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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 1 Sistema imune infantil SP 1.4: VACINAÇÃO OU IMUNIZAÇÃO? 1) ESTUDAR CALENDÁRIO VACINAL INFANTIL DO SUS E PRIVADO. VACINAS RECOMENDADAS PARA CRIANÇAS Vacina BCG A vacina BCG é preparada com bacilos vivos de Calmette- Guérin, a partir de cepas atenuadas por sucessivas passagens em meios de cultura do Mycobacterium bovis. A vacina apresenta, no primeiro ano de vida, eficácia de 84,5 a 99,5% para a proteção das formas de tuberculose que dependem da disseminação hematogênica e suas manifestações mais graves, como a meningoencefalite e a tuberculose miliar. Diversos estudos realizados para avaliar a proteção da vacina BCG contra a tuberculose pulmonar têm demonstrado resultados que variam de 0-80%. É aplicada em dose única por via intradérmica na inserção do músculo deltoide do braço direito, preferencialmente ainda na maternidade, logo ao nascer, desde que o recém- nascido tenha pelo menos 2.000 gramas. Vacina Hepatite B A hepatite B é uma doença cujo único reservatório do vírus é o ser humano e, portanto, com potencial de erradicação. A aquisição do vírus no período neonatal eleva consideravelmente o risco de cronificação. A vacinação do neonato tem como principal objetivo impedir a transmissão materno-fetal do vírus e deve ser realizada logo ao nascer, ainda na maternidade, nas primeiras 24 horas de vida. O esquema é de três doses aos 0, 2 e 6 meses. Quando utilizada a vacina pentavalente na rede pública (que contém o componente hepatite B na vacina), o esquema de quatro doses é administrado sem prejuízos (0, 2, 4 e 6 meses). A terceira dose deve ser aplicada após os 6 meses de idade. Vacina Rotavirus São vacinas de uso oral, compostas por vírus vivos atenuados. Duas vacinas estão licenciadas no Brasil: vacina monovalente VR1 (G1P[8]), utilizada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), e a vacina pentavalente VR5 (G1, G2, G3, G4 e P1A[8]), utilizada na rede privada. Protegem contra diarreia causada pelo rotavírus, principalmente suas formas graves. Eficácia para gastroenterite grave, de 68,5 a 90% com a VR1 e 74 a 98% com a VR5. A vacina monovalente é administrada em duas doses, aos 2 e 4 meses de idade. O limite de idade para administrar a primeira dose é 3 meses e 15 dias, e para a segunda, de 7 meses e 29 dias. A vacina rotavírus pentavalente é administrada em três doses aos 2, 4 e 6 meses de idade. A idade máxima para iniciar a vacinação é de 3 meses e 15 dias, e a terceira dose deve ser aplicada no máximo até 8 meses e 0 dia de vida. O intervalo mínimo entre doses de ambas as vacinas é de 4 semanas Vacinas Pneumocócicas Existem três vacinas licenciadas no Brasil para a prevenção das infecções pneumocócicas: Conjugada 10 valente (VPC10); Conjugada 13 valente (VPC13); Polissacarídica 23 valente (VPP23). As vacinas são indicadas para a prevenção das infecções pneumocócicas causadas pelos sorotipos incluídos nas vacinas em lactentes, crianças e adolescentes. Elas têm potencial de prevenir doenças invasivas (DPI) como: meningite, bacteriemia e outras, além de doenças pneumocócicas não invasivas como pneumonias não bacteriêmicas e otite média (OM) causadas pelo Streptococcus pneumoniae. Crianças saudáveis devem receber vacinas conjugadas no primeiro ano de vida, a partir de 2 meses de idade. O PNI utiliza a VPC10 no esquema de duas doses, administradas aos 2 e 4 meses, seguidas de um reforço aos 12 meses, podendo ser aplicada até os 4 anos e 11 meses de idade. A SBP recomenda, sempre que possível, o uso da VPC13, pelo seu maior espectro de proteção, no esquema de três doses no primeiro ano de vida (2, 4, e 6 meses) e uma dose de reforço entre 12 e 15 meses. Crianças com esquema completo com a VPC10 podem receber dose(s) adicional(is) da VPC13, até os 5 anos de idade, com o intuito de ampliar a proteção para os sorotipos adicionais. As vacinas pneumocócicas são prioritárias até 5anos de idade, especialmente nos lactentes até 24 meses de idade, considerado um dos períodos de maior vulnerabilidade para a infecção e desenvolvimento de suas manifestações clínicas. As crianças apresentam altas taxas de portador de pneumococo na comunidade; em geral estima-se uma taxa de 40-60% com pico aos 2 anos e declínio com o aumento da idade. Dessa maneira, o uso de vacinas conjugadas na infância reduz as taxas de colonização e promove efeito indireto em outras faixas etárias não vacinadas. Vacinas meningocócicas Existem distintas vacinas para a prevenção da doença meningocócica, todas são inativadas e administradas por via intramuscular: MenC-CRM; MenACWY-TT; MenACWY-CRM; MenACWY-D; MenB. A SBP recomenda o uso rotineiro das vacinas meningocócicas conjugadas para lactentes maiores de 2 meses de idade, crianças e adolescentes. Sempre que possível, utilizar preferencialmente a vacina MenACWY pelo maior espectro de proteção, inclusive para os reforços de crianças previamente vacinadas com MenC. O PNI fornece a vacina MenC aos 3 e 5 meses com um reforço aos 12 meses, portanto, crianças com esquema Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 2 vacinal completo do serviço público podem se beneficiar com dose(s) adicional(is) da vacina MenACWY do serviço privado, a qualquer momento, respeitando-se um intervalo mínimo de 1 mês entre as doses. Para adolescentes entre 11 e 12 anos, o PNI disponibiliza a vacina MenACWY. A SBP recomenda vacinas MenACWY aos 3 meses, 5 meses como esquema primário com primeiro reforço aos 12 meses e segundo reforço entre 4 e 6 anos. Para adolescentes recomenda realizar a vacinação entre 10 e 15 anos e reforço após 5 anos. Entre 16 e 18 anos administrar somente uma dose da vacina. Existem diferenças de posologias das vacinas quadrivalentes ACWY a depender do laboratório produtor. Já a vacina MenB não está disponível no PNI e é recomendada pela SBP no esquema de duas doses aos 3 e 5 meses com reforço aos 12 meses. Crianças de 12 a 23 meses devem receber duas doses com intervalo de dois meses entre elas com uma dose de reforço entre 12 e 23 meses após esquema primário. Crianças a partir de 24 meses e adolescentes não vacinados devem receber duas doses com intervalo entre 1 e 2 meses. Não se conhece, até o momento, a duração da proteção conferida pela vacina e a eventual necessidade de doses adicionais de reforço. Vacinas combinadas com o componente coqueluche As vacinas combinadas difteria, tétano e coqueluche (tríplice bacteriana) devem ser administradas no calendário da criança no esquema de cinco doses, aos 2, 4 e 6 meses com reforços aos 15 meses e 4 anos de idade. Crianças com 7 anos ou mais, nunca imunizadas, ou com histórico vacinal desconhecido, devem receber três doses da vacina contendo o componente tetânico, sendo uma delas preferencialmente com a vacina tríplice acelular com intervalo de 2 meses entre elas (0, 2 e 4 meses – intervalo mínimo de 4 semanas). Vacina Haemophilus influenza tipo b (Hib) O Hib era o principal agente etiológico das meningites bacterianas na era pré-vacinal. Após a introdução da vacinação no calendário infantil, hoje são raros os casos de doença invasiva por este agente. A vacina conjugada foi capaz de prevenir a doença entre os vacinados e, ao eliminar o estado de portador assintomático da bactéria em nasofaringe, foi capaz de reduzir a circulação do agente na comunidade em países que implantaram programas com altas coberturas vacinais. A vacina Hib, em geral, é combinada à vacina tríplice bacteriana na formulação penta ou hexavalente. Extremamente segura, é administrada no esquema de três doses aos 2, 4 e 6 meses. a SBP recomenda uma dose de reforço aos 15 meses de vida, especialmente se, no esquema primário, forem utilizadas em combinação com vacinas tríplices bacterianas acelulares. Vacina PoliomieliteExistem duas diferentes vacinas contra a poliomielite licenciadas no Brasil. Vacina de vírus vivo, oral (VOP), bivalente, contendo os poliovírus tipo 1 e 3 e a vacina inativada, injetável (VIP), trivalente, contendo os tipos 1, 2 e 3. O esquema vacinal no Brasil é de cinco doses, administradas 2, 4 e 6 meses (esquema primário), com reforços aos 15 meses e aos 4 anos de idade. As três primeiras doses, aos 2, 4 e 6 meses, devem ser feitas obrigatoriamente com a VIP. Pelo potencial de reversão da virulência da vacina oral atenuada, causando surtos de pólio derivado da vacina, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda aos países que substituam, na medida do possível, a VOP pela VIP. Portanto, a recomendação para as doses de reforço é que sejam feitas preferencialmente também com a vacina inativada VIP. Nesta fase de transição da vacina pólio oral atenuada (VOP) para a vacina pólio inativada (VIP) é aceitável o esquema atual recomendado pelo PNI que oferece três doses iniciais de VIP (2, 4 e 6 meses de idade) seguidas de duas doses de VOP (15 meses e 4 anos de idade). Desde 2016, a vacina VOP é bivalente, contendo os tipos 1 e 3 do poliovírus, podendo ser utilizada nas doses de reforço ou nas campanhas nacionais de vacinação. Vacina Influenza São vacinas subunitárias, compostas por fragmentos de vírus inativados. Como os subtipos virais circulantes mudam, a vacina é atualizada a cada ano conforme orientação da OMS. No Brasil, dispomos de vacinas trivalentes, com um subtipo A/H1N1, um A/H3N2 e um B (linhagem Yamagata ou Victoria) e vacinas tetravalentes, que contemplam, além desses três subtipos, uma segunda linhagem B, ampliando a possibilidade de proteção. Em menores de 9 anos de idade, no primeiro ano de vacinação, devem ser administradas duas doses com 30 dias de intervalo. Nos anos posteriores, dose única anual, aplicada por via intramuscular. A vacina trivalente é a utilizada pelo PNI e disponibilizada nos postos de saúde durante a campanha anual da gripe para crianças entre 6 meses e 6 anos incompletos, gestantes, puérperas, pessoas com comorbidades, profissionais da saúde, indígenas, professores, pessoas privadas de liberdade ou que trabalhem nessas instituições, pessoas que trabalham nas forças de segurança e salvamento e pessoas com 60 anos ou mais. A SBP e a SBIm recomendam o uso da vacina de forma universal, a partir dos 6 meses de idade, sempre que possível com a formulação quadrivalente. Vacina Tríplice Viral Vacina combinada tríplice (sarampo, rubéola e caxumba) ou tetra viral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela). Composta por vírus vivos atenuados. Deve ser aplicada por via subcutânea. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 3 Protege contra o sarampo, a rubéola e a caxumba. Em relação ao sarampo e à rubéola, com as duas doses recomendadas e aplicadas após 1ano de idade, a eficácia chega a 99%. Em situações de surtos de sarampo, uma dose adicional da vacina pode ser aplicada a partir dos 6 meses de idade, quando a eficácia é diminuída por interferência de anticorpos maternos, sendo chamada de dose “zero”. Para caxumba, a eficácia é de aproximadamente 86% com as duas doses. Na apresentação tetra viral, protege também contra a varicela. O PNI recomenda a vacinação de rotina na infância com duas doses, sendo a primeira aos 12 meses com a tríplice viral e a segunda aos 15 meses de idade com a tetra viral. Para crianças, adolescentes e adultos até 29 anos, suscetíveis, são recomendadas duas doses da vacina tríplice viral, com intervalo mínimo de 30 dias entre elas; dos 30 aos 59 anos em dose única. Pessoas com mais de 60 anos não necessitam ser vacinadas pois são consideradas imunes pela alta possibilidade de ter tido a doença no passado. Profissionais da saúde devem receber duas doses, independentemente da idade. A SBP e SBIm recomendam a vacina tetra viral (ou separadamente tríplice viral e varicela) em duas doses aos 12 e 15 meses de idade. A tríplice viral (SCR) é recomendada para todo adolescente não anteriormente vacinado (2 doses) ou que recebeu apenas a primeira dose (completar com 1 dose). Vacina Varicela No Brasil, a vacina está disponível no PNI em duas doses: aos 15 meses na formulação tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela) e aos 4 anos de idade, na apresentação monovalente. A eficácia global da vacina é de aproximadamente 70% contra a infecção e de mais de 95% contra as formas graves da doença. A SBP recomenda que a segunda dose seja aplicada ainda no segundo ano de vida, com intervalo mínimo de 3 meses após a primeira dose, idealmente aos 12 e 15 meses de vida, prevenindo assim falhas primárias. A vacina varicela é recomendada para todo adolescente sem histórico da doença, não anteriormente vacinado (2 doses) ou que recebeu apenas a primeira dose (completar com 1 dose). Vacina Hepatite A As diferentes vacinas licenciadas no país são inativadas, de vírus inteiros purificados. O esquema vacinal é de duas doses, a partir de 1 ano de vida, com intervalo de 6 meses entre elas. Pode ser aplicada simultaneamente com qualquer outra vacina do calendário infantil. Extremamente segura, deve ser administrada por via intramuscular, sendo raros os eventos adversos. Em função de sua alta imunogenicidade após a primeira dose, o PNI oferece a vacina, até o momento, em dose única, aos 12 meses de idade. As vacinas hepatite A (VHA) e hepatite B (VHB) são recomendadas para todo adolescente não anteriormente vacinado ou com vacinação incompleta. Considera-se em dia com essas vacinas aqueles que receberam três doses da VHB e duas doses da VHA. Vacina Febre Amarela A vacina Febre Amarela é composta de vírus vivos atenuados, cultivados em embrião de galinha. Deve ser aplicada por via subcutânea e está indicada para a prevenção da febre amarela, doença causada por um arbovírus da família Flaviviridae, do gênero Flavivírus. No Brasil, são indicadas duas doses da vacina para crianças menores de 5 anos de idade, aos 9 meses e 4 anos. Acima de 5 anos o esquema preconizado é de dose única no PNI.9 Entretanto, a aplicação de uma segunda dose para crianças e adolescentes que iniciaram o esquema acima desta idade é desejável, com o intuito de prevenir eventuais falhas vacinais. Vacina HPV Em 2014, o PNI introduziu a vacina quadrivalente para meninas de 9 a 14 anos no esquema de duas doses, com intervalo de seis meses entre elas. Em 2017, o programa passou a contemplar também os meninos de 11 a 14 anos, igualmente no esquema de duas doses. Para alguns grupos especiais, incluindo transplantados de medula óssea ou órgão sólidos, pacientes oncológicos e pacientes vivendo com HIV/Aids, a vacina está disponível para ambos os sexos, na idade de 9 a 26 anos, no esquema de três doses (0, 2 e 6 meses). A SBP recomenda também a vacinação de meninas e mulheres de 9 a 45 anos de idade e meninos e jovens de 9 a 26 anos, o mais precocemente possível. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 4 2) IDENTIFICAR OS TIPOS DE IMUNIZAÇÃO DISPONÍVEIS E COMO OCORRE A RESPOSTA DO ORGANISMO. Os seres humanos estão constantemente expostos a agentes infecciosos, como parasitas, bactérias, vírus e fungos. Então, para se defender desses agentes, o sistema imune atua de duas maneiras: 1) Ele reage rapidamente (de minutos a horas) aos agentes infecciosos, como, por exemplo, a fagocitose e outros mecanismos que já estão presentes no organismo antes da infecção. Essa é a resposta natural, inata ou inespecífica. 2) Ele desenvolve mais lentamente (ao longo de dias ou semanas) uma resposta imune específica, como, por exemplo, a produção de anticorpos específicos para o sarampo. Essa é a resposta adquirida, adaptativa ou específica. Quando os mecanismos da resposta inespecífica não são suficientespara deter a infecção, a resposta específica será desencadeada. Inicialmente, haverá um período indutivo, fase que corresponde à procura do linfócito específico. Durante o período indutivo, não haverá a produção de anticorpos específicos. Após o reconhecimento do linfócito B específico, inicia-se a produção de anticorpos. A primeira classe de imunoglobulina a ser produzida é a IgM e, posteriormente, a IgG (resposta primária). A IgG ficará presente, na maioria das vezes, para o resto da vida. As imunoglobulinas específicas contra esse antígeno serão produzidas todas as vezes em que o organismo entrar em contato com esse agente etiológico (resposta secundária). Tal resposta é mais rápida, uma vez que não há período indutivo, pois na resposta primária ocorreu a estimulação dos linfócitos T de memória. Algumas vacinas necessitam da aplicação de mais de uma dose, para uma adequada proteção. É importante respeitar o intervalo mínimo entre as doses, pois isso corresponde ao período da queda de anticorpos produzidos pela dose anterior. As doses administradas no período inferior ao intervalo mínimo deverão ser repetidas, com exceção da vacina rotavírus humano. Nas situações em que o antígeno não estimula as células de memória (antígeno T-independente), a persistência dos anticorpos poderá ser limitada. A vacina polissacarídica meningocócica A e C não estimula as células de memória. Por isso, a duração da resposta imunológica é limitada a apenas 3 a 5 anos. É importante que o antígeno vacinal seja aplicado o mais precocemente possível, antes que a pessoa entre em contato com o agente infeccioso. A vacina aplicada irá estimular a produção de anticorpos específicos e a produção de células de memória (resposta primária). Tais células permitirão a rápida produção de anticorpos específicos no momento da exposição ao agente causador da doença (resposta secundária). Assim, na reexposição, a resposta será mais rápida e mais potente, prevenindo a doença. A resposta imune que se deseja por intermédio da vacinação é semelhante à resposta que ocorre quando há o contato com micro-organismo selvagem. A imunidade específica pode ser adquirida de modo ativo ou passivo. Imunidade ativa A proteção adquirida de modo ativo é aquela obtida pela estimulação da resposta imunológica com a produção de anticorpos específicos. A infecção natural (com ou sem sintomas) confere imunidade ativa, natural e é duradoura, pois há estimulação das células de memória. Após uma infecção por sarampo, rubéola ou varicela, por exemplo, o indivíduo ficará protegido, não havendo mais o risco de adquirir a mesma doença novamente. A imunidade ativa, adquirida de modo artificial, é obtida pela administração de vacinas, que estimulam a resposta imunológica, para que esta produza anticorpos específicos. Imunidade passiva A imunidade adquirida passivamente é imediata, mas transitória. É conferida a um indivíduo mediante a: • passagem de anticorpos maternos por via transplacentária, por intermédio da amamentação pelo colostro e pelo leite materno (Rico em Imunoglobulinas, especialmente IgA) (imunidade passiva natural); • administração parenteral de soro heterólogo/homólogo ou de imunoglobulina de origem humana (imunidade passiva artificial) ou de anticorpos monoclonais. Exemplo: soro antitetânico, antidiftérico, antibotrópico e as imunoglobulinas específicas contra a varicela, hepatite B e tétano, palivizumabe. Neste tipo de imunidade, administram-se anticorpos prontos, que conferem a imunidade imediata. Não há o reconhecimento do antígeno e, portanto, não ocorre a ativação de célula de memória. Algumas semanas depois, o nível de anticorpos começa a diminuir, o que dá a esse tipo de imunidade um caráter temporário. Utiliza-se a imunidade passiva quando há necessidade de uma resposta imediata e não se pode aguardar o tempo para a produção de anticorpos em quantidade adequada. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 5 3) ABORDAR O MECANISMO DE IMUNIZAÇÃO TRANSPLACENTÁRIA E INTRAUTERINA. Anticorpos Maternos e Proteínas O embrião/feto produz somente pequenas quantidades de anticorpos devido ao seu sistema imunológico imaturo. Alguma imunidade passiva é conferida ao feto pela transferência placentária de anticorpos maternos. As IgG gamaglobulinas são prontamente transportadas para o feto por transcitose. Anticorpos maternos conferem imunidade fetal a algumas doenças tais como difteria, varíola e sarampo; contudo, nenhuma imunidade é adquirida para coqueluche (tosse convulsiva) ou varicela (catapora). Uma proteína materna, a transferrina, atravessa a membrana placentária e carreia ferro para o embrião/feto. A superfície placentária contém receptores especiais para essa proteína. (Embriologia Clínica Moore) Imunidade transplacentária mediada por anticorpos As primeiras evidências a respeito da transmissão de imunoglobulinas da mãe para o feto surgiram com Brambell et al. estudando coelhos. Esses autores notaram que o fluido que preenchia o saco vitelino do embrião de coelho jovem era semelhante, em seu conteúdo proteico, ao do plasma. Entre as proteínas desse fluido encontravam-se imunoglobulinas de origem materna, que atravessavam o trofloblasto e o endoderma do saco vitelino embrionário, sugerindo que a imunidade era transmitida da mãe para o feto através do saco vitelino, ao invés da placenta. A taxa de transmissão não variava com a especificidade antigênica do anticorpo, mas havia uma clara seleção em relação a diferentes frações proteicas do soro – a fração gamaglobulina era transmitida mais eficientemente que a albumina. Em 1958, Brambell et al. formularam a hipótese para o mecanismo de transmissão de imunoglobulinas, posteriormente aperfeiçoada. De acordo com a hipótese de Brambell, receptores na superfície dos microvilos seriam invaginados durante o processo de fagocitose, passando a recobrir a parede interna dos fagossomas. Parte da proteína iria ligar-se a esses receptores, sendo posteriormente liberada das células na forma intacta para o espaço intercelular; a parte da proteína dos fagossomas que não se ligasse aos receptores seria degradada pelas enzimas lisosomais, não atingindo a circulação do feto/recém-nascido. Desse modo, a quantidade de gamaglobulina que poderia ser transmitida na sua forma intacta à circulação seria limitada pela população de receptores disponíveis. A taxa de transmissão dependeria das taxas de ligação e liberação da proteína pelos receptores. O caráter seletivo da transmissão dependeria de uma ou de ambas as taxas, podendo variar com diferentes tipos de gamaglobulina. Da circulação materna rumo ao sangue fetal, a molécula de IgG precisa transpor ao menos duas barreiras celulares: o sinciciotrofoblasto e o endotélio capilar fetal. Sabe-se que parte da IgG transportada, especialmente os aloanticorpos dirigidos contra antígenos expressos na placenta, não atingem a circulação fetal. Os complexos antígeno-anticorpo formados no estroma dos vilosos seriam eliminados através de fagocitose dos mesmos pelos macrófagos fetais, as células de Hofbauer. O receptor responsável pelo transporte de IgG através do sinciociotrofoblasto é o FcRn. Todas as subclasses de IgG atravessam a placenta, mas sabe-se que IgG1 e IgG3 passam mais eficientemente, seguidas de IgG4 e, por último, IgG2 . Embora haja evidências de transporte de IgG através da placenta em fases precoces da gestação, sabe-se que ele ocorre eficientemente no terceiro trimestre da gestação. Alguns fatores são conhecidos por estarem associados a uma redução do transporte transplacentário de anticorpos. Entre eles, merecem menção especial as concentrações maternas de IgG total, especialmente acima de 15 g/L; a prematuridade, o baixo peso ao nascimento, a infecçãoplacentária por malária e a infecção materna pelo HIV. Após o nascimento, observa-se o declínio dos anticorpos maternos. Os estudos variam no que diz respeito à meia-vida da IgG total sérica mas, em média, ela é de 24 a 30 dias. Por volta do 4º mês, as concentrações de IgG total começam a se elevar: é este o momento em que a produção de IgG pela criança supera o consumo da IgG materna. Entretanto, as concentrações de IgG da criança só atingirão as concentrações do adulto por volta de 8 anos de idade. O conhecimento da imunização passiva adquirida por via transplacentária e o catabolismo da IgG materna nos primeiros meses de vida da criança são fundamentais para que se estreite a janela de suscetibilidade a patógenos específicos nessa fase da vida tanto para crianças sem comorbidades quanto para aquelas cujas mães apresentem condições que predisponha a um transporte transplacentário reduzido ou que elas próprias apresentem uma resposta imunológica prejudicada nos primeiros meses de vida. Os recém-nascidos têm maior suscetibilidade a infecções com organismos gram-negativos, porque os anticorpos IgM, que são opsoninas termoestáveis, não atravessam a placenta. O nível de oposonina termolábil, C3b, também é inferior no soro de recém-nascidos quando comparado ao dos adultos. Esses fatores provavelmente são responsáveis pelo comprometimento da fagocitose de alguns organismos por células polimorfonucleares em recém-nascidos Os recém-nascidos não têm a capacidade de montar respostas imunes eficazes contra microrganismos e, durante Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 6 vários meses após o nascimento, sua principal defesa contra a infecção é a imunidade passiva fornecida pelos anticorpos maternos. A IgG materna é transportada através da placenta, e a IgA e IgG presentes no leite materno são ingeridas pelo lactente. O transporte transepitelial de IgA materna para o leite depende do receptor de poli-Ig. Os anticorpos IgA e IgG ingeridos podem neutralizar organismos patogênicos que tentam colonizar o intestino do bebê, e alguns anticorpos IgG ingeridos podem ser transportados através do epitélio intestinal para a circulação do neonato. Assim, um recém- nascido possui, essencialmente, os mesmos anticorpos IgG que sua mãe. O transporte da IgG materna através da placenta é mediado por um receptor Fc específico para IgG denominado FcRn. O FcRn é único entre os receptores Fc porque se assemelha a uma molécula do complexo de histocompatibilidade principal (MHC, do inglês, major histocompatibility complex) de classe I, contendo uma cadeia pesada transmembrana não covalentemente associada a β2- microglobulina. No entanto, a interação de IgG com o FcRn não envolve a porção da molécula que é análoga à fenda de ligação do peptídeo usado pelas moléculas de MHC de classe I para exibir os peptídeos para o reconhecimento pelas células T. 4) ENTENDER O DESENVOLVIMENTO IMUNOLÓGICO DA CRIANÇA (ADAPTAÇÃO...). O sistema imunológico está em constante desenvolvimento desde a concepção, assim como no período neonatal e nos primeiros anos de vida. Esse é um processo contínuo em que tanto sua construção acelerada quanto retardada podem prejudicar o indivíduo. O sistema imune humano surge no embrião a partir do tecido associado ao intestino. Células-tronco hematopoiéticas pluripotentes aparecem primeiro no saco vitelino com 2,5 a 3 semanas de idade gestacional, migram para o fígado fetal com 5 semanas de gestação e depois residem na medula óssea, onde permanecem durante toda a vida. Células-tronco linfoides desenvolvem-se a partir dessas células precursoras e se diferenciam em células T, B ou NK, de acordo com os órgãos ou tecidos para os quais as células- tronco migram. O desenvolvimento de órgãos linfoides primários – timo e medula óssea – inicia-se durante a metade do primeiro trimestre de gestação e evolui rapidamente. Logo após, ocorre o desenvolvimento dos órgãos linfoides secundários – baço, linfonodos, tonsilas, placas de Peyer e lâmina própria. Ao longo da vida, a partir das células-tronco, esses órgãos servem como sítios de diferenciação de linfócitos T, B e NK. Tanto a organogênese inicial quanto a continuação da diferenciação celular ocorrem como consequência da interação de uma vasta gama de moléculas de superfície celular dos linfócitos e do microambiente e de proteínas secretadas pelas células envolvidas. Embriogênese: Durante o desenvolvimento embrionário e fetal há uma modulação contínua do tecido linfoide. O sistema hematopoietico, junto com o sistema vascular e cardíaco, é um dos primeiros a surgir durante a embriogênese. As primeiras células sanguíneas, derivadas de células do mesoderma, estão localizadas no saco vitelino na fase embrionária. Essas células primitivas migram para a região anterior da linha primitiva no embrião e formam progenitores eritroides. Acredita-se que esses primeiros progenitores também deem origem tanto aos granulócitos e macrófagos quanto aos megacariócitos. A seguir, o fígado fetal passa a ser responsável pela hematopoiese, que depois passa a ocorrer na medula óssea. Após sete semanas de gestação, as células progenitoras de células T que expressam receptores CD34 migram para o timo, onde ocorre sua diferenciação e maturação em células T com receptor (TCR) αβ. Porções menores de progenitores de células T no fígado fetal apresentam TCRs γδ a partir da 6ª a 8a semana de gestação e não migram para o timo para maturação. Estudos com sangue do cordão umbilical mostram que progenitores linfoides multipotentes se diferenciam para se tornar células B. A maturação e a diferenciação de células B fetais envolvem a ativação de fatores de transcrição de uma maneira gradual Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 7 e recombinação V(D)J para a origem de moléculas de IgD e IgM na superfície da célula B. As células imunológicas semeiam outros órgãos linfoides ou periféricos – incluindo nódulos linfáticos, pele, intestino, rim e pulmão – e se adaptam ao ambiente de cada órgão. Diversos tipos de células imunológicas se desenvolvem e amadurecem em diferentes estágios gestacionais, o que é necessário para estabelecer tolerância e resposta funcional com base nas necessidades de desenvolvimento. Isso prepara o embrião e o feto em desenvolvimento para a exposição ao antígeno durante a gravidez e após o nascimento. Epigenética: A exposição a alérgenos e patógenos provoca uma alteração no ambiente intrauterino com um impacto tanto na imunidade ao nascimento quanto na maturação imunológica durante o início da vida das crianças. Um desequilíbrio nutricional da mãe, tanto deficiente quanto em excesso, podem também ter um efeito considerável na imunidade neonatal e na maturação imunológica no início da vida. O estresse nutricional nas mães induz elevada estimulação do eixo hipotálamo- hipófise-adrenal, o que resulta em redução do peso do timo fetal, que por sua vez leva a apoptose de timócitos e de células B e T imaturas. Perturbações no desenvolvimento do sistema imunológico em neonatos causadas pelo desequilíbrio nutricional materno podem resultar em suscetibilidade a infecções ao nascimento e/ou risco tardio de doenças imunomediadas ou inflamatórias. Imunidade inata O sistema imunológico inato consiste em granulócitos (principalmente neutrófilos), células apresentadoras de antígenos, células natural killer (NK) e células T γδ. Essas células são imediatamente disponíveis para atuar de maneira eficiente sobre uma ampla gama de patógenos. Dada a exposição limitada a antígenos no ambiente intrauterino e a imatura resposta imunológica adaptativa neonatal, os recém-nascidos dependem fortemente de sua resposta imunológica inata para proteção contra infecção. Os neutrófilos são o principalcomponente do sistema imunológico inato e são responsáveis pela destruição de patógenos durante a infecção. A maioria das células do sangue humano são neutrófilos (70%-75%). No entanto, os neutrófilos neonatais têm defeitos tanto quantitativos quanto qualitativos. Ao nascimento, o número de neutrófilos varia de 1,5 a 28 × 109 células/L de sangue, em comparação com os níveis de 4,4 × 109/L em adultos. Além das deficiências quantitativas, os neutrófilos neonatais expressam TLR4 em níveis mais baixos que neutrófilos de adultos; já a expressão de TLR2 por neutrófilos de neonatos é semelhante à dessas células de adultos. A sinalização por meio das vias MyD88 é deficiente em neonatos após estimulação tanto de TLR2 quanto de TLR4. Essa resposta diminuída é atribuída a altos níveis de adenosina no sangue neonatal, o que aumenta os níveis de AMP cíclico (cAMP), levando à inibição da secreção de TNF-α estimulada por TLR. Assim que um neutrófilo detecta um patógeno, ele adere ao endotélio vascular e migra seguindo um gradiente quimiotático em direção ao local da infecção para fagocitar e destruir o patógeno. Esses eventos são seguidos de apoptose do neutrófilo, de modo a evitar inflamação excessiva. Neutrófilos neonatais expressam baixos níveis de L-selectina na superfície celular e Mac-1 (CD11b/ CD18), o que ocasiona uma redução de 50% na transmigração dessas células para locais de infecção. Essa resposta quimiotática prejudicada ocorre devido ao influxo de cálcio intracelular reduzido e à polimerização alterada de actina, limitando a capacidade dos neutrófilos de deformar e penetrar no revestimento endotelial vascular. Ademais, os neutrófilos neonatais não produzem adequadamente as redes neutrofílicas (NETs), importantes na destruição de bactérias extracelulares. Além disso, o sistema NADPH oxidase e a capacidade de gerar radicais hidroxila também não atuam perfeitamente nos granulócitos neonatais. Todas essas particularidades dos neutrófilos no início da vida tornam os neonatos especialmente suscetíveis à sepse. Ao longo dos primeiros anos de vida, essas células sofrem um processo de maturação que é fundamental para a aquisição de competência imunológica nos bebês. Os componentes do sistema complemento são expressos inicialmente no feto durante a gravidez e aumentam, atingindo os níveis de adulto ao longo dos primeiros 12 a 18 meses de vida. As proteínas C encontradas no feto sob condições fisiológicas desempenham um papel crítico na capacidade de neutralização dos anticorpos e protegem o feto do sistema imunológico materno. Recém-nascidos expressam as frações C3, C4 e complemento hemolítico total (CH50). A deficiência desses fatores aumenta a suscetibilidade a infecções pré- ou perinatais. As células NK desempenham papel importante na resolução de infecções virais respiratórias agudas graves causadas por influenza ou vírus sincicial respiratório. As contagens de células NK são maiores em recém-nascidos do que em adultos, com expressão aumentada do receptor inibitório CD94/NKG2A. Entretanto, de modo geral, as células NK de neonatos apresentam uma reduzida capacidade funcional se comparadas às células NK de indivíduos adultos. As células T γδ são uma das primeiras a responder a infecções por Mycobacterium tuberculosis e Listeria monocytogenes. Elas liberam grandes quantidades de IFN-γ e exibem uma função citotóxica. São encontradas no timo e Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 8 no sangue do cordão umbilical. De maneira geral, as células T γδ neonatais apresentam baixa capacidade de proliferação, produção de citocinas frente a estimulação e produzem menores proporções de perforina e granzima B. Imunidade adaptativa Existem dois subconjuntos distintos de células T que expressam os receptores de células T (TCRs) α/β e γ/δ. As células que expressam TCRs γ/δ no fígado fetal não migram para o timo para maturação, mas desempenham um papel importante na proteção contra infecções microbianas em um estágio inicial de desenvolvimento. As células T α/β migram para o timo para maturação, resultando em timócitos TCR+ de linhagem T CD4+ ou T CD8+, o que está associado ao posterior reconhecimento de antígenos e ativação de células T. Em humanos, as células do sangue do cordão T CD4+ neonatais proliferam em resposta à IL-7 na ausência de estimulação de TCR. Estudos experimentais de células T CD4+ neonatais demonstram polarização para respostas T helper 2 - Th2 (IL-4, IL-5, IL-10) com uma produção diminuída de citocinas Th1 (IFN-γ, IL-2 e TNF-α). Por outro lado, as células Th17 desempenham um papel importante no desenvolvimento de imunidade a infecções bacterianas e fúngicas em nível de mucosa e pele. Experimentos usando células do sangue do cordão umbilical mostraram que neonatos têm uma frequência muito baixa ou ausência completa de células Th17. As células Th1, Th2 e Th17 desempenham um papel importante no desenvolvimento da imunidade a patógenos intracelulares e parasitas extracelulares, enquanto as células T regulatórias (Treg) são essenciais para a tolerância imunológica e desempenham um papel crucial na limitação das respostas imunes excessivas exercidas pelas células Th1, Th2 e Th17. As células B neonatais não mostram evidência de exposição antigênica e têm apenas um repertório de imunoglobulina (Ig) de superfície parcialmente desenvolvido. As deficiências observadas na produção de anticorpos neonatais podem ser decorrentes de várias características intrínsecas, como imaturidade das células B, repertório de células B pobre ou força reduzida de sinalização do receptor de células B (BCR). Em resumo, de modo geral, os linfócitos B e T naïves são programados de maneira diferente em neonatos em comparação com seus correspondentes encontrados em adultos. Os recém-nascidos exibem uma suscetibilidade aumentada a infecções decorrente da imaturidade de seus linfócitos, incluindo um baixo número de células T de memória efetora, secreção reduzida de citocinas Th1 e reduzida força de sinalização do receptor de células B. Por alguns meses após a concepção, o lactente está sob influência da IgG materna, que diminui ao longo dos primeiros meses. Após os 2 anos de idade, a resposta adaptativa começa a se organizar, com completo funcionamento após a primeira década de vida. Mecanismos adaptativos do sistema imunológico no período neonatal Diversos aspectos do sistema imunológico do neonato o caracterizam como aquele de um ser em desenvolvimento. Embora a resposta imunológica inata neonatal seja menos eficiente que a do adulto, se comparada à resposta adaptativa neonatal, ela parece estar mais “completa” ao nascimento. Vários exemplos desse estágio ainda em desenvolvimento da resposta imunológica adaptativa podem ser descritos: o encontro de células T CD4+CD8+ circulantes,7 a preponderância do fenótipo naïve (CD45RA+ CCR7+)8 e a resposta imunológica humoral reduzida frente à infecção ou vacinação. Nesse sentido é que devem ser analisados o aumento expressivo de células polimorfonucleares circulantes imediatamente após o nascimento, a imunidade materna transplacentária mediada por anticorpos e a imunidade conferida pelo leite materno e, principalmente, pelo colostro, com transferência de imunoglobulinas e de células. Esses seriam os três mecanismos adaptativos que, durante período transitório – variando de 2 a 3 dias no caso da elevação de polimorfonucleares a muitos meses, no caso do leite materno –, facilitariam a sobrevida do recém-nascido e lactente jovem no ambiente extrauterino. Talvez não seja sem razão o fato de dois dentre esses três fatores, o colostro/leite materno e a imunidade transplacentária mediada por anticorpos, serem constituídos principalmente por elementos do sistema imunológico adaptativo materno,justamente o menos maduro ao nascimento. Embora pouco tenha sido estudado a respeito da importância do pico sérico de polimorfonucleares, bem mais já se sabe sobre o papel exercido pelos dois outros fatores, o colostro/leite materno e a imunidade transplacentária mediada por anticorpos. Desenvolvimento dos órgãos linfoides O tecido linfoide é proporcionalmente pequeno, mas bastante desenvolvido no nascimento e amadurece rapidamente no período pósnatal. O timo é maior em relação ao tamanho do corpo durante a vida fetal e ao nascimento seu peso normalmente equivale a dois terços do seu peso maduro, que é alcançado durante o primeiro ano de vida. Ele atinge seu pico de massa, no entanto, pouco antes da puberdade e, a seguir, involui gradualmente. Por volta de 1 ano de idade, todas as estruturas linfoides estão maduras histologicamente. Os números absolutos de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 9 linfócitos no sangue periférico também atingem um pico durante o primeiro ano de vida. O tecido linfoide periférico (Baço, linfonodos e MALTs) aumenta rapidamente em massa durante a lactância e fase pré-escolar. Ele atinge o tamanho adulto com aproximadamente 6 anos da idade, excede essas dimensões durante os anos pré-puberais e depois involui junto com o início da puberdade. O baço, no entanto, acumula gradualmente sua massa durante a maturação e não atinge o peso total até a idade adulta. O número médio de placas de Peyer ao nascimento é metade do número adulto, e aumenta gradualmente até ultrapassar, na adolescência, o número médio do adulto. 5) COMPREENDER AS REAÇÕES ADVERSAS DA VACINA E AS CONTRAINDICAÇÕES (AL ERGIAS...) . A contraindicação é entendida como uma condição do usuário a ser vacinado que aumenta, em muito, o risco de um evento adverso grave ou faz com que o risco de complicações da vacina seja maior do que o risco da doença contra a qual se deseja proteger. Para todo imunobiológico, consideram-se como contraindicações: • a ocorrência de hipersensibilidade (reação anafilática) confirmada após o recebimento de dose anterior; e • história de hipersensibilidade a qualquer componente dos imunobiológicos. Em geral, as vacinas bacterianas e virais atenuadas não devem ser administradas a usuários com imunodeficiência congênita ou adquirida, portadores de neoplasia maligna, em tratamento com corticosteroides em dose imunossupressora e em outras terapêuticas imunodepressoras (quimioterapia, radioterapia etc.), bem como gestantes, exceto em situações de alto risco de exposição a algumas doenças virais preveníveis por vacinas, como, por exemplo, a febre amarela. São situações que devem ser avaliadas em suas particularidades para a indicação ou não da vacinação: • Usuários que fazem uso de terapia com corticosteroides devem ser vacinados com intervalo de, pelo menos, três meses após a suspensão da droga. • Usuários infectados pelo HIV precisam de proteção especial contra as doenças imunopreveníveis, mas é necessário avaliar cada caso, considerando-se que há grande heterogeneidade de situações, desde o soropositivo (portador assintomático) até o imunodeprimido, com a doença instalada. • Crianças filhas de mãe com HIV positivo, menores de 18 meses de idade, mas que não apresentam alterações imunológicas e não registram sinais ou sintomas clínicos indicativos de imunodeficiência, podem receber todas as vacinas dos calendários de vacinação e as disponíveis no CRIE o mais precocemente possível. • Usuários com imunodeficiência clínica ou laboratorial grave não devem receber vacinas de agentes vivos atenuados. • O usuário que fez transplante de medula óssea (pós- transplantado) deve ser encaminhado ao CRIE de seis a doze meses após o transplante, para revacinação conforme indicação. Situações para o adiamento da administração de um imunobiológico: • Usuário de dose imunossupressora de corticoide – vacine 90 dias após a suspensão ou o término do tratamento. • Usuário que necessita receber imunoglobulina, sangue ou hemoderivados – não vacine com vacinas de agentes vivos atenuados nas quatro semanas que antecedem e até 90 dias após o uso daqueles produtos. • Usuário que apresenta doença febril grave – não vacine até a resolução do quadro, para que os sinais e sintomas da doença não sejam atribuídos ou confundidos com possíveis eventos adversos relacionados à vacina. Vacina BCG Em geral, não provoca eventos sistêmicos. Complicações e reações anafiláticas são raras. Cicatrização mais lenta, com evolução de mais de 6 meses de duração, ou enfartamento e supuração de gânglios linfáticos podem ocorrer. O acompanhamento de lesão vacinal incomum e a avaliação da necessidade de investigar a presença de tuberculose ou de utilizar quimioprofilaxia devem ser realizados pela Secretaria de Saúde local. Crianças menores de 5 anos, comprovadamente não vacinadas previamente, devem receber a vacina. A repetição da vacina BCG nas crianças que não apresentaram cicatriz não é mais recomendada. Em casos de histórico familiar ou suspeita de imunodeficiência, ou RN cujas mães fizeram uso de biológicos durante a gestação, a vacinação poderá ser postergada ou contraindicada. Vacina Hepatite B São raríssimos os eventos adversos a ela associada, como os locais (dor no local da aplicação) e sistêmicos (febre e irritabilidade). Vacina Rotavirus Em caso de vômitos ou regurgitação, não é recomendado repetir a vacina. Caso a vacina administrada em uma das doses tenha sido a pentavalente, ou o produto utilizado para qualquer dose seja desconhecido, um total de três doses deve ser administrado. Eventos adversos: Podem ocorrer irritabilidade, febre, fadiga, choro, perda de apetite, diarreia e vômitos e raramente sangramento intestinal. Nas pesquisas clínicas Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 10 realizadas, não há relato de aumento de casos de intussuscepção com o uso das vacinas. Contraindicações: Reação anafilática prévia a qualquer componente da vacina. A vacina é contraindicada para crianças com história de doença gastrintestinal crônica, inclusive malformação congênita do trato gastrintestinal e portadores de imunodepressão. Precaução: postergar a vacina se a criança apresentar alguma doença grave, vômitos ou diarreia. Vacinas Pneumocócicas As vacinas pneumocócicas são consideradas muito seguras. A maioria dos eventos reportados são locais: dor, inchaço ou vermelhidão. Os eventos sistêmicos mais associados são: febre, irritabilidade, perda de apetite e choro intenso. Usualmente, os eventos adversos são autolimitados em até 3 a 5 dias. Vacinas meningocócicas Os eventos adversos locais mais comumente relatados são dor, edema e hiperemia. Sintomas sistêmicos comumente relatados são cefaleia, sonolência, febre, irritabilidade, inapetência, fadiga e sintomas gastrointestinais (náusea, vômito, diarreia, dor abdominal). As reações são autolimitadas com tendência a desaparecer em até 72 horas. Vacinas combinadas com o componente coqueluche O componente pertussis da vacina está associado a maior reatogenicidade, especialmente febre, irritabilidade, sonolência e eventos adversos locais. Eventos graves como a síndrome hipotônica hiporresponsiva, convulsão febril e choro persistente podem ocorrer. As vacinas Coqueluche acelulares têm risco reduzido de eventos adversos e eficácia semelhante às de células inteiras e, por isso, sempre que possível, devem ser preferíveis. Vacina Poliomielite Existem duas diferentes vacinas contra a poliomielite licenciadas no Brasil. Vacina de vírus vivo, oral (VOP), e a vacina inativada, injetável (VIP). A VOP está contraindicada para crianças imunocomprometidas e para seus contatos domiciliares. Nestas circunstâncias, utilizar a VIP. Tratam-se de vacinas seguras, comraros eventos adversos associados a elas. Vacina Influenza Os eventos adversos mais comuns são: dor local, febre, mialgias, cefaleia, sonolência e sensação de cansaço, que podem ocorrer nas primeiras 48 horas. Reações alérgicas imediatas (urticária, angioedema, asma alérgica, anafilaxia) são extremamente raras. Vacina Tríplice Viral Os eventos adversos, em geral, são leves e transitórios. Dor no local da injeção pode ocorrer por 2 a 3 dias. Eventos sistêmicos, quando ocorrem, são mais tardios, 5 a 12 dias após a vacinação, com febre (5-15%) acima de 39°C por 1 a 2 dias e exantema transitório (2%). Podem causar convulsões febris e trombocitopenia transitória, que é rara. Sintomas característicos de rubéola, sarampo, caxumba ou varicela (vacina tetra) podem ser observados. Os eventos adversos são menos comuns após a segunda dose da vacina. Está contraindicada para gestantes, pessoas com anafilaxia a dose prévia da vacina e que tenham reações alérgicas graves à gelatina, neomicina e indivíduos imunocomprometidos. Reações alérgicas ao ingerir ovo de galinha não são contraindicação para o uso da vacina. Vacina Varicela São raros os eventos adversos associados a ela. Está contraindicada para gestantes, pessoas com anafilaxia à dose prévia da vacina e indivíduos imunocomprometidos. Vacina Hepatite A São raros os eventos adversos. Vacina Febre Amarela A vacina Febre Amarela é, em geral, bem tolerada e raramente associada a eventos adversos graves. Os sintomas gerais relatados do 3º ao 10º dia são leves e desaparecem espontaneamente. Estes incluem: cefaleia, mialgia e febre. Manifestações locais como dor na área de aplicação ocorrem em 4% dos adultos vacinados e um pouco menos em crianças pequenas. A dor dura 1 ou 2 dias, na forma leve ou moderada. Apesar de muito raros, podem acontecer eventos graves: reações alérgicas, doença neurológica (encefalite, meningite, doenças autoimunes com envolvimento do sistema nervoso central e periférico) e doença em órgãos (infecção pelo vírus vacinal, causando danos semelhantes aos da doença). No Brasil, entre 2007 e 2012, a ocorrência destes eventos graves foi de 0,42 caso por 100 mil vacinados. Crianças e adolescentes portadores de doenças crônicas sem imunossupressão devem ser vacinados na rotina. São contraindicações para o uso da vacina: • Crianças menores de 6 meses de idade. • Imunodeficiência congênita ou secundária por doença (neoplasias, Aids e infecção pelo HIV com comprometimento da imunidade) ou por tratamento (drogas imunossupressoras, radioterapia, pacientes submetidos a transplante de órgãos, etc.). • Pacientes que tenham apresentado doença neurológica desmielinizante no período de 6 semanas após a aplicação de dose anterior da vacina. • Gestantes, salvo em situações de alto risco de infecção, que devem ser avaliadas pelo médico. • Mulheres amamentando bebês com até 6 meses. Se a vacinação não puder ser evitada, suspender o aleitamento materno por 10 dias. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 11 • Pessoas com história de reação anafilática relacionada a substâncias presentes na vacina (ovo de galinha e seus derivados, gelatina bovina ou outras). • Pacientes com história pregressa de doenças do timo (miastenia gravis, timoma, casos de ausência de timo ou remoção cirúrgica). Em crianças menores de 2 anos de idade, a vacina febre amarela não deve ser aplicada simultaneamente com a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola) ou a tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela). Um intervalo mínimo de 30 dias deve ser respeitado, porém, em situações de risco epidemiológico, podem ser aplicadas no mesmo dia ou com qualquer intervalo. A partir de 2 anos de idade, não há esta restrição: elas podem ser aplicadas simultaneamente. Vacina HPV Extremamente segura, apresenta raramente eventos adversos locais (dor, vermelhidão e edema) e sistêmicos (febre, mal-estar e cefaleia) em cerca de 5-10% dos vacinados. 6) APRESENTAR AS RECOMENDAÇÕES QUE DEVEM SER DADAS AOS PAIS SOBRE VACINAÇÃO. PROFILAXIA ANTITÉRMICA PARA VACINAÇÃO Não é recomendado uso rotineiro de medicações analgésicas e/ou antipiréticas profiláticas. Amamentação, anestésicos tópicos e atividades de distração podem ser eficientes em diminuir a dor no momento da vacinação. Elevação da temperatura axilar acima de 37,5ºC. É uma resposta fisiológica à administração de antígenos, com produção de citocinas inflamatórias que atuam no hipotálamo, com liberação de prostaglandinas e elevação da temperatura. Promove a resposta imunológica. Antitérmico profilático: utilizá-lo quando na dose anterior houve febre elevada ou história prévia de convulsão febril. Administrar no momento da vacinação e depois repetir de 6/6 horas durante 24 a 48 horas. Usar de preferência o paracetamol, na dose já indicada. 7) IDENTIFICAR OS IMPACTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA REDUÇÃO DA COBERTURA VACINAL (ÊNFASE NO SARAMPO). A vacinação é uma das maneiras mais efetivas de se evitar doenças. Atualmente previne 2-3 milhões de mortes ao ano, e mais de 1,5 milhão poderiam ser evitadas se a cobertura vacinal mundial fosse aprimorada. No entanto, a hesitação vacinal está entre as 10 ameaças à saúde mundial. Juntamente com resistência antimicrobiana, HIV e dengue, a resistência ou recusa à vacinação tem sido uma questão global crescente. O Brasil é um dos países que oferece o maior número de vacinas à população. Atualmente, o Programa Nacional de Imunizações, PNI, disponibiliza mais de 300 milhões de doses anuais distribuídas entre 44 imunobiológicos, incluindo vacinas, soros e imunoglobulinas. Conta com aproximadamente 34 mil salas de vacinação e 42 Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais (CRIE), que atendem indivíduos portadores de condições clínicas especiais e utilizam variadas estratégias de vacinação, incluindo vacinação de rotina, campanhas, bloqueios vacinais e ações extramuros. O ressurgimento de doenças como o sarampo em nações onde este já era erradicado é só um dos exemplos de como a hesitação vacinal pode ser um sinal de ameaça à saúde pública. Os prejuízos causados pela falta de vacinação já estão se tornando realidade, tendo como exemplo o sarampo que apresenta mais de 300 casos confirmados em Roraima e no Amazonas. Ainda, segundo dados do próprio PNI, nos últimos dois anos as coberturas vacinais entre menores de 1 ano de idade foram inferiores ao mínimo desejado. O período crítico começou em 2017, quando 25% da população em risco de contrair febre amarela, a maioria crianças, não foi vacinado. O problema permanece crítico: dados recentes revelam que apenas 88% da população-alvo foi vacinada contra sarampo, em todo o país este ano (o percentual mínimo para a eliminação desta doença é 95%), enquanto em 100 municípios brasileiros, a cobertura alcançou menos de 50% da população-alvo contra a poliomielite. No Brasil, a redução da cobertura vacinal é preocupante, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A cobertura vacinal adequada é fator primordial para a proteção da população nas diversas faixas etárias, pois tem o poder de impedir a proliferação de determinadas doenças e/ou até mesmo erradicá-las, impactando positivamente a saúde pública. A hesitação vacinal refere-se ao atraso em aceitar ou recusar as vacinas, apesar da disponibilidade de serviços de vacinação. É um problema mundial complexo, contexto específico que varia ao longo do tempo, local e tipos de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 12 vacinas. Devido à natureza complexa da hesitação vacinal, não existe estratégia única de intervenção que possa atingir a todas as instâncias relacionadas à hesitação vacinal. Segundo oMinistério da Saúde, não há dados sobre a taxa de recusa vacinal no país. Mas de acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (Datasus), as oito vacinas obrigatórias até o primeiro ano de vida estão com cobertura abaixo do recomendado pela OMS, que é 90% a 95%. A queda das coberturas vacinais no Brasil desde 2016 levanta a questão da hesitação vacinal como uma das principais preocupações das autoridades sanitárias. A hesitação vacinal deve ser mais bem compreendida no contexto brasileiro por meio de publicações científicas. Movimentos antivacinas, apesar de antigos, estão se fortalecendo no mundo, com início mais visível em países de alta renda. Entretanto, certamente, o impacto desse sentimento negativo em relação à vacina será mais importante nos países de média e baixa renda, à medida que esses movimentos se fortaleçam. É possível relacionar que associação desses fatores, hesitação vacinal e movimentos antivacina, têm provocada a baixa cobertura vacinal, nesse sentido é imprescindível que gestores, pesquisadores e a população brasileira se mobilizem para proteger o exitoso programa de imunizações. Sarampo É uma doença altamente contagiosa que, apesar de existir uma vacina eficaz, ainda ocorre no mundo inteiro, causando até surtos, atingindo o maior número de casos notificados em 23 anos, contabilizando cerca de 870.000 pacientes em 2019, com 207.000 óbitos. • Etiologia – Paramyxovirus. • Mecanismo de transmissão – via aérea, através de aerosol. • Tempo de incubação – oito a doze dias. • Tempo de contágio – desde dois dias antes do início do pródromo até quatro dias após o aparecimento do exantema. • Isolamento – respiratório (uso de máscara) até quatro dias após o início do exantema. Quadro clínico: a doença começa com pródromo que dura de três a quatro dias, com febre, tosse, cefaleia, mal-estar, prostração intensa, incomum em doenças virais. A febre é elevada, atingindo o auge na época do aparecimento do exantema, o que difere também da maioria das viroses e cai em lise no terceiro ou quarto dia do exantema. A tosse é seca, intensa (incomoda o paciente), está sempre presente e se acompanha de coriza abundante, hialina no início, purulenta nos dias subsequentes. Os olhos ficam hiperemiados com lacrimejamento e fotofobia e, nos casos mais graves, ocorre edema bipalpebral. A prostração por vezes é intensa, denotando comprometimento sistêmico. O enantema é a primeira manifestação mucocutânea a aparecer, e é característico. A orofaringe fica hiperemiada e na região oposta aos dentes molares aparecem manchas branco-azuladas, pequenas, de cerca de 1 mm de diâmetro, chamadas de manchas de Koplik. Aparecem, um ou dois dias antes do exantema e desaparecem dois ou três dias após. O exantema se inicia atrás do pavilhão auricular, disseminando-se rapidamente para o pescoço, face, tronco e atinge a extremidade dos membros por volta do terceiro dia. O exantema é maculopapular eritematoso, morbiliforme como regra, mas em determinadas áreas pode confluir. Na fase do exantema a doença atinge o seu auge, ficando o paciente toxemiado, febril, com os olhos hiperemiados, queixando-se da claridade, com intensa rinorreia e tosse implacável. Para os não familiarizados a aparência é a de uma doença grave. O exantema começa a esmaecer em torno do terceiro ou quarto dia, na mesma sequência que apareceu, deixando manchas acastanhadas. O sarampo, apesar de ser uma “doença de infância” não deve ser considerado como moléstia banal “que todas as crianças devem ter”. O número de complicações é grande, podendo-se citar entre elas: laringite, às vezes muito acentuada, traqueobronquite, pneumonite intersticial, queratoconjuntivite, o que pode levar à cegueira, miocardite, adenite mesentérica, diarreia com perda importante de proteína, panencefalite esclerosante subaguda. Otite média é a principal complicação bacteriana. Também podem suceder sinusite, pneumonia bacteriana, púrpura trombocitopênica, encefalomielite, reativação de tuberculose pela imunodepressão. Em crianças menores de um ano e em desnutridas é causa não desprezível de óbito. Em adolescentes e adultos a gravidade tende a ser maior. o tratamento do sarampo é sintomático, com boa hidratação, alimentação adequada, antipiréticos e uso de antibióticos quando ocorrerem complicações bacterianas como otite e pneumonia, lembrando que os germes a serem combatidos são os prevalentes na comunidade e segundo o grupo etário e história de vacinação contra patógenos bacterianos.
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