propuseram a teoria do núcleo central – uma extensão do trabalho de Moscovici (1961). Essa teoria defende que toda representação social se dispõe em torno de um núcleo central e de elementos periféricos (BERTONI; GALINKIN, 2017). O núcleo central se fundamenta no elemento principal da representação, com o objetivo de organizar e dar sentido a ela. O núcleo tem como apoio a memória coletiva do grupo, em suas condições históricas e sociais. Além disso, é mais rígido e resistente às mudanças e influênciasdas circunstâncias de uma situação imediata. Entretanto, os componentes periféricos são mais flexíveis e móveis, o que possibilita a junção de histórias e experiências distintas. Eles aceitam as contradições, assim como a diversidade grupal. Desse modo, são sensíveis às circunstâncias de uma situação imediata e têm uma característica evolutiva, que possibilita se ajustar à realidade concreta e à diferença de conteúdo. Confira a seguir a função dos componentes periféricos: Possibilitar o ajuste de grupos e indivíduos a certas situações Proteger a estabilidade do núcleo central Dessa forma, o núcleo central é regulamentário, e os elementos periféricos, por sua vez, são funcionais, pois possibilitam a ancoragem da representação na realidade do momento. Após a introdução da sociopsicologia na literatura, a teoria das representações sociais foi amplamente disseminada, especialmente entre os psicólogos europeus e latino-americanos, procurando aplicar seus princípios teóricos a inúmeros eventos, aos quais podem ser atribuídos significados que surgem do senso comum. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 37/51 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O núcleo central é composto pelos elementos estáveis ou mais permanentes da representação social, e tem como objetivo organizá-la e dar sentido a ela, sendo mais rígido e resistente às mudanças. Com base na teoria do núcleo central, é correto afirmar que: A O núcleo central é flexível e tem como base a memória coletiva do grupo, em suas condições históricas e sociais, e é resistente às variações e influências do contexto imediato. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 38/51 Parabéns! A alternativa C está correta. O núcleo central é mais rígido e passa a ser regulador e normativo. Seus componentes periféricos permitem a adaptação de grupos e indivíduos a certas situações. Eles são mais móveis e flexíveis, permitindo a junção de experiências e histórias individuais, e são sensíveis ao contexto imediato. B Os componentes periféricos têm como função proteger a estabilidade do núcleo central, e, por isso, dificultam a adaptação de grupos e indivíduos a certas situações. C O núcleo central é normativo, e os elementos periféricos são funcionais. D O núcleo central é funcional, e os elementos periféricos são complementares. E Os componentes periféricos são mais estáticos, dificultando a junção de experiências e histórias individuais, já que têm como função proteger o núcleo central. Questão 2 Quais são as quatro funções essenciais para as representações sociais? Parabéns! A alternativa E está correta. As representações sociais se originam no senso comum e na interação social. Já um conjunto de conhecimentos, opiniões e imagens define a identidade, permite evocar um dado acontecimento, uma pessoa ou um objeto, bem A De conhecimento, de definição, localizadora e justificadora. B De autoconhecimento, de conhecimento, espacial e justificadora. C De conhecimento, identitária, de orientação e explicativa. D De conhecimento, de autoconhecimento, orientadora e explicativa. E De conhecimento, identitária, de orientação e justificadora. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 39/51 4 - Estereótipos e percepção social Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a formação dos estereótipos e seu papel na percepção social. Estereótipos Estereótipo, preconceito e discriminação O estudo dos estereótipos se apresenta de forma destacada na Psicologia Social pela sua importância na compreensão das relações de dominação, exploração e segregação. Os estereótipos são bons preditores do comportamento social, permitindo inferir a probabilidade de ocorrência de diversos comportamentos em grupos sociais. O estereótipo é a base do preconceito e ele consiste na atribuição de crenças feitas sobre grupos ou pessoas. Dessa forma, podemos compreender que os estereótipos consistem em esquemas ou representações mentais sobre grupos sociais. Nesse sentido, eles interferem ativamente no processo de formação de impressões e percepção de pessoas, sendo responsáveis pela integração de informações e avaliação de outros indivíduos, ou seja, pelas formas com que o percebedor interpreta os indivíduos que o rodeiam (FERREIRA, 2010). como orienta e justifica o comportamento. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 40/51 Mas qual é a diferença entre estereótipo, preconceito e discriminação? Muitas vezes, usamos essas palavras de forma indiscriminada. Na prática, elas se encontram fortemente entrelaçadas, mas, em termos acadêmicos, e inclusive em termos jurídicos, existem diferenças importantes. A seguir, vamos entender melhor essa distinção. Normalmente, em função de como organizamos todas essas informações relativas, existe um primeiro momento em que fazemos o agrupamento ou a categorização das pessoas que consideramos que se assemelham em algum aspecto. Esse primeiro passo representa a delimitação de um estereótipo específico. Exemplo: Todos os cientistas são muito racionais e analistas. Após delimitar o estereótipo, passamos a fazer um julgamento de determinado grupo, o que nos conduz a alguma atitude. Quando essa atitude é negativa, estamos, então, frente ao preconceito. Exemplo: Podemos encontrar uma atitude negativa sobre os cientistas que afirma que eles não apresentam emoções, que são insensíveis. Baseado no preconceito, podemos observar a discriminação. Exemplo: Não quero namorar um cientista, porque ele é uma pessoa não emotiva. Conceito de estereótipo Estereótipo Preconceito Discriminação 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 41/51 Quando formamos crenças de que indivíduos de um grupo social apresentam, em maior ou menor grau, um mesmo padrão de características específicas, chamamos essas crenças de estereótipos. Para alguns estudiosos do assunto, durante a infância, adquirimos a habilidade de formar muitos estereótipos. Muitas vezes, eles se constituem do mesmo modo como se desenvolvem as configurações mentais: ao vermos um caso específico ou um conjunto de casos com o mesmo padrão, fazemos uma supergeneralização a partir dessas observações limitadas e criamos um estereótipo (STERNBERG, 2008). Curiosidade Foi no trabalho intitulado Opinião pública, de Valter Lippmann, publicado em 1922, que o termo “estereótipo” surgiu. Os estereótipos são conceituados pela sociedade como um modo de defesa pessoal, e são estabelecidos conforme a cultura e a tradição familiar às quais pertencemos. Inicialmente, os estudos sobre estereótipos estavam voltados para conteúdos éticos e raciais em nível grupal, e pouca importância foi dada a pesquisas em nível individual. O conceito tem sido alterado com o tempo, sob um ponto de vista negativo, a respeito de um conjunto de pessoas para uma generalização das características conferidas a objetos e pessoas que possuem entre si alguma semelhança, sendo ela pronunciada ou não. O mais frequente dos diversos tipos de estereótipos é o de gênero, que é uma atribuição feita pelo grupo de traços e comportamentos específicos a homens e mulheres. Por exemplo, existe o estereótipo de que as mulheres falam muito. Porém, na vida social, existem outros estereótipos que também se destacam, como: Classe social Estado civil Ocupações Ainda hoje, não há um conceito único de estereótipo. Ao longo das últimas décadas de pesquisas, surgiram diferentes vertentes e interesses individuais sobre o assunto. Apesar das diferenças importantes na maneira como a temática “estereótipos” é definida, basicamente, alguns pontos são de comum acordo entre os psicólogos sociais sobre a definição de estereótipos. Veja a seguir quais são: 1. Umestereótipo é fundamentalmente cognitivo – convicção, julgamento, percepção, atribuição, visão, características, expectativa, suposição, e assim por diante. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 42/51 2. Um estereótipo é um conjunto de crenças relacionadas. 3. Os atributos, as personalidades ou o caráter de grupos são descritos pelos estereótipos. 4. Esses atributos permitem diferenciar os indivíduos como homens e mulheres. É preciso levar em conta o consenso para caracterizar os estereótipos. Os estereótipos se originam da passagem do tempo com as repetidas experiências entre componentes de grupos diversos, afetando as respostas que serão apresentadas em encontros futuros com os componentes do grupo alvo dos estereótipos. São duas as maneiras de conceber estereótipos: Como estruturas que podem ser representadas dentro das mentes individuais. Como elementos específicos da própria sociedade, compartilhados em grande escala pelas pessoas que convivem no interior de uma mesma cultura. Sem dúvida, essas considerações estão associadas aos estereótipos, como a percepção social, visto que é aceitável dizer que as informações percebidas devem ser interpretadas, codificadas, armazenadas e retiradas da memória. Em todas as fases desse processo, podem ocorrer mecanismos da distorção perceptual. Desse modo, os estereótipos são elaborados como informações públicas compartilhadas por uma vasta maioria de indivíduos da sociedade a respeito de alguns grupos sociais. Seria correto descrever os estereótipos como uma parte do conhecimento coletivo de uma sociedade, uma vez que as crenças compartilhadas geram efeitos de magnitude considerável na forma como se apresentam os comportamentos sociais. Mas não podemos esquecer que os estereótipos também cumprem uma função em nossa percepção, pois eles reduzem a necessidade de atenção e processamento de informação frente aos fatos. Assim, podemos economizar tempo e energia quando estamos interagindo com os outros. O problema é quando os estereótipos nos conduzem ao processo de discriminação, que implica sua relação com algum julgamento (afeto) negativo, ou seja, quando derivam em preconceito. Percepção social 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 43/51 Interação social Vimos até aqui como é importante para os pesquisadores da cognição social a observação e o estudo da interação social. Agora, vamos focar nessa questão. Para que haja interação entre pessoas, é necessário que estas se percebam mutuamente. Exemplo Durante o processo de interação social, formamos necessariamente uma impressão da pessoa com quem nos relacionamos. Nesse momento, também somos guiados por processos psicossociais. Quatro princípios gerais, responsáveis por administrar nossa percepção dos indivíduos que nos cercam, foram destacados pelos pesquisadores Taylor, Peplau e Sears (2006 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2012). Veja a seguir quais são eles: 1. Com base em um número limitado de informações, as pessoas geram impressões de outras e, a partir daí, derivam outras características mais gerais. Exemplo: o empregado viu o novo gestor por foto e pensou que era jovem demais para ser líder de um projeto. 2. As impressões têm como base os aspectos mais relevantes, e não o conjunto completo das características dos outros. Exemplo: prestar atenção à altura de alguém e não perceber outras características positivas e negativas do indivíduo. 3. Tendemos a catalogar os estímulos percebidos na outra pessoa de forma a incluí-la em um grupo do qual os membros possuem características conhecidas. Exemplo: pessoas com sapatilha de ponta pertencem ao grupo que dança balé. 4. Nossas necessidades e nossos objetivos afetam a forma pela qual percebemos as características dos outros. Exemplo: prestamos mais atenção em alguém com quem vamos interagir com maior regularidade no futuro, como um colega de trabalho, do que em alguém que só veremos uma única vez. Como formamos a impressão sobre os outros? As principais fontes de informação que utilizamos ao formar uma impressão de outra pessoa são: Aparência física 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 44/51 Não apenas os traços físicos, mas também a forma de vestir influenciam a dedução de certas características pessoais. Tendemos a atribuir outras particularidades positivas a pessoas mais atraentes, e negativas a pessoas menos atraentes. Inclui gestos, posturas, olhares, posição corporal no espaço, tom de voz, ritmo e inflexões. Você sabia que quanto mais nos interessa alguém que estamos observando, mais competentes somos na interpretação desses comportamentos? Maneira por meio da qual percebemos o outro, de acordo com a tendência a atribuir a uma pessoa as características do grupo ao qual pertence, como sexo, raça, faixa etária, tipo de profissão etc. Os estereótipos mantidos por nós acerca dos vários grupos sociais proporcionam uma visão das pessoas a eles pertencentes como confirmadores deles. Aparência física Comportamento não verbal Categorização 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 45/51 Ao realizar um experimento, Asch (1946) constatou que, ao apresentar uma lista de adjetivos sobre um indivíduo a algumas pessoas, impressões a respeito dele eram formadas conforme a ordem em que a lista era apresentada. No que se refere a provocar a recordação de outros traços sobre uma pessoa, alguns traços de personalidade são mais influentes do que outros. Isso também foi comprovado por Asch (1946). O estudioso apresentou os mesmos sete adjetivos descritivos de um professor para dois grupos diferentes de alunos, mas somente para um dos grupos, alterou um deles: trocou “afetuoso” por “frio”. O grupo que recebeu o adjetivo “afetuoso” considerou que o professor era feliz, brincalhão, imaginativo, generoso. Já o grupo que tinha o adjetivo “frio” considerou o professor sério, infeliz, sem senso de humor e de confiança. Teoria implícita de personalidade No momento em que processamos as informações recebidas dos indivíduos com quem entramos em contato, somos Primeiras impressões Traços centrais 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 46/51 q p ç q , intensamente influenciados por esquemas sociais. Lembrando que esquemas são, por definição, estruturas cognitivas que têm como função organizar as informações ao redor de temas ou tópicos. Em 1954, os pesquisadores Bruner e Tagiuri (apud FERREIRA et al., 2011) afirmaram que formulamos, em relação a outras pessoas, uma teoria implícita de personalidade, por meio da qual associamos determinados traços a outros, e esperamos correspondência entre eles e essas pessoas com as quais entramos em contato. Características positivas são normalmente atribuídas às pessoas de quem gostamos ou admiramos. Por sua vez, características negativas são atribuídas àquelas de quem não gostamos. Logo, a teoria implícita é relutante à mudança. As teorias implícitas de personalidade que formamos a respeito dos outros organizam um esquema social. Ao sermos apresentados a alguém, de forma imediata, ativamos os esquemas associados à profissão, ao gênero, ao grupo étnico etc. na impressão que formamos dessa pessoa. A partir do momento que estiver, então, formada uma primeira impressão, assimilamos, facilmente, as características dessa pessoa, que harmonizam com nossa primeira impressão, isto é, que são coerentes ou congruentes com aquela primeira impressão formada sobre elas. Em contrapartida, tendemos a rejeitar outras características que não harmonizam com ela. Essa teoria se manifesta muito comumente na dificuldade que temos em alterar nossas primeiras impressões acerca de outras pessoas. Vimos que nossa mente não registra um retrato fielda pessoa, e que nosso processo cognitivo é influenciado por esquemas, estereótipos, heurísticas. De qualquer maneira, o estudo da percepção social nos permite entender como formamos impressões sobre outras pessoas e fazemos inferências sobre elas. Para isso acontecer, usamos diversas fontes de informação, como o comportamento não verbal, os esquemas ou atalhos mentais, a interpretação que fazemos do comportamento da pessoa e outras fontes. Muitas vezes, erramos em nossas inferências e conclusões, o que nos leva a percepções equivocadas, que podem ser difíceis de dissolver. Percepção social e as teorias implícitas de personalidade Neste vídeo, a especialista expõe o conceito de percepção social e destaca o papel das teorias implícitas de personalidade na percepção social. Além disso, é feita uma reflexão sobre a tendência ao erro de julgamento. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 47/51 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 48/51 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Existem diversos estereótipos com os quais nos deparamos em diferentes situações. Por exemplo, você já deve ter escutado a crença de que as mulheres não sabem dirigir, ou de que os homens que choram não são homens de verdade. Sobre estereótipos, é correto afirmar que: Parabéns! A alternativa E está correta. Estereótipos são crenças compartilhadas sobre as características pessoais, os traços de personalidade e dos comportamentos próprios de um grupo de indivíduos. E há um consenso sobre eles. A Não é necessário um consenso. B Não são crenças. C São crenças não compartilhadas. D Não são cognitivos. E São crenças compartilhadas. Questão 2 Se uma pessoa é reconhecida como tranquila e calma, possivelmente, outras pessoas tenderão a acrescentar que também é cuidadosa, metódica e organizada. Essa constatação se baseia na teoria implícita de personalidade. Sobre essa teoria, é correto afirmar que: A As percepções que temos a respeito dos outros organizam um esquema social. B Não somos capazes de atribuir percepções positivas sobre o outro. C Associamos determinados traços a outros e não esperamos correspondência entre eles e essas 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 49/51 Considerações �nais A cognição social é o estudo da forma pela qual processamos a informação. Nela, está incluída a forma como codificamos, armazenamos e recuperamos informação de situações sociais. Por isso, é uma ferramenta importante para entendermos as relações, as emoções, os pensamentos, as intenções e as condutas sociais dos outros indivíduos ou grupos. Ela gerencia em nossa mente a grande quantidade de informações oriundas de nosso meio, como as heurísticas, os esquemas, as crenças e as representações sociais. É crucial compreender esse processamento, a fim de construir uma base sólida de conhecimento científico a respeito do assunto. Podcast A especialista reflete sobre os conceitos de crenças, atitudes, valores, estereótipos e preconceitos e apresenta o uso da cognição social para o estudo do comportamento social, ilustrando a teorias das representações sociais e a percepção social. Parabéns! A alternativa A está correta. Imediatamente, ao conhecermos alguém, ativamos esquemas sociais, como, por exemplo, gênero, profissão etc. Quando associamos determinados traços a outros, esperamos correspondência entre a pessoa associada ao traço. O problema dessa forma de perceber o outro é que temos dificuldade em alterar nossas primeiras impressões acerca de outras pessoas quando fazemos uso da teoria implícita de personalidade. C pessoas com as quais entramos em contato. D É muito fácil alterarmos nossas primeiras impressões acerca de outras pessoas. E Quando conhecemos alguém, tendemos a atribuir características positivas a pessoas que não gostamos. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 50/51 Referências LASCH, S. E. Forming impressions of personality. Journal of Abnormal and Social Psychology, v. 41, n. 3, p. 258-290, 1946. BEM, D. J. Convicções, atitudes e assuntos humanos. São Paulo: EPU, 1973. BERTONI, L. M.; GALINKIN, A. L. Teoria e métodos em representações sociais. In: MORORÓ, L. P.; COUTO, M. E. S.; ASSIS, R. A. M. (org.). Notas teórico-metodológicas de pesquisas em educação: concepções e trajetórias. Ilhéus: EDITUS, 2017. p. 101-122. CAMINO, L. et al. (org.). Psicologia social: temas e teoria. 2. ed. rev. e ampl. Brasília, DF: Technopolitik, 2013. FERREIRA, M. B. et al. Para uma revisão da abordagem multidimensional das impressões de personalidade: o culto, o irresponsável, o compreensivo e o arrogante. Análise Psicológica, v. 29, n. 2, p. 315-333, 2011. 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Explore + Para conhecer melhor a percepção social e os estereótipos, busque e assista à palestra TED com a psicóloga social Leah Georges: Como os estereótipos geracionais nos inibem de progredir no trabalho. 12/09/2022 08:13 Cognição social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03576/index.html# 51/51 Para compreender melhor a relação entre valores, atitudes e comportamento, pesquise e leia o artigo de Jorge Artur Peçanha Coelho, Valdiney Veloso Gouveia e Taciano Lemos Milfont, publicado em 2006, na revista Psicologia em Estudo: Valores humanos como explicadores de atitudes ambientais e intenção de comportamento pró-ambiental.
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