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DOCÊNCIA EM SAÚDE ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE HIPERTENSO 1 Copyright © Portal Educação 2013 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842a Atenção farmacêutica ao paciente hipertenso / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013. 74p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-817-8 1. Hipertensão - Cuidados. I. Portal Educação. II. Título. CDD 616.132 2 SUMÁRIO 1 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) COMO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA .............................................................................................................................................. 4 1.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS. ................................................................................................... 4 1.2 CLASSIFICAÇÃO ....................................................................................................................... 6 1.3 FISIOPATOLOGIA DA HAS ....................................................................................................... 8 1.4 DIAGNÓSTICO ......................................................................................................................... 11 1.5 DECISÃO TERAPÊUTICA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL...................................................... 15 1.6 SITUAÇÕES ESPECIAIS DE HIPERTENSÃO.......................................................................... 16 2 TERAPÊUTICA ANTI-HIPERTENSIVA .................................................................................... 22 2.1 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO ................................................................................ 22 2.1.1 Redução ou abandono do consumo de bebida alcoólica .......................................................... 24 2.1.2 Abandono do tabagismo ............................................................................................................ 24 2.1.3 Uso de alimentos com redução de sal ....................................................................................... 25 2.1.4 Suplementação de potássio ...................................................................................................... 25 2.1.5 Suplementação de cálcio e magnésio. ...................................................................................... 26 2.1.6 Atividade física .......................................................................................................................... 26 2.1.7 Drogas que podem elevar a pressão arterial ............................................................................. 27 2.2 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ......................................................................................... 27 2.2.1 Medicamentos anti-hipertensivos .............................................................................................. 28 2.2.2 Urgências e emergências hipertensivas .................................................................................... 40 3 2.2.3 Interações medicamentosas ...................................................................................................... 41 3 ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL .............................................. 44 3.1 FATORES QUE INTERFEREM NA ADESÃO AO TRATAMENTO ........................................... 45 3.2 PROBLEMAS DA ADESÃO AO TRATAMENTO ....................................................................... 52 3.3 ASPECTOS PARA MELHORIA DA ADESÃO AO TRATAMENTO ........................................... 54 3.4 DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS ................................................................................... 56 4 ATENÇÃO FARMACÊUTICA A PACIENTE HIPERTENSO .................................................... 57 4.1 ACOMPANHAMENTO DO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ............................................. 65 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 72 4 1 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) COMO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA Face à nova realidade, com numerosos medicamentos e suas informações técnico- científicas não alcançando adequadamente a população, vieram os problemas farmacoterapêuticos e nem sempre eram solucionados trazendo prejuízos ao paciente. Em 1990 surge uma nova prática profissional anunciada por Hepler e Strand em que o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico e juntos trabalham para resolver os problemas relacionados a medicamentos. A atenção farmacêutica que tem como um dos princípios principais, 1) os medicamentos, não apenas o fornecimento correto, mas a participação do profissional nas decisões sobre o tratamento medicamentoso (medicamento mais indicado, forma, dosagem, via de administração, etc.) 2) o cuidado (atenção) que é a preocupação com o bem-estar alheio (paciente) 3) o comprometimento do farmacêutico com os resultados do tratamento, faz com que essa prática seja elemento essencial aos serviços de saúde e deve estar integrada com as demais áreas do sistema de saúde (STORPIRTIS, RIBEIRO & MAROLONGO, 2000). Na Hipertensão Arterial, a Atenção Farmacêutica é uma prática fundamental para o controle dessa patologia; minimizando os sintomas, suas complicações e trazendo melhor qualidade de vida. É um olhar diferenciado do tradicional, é um olhar na totalidade individual do ser humano considerado em seu contexto, com o objetivo de alcançar resultados que favoreça o seu bem-estar. O curso Atenção Farmacêutica a paciente hipertenso possui conceitos abrangendo a patologia, o tratamento farmacológico e não farmacológico, adesão ao tratamento e a prática farmacêutica na hipertensão arterial. 1.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS A hipertensão arterial é atualmente vista não somente como alteração dos níveis pressóricos, mas como uma doença caracterizada pela condição sistêmica que envolve a 5 presença de alterações estruturais das artérias e do miocárdio, associadas à disfunção endotelial, constrição e remodelamento da musculatura lisa vascular. Essas condições estão frequentemente relacionadas com os distúrbios metabólicos ligados à obesidade, à diabete e as dislipidemias e também com a lesão ou não dos órgãos alvos (olhos, rins, coração e cérebro) (BRANDÃO et al. 2003). Em razão a sua elevada prevalência na população brasileira, vem tornando-se um problema de saúde pública de grande importância, pois reduz a expectativa de vida e trazem muitas complicações, cardíacas, renais, além de elevado custo econômico e social. No Brasil não se conhece o número exato de indivíduos hipertensos, os estudos realizados foram em determinadas cidades em grupos populacionais. A prevalência da hipertensão no Brasil, realizada em algumas cidades do Brasil varia de 22,3% a 43,9%, aumenta com a idade e os indivíduos negros são afetados duas vezes mais que os brancos. (BRANDÃO et al. 2003; SOCIEDADE BRASILEIRADE HIPERTENSÃO, 2002 ). A hipertensão arterial constitui um dos fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares, estima-se que afeta aproximadamente 1 bilhão de pessoas no mundo (NIH, 2003). As doenças cardiovasculares (Infarto agudo do miocárdio, morte súbita, acidente vascular encefálico, edema agudo do pulmão e insuficiência renal) constituem a primeira causa de morte no Brasil. O Estudo de Framingham demonstrou uma forte tendência de associação da hipertensão arterial com outros fatores de risco como a dislidipidemia, obesidade, diabete e tabagismo, representando mais que uma simples soma de riscos para a doença arterial coronariana, determina um risco de duas até sete vezes, para ambos os sexos. Em 2000, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 15,2% das internações realizadas no Sistema Único de Saúde-SUS em indivíduos na faixa etária de 30 a 69 anos. Do total de casos (693.839), 17,7% estão relacionados ao acidente vascular encefálico e ao infarto de miocárdio. Segundo o Sistema de Informação Hospitalar (SIH/SUS), em 2000 os gastos com internações por hipertensão arterial foram de R$ 17 milhões, sendo que esse valor não reflete o real problema, pois não contemplam as internações por outras causas cardiovasculares, em que a hipertensão arterial atuaria como coadjuvante (BRANDÃO et al. 2003). As doenças cardiovasculares em 2003 foram responsáveis por 274.068 óbitos (27,3%) do total das mortes sendo que na faixa etária de 35 a 64 anos representaram 31,3% do total de óbitos por esta causa, atingindo a população adulta em plena fase produtiva. Entre essas 6 doenças, o acidente vascular encefálico e o infarto agudo do miocárdio são as mais prevalentes (55,4%). Na região Centro-Oeste, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 17.194 mortes (29%) do total das mortes para a região (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). A hipertensão arterial presente em mais de 60% dos idosos, pode estar associada a outras doenças também prevalentes nessa faixa etária, como a arteriosclerose e a diabete mellito, proporcionando alto risco para morbidade e mortalidade cardiovasculares. Portanto, há necessidade de uma correta identificação do problema e esquema terapêutico apropriado (BRANDÃO et al. 2003). A avaliação da pressão arterial em crianças e jovens adolescentes surgiu na década de 60 e a partir de 1970 apareceram às primeiras recomendações sobre a medida rotineira nessa faixa etária. Verificou-se que as alterações discretas da pressão arterial podiam ser observadas e eram comuns e sem causa secundária identificada. A pressão arterial na infância e adolescência deve ser interpretada de acordo com as curvas de distribuição da pressão arterial tanto sistólica como diastólica, por sexo e faixa etária, observando-se os valores correspondentes a diversos percentis. O peso e o índice de massa corpórea são as variáveis mais acentuadas, também outros estão relacionados como: sexo, raça, história familiar e fatores dietéticos. Em 1948, os serviços de saúde pública dos Estados Unidos, The US Public Health Service, autorizou um estudo observacional em longo prazo, para determinar as causas da doença do coração. O estudo demonstrou que os indivíduos com hipertensão arterial têm maior risco para desenvolver doença arterial coronariana, quando comparados com indivíduos de pressão arterial normal. A associação de fatores de risco como dislipidemia, diabete, obesidade e tabagismo juntam-se para formar a placa aterosclerótica, propiciando o surgimento de alterações cardiovasculares de grande impacto epidemiológico (BRANDÃO et al. 2003). 1.2 CLASSIFICAÇÃO Segundo as IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, os valores que permitem classificar os indivíduos adultos acima de 18 anos, de acordo com seus níveis tensionais estão no quadro 1: 7 Indivíduos com pressão arterial normal apresentam valores inferiores a 13/85 mmHg e ótima quando for igual ou inferior a 120/80 mmHg. Quadro 1: Classificação da pressão arterial (> 18 anos). Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg) Ótima < 120 < 80 Normal < 130 < 85 Limítrofe 130 -139 85 – 89 Hipertensão Estágio 1 (leve) 140 – 159 90 – 99 Estágio 2 (moderada) 160 – 179 100 – 109 Estágio 3 (grave) ≥ 180 ≥ 110 Sistólica isolada ≥ 140 ≤ 90 O valor mais alto de sistólico ou diastólico estabelece o estágio do quadro hipertensivo. Quando as pressões, sistólica e diastólica situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação do estágio. A pressão arterial para crianças e adolescentes é baseada nos percentis 90 e 95%. Quadro 2: Classificação de HAS para crianças e adolescentes. Pressão Arterial (mmHg) Os valores dos percentis 90 e 95 da pressão arterial para cada faixa etária são normalizados para o percentil da estatura da criança e adolescente. Valores da PA Sistólica e Diastólica Classificação Menores que o percentil 90 Normal Entre os percentis 90 e 95 Normal Limítrofe Maiores que o percentil 95 Hipertensão Arterial 1.3 FISIOPATOLOGIA DA HAS 8 A patogênese da hipertensão arterial não está completamente elucidada, em que 90% a 95% dos casos não possuem etiologia conhecida e são classificados como primária ou essencial. Outros casos de causa conhecida são chamados de secundária e na remoção da causa, a pressão arterial volta à normalidade. A hipertensão essencial é definida como a elevação da pressão sanguínea sem causa aparente, podendo aumentar com a idade e geralmente observada a partir dos 40 anos. O fenótipo de pressão sanguínea elevada na hipertensão essencial é resultante das interações entre predisposição genética, consumo de álcool, obesidade, atividades físicas e outros fatores não identificados. A elevação da pressão sanguínea pode ocorrer por aumento do débito cardíaco, resultante de aumento no volume sanguíneo ou na contratilidade e batimento cardíaco ou então, por aumento da resistência vascular periférica decorrente de aumento nos fatores humorais, neurais e sanguíneos. O marcador hemodinâmico da hipertensão essencial é o aumento persistente da resistência vascular periférica. Os mecanismos que promovem desequilíbrio entre os fatores pressores e depressores e induzem alteração do calibre das arteríolas, atuam na contração da musculatura que regula a luz do vaso ou na espessura da musculatura. A variação do tônus vascular depende de diferentes fatores funcionais, um deles é a atividade simpática onde estão envolvidos os três maiores arcos reflexos: barorreceptores arteriais (alta pressão), receptores cardiopulmonares (baixa pressão) e aos quimiorreceptores arteriais. O simpático também contribui para o crescimento da parede vascular. Diferentes receptores cardiovasculares modulam também a liberação de vários hormônios que participam da manutenção dos valores basais da pressão arterial. O mais estudado dos mecanismos hormonais é o sistema renina-angiotensina, maior regulador fisiológico de volume, balanço eletrolítico e pressão arterial. Primeiramente realizado por Robert Tigerstedt e Peter Bergman, em 1898, que demonstraram uma substância renina, capaz de elevar a pressão arterial. Outra complicação cardiovascular está relacionada a alterações da estrutura e da função vascular, ou seja, a disfunção endotelial reconhecida em 1980, quando Furchgott descreveu a produção de um fator de relaxamento derivado do endotélio, o óxido nítrico. 9 Geralmente os hipertensos têm disfunção endotelial com redução da dilatação e, consequentemente baixa produção de óxido nitrico (IRIGOYEN et al, 2003). A predisposição genética vem sendo alvo de grande interesse na compreensão da hipertensão. Distúrbios monogênicos muito raros como mutações em gene que codificam proteínas envolvidas no metabolismo da aldosteronaou que controlam os íons de sódio. Os defeitos nas enzimas envolvidas no metabolismo da aldosterona resultam em aumento adaptativo na secreção de aldosterona, aumento na reabsorção de sal e de água, expansão do volume plasmático e, em última análise, hipertensão. Mutações numa proteína do canal de sódio epitelial resultam em aumento da reabsorção tubular distal de sódio induzida pela aldosterona, produzindo uma forma moderadamente grave de hipertensão sensível ao sal. As pesquisas concentram-se na identificação de polimorfismos comuns em genes que possam explicar a predisposição à hipertensão, tanto individual como populacional (ROBBINS, 2000; STEVENS & LOWE, 2002) A hipertensão secundária contribui para 10% dos casos e é decorrente de uma causa relacionada à doença renal, endócrina, uso de medicamentos ou pacientes sob diálise ou transplante renal. Apesar de ser em pequeno número, pode-se suspeitar de hipertensão secundária em certas situações como: 1) Idades extremas: Jovens menores de 20 anos e adultos maiores de 50 anos sem HAS pregressa. 2) Hipertensão severa e de difícil controle terapêutico. 3) Aparecimento súbito em paciente sabidamente normotenso. 4) História familiar negativa para outros casos de HAS. 5) Sinais e Sintomas associados: estenose renal, hipocalemia com aldosteronismo, e taquicardia e flutuação de pressão arterial no feocromocitoma. As causas de hipertensão secundária podem ser: Utilização de medicamentos que podem induzir o aumento da pressão arterial: o uso de anticoncepcionais hormonais orais é causa importante em mulheres em idade fértil. Seu uso em mulheres com mais de 35 anos e fumantes está contraindicado. Outros medicamentos como glicocorticoides, ciclosporina, eritropoetina, anfepramona, antidepressivos (inibidores da 10 monoaminooxidase e tricíclicos) e uso de drogas ilícitas e bebidas alcoólicas também induzem a hipertensão. Doenças renais: a doença renal primária responde por 3% a 4% dos casos de hipertensão. A nefroesclerose hipertensiva e a nefropatia diabética são as maiores causas de HAS secundária. A hipertensão renovascular é prevalente em 1% a 4% da população hipertensa não selecionada. Pacientes em diálise e transplante renal: 60% a 80% são hipertensos, nos pacientes em diálise, sendo as principais causas de morbidade e mortalidade as doenças cardiovasculares. A hipertensão ocorre também em transplantados que pode ser induzida pelo uso de ciclosporina e outros imunossupressores, corticosteroides, rejeição, estenose de artérias renais, hipertensão essencial associada. Causas endócrinas: doenças endócrinas como a feocromocitoma (neoplasia rara, produtora de catecolaminas), hiperaldosteronismo primário, Síndrome de Cushing, Hiper e Hipotireoidismo, hiperparatireoidismo e acromegalia (excesso de produção de hormônio de crescimento) (ROBBINS, 2000; STEVENS & LOWE, 2002, SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). Volhard e Fahr, em 1914, descreveram pela primeira vez as duas formas do processo hipertensivo, benigna e maligna. Tanto a hipertensão primária ou secundária pode ser classificada nos dois tipos. Na forma benigna, os indivíduos eram mais idosos, a pressão arterial não era tão elevada e poderiam permanecer estáveis por vários anos. A morte ocorria como resultado de acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca ou falência ventricular aguda. A forma maligna ocorria em qualquer idade, com a pressão sanguínea muito elevada e associada a rápido declínio da função renal, a morte era em consequência da uremia e em pouco tempo (BORTOLOTTO, 2003). Na hipertensão benigna as alterações nos vasos sanguíneos ocorrem gradativamente, em resposta a uma pressão sanguínea elevada, persistente e estável. As alterações como a hipertrofia e espessamento da parede arterial e a arteriosclerose hialina nas pequenas artérias, levam a uma redução no lúmen afetivo, com consequente isquemia tecidual e a uma fragilidade aumentada dos vasos no cérebro, predispondo a hemorragias. A elevação súbita da pressão sanguínea na hipertensão maligna leva as alterações destrutivas, nas paredes dos pequenos vasos e, consequentemente interrupção do fluxo sanguíneo, com múltiplos focos de necrose tecidual renal. 11 Alguns órgãos apresentam produções patológicas devido à hipertensão, descritas a seguir: Coração: nos hipertensos, o aumento constante da pressão arterial ocorre hipertrofia no miocárdio do ventrículo esquerdo e havendo fluxo coronariano deficitário ocasiona doença isquêmica cardíaca. A insuficiência ventricular esquerda é o resultado comum de doença cardíaca hipertensiva. Cérebro: propensos a hemorragia intracerebral maciça por ruptura dos vasos sanguíneos intracerebrais. A lesão vascular hipertensiva constitui a causa mais comum de hemorragia cerebral. Rins: a arteriosclerose leva a uma isquemia progressiva do néfron, com eventual destruição dos glomérulos e atrofia do sistema tubular associado. Quando apresenta um número grande de néfrons não funcional em decorrência do processo isquêmico, o paciente desenvolve uma insuficiência renal crônica, comum em idosos e de meia idade. Aorta: predispõe ao desenvolvimento de ateroma grave, aneurismas dissecantes e aneurisma de aorta abdominal. Em 70% dos casos de aneurisma, a hipertensão estava envolvida (STEVENS & LOWE, 2002). 1.4 DIAGNÓSTICO A medida da pressão arterial é ainda o elemento chave para estabelecer o diagnóstico da hipertensão arterial e o método mais utilizado é o indireto, com técnica auscultatória, com esfigmomanômetro aneroide ou de coluna de mercúrio e estetoscópio. O esfigmomanômetro de coluna de mercúrio ainda é o aparelho mais adequado; o aparelho aneroide deve ser periodicamente testado e calibrado a cada seis meses. O uso de aparelhos eletrônicos afasta erros do observador e somente são indicados quando validados de acordo com as recomendações específicas e testadas periodicamente. Apesar de ser a medida mais recomendada para esse fim, vêm sendo questionada nos últimos anos, por que vários fatores podem influenciar para erros nessa medida, relacionados à: equipamentos, paciente e observador, à técnica e ao local. 12 Os erros podem ser evitados com preparo apropriado do paciente, uso de técnica padronizada de medida da pressão arterial e equipamento calibrado. A medida da pressão arterial deverá ser realizada com a pessoa sentada pelo menos 5 minutos antes, com os pés sobre o chão e os braços apoiados no nível do coração. Pelo menos duas medidas deverão ser feitas, com intervalo de um a dois minutos entre elas (NIH, 2003; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). A posição recomendada é a sentada, entretanto a medida na posição ortostática é indicada periodicamente, especialmente naquele com risco de hipotensão postural (idosos, diabéticos, alcoólicos e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva). A medida da pressão arterial na posição sentada deve ser realizada de acordo com o procedimento abaixo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). 1. Explicar o procedimento ao paciente, orientar para que não fale e descanse por 5 a 10 minutos em ambiente calmo, com temperatura agradável. Promover relaxamento, para atenuar o efeito do avental branco. 2. Certificar-se de que o paciente não está com a bexiga cheia; não praticou exercícios físicos a 60-90 minutos; não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos, ou fumou até 30 minutos antes, e não está com as pernas cruzadas. 3. Utilizar manguito de tamanho adequado ao braço do paciente, cerca de 2 a 3 cm acima da fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial. A largura da bolsa de borracha deve corresponder a 40% da circunferência do braço e o seu comprimento, envolverem pelo menos 80%. 4. Manter o braço do paciente na altura do coração, livre de roupas, com a palma da mão voltadapara cima e cotovelo ligeiramente fletido. 5. Posicionar os olhos no mesmo nível da coluna de mercúrio ou do mostrador do manômetro aneroide. 6. Palpar o pulso radial e inflar o manguito até seu desaparecimento, para a estimativa do nível da pressão sistólica; desinflar rapidamente e aguardar um minuto antes de inflar novamente. 7. Posicionar a campânula do estetoscópio suavemente sobre a artéria braquial, na fossa antecubital, evitando compressão excessiva. 8. Inflar rapidamente, de 10 em 10 mmHg, até ultrapassar, de 20 a 30 mmHg, o nível estimado da pressão sistólica. Proceder a deflação, com velocidade constante inicial de 2 a 4 13 mmHg por segundo. Após identificação do som que determina a pressão sistólica, aumentar a velocidade para 5 a 6 mmHg para evitar congestão venosa e desconforto para o paciente. 9. Determinar a pressão sistólica no momento do aparecimento do primeiro som (fase I de Korotkoff), seguido de batidas regulares que se intensificam com o aumento da velocidade de deflação. Determinar a pressão diastólica no desaparecimento do som (fase V de Korotkoff). Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa. Quando os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff), anotarem valores da sistólica/diastólica/zero. 10. Registrar os valores das pressões sistólica e diastólica, complementando com a posição do paciente, o tamanho do manguito e o braço em que foi feita a medida. Não arredondar os valores de pressão arterial para dígitos terminados em zero ou cinco. 11. Esperar 1 a 2 minutos antes de realizar novas medidas. 12. O paciente deve ser informado sobre os valores obtidos da pressão arterial e a possível necessidade de acompanhamento. A medida da pressão arterial em casa, fora do ambiente do consultório e da presença do médico é uma alternativa utilizada para eliminar alterações determinadas pelo efeito do avental branco ou do ambiente. Estudo realizado por Ayman e Goldshine comparou a pressão arterial de um grupo de hipertensos aferidos em casa e no consultório e constatou que os resultados no domicílio foram inferiores à do consultório e associou essa diferença à excitação provocada pela presença do médico (GOMES et al. 2001). No quadro 3, apresenta as vantagens relacionadas a medida residencial da pressão arterial em relação a medida em consultório. Quadro 3. Vantagens da medida residencial da pressão arterial. Maior número de medidas. Boa aceitabilidade pelo paciente. Melhor adesão ao tratamento. Boa reprodutibilidade. Afasta influência do observador e do ambiente de consultório. Atenua os erros e as preferências do observador. 14 Menor efeito placebo. Melhor correlação com lesão de órgãos-alvo. Possíveis armazenamentos, impressão e transmissão dos dados a distância. Diminui número de visitas. Outro método e a medida ambulatorial da pressão arterial (MAPA), indireta e intermitente durante 24 horas, enquanto o paciente realiza suas atividades rotineiras e também durante o sono. Este método evita a influência do observador e do ambiente de consultório na medida da pressão arterial. Além de apresentar melhor correlação com o risco cardiovascular do que a medida da pressão arterial em consultório. De acordo com as IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2002, algumas situações especiais para medida da pressão arterial como em crianças, idosos e gestantes, devem ser observadas. Em crianças recomenda-se a utilização de aparelhos com bolsa de borracha apropriada para crianças: a largura da bolsa de borracha deve corresponder a 40% da circunferência do braço e o comprimento deve envolver 80% a 100% da circunferência do braço. A pressão diastólica deve ser determinada na fase V de Korotkoff. Nos idosos, dois aspectos importantes: 1) Maior frequência de hiato auscultatório, que consiste no desaparecimento dos sons na ausculta durante a deflação do manguito, geralmente entre o final da fase I e o início da fase II dos sons de Korotkoff. Esse aspecto pode subestimar a verdadeira pressão sistólica ou superestimar a pressão diastólica. 2) A pressão arterial falsamente elevada em decorrência do enrijecimento da parede da artéria, pode ser observada pela manobra de Osler, que consiste em inflar o manguito no braço até o desaparecimento do pulso radial, se a artéria for palpável após esse procedimento, o paciente é considerado Osler positivo e sugere enrijecimento. A atenção especial é dada também em gestantes em que a recomendação é realizar a medida da pressão arterial sentada e determinar a pressão diastólica na fase V de Korotkoff. 15 1.5 DECISÃO TERAPÊUTICA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Segundo IV Diretrizes Brasileiras da Hipertensão, para tomada da decisão terapêutica é necessária a confirmação diagnóstica, seguindo-se a estratificação de risco, os valores pressóricos, a presença de lesões em órgãos-alvo, de fatores de risco cardiovasculares e doenças associadas (Quadro 4). Quadro 4: Componentes para a estratificação do risco individual dos pacientes em função da presença de fatores de risco e de lesão em órgãos-alvo. FATORES DE RISCO MAIORES Tabagismo Dislipidemias Diabetes melito Idade acima de 60 anos História familiar de doença cardiovascular em: - Mulheres com menos de 65 anos; - Homens com menos de 55 anos. LESÕES EM ÓRGÃOS-ALVO E DOENÇAS CARDIOVASCULARES Doenças cardíacas: - Hipertrofia do ventrículo esquerdo; - Angina do peito ou infarto agudo do miocárdio prévio - Revascularização miocárdica prévia; - Insuficiência cardíaca. Episódio isquêmico ou acidente vascular cerebral Nefropatia Doença vascular de extremidades Retinopatia hipertensiva 16 O risco individual dos pacientes é classificado conforme a presença de fatores de risco e de lesão em órgãos-alvo. Podem ser: Risco A, paciente sem fatores de risco e sem lesão em órgãos-alvo; Risco B, presença de fatores de risco (não incluindo diabete melito) e sem lesão em órgãos-alvo; Risco C, presença de lesão em órgãos-alvo, doença cardiovascular clinicamente identificável e/ou diabete melito. A decisão terapêutica para cada paciente deve se basear nos níveis pressóricos, presença de fatores de risco e lesões em órgãos-alvo conforme tabela quadro 5. Quadro 5. Decisão terapêutica, segundo risco e pressão arterial Pressão arterial (mmHg) Risco A Risco B Risco C Normal/limítrofe (130 – 139/85 - 89) MEV MEV MEV* Estágio 1 (140 – 159/90 – 99) MEV MEV** TM Estágio 2 e 3 (≥ 160/≥ 100) TM TM TM MEV = modificações do estilo de vida; TM = tratamento medicamentoso. * em caso de insuficiência cardíaca, insuficiência renal ou diabete melito, ** em caso de múltiplos fatores de risco. 1.6 SITUAÇÕES ESPECIAIS DE HIPERTENSÃO ◘ Hipertensão X Idosos: Estima-se que aproximadamente 65% são hipertensos. A maioria apresenta elevação isolada ou predominante da pressão sistólica. 17 O tratamento nos idosos baseado em intervenções não farmacológicas e farmacológicas reduz também a incidência de déficit cognitivo, iniciando com doses baixas e com redução gradual da pressão arterial. Estudos controlados demonstraram que a diminuição da pressão sistólica e/ou pressão diastólica reduz a morbimortalidade com diferentes agentes: diuréticos tiazídicos, betabloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio de longa ação, inibidores da enzima conversora da angiotensina e antagonistas do receptor AT da angiotensina II e hipertensos com insuficiência cardíaca. A coexistência de outros fatores de risco (dislipidemia, diabetes, hipertrofia ventricular esquerda, obesidade e tabagismo) é muito mais comum neste grupo e deve ser abordadaem conjunto. Deve-se lembrar da possibilidade de ocorrência de grande variabilidade da pressão arterial e hipotensão ortostática, em virtude a alteração dos barorreflexos. A mensuração da PA com o paciente de pé é recomendável, além da posição sentada. Também é importante a lembrança da ocorrência de pseudo-hipertensão pelo enrijecimento das paredes das artérias periféricas e da possibilidade maior de ocorrência de hiato auscultatório durante o exame. ◘ Hipertensão X Crianças e adolescentes A prevalência de hipertensão arterial em crianças e adolescentes pode variar de 2% a 13%, sendo obrigatória a medida anual da pressão arterial a partir de três anos de idade em consultório e em ambiente escolar. Os fatores de risco cardiovascular são importantes observações (como obesidade e hiperlipidemia) para medidas de prevenção e tratamento precoce. O tratamento não farmacológico é obrigatório a partir do percentil 90 de pressão sistólica/diastólica, em especial a correção do excesso de peso. Quando o paciente for mais jovem e com valores altos de pressão arterial, há possibilidade de hipertensão secundária, com maior prevalência das causas renais. Nesse caso é frequente o uso de anti-hipertensivo. 18 Não há estudos sobre o uso de anti-hipertensivos em crianças e adolescentes de longo prazo, sendo utilizados os critérios para adultos (LIMA, 2004; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002) ◘ Hipertensão X Gravidez A incidência de hipertensão arterial na gestação é de 10%. As complicações, podendo levar a morte, podem ser: eclâmpsia, hemorragia cerebral, edema agudo dos pulmões, insuficiência renal aguda e coagulopatias. Caracteriza-se HAS na gravidez quando a pressão arterial sistólica estiver maior que 140 mmHg e a diastólica maior que 90 mmHg em duas tomadas, com intervalo de 4h, em repouso, ou quando houver aumento >30mmHg na PAS e/ou aumento >15mmHg na PAD, em relação a conhecidos níveis prévios à gestação (AVILA, 1999). As duas formas de hipertensão: hipertensão preexistente (crônica) e hipertensão induzida pela gravidez (pré-eclâmpsia/eclâmpsia) podem complicar a gravidez. A hipertensão arterial crônica na gravidez corresponde às alterações presentes antes ou diagnosticada até a vigésima semana da gestação. Em pacientes com uso de medicamentos anti-hipertensivos, a medicação pode ser diminuída ou sua suspensão em função da hipotensão materna. O medicamento mais utilizado na gravidez é alfametildopa, por ser bem estudada e não haver evidência de efeitos teratogênicos. Outro medicamento utilizado, os bloqueadores dos canais de cálcio a partir do 2º trimestre e, com considerações, os beta-bloqueadores. Os inibidores da enzima conversora e os bloqueadores dos receptores AT1 têm contraindicação absoluta. Diuréticos não devem ser usados, exceto quando já estiverem sendo administrados antes da gestação, em pacientes sensíveis ao sal ou na evidência de congestão pulmonar. A pré-eclâmpsia e eclâmpsia geralmente ocorre após 20 semanas de gestação, caracterizada pelo desenvolvimento da hipertensão e proteinúria. A interrupção da gravidez é o tratamento definitivo na pré-eclâmpsia e deve ser considerada em todos os casos com maturidade fetal assegurada. A hipertensão grave é frequentemente tratada com hidralazina endovenosa. A hipertensão crônica na gravidez deve ser controlada em níveis de cerca de 20 a 30% dos níveis pressóricos prévios em 2 a 3 horas. 19 ◘ Hipertensão X Obesidade O mecanismo exato pelo qual a obesidade altera a pressão arterial não está totalmente esclarecido, mas estudos demonstraram que o excesso de peso o faz aumentar. A obesidade está relacionada ao aumento do débito cardíaco, resistência vascular periférica e fluxo sanguíneo regional, promovendo a expansão do volume extracelular e alteração da função renal (YUGAR-TOLEDO, 2003). Outro fator é a atividade plasmática da renina que está aumentada em obesos, também esses pacientes apresentam maior resistência insulínica. Há uma forte associação entre obesidade central e hiperinsulinemia, resistência à insulina, dislipidemia, diabete do tipo 2, hipertensão e morbimortalidade cardiovascular. No estudo de Framingham, aproximadamente 78% dos casos de hipertensão arterial em homens e 65% em mulheres foram atribuídos diretamente à obesidade. Nesse estudo, foi calculado que para cada Kg de peso ganho, a pressão arterial (PA) sistólica aumenta em média 1mmHg (LOPES, 2003). A redução de peso é a maneira não farmacológica mais efetiva para diminuir a PA. ◘ Hipertensão X Diabetes mellitus Diabetes mellitus é outra patologia bastante comum na atualidade e constata-se a presença de hipertensão, tanto no tipo 1 como no tipo 2. A hipertensão e a diabetes constituem em principais causas de insuficiência renal crônica A prevalência de hipertensão para os que não dependem de insulina é de duas vezes, maior que aquela observada na população geral. Na diabete tipo 1, a hipertensão associa-se a nefropatia diabética e se faz necessário o controle rigoroso da pressão arterial para retardar a perda renal. Na diabete tipo 2 está relacionada a resistência à insulina e ao alto risco cardiovascular. Um possível mecanismo da insulina na hipertensão é que a hiperinsulinemia crônica exerce ação trófica na musculatura do vaso sanguíneo e isso pode resultar no aumento da resistência vascular e, consequentemente aumento da pressão arterial (LOPES, 2003). A terapêutica terá tanto medidas não farmacológicas (atividade física regular e dieta apropriada), como do uso de medicamentos anti-hipertensivos, pois o controle da glicemia 20 contribui para a redução da pressão arterial. Recomenda-se que a pressão arterial seja reduzida a valores inferiores a 130/85 mmHg e a 125/75 mmHg, se houver proteinúria menor de 1 grama/24 horas. Todos os medicamentos utilizados para a hipertensão podem ser usados no diabetes, porém há evidências que alguns medicamentos podem apresentar os efeitos metabólicos adversos que poderão interferir no controle glicêmico dos pacientes como, por exemplo: os diuréticos e betabloqueadores que podem piorar a tolerância à glicose, induzir ou agravar a resistência à insulina. A preferência deve ser para aqueles medicamentos com menos efeitos metabólicos e colaterais. As opções são os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), os antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II, os bloqueadores dos canais de cálcio, os inibidores adrenérgicos e os vasodilatadores, sendo que os dois últimos podem exacerbar a disfunção sexual ou a hipotensão postural. Estudos demonstram que os medicamentos IECA não interferem no metabolismo glicêmico, reduzem à insulina e o risco de eventos cardiovasculares em pacientes hipertensos ou de alto risco cardiovascular; também possui fator de proteção renal em diabéticos tipo 1 com nefropatia diabética. Os antagonistas do receptor AT1, da angiotensina II, apresentaram ser nefroprotetor renal em diabéticos tipo 2 (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). ◘ Hipertensão X Dislipidemia As dislipidemias, alterações metabólicas lipídicas decorrentes de distúrbios em qualquer fase do metabolismo lipídico, podem ocorrer à custa de: · Aumento do colesterol total ou LDL-colesterol; Aumento de colesterol e triglicérides; Redução isolada da HDL ou associada ao aumento dos triglicérides ou LDL. Os aumentos do colesterol total, do colesterol LDL, dos triglicerídeos e diminuição do HDL colesterol estão associados com a obesidade. Uma moderada redução de peso (10%) reduz significativamente a dislipidemia. As medidas não farmacológicas (dieta, redução de peso e exercícios) são fundamentais. 21 A associação entre hipertensão e dislipidemia é frequente e o uso de medicamentos hipolipemiantes, especialmente vastatinas, tem demonstrado grande benefício sobre amorbimortalidade cardiovascular. Os medicamentos anti-hipertensivos como os inibidores da enzima conversora, bloqueadores de canais de cálcio e alfa-2-agonistas não interferem na lipemia. 22 2 TERAPÊUTICA ANTI-HIPERTENSIVA A terapêutica baseia-se em quatro medidas: - Gerais, não farmacológicas ou mudanças no estilo de vida; - Remoção da causa, quando for identificada; - Farmacológica; - Adesão ao tratamento. A hipertensão essencial, muitas vezes, assintomática, necessita além de mudanças no estilo de vida, de tratamento contínuo e adequado para reduzir e controlar a pressão arterial. Pesquisas demonstraram a contribuição da terapêutica anti-hipertensiva na redução das complicações cardiovasculares da hipertensão arterial, prevenindo a hipertrofia ventricular esquerda e a insuficiência cardíaca congestiva mesmo em idosos. A meta-análise de três estudos realizados em idosos (Systolic Hypertension in the Elderly Program – SHEP; Medical Research Council – MRC e o STOP – Hypertension) concluiu que a redução dos acidentes vasculares cerebrais fatais e não fatais era significativa em torno de 35% e de 16% para os acidentes cardíacos fatais (SOARES 1997). A adesão ao tratamento da hipertensão arterial, como de outras doenças de longa duração, é condição fundamental para o controle dos níveis de pressão arterial e a regressão de lesões degenerativas nos chamados órgãos-alvo (coração, rins e pulmão). No entanto, resultados em longo prazo, como a redução de ocorrência de doença cardiovascular, debilidade e morte, que caracterizam a relação custo-benefício satisfatória só são obtidas em anos (KRASILCIC, 2001). 2.1 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO O tratamento não farmacológico pode controlar a hipertensão leve e quando associado com o medicamento pode melhorar ou controlar o controle do paciente com hipertensão moderada/grave. 23 Uma das primeiras medidas na prevenção e tratamento da hipertensão arterial envolve mudança no estilo de vida. Nesse processo que inclui ações educativas deverá atender o paciente individualmente e estendendo a comunidade por longo tempo. Porém, é lenta e nem sempre é mantida continuamente, havendo necessidade do trabalho da equipe multiprofissional. As medidas como a redução do peso, a redução do sódio da dieta e a prática regular de atividade física são as que destacam na melhoria do controle da pressão arterial e comprovada por intermédio de estudos. O sedentarismo nas sociedades modernas parece ser um dos fatores de risco cardiovascular mais prevalente em São Paulo (69%) do que o fumo (38%), hipertensão (22%), obesidade (18%) e o alcoolismo (8%). Pessoas sedentárias apresentam de 60% a 70% maior o risco de desenvolver hipertensão do que em indivíduos que praticam exercícios físicos regulares (IRIGOYEN et al, 2003). O excesso de peso é um fator predisponente para a hipertensão e estima-se que 20% a 30% dos indivíduos hipertensos podem ter essa associação. O mecanismo do efeito do excesso de peso na pressão arterial não está bem estabelecido, porém o aumento do volume plasmático e do débito cardíaco está associado ao ganho de peso. Outro dado é que a obesidade abdominal constitui em importante causa para hipertensão, demonstrado em estudos clínicos pelo aumento da atividade simpática, de ácidos graxos não esterificados, de aldosterona plasmática e resistência à insulina (LOPES et al, 2003). A importância na redução do peso para o hipertenso é grande, pois pequena perda de peso já resulta em diminuição da pressão arterial. Dieta pobre em calorias resulta em natriurese na fase inicial, o que resulta em perda de peso, além da diminuição da atividade simpática e aumento da sensibilidade à insulina que auxiliam na queda da pressão. O estudo DASH (Dietary Approachs to Stop Hypertension) mostrou redução da pressão arterial em indivíduos que ingeriram dieta com frutas, verduras, derivados de leite desnatado, quantidade reduzida de gorduras saturadas e colesterol. A conduta alimentar básica em pacientes com hipertensão arterial deve: Controlar/manter peso corporal em níveis adequados; Reduzir a quantidade de sal na elaboração de alimentos; Utilizar de maneira restrita os embutidos, conservas, enlatados, defumados e salgados tipo “snaks”; Limitar ou abolir o uso de bebidas alcoólicas; 24 Dar preferência a temperos naturais como: limão, ervas, alho, cebola, salsa e cebolinha, ao invés de similares industrializados; Substituir doces e derivados do açúcar por carboidratos complexos e frutas; Incluir, pelo menos, cinco porções de frutas/verduras no plano alimentar diário, com ênfase nos vegetais verdes ou amarelos e nas frutas cítricas; Optar por alimentos com reduzido teor de gordura e, preferencialmente, do tipo mono ou poli-insaturada, presentes nas fontes de origem vegetal exceto dendê e coco; Manter ingestão adequada de cálcio pelo uso de produtos lácteos, de preferência desnatados; Consumir mais as formas de assados, crus e grelhados; Estabelecer um plano alimentar capaz de atender às exigências de uma alimentação saudável, do controle do peso corporal, das preferências pessoais e do poder aquisitivo do indivíduo/família. 2.1.1 Redução ou abandono do consumo de bebida alcoólica Ensaios clínicos demonstraram que a redução da ingestão de álcool pode reduzir a pressão arterial em homens normotensos e hipertensos que consomem grandes quantidades de bebidas alcoólicas. É recomendado limitar a ingestão de bebida alcoólica a 30 ml/dia de etanol para homens e a metade dessa quantidade para mulheres ou o abandono do consumo de bebidas alcoólicas. 2.1.2 Abandono do tabagismo O risco associado ao tabagismo é proporcional ao número de cigarros fumados e à profundidade da inalação e parece ser maior em mulheres do que em homens. 25 Observou-se também por meio da avaliação por MAPA (Medida ambulatorial da pressão arterial) que a sistólica dos hipertensos fumantes foi mais elevada do que em não fumantes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). 2.1.3 Uso de alimentos com redução de sal A relação do efeito do sal e pressão arterial foi reconhecida em países ocidentais a partir do século XX, porém já havia sido descrita em manuscritos chineses. Os indivíduos sal-sensíveis apresentam uma maior predisposição em desenvolver hipertensão por ingestão de sal. Outro achado é que 30% a 60% dos pacientes com hipertensão essencial são sal-sensíveis. (IRIGOYEN et al, 2003). Vários estudos epidemiológicos e observacionais revelaram os efeitos benéficos da redução do sal, como: Menor prevalência de complicações cardiovasculares; Redução da pressão arterial; Menor acréscimo da pressão arterial com o envelhecimento; Possibilidade de prevenção do aumento da pressão arterial; A quantidade de sal na dieta nos diferentes trabalhos é variável. Uma dieta com aproximadamente 6,7 g/dia (1 colher de chá ) por 28 dias produz diminuição de 3,9 mmHg (95% Cl 1,3 a 4,8 mmHg) na sistólica e 1,9 mmHg (95% 1,3 a 2,5 mmHg) na diastólica. Em idosos, restrições menores de sal na dieta, também demonstrou efeito significativo sobre a pressão arterial. 2.1.4 Suplementação de potássio A suplementação de potássio produz redução modesta da pressão arterial. O uso de medicamentos à base de potássio deve ser com cautela em indivíduos susceptíveis a 26 hiperpotassemia, principalmente em pacientes com insuficiência renal ou em uso de inibidor da enzima conversora da angiotensina II (ECA), antagonista do receptor AT1 da angiotensina II (AII) ou diuréticos poupadores de potássio. A ingestão de potássio pode ser aumentada pela escolha de alimentos pobres em sódio e ricos em potássio, como feijões, ervilha, vegetaisde cor verde escura, banana, melão, cenoura, beterraba, frutas secas, tomate, batata inglesa e laranja. 2.1.5 Suplementação de cálcio e magnésio Suplementação de cálcio pela dieta contribui de forma modesta para a redução da pressão arterial. A dieta com frutas, verduras e laticínios de baixo teor de gorduras, que apresentam quantidades apreciáveis de cálcio, magnésio e potássio, proporciona efeito favorável em relação à pressão arterial e acidente vascular cerebral. 2.1.6 Atividade física Os exercícios físicos diminuem a pressão arterial e podem reduzir o risco de doença coronariana, acidentes vasculares cerebrais e mortalidade geral. Por isso são indicados que os pacientes hipertensos iniciem programas de exercícios físicos regulares, antes, porém devem ser submetidos à avaliação clínica. O treinamento físico caracterizado pela realização de um programa regular promove redução da pressão arterial no pós-exercício e no período de repouso. Os programas de exercícios físicos, para a prevenção primária ou secundária de doenças cardiovasculares, devem contar com atividades aeróbicas dinâmicas, tais como caminhadas rápidas, corridas leves, natação e ciclismo. A frequência recomendada é de três a seis vezes por semana, intensidade moderada e sessões de 30 a 60 minutos de duração. Para o controle da intensidade do exercício pode ser utilizada tanto a frequência cardíaca como o consumo de oxigênio (60% a 80% da frequência cardíaca máxima ou 50% a 27 70% do consumo máximo de oxigênio). Exercícios de resistência muscular localizada podem ser realizados com sobrecarga que não ultrapasse 50% da contração voluntária máxima. Essas recomendações têm se mostrado efetivas e devem ser consideradas inclusive para pacientes sob tratamento com anti-hipertensivo. 2.1.7 Drogas que podem elevar a pressão arterial O uso das seguintes drogas pode elevar a pressão arterial devendo ser evitadas ou descontinuadas: anticoncepcionais orais, anti-inflamatórios não esteroides, anti-histamínicos descongestionantes, antidepressivos tricíclicos, corticoides, esteroides anabolizantes, vasoconstritores nasais, ciclosporina, inibidores da monoaminoxidase (IMAO), chumbo, cádmio, alcaloides derivados do “ergot”, moderadores do apetite, antiácidos ricos em sódio e cocaína. 2.2 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO O objetivo primordial do tratamento da hipertensão arterial é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular do paciente hipertenso. São utilizadas tanto medidas não medicamentosas isoladas como associadas a fármacos anti-hipertensivos. Os medicamentosos anti-hipertensivos devem promover a redução dos níveis pressóricos e também dos eventos cardiovasculares fatais e não fatais. As evidências provenientes de estudos de desfecho clinicamente relevantes, com duração média relativamente curta (três a quatro anos), demonstram reduzir morbidade e mortalidade em muitos trabalhos com diuréticos, com betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da angiotensina, antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II e em pacientes mais idosos, com bloqueadores dos canais de cálcio. Muitos desses utilizam associação de medicamentos anti-hipertensivos. 28 O medicamento anti-hipertensivo deve: Ser eficaz por via oral; Ser bem tolerado; Permitir a administração em menor número possível de tomadas diárias, com preferência para aqueles com posologia de dose única diária; Iniciar com as menores doses efetivas preconizadas para cada situação clínica, podendo ser aumentadas gradativamente. Deve-se levar em conta que quanto maior a dose, maior será a probabilidade de efeitos adversos. O paciente deve ser instruído sobre a doença hipertensiva, particularizando a necessidade do tratamento prolongado, a possibilidade de efeitos adversos dos medicamentos utilizados, a planificação e os objetivos terapêuticos. Os anti-hipertensivos são classificados em: Diuréticos; Inibidores adrenérgicos; Vasodilatadores diretos; Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA); Bloqueadores dos canais de cálcio; Antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II (GRAHAME-SMITH & ARONSON, 2004; KATZUNG, 2001). 2.2.1 Medicamentos anti-hipertensivos a) Diuréticos A ação de medicamento anti-hipertensivo dos diuréticos está relacionada, em uma primeira fase, à depleção de volume e, a seguir, à redução da resistência vascular periférica decorrente de mecanismos diversos. Os diuréticos são eficazes na hipertensão arterial, em 10 a 15 mmHg, tendo sido comprovada sua eficácia na redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. Como anti-hipertensivos, são preferidos os diuréticos tiazídicos e similares em baixas doses. Os 29 diuréticos de alça (furosemida) são reservados para situações de hipertensão associada à insuficiência renal e cardíaca. Os diuréticos poupadores de potássio apresentam pequena potência diurética, mas, quando associados à tiazídicos e diuréticos de alça, são úteis na prevenção e no tratamento de hipopotassemia. Seu uso em pacientes com redução da função renal pode acarretar hiperpotassemia. As reações adversas mais comuns são a hipopotassemia e, às vezes, hipomagnesemia que pode induzir arritmias ventriculares e a hiperurecemia. O emprego de baixas doses diminui o risco de efeitos adversos, sem prejuízo da eficácia anti-hipertensiva. Os diuréticos também podem provocar intolerância à glicose, além de promover aumento de triglicérides, em geral dependente da dose. b) Inibidores adrenérgicos Medicamentos de ação central: alfametildopa, clonidina, guanabenzo e/ou receptores imidazólicos, como a monoxidina rilmenidina. Atuam estimulando os receptores alfa-2- adrenérgicos pré-sinápticos no sistema nervoso central reduzindo o tônus simpático. A ação anti-hipertensiva da metildopa é devida a diminuição da resistência vascular periférica, com redução variável na frequência cardíaca e no débito cardíaco. A clonidina reduz a pressão alta pela diminuição do débito cardíaco, devido à frequência cardíaca diminuída e relaxamento dos vasos da capacitância, com redução da resistência vascular periférica, sobretudo quando os pacientes estão em posição ereta ao contrário da metildopa que não depende tanto da postura ereta. As reações adversas são decorrentes da ação central, como sonolência, sedação, boca seca, fadiga, cansaço mental, hipotensão postural em algumas vezes e disfunção sexual. Pacientes tratados com metildopa pode ocorrer galactorreia tanto em homens como em mulheres. A interrupção da clonidina após uso prolongado e em doses altas pode resultar em crise hipertensiva mediada por um aumento da atividade simpática. ▪ Alfa-1-bloqueadores: Doxazosina, prazosina, trimazosina. Produzem a maior parte do efeito anti-hipertensivo, ao bloquearem os receptores alfa1, nas arteríolas e vênulas. Ocorre retenção de sal e de líquidos quando são administrados sem o uso de diuréticos. Esses medicamentos são mais eficazes em associação com 30 betabloqueadores ou diuréticos. Pode induzir o aparecimento de tolerância farmacológica, o que exige o uso de doses crescentes. Esse grupo tem a vantagem de propiciar melhora discreta do metabolismo lipídico e dos sintomas clínicos em pacientes com hipertrofia prostática benigna, relaxando a musculatura da próstata e da bexiga. Anti-inflamatórios não esteroidais e drogas simpaticomiméticas podem reduzir os seus efeitos anti-hipertensivos. As reações adversas mais comumente encontradas são: hipotensão, tonteira, palpitações, cefaleia e fadiga. ▪ Betabloqueadores: propranolol, atenolol, bisoprodol, metoprolol, betaxolol, nadolol. Medicamentos desse grupo possuem ações que envolvem a diminuição inicial do débito cardíaco, redução da secreção da renina, readaptação dos barorreceptores e diminuiçãodas catecolaminas nas sinapses nervosas. Constituem a primeira opção na hipertensão arterial e têm eficácia também na redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. Os betabloqueadores se subdividem em cardiosseletivos (Atenolol, Metoprolol) e não cardiosseletivos (Propranolol) de acordo com a atividade bloqueadora beta-2. Estudos em pacientes asmáticos mostraram que o metoprolol provoca menos constrição brônquica que o propranolol, entretanto a cardiosseletividade não é completa e tem exacerbado os sintomas asmáticos. As principais reações adversas são broncoespasmo, bradicardia excessiva, distúrbios da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão-psíquica, astenia e disfunção sexual. Podem acarretar também intolerância à glicose, hipergliceridemia e redução de HDL- colesterol. Esse efeito está relacionado à dose e à seletividade, sendo quase inexistente com o uso de baixas doses de betabloqueadores cardiosseletivos. A importância clínica das alterações lipídicas induzidas por betabloqueadores ainda não está comprovada. Os betabloqueadores são formalmente contraindicados a pacientes com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica e bloqueio atrioventricular de 2º e 3º graus. A utilização em pacientes com doença vascular de extremidades deve ser com cautela. A suspensão brusca 31 desse medicamento pode provocar hiperatividade simpática com hipertensão rebote e/ou manifestações de isquemia miocárdica. c) Vasodilatadores diretos orais Atuam sobre a musculatura da parede vascular, promovendo relaxamento muscular com consequente vasodilatação e redução da resistência vascular periférica. Como monoterapia pode ocorrer retenção hídrica e taquicardia reflexa. Os vasodilatadores atuam melhor quando utilizados em associação com diuréticos e/ou betabloqueadores. Os medicamentos desse grupo mais utilizados são a hidralazina e minoxidil. Os vasodilatadores parenterais como nitroprussiato, diazoxido e fenoldopam são utilizados nas emergências hipertensivas. O nitroprussiato de sódio também relaxa as veias além das arteríolas. As reações adversas mais comuns da hidralazina consistem em cefaleia, náusea, anorexia, palpitações, sudorese, rubor, em pacientes com cardiopatia isquêmica podem provocar angina pela taquicardia reflexa e estimulação simpática. No uso de minoxidil aparece também a hipertricose. O efeito adverso do diazóxido que mais precisa de atenção tem sido a hipotensão excessiva, pois podem ocorrer acidentes vasculares cerebrais e infarto do miocárdio. Nitroprussiato de sódio deve ser utilizado com cautela em pacientes com hepatopatias e nefropatias. Pode ocorrer acúmulo de cianeto em casos graves de toxidade e ocorrer acidose metabólica, hipotensão excessiva e morte, sendo um evento raro (OSTINI et al, 1998, KATZUNG, 2001). d) Bloqueadores de canais de cálcio Os bloqueadores de canais de cálcio além de produzir efeitos antianginosos e antiarrítmicos também dilatam as arteríolas periféricas e reduzem a pressão arterial. O mecanismo de ação é pela redução da resistência vascular periférica por diminuição da concentração de cálcio nas células musculares lisas vasculares. Apresenta três subgrupos: Fenilalquilaminas (Verapamil); Benzotiazepinas (Diltiazem); Diidropiridinas (Amlodipina, nifedipina). 32 A nifedipina e outros agentes di-idropiridínicos são mais seletivos como vasodilatadores e exercem menos efeito depressor cardíaco do que o verapamil e o diltiazem. O verapamil tem maior efeito sobre o coração e pode diminuir a frequência e o débito cardíaco. A ação do diltiazem é intermediária. Os bloqueadores de canais de cálcio de ação longa proporcionam um controle mais uniforme da pressão arterial e são apropriados na hipertensão crônica. e) Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) Atuam no sistema renina-angiotensina, inibindo a enzima conversora peptidil dipeptidase, que hidrolisa a angiotensina I em angiotensina II. A atividade hipotensora resulta de uma ação inibitória do sistema renina-angiotensina e de uma ação estimulante no sistema calicreína-cinina com diminuição da redução vascular periférica e diminuição da pressão arterial. Os inibidores da ECA compreendem medicamentos tais como: captopril, enalapril, lisinopril, e os membros de ação longa, recentemente introduzidos (benazepril, fosinopril, moexipril, perindopril, quinapril, ramipril e o trandolapril). Possui um papel importante no tratamento de pacientes com nefropatia diabética, diminuindo a proteinúria e estabilizando a função renal. Não produzem ativação simpática reflexa, ao contrário dos vasodilatadores diretos, podendo ser usados em indivíduos com cardiopatia isquêmica. Os efeitos adversos podem ser: hipotensão grave no início do tratamento com inibidor da ECA em pacientes com hipovolemia decorrente de diuréticos, restrição de sal ou diarreia. Outros efeitos adversos comuns são a hipocalemia, tosse seca e angioedema. São contraindicados na gravidez em virtude ao risco de hipotensão fetal, anúria e insuficiência renal, malformações ou morte do feto. A interação com anti-inflamatórios não esteroides podem comprometer o efeito hipotensor dos inibidores da ECA, ao bloquear a ação da bradicinina, que em parte é mediada por prostaglandinas. f) Antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II Losartan, valsartan, candesartan, eprosartan, irbesartan e telmisartan, sendo que os dois do início da lista foram os primeiros a serem comercializados. 33 Atuam impedindo a ação da angiotensina II por meio do bloqueio específico de seus receptores AT1, não possuem efeito sobre a bradicinina, portanto são bloqueadores mais seletivos dos efeitos da angiotensina do que os inibidores da ECA. Apresentam ser nefro e cardioprotetores, no diabético tipo 2 com nefropatia estabelecida. Outro dado importante foi o estudo realizado com losartan que demonstrou uma redução maior na morbidade e mortalidade cardiovascular quando comparada com atenolol, principalmente na redução de acidente vascular cerebral. Os medicamentos desse grupo têm boa aceitação e alguns de seus efeitos adversos são tonturas e raramente reação de hipersensibilidade cutânea. Ainda possui pouca experiência com esses medicamentos, porém estão indicados para pacientes com indicação do inibidor da ECA e nos quais o efeito adverso (tosse irritante) do inibidor da ECA seja inaceitável (GRAHAME-SMITH & ARONSON, 2004; KATZUNG, 2001; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). Qualquer grupo de medicamentos, com exceção dos vasodilatadores de ação direta, pode ser apropriado para o controle da pressão arterial em monoterapia inicial, especialmente para pacientes com hipertensão em estágio I (leve) que não responderam as medidas não medicamentosas. Entretanto, a monoterapia inicial é eficaz em apenas 40% a 50% dos casos. As associações de fármacos anti-hipertensivos são utilizadas em pacientes estágios II e III como terapia inicial. O uso do segundo medicamento em geral é feito a escolha de acordo com as necessidades do paciente, ou seja, se já estiver tomando um diurético ou inibidor da ECA, geralmente realiza-se esta combinação por duas razões: a ação dos inibidores da ECA é aumentada pela redução do volume produzido pelo diurético e os inibidores da ECA provocam retenção de potássio através da secreção da aldosterona, contrabalançando a depleção de potássio do diurético. A seguir a tabela 1 com os medicamentos anti-hipertensivos disponíveis no Brasil (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). 34 Tabela 1 – Agentes anti-hipertensivos disponíveis no Brasil Medicamentos Posologia(mg) Número de M íni- m a M áxi- m a tomadas/dia Diuréticos Tiazídicos: Clortalidona 1 2,5 2 5 1 Hidroclorotiazida 1 2,5 5 0 1 Indapamida 2 ,5 5 1 IndapamidaSR 1 ,5 3 1 De Alça: Bumetamida 0 ,5 * * 1 - 2 Furosemida 2 0 * * 1 - 2 Piretanida 6 1 2 1 Poupadores de Potássio: Amilorida (em associação) 2 ,5 5 1 Espironolactona 5 0 1 00 1 - 3 Triantereno (em associação) 5 1 1 35 0 50 Inibidores Adrenérgicos Ação central: Alfametildopa 2 50 1 500 2 - 3 Clonidina 0 ,1 0 ,6 2 - 3 Guanabenzo 4 1 2 2 - 3 Moxonidina 0 ,2 0 ,4 1 Rilmenidina 1 2 1 Alfa – 1 bloqueadores: Doxazosina (urodinâmica) 2 4 2 - 3 Prazosina 1 1 0 2 - 3 Trimazosina (urodinâmica) 2 1 0 2 - 3 Betabloqueadores: Atenolol 2 5 1 00 1 - 2 Bisoprolol 2 ,5 1 0 1 - 2 Metoprolol 5 0 2 00 1 - 2 Nadolol 2 0 8 0 1 - 2 Propranolol 4 0 2 40 2 - 3 Pindolol (com ASI) 5 2 0 1 - 3 36 Vasodilatadores Diretos Hidralazina 2 0 2 00 2 - 3 Minoxidil 2 ,5 4 0 2 - 3 Bloqueadores dos canais de cálcio Fenilalquilaminas: Verapamil Coer* 1 20 3 60 1 Verapamil Retard* 1 20 4 80 1 - 2 Benzoatiazepinas: Diltiazem SR* ou CD* 1 20 3 60 1 - 2 Di-idropiridinas: Amlodipina 2 ,5 1 0 1 Felodipina 5 2 0 1 Isradipina 2 ,5 1 0 2 Lacidipina 4 8 1 - 2 Nifedipina Oros* 3 0 6 0 1 Nifedipina Retard* 2 0 4 0 1 - 2 Nisoldipina 1 0 3 0 1 Nitrendipina 2 0 4 0 2 - 3 Lercanidipina 1 2 1 37 0 0 Manidipina 1 0 2 0 1 Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) Benazepril 5 2 0 1 - 2 Captopril 2 5 1 50 2 - 3 Cilazapril 2 ,5 5 1 - 2 Delapril 1 5 3 0 1 - 2 Enalapril 5 4 0 1 - 2 Fosinopril 1 0 2 0 1 - 2 Lisinopril 5 2 0 1 - 2 Quinapril 1 0 2 0 1 Perindopril 4 8 1 Ramipril 2 ,5 1 0 1 - 2 Trandolapril 2 4 1 Antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II Candesartan 8 1 6 1 Irbesartan 1 50 3 00 1 Losartan 5 1 1 38 0 00 Telmisartan 4 0 8 0 1 Valsartan 8 0 1 60 1 *Retard, SR, Coer, Oros: referem-se a preparações farmacêuticas de liberação lenta e ação prolongada. **Variáveis de acordo com a indicação clínica. ASI – Atividade Simpatomimética Intrínseca. A seguir na tabela 2, as associações fixas encontradas no Brasil (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). Tabela 2 – Associações fixas de anti-hipertensivos disponíveis no Brasil Associações Posologia(mg) Betabloqueador + diurético Atenolol + Clortalidona 25 + 12,5 50 + 12,5 100 + 25 Bisoprolol + hidroclorotiazida 2,5 + 6,25 5 + 6,25 10 + 6,25 Metoprolol + hidroclorotiazida 50 + 25 Pindolol + clopamina 10 + 5 Propranolol + hidroclorotiazida 40 + 25 80 + 25 39 Inibidor adrenérgico de ação central + diurético Alfametildopa + hidroclorotiazida 250 + 25 Inibidor da ECA + diurético Benazepril + hidroclorotiazida 5 + 6,25 10 + 12,5 Captopril + hidroclorotiazida 50 + 25 Cilazapril + hidroclorotiazida 5 + 12,5 Enalapril + hidroclorotiazida 10 + 25 20 + 12,5 Fosinopril + hidroclorotiazida 10 + 12,5 Lisinopril + hidroclorotiazida 10 + 12,5 20 + 12,5 Perindopril + Indapamida 2 + 0,625 Ramipril + hidroclorotiazida 5 + 12,5 Antagonista do receptor AT1 da Angiotensina II + diurético Candesartan + hidroclorotiazida 8 + 12,5 Irbesartan + hidroclorotiazida 150 + 12,5 300 + 12,5 Losartan + hidroclorotiazida 50 + 12,5 100 + 25 Valsartan + hidroclorotiazida 80 + 12,5 160 + 12,5 Telmisartan + hidroclorotiazida 40 + 12,5 80 + 12,5 Antagonista dos canais de cálcio + betabloqueador 40 nifedipina + atenolol 10 + 25 20 + 50 Antagonista dos canais de cálcio + inibidor da enzima conversora da angiotensina amlodipina + Enalapril 2,5 + 10 5 + 10 5 + 20 2.2.2 Urgências e emergências hipertensivas As situações de urgências e emergências hipertensivas requerem intervenção médica imediata na redução dos níveis pressóricos: em horas na emergência e dias na urgência, pois pode haver risco de vida imediato ou potencial. Os níveis tensionais apresentam na diastólica em geral acima de 120 mmHg e em casos recentes menos elevados. Nas urgências hipertensivas o controle da pressão arterial deve ser feito em até 24 horas, com monitorização inicial por 30 minutos. Preconiza-se, por via oral, a administração de um dos seguintes medicamentos: Diuréticos de alça; Betabloqueador; Inibidor da enzima conversora da angiotensina; Clonidina; Bloqueador dos canais de cálcio. O uso sublingual de nifedipina de ação rápida foi largamente utilizado para este fim, no entanto foram descritos efeitos adversos graves com esse uso, como a ocorrência de acidentes vasculares pela dificuldade de ajustar a dose e do efeito residual em casos de hipotensão, sendo preferido o uso de medicamentos parenterais. 41 Outra situação que demanda redução mais rápida da pressão arterial, em menos de uma hora é dita de emergência hipertensiva. É resultado de uma elevação abrupta da pressão arterial com distúrbios da autorregulação do fluxo cerebral e evidências de lesão vascular que resulta em quadro clínico de encefalopatia hipertensiva, lesões hemorrágicas dos vasos da retina e papiledema. Pode evoluir para valores muito alto de pressão arterial em hipertensos crônicos ou menos elevado em pacientes hipertensos recentes como em casos de eclâmpsia, glomerulonefrite aguda, uso de certas drogas (cocaína), entre outras. Quando há risco iminente à vida ou de lesão orgânica irreversível, o paciente deve ser hospitalizado e tratado com vasodilatadores, por via intravenosa: Nitroprussiato de sódio; Hidralazina; Diazóxido; Nitroglicerida. Depois de obtida a redução imediata dos níveis pressóricos, deve-se iniciar a terapia anti-hipertensiva de manutenção e interromper a medicação parenteral (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002; SANTELLO & PRAXEDES, 2003). 2.2.3 Interações medicamentosas Há possibilidade de interação medicamentosa nos casos de patologia crônica como a hipertensão arterial, pois além de utilizar medicamentos de uso contínuo muitas vezes o hipertenso necessita de outros medicamentos para tratamento de doenças associadas e/ou complicações decorrentes da patologia. A preocupação com interação medicamentosa torna-se importante para estimar a previsibilidade das interações entre fármacos e aplicar medidas preventivas. A seguir a tabela 3, apresenta as principais interações dos anti-hipertensivos disponíveis no mercado brasileiro (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). 42 Tabela 3 – Anti-hipertensivos: Interações medicamentosas Anti-hipertensivo Fármacos Efeitos Diuréticos Tiazídicos e de alça Digitálicos Intoxicação digitálica por hipopotassemia Anti-inflamatórios esteroides e não esteroides Antagonizam o efeito diurético Hipoglicemiantes orais Efeito diminuído pelos tiazídicos Lítio Aumento dos níveis séricos do lítio Poupadores de Potássio Suplementos de potássio e inibidores da ECA Hiperpotassemia Inibidores Adrenérgicos Ação central Antidepressivos tricíclicos Redução do efeito anti- hipertensivo Betabloqueadores Insulina e hipoglicemiantes orais Redução dos sinais de hipoglicemia e bloqueio da mobilização de glicose Amiodarona, quinidina Bradicardia Cimetidina Reduz a depuração hepática de propranolol e metoprolol Cocaína Potencializam os efeitos da cocaína Vasoconstritores nasais Facilitam o aumento da pressão pelos vasoconstritores nasais Diltiazem, verapamil Bradicardia, depressão sinusal e atrioventricular Dipiridamol Bradicardia Alfabloqueadores Anti-inflamatórios esteroides e não esteroides Antagonizam o efeito hipotensor Diltiazem, verapamil, betabloqueadores e Hipotensão Inibidores adrenérgicos centraisInibidores da ECA Suplementos e diuréticos poupadores de Hiperpotassemia Potássio 43 Ciclosporina Aumento dos níveis de ciclosporina Anti-inflamatórios esteroides e não esteroides Antagonizam o efeito hipotensor Lítio Diminuição da depuração do lítio Antiácidos Reduzem a biodisponibilidade do captopril Bloqueadores dos canais de cálcio Digoxina Verapamil e diltiazem aumentam os níveis de digoxina Betabloqueadores H2 Aumentam os níveis dos antagonistas dos canais de cálcio Ciclosporina Aumento do nível de ciclosporina, à exceção de amlodipina e felodipina Teofilina, prazosina Níveis aumentados com verapamil Moxonidina Hipotensão Antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II Moxonidina Hipotensão com losartan 44 3 ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL O uso de medicamentos pelos pacientes vai além dos efeitos farmacoterapêuticos, perpassa pelos aspectos socioculturais do indivíduo, do grupo social e da sociedade no qual está inserido (PERINI et al. 1999). Diante desse enfoque o tema adesão ao tratamento torna-se complexo e alvo de discussão de muitos especialistas da saúde em todo o mundo. A adesão e não adesão à terapêutica surge com Hipócrates onde os pacientes eram vigiados, pois frequentemente mentiam sobre o seu regime terapêutico prescrito. Na Grécia antiga também há relatos sobre os doentes que não seguiam as orientações de dietas, estilo de vida e tratamento medicamentoso (RAMALHINHO, 1994). O termo adesão possui muitas variações como aderência, cumprimento, concordância, cooperação, em inglês “compliance”, “adherence”, em espanhol, “cumprimento”, em alemão “therapietrouw - falha com a terapia”, em francês “observance - observância”. Esta proliferação de termos reflete a ambiguidade do tópico e como pode causar impacto no paciente, médico, farmacêutico, enfermeiro e outro cuidador de saúde (MÉTRY & MEYER, 1999). Há várias definições de adesão à terapêutica e uma delas considera o grau de concordância entre as recomendações do médico e o comportamento do paciente perante o regime terapêutico (RAMALHINHO, 1994). A não adesão à terapêutica, em inglês poor adherence ocorre quando o comportamento do paciente não coincide com as recomendações do profissional de saúde (RAMALHINHO, 1994; WHO, 2003). A adesão ao tratamento farmacológico prescrito em patologias crônicas e assintomáticas como no caso da hipertensão arterial é fundamental para o controle e a prevenção de complicações, bem como na diminuição da mortalidade. Alguns autores consideram pacientes aderentes ao tratamento farmacológico os indivíduos que tomam 80% dos medicamentos prescritos ou mais. Estima-se que o grau de adesão global nos tratamentos crônicos é de 50 – 75%; para obter um bom resultado terapêutico se considera aceitável grau superior a 80%, nos antirretrovirais é uma exceção e é necessário um grau superior a 95% (MARTINEZ, 2004). Há algum tempo várias investigações têm sido realizadas, para determinar a magnitude do problema, descrever as causas da não adesão ao tratamento e desenvolver estratégias de intervenção. Estudo realizado na Jamaica sobre a adesão ao tratamento, em 45 mulheres hipertensas com média de idade de 57 anos e duração média da hipertensão de 5 anos, mostrou que somente 27% dos pacientes eram aderentes a terapêutica medicamentosa. Este trabalho foi realizado durante quatro semanas no período de maio a junho de 2001 (BOBB- LIVERPOOL, DUFF, BAILEY, 2002). Dados sobre a adesão apontam uma taxa de 25 a 50% com variação de 0 a 100%. A adesão ao tratamento de doenças de longa duração em países desenvolvidos são em média 50% e em países em desenvolvimento as taxas são bem menores, em razão a insuficiência dos recursos de saúde e iniquidade no acesso a atenção à saúde. Por exemplo, China, Gâmbia e Seychelle, somente 43%, 27% e 26%, respectivamente dos pacientes com hipertensão adere ao seu esquema de medicamentos anti-hipertensivos. Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, somente 51% dos pacientes adere à prescrição e nos medicamentos antidepressivos, 40 a 70% o fazem. Na Austrália, somente 43% com asma tomam seus medicamentos como prescritos em todo o tempo e somente 28% usam medicamentos preventivamente. No tratamento do HIV e AIDS, a adesão aos antirretrovirais varia entre 37 e 83% dependendo do medicamento estudado e das características da população. Esses aspectos representam um grande desafio para a saúde da população em que o êxito é determinado principalmente pela adesão dos tratamentos de longa duração (WHO, 2003; MOSCATI, PERSANO E CASTRO, 2000). Estudos isolados mostram que a falta de controle da hipertensão está em torno de 30% a 40%, podendo chegar ao abandono de tratamento em 56% dos casos. Várias barreiras podem ser identificadas na adesão ao tratamento anti-hipertensivo. 3.1 FATORES QUE INTERFEREM NA ADESÃO AO TRATAMENTO Adesão é um fenômeno multidimensional determinado pela interação de cinco dimensões de fatores, das quais os fatores relacionados aos pacientes são um dos determinantes (WHO, 2003). A. Fatores econômicos e sociais: 46 Embora o status socioeconômico não tenha sido constantemente um preditor independente de adesão, nos países em desenvolvimento de nível socioeconômico baixo. Pode colocar pacientes em posição de ter que escolher entre as prioridades. Alguns fatores relatados têm um efeito significativo sobre a adesão: nível socioeconômico baixo, pobreza, analfabetismo, educação de baixo nível, desemprego, falta de rede de apoio social efetivo, condições de vida instável, longa distância do centro de tratamento, alto custo de transporte, alto custo do medicamento, mudanças de situações ambientais, cultura e declarações a respeito da doença, tratamento e desestruturação familiar. Alguns estudos têm relatado que fatores organizacionais são mais relacionados à adesão do que aos sociodemográficos, mas este pode diferir uns dos outros. Como o tempo gasto com médico, continuidade do acompanhamento pelo médico, estilo da comunicação é mais importante do que variáveis sociodemográficas (gênero, estado civil, idade, nível educacional e estado de saúde) em afetar adesão do paciente. Responsabilidade da família compartilhada para tarefas de tratamento e contínuo reforço parece ser um importante fator no aumento da adesão para tratamento prescrito na população pediátrica. População idosa representa 6,4 % da população do mundo e seu número está aumentando para 800.000 cada mês. A transição demográfica tem levado ao aumento da prevalência de doenças crônicas que são particularmente comuns em idosos. Muitos pacientes idosos apresentam com múltiplas doenças crônicas, que requer complexo tratamento de longa duração para prevenir debilidade e incapacidade. Além disso, os idosos são maiores consumidores de medicamentos prescritos. Em países desenvolvidos, pessoas acima de 60 anos consomem cerca de 50% de total de medicamentos prescritos e são responsáveis por 60% dos custos de medicamentos relacionados a medicamentos, embora eles representem somente 12 a 18% da população nesses países. Adesão ao tratamento é essencial ao bem-estar dos pacientes idosos e é, portanto um componente criticamente importante de cuidado. Em idosos, as falhas para aderir às recomendações e tratamentos têm sido encontradas no aumento da probabilidade de falha terapêutica e ser responsável por complicações desnecessárias, levando a gastos aumentados na atenção a saúde, bem como a incapacidade e morte precoce. A prevalência de danos cognitivos e funcionais nos pacientes idosos aumenta o risco de adesão deficiente. Múltiplas comorbidades e complexos esquemas terapêuticos favorecem 47 compromissos de adesão, alterações relacionadas à idade em farmacocinéticae farmacodinâmica fazem desta população mais vulneráveis aos problemas resultando em não adesão. B. Equipe de atenção à saúde e fatores relacionados ao sistema Poucos estudos têm sido conduzidos sobre os efeitos da equipe de saúde e fatores relacionados ao sistema sobre a adesão. Considerando que um bom relacionamento entre organismos provedor de saúde-paciente pode melhorar a adesão, há outros fatores que têm efeito negativo como os serviços de saúde desenvolvidos precariamente, sistema de distribuição de medicamentos deficientes, falta de conhecimento e treinamento dos provedores de cuidado a saúde no manejo das doenças crônicas, falta de incentivo e retroalimentação sobre desempenho, fraca capacidade do sistema para educar pacientes e fornecer acompanhamento, incapacidade para estabelecer apoio comunitário e capacidade de automanejo, falta de conhecimento sobre a adesão e de intervenções efetivas para melhorá-las. C. Fatores relacionados às condições da doença Fatores relacionados às condições representam a demanda particular, relacionadas às doenças enfrentadas pelo paciente. Alguns fortes determinantes de adesão são aqueles relatados a severidade dos sintomas, nível de incapacidade (física, psicológica, social e vocacional) grau de progressão e severidade da doença, e a disponibilidade de tratamento efetivo. Seu impacto depende sobre como eles influenciam a percepção do risco do paciente, a importância de seguir o tratamento e a prioridade situada sobre a adesão. D. Fatores relacionados à terapia Há muitos fatores relacionados à terapia que afetam a adesão. Maioria notavelmente são aqueles relativos à complexidade do esquema terapêutico, duração do tratamento, falha de tratamento anterior, frequentes mudanças de tratamento, presença de efeitos benéficos, efeitos colaterais, e a disponibilidade de apoio médico para lidá-los. E. Fatores relacionados à pacientes Representam recursos, conhecimentos, atitudes, convicções, percepções e expectativas do paciente. 48 Conhecimentos e convicções do paciente sobre sua doença, motivações para manejá- los, confiança em sua capacidade para interagir no comportamento de manejo da doença e expectativa em relação ao resultado do tratamento e as consequências da baixa adesão, reação nos aspectos não ainda completamente compreendidos pode influenciar o comportamento de adesão. Alguns dos fatores relacionados ao paciente relatado que afetam a adesão são: esquecimento, estresse psicológico, ansiedade sobre possíveis efeitos adversos, baixa motivação, conhecimento e prática no manejo dos sintomas da doença e tratamento inadequado, falta da necessidade autopercebida do tratamento, falta do efeito percebido do tratamento, convicções negativas em relação à eficácia do tratamento, equívoco e não aceitação da doença, desconfiança do diagnóstico, falta de percepção do risco de saúde relacionada à doença, engano nas instruções do tratamento, falta do aceite para monitorar, baixa expectativa do tratamento, baixo atendimento para acompanhar ou aconselhar, as classes motivacional, comportamental ou psicoterapêutica, sentimentos negativos ou desesperança, frustração com provedores de cuidado de saúde, medo da dependência, ansiedade demasiada da complexidade do esquema terapêutico e sentimento estigmatizado pela doença. Percepções da necessidade pessoal para medicamento são influenciadas por sintomas, expectativas e experiências e por aquisição do conhecimento da doença. Preocupações sobre a medicação crescem em decorrência das orientações sobre efeitos colaterais e ruptura do estilo de vida e de preocupações abstratas sobre efeitos de longa duração e dependência. Eles são relatados para o ponto de vista negativo sobre medicamento como um todo e suspeita que médicos superprescreveram medicamentos tão bem quanto o mais amplo ”visão do mundo” caracterizado por suspeita de químico em alimentos e do ambiente e da ciência, medicina e tecnologia. Sinteticamente os fatores que levam ao abandono estão relacionados aos pacientes, as características da doença e seu tratamento, ao sistema de saúde e serviços dispensados também possuem grande influência na adesão ao tratamento (Quadro 1). 49 Quadro 1. Fatores que interferem na adesão ao tratamento anti-hipertensivo. Paciente Sexo Idade Etnia Estado civil Escolaridade Nível socioeconômico Doença Cronicidade Ausência de sintomas Consequências tardias Crenças, hábitos de vida e culturais Percepção da seriedade do problema Desconhecimento Experiência com a doença Contexto familiar Conceito saúde-doença Autoestima Tratamento Custo Efeitos indesejáveis Esquemas complexos Qualidade de vida Instituição Política de saúde Acesso ao serviço de saúde Distância Tempo de espera Tempo de atendimento Relacionamento com equipe de saúde Envolvimento Relacionamento inadequado Em relação à doença hipertensão arterial, destaca-se a sua cronicidade, ausência da sintomatologia específica e complicações em longo prazo. As características relacionadas à pacientes devem ser consideradas, pois pacientes do sexo masculino, mais jovem e com baixa 50 escolaridade tendem a ser menos aderentes ao tratamento (PIERIN et al, 2001; PAULO & ZANINI, 1997; SILVA, 1999). Outro aspecto a ser considerado é a relação entre o paciente e a equipe de saúde que influencia na adesão ao tratamento como a sensibilidade do médico, o tempo dispensado ao atendimento e o cuidado psicossocial dos pacientes. E quanto ao tratamento farmacológico ressaltam-se os problemas do custo, dos efeitos indesejáveis, dos esquemas terapêuticos complexos e à qualidade de vida (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). DiMatteo et al, ressaltou aspectos que influenciam na adesão, analisando as características da equipe de saúde como a sensibilidade do médico ao atender o paciente; as mulheres atendem mais as questões psicossociais e ações preventivas; visão negativa da iniciativa e a autonomia do paciente; médicos que atendem fora do consultório planejam mais o seguimento do paciente e usam telefone para consulta e informações; associação de mais tempo dispensado ao paciente a mais satisfação no trabalho. Estudo realizado por Mion & Pierin para identificar os motivos do abandono do tratamento mostrou que foram em relação ao medicamento: 89% por alto custo, 67% por tomar medicamento várias vezes ao dia, 54% por efeitos colaterais; quanto à doença: 50% por desconhecimento da doença, 36% por ausência de sintomas; quanto ao conhecimento e crenças: 83% só tomam medicamento quando a pressão está alta, 80% não cuidam da saúde, 75% se esquecem de tomar o medicamento, 70% desconhecem a cronicidade e complicações da doença; quanto à relação médico-paciente: 51% por falta de convencimento para tratar e 20% por relacionamento inadequado (PIERIN, 2001). A baixa adesão é a principal razão para resultados clínicos subótimos, causando complicações médicas e psicossociais da doença, reduz a qualidade de vida do paciente e gastos dos recursos da saúde. De acordo com MOSCATI, PERSANO E CASTRO, 2000, a base para medir a adesão à terapêutica farmacológica prescrita é o registro confiável da dose administrada e do intervalo de tempo entre as doses, utilizada concomitante com métodos para analisar e interpretar as discrepâncias entre as doses prescritas e os resultados farmacológicos, clínicos e terapêuticos obtidos (Quadro 2). Essa observação justifica-se pelos conceitos básicos da farmacocinética e farmacodinâmica que fundamentam como e por que a dosagem deve seguir certa sequência no tempo para que a ação do medicamento seja mantida. 51 Quadro 2. Métodos de medida da adesão Método Vantagens Desvantagens Diretos Terapia observada diretamente Maioria exata Pacientes podem esconder os comprimidos na boca e depoisdescartá-los; impraticável para uso rotineiro. Medida da concentração de medicamentos ou metabólitos sanguíneos Objetivo Variação no metabolismo e “adesão, só avental branco” pode dar uma falsa impressão de adesão; custo alto. Medida do marcador biológico no sangue Objetivo, em ensaios clínicos, pode também ser usado para medir placebo. Requer exames quantitativos caros e coleta de fluidos corporais. Métodos indiretos Questionários para pacientes, autorrelatos de pacientes. Simples, baixo custo, é um método muito útil na clínica. Susceptível a erros com aumento de tempo entre visitas e resultados são facilmente distorcidos pelo paciente. Contagem de comprimidos. Objetivo, quantificável e facilmente de desempenhar. Dados facilmente alterados pelo paciente. (Ex. Descarte do comprimido). Taxa de suprimento da prescrição. Objetivo, facilmente de obter dados. Reabastecimento da prescrição não é equivalente à ingestão da medicação. Requer um sistema de farmácia fechada. Avaliação da resposta clínica do paciente. Simples; geralmente fácil de desempenhar. Outros fatores do que a adesão ao tratamento pode 52 afetar a resposta clínica. Monitor de medicação eletrônica. Preciso; resultados podem ser facilmente quantificados; padrão de conduta de tomar medicamento. Caro; requer retornos de visitas e dados de descarregar os frascos de medicamentos. Medida de marcador fisiológico (Ex. Taxa cardíaca em pacientes que tomam beta-bloqueadores). Frequentemente fácil de desempenhar. Marcador pode se ausentar por outras razões (ex. metabolismo aumentado, baixa absorção, falha na resposta). Diários do paciente Ajuda a corrigir por baixa chamada de volta. Facilmente alterada pelo paciente. Quando o paciente é uma criança, questionário para o cuidador ou professor. Simples, objetivo. Susceptível a distorção. Ostemberg & Blaschke. Adherence to medication. N Engl Med 353;5, 487- 497. 2005. A análise do acompanhamento do plano terapêutico do paciente constitui em um forte instrumento para interpretar os sucessos e o fracasso da terapêutica prescrita. A adesão à terapêutica, medida e expressa em termos da história temporal da dosagem, quantifica a exposição do paciente à droga, portanto mede o poder terapêutico do medicamento (UQUHART, 1999). 3.2 PROBLEMAS DA ADESÃO AO TRATAMENTO Segundo Moscati, Persano e Castro (2000), os problemas da adesão podem ocorrer quando não ocorre aquisição de medicamentos prescritos; erros na administração de medicamentos (dosagem, frequência e horário); confusão na sequência de administração de vários medicamentos; consumo de medicamentos sem prescrição médica. A baixa adesão é 53 mais evidente em patologias com terapêutica prescrita mais complexa ou prolongada, também em situações que apareçam efeitos colaterais desagradáveis (MOSCATI, PERSANO E CASTRO, 2000). Por muito tempo noções consideradas errôneas continuavam se repetindo como “os efeitos colaterais de medicamentos são a causa da não adesão”, “dosagem de uma vez ao dia é a solução para problema de adesão”, “a educação ao paciente constitui solução para o problema da adesão”, “polifarmácia cria problemas de adesão”, “pacientes com doenças que ameaçam a vida são mais sujeitos a adesão”, “nada pode ser feita sobre baixa adesão”, “meus pacientes seguem minhas instruções”. Nenhuma dessas assertivas frequentemente repetidas fecha inteiramente um método, ainda que sua repetição contínua reflita a comodidade com que os não críticos e não informados opinam sobre adesão (MÉTRY & MEYER, 1998). Mais de 40 anos, cientistas da saúde, comportamental e social têm acumulado conhecimentos relacionados à prevalência de baixa adesão, seus determinantes e intervenções. Muitos estudos têm sido realizados para o problema da adesão e estes têm sido testados, mas ainda sem encontrar uma justificativa para manter o paciente fiel ao tratamento e ainda continua sendo alvo de estudo (JARDIM, 2001; SCHNEIDER, FALLAB STUBI, WAEBER, 1999; OASTEBERG & BLASCHKE, 2005). A boa adesão melhora a efetividade da intervenção estabelecida na promoção de estilo de vida saudável, tais como modificação da dieta, aumento da atividade física, não fumar e comportamento sexual seguro, e intervenções de redução de risco baseado nos dados farmacológicos. As consequências da baixa adesão em tratamento de longa duração são resultados de saúde insatisfatória e aumento no custo de saúde. Afeta também a prevenção secundária e intervenções no tratamento da doença, pois uma baixa adesão diminui benefícios clínicos ótimos. Por exemplo: baixa adesão tem sido identificada como causa primária de controle insatisfatório de pressão sanguínea e, boas adesões têm mostrado redução nas complicações da hipertensão arterial ao melhorar o controle da pressão arterial (WHO, 2003). 54 3.3 ASPECTOS PARA MELHORIA DA ADESÃO AO TRATAMENTO Segundo a WHO (2003), foram identificados vários pontos-chaves para melhoria da adesão à terapêutica, tais como: Os pacientes necessitam de apoio e não de repreensão; As consequências da baixa adesão em terapias de longa duração são resultados baixos em saúde e aumento nos custos em saúde; Aumento da segurança do paciente com adesão à terapêutica; Adesão é um importante modificador da efetividade do sistema de saúde; Melhorar a adesão, importante investimento para doenças crônicas; Evolução do sistema de saúde para encontrar novos desafios na solução de problemas de adesão; Necessidade de uma abordagem multidisciplinar em relação à adesão (WHO, 2003). Como a hipertensão arterial é uma doença multifatorial que envolve orientações voltadas para muitos objetivos é necessário que a abordagem não seja de um único profissional e sim de uma equipe multiprofissional (médicos, farmacêuticos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, agentes comunitários de saúde) para melhor êxito do tratamento. Com a equipe multiprofissional é possível proporcionar ações diferenciadas ao hipertenso e a comunidade, motivação suficiente para vencer o desafio de adotar atitudes que tornem as ações anti-hipertensivas efetivas e permanentes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). A participação dos diferentes profissionais pode ser de forma individual ou em grupo. Estudo realizado por Riccio, envolvendo pacientes hipertensos de difícil controle que após consultas frequentes com enfermagem e farmacêuticos resultaram no melhor controle da pressão desses pacientes (RICCIO, 2000). O que determina a existência dessa equipe é a filosofia de tratamento que visa o bem- estar dos pacientes e da comunidade. Os membros de um grupo multiprofissional, respeitada a especificidade de sua formação básica, devem conhecer a ação individual de cada um dos outros membros e os objetivos do programa ajustada a realidade local. 55 O trabalho da equipe multiprofissional traz como principais vantagens: O número de indivíduos atendidos será maior; A adesão ao tratamento será superior; O número de pacientes com pressão arterial controlada e adotando hábitos de vida saudáveis, consequentemente será maior; Cada paciente poderá ser um replicador de conhecimentos sobre tais hábitos; Haverá condições favoráveis de ações de pesquisa em serviço. Algumas ações serão comuns a todos os membros da equipe e outras específicas a cada profissional. Ao profissional farmacêutico, segundo a IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial estabelece para o controle da hipertensão, a participação em comitês para a seleção de medicamentos; promoção de gerenciamento do estoque, do armazenamento correto e dispensação de medicamentos, bem como a promoção da atenção farmacêutica ao paciente (SOCIEDADEBRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2002). A atividade que os farmacêuticos podem desenvolver no exercício da atenção farmacêutica pode trazer como resultado as melhorias nos índices de custo-benefício do paciente, como proporcionar conhecimento em relação à sua patologia, aumentando a adesão ao tratamento, com melhores resultados clínicos e de qualidade de vida do paciente, diminuindo internações e, consequentemente reduzindo os gastos para o sistema de saúde. Alternativas de controle da hipertensão arterial é a medida da pressão arterial em casa, fora do ambiente do consultório e da presença do médico, é um recurso que pode afastar ou minimizar as alterações de pressão determinadas por aquele ambiente. O efeito do avental branco é uma elevação dos níveis pressóricos quando a medida da pressão é realizada no consultório e comparada com os registros por monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) ou medida domiciliar. Com relação a sexo e idade, estudos mostram que essa causa é mais frequente em mulheres e nas faixas mais elevadas (GOMES, PIERIN & MION JR, 2001). Estudo com pacientes hipertensos mostrou que a porcentagem de pacientes com a pressão diastólica com níveis abaixo de 90 mmHg passou de 50% para 63% após a estratégia da automedida da pressão arterial em casa (PIERIN, MION JR, KAMINAGA, PINTO, 1998). 56 Outro trabalho realizado por Edmonds et al. salientou que a adoção da medida da pressão arterial em casa elevou a taxa de adesão ao tratamento medicamentoso de 65%, no início do estudo, para 81% no final (EDMONDS et al , 1985). Apesar de várias medidas preventivas, de tratamento e de controle disponíveis para a hipertensão arterial, representa ainda um dos desafios em saúde, necessitando de esforços de uma atuação conjunta de vários profissionais para integrar o paciente hipertenso, o tratamento e equipe. 3.4 DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS Como a hipertensão arterial é uma doença multifatorial que envolve orientações voltadas para muitos objetivos é necessário além do apoio do médico também de outros profissionais (farmacêuticos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, agentes comunitários de saúde) para melhor êxito do tratamento. Com a equipe multiprofissional é possível proporcionar ações diferenciadas ao hipertenso e a comunidade, motivação suficiente para vencer o desafio de adotar atitudes que tornem as ações anti-hipertensivas efetivas e permanentes. Diante desse quadro, os objetivos dos programas de controle de hipertensão arterial no Brasil são: Reduzir complicações, internações e mortes relacionadas à hipertensão. Reduzir a prevalência da doença hipertensiva; Aumentar o grau de conhecimento da população sobre a importância do controle da hipertensão arterial; Garantir acesso dos hipertensos a serviços básicos de saúde, com resolutividade; Incentivar políticas e programas comunitários (SOCIEDADE BRASILEIRA DA HIPERTENSÃO, 2002). 57 4 ATENÇÃO FARMACÊUTICA A PACIENTE HIPERTENSO Nas últimas décadas houve grandes progressos em relação aos medicamentos, novas produções e avanços terapêuticos, entretanto à medida que o conhecimento científico aumentava, a produção tornava-se mais complexa, necessitando melhores sistemas de controle de qualidade, atualização tecnológica, profissionais especializados e qualificados na área. Portanto, nem todo progresso científico e econômico na terapêutica farmacológica trouxe somente resultados positivos, ao longo dos anos apresentaram também resultados negativos na farmacoterapia com efeitos indesejados dos medicamentos. Todos os medicamentos devem apresentar boa eficácia e o mínimo de risco ao indivíduo, exigindo-se no seu desenvolvimento e produção, a implantação de normas e critérios especiais de segurança, e mesmo assim, podem-se encontrar problemas que são detectados na pós-comercialização. Os problemas associados ao tratamento medicamentoso podem ser reduzidos mediante uso racional de medicamentos que implica entre outros aspectos, na prescrição e na dispensação adequada. O farmacêutico tem sido apontado como o profissional que representa uma das últimas oportunidades dentro do sistema de saúde a identificar, corrigir ou reduzir possíveis problemas relacionados a medicamentos por estar na interface entre a prescrição e o uso do medicamento pelo paciente (PEPE & CASTRO, 2000). Nesse processo de atenção à saúde é importante o envolvimento do farmacêutico para a prevenção dos danos causados pelo uso irracional de medicamentos (REIS, 2003). Mikeal em 1975 publica pela primeira vez o termo Atenção Farmacêutica como: “a atenção que um paciente requer e recebe com garantia do uso seguro e racional de medicamentos”. Em 1990 surge uma nova prática farmacêutica designada por Hepler e Strand de Atenção Farmacêutica (Pharmaceutical Care), e a definição que melhor caracteriza o conceito fundamental é a seguinte: “Atenção Farmacêutica é o componente da prática da farmácia a qual vincula a direta interação do farmacêutico e paciente com o propósito de cuidar das necessidades relacionadas a medicamento desse paciente” (CIPOLLE, STRAND, MORLEY, 1998). Hepler e Strand enfatizaram que duas atividades devem ocorrer para que a atenção farmacêutica seja deliberada: primeiro, o farmacêutico consome o tempo necessário para 58 determinar os desejos específicos do paciente, preferências e necessidades relacionadas à sua saúde e doença. Segundo, o farmacêutico faz um compromisso de continuar a atenção uma vez iniciada. “Desse princípio diz que atenção farmacêutica é a provisão responsável da farmacoterapia com o propósito de alcançar resultados concretos que melhore a qualidade de vida do paciente” (CIPOLLE, STRAND, MORLEY, 1998). Desde então a prática da atenção farmacêutica vem sendo o alvo de discussões nos encontros farmacêuticos, congressos, publicações em periódicos científicos, experiências exitosas em todo país tanto em farmácia hospitalar, pública e comunitária. O exercício da atenção farmacêutica em que o farmacêutico responsabiliza-se pelas necessidades relacionadas aos medicamentos do paciente, respondendo por esse compromisso requer mudanças de filosofia profissional, de comportamentos e atitudes e de visão no trabalho. As ações do farmacêutico, no modelo de atenção farmacêutica, na maioria das vezes, são atos clínicos individuais. Mas as sistematizações das intervenções farmacêuticas e a troca de informações dentro de um sistema de informação composto por outros profissionais de saúde podem contribuir para um impacto no nível coletivo e na promoção do uso seguro e racional de medicamentos. (OPAS 2002). A Organização Mundial da Saúde, ao analisar as funções do farmacêutico, no sistema de atenção a saúde estende o benefício da atenção farmacêutica para toda comunidade reconhecendo a relevância da participação do farmacêutico junto com a equipe de saúde na prevenção de doenças e promoção da saúde. Na reunião mundial em Tókio no ano de 1993, adotou com adaptações este conceito e estabeleceu: A Atenção Farmacêutica é um compêndio de prática profissional, em que o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico e reconheceu que esta Atenção Farmacêutica é um compêndio das atitudes, dos comportamentos, dos compromissos, das inquietudes, dos valores éticos, das funções, dos conhecimentos, das responsabilidades e das destrezas do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente. Esta nova maneira de trabalhar exige uma mudança no paradigma, pois é também uma nova filosofia e para isso requer tempo. Na proposta do Consenso para a Atenção Farmacêutica coloca-se como um componente da assistência farmacêutica, não envolvendo somente o acompanhamentofarmacoterapêutico, mas outras ações como a educação em 59 saúde, promoção do uso racional de medicamentos e o atendimento farmacêutico em si (IVAMA, 2002). A atenção ao paciente e, portanto, atenção farmacêutica é uma atividade prospectiva que objetiva prevenir problemas relacionados a medicamentos. Por essa razão não se pode determinar se a atenção farmacêutica é necessária, sem primeiro obter e analisar informações que permitam conhecer se o paciente tem algum problema real que envolva o uso de medicamentos. Por causa dessa natureza individual, deve-se assumir que todos os pacientes requerem atenção farmacêutica pelo menos até que o problema tenha sido excluído (STRAND et. al. 1992). As principais características da Atenção Farmacêutica estão relacionadas à dispensação de medicamentos; em prover informação para assegurar o uso racional e cuidados ao paciente objetivando alcançar resultados definidos em sua saúde. O objetivo da Atenção farmacêutica é melhorar a qualidade de vida de cada paciente por meio de resultados definidos na terapia medicamentosa. Os resultados buscados são: 1. A cura de uma patologia do paciente; 2. A eliminação ou a redução de sintomatologia; 3. O controle ou a diminuição do progresso da patologia; 4. A prevenção de uma patologia ou de uma sintomatologia. Cada um destes resultados envolve por sua vez três funções principais: 1. Identificar problemas, reais e potenciais, relacionados com os medicamentos; 2. Resolver problemas reais relacionados com os medicamentos; 3. Prevenir problemas potenciais relacionados com os medicamentos. Na prática os farmacêuticos responsabilizam-se em conseguir a resolução ou a melhora do problema de saúde do paciente, não apenas pelo ato da dispensação, mas realizando um acompanhamento farmacológico no paciente no sentido de resolver um Problema farmacoterapêutico ou Problema Relacionado com Medicamentos (PRM) definido como “qualquer evento indesejável experimentado pelo paciente que envolve ou suspeita-se envolver farmacoterapia e que atualmente ou potencialmente interfere com os resultados desejados do paciente”, Tabela 1. As orientações da prática de atenção farmacêuticas aqui descritas seguem o método de Cipolle, Strand & Morley, 1998, que envolve três maiores etapas: 60 a) analisa as necessidades relacionadas a medicamentos do paciente, identificando qualquer problema relacionado a medicamento ou necessidade de ser prevenido no futuro; b) juntos, paciente e farmacêutico constrói o plano de cuidado para cada PRM com objetivos e intervenções; c) seguimento de avaliação para determinar os resultados do paciente decorrentes do plano proporcionado. Identificar, resolver e prevenir problemas relacionados ao uso de medicamentos é a principal contribuição do profissional da atenção farmacêutica. Quando houver mais de um PRM considerar o mais importante e aquele que implica diretamente a saúde do paciente (CIPOLLE, STRAND & MORLEY, 1998). Os PRM podem ocorrer em qualquer etapa da utilização de medicamentos. Sua classificação é um julgamento clínico que envolve o processo racional de tomada de decisões e está diretamente relacionada com a conduta a ser adotada pelo profissional, a fim de solucionar o problema (PEREIRA, 2005). Tabela 1. Interpretando necessidades relacionadas a medicamentos para problemas farmacoterapêutico ou problemas relacionados a medicamentos (CIPOLLE, STRAND & MORLEY, 1998). Expressão do paciente Necessidades relacionadas a medicamentos Problemas farmacoterapêuticos ou Problemas relacionados a medicamentos - PRM Entendimento Indicação 1. Farmacoterapia adicional. 2. Farmacoterapia desnecessária Expectativa Efetividade 3. Medicamento não efetivo 4. Dosagem baixa Preocupações Segurança 5. Reações adversas a medicamentos 6. Dosagem alta 61 Comportamento Adesão 7. Adesão ao tratamento Estes PRM acontecem por numerosas causas, como elencadas a seguir, segundo Cipolle, Strand & Morley, 1998: • O paciente possui uma nova condição médica que requer introduzir um novo medicamento; • O paciente tem uma condição médica que requer combinação farmacoterapêutica para conseguir sinergismo/potencialização dos efeitos; • O paciente está tomando uma medicação para o qual não há indicação médica válida no momento; • O paciente acidentalmente ou intencionalmente ingeriu uma quantidade tóxica do medicamento resultando na presente doença ou alteração; • O problema médico do paciente está associado com abuso de drogas, álcool ou tabaco; • A condição médica do paciente é mais bem tratada com terapia não medicamentosa; • O paciente está fazendo terapia medicamentosa para tratar uma reação adversa evitável associada com outro medicamento; • O paciente tem um problema médico para o qual este medicamento não é efetivo; • O paciente é alérgico a este medicamento; • O paciente tem fatores de risco contraindicado para uso deste medicamento; • O paciente está recebendo um medicamento que é efetivo, mas não é o mais seguro; • O paciente tem tornado refratário para o presente medicamento; • A dosagem usada é muito baixa para produzir um efeito desejável para este paciente; • A concentração plasmática do medicamento está abaixo da faixa terapêutica desejada; 62 • Dose e flexibilidade de intervalo (analgésicos, insulina) estão inadequadas para este paciente; • O paciente está tendo uma reação alérgica para este medicamento; • O paciente possui fatores de risco que torna este medicamento pouco seguro para uso; • A biodisponibilidade do medicamento está sendo alterada devido à interação com outro medicamento ou alimento que o paciente está utilizando; • O efeito do medicamento está sendo alterado devido à inibição/indução da enzima de outro medicamento que o paciente está utilizando. • O efeito do medicamento está alterado devido ao deslocamento do sítio de ligação por outro medicamento que o paciente está tomando; • O efeito do medicamento está alterado devido à substância do alimento que o paciente está comendo; • Os resultados dos exames laboratoriais estão alterados devido à interferência do medicamento que o paciente está tomando; • Dosagem é muito alta para o paciente; • A concentração plasmática do medicamento está acima da margem terapêutica desejada; • O paciente tem acumulado a concentração do medicamento pela administração crônica; • Medicamento via conversão de formulação estava inapropriada para o paciente; • A dose e flexibilidade de intervalo (insulina, analgésicos) estão inapropriadas para este paciente; • O paciente não recebeu o esquema apropriado do medicamento por erro da medicação (prescrição, dispensação, administração, monitorização) realizada; • O paciente não aderiu com as orientações recomendadas para usar a medicação; • O paciente não tomou o medicamento em razão ao alto custo do produto; • O paciente não tomou o medicamento por causa da falta de entendimento das orientações; 63 • O paciente não tomou o medicamento como orientado porque não estaria consistente com as crenças de saúde do paciente. Além desses problemas o paciente pode possuir características que interferem com o êxito dos efeitos esperados ou pode haver variações imprevisíveis em suas respostas biológicas. Os objetivos buscados com uma terapia medicamentosa não são sempre alcançados. O paciente tem a responsabilidade de ajudar a alcançar os resultados desejados comprometendo- se a assumir condutas que contribuam e não interfiram com elas. Os farmacêuticos e os demais profissionais de saúde têm a obrigação de educar os pacientes sobre os hábitos necessários que contribuam no alcance dos resultados desejados. A busca em melhorar a farmacoterapia é grande e os farmacêuticos já estão trabalhando no dia a dia em identificar os possíveis problemas relacionadosa medicamentos. Ainda que o farmacêutico não seja o responsável pelo diagnóstico da hipertensão arterial nem de tratamento farmacológico, seu papel passa por colaborar com o médico na detecção precoce, controle e seguimento desta patologia crônica, deve-se, portanto, conhecer todos os aspectos vinculados com o diagnóstico e o tratamento da hipertensão para cumprir sua função de forma adequada. A detecção da hipertensão começa com uma aferição apropriada da pressão arterial realizadas pelos profissionais de saúde durante visitas dos seus pacientes. Reiteradas aferições de pressão arterial determinarão se a elevação persiste e se requer tratamento imediato, ou se normalizou e necessita apenas de uma vigilância periódica. Quando o farmacêutico detecta um possível paciente hipertenso deverá encaminhá-lo ao médico com a cópia dos valores pressóricos medidos e uma síntese e de sua opinião profissional. A pressão arterial deve ser medida de forma padronizada mediante equipamentos que garantam critérios de certificação, observando procedimento de medida da pressão arterial das Diretrizes Brasileiras da Hipertensão Arterial. A avaliação de pacientes diagnosticados com hipertensão arterial tem três objetivos principais: 1. Identificar as causas da pressão arterial elevada; 2. Avaliar a presença de dano em algum órgão ou enfermidade cardiovascular, a gravidade da enfermidade e a resposta à terapia; 3. Identificar outros fatores de risco cardiovascular ou desordens concomitantes que sirvam para prognosticar a evolução do paciente e dar diretivas para o tratamento. A informação 64 para avaliar a hipertensão arterial se adquire por intermédio da história clínica, as provas laboratoriais realizadas em laboratórios clínicos, a história farmacológica e as provas de diagnóstico. A seguir se descrevem as características de algumas das ferramentas que se empregam na farmácia durante o controle de pacientes hipertensos. Alguns destes elementos se repetem ou se sobrepõe com os utilizados por outros profissionais de saúde envolvidos com o diagnóstico e tratamento da hipertensão, é importante que o farmacêutico empregue a mesma informação, mas com fins diferentes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 1993 o farmacêutico na atenção farmacêutica deve (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE SALUD, 1993): ♦ Obter e manter os históricos de medicação e a informação sanitária pertinente. Estes dados são essenciais para valorizar a farmacoterapia individualizada. ♦ Identificar, avaliar e valorizar: 1. Os problemas relacionados com os medicamentos (efeitos secundários, interações ou utilizações inadequadas): 2. Os sintomas descritos pelos pacientes; 3. As doenças autodiagnosticadas. ♦ Iniciar ou modificar o tratamento, medicamentoso ou não medicamentoso, mediante: 1. Orientação farmacêutica às mudanças no estilo de vida ou na utilização de medicamentos OTC: 2. Em colaboração com o prescritor e outros profissionais envolvidos: Preparar e fornecer os medicamentos; Estabelecer as metas do tratamento juntamente com o prescritor, o paciente ou ambos, segundo os casos; Desenhar e colocar em prática o plano de atenção Farmacêutica (educação e assessoramento); Acompanhar os resultados terapêuticos e tomar as medidas complementares adequadas. 65 4.1 ACOMPANHAMENTO DO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO O acompanhamento do tratamento farmacológico é um processo que engloba todas as etapas necessárias para garantir um tratamento, farmacológico adequado, seguro, eficaz e econômico ao paciente. Possui as seguintes funções: Controlar e prevenir potenciais interações medicamentosas, com medicamentos, alimentos, condições clínicas e exames de laboratório; Controlar e prevenir os efeitos secundários e reações adversas dos medicamentos; Evitar duplicações terapêuticas; Supervisionar a administração de medicamentos para assegurar a adesão à terapêutica; a eficácia da terapêutica medicamentosa; Detectar a subutilização dos medicamentos pelo paciente; Detectar possíveis contraindicações entre medicamentos e patologias; Desenvolver planos de acompanhamento que assegurem que o paciente alcance os efeitos terapêuticos desejados; Verificar as distorções na prescrição. Informações Necessárias para Acompanhamento do Tratamento Farmacológico ● Elaboração do Perfil Farmacoterapêutico do paciente: • Dados do paciente; • Características do paciente; • Histórico da doença; • Histórico dos medicamentos que utiliza; • Exames complementares; • Monitorização. ● Dados Obrigatórios do paciente: Nome: 66 Endereço; Telefone; Sexo; Data de Nascimento; Número de Registro; Médico; Medicamentos prescritos. - Dados do Médico: Nome; CRM; Endereço Profissional. - Características do Paciente: Idade; Sexo; Etnia; História Social; Gravidez (?); Nutriz (?); Função Renal; Função Hepática; Função Cardíaca; Função Nutricional; Expectativa do paciente em relação ao tratamento. - Condições Clínicas do Paciente: Patologia diagnosticada; Severidade; Prognóstico; Disfunções; Limitações; Percepção do paciente da doença. 67 Observação: este registro deve ser analisado rotineiramente a cada ano para pacientes crônicos e a cada três meses para pacientes maiores de 65 anos. - Dados do Medicamento: Denominação genérica; Concentração; Forma Farmacêutica; Nº de embalagens fornecidas; Nº de unidades por embalagens; Regime terapêutico; Data da dispensação; Quantidade por unidade; Problemas com o medicamento; Via e técnica de administração do medicamento; Percepção do paciente em relação ao tratamento; Medicações de venda livre utilizado pelo paciente. ● Dados Úteis - Dados do paciente: Mudanças na prescrição; Interações; Reações adversas tipo A; Reações adversas tipo B; Doenças crônicas. - Dados do medicamento: Nº de registro no MS; Nº do lote. Cerca de 40% dos pacientes hipertensos são tratados com dois fármacos, alguns, inclusive, requerem 3 ou 4. Para pacientes que estão sendo tratados com mais de um medicamento, são necessárias considerações especiais. 68 Alguns problemas se solucionam com uma simples mudança de hábitos ou variações mínimas nos horários ou frequência da tomada de medicamentos. Outros requerem ajustes na dosagem ou mudança de medicamentos empregados para evitar interações ou reações adversas. Se os problemas relacionados com os medicamentos são significativos, o farmacêutico deve alertar o médico e sugerir diferentes alternativas de solução. Toda informação que o farmacêutico coletar deverá ser documentada em fichas de atenção farmacêutica, elaborado a partir do modelo escolhido e adaptado a sua realidade local. Cada paciente deve ter sua própria ficha e em cada visita farmacêutica os dados devem ser registrados. Em caso do paciente decidir ingressar nesse programa de controle de sua hipertensão. O farmacêutico deverá realizar as seguintes tarefas durante seus encontros com o paciente: Abrir uma ficha de paciente e iniciar a entrevista para preenchimento de dados para o perfil farmacoterapêutico; Observar o aspecto geral do paciente (nervosismo, ansiedade, cansaço, desanimo, stress, etc.); Medir duas ou mais vezes a pressão arterial em intervalos de dois minutos, cumprindo a técnica descrita no protocolo para medir a pressão arterial; Controlar o pulso cardíaco; Avaliar a medicação anti-hipertensiva do paciente; Pesar o paciente e verificar seu índice de massa corporal, medir sua altura e circunferência da cintura; Identificar problemas relacionados a medicamentos; Avaliar a informação obtida e procedersegundo as recomendações farmacêuticas; Indicar ou reforçar a terapia não medicamentosa (mudanças no estilo de vida); Medir os níveis de parâmetros associados (colesterol); Recomendar mudanças ou ajustes na medicação; Traçar um plano de intervenção em conjunto com o paciente para os problemas encontrados; Estabelecer a frequência das visitas para um acompanhamento adequado. Os farmacêuticos devem aprofundar seus conhecimentos sobre a farmacocinética e farmacodinâmica dos agentes anti-hipertensivos. Devem estar habilitados para assessorar o 69 médico na seleção ou modificação da farmacoterapêutica anti-hipertensiva mais apropriada para cada paciente. Também deve estar em condições de predizer as probabilidades em que as reações adversas ocorrem e fazer recomendações ao paciente neste sentido. O seguimento de avaliação é a etapa final do processo de cuidado ao paciente, permite que o farmacêutico colha os dados necessários para determinar se as decisões tomadas e realizadas durante a análise produziram resultados positivos. É um processo ativo e deverá ser acompanhado e documentado o que realmente acontece com o paciente (CIPOLLE, STRAND & MORLEY, 1998). De acordo com Pereira (2005), a avaliação de resultados representa um “retrato” do paciente. Busca-se perceber sucessos e fracassos da terapia farmacológica. Pode-se dizer que durante essa etapa busca os dados positivos (avaliando a efetividade), os dados negativos (avaliando a segurança) e por novos dados (verificando o surgimento de novos PRM ou novos problemas de saúde). Diante dos fatos são planejadas novas ações. O objetivo principal da atenção farmacêutica a pacientes hipertensos é: (1) colaborar com o sucesso da meta sanitária para a hipertensão arterial (manter a pressão dos hipertensos abaixo de 140/90 mmHg; (2) educar o paciente no autocuidado de sua saúde, principalmente em relação às mudanças no estilo de vida e (3) avaliar a farmacoterapia anti-hipertensiva para assegurar que é efetiva (doses, interações, efeitos adversos, preço, etc.), assim como conscientizar o paciente para que cumpra o tratamento de forma permanente e ininterrupta (PERETTA, 1999). Sinteticamente, conforme Peretta (1999), o farmacêutico ao prover Atenção Farmacêutica a pacientes hipertensos, deve ser capaz de cumprir, de forma eficaz, as seguintes funções: Observar o paciente para reconhecer sinais e sintomas da hipertensão; Identificar os fatores de risco associados com a hipertensão; Aferir a pressão arterial e registrar os valores; Palpar o pulso cardíaco e reconhecer irregularidades; Pesar o paciente e determinar seu peso ideal (IMC); Avaliar os resultados da farmacoterapia anti-hipertensiva; Identificar problemas relacionados a medicamentos; 70 Elaborar um plano de ação juntamente com o paciente para resolução dos problemas encontrados; Determinar a necessidade de estudos associados (por ex. colesterol sanguíneo); Aconselhar aos pacientes hipertensos sobre a adequada manutenção da saúde de forma a evitar problemas; Recomendar a realização de exames laboratoriais para avaliação do tratamento farmacoterapêutico; Encaminhar o paciente ao médico e comunicar-se com ele para informá-lo de suas observações; Registrar e avaliar as intervenções profissionais e documentar a evolução dos tratamentos anti-hipertensivos; Manter contato constante com os profissionais de saúde diretamente responsáveis pelo manejo do tratamento da hipertensão arterial (equipe multiprofissional). 71 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com a IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, os estudos sobre a prevalência de hipertensão arterial é regionalizada, mas encontra-se elevada, variando de 22,3% a 43,9% da população brasileira adulta. A preocupação com hipertensão é grande, pois está associada com a morbidade e mortalidade de doença cerebrovascular e ao infarto agudo do miocárdio. A redução da pressão arterial em pacientes hipertensos tem como reflexo também a redução da morbidade e mortalidade de doenças cardiovasculares e, consequentemente a redução da qualidade e expectativa de vida dos indivíduos, porém o problema não é tão simples de ser resolvido na população, esbarrando em dificuldades na identificação, acompanhamento e na adesão ao tratamento. Diante da magnitude que representa a hipertensão arterial, relatado também na avaliação do Plano de Reorganização da Atenção a Hipertensão Arterial ao Diabetes mellitus, (BRASIL, 2004), os farmacêuticos no exercício da prática da atenção farmacêutica têm muito a contribuir com a detecção, solução e prevenção de problemas relacionados a medicamentos, pois pode reduzir custos em complicações e aumentar os benefícios ofertados a população. 72 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AVILA, W. S. (coord.). Consenso Brasileiro sobre Cardiopatia e Gravidez. Arq. 7 Bras. Cardiol. 1999. v. 72, s.III. BENOWITZ, N. L. Agentes anti-hipertensivos. In: KATZUNG, G. Farmacologia básica & clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 8. ed. 2003. p. 137-159. BOBB-LIVERPOOL, B.; DUFF, E. M. W.; BAILEY, E. Y. Compliance and blood pressure control in women with hypertension. West Indian Med J (Jamaica). 2002; 51(4): p. 236- 240. BORTOLOTTO, L. A. Hipertensão renovascular e hipertensão maligna: aspectos atuais. 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