Buscar

ARTIGO-Contaminacao-MercurioSedimento

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO EM SEDIMENTO E EM
MOLUSCOS DO PANTANAL, MATO GROSSO, BRASIL
Luiz M. Vieira I
2Cleher J.R. Alho
Geraldo A.L. Ferreira 3
ABSTRACT. MI·.KCl'KY l'Ol'l A~lI~A IION I:>: SEIlI~IEI'T ANil IN ~lOLI.lIS('S OI' PA,N IA·
NA!.. MATO GKOSSO. BKAI.I!.. The \<llal levei <lI' mercury delec\ed in the sedimenl and
in thl.: tis~'.;u~s 01" mollusl:s fnml th~ B~llt() G()m~s hasin. althoug:h low. hav(: ~ho\Vn
that th(: Ill~n.:ury lIS~J in th...: g~,I<J mining activiti...:s in th...: Pr....:on~ wdlands has
(ontaminat...:d lhos...: aYlIati( hahitals in Pantanal. From69 S...:uilll..:nt sampl~s analyz...:d.
26'fr. (N = IX) haw shown Iewls ranging I'mm 0.01 to 0.25~g.g·1 01' mereury (mnisl
weight). Mercury leveis analYl.ed in 54 samples oI' mollusc tissues (AIIII'II1/aria
sca/w1s Orhigny. I X35: A. ca/latim/ata Lamard. I li 19 and Mtllisa I'/a/logyra
Pilshry. 1933) haw shnwnlhat30'lt (N= 16) were c,)nlaminaled with Iewls ranging
I'rom 0.02 to I.16~g.g·1 moist weigh!. This sludy shnws that the mcrcury used in
digs for gold mining anti n.:kas...:d into th...: ...:nVil'lllllll...:nt has n.:a(h...:d th...: hahitals 01'
Pantanal sprçad frlllll th...: s...:dim...:nt iolo Ih...: 1ll0111l~(S living in Ih...: r...:gion.
KEY WORDS. Mnlluscs. hinmagnilicatinn. contaminants. mercury. sediment
A garimpagém tlé ouro. com uso inténsivo tlé mércúno, éstahdécida no
início dos anos 80 na hacia do rio Paraguai. prim;ipalménté no município de Poconé
(Mato Grosso, Brasil), aprésénta dévado pOléncial dé contaminação do sédiménto
e hiota aquática da planícié do Pantanal. O prohléma Sé révéslé ainda dé maior
rdévância pdo risco dé contaminação dé êcossistémas dé paísés vizinhos à jusanlé
na bacia.
Para cada quilograma de ouro rdirado são utilizados dé 1,32 a 2,OOkg dé
mércúrio (PFEIFFER er (/1. 1989a.h; MALLAS & BENDICTO (986), dos quais 457c
é carréado para os rios é 557c para a atmostúa (PFEIFFER op. cir.), no proCéssO
tinal dé qUéima do amálgama é postériorméntê rdorna aos sislémas aquáticos
através dé prêcipitaçôés pluviométricas. Incorporado ao sistema aquático na forma
inorgânica (Hg O - méfcúrio mdálico), désloca-sé para o sédiménto, Ondé pOdé
ocorrér a mélilação (JENSEN & JERNELOV 1969). dando origém ao métilmércúrio
qUé. além dé tóxico é pérsislénlé, se acumula nos organismos é se magnitica na
I) C~ntrll d~ P~MJuis{1 Agrop~l:uária do PanlanaJ. Elnpr~sa Brasil~ira d~ P~sqllisa Agror~l.:wíria. Caixa
Postal 109.79320-970 Corumhá. Maio Gro>so do Sul. Brasil.
2) Fundo Mundial para a Natura... (WWF-Brasil). SHIS EQQL 6/X Cl)njunto E 2" andar. 71620-430
BraSllia. Distrito Federal. Brasil.
3) Departamento de Química. Universidade de Brasília. Caixa Postal 0463. 7CN I0-<)70 Brasília. Di'lrito
Federal. Brasil.
Revta bras. Zool. 12 (3): 663 - 670. 1995
664 VIEIRA et aI.
cadeia alimentar. No sedimento vivem muitas comunidades hentônicas qUe,
alimentando-se de detritos contaminados por mercúrio. podem transferi-lo aos
peixes por ingestão (EPA 1972), e estes contaminarem o homem pdo consumo.
O sedimento contaminado ~ fonte potencial dinâmica de mercúrio (SEI 1978) para
a água e para a hiota aquática durante 10 a 100 anos (BRAILE & CAVALCANTI
1979). Isso signi tica qUe. mesmo com a paralisação da fonte emissora. há ainda
consideráveis quantidades de maclÍrio ahsorvidas ao sedimento (REIr\'IERS er lI/.
1974: CALLlSTER er lI/. 1986) e que podem ser transferidas e incorporadas à hiota.
dependendo das condiçôes físicas. químicas e hiológicas do amhienlé aquático
(LORING 1975: CLlFTO & VIVIAN 1975: CALLlSTER eI lI/. 1986). KUDO &
MORTIMER (1979) vai ficaram experimentalmenlé que a concentração de macúrio
nos peixes, proveniente do sedimento, foi nove VeZeS superior à acumulada a partir
da água.
O monitoramento da poluição de rios atrav~s de análise de sedimento
iniciou-se na Holanda em 1960. A avaliação dos níveis de mercúrio no sedimento
de rios, atualmente um indicador amplamente generalizado, inclusive para áreas
de importância ecológica ganhou rdevância após a demonstração de que a maior
proporção de mercúrio em tecido muscular de peixes ~ metilmercúrio (WESTOO
1972; HEDERSON elll/. 1972; BISHOP & EARY 1974) e que o sedimento ~ capaz
de metilar macúrio a partir de tinmas inorgânicas (JENSEN & JERNELOV 1969).
Antes aa consensual que o macúrio no sedimento não representasse ameaça ao
amhiente aquático (RICHINS & RISSER 1975).
O uso de organismos como indicadores hiológicos de poluição amhiental
tem a vantagem de estimar as disponihilidades do poluenlé para as hiomassas de
diferentes regiôes (PHILLlPS 1977). Os moluscos são considerados hons indicado-
res para metais pesados e para comparaçôes de fatores de concentração (HANNERS
1968). Muitos autores t~m usado diferentes gastrópodos para monitorar
contaminação mercurial em sistemas de água doce (ZADORY & MULLER 1981)
com hase no SeU potencial de acumulação de altos níVéis de méfcúrio, o que
gaalmente evidencia as condiçiks toxicológicas dos sistemas aquáticos. Sendo
sedentários, rdletem muito hem as condições locais de contaminação, al~m de
saem ahundanlés e de larga distrihuição geográfica nos sistemas aquáticos do
Pantanal. Há forte corrdação entre a concentração de mercúrio total nos moluscos
e os níveis no sedimento (H ILDEBRAND eI lI/. 1980, !lpud M IKAC ef lI/. 1985).
O ohjdivo desta pesquisa tói avaliar o potencial de acumulação de mercúrio
no sedimento e nos moluscos da hacia de drenagem do rio Bento Gomes, no
Pantanal, tenuo em vista sua futura utilização como parâmetros indicauores de
poluição nessa região.
MATERIAL E MÉTODOS
Após sohrevôo da hacia hidrográfica do rio Bento Gomes (l6°40'S,
57° 12'W), dreno coldor principal c.Ias microhacias onde se localizam os garimpos
de ouro de Pocon~, tinam demarcadas oito estações de colda de sedimento,
localizadas desde a caheceira at~ o cruzamento do Rio Bento Gomes com a Estrada
Revta bras. Zool. 12 13): 663 - 670, 1995
Contaminação por mercurio em sedimento e em moluscos ... 665
Transpantaneira, no halxo Pantanal (Mato Grosso). Em çada estação foram
colhidas três amostras de sedimento, em çada uma das çoletas realizadas em
agosto/89, novemhro-dezemhro/89 e .junho/90. O coletor do tipo "core", consti-
tuído de um tuho çoletor de anl1ico e as partes acessórias de material inoxidável.
As amostras çorresponderam ao nível do sedimento at~ 20çm de prohmdidade.
Estas foram aç(JIldiçionadas individualmente, em saÇ(lS de polietileno etiquetados
e transportadas para o lahoratório em çaixas t~rmiças çontendo gelo. No laho-
ratório. as amostras foram armazenadas e çonservadas em çongelador a -18"C.
Para a análise. as amostras foram desç(JIlgeladas à somhra, sendo iniçialmente
seças ao ar livre e depois em estufa a 50"C. Ao atingirem a temperatura amhiente.
as amostras foram passadas por peneira inoxidável çom 0.27mm de ahertura de
malha.
Amostras de aproximadamente um grama de sedimento foram digeridas em
mistura de H 03: H2S0-l (concentrados e na proporção de I: I). em halões de vidro
de horosiliçato de 250ml, com juntas esmerilhadas. acoplados em condensadores
de vidro. com circulação de água soh refluxo. Após o período de digestão a frio.
de no mínimo 30 minutos, introduziu-se aqueçimento gradual, at~ aproximada-
mente 100°e. UtiliZOu-se KMnO-l çomo oxidante e cloreto de hidroxilamina para
neutralizar o exçesso de açidez. O agente redutor de merçúrio foi SnCI2 a 10'1c
em H2S0-l 18N. Maiores detalhes podem ser ençontrados em PONCE er aI. (1990).
As déterminaçiies de mercúrio total no sedimento tóram realizadas pela
t~cniça de espectrofotomdria de ahson;ão atômiça computadorizada SCHIMADZU.
modelo AA-660, equipado çom lâmpada de çatodo oço de merçúrio, wm feixe
ôptiÇ() alinhando uma ç~lula de vidro com janelas de quartzo e ajustado ao
comprimento de onda de 253,7mm.
Os níVeis de meluírio total no sedimento, expressos em ~lg.g-I de peso Seco
tóram registrados após ajustamento numa curva padrão de calihração e correção
das leituras dos hrancos. A inexistência de interferênçia de matriz t(li testada
atrav~s de umacurva e çalihração wm adi,ão padrão. Na ausência de padnies de
referência. a precisão e exatidão da t~cnica tóram avaliadas por testes de recupe-
ração de mercúrio.
Três esp~çies de molusços da família Ampullariidae. AJllpl/l!(/ria CIII/ltli-
CI/I(/((/. A. sClllaris e MllrislI pllll/ogym. t(lram çoldadas manualmente no Rio Bento
Gomes (entronçamento com a Estrada Transpantaneira) e no çórrego Piraputanga.
no Pantanal (Mato Grosso). nas três ~pocas referidas anteriormente para o
sedimento. Essas esp~çies de moluscos tóram seleçionadas por serem presas do
gavião-caramujeiro - Rosrlinlll/I/.I .wciu/Jilis (Viellot. 1877) - e do carão - Arl/ll/I/s
XI/ara 1/11 11 (Linnaeus. 1766), aVes que viVem nas proximidades de áreas alagadas
no Pantanal. Após a çaptura. os moluscos tóram coloçados em saços plástiÇ(ls
diqudados e acondicionados em çaixas t~rmiças çontendo gelo e transportados ao
lahoratório. No lahoratório foram çonservados e armazenados em ç(JIlgelador a
-18°e. Para as análises de mercúrio total nos molusços. foram utilizadas apenas
as partes moles e seguiu-se a mesma t~cniça desçrita para o sedimento. Os níveis
de merçúrio nos molusços foram expressos em ,llg.g.1 de peso úmido.
Revta bras. Zool. 12 (3): 663 - 670. 1995
666 VIEIRA et aI.
Os reagentes utilizados nas análises de mercúrio total foram: H2S0~ marca
MicroQuímica para Lahoratórios LIda., P.A.: NHOJ Synth. P. A.; KMnO~Grupo
Química P.A., ACS; Cloreto de Hidroxilamina, VekC Química Fina, P.A.; SnCb.
Grupo Química P.A., ACS. Todas as análises foram realizadas nos laboratórios
de Química Analítica e Amhiental da Universidade de Brasília (UnB) e no
Laboratório de Análises de Tecidos do Centro de Pesquisa Agropecuária dos
Cerrados (CPAC/EMBRAPA), em Planaltina (Distrito Federal).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os níveis de mercLÍrio total detectados nos sedimentos da bacia hidrográfica
do rio Bento Gomes em Pocon~, de modo geral são haixos (Tab. I). Constatou-se
que do total de 69 amostras analisadas, apenas 26 % (n = (8) apresentaram
concentraçiies detectáveis. Entre os teores de mercLÍrio detectáveis, 33.33 o/c (n = 6)
Se situaram acima do nível considerado natural (0.1 flg.{1 de peso secO), o qual,
segundo LACERDA er (//. (1987), rdlete as condiçiies de áreas nào contaminadas.
Em 16 amostras foram detectados mais de 0,02 pg.g'l de peso seco. nível citado
por LACERDA (1990) como referencial dos rio amazônicos não contaminados. Já
em regiôes de garimpo, onde a contaminação tem sido s~ria, como em Serra
Pelada, Gurupi e Tapajós no Pará, e no norte de Mato Grosso, os níveis de
mercLÍrio no sedimento que ultrapassam O, If1g.g'l de peso SeCO têm sido da ordem
de 100% (SILVA er (//. 1989).
Tabela I. Níveis de mercúrio (pg.g" de peso seco) detectados no sedimento das estações
de coleta na bacia de drenagem do rio Bento Gomes (Poconé, Mato Grossol.
Estações de
coleta
Época das coletas
Agosto/89 Novembro-dezembro/89 Junho/90
Nascente do rio Bento Gomes
Ponte da Cotia
Ponte do Morrinho
Rio Piranema/rio Bento Gomes
Captação d'água de Poconé
Córrego dos Padres
Córrego Piraputanga
Rio Bento Gomes/Transpantanelra
'. Não detectável (NO).
ND
NO a 0,07
NO a 0,02
NO
NO
NO a 0,24
NO a 0,25
NO
NO
NO
NO a 0,06
NO aO, 12
NO aO, 13
NO
NO a 0,07
NO a 0,04
0,01aO,17
NO
NO aO, 15
0,01 a 0,04
NO
NO
NO
Os níVeis de mercLÍrio mais elevados (0,24 e 0.25 pg.g-I de pesO seCO), que
representam 2,5 VeZes o limite de contaminação natural do sedimento. ocorreram
em amostras coletadas no tanque dos Padres e nas drenagens do córrego Pi rapu-
tanga, respectivamente, e se caracterizam como depósitos de rejeitos de mineração
mais próximos da áreas de garimpo, nestas duas microhacias (Tah, I). Por outro
lado, de modo geral, os níveis de mercLÍrio encontrados no sedimento das demais
estaçiies de coleta estão muito prcíXll1l0S dos teores encontrados por LACERDA
RevIa bras. Zoa!. 12 (3): 663 - 670,1995
Contaminação por mercúrio em sedimento e em moluscos ... 667
(1990) (não detect,íveis a O, 18"g.g-1 de peso seCO), em estudos de dispersão de
mercúrio no sedimento da hacia de drenagem do tanque dos Padres (Poconé. Mato
Grosso). No entanto, os níVeis detectados neste estudo situam-se ahaixo do teor
mais devado (0.9"g.g,1 de peso SeCO) registrado por PFEIFFER ('{ aI. (1989h) no
sedimento Ue rios UO estauo UO Rio Ue Janeiro, cujas águas tamhém recehem r~ieitos
de garimpos. FRAGA er 1/1. (1989) encontraram níVeis de meluírio no sedimento
dos rios Paral11a uo Sul, Muriaré, Parafha, Preto e Itahapoana (Rio de Janeiro),
da ordem de 0,05 a 0,40 flg.g'l de peso seco, onue a atividade garimpeira tamhém
se fez presente. BOLBRINI er ai. (1983) encontraram níveis de mercúrio no
sedimento dos rios Mogi-Guaçu e Pardo, no estado ue São Paulo, que variaram
de não uekctávd a 4,23 ,llg.g-I e de não detectávd a 1.02 "g.g-I de peSo seco,
respectivamente.
Concentraçôes extremamente elevadas de mercúrio no sedimento tamhém
têm sido registradas na literatura. 1AL/l1 er 1/1. (1990). apesar de terem encontrado
média dos níVeis de mercúrio de 10.20 .llg.g-I de peso seco (n=27), chegaram a
detectar 157,31 "g.{l de peSO SeCO, em sedimento de rio localizauo em área de
tloresta na região Amazônica, nas proximiuades de garimpos. No rio Madeira.
MALM er aI. (1990) encontraram teores de mercúrio no sedimento em uma
amplitude de variação de 0,03 a 0,35 flg.g-I de peso seco, com média ue
0, 13±O, II"g.{i Ue peSO SeCO (n=26). Há tamhém registro de mercúrio ue 19,8
"g.g-l ue peSO SeCO (PFEIFFER er ai. 1989a) em sedimento do rio Mutum
Paraná/Madeira (Rondônia), onde a presença ue garimpos.iá constitui séria ameaça
ecoló!!ica. Se!!lIllUO LACERDA er 1/1. (1987), os rios amazônicos não contaminados
possu~m níveis de mercúrio no sedimento COI11 variação entre 0.05 a 0,28 flg.g'l
de peSO SeCO, enquanto que os contaminados oscilam entre 0,21 a 19,80 flg.g-I de
peSO seco.
É interessante ohservar que na segunda época de coleta Ue sedi mento
(novemhro-dezemhro/89), realizada nas proximiuades da estação ue captação ue
água de Poconé. foi uetectauo mercúrio no seuimento na concentração ue
O,13flg.{1 de peSO SeCO, nívd esse pouco acima do considerado normal. Esta
informação serve Ue alerta para as autoriuaues sanitárias de Mato Grosso e, ue
modo especial, de Poconé, e sugere a necessidade Ue análise mais uetalhaua do
prohlema, pois isso pode representar indícios de contaminação UO sedimento UO
rio Bento Gomes. emhora ANDRADE er ai. (1988) não tenham encontrado rdação
entre os níVeis ue mercúrio na água com aqudes detectados no sedimento de um
mesmo rio em Goiás.
Os níveis de mercúrio total detectados em partes moles dos moluscos captu-
rados na hacia hidrográfica do rio Bento Gomes, estão apresentados na tahda 11.
Os níveis de mercúrio total detectados em partes moles das três espécies de
molusco analisadas de modo geral. pouem ser considerados tamhém como haixos.
Constatou-se que uo total de 5-lmoluscos analisados. em 307'< deles (n= 16)
os níveis de mercúrio tóram udectáveis. Entre estes, 18.757'< (n=3) continham
acima de 0,5"g.{1 de peSO úmiuo, que é o limite Imíximo estahdecido, a partir
do quaIjá pode ocorrer compromdimento da viLla aquática (EPA 1972).
Revta bras. Zoo!. 12 (3): 663,670. 1995
668 VIEIRA et aI.
Tabela 11. Níveis de mercúrio 1119.9· 1 de peso úmido) detectados nas partes moles de
moluscos Ampullariidae, coletados na bacia hidrográfica do rio Bento Gomes iPoconé.
Mato Grosso).
Córrego P1raputanga RIO Bento Gornes/Transpamanelra
Espêeles
Agosto/S9 Nov-Dez 89 Junho,90 Agosto 89 Nov-Dez 89 Junho,gO
AmpulJana sca/ans ND a 0,03 ND a 0,02 NDaO,15 ND ND a 0,02 ND a 0,88
AmpuJlana canalicula ta ND ND ND ND "JD a 1,16 NO
Mansa planogyra NO NOaO,18 0,0720,13 NO 0,04 a 0,59 NO
'. Não detectável (NO).
Os níVeis ue mercúrio constatauos nas três esp~cies ue molusco estuuauas
situaram-se bem próximos uaqueles ueléctauos por LACERDA l'f ai, (1987) (não
udecláveis a 0.93 llg.g'l Ue peso úmiuo). em AlllfJlIl/ari(( sp .. em estuuo realizauo
na bacia ue urenagem uo tanque UOSPaures. o entanto, situam-Se muito abaixo
UOS níVeis udectauos por MIKAC 1'1 ai. (1985) em outras esp~cies Ue moluscos
inuicadoras de poluição, mas com diterenlés dietas e mecanismos ue ahsorção.
bem como em condição ue elevaua contaminação ambiental.
Pode-se tamb~m observar que os níVeis ddectados nos moluscos t(lfam. ue
modo geral. mais elevauos que os encontrados no seuimento. Isto pode significar
o início de um processo ue biomagnificação Ue mercúrio, AI~m disso, a constatação
de 30 rc de níVeis detectáveis nos moluscos e a ocorrência Ue níVeis aCIma de 0.5
flg.g- 1 de peso úmido, pode estar se rdletindo no gavião-caramujeiro. que 'ie
alimenta basicamente de AlllfJlIl/aria ",calari", e de A. ('(///(/Iiclllwa e no carão que
tem. em Mari,l'iI plallogyl'll. um dos ítens mais importantes ue sua uida.
A manutenção de boas condiç()es sanitárias na planície de inundação do
Pantanal ~ de extrema relevância ecológica e sócio-econômica. para que seja
preservaua sua biodiversidade. AI~11l disso, () Pantanal recehe muitas esp~cies ue
aVes migratórias. tanto do extremo sul do contlllente sul-amencano COIllO ua
Am~rica do Norte.
Espera-se que os níVeiS de contaminação por mercúno ddectados no
sedimento e em moluscos ua bacia hiurogrática do rio Bento Gomes sirvam de
alerta e suhsídio para as autoridades responsáVeis pela preservação e conservaçào
do Pantanal, para que as mesmas se empenhelll em suhstituir o atual processo de
extração de outro com merClírio por outros não lesivos à saúde humana e à
integridade dos ecossislémas de toda a hacia do rio Paraguai.
AGRADECIMENTOS. Às direl"rias li" Celllm de Pe''luisa Agmpecuária lI"s Cerrad"s
(CPAC). da Empr~:-a Bra:-ikira d~ Pl.:squisa Agropl.:l:lIéíria. do Fundo f\1unuiai para a Nalllr~/(t
(WWF-Bra~il). ou C~nlnl Nm:ional o~ R~":llr~u~ G~n~li":lls ~ Bit)t~..:nol()gia (CENARGE ) ~
Univ~r~idad~ l.k Bra:-.ília (UnB). pda!-. 1~I..:ilidad~~ t~..:ni..:()-..:i~nlílil."a~ ~ apoio. À Pr~r~ittlra h'luTli..:ipal
d~ P()..:nn~ (h1atll Grn~~o). pdo apoit) logí~ti..:().
Revta bras. Zool. 12 (3): 663 - 670.1995
Contaminação por mercúrio em sedimento e em moluscos ...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
669
ANDRADE, J. e. DE; M.1. M.S. BUENO & P. V. SOARES. 1988. The fate af mercury
released from prospecting areas ("garimpos") near Guarinos e Pilar de Goiás.
An. Acad. Bm'i. Ci 60 (3): 292-303.
BISHOP, J.N. & B.P. NEARY. 1974. The form of mercury in fn:shwater fish.
p.25-29. 111: NAT. RES. COUNC. CANADA (ed.). Proc. Int. Transport or
Persistent Chemicals in A4uatic Ecosystems. Ottawa.
BOLDRINI, e. V.; H. B. DE PÁDUA & D. . PEREIRA. 1983. Contaminação por
mercúrio nos rios Mogi-Guaçu e PanJo (SP). Revista DAE, São Paulo, 44
(135).
BRAILE, P. M. & J. E. W.A. CAVALCANTI. 1979. Manual de tratamento de üguas
residmíria'i industriai.s. São Paulo. CETESB, 764p.
CALLISTER, S.M.; M.R. WINFREY & R. MICHAEL. 1986. Microhial methylation
of mercury in upper Wisconsin river sediments. Water, Air and Soil Pollution
29: 453-465.
CLlFTON, A.P. & e.M.G. VIVIAN. 1975. Retention ofmercury from an industrial
soun:e in Swansia Bay sediments. Nature 253 (493): 621-622.
EPA. 1972. Water 4uality criteria. Washington, Environmental Protection
Agency. p. 172-178.
FRAGA, 1.; J. B. DIAS & P. R. P. ARAÚJO. 1989. Avaliação de impactos e controle
amhiental de garimpagem de ouro em leitos de rios do Rio de Janeinl. Rio
de Janeiro, ABES. p.252-466.
HANNERS, L. 1968. Experimental investigation on the accumulation of mercury
in water organisms. Rep. Ins!. Fre'ihwater Re'i. Drottinghohem 48: 120-176.
HENDERSON, e.A.; A. INGLIS & W. L. JOHNSON. 1972. Mercury residuous in
fish, 1969-1970 - National Pesticide Monitoring Programo Pesticide
l\1onitoring Journal 6 (3): 144-150.
JE SEN. S. & A. JERNELOV. 1969. Biological methylation of mercury in aquatic
organisms. Natllre 223 (5207): 753-754.
KUDO. A. & D.e. MORTIMER. 1979. Pathways of mercury uptake hy fish from
had sediments. Environmental Pollutions 19 (3): 239-245.
LACERDA, L.D. DE. 1990. Dispersão de mercúrio em uma drenagem afetada
por rejeitos de atividade garimpeira em Poconé, Mato Grosso. Cuiahá.
CETEM. IIp.
LACERDA, L.D. DE; W.e. PFEIFFER & E.G. SILVEIRA. 1987. Contaminação por
mercúrio na Amazônia. Avalia~ão preliminar no rio Madeira, Rondônia.
Congresso Brasileiro de Geoqllímica I (2): 165-169.
LORING, D.H. 1975. Mercury in the sediments ofthe gulfof SI. Lawrence. Cano
JOllr. Earth Sci. 12: 1219-1237.
MALLAS, 1. & N. BENEDICTO. 1986. Mercury and golding in the Brazi lian
Amazon. Amhio 15 (4): 248-249.
MAL~I, O.: W.e. PFEIFFER & e.M.N. DE SOUZA. 1990. Mercury pollutions due
to gold mining in the Madeira ri\'er hasin. Amazon/Brazil. Amhio 19: 11-15.
Revta bras. Zoo!. 12 13): 663 - 670. 1995
670 VIEIRA er ai.
MIKAC, N.; M. PICER & P. STEEGNAR. 1985. Mercury distribution in a polluted
ll1arine area, ratio of (otalmen:ury mdhylmercury and sdeniull1 in sediments,
ll1ussds and tish. \Vater Resean:h 19 (11): 1387-1392.
PFEIFFER, W.C.; L.D. DE LACERDA & O. MALM. 1989a. Merl'ury concentrations
in inland walers of gold mining areas in Rondonia, Brasil. The ScielH:e oi' the
Total Emironment 87/88: 233-240.
---o 1989b. Mercury pol\ution in gold ll1ining areas of Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 4p.
PHILLlPS, 0.1. H. 1977. The use of biological indicator to monitor trace mdal
po\lution in marine and stuarine environments a review. Environmental
Po\lution 13: 281-317.
PONCE, G.A.E.: A.C. BARBOSA & R.O. ORNELAS. 1990. Maodo modificado
para a ddérmina<.;ào de !llercLÍrio por espedrofotoll1dria de ahsorçào atômica.
Anais da Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 23p.
REI 'IERS, R.S.: P.A. KRE KEL & A.1. E GLAND JR. 1974. Transporl and
distrihution of mércury in sediments. Proc. Int. Cont'. Transp. Persistenl
Chmn. AlIuatic Ecosystem, Otawa.
RICHINS. R.T. & A.C. RISSER .IR. 1975. Total mérntry in waler. sediment and
soleded aquatic organisms, Carson River, Nevada - 1972. Pesticide
l\1oniloring Joumal. Nevada, 9 (I): 44-54.
SEI, J. M. 1978. Serious ll1ercury conlami nation ot sedill1ents in a orwegtan
semi-cÍosed bay. Marine Pollulion Bullelin 9 (7).
SILVA, A.R.B. DA: G.A. GUIMARÃES & M.Q. DA COSTA. 1989. A contaminaçào
mercurial nos garimpos de ouro da Amazônia. S.I., S.N. 111 Congresso
Brasileiro de Defesa do Meio Amhiente, Rio de Janeiro.
WESTOO, G. 1972. Mdhylmércury as percentage of total mercury 111 tlesh and
viscera ot Salmon and sea trout ofvarious ages. Science 181 (4099) 567-568.
ZADORY. L. & P. MUELLER. 1981. POlential Use of freshwater mo\luscs for
monitoring ri ver po\lution. Geojournal 5 (5): 433-445.
Recebido em 16.VIII. 1994, aceito em 20 XI 1995
Revta bras. Zool. 12 (3): 663 - 670.1995

Outros materiais