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Thiara Bernardo Dutra FORMAÇÃO ECONÔMICA, HISTÓRICA E POLÍTICA DO BRASIL © Universidade Positivo 2019 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Thinkstock / © Shutterstock. Presidente da Divisão de Ensino Reitor Direção Acadêmica Gerente de Educação à Distância Coordenação de Metodologia e Tecnologia Autoria Parecer Técnico Supervisão Editorial Projeto Gráfi co e Capa Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Roberto Di Benedetto Rodrigo Poletto Profa. Roberta Galon Silva Profa. Thiara Bernardo Dutra Prof. Veronica Belfi Roncetti Paulino Prof. Rosana Aparecida Martinez Kanufre Felipe Guedes Antunes Regiane Rosa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Universidade Positivo – Curitiba – PR DTCOM – DIRECT TO COMPANY S/A Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. Sumário CAPÍTULO 1 - O PERÍODO COLONIAL E SEUS DESDOBRAMENTOS PARA A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA 7 Objetivos do capítulo 12 Tópicos de estudo 12 Contextualizando o cenário 13 1.1 Fatores históricos, sociais e econômicos na colonização do Brasil 13 1.1.1 Comércio europeu nos séculos XIV e XV 13 1.1.2 Capitalismo mercantil 14 1.1.3 Lutas sociais dos grupos da sociedade colonial e suas motivações 15 1.1.4 A chegada da família real e suas consequências para a colônia 17 1.2 Sociedade colonial brasileira 18 1.2.1 Colonização: aspectos sociais e econômicos 18 1.2.2 As relações e a organização de produção e o trabalho escravo 20 1.2.3 A divisão administrativa e territorial do Brasil 20 1.2.4 Características do tráfico e do trabalho escravo 21 1.3 Ciclos econômicos no período colonial brasileiro 23 1.3.1 Ciclo do pau-brasil 23 1.3.2 Ciclo da cana-de-açúcar e o modelo social e econômico da produção 24 1.3.3 Pacto colonial 25 1.3.4 Ciclo do ouro 25 1.4 A herança colonial na formação da sociedade brasileira 27 1.4.1 A composição da sociedade brasileira no período colonial 27 1.4.2 A reprodução do modelo de relações de trabalho escravocrata 28 1.4.3 As relações de exploração da força de trabalho e suas consequências 28 1.4.4 Identidade da cultura da produção rural 29 Proposta de atividade 29 Recapitulando 30 Referências 30 CAPÍTULO 2 - A FORMAÇÃO DO ESTADO NAÇÃO BRASILEIRO 32 Objetivos do capítulo 33 Tópicos de estudo 33 Contextualizando o cenário 33 2.1 A formação da população no Brasil para a construção da sua identidade 34 2.1.1 Origens e diversidade da população africana 35 2.1.2 A população indígena e o processo de aculturamento 37 2.1.3 A instituição do catolicismo como religião oficial no Brasil 38 2.1.4 Características da identidade nacional 39 2.2 Componentes fundantes do Estado brasileiro 40 2.2.1 Aspectos históricos da independência do Brasil: constituição e organização do Estado brasileiro 41 2.2.2 Diferenças entre Estado e nação 42 2.2.3 A incorporação de símbolos nacionais a partir do modelo europeu 43 2.2.4 Os símbolos da identidade nacional X negação da cultura dos negros 45 2.3 As interpretações do cidadão brasileiro 46 2.3.1 Cidadão brasileiro segundo Gilberto Freyre 46 2.3.2 Cidadão brasileiro segundo Darcy Ribeiro 47 2.3.3 Cidadão brasileiro segundo Sérgio Buarque de Holanda 47 2.4 Pressupostos e aspectos estruturais e organizacionais para a sociedade brasileira 47 2.4.1 A primeira Constituição Brasileira (1824) 48 2.4.2 O conjunto das estruturas e legislações para legitimação do Estado 49 2.4.3 Interesses particulares e coletivos 50 2.4.4 A lógica do trabalho escravo na lógica do capitalismo mercantil 50 Proposta de atividade 51 Recapitulando 52 Referências 52 CAPÍTULO 3 - AS CRISES DO CAPITALISMO – SÉCULO XX E SEUS DESDOBRAMENTOS NO BRASIL 54 Objetivos do capítulo 55 Tópicos de estudo 55 Contextualizando o cenário 55 3.1 Aspectos e características das crises do capitalismo 56 3.1.1 Modelos de intervenção do Estado 56 3.1.2 Contradições sobre as crises econômicas e sociais 57 3.1.3 A visão de Caio Prado Júnior sobre a empresa colonial 58 3.1.4 O processo de globalização e o conflito do capitalismo e estado de direitos 59 3.2 Marcos e trajetórias das crises do capitalismo no final do século XX 60 3.2.1 A crise de 1929 e a Grande Depressão 61 3.2.2 A crise do petróleo de 1970 62 3.2.3 As crises no México e na Argentina na década de 1990 63 3.2.4 A crise norte-americana de 2008 65 3.3 Aspectos políticos, econômicos e sociais no Brasil no século XX 65 3.3.1 República Velha e Estado Novo (1889-1945) 66 3.3.2 Modernização econômica e construção de Brasília (1945-1964) 67 3.3.3 Ditadura militar e Ufanismo Nacional (1964-1985) 69 3.3.4 Processo democrático – 1985 aos dias atuais 70 3.4 Fases e transformações do capitalismo e seus impactos na realidade brasileira 72 3.4.1 Mercantilismo – Portugal e Espanha 72 3.4.2 Liberalismo clássico 72 3.4.3 Keynesianismo – pós-guerra 74 3.4.4 Guerra fria – capitalismo financeiro e neoliberalismo 74 Proposta de atividade 75 Recapitulando 75 Referências 76 CAPÍTULO 4 - O ESTADO DE DIREITOS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 77 Objetivos do capítulo 78 Tópicos de estudo 78 Contextualizando o cenário 78 4.1 Fundamentos teóricos sobre a concepção de sujeitos históricos 79 4.1.1 Estratos e prerrogativas da Constituição de 1988 79 4.1.2 Capitalismo e seus reflexos sobre o individualismo x coletividade 81 4.1.3 Conceito de sujeitos e atores sociais 83 4.1.4 A perspectiva da classe social na construção da democracia 84 4.2 A participação de sujeitos no processo de fortalecimento da democracia 85 4.2.1 Trajetória dos movimentos sociais e populares nas décadas de 70 e 80 85 4.2.2 Espaços urbanos e governança social 86 4.2.3 Orçamento participativo 87 4.2.4 Níveis e categorias de participação 87 4.3 O contexto contemporâneo das políticas públicas 88 4.3.1 A sociedade contemporânea e os problemas complexos 89 4.3.2 O Estado necessário para o Brasil no século XXI 89 4.3.3 Possibilidades de políticas públicas intersetoriais 90 4.3.4 A participação cidadã na concepção e avaliação das políticas públicas 90 4.4 A cultura democrática em formação X desigualdades sociais 91 4.4.1 Mecanismos institucionais de participação social e novos arranjos sociais após Constituição Federal de 1988 91 4.4.2 Qualificação técnica e política para a efetiva participação social 93 4.4.3 Unidades Federativas diante da Constituição Federal de 1988 94 4.4.4 Transformação política-cultural na direção da democracia 96 Proposta de atividade 96 Recapitulando 96 Referências 96 FORMAÇÃO ECONÔMICA, HISTÓRICA E POLÍTICA DO BRASIL CAPÍTULO 1 - O PERÍODO COLONIAL E SEUS DESDOBRAMENTOS PARA A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA Thiara Bernardo Dutra 7 Compreenda seu livro: Metodologia Caro aluno, A metodologia da Universidade Positivo apresenta materiais e tecnologias apropriadas que permitem o desenvolvimento e a interação entre alunos, docentes e recursos didáticos e tem por objetivo a comunicação bidirecional entre os atores educacionais. O seu livro, que faz parte dessa metodologia, está inserido em um percurso de aprendizagem que busca direcionar a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da contextualização teórica-prática e das atividades individuais e colaborativas; e fundamentado nos seguintes propósitos: • valorizar suas experiências; • incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento; • estimular a pesquisa; • oportunizar a reflexão teórica e aplicação consciente dos temas abordados.Compreenda seu livro: Percurso Com base nessa metodologia, o livro apresenta os itens descritos abaixo. Navegue no recurso para conhecê-los. 1. Objetivos do capítulo Indicam o que se espera que você aprenda ao final do estudo do capítulo, baseados nas necessidades de aprendizagem do seu curso. 2. Tópicos que serão estudados Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo. 3. Contextualizando o cenário Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto, relacionando teoria e prática. 4. Pergunta norteadora Ao final do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica. 5. Pausa para refletir São perguntas que o instigam a refletir sobre algum ponto estudado no capítulo. 6. Boxes São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de filme, apresentação de um contexto, dicas, curiosidades etc. 7. Proposta de atividade Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e sistematize o que aprendeu no capítulo. 8. Recapitulando É o fechamento do capítulo. Visa sintetizar o que foi abordado, retomando os objetivos do capítulo, a pergunta norteadora e fornecendo um direcionamento sobre os questionamentos feitos no decorrer do conteúdo. • • • • 8 9. Referências bibliográficas São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencionadas nos boxes, adequadas ao Projeto Pedagógico do curso. Boxes Navegue no recurso abaixo para conhecer os boxes de conteúdo utilizados. Afirmação Citações e afirmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo. Assista Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações complementares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. Biografia Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. Contexto Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstram a situação histórica, social e cultural do assunto. Curiosidade Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. 9 Dica Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. Esclarecimento Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. Exemplo Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto abordando a relação teoria-prática. Apresentação da disciplina Você já se perguntou por que o Brasil é caracterizado pela ampla diversidade cultural? De norte a sul, é possível notar as diferentes formas de manifestações, na música, dança, culinária e religião. Essa diversidade é resultado da maneira como a nação brasileira se constituiu, a partir da mistura de diferentes etnias: ameríndios, africanos e europeus, unidos pela realidade da colonização portuguesa na América. O processo histórico de constituição da nação brasileira tem repercussão na formação da sociedade e da cultura e na organização econômica e política do Brasil na atualidade. Entender seus desdobramentos, que abrangem a herança colonialista, a instituição do Estado Nação, os reflexos da crise do capitalismo no final do século XX até a Constituição e atuação dos sujeitos históricos nos aspectos políticos, econômicos e sociais no Brasil contemporâneo é essencial para compreender o processo de formação da nação brasileira e a desigualdade resultante. O conteúdo apresentado nesta disciplina proporciona um panorama sobre o processo histórico de formação do Brasil, em sua complexidade social, econômica e política. Assim, propicia a aquisição de conhecimentos técnicos e científicos que possibilitam a atuação crítica e competente na área do Serviço Social. A autoria Thiara Bernardo Dutra A Professora Thiara Bernardo Dutra é Mestra em História Social das Relações Políticas pelo Programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Especialista em Educação Profissional na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). Bacharel e Licenciada em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), tem experiência como docente de Tópicos em História Moderna e Contemporânea e é pesquisadora do Laboratório de História, Poder e Linguagens na UFES. Currículo Lattes: < >.lattes.cnpq.br/2631854361642151 10 http://lattes.cnpq.br/2631854361642151 Este material foi elaborado com a finalidade de apresentar um panorama da formação social, política e econômica do Brasil que propicie melhor compreensão sobre as raízes dos problemas contemporâneos brasileiros. Por isso, é dedicado a você, aluno! Verônica Belfi Roncetti Paulino A Professora Verônica Belfi Roncetti Paulino é Mestra em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Especialista em Psicopedagogia e Gestão Integrada pelo Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino (IESDE BRASIL). Também é Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Afonso Claudio (FAAC) e em História pela Universidade Leonardo da Vinci (UNIASSELVI). Currículo Lattes: < >.lattes.cnpq.br/3684872539234174/ 11 http://lattes.cnpq.br/3684872539234174/ Dedico este trabalho a todos os povos africanos e ameríndios escravizados no período colonial. Gratidão por contribuir de forma significativa e valorativa no processo inicial de construção da nossa nação. Objetivos do capítulo Ao final deste capítulo, você será capaz de: • Compreender os processos sociais, políticos e econômicos que determinaram o processo de colonização no Brasil, reconhecendo as principais características para a formação da sociedade brasileira. • Entender a formação da sociedade brasileira a partir de diferentes culturas, unidas pela realidade da colonização, relacionando-as com as características atuais de desigualdades sociais. Tópicos de estudo • Fatores históricos, sociais e econômicos na colonização do Brasil • Comércio europeu nos séculos XIV e XV • Capitalismo mercantil • Lutas sociais dos grupos da sociedade colonial e suas motivações • A chegada da família real e suas consequências para a colônia • Sociedade colonial brasileira • Colonização: aspectos sociais e econômicos • As relações e a organização de produção e o trabalho escravo • A divisão administrativa e territorial do Brasil • Características do tráfico e do trabalho escravo • Ciclos econômicos no período colonial brasileiro • Ciclo do pau-brasil • • • • • • • • • • • • • • 12 • Ciclo da cana-de-açúcar e o modelo social e econômico da produção • Pacto colonial • Ciclo do ouro • A herança colonial na formação da sociedade brasileira • A composição da sociedade brasileira no período colonial • A reprodução do modelo de relações do trabalho escravocrata • As relações de exploração das forças de trabalho e suas consequências • Identidade da cultura da produção rural Contextualizando o cenário Uma questão interessante sobre a formação da sociedade brasileira é o surgimento da noção de pertencimento em relação ao território colonial. A ideia de brasilidade começou a ser germinada ao final do século XVIII, nos movimentos que contestavam a condição colonial e buscavam se distinguir dos portugueses, ao se considerarem mineiros, baianos ou pernambucanos. Não havia consciência nacional, mas, sim, uma noção de pertencimento regional. Foi no período de consolidação da Monarquia que surgiu a preocupação com a formação do Brasil, devido à necessidade de criar uma identidade para a nova nação. Diante disso, quais são as repercussões das origens coloniais na sociedade brasileira atual? 1.1 Fatores históricos, sociais e econômicos na colonização do Brasil O Descobrimento do Brasil em 1500, documentado na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manuel, foi o primeiro registro histórico sobre o território brasileiro e marcou sua incorporação ao domínio português. Para compreendera colonização portuguesa na América, é preciso situar a chegada dos portugueses no processo da expansão comercial europeia para entender as complexas relações marcadas por interesses econômicos, políticos, sociais e religiosos que influenciaram a formação do que viria a ser o Brasil. 1.1.1 Comércio europeu nos séculos XIV e XV No século XIII, as trocas comerciais entre a Europa e a Ásia foram potencializadas, trazendo prosperidade e transformando a dinâmica social. No entanto, em meados do século XIV, desembarcaram na Europa pessoas e ratos infectados com a peste bubônica. As mortes e a fome geraram grave crise social e econômica no continente. A falta de mercadorias, metais preciosos e empregos, no século XV, levou alguns reis a investirem em viagens marítimas que estimularam o comércio. As expedições marítimas passaram a explorar novas rotas para chegar ao oriente. Os navegadores se lançaram ao desconhecido oceano Atlântico, iniciando as Grandes Navegações. • • • • • • • • 13 Fonte: © Archiwiz / / Shutterstock. Essas navegações contribuíram para o processo de expansão comercial europeia, nos séculos XV e XVI, e para a descoberta do Novo Mundo. Pela primeira vez, Europa, Ásia, África e América foram interligadas por trocas econômicas e culturais. Portugal foi pioneiro nas navegações atlânticas por vários fatores, como organização política centralizada, envolvimento da burguesia mercantil e conhecimento náutico. Os portugueses não se depararam somente com mercadorias, mas com diversos povos. Sua expansão marítima portuguesa começou pelo norte da África, e suas embarcações aportaram em diferentes ilhas no oceano Atlântico e na América, percorreram a costa africana e alcançaram a Ásia. A chegada ao Brasil em 22 de abril de 1500 marcou a integração do território à expansão comercial europeia. 1.1.2 Capitalismo mercantil O , baseado no comércio e na expansão marítima, caracterizou-se pela circulação decapitalismo mercantil capitais, bens e serviços pelas principais cidades europeias, colônias americanas e entrepostos comerciais da África e da Ásia (WEHLING, 1999). Juntamente com as Grandes Navegações, permitiu a transformação da economia mundial e garantiu uma posição de centralidade da Europa nas relações comerciais durante a Idade Moderna. A ideia mercantilista de que a acumulação de capitais gera riqueza atraiu a atenção dos reis e favoreceu o desenvolvimento do capitalismo mercantil. As estratégias adotadas pelo Estado se baseavam na intervenção econômica, por meio da balança comercial favorável, do metalismo, do protecionismo e do colonialismo. 14 Fonte: © aekkorn / / Shutterstock. A colonização do Brasil intensificou a expansão comercial da Europa e contribuiu para a transferência de riquezas naturais e minerais para o continente, que se concentraram, principalmente, nas mãos dos grupos mercantis, consolidando a burguesia europeia. 1.1.3 Lutas sociais dos grupos da sociedade colonial e suas motivações A colonização do Brasil foi marcada por lutas sociais, envolvendo diferentes grupos, interesses e regiões da colônia. A luta dos africanos e seus descendentes e dos colonos contra a dominação metropolitana marcaram as relações sociais no período. Os escravizados resistiram à privação de liberdade e à violência empregada contra eles durante a escravidão, por meio de diversas formas: o sincretismo religioso e a preservação cultural, o suicídio e o aborto, os prejuízos causados à produção e a negociação cotidiana. As mais recorrentes e bem-sucedidas foram as resistências coletivas: atentados, revoltas, fugas e formação de quilombos. Quilombos foram comunidades de escravos fugidos que se espalharam por toda a colônia e atraíram milhares de pessoas. O maior e mais conhecido foi o Quilombo de Palmares, localizado em Alagoas, símbolo de resistência e ameaça à ordem escravista colonial. CONTEXTO No início do século XIX, a escravaria de uma fazenda, na vila de Guarapari, Espírito Santo, se rebelou contra o novo senhor, assassinou-o e se apossou da fazenda, fundando a República Negra. Atualmente, existe, no local, a Comunidade Remanescente Quilombola de Alto Iguape (DUTRA, 2016). 15 As tensões entre autoridades metropolitanas e interesses dos colonos acirraram no final do século XVIII. Para Wehling (1999, p. 337), “[...] o pensamento iluminista, a dependência do Brasil em relação a Portugal e as condições materiais da Colônia foram aspectos comuns aos movimentos antiportugueses”. Clique nas abas a seguir e conheça dois exemplos. Revolução Pernambucana Eclodiu em 1817. A região vivia um período de crise econômica que foi intensificada pela elevação dos impostos para custear os gastos com a corte portuguesa no Rio de Janeiro, gerando insatisfação dos colonos e contribuindo para a organização do movimento. Os revoltosos eram pessoas de camadas populares, padres, militares, comerciantes e intelectuais desejosos por autonomia em relação à Portugal. Eles derrubaram o governo, implantaram uma república e uma legislação, e suas ideias revolucionárias se espalharam, de modo que outras províncias do Nordeste aderiram à revolta. A derrota ocorreu devido a divergências internas e à violenta repressão das tropas portuguesas. Inconfidência Mineira Não se limitou a contestar impostos ou abusos cometidos, como, também, os vínculos de subordinação colonial. O movimento foi formado por membros da elite mineira que conspiraram contra o governo português, tramando uma insurreição, que não se concretizou, por ter sido delatada. Os envolvidos foram condenados ao exílio. Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, era um dos poucos participantes de origem modesta, recebendo o castigo exemplar. Para intimidar novas conspirações, foi condenado à morte, enforcado e esquartejado em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro. A imagem a seguir mostra o Museu da Inconfidência, localizado em Ouro Preto, em Minas Gerais. Museu da Inconfidência. Fonte: © Eduardo Teixeira / / Shutterstock. Wehling (1999, p. 338) ressalta que, embora contrários ao sistema colonial, “[...] nenhum desses movimentos tinha como objetivo separar o Brasil de Portugal”. 16 1.1.4 A chegada da família real e suas consequências para a colônia A vinda da família real para o Brasil se relaciona com o contexto internacional, marcado pelo expansionismo francês na Europa. A manutenção de relações comerciais com a Inglaterra resultou na invasão francesa à Portugal e na fuga da corte para o Brasil em 1808. A presença da família real na colônia inverteu os lugares, pois, o reino perdeu autonomia, em detrimento da colônia, que se tornou o centro do Império Português. Dentre as ações do príncipe regente Dom João, destacam-se a em 1808,abertura dos portos às nações amigas extinguindo a exclusividade comercial, e a que garantiu vantagens econômicasassinatura do Tratado de 1810, aos ingleses. Esse tratado, resultado da pressão inglesa, cujo intuito era ampliar sua participação na economia da colônia, obteve taxação privilegiada de 15% de imposto sobre a entrada de produtos ingleses no Brasil, como mostra o gráfico a seguir. Tarifas alfandegárias para importação de produtos em 1810. Fonte: DIAS, 1986. (Adaptado). Dom João também promoveu a urbanização da cidade do Rio de Janeiro e a construção de diversas instituições, demonstrando o interesse no desenvolvimento científico e cultural e na organização administrativa da colônia. A imagem a seguir mostra o Jardim Botânico da Cidade, fundado pelo príncipe regente em 1808. 17 Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Fonte: © lazyllama / / Shutterstock. Em 1815, Dom João elevou o Brasil a Reino Unido e, em 1818, foi coroado rei Dom João VI, diante do falecimento da rainha, Dona Maria I. Nesse ano, os portugueses expulsaram os franceses, auxiliados pelas tropas inglesas. Com a permanência da corte no Brasil, eclodiu a Revolução Liberal do Porto, em 1820, exigindo a volta do rei à Portugal. Com o retorno, em 1821, ele deixou seu filho Dom Pedro como regente do Brasil. As ações de DomJoão VI não amenizaram a insatisfação pela condição colonial. O interesse das elites coloniais estava em conformidade com as práticas liberais que configuravam o cenário internacional. Ao conceder autonomia econômica para as elites, as ações do rei Dom João VI aceleraram o processo de independência do Brasil. 1.2 Sociedade colonial brasileira O contato entre os europeus, indígenas e africanos, a partir do século XV, resultou na integração dessas culturas. Pela primeira vez, houve uma troca sistemática de produtos, ideias e valores entre povos que, até então, viviam isolados. Desse encontro, surgiram “[...] sociedades e culturas absolutamente miscigenadas e sincréticas, no quadro de uma situação institucional que era colonial” (WEHLING, 1999, p. 49). Apesar da imposição de um modelo social e religioso pela metrópole aos portugueses, indígenas e africanos, cada povo trazia consigo suas instituições e visões de mundo. Isso resultou em uma sociedade miscigenada e um mosaico diversificado de culturas, com a permanência das influências de seus povos formadores e criação de elementos novos a partir desse encontro. 1.2.1 Colonização: aspectos sociais e econômicos A colonização portuguesa na América foi marcada pelo choque cultural entre o modo de vida indígena e os costumes portugueses e se intensificou com a chegada dos jesuítas, ao imporem a fé católica. Algumas tribos resistiram, defendendo sua identidade e sua terra, e travaram guerras contra os invasores. Outras se refugiaram no interior ou firmaram alianças com os colonizadores. O olhar etnocêntrico dos europeus reduziu inúmeras nações de povos nativos ao termo genérico de . Oindígena caráter exploratório da colonização resultou na extinção de vários povos nativos. 18 Fonte: © celio messias silva / / Shutterstock. Os brancos portugueses formavam a elite, composta por senhores de engenho, negociantes, altos funcionários régios e a alto clero e tinham seu prestígio e posição social definidos conforme sua posse de escravos. Os africanos que desembarcam no Brasil foram classificados em dois grandes grupos étnicos. Clique a seguir para conhecê-los. Sudaneses Influenciados pela cultura árabe e religião islâmica. Bantos Influenciados pela autenticidade e preservação da cultura africana tradicional. O quadro a seguir mostra os grupos étnicos africanos no Brasil: Grupos étnicos africanos no Brasil. Fonte: WEHLING, 1999, p. 228 (Adaptado). Havia também homens livres pobres, brancos e mestiços, que prestavam serviços como lavradores, assalariados, pequenos agricultores, oficiais mecânicos, mascates, tropeiros, servidores públicos e militares. 19 1.2.2 As relações e a organização de produção e o trabalho escravo Durante a implantação da monocultura açucareira, o trabalho escravo indígena foi utilizado nos engenhos. Mesmo com a ação jesuítica em defesa dos nativos, até meados do século XVIII, o indígena continuou sendo a principal força de trabalho nas capitanias alheias ao circuito mercantil-exportador, São Vicente, Pará e Maranhão. Apenas em 1755, a escravidão indígena foi proibida pelo rei Dom José I. A base de produção e de relação de trabalho na colônia foi marcada pelo escravismo. A partir do século XVII, os africanos escravizados passaram a ser a principal força de trabalho nas fazendas açucareiras e realizavam tarefas no canavial, no engenho e na casa-grande. A presença escrava estava disseminada também nos centros urbanos, onde prestavam diversos tipos de serviços. Para Freyre (2003, p. 32), “[...] formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio – e mais tarde de negro – na composição social”. Mesmo com uma economia marcada por ciclos econômicos, o instrumento de exploração do trabalho – o braço escravo – se manteve ao longo do período colonial. 1.2.3 A divisão administrativa e territorial do Brasil Entre 1500 e 1530, os portugueses se limitaram a realizar expedições de reconhecimento e defesa do território conquistado e explorar o pau-brasil. A colonização portuguesa na América se efetivou em 1530, quando foi enviada ao Brasil uma expedição comandada por Martin Afonso de Souza para a ocupar o território e iniciar a produção de açúcar. A seguir, navegue no recurso e conheça mais sobre a colonização no Brasil. • Capitanias hereditárias Para tornar os negócios lucrativos, a Coroa portuguesa implantou sistemas de fiscalização e administração dos colonos e de suas atividades. Sem recursos financeiros para empreender a colonização, adotou o sistema de doando lotes de terras aos nobres portugueses, dividindo com acapitanias hereditárias, iniciativa privada os custos da colonização do país. • Território colonial O território colonial foi dividido em 14 lotes de tamanhos diferentes e oferecidos aos interessados em aplicar recursos próprios na ocupação e exploração das terras. Contudo, o sistema fracassou, exceto em São Vicente e Pernambuco. Para contornar o problema, foi criado, em 1548, o governo-geral, um sistema de administração centralizado. As atribuições dos governadores-gerais eram a fiscalização e a defesa do território e a mediação das relações entre colonos e a metrópole. A cidade de Salvador foi a primeira sede do governo-geral. • Municípios Nos municípios, a administração era feita pela Câmara, órgão cuja atribuição era manter a ordem e aplicar a legislação metropolitana. Seu poder se estendia por todo o território municipal, da vila às fazendas. A foto a seguir mostra a Casa de Câmara e Cadeia construída em 1762, em Mariana, em Minas Gerais. • • • 20 Casa de Câmara e Cadeia em Mariana, Minas Gerais. Fonte: © GuilhermeMesquita / / Shutterstock. O Senado da Câmara era composto por três vereadores, eleitos pelos homens bons, donos de terras e escravos que tinham o direito de votar e ser votados. Um juiz, geralmente nomeado pela Cora, presidia os trabalhos e julgava processos. 1.2.4 Características do tráfico e do trabalho escravo A partir de meados do século XVI, a mão de obra indígena foi sendo substituída pela africana, sobretudo, devido à estrutura comercial montada para efetivar o tráfico intercontinental, que gerava lucros para a Coroa e os comerciantes portugueses. Fonte: © Everett Historical / / Shutterstock. Várias tribos e reinos africanos praticavam a escravidão antes da chegada dos europeus, escravizando seus prisioneiros de guerra. Mas foi a presença dos portugueses que transformou a prática em empreendimento comercial e desestruturou sociedades africanas ao passo que consolidou a colonização do Brasil. 21 Entre 1551 e 1850, período de vigência do tráfico negreiro no Brasil, a entrada de africanos teve ritmo de crescimento constante, chegando ao ápice em seus momentos finais, como mostra o gráfico a seguir. Estimativa de desembarque de africanos no Brasil – séculos XVI ao XIX. Fonte: ALENCASTRO, 2000, p. 43. Mais de quatro milhões de africanos desembarcaram no Brasil, vindos das regiões da Guiné, Angola e Moçambique. Os principais portos negreiros eram Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. Ao desembarcarem, eles eram conduzidos a um mercado e vendidos como escravos. Fonte: © Aritra Deb / / Shutterstock. O trabalho escravo foi utilizado em praticamente todas as atividades econômicas e, apesar da disseminação, suas características variavam conforme a região. Nas cidades, a escravidão assumiu contornos diferentes em relação ao campo. Surgiram os , que trabalhavam em atividades remuneradas e geravam renda a seuescravos de ganho 22 senhor; e os , que prestavam serviços diversos a outras pessoas. Nas atividades urbanas,escravos de aluguel alguns escravos ganhavam uma parte do pagamento dado ao senhor e o acumulavam com o intuito de comprar a liberdade. A violência sempre esteve associada à escravidão. Os castigos variavam conforme a falta cometida e era uma prerrogativa legal dos senhores, assegurada pelo direito à propriedade. A resistência escrava foi um traço marcante da escravidão no Brasil. As açõesescravas eram tão frequentes que originaram a figura dos , homens pobres que recebiam pela caça e captura dos fugitivos.capitães do mato 1.3 Ciclos econômicos no período colonial brasileiro Ao analisar a economia colonial sob a ótica do capitalismo mercantil, Prado Júnior (1973) convencionou dividir a economia colonial em ciclos. Entretanto, é preciso desfazer a ideia de que um ciclo termina para que outro comece. A produção açucareira, por exemplo, foi praticada durante todo o período colonial e, ainda hoje, ocorre no país. Com momentos de auge e declínio dos ciclos econômicos, traços marcantes da economia colonial foram a dependência externa, o latifúndio e a escravidão. 1.3.1 Ciclo do pau-brasil Na fase de reconhecimento do território, entre 1500 e 1530, a presença portuguesa se limitou ao litoral brasileiro e à árvore nativa cuja madeira era usada na fabricação de navios e da qual se extraía umexploração do pau-brasil, pigmento vermelho utilizado no tingimento de tecidos, cor considerada características dos nobres e reis. ESCLARECIMENTO A alforria é o ato pelo qual o proprietário liberta os próprios escravos. No Brasil, durante o período colonial, a prática foi recorrente nas cidades, onde os escravos tinham condições de acumular pecúlio e negociar sua liberdade. PAUSA PARA REFLETIR Castigos físicos são efetivos? Seria aceitável, atualmente, um gestor castigar fisicamente seus colaboradores? Práticas semelhantes ainda ocorrem no país? 23 A exploração do pau-brasil foi um monopólio real, pois somente o governo português tinha o direito de extrai-lo e comercializá-lo. O trabalho, do corte ao embarque, era feito por indígenas, contratados pelo sistema de escambo. Até o embarque, as madeiras ficavam em feitorias, onde também ocorria sua comercialização. De lá, embarcavam para a Europa. O ciclo do pau-brasil foi uma atividade rápida e predatória. 1.3.2 Ciclo da cana-de-açúcar e o modelo social e econômico da produção A foi o primeiro e principal produto de exportação cultivado na colônia.cana-de-açúcar Fonte: © Yatra / / Shutterstock. A seguir, clique nas abas e conheça mais sobre a história da cana-de-açúcar. Primeiras mudas Foram trazidas para o Brasil por Martin Afonso de Souza, em 1530, que iniciou o plantio e a instalação do primeiro engenho, em São Vicente. Mas foi em Pernambuco que se encontraram as melhores condições de crescimento da planta, tornando-se o centro de produção açucareira no período colonial. Agroindústria açucareira Envolvia a atividade agrícola, a etapa industrial e a comercialização e se estruturava em latifúndios monocultores, que eram grandes unidades de produção em que se cultivava apenas um produto voltado à exportação, realizado por trabalho escravo africano. Relações sociais Estas se estruturavam em torno da organização produtiva: no topo da sociedade, estava o senhor de engenho, proprietário de terras e homens, e, na base, os escravizados, responsáveis por quase todas as atividades produtivas. Oscilava entre os dois, um grupo de homens livres pobres dependentes dos senhores de engenho. 24 1.3.3 Pacto colonial O sistema colonial e o mercantilismo deram as bases para o desenvolvimento econômico da colônia. A concessão de monopólios, privilégios e, sobretudo, a exploração metropolitana, caracterizavam o sistema colonial. Segundo Prado Júnior (1965, p. 31), o sentido da colonização era econômico, inserido no contexto internacional, no qual a colonização tinha: [...] o aspecto de uma vasta empresa comercial [...] destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. E este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes. A função da colônia brasileira era fornecer produtos agrícolas e minerais para a metrópole e, em contrapartida, importar manufaturados e outros artigos proibidos de serem fabricados na colônia. Essa relação de exclusividade comercial caracteriza o pacto colonial. Parte da historiografia atual sobre o período colonial brasileiro refuta a ideia de pacto colonial. Nas últimas duas décadas, pesquisas demonstraram que havia um intenso comércio entre os diferentes domínios do Império português (América, África e Ásia), não sendo algo exclusivo da metrópole. Alencastro (2000), por exemplo, demonstrou a existência de relações comerciais no trato de escravos realizadas diretamente entre o Brasil e Angola. Já Sampaio (2001), ao analisar os homens de negócio do Rio de Janeiro, na primeira metade do século XVIII, confirmou a presença de negociantes cariocas no continente africano. 1.3.4 Ciclo do ouro A descoberta do no Brasil no final do século XVII está relacionada à expansão bandeirante e ocorreu em umouro momento de declínio do ciclo açucareiro. Uma consequência imediata foi o deslocamento populacional de portugueses e de colonos de outras partes da colônia, sobretudo, do Nordeste, para as minas. A população da região das minas aumentou cerca de 10 vezes entre o final do século XVII e o final do século XVIII, como mostra o gráfico a seguir. DICA O pacto colonial, atualmente, é contestado por uma visão que busca entender as relações entre o Brasil e os outros domínios portugueses. Para compreender esse assunto, leia Antigo Regime (FRAGOSO; BICALHO; GOUVEIA,nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa – séculos XVI-XVIII 2001). 25 Variação da população colonial durante o ciclo minerador. Fonte: BOXER, 2000. (Adaptado). O aumento populacional vertiginoso contribuiu para o povoamento da região mineradora, entre Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, favorecendo a formação de um mercado consumidor e a integração econômica entre diferentes partes da colônia, por meio da abertura de estradas, que abasteciam as minas. Esse processo intensificou o comércio, contribuiu para a formação de um mercado interno na colônia e levou à transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1753. A riqueza proveniente da extração aurífera permitiu o desenvolvimento artístico e cultural e a diversificação econômica na região. Esse fato resultou em uma sociedade com relativa mobilidade social, com o surgimento de uma camada média e produtiva composta por homens livres. Diante da importância da exploração do ouro, houve o reforço do controle fiscal e a transferência de divisas para a metrópole, por meio da criação de órgãos administrativos e fiscais, voltados ao recolhimento de impostos. Nas minas, a Coroa portuguesa mostrou sua face mais mercantilista. CURIOSIDADE As construções do século XVIII, principalmente as igrejas, são uma herança do desenvolvimento artístico e cultural, durante o ciclo do ouro. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi o principal escultor representante do estilo barroco no Brasil. 26 1.4 A herança colonial na formação da sociedade brasileira O interesse da Coroa portuguesa na colonização do Brasil era que a colônia fornecesse mercadorias que gerassem riqueza para a metrópole. O modo como se estruturou a economia colonial apoiada no latifúndio e no trabalho escravo, na dependência externa e em práticas mercantilistas, marcou a sociedade brasileira. A vocação agrícola, a concentração de terras, o preconceito racial e contra o trabalho manual, a distinção social, as divergências religiosas e o apadrinhamento político, por exemplo, são resquícios das regras econômicas, políticas e simbólicas que marcaram a colonização portuguesa na América. 1.4.1 A composição da sociedade brasileira no período colonial Durante a colonização, os portugueses impuseram sua língua, suas instituições e sua religião na colônia, no intuito de criar uma extensão da metrópole. Do encontro de etnias, o resultado foi uma sociedade miscigenada e diversificada culturalmente, devido à preservação de traços das sociedades matrizes e da criação de novos elementos. Fonte: © Elysangela Freitas / / Shutterstock. PAUSA PARA REFLETIR Quais elementos da influência indígena, portuguesa e africana você identifica em nossa sociedade hoje? 27 A migração portuguesaentre a metrópole e a colônia foi moderada, nos séculos XVI e XVII, e se relacionava à conjuntura interna de Portugal. Durante o século XVIII, com a descoberta do ouro, o fluxo de portugueses foi significativo, assim como no início do século XIX, com a política de povoamento do interior, que contribuiu para a migração de portugueses dos Açores e da Madeira. A entrada de africanos na colônia estava condicionada ao vigor da economia colonial, relacionada aos ciclos econômicos açucareiro e minerador e à demanda por escravos. Com um fluxo constante, marcado pelas flutuações do mercado comercial, cerca de 4 milhões de africanos chegaram ao Brasil durante o período colonial. Mais difícil de precisar, no entanto, foi o processo de incorporação do indígena à sociedade colonial, que acontecia por intermédio da escravização e dos aldeamentos. Há também que destacar o fator endógeno da composição demográfica colonial que ocorreu, desde os primeiros momentos da conquista, a partir da miscigenação. 1.4.2 A reprodução do modelo de relações de trabalho escravocrata A colonização portuguesa na América esteve fundamentada no escravismo, em que todo o sistema produtivo colonial estava vinculado ao predomínio da propriedade escrava como principal força de trabalho. A legislação portuguesa legitimava a escravidão e definia o escravo como propriedade com faculdades humanas. A escravidão definia o lugar dos indivíduos na dinâmica social (DUTRA, 2016). Como qualquer bem, a norma era possuir escravos, responsáveis por fazer trabalhos pesados e desagradáveis e gerar renda para seu senhor, cuja atribuição era ordenar as tarefas e manter o controle. A posse escrava era disseminada, inclusive, entre os mais modestos, ao ponto de ex-escravos se tornaram senhores, um modo de se distanciarem do estigma da escravidão. Sendo assim, “[...] todos os que podiam faziam uso de escravos em sua vida cotidiana” (SOUZA, 2014, p. 81). A predominância do escravismo não excluiu a presença do trabalho livre de brancos pobres, mestiços, negros alforriados e indígenas aculturados. Diferenciavam-se dos escravos apenas por serem livres, pois, diante de uma mentalidade escravocrata, esses trabalhadores tinham que se sujeitar à subordinação social e a baixas remunerações, vivendo no limiar da condição escrava. 1.4.3 As relações de exploração da força de trabalho e suas consequências A presença do trabalho escravo na estruturação econômica e social da colônia tem reflexos profundos na formação do Estado brasileiro. Embora a miscigenação seja marca histórica da sociedade, não impediu a ocorrência de práticas racistas. Debater essa questão é uma maneira de refletir sobre as permanências, buscar valorizar a população afrodescendente em sua diversidade étnica e combater a discriminação. Vamos conhecer mais sobre as relações de exploração do trabalho escravo e suas consequências clicando a seguir: Trabalho manual e escravidão Na colônia, o trabalho manual chegou a ser relacionado à escravidão devido à disseminação da força de trabalho escrava. A cor e a função exercida por uma pessoa eram elementos de diferenciação social. Ainda hoje, o trabalho manual é desvalorizado e relacionado às classes mais baixas da população. Grupos sociais O escravismo como forma de produção estabeleceu dois grupos sociais bem definidos: os senhores e os escravizados. Segundo Souza (2014), a cor da pele era a marca mais evidente do lugar de inferioridade social ocupada pelo escravo. A associação da cor da pele à escravidão era uma das formas recorrentes de controle social. Marginalização social 28 A marginalização social por causa do preconceito racial ainda é realidade, confirmada pelos altos índices de violência contra negros. De acordo com o Atlas da Violência, a cada 100 pessoas que sofrem homicídios no Brasil, 71 são negras. Os dados levantados apontaram que os cidadãos negros têm 23,5% a mais de chance de sofrer assassinato do que os demais. (CERQUEIRA ., 2009). et al Domínio senhorial e negociação O domínio senhorial e a negociação são outros dois elementos que caracterizaram as relações de exploração da força de trabalho escravo. Diante dos castigos e abusos, “[...] o escravo aprendia como tornar sua vida menos difícil, buscando satisfazer o senhor e manter a maior autonomia possível” (SOUZA, 2014, p. 95). Os escravos que aceitavam a exploração recebiam a proteção do senhor, reforçando os laços paternalistas da sociedade escravista, que não representavam, necessariamente, a ruptura dos vínculos de dependência e exploração do trabalho. 1.4.4 Identidade da cultura da produção rural Segundo Freyre (2003), a economia agrária e a organização social se fundamentaram no latifúndio, na monocultura e na escravidão, de modo que foram os pilares da ordem escravocrata colonial. Nacasa-grande e senzala sociedade rural, cabia ao senhor de engenho o poder político, econômico e simbólico, além de posição social privilegiada, resultado da posse de terras, escravos e dependentes. A casa-grande, onde morava o senhor de engenho e sua família, simbolizava o poder senhorial. Na esfera privada, esse poder era ainda maior. Todos viviam sob o comando do chefe da família e deviam a ele respeito e obediência. O configurava a mentalidade aristocrática colonial e se mostrou mais visível no Nordeste.patriarcalismo Enquanto o sistema patriarcal promovia a submissão e inferiorização de mulheres e crianças, o sistema escravista demarcava os lugares sociais: senhor ou escravo. Essa organização social tem reflexos até hoje na sociedade brasileira. Proposta de atividade Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore uma síntese destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir sua síntese, considere as leituras básicas e complementares realizadas. PAUSA PARA REFLETIR O que você pensa sobre a mentalidade patriarcal? Ela tem reflexos na sociedade brasileira atual? 29 Recapitulando O capítulo apresentou a herança colonial na formação da sociedade brasileira. O processo de colonização se originou na expansão comercial europeia no século XV. Do encontro de diferentes etnias – europeia, ameríndia e africana –, unidas pela realidade colonial, formou-se uma sociedade miscigenada e diversa. Cada povo preservou aspectos de sua cultura, ainda presentes na sociedade atual. Dos indígenas, herdamos o hábito de tomar banho; dos europeus, a língua portuguesa e, do africano, ritmos musicais, por exemplo O contato entre portugueses e indígenas, senhores e escravos e colonos e Coroa foi caracterizado pelo conflito de interesses e lutas sociais. O escravismo foi o traço mais significativo na formação colonial brasileira, e a mão de obra escrava foi a principal forma de exploração do trabalho em todos os ciclos e atividades econômicas. Atualmente, segundo a legislação brasileira, a escravidão é considerada crime e seria um absurdo, para os padrões vigentes, admitir a ideia dos castigos físicos em uma relação de trabalho. A escravidão e a grande propriedade foram os pilares da sociedade colonial. A discriminação racial, o patriarcalismo e a desigualdade social são resquícios desse processo de formação da sociedade brasileira. Referências ALENCASTRO, L. formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras,O Trato dos Viventes: 2000. BOXER, C. dores de crescimento de uma sociedade colonial. Rio de Janeiro: NovaA Idade de Ouro do Brasil: Fronteira: 2000. CERQUEIRA, D. São Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2019. Disponível em:et al. Atlas da Violência. < >. Acesso em: 12/06/2019.www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/12/atlas-2019 DIAS, M. A interiorização da Metrópole (1808-1853). : MOTA, C. . São Paulo: Perspectiva, 1986.In 1822 DUTRA, T. capitania do Espírito Santo, 1781-1821. 2016. 176 f..Autoridades Coloniais e o Controle dos Escravos: Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Espírito Santo, Vitória, 2016. Disponível em: < repositorio.ufes.br/bitstream/10/3548/1/tese_7893_DISSERTA%C3%87%C3%83O_THIARA_BERNARDO_DUTRA.pdf>. Acesso em: 28/05/2019. FRAGOSO, J.; BICALHO, M.; GOUVEIA, M. (Orgs.). a dinâmica imperial portuguesaO Antigo Regime nos Trópicos: (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. FREYRE, G. a formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48. ed.Casa-Grande e Senzala: São Paulo: Global, 2003. PRADO JÚNIOR, C. : colônia. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1965.Formação do Brasil Contemporâneo ______. São Paulo: Brasiliense, 1973.História Econômica do Brasil. SAMPAIO, J. Os homens de negócio do Rio de Janeiro e sua atuação nos quadros do Império português (1701- 1750). : FRAGOSO, J.; BICALHO, M.; GOUVEIA, M. (Orgs.). a dinâmica imperialIn O Antigo Regime nos Trópicos: portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. 30 http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/12/atlas-2019 http://repositorio.ufes.br/bitstream/10/3548/1/tese_7893_DISSERTA%C3%87%C3%83O_THIARA_BERNARDO_DUTRA.pdf SOUZA, M. . São Paulo: Ática, 2014.África e Brasil Africano WEHLING, A. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.Formação do Brasil Colonial. 31 FORMAÇÃO ECONÔMICA, HISTÓRICA E POLÍTICA DO BRASIL CAPÍTULO 2 - A FORMAÇÃO DO ESTADO NAÇÃO BRASILEIRO Verônica Belfi Roncetti Paulino 32 Objetivos do capítulo Ao final deste capítulo, você será capaz de: • Analisar como se estabeleceu a nação brasileira, a partir da Independência do Brasil, compreendendo os aspectos sociais, culturais e políticos que fundamentaram a constituição do Estado Nacional. • Conhecer as distintas interpretações do cidadão brasileiro, compreendendo como se manifesta a sociedade brasileira. • Conhecer os processos estruturais e organizativos, nas origens da formação do Estado Brasileiro, identificando seus desdobramentos na configuração do Estado na atualidade. Tópicos de estudo • A formação da população no Brasil para a construção da sua identidade • Origens e diversidade da população africana • A população indígena e o processo de aculturamento • A instituição do catolicismo como religião oficial no Brasil • Características da identidade nacional • Componentes fundantes do Estado Brasileiro • Aspectos históricos da Independência do Brasil: constituição e organização do Estado Brasileiro • Diferenças entre Estado e Nação • A incorporação de símbolos nacionais a partir do modelo europeu • Os símbolos da identidade nacional X negação da cultura dos negros • Interpretações do cidadão brasileiro. • Cidadão brasileiro segundo Gilberto Freyre • Cidadão brasileiro segundo Darcy Ribeiro • Cidadão brasileiro segundo Sérgio Buarque de Holanda • Pressupostos e aspectos estruturais e organizacionais para a sociedade brasileira • A primeira Constituição Brasileira (1824) • O conjunto das estruturas e legislações para legitimação do Estado • Interesses particulares e coletivos • A lógica do trabalho escravo na lógica do capitalismo mercantil Contextualizando o cenário A independência do Brasil se constituiu em um cenário de transição do antigo sistema colonial para o capitalismo, durante o advento da modernidade no continente europeu, a partir do século XVI. Os elementos desse cenário se vinculavam à política econômica de diversos países da Europa, cuja base de sustentação se baseava nas práticas mercantilistas e, por conseguinte, na acumulação de capitais e de transferência de riquezas para a metrópole. Nesse contexto, o processo de colonização no Brasil, sob o aspecto econômico e político, foi marcado pelo desenvolvimento da agricultura e do crescimento demográfico. Quais foram os impactos positivos e negativos desse processo na sociedade brasileira a partir da perspectiva social e cultural? • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 33 2.1 A formação da população no Brasil para a construção da sua identidade A nação brasileira vem sendo constituída em torno de vários aspectos de ordem política, econômica e social. Historicamente, no período colonial, ocorreu a migração forçada dos africanos para o Brasil, por intermédio do tráfico humano, e o aculturamento e trabalho escravo desses povos e dos ameríndios. Aspectos que envolvem o processo de formação da população brasileira. 34 De maneira geral, a cultura, a língua, a religião, os costumes, os valores e a organização social desses povos reverberaram na formação da população brasileira, compondo a produção mesclada das novas identidades nacionais, culturais e políticas na sociedade do país. 2.1.1 Origens e diversidade da população africana No período histórico das Grandes Navegações e de expansão do comércio europeu, os portugueses, ao explorarem a costa africana, estabeleceram o processo de colonização. Nele, o comércio movido por vantagens lucrativas gerou a compra e venda de todo tipo de mercadoria, inclusive de seres humanos. Fonte: © Marzolino / / Shutterstock. Nesse tipo específico de comercialização de seres humanos, os africanos eram vistos como objetos de valor lucrativo pelos compradores e vendedores, isto é, a venda de escravos produzia ganhos significativos a esses comerciantes. Além de serem considerados objetos de pertencimento e de instrumento de trabalho a seus proprietários, os negros africanos eram classificados pelos mercadores como uma raça inferior e com efeito de domínio. Devido à expansão da agricultura canavieira, o tráfico de escravos africanos para o Brasil, autorizado pelo governo, desenvolveu-se a partir do século XVI e alcançou expressão no século XVIII, desencadeando uma imigração forçada aos africanos à América. Castro (2008) estima que mais de quatro milhões de africanos provenientes de vários reinos e monarquias tribais tenham sido trazidos para o Brasil no início desse período. PAUSA PARA REFLETIR Quais povos habitavam o território nacional no período da colonização Brasileira e quais eram suas condições de vida? 35 Os escravos africanos eram embarcados para o Brasil nos porões dos navios negreiros. As condições do transporte desses seres humanos eram desprezíveis, indignas e insalubres. Devido a essas circunstâncias, grande parte dos povos africanos embarcados morria no itinerário da viagem. Fonte: © Everett Historical / / Shutterstock. Ao chegarem ao Brasil, os africanos serviam com seu trabalho escravo nas plantações e engenhos. Além da exploração e da carga de trabalho excessiva, viviam em uma situação deplorável, com alimentação inadequada e insuficiente e castigos com instrumentos que marcavam e feriam o corpo. Diante dos maus tratos, os escravos ficavam improdutivos. Com uma expectativa de vida reduzida devido às condições de trabalho e aos castigos, havia um alto índice de morte dos jovens. Já os que resistiam fugiam, praticavam suicídio e até assassinavam seus senhores. Por outro lado, os africanos cativos, por meio de suas manifestações culturais, artísticas e musicais, contribuíram para o desenvolvimento das mais variadas formas de expressão musical e rítmica em todas as regiões geográficas brasileiras (FRAGOSO, 1995). 36 Fonte: © michael sheehan / / Shutterstock. O trabalho escravo dos africanos no Brasil no período colonial era um mecanismo de força de trabalho braçal de grande valor para os senhores de engenho na produção açucareira. 2.1.2 A população indígena e o processo de aculturamento No período da “descoberta” pelos portugueses no século XVI, o território brasileiro era habitado por povos ameríndios. De acordo com Fausto (2007, p. 38), “[...] os cálculos oscilam entre números tão variados como dois milhões para todo o território e cerca de cinco milhões só para a Amazônia Brasileira”. Organizados em tribos, esses povos viviam em aldeias distribuídas por praticamente todo o território que forma o Brasil contemporâneo e se dividiam em grupos linguísticos, entre eles: tupis-guaranis, jê, nuaruaque e caraíba. Clique nas abas a seguir para conhecê-los. • Tupis-guaranis Habitavam o litoral brasileiro, desde o Ceará até a Lagoa dos Patos, no atual Rio Grande do Sul. Seus povos mais conhecidos são os caetés, carijós, potiguares,tabajaras, tamoios, temiminós, tupinambás e tupiniquins. • Jês No interior do Brasil, viviam os povos jês, identificados como os apinajés, aimorés e xavantes. CONTEXTO A cultura dos povos da Região Banta predomina nos “[...] autos populares denominados de Congos e Congadas, com larga distribuição geográfica no país e nos quais possuem a memória do Manicongo, título que era atribuído aos Reis do Congo” (CASTRO, 2008, p. 35). • • 37 • Nuaruaques A ilha de Marajó e outros locais da Amazônia eram habitados pelos nuaruaques. • Caraíbas Moravam nas regiões próximas ao Rio Amazonas e América Central. Os povos ameríndios praticavam a agricultura de subsistência, a pesca e a caça, por meio de um domínio e respeito com a natureza. Com essa configuração do modo de viver dos ameríndios, típica e ligada à natureza, os europeus os percebiam como diferentes, exóticos e estranhos. Fonte: © Everett Historical / / Shutterstock. Desse modo, acreditavam que a cultura europeia era superior, pois se consideravam os povos brancos, civilizados, cristãos e normais, enquanto enxergavam os ameríndios como primitivos, inferiores, atrasados e a-históricos, isto é, o . Já os índios que não se enquadravam nessa classificação eram considerados aculturados. outro Nessa dinâmica, os povos ameríndios colonizados desempenhavam um papel secundário, subalterno, de escravos e considerados aculturados nas relações sociais e econômicas estabelecidas com os europeus. Além disso, eram percebidos ora como vítimas, ora como guerreiros ou bárbaros. Nesse contexto, os ameríndios eram invisibilizados enquanto sujeitos históricos, sociais e políticos pelos colonizadores europeus. Mesmo assim, é notória a importância da mão de obra de trabalho escravo dos ameríndios considerados aculturados na construção dos primeiros engenhos de açúcar no Brasil no século XVI, especificamente em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. 2.1.3 A instituição do catolicismo como religião oficial no Brasil A disseminação da cultura religiosa compõe o processo histórico da colonização no Brasil. Clique nas abas para conhecer mais sobre o catolicismo. Significados e valores religiosos O catolicismo imprimiu suas marcas repletas de significados e valores religiosos de profissão de fé cristã nos espaços públicos e no imaginário social: cidades com nomes de santos, igrejas localizadas nos centros das cidades, altares, imagens e homenagens aos santos, missas, batismos, procissões, sacramentos, eventos litúrgicos, entre outros elementos que constituem os dogmas cristãos. • • 38 Formação da mentalidade brasileira O catolicismo influenciou de forma significativa a constituição da formação da mentalidade brasileira acerca dos juízos de valores morais entre o sagrado e o profano, o céu e a terra, pecado, bondade, caridade, entre outros preceitos. Ainda, favoreceu a continuação de diversas tradições africanas e harmonização social, no entanto, essa defesa tinha como pano de fundo o interesse da manutenção do escravismo como prática natural e da superioridade da cultura europeia em detrimento da cultura e dos valores dos africanos e ameríndios. Tendo em vista esses aspectos que envolvem relações de poder e domínio, o catolicismo se tornou a religião oficial do Brasil. 2.1.4 Características da identidade nacional A advém de um processo específico histórico que envolve os elementos de ordem identidade nacional brasileira econômica, política, social e cultural, caracterizando os aspectos que envolvem as relações entre os grupos dominados e dominantes. A formação do Brasil colonial teve como base a tríade de sustentação econômica: trabalho escravo, latifúndio e monocultura (cana-de-açúcar, café, entre outros). Fonte: © Everett Historical / / Shutterstock. Esses aspectos envolvem a estrutura e a organização a partir da estratificação social na unificação do território nacional, marcada por desigualdades sociais e diversidade cultural. Dessa forma, a formação da identidade nacional é caracterizada pelos processos de dominação, impostos pelos europeus, a cultura dos negros e dos ameríndios. Esse processo de dominação é marcado pelas formas de violência simbólica e física, repressão e opressão contra as manifestações étnicas e de tradição desses povos. 39 Elementos que envolvem as relações entre os grupos dominados e dominantes na estrutura e organização social na formação do Brasil colonial. Sendo assim, o processo histórico de colonização do Brasil envolveu elementos homogeneizadores e legitimadores de uma ordem social vigente, que caracterizou a identidade nacional. Nessa estruturação, a língua portuguesa foi oficialmente nacionalizada. Além disso, houve a unificação dos costumes e valores da época, por meio do estabelecimento das relações sociais, culturais e econômicas, classificadas como únicas, verdadeiras e padronizadas. Prevaleciam, assim, as figuras sagradas e a autoridade real da cultura portuguesa em detrimento da diversidade cultural existente. 2.2 Componentes fundantes do Estado brasileiro A formação do Estado moderno, alcançada nos séculos XV e XVI, articula-se diretamente ao processo de colonização do Brasil. Nesse contexto, o Estado, a sociedade civil e os mecanismos de poder se configuravam por meio de um conjunto integrado e indissociável, que penetrava em toda a organização social: comunidades, famílias, entre outros grupos, passando por cidades, corporações e senhorios, de forma representativa, por meio do poder político de afirmação da figura do Estado. A articulação desse grupo visava à manutenção da ordem social por meio de um movimento equilibrado baseado na autonomia limitada nesses diferentes espaços sociais. PAUSA PARA REFLETIR Em relação aos mecanismos de poder, quais foram os elementos constituintes do processo de formação do Estado moderno? 40 Os aspectos que envolviam as relações entre os grupos dominados e dominantes do Brasil colonial estavam imbricados nos componentes fundantes do Estado. 2.2.1 Aspectos históricos da independência do Brasil: constituição e organização do Estado brasileiro Os aspectos históricos que envolvem a se vinculam ao conjunto de transformaçõesindependência do Brasil ocorridas no continente europeu a partir da consolidação do capitalismo. Essas mudanças, operadas na dinâmica social e econômica, impactaram a estrutura política do regime colonial e do trabalho escravo no Brasil. Esse processo de constituição e organização do Estado brasileiro se vincula a um conjunto de ações administrativas. Elementos do processo de organização do Estado brasileiro. ASSISTA O filme Carlota Joaquina: princesa do Brasil (CAMURATI, 1995) apresenta elementos abordados do processo de colonização no Brasil, evidenciado a partir da transferência da Corte portuguesa para o Brasil. 41 Elementos do processo de organização do Estado brasileiro. Além disso, o Brasil foi passado para a categoria de reino, isto é, a nação deixou de ser colônia de Portugal, o que fortaleceu o estabelecimento do governo próprio brasileiro, por meio da estruturação institucional e política. Assim, a institucionalização e a criação de dispositivos legais estabeleceram os caminhos para a construção e operacionalização de um Estado soberano como unidade político-administrativa (GOUVÊA, 2008, p. 15), marcando o início da história do constitucionalismo brasileiro. 2.2.2 Diferenças entre Estado e nação O processo de construção da nação brasileira se relaciona processo de desmembramento da condição de colônia de Portugal. Nesse contexto político imperial, a formação da nação brasileira é marcada por guerras de opiniões e de doutrinas entre os grupos dominantes e rivais que aspiravam construir a pátria. Sendo assim, o período de estruturação da nação brasileira pós-descolonização, caracteriza-se como “[...] anômico e anômalo, figurado de ameaça e empecilho à integridade nacional e de exercício informal da cidadania” (BASILE, 2004, p. 98). A seguir, clique e conheça as diferenças entre Estado e nação. Nação É possível compreender anação a partir de comunidade humana, ligada a uma “[...] unidade étnica, histórica, linguística, religiosa e econômica, delimitada por espaço territorial” (SILVA, 2009, p. 308). Estado A instituição do Estado soberano brasileiro, por meio da promulgação da Constituição de 1824, instaurou uma ordem social política sobre a sociedade, fundamentada nos princípios contidos nesse dispositivo legítimo. Dessa maneira, a legitimação do Estado engendra a instituição política administrativa, revestida de poder e representativa de toda a sociedade. Sendo assim, o Estado é uma “[...] entidade abstrata que comanda e organiza a vida em sociedade [...], composta por diversas instituições, de caráter político, que comanda um tipo complexo de organização social.” 42 Elementos que diferenciam os Conceitos de Estado e nação. As diferenças entre Estado e nação giram em torno de aspectos políticos, econômicos e geográficos. A nação corresponde à existência de um território nacional com fronteiras geográficas marcadas, definida por fatores estruturantes que legitimam a soberania da construção da nação. Já o Estado é caracterizado pela atuação política, cujas atribuições são de funções de natureza administrativa e jurídica. 2.2.3 A incorporação de símbolos nacionais a partir do modelo europeu A configuração política instável no contexto do Brasil pós-independente, com a intensificação dos movimentos separatistas, trazia riscos de fragmentação do território nacional. Diante dessa situação, foi lançado o projeto que visava à construção de uma identidade nacional para o Brasil, com a justificativa de minimizar o efeito dessa crise política. A idealização e estruturação desse projeto partiu do Governo Imperial de forma articulada com o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Os elementos de base de construção do projeto foram estabelecidos a partir de dispositivos de reconhecimento próprios de nacionalidade, isto é, símbolos que focavam a grandeza, a confiança e orgulho nacional aos seus habitantes. Nesse contexto histórico, a Europa era o modelo de referência de civilização avançada. Dessa forma, o projeto de construção da identidade brasileira teve como inspiração o modelo europeu, mediante a incorporação do símbolo gótico ligado à ideia do romantismo medieval europeu. 43 Fonte: © Uwe Aranas / / Shutterstock. Para atingir esse objetivo, o desenvolvimento do projeto de construção da identidade nacional contou com a produção de uma historiografia tropical com o apoio da literatura na composição de um cenário medieval imaginário brasileiro, por meio de narrativas mitológicas, configuradas pelos elementos tropicais da natureza exuberante e original brasileira: [...] acreditava-se na época que o Brasil ainda era uma nação jovem, que ainda não alcançara a maturidade dos países do norte. Pensavam os intelectuais brasileiros que essa situação se corrigiria com o tempo, era apenas algo transitório, já que o país passava por um processo de avanço intelectual no período, principalmente pelo advento dos museus, universidades, hortos, e demais institutos ligados à ciência. (PAZ, 1996, p. 236-248). Nesse sentido, os símbolos nacionais foram incorporados por meio da caracterização da nação ideal e de progresso com o entendimento das belezas naturais singulares brasileiras. CURIOSIDADE A obra de José de Alencar, apesar de, à primeira vista, conduzir os leitores por cenários brasileiros que mais parecem a Europa Medieval do que o Brasil tropical, carrega inúmeros elementos fundadores da identidade nacional nas medidas europeias (DECCA, 2002. p. 96). 44 Fonte: © Gustavo Frazao / / Shutterstock. De acordo com esse ponto de vista, o território brasileiro era marcado por suas paisagens tropicais, exuberantes, abundantes, repletas de florestas e terras férteis com fartura de caça e pesca, como elementos produtores de sentido de pertencimento e orgulho, a partir do modelo europeu (PAZ, 1996), que precisavam ser evidenciados como imagens positivas. 2.2.4 Os símbolos da identidade nacional X negação da cultura dos negros O arranjo dos símbolos da identidade nacional tinha como pano de fundo as belezas e o clima tropical brasileiro. No entanto, esses elementos, por si só, não eram capazes de incluir o Brasil na rota do mundo civilizado, pelo contrário: a nação brasileira era apartada da civilização justamente pela composição da natureza e dos povos. Fonte: © Everett Historical / / Shutterstock. 45 A lógica constituída da civilização considerada como avançada seguia a negação do mundo natural, a partir da mensuração, coisificação, quantificação e homogeneização. Além do mais, o progresso europeu se justificava pelos fatores de caracterização do homem branco e racional e dos aspectos do clima temperado, constituindo a identidade dessa civilização. Nesse tocante, o desenvolvimento do projeto de construção da identidade por meio dos símbolos nacionais, fundamentalmente, necessitava desse modelo europeu. Contudo, com o surgimento das teorias sociais positivistas de cunho racial, no século XIX, os negros e os indígenas eram classificados e categorizados como seres deficientes e de cultura inferior. Dessa forma, o projeto de civilização invisibilizou esses povos a partir da negação de sua identidade e de sua cultura como símbolos nacionais. 2.3 As interpretações do cidadão brasileiro O conceito de cidadão brasileiro envolve análises complexas por abarcar elementos de invisibilidade, exclusão e negação de direitos dos indivíduos integrantes dos povos subalternos e dominados. Diante desse cenário, o exercício político, fator que caracteriza o estabelecimento da cidadania, concentrava-se nas mãos de certa elite, detentora do poder econômico e político corporativo. 2.3.1 Cidadão brasileiro segundo Gilberto Freyre Gilberto Freyre (2004), ao retratar o Brasil colonial, apresenta os elementos que integram os aspectos da organização econômica, social, política e cultura que envolve o processo de constituição colonizadora. O autor considera a caracterização da família patriarcal como um componente essencial de manutenção da organização da comunidade social desse período. Além disso, aponta o catolicismo português, por meio dos rituais litúrgicos, a ancoragem que consolida as bases da política e econômica do colonialismo. Diante desses aspectos, no conjunto dos indivíduos da organização social no Brasil colonial, o homem branco português (europeu), por excelência, figura material e simbólica central, autoridade absoluta e militar, patriarca da família nuclear, proprietário de terras e de escravos e branco, ocupava um lugar de destaque nas relações sociais, constituindo-se um cidadão com função específica, de direitos e de domínio no processo produtivo. Dessa forma, a função desse cidadão, considerado senhor absoluto, era exercer o poder sobre os indivíduos agregados de classe distinta e subalterna de seu domínio, isto é, os escravos, as mulheres e as crianças ao exercício de seu mando. PAUSA PARA REFLETIR Com base na concepção de cidadão brasileiro apontada por Gilberto Freyre, qual o elemento essencial de organização e consolidação das bases políticas e econômicas no Brasil colonial proposto pelo autor? 46 2.3.2 Cidadão brasileiro segundo Darcy Ribeiro Os estudos desenvolvidos por Darcy Ribeiro (1986) focam questões relacionadas aos índios brasileiros, mais especificamente, aos grupos das tribos que se localizavam no nordeste. A partir da análise de vida desses povos, o autor propõe uma abordagem cultural, mesclada por raça e cores, que explica a formação multiétnica dos povos americanos, propondo uma concepção de identidade nacional. Ao sistematizar a concepção de integração sobre a condição de sobrevivência das populações indígenas, o autor identifica que “[...] as microetnias se integravam enquanto contingentes residuais após o decréscimo populacional, a exemplo dos casos de grupos com séculos de contato, vivendo em condições sociais precárias” (RIBEIRO, 1982, p. 248). Dessa forma, o autor consideraesse elemento como um mecanismo de coesão das populações indígenas, permitindo a sobrevivência dessas microetnias. Ribeiro (1986) destaca vários elementos que concernem às condições desfavoráveis desses povos, por meio dos aspectos ligados ao decréscimo populacional indígena, as condições sociais precárias e o extermínio genocida que incide no desaparecimento de diversas etnias. 2.3.3 Cidadão brasileiro segundo Sérgio Buarque de Holanda Em suas obras, Sérgio Buarque de Holanda (1995) destaca a colonização portuguesa como um elemento desencadeador dos problemas políticos e sociais nacionais, legitimados pelos processos de aculturamento, incapacidade e aniquilamento da civilização brasileira: [...] somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem. (HOLANDA, 1995, p. 31). Sendo assim, o autor minimiza a figura do colonizador como o “senhor das boas causas” nas relações estabelecidas com os colonizados (escravos). Nessa constituição, enfatiza as disparidades sociais existentes no Brasil, além do mais, nega a mestiçagem como um meio de fortalecer a democracia. Desse modo, Holanda (1995) defende que os interesses sociais, culturais e econômicos da maioria da população dominada devem ser mobilizados a partir da representação dos sujeitos políticos e ativos. 2.4 Pressupostos e aspectos estruturais e organizacionais para a sociedade brasileira O sustentáculo da sociedade brasileira, em sua conjuntura política e econômica, baseava-se na manutenção organizacional das estruturas escravocrata, patronal e clientelista. Além dessas estruturas, soma-se a emancipação política sem a mobilização popular e a resistência à abolição da escravidão e ao desenvolvimento industrial. Diante desses pressupostos, os diferentes aspectos que envolvem essa conjuntura se referem, por um lado, aos movimentos ligados aos interesses e influências políticas dos grupos dominantes, vinculados ao imperador, com o propósito de obter privilégios. Por outro lado, a legitimação ajustada a ordem política, econômica e social da sociedade brasileira. 47 2.4.1 A primeira Constituição Brasileira (1824) A instalação da primeira Assembleia Constituinte do Brasil, com o propósito de elaborar a Constituição do Brasil, ocorreu em 1823. Composta pelos setores da camada dominante do Brasil (proprietários de terras e escravos, advogados, militares, funcionários públicos e alto clero), tinha como objetivo consolidar o poder por meio do Estado a fim de instituir o governo e obter o reconhecimento internacional de nação soberana. Nessa composição, havia grupos políticos com propósitos divergentes. Clique a seguir para conhecer esses grupos. Absolutistas O grupo defendia a soberania absoluta do imperador e era contrário à emancipação política do Brasil. Conservadores Defendia um regime monárquico centralizador, sem a participação da sociedade. Liberais Defendiam a autonomia da província e almejavam reformas políticas estruturais. Fonte: © BillionPhotos / / Shutterstock. PAUSA PARA REFLETIR Quais eram os aspectos predominantes da organização social brasileira desse período? 48 As divergências e descontentamentos emergiram entre os constituintes diante da proposição do projeto constitucional. Essa situação levou a uma crise entre os grupos políticos, provocando a dissolução da Assembleia Constituinte, decretado por D. Pedro I. Após esse ato, o imperador constituiu um conselho de Estado para a elaboração da Constituição Brasileira. Dessa forma, a primeira Constituição Política do Império do Brasil, outorgada no dia 25 de março de 1824, foi estabelecida pelo imperador Dom Pedro I. 2.4.2 O conjunto das estruturas e legislações para legitimação do Estado A primeira Constituição Política do Império do Brasil teve como inspiração as experiências da França, Espanha, Portugal e do Reino Unido no que diz respeito aos tipos de poderes (Moderador, Executivo, Legislativo e Judiciário). A Constituição era composta de 179 artigos. Seus principais princípios estão listados a seguir (BRASIL, 1824). Clique nas abas abaixo e confira. Monarquia Constitucional hereditária como regime político. Liberdade econômica e de iniciativa. Oficialização da religião católica. Direito de propriedade aos aristocratas rurais. Voto censitário e indireto e comprovação de renda econômica. Pré-requisitos à eleição de deputados e senadores: comprovação de renda superior e religião católica O Brasil seria governado por quatro tipos de poderes: Moderador, Executivo, Legislativo e Judiciário. Exercitado pelo imperador, o poder Moderador garantia amplos direitos ao monarca de intervenção nos demais poderes, bem como o poder de nomeação de ministros, juízes e presidentes das províncias. O Executivo era operado pelo imperador e seus ministros, o Legislativo, pela Câmara do Senado e dos Deputados, e o Judiciário, por juízes e tribunais. Em suma, os elementos que circunscrevem a Constituição de 1824, têm o traço intensificador das desigualdades entre a população brasileira nesse período histórico. Dessa forma, esse dispositivo legitimou a centralização do 49 poder nas mãos do imperador, constituída por meio de uma estrutura com amplos poderes políticos, reverberando em revoltas e resistências a essa configuração governamental conservadora. 2.4.3 Interesses particulares e coletivos Diante das disputas de poder e jogos de interesses entre as elites na conjuntura política e econômica no período monárquico, as relações internas e externas estabelecidas pelo imperador almejavam unificar o país, a partir de uma lógica de recusa da participação popular. Nessa conjuntura, a cidade do Rio de Janeiro se estabeleceu como um contexto estratégico e funcional de ligação dos arranjos políticos. Frente à política instituída, os mecanismos e estratégias favoreciam os interesses particulares dos donos do poder, em detrimento ao conjunto da coletividade na sociedade escravocrata. 2.4.4 A lógica do trabalho escravo na lógica do capitalismo mercantil As transformações sociais e econômicas do período colonial se caracterizam como um processo de transição entre os modos de vida rural/colonial e escravista na metrópole para a vida urbana mercantil, alterando as relações de produção e de trabalho dos escravos, cuja função consistia em servir a população da metrópole. ASSISTA O filme O Cortiço (Ramalho Júnior, 1978) contextualiza os jogos de interesses sem a participação popular. 50 Características das transformações sociais e econômicas que incidiram na lógica do trabalho escravo. Essa transformação aconteceu devido à expansão e materialização do capitalismo. Nesse contexto, iniciou-se o desenvolvimento e a expansão da indústria e do transporte dos gêneros de consumo. A urbanização passou a ser um de controle de logísticas de circulação de mercadorias de compras e vendas no mercado interno elócus externo. Logo, o novo modo de produção e das práticas de dominação, bem como da dinâmica econômica, incidiu em alterações na lógica do trabalho escravo. Dessa forma, houve a necessidade de estruturar as formas de organização das propriedades, da força de trabalho, da legislação, saúde, entre outros elementos condizentes com a configuração social. Frente ao exposto, o trabalho escravo foi intermediado ao trabalho assalariado, no qual a mão-de-obra foi operacionalizada pela geração de custos aos proprietários das fazendas. Essa nova relação de trabalho impactou tanto no declínio da produção cafeeira quanto na inviabilidade do pagamento da mão de obra, considerada de alto valor pelos fazendeiros. Proposta de atividade Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um mapa conceitual, com entre 15 e 20 conceitos, mostrando as principais características
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