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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Debater sobre a fisiopatologia, epidemiologia, manifestações clínicas, etiologia e fatores de risco da HAS; 2- Compreender como é feito o diagnóstico, tratamento e prevenção da HAS. IMPORTANTE A pressão arterial deve ser cuidadosamente regulada ao longo do corpo, para assegurar a perfusão adequada dos tecidos corporais e prevenir a lesão dos vasos sanguíneos (PORTH, 10ª ed.). Com uma pressão arterial muito baixa, o fluxo sanguíneo para os tecidos é insuficiente para assegurar o suprimento de nutrientes e oxigênio, bem como para remover os produtos residuais celulares. Isso gera o risco de lesão celular hipóxica-isquêmica e possível morte celular (PORTH, 10ª ed.). Contrariamente, as pressões elevadas no interior dos vasos sanguíneos podem facilmente lesionar o delicado tecido endotelial, o que aumenta a probabilidade tanto de doença vascular aterosclerótica quanto de ruptura vascular. Outra consequência séria é a possibilidade de os próprios órgãos perfundidos serem gravemente lesionados pela pressão arterial elevada (PORTH, 10ª ed.). PA = DC x RVP Diante disso, mecanismos patogênicos devem envolver: ➢ DC aumentado; ➢ RVP aumentada; ➢ Ambos. Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Definição da HAS ↠ A hipertensão arterial (HA) é uma doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ ou medicamentoso) superam os riscos (DIRETRIZ, 2020). ↠ Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/epigenéticos, ambientais e sociais, caracterizada por elevação persistente da pressão arterial (PA), ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti- hipertensiva (DIRETRIZ, 2020). ↠ A hipertensão é um fator de risco primário para doenças cardiovasculares e uma causa líder de morbidade e mortalidade em todo o mundo (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Por se tratar de condição frequentemente assintomática, a HA costuma evoluir com alterações estruturais e/ou funcionais em órgãos- alvo, como coração, cérebro, rins e vasos. Ela é o principal fator de risco modificável com associação independente, linear e contínua para doenças cardiovasculares (DCV), doença renal crônica (DRC) e morte prematura (DIRETRIZ, 2020). Além disso, apresenta impacto significativo nos custos médicos e socioeconômicos, decorrentes das complicações nos órgãos-alvo, fatais e não fatais, como: (DIRETRIZ, 2020). ➢ coração: doença arterial coronária (DAC), insuficiência cardíaca (IC), fibrilação atrial (FA) e morte súbita; ➢ cérebro: acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico (AVEI) ou hemorrágico (AVEH), demência; ➢ rins: DRC que pode evoluir para necessidade de terapia dialítica. Recentemente, o papel da imunidade/inflamação foi acrescentado aos demais mecanismos envolvidos na fisiopatologia da HAS primária. A inflamação “de baixo grau”, ou inflamação subc línica, é atualmente uma característica reconhecida de HAS, aterosclerose e obesidade. A proteína C--reativa ultrassensível (PCRus) encontra-se aumentada em pacientes hipertensos, de forma contínua e gradual aos valores de PA (SOCESP, 4ª ed.). Etiologia da HAS ↠ A hipertensão é amplamente classificada, com base na etiologia, como hipertensão primária (essencial) ou hipertensão secundária (PORTH, 10ª ed.). HIPERTENSÃO PRIMÁRIA ↠ A hipertensão primária (essencial) se refere à presença clínica de hipertensão sem evidências de uma condição clínica causal específica. Tanto os fatores não modificáveis quanto aqueles relacionados ao estilo de vida são implicados, seja isolada ou coletivamente, como fatores de contribuição para o desenvolvimento da hipertensão primária (PORTH, 10ª ed.). APG 02: HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck FATORES DE RISCO NÃO MODIFICÁVEIS DA HIPERTENSÃO PRIMÁRIA ↠ Os fatores de risco de hipertensão primária incluem fatores não modificáveis, como idade, sexo, raça, histórico familiar e genética (PORTH, 10ª ed.). IDADE ↠ A hipertensão primária é mais comum em adultos do que em crianças. Historicamente, a hipertensão em crianças é mais provavelmente secundária, muitas vezes em consequência de distúrbios cardíacos congênitos ou doença renal (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Entretanto, a incidência de hipertensão primária em crianças e adolescentes está aumentado, acompanhando o aumento da incidência de obesidade e diabetes melito tipo 2 em crianças (PORTH, 10ª ed.). ↠ Na fase adulta, a probabilidade de hipertensão aumenta com o avanço da idade, assim como aumenta a probabilidade de morbidades cardiovasculares associadas à hipertensão (PORTH, 10ª ed.). ↠ A elevação da pressão arterial com o envelhecimento está relacionada a um enrijecimento das paredes arteriais, que afeta a pressão sistólica em particular. Evidências mais recentes também indicam que a capacidade renal de excreção do sódio diminui com a idade, e a retenção de sódio também contribui para a hipertensão (PORTH, 10ª ed.). Em torno de 65% dos indivíduos acima dos 60 anos apresentam HA, e deve-se considerar a transição epidemiológica que o Brasil vem sofrendo, com um número ainda maior de idosos (= 60 anos) nas próximas décadas, o que acarretará um incremento substancial da prevalência de HA e de suas complicações (DIRETRIZ, 2020). SEXO ↠ Em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada entre homens, mas a elevação pressórica por década se apresenta maior nas mulheres (DIRETRIZ, 2020). Assim, na sexta década de vida, a PA entre as mulheres costuma ser mais elevada e a prevalência de HA, maior. Em ambos os sexos, a frequência de HA aumenta com a idade, alcançando 61,5% e 68,0% na faixa etária de 65 anos ou mais, em homens e mulheres, respectivamente (DIRETRIZ, 2020). ETNIA ↠ A etnia é um fator de risco importante para a HA, mas condições socioeconômicas e de hábitos de vida parecem ser fatores mais relevantes para as diferenças na prevalência da HA do que a implicação étnica propriamente dita (DIRETRIZ, 2020). ↠ Em comparação a outros grupos étnicos nos EUA, a hipertensão é mais prevalente e mais grave em afrodescendentes (PORTH, 10ª ed.). ↠ Estudos comparativos entre populações também indicam que afrodescendentes tendem a desenvolver hipertensão em uma idade menos avançada do que as demais populações. Os fatores responsáveis por essas diferenças podem incluir aumento da sensibilidade ao sal, aumento dos níveis de obesidade e fatores genéticos (PORTH, 10ª ed.). IMPORTANTE: Dados do Vigitel 2018 mostraram que, em nosso país, não houve uma diferença significativa entre negros e brancos no que diz respeito à prevalência de HA (24,9% versus 24,2%) (DIRETRIZ, 2020). HISTÓRICO FAMILIAR E GENÉTICA ↠ A hipertensão é observada com mais frequência entre pessoas com histórico familiar de pressão arterial alta. Acredita-se que a contribuição genética para a hipertensão possa se aproximar dos 50%. Embora os geneticistas tenham identificado muitos loci genéticos associados à hipertensão, nenhum deles é responsável por uma grande proporção da incidência de hipertensão (PORTH, 10ª ed.). Pesquisadores estão explorando como os efeitos epigenéticos relacionados à metilação do DNA podem influenciar a incidência e a gravidade da hipertensão. Também é importante observar que o ambiente interage com a genética, conforme evidenciado por muitos distúrbios sem um locus genético comumente identificado e que, ainda assim, tendem a recidivar nas famílias (PORTH, 10ª ed.). Outra possibilidade é que a influência genética sobre a hipertensão seja mediada por uma via de patogênese comum com outros distúrbios. Por exemplo, a hipertensãoé um componente da síndrome metabólica associada ao diabetes tipo 2, e algumas evidências científicas iniciais identificaram que os genes selecionados reguladores do metabolismo lipídico podem ter uma ligação genética comum com a síndrome metabólica (PORTH, 10ª ed.). FATORES DE RISCO MODIFICÁVEIS DA HIPERTENSÃO PRIMÁRIA ↠ Também foram identificados fatores de risco modificáveis da hipertensão primária, incluindo dieta, níveis de lipídios séricos, consumo de tabaco e álcool, nível de condicionamento físico e atividades, sobrepeso/obesidade e controle glicêmico no diabetes melito (PORTH, 10ª ed.). OBS.: As vias fisiopatológicas que podem ser fatores de contribuição comuns entre esses aspectos do estilo de vida incluem perturbações no sistema renina-angiotensina-aldosterona, alterações dos mecanismos dos peptídios natriuréticos, ativação do SNS e alteração da função das células endoteliais (PORTH, 10ª ed.). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck INGESTÃO DE SÓDIO E POTÁSSIO ↠ A ingestão elevada de sódio tem-se mostrado um fator de risco para a elevação da PA, e consequentemente, da maior prevalência de HA. A literatura científica mostra que a ingestão de sódio está associada a DCV e AVE, quando a ingestão média é superior a 2 g de sódio, o equivalente a 5 g de sal de cozinha (DIRETRIZ, 2020). OBS.: O consumo excessivo de sódio é um dos principais fatores de risco modificáveis para a prevenção e o controle da HA e das DCV (DIRETRIZ, 2020). ↠ De maneira inversa, o aumento na ingestão de potássio reduz os níveis pressóricos. Deve ser salientado que o efeito da suplementação de potássio parece ser maior naqueles com ingestão elevada de sódio e entre os indivíduos da raça negra (DIRETRIZ, 2020). A ingestão média de sal no Brasil é de 9,3 g/dia (9,63 g/dia para homens e 9,08 g/dia para mulheres), enquanto a de potássio é de 2,7 g/dia para homens e 2,1 g/dia para mulheres (DIRETRIZ, 2020). DISLIPIDEMIA ↠ A dislipidemia contribui para o aumento do risco de hipertensão. Acredita-se que esse efeito seja em grande parte mediado pela associação entre os lipídios no sangue e a aterosclerose (PORTH, 10ª ed.). ↠ As placas ateroscleróticas no interior das artérias aumentam a resistência ao fluxo sanguíneo por esses vasos, o que contribui para a elevação da pressão arterial para superar o aumento da resistência (PORTH, 10ª ed.). ↠ A associação ao risco aumentado de hipertensão se dá com presença de níveis mais altos de colesterol, triglicerídios e LDL entre os lipídios sanguíneos; entretanto, níveis baixos de HDL estão associados a um risco maior de hipertensão (PORTH, 10ª ed.). OBS.: A ingestão alimentar de gorduras e colesterol também é um fator que contribui para a hipertensão, em parte porque a ingestão alimentar de gorduras contribui para o desenvolvimento de dislipidemia (PORTH, 10ª ed.). TABACO ↠ Há muito tempo observa-se que o tabagismo está associado ao desenvolvimento de hipertensão; contudo, as conexões causais ainda não foram claramente identificadas (PORTH, 10ª ed.). ↠ Teorias atuais propõem que o mecanismo causal pode envolver alterações inflamatórias relacionadas às toxinas químicas do tabaco que contribuem para o desenvolvimento da aterosclerose subclínica. Essa conexão patogenética entre o tabaco e a hipertensão também pode se estender para outros tipos de consumo de tabaco, além do consumo de cigarros (PORTH, 10ª ed.). CONSUMO DE ÁLCOOL ↠ O impacto da ingestão de álcool foi avaliado em diversos estudos epidemiológicos. Há maior prevalência de HA ou elevação dos níveis pressóricos naqueles que ingeriam seis ou mais doses ao dia, o equivalente a 30 g de álcool/dia = 1 garrafa de cerveja (5% de álcool, 600 mL); = 2 taças de vinho (12% de álcool, 250 mL); = 1 dose (42% de álcool, 60 mL) de destilados (uísque, vodca, aguardente). Esse limite deve ser reduzido à metade para homens de baixo peso e mulheres (DIRETRIZ, 2020). SOBREPESO/OBESIDADE ↠ Parece haver uma relação direta, contínua e quase linear entre o excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de PA (DIRETRIZ, 2020). OBS.: Apesar de décadas de evidências inequívocas de que a circunferência de cintura (CC) fornece informações independentes e aditivas ao índice de massa corpórea (IMC) para predizer morbidade e risco de morte, tal medida não é rotineiramente realizada na prática clínica. Recomenda-se que os profissionais de saúde sejam treinados para realizar adequadamente essa simples medida e considerá-la como um importante “sinal vital” na prática clínica (DIRETRIZ, 2020). Evidências recentes indicam que a leptina, um hormônio derivado dos adipócitos, pode representar uma ligação entre a adiposidade e o aumento da atividade simpática cardiovascular. Além do seu efeito sobre o apetite e o metabolismo, a leptina atua sobre o hipotálamo e aumenta a pressão arterial por meio da ativação do SNS. Níveis altos de ácidos graxos livres circulantes em pessoas obesas aparentemente também participam na ativação do SNS (PORTH, 10ª ed.). SEDENTARISMO ↠ Há uma associação direta entre sedentarismo, elevação da PA e da HA. Chama a atenção que, em 2018, globalmente, a falta de atividade física (menos de 150 minutos de atividade física por semana ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana) era de 27,5%, com maior prevalência entre as mulheres (31,7%) do que nos homens (23,4%) (DIRETRIZ, 2020). ↠ No Brasil, o inquérito telefônico Vigitel de 2019 identificou que 44,8% dos adultos não alcançaram um nível suficiente de prática de atividade física, sendo esse percentual maior entre mulheres (52,2%) do que entre homens (36,1%) (DIRETRIZ, 2020). 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (AOS) ↠ A apneia obstrutiva do sono tem sido ligada diretamente à hipertensão. Acredita-se que o mecanismo causal envolva, em parte, a perturbação do sono, a qual interfere na “queda” circadiana noturna normal da pressão arterial. Essa “queda” noturna está associada a níveis de pressão arterial mais baixos. Interrupções repetitivas do sono e diminuição da duração ou da qualidade do sono estão associadas a uma menor “queda” noturna da pressão arterial (PORTH, 10ª ed.). HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA ↠ É a elevação da pressão arterial em consequência de outra condição patológica. Contrariamente à hipertensão primária, muitas condições causadoras de hipertensão secundária podem ser corrigidas por cirurgia ou tratamento clínico específico (PORTH, 10ª ed.). ↠ A hipertensão secundária tende a ser observada em pessoas com menos de 30 e mais de 50 anos de idade (PORTH, 10ª ed.). Cocaína, anfetaminas e outras drogas ilícitas podem causar hipertensão significativa, assim como os agentes simpaticomiméticos (descongestionantes, anorexígenos), a eritropoetina e o alcaçuz (incluindo alguns tipos de tabaco para mascar contendo alcaçuz como um dos ingredientes) (PORTH, 10ª ed.). ↠ Entre as causas mais comuns de hipertensão, estão a doença renal (i. e., hipertensão renovascular), os distúrbios dos hormônios corticais suprarrenais, o feocromocitoma, a coarctação da aorta e o uso de anticoncepcionais orais (PORTH, 10ª ed.). HIPERTENSÃO RENAL ↠ Com o papel dominante assumido pelo rim na regulação da pressão arterial, não surpreende que a maior causa isolada de hipertensão secundária seja a doença renal (PORTH, 10ª ed.). ↠ A hipertensão renovascular se refere à hipertensão causada pela redução do fluxo sanguíneo renal e pela ativação do mecanismo da renina-angiotensina- aldosterona. É a causa mais comum de hipertensão secundária, sendo responsável por 1 a 2% de todos os casos de hipertensão (PORTH, 10ª ed.). ↠ Como consequência da diminuição do fluxo sanguíneo renal observada com a doença renovascular, o rim afetado libera quantidades excessivas de renina, aumentando os níveis circulantes de angiotensinaII. A angiotensina II, por sua vez, atua como um vasoconstritor para o aumento da RVP, e como um estímulo para o aumento dos níveis de aldosterona e da retenção de sódio pelo rim. Um ou ambos os rins podem estar afetados. Com o envolvimento da artéria renal de um dos rins, o rim não afetado fica sujeito aos efeitos deletérios da elevação da pressão arterial (PORTH, 10ª ed.). DISTÚRBIOS DOS HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS ↠ O aumento dos níveis de hormônios adrenocorticais também pode ocasionar a hipertensão, em consequência da retenção renal de sal e água induzida por hormônios (PORTH, 10ª ed.). ↠ O hiperaldosteronismo primário (produção excessiva de aldosterona resultante de hiperplasia adrenocortical ou adenoma) e níveis excessivos de glicocorticoides (doença ou síndrome de Cushing) tendem a elevar a pressão arterial (PORTH, 10ª ed.). Feocromocitoma ↠ O feocromocitoma é um tumor do tecido cromafínico, o qual contém células nervosas simpáticas que são coradas com sais de cromo e liberam catecolaminas. O tumor está mais comumente localizado na medula da suprarrenal, mas pode surgir em outros locais, como os gânglios simpáticos, onde existe tecido cromafínico. Embora seja rara, a presença de um feocromocitoma pode causar crises hipertensivas sérias (PORTH, 10ª ed.). COARCTAÇÃO DA AORTA ↠ A coarctação da aorta é uma condição congênita envolvendo um estreitamento na área do arco aórtico. O estreitamento aórtico aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo e isso eleva a pressão no ventrículo esquerdo, em uma tentativa de superar a resistência (PORTH, 10ª ed.). ↠ Como as artérias subclávias tipicamente têm origem acima do ponto de estreitamento, o resultado é o desenvolvimento de hipertensão nos membros superiores e uma pressão arterial normal ou baixa nos membros inferiores. A coarctação pode ser reparada cirurgicamente, com o objetivo de remover a restrição ao fluxo pela aorta e normalizar a pressão arterial (PORTH, 10ª ed.). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck Anticoncepcionais orais ↠ O uso de anticoncepcionais orais é uma causa comum de hipertensão secundária em mulheres jovens. A causa do aumento da pressão arterial não está muito clara, embora haja indícios de que a causa provável seja a expansão do volume, uma vez que tanto os estrogênios quanto as progesteronas sintéticas contidas nas pílulas anticoncepcionais orais causam retenção de sódio (PORTH, 10ª ed.). ↠ Felizmente, a hipertensão associada aos anticoncepcionais orais normalmente desaparece após a descontinuação do medicamento, ainda que isso possa demorar 3 meses (PORTH, 10ª ed.). Manifestações Clínicas da HAS ↠ A hipertensão primária é tipicamente um distúrbio assintomático. Os sintomas, quando ocorrem, frequentemente estão relacionados aos efeitos da hipertensão a longo prazo sobre outros sistemas de órgãos-alvo, como rins, coração, olhos e vasos sanguíneos. A morbidade e a mortalidade relacionadas à hipertensão progridem ao longo de toda a variação das pressões sistólica e diastólica, com a lesão dos órgãos-alvo variando acentuadamente entre pessoas com níveis de hipertensão semelhantes (PORTH, 10ª ed.). ↠ Pessoas com hipertensão secundária também apresentam risco para os efeitos sobre esses órgãos-alvo, mas também podem apresentar manifestações clínicas relacionadas ao processo da doença primária causadora da hipertensão secundária (PORTH, 10ª ed.). LESÃO DOS ÓRGÃOS-ALVOS ↠ O aumento da pressão de perfusão ocasionada pela hipertensão pode causar lesão direta dos órgãos-alvo. Além disso, o aumento da pressão intravascular pode lesionar as células endoteliais vasculares, o que aumenta o risco de desenvolvimento de doença vascular aterosclerótica (que compromete ainda mais a perfusão dos órgãos) (PORTH, 10ª ed.). ↠ A lesão dos órgãos-alvo afeta em particular os órgãos com estrutura altamente vascularizada ou que dependem fortemente de um suprimento de sangue adequado para a sua função apropriada, incluindo coração, cérebro, rins e retina nos olhos (PORTH, 10ª ed.). OBS.: A hipertensão é uma causa líder de cardiopatia e doença cerebral isquêmica, doença renal em estágio terminal e comprometimento visual ou cegueira por retinopatia (PORTH, 10ª ed.). ↠ A elevação na pressão arterial aumenta a carga de trabalho do ventrículo esquerdo, por aumentar a pressão contra a qual o coração precisa bombear o sangue ejetado na circulação sistêmica. Com o passar do tempo, a pressão aumenta a carga de trabalho do coração, e a parede ventricular esquerda sofre remodelamento e hipertrofia para compensar o aumento do trabalho em decorrência da pressão. Essa hipertrofia ventricular esquerda é um fator de risco importante para o desenvolvimento de cardiopatia coronariana, arritmias cardíacas, morte súbita e insuficiência cardíaca congestiva, uma vez que o ventrículo não consegue bombear com eficiência (PORTH, 10ª ed.). ↠ A lesão dos rins é produzida por diversos mecanismos. Uma das formas mais significativas de a hipertensão causar lesão renal é por hipoperfusão glomerular, a qual promove glomeruloesclerose e fibrose tubulointersticial. Outro mecanismo estudado inclui a disfunção endotelial decorrente da elevação da pressão glomerular (PORTH, 10ª ed.). ↠ Demência e comprometimento cognitivo são mais frequentes em hipertensos. A hipertensão, em particular a hipertensão sistólica, é um importante fator de risco para acidente vascular encefálico e hemorragia intracerebral. O estreitamento e a esclerose das artérias penetrantes de pequeno calibre nas regiões subcorticais do cérebro são achados comuns à necropsia de pessoas com hipertensão crônica. Acredita-se que essas 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck alterações contribuam para a hipoperfusão, perda da autorregulação do fluxo sanguíneo e comprometimento da barreira hematencefálica, finalmente levando à desmielinização da substância branca (PORTH, 10ª ed.). ↠ A hipertensão também afeta o olho, em alguns casos de modo devastador. A retinopatia hipertensiva afeta a retina induzindo uma série de alterações microvasculares. O olho de um hipertenso inicialmente apresenta aumento do tônus vasomotor, que causa estreitamento arteriolar generalizado. A longo prazo, essas alterações podem causar lacerações arteriovenosas (AV) mais graves e cegueira (PORTH, 10ª ed.). EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA: Algumas poucas pessoas hipertensas desenvolvem um tipo de hipertensão acelerada e possivelmente fatal, denominada emergência hipertensiva, que é caracterizada por elevações acentuadas e súbitas na pressão arterial (> 180/120 mmHg), complicadas por evidências de lesões agudas dos órgãos-alvo ou agravamento destas (PORTH, 10ª ed.). Epidemiologia DADOS EPIDEMIOLÓGICOS GLOBAIS ↠ As DCV são a principal causa de morte, hospitalizações e atendimentos ambulatoriais em todo o mundo, inclusive em países em desenvolvimento como o Brasil. Em 2017, dados completos e revisados do Datasus mostraram a ocorrência de 1.312.663 óbitos no total, com um percentual de 27,3% para as DCV. A HA estava associada em 45% destas mortes cardíacas (DIRETRIZ, 2020). ↠ Ainda, segundo o Carga Global das Doenças (GBD), observou-se que a elevação da PAS foi o principal fator de risco, responsável por 10,4 milhões de mortes e 218 milhões de DALYs ((anos de vida ajustados para a incapacidade ou, em outras palavras, anos perdidos de vida saudável) (DIRETRIZ, 2020). ↠ Globalmente, em 2010, a prevalência de HA (=140/90 mmHg e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva) foi de 31,0%, sendo maior entre homens (31,9%) do que entre as mulheres (30,1%) (DIRETRIZ, 2020). PREVALÊNCIA DE HAS NO BRASIL ↠ Os dados de prevalência no país tendem a variar de acordo com a metodologia e a casuística utilizadas. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, 21,4% (IC 95% 20,8-22,0)dos adultos brasileiros autorrelataram HA, enquanto, considerando as medidas de PA aferidas e uso de medicação anti-hipertensiva, o percentual de adultos com PA maior ou igual que 140 por 90 mmHg chegou a 32,3% (IC 95% 31,7- 33,0) (DIRETRIZ, 2020). ↠ Detectou-se que a prevalência de HA foi maior entre homens, além de, como esperado, aumentar com a idade por todos os critérios, chegando a 71,7% para os indivíduos acima de 70 anos (DIRETRIZ, 2020). ↠ No período de uma década (2008 a 2017), foram estimadas 667.184 mortes atribuíveis à HA no Brasil (DIRETRIZ, 2020). ↠ Em termos de custos ao SUS, a HA tem custos atribuíveis maiores do que os da obesidade e do DM. Ao longo da última década, 77% dos custos com hospitalizações no SUS com DAC são representados por DCV associadas à HA e aumentaram 32%, em reais, de 2010 a 2019, passando de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,2 bilhões no período (DIRETRIZ, 2020). Diagnóstico da HAS ↠ A avaliação inicial de um paciente com hipertensão arterial (HA) inclui a confirmação do diagnóstico, a suspeita e a identificação de causa secundária, além da avaliação do risco cardiovascular (CV). As lesões de órgão-alvo (LOA) e as doenças associadas também devem ser investigadas (DIRETRIZ, 2020). ↠ Fazem parte dessa avaliação: (DIRETRIZ, 2020). ➢ a medida da pressão arterial (PA) no consultório e/ou fora dele, utilizando-se técnica adequada e equipamentos validados e calibrados; ➢ a obtenção de história médica (pessoal e familiar); ➢ a realização de exame físico; ➢ a investigação clínica e laboratorial. OBS.: Propõem-se avaliações gerais a todos os hipertensos e avaliações complementares apenas para grupos específicos (DIRETRIZ, 2020). ↠ A avaliação clínica e laboratorial do paciente com hipertensão arterial deve ser composta pelas seguintes partes: (SOCESP, 4ª ed.). ➢ Histórico clínico e exame físico. ➢ Exames laboratoriais. 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck HISTÓRICO CLÍNICO E EXAME FÍSICO ↠ O histórico clínico é fundamental para o conhecimento das principais características do paciente, assim como para todas as avaliações médicas. Deve obrigatoriamente incluir: (SOCESP, 4ª ed.). ➢ Quando a doença começou; ➢ Tratamentos e exames anteriores; ➢ Fatores de risco eventualmente presentes; ➢ Indícios de outras doenças que podem cursar com elevação da PA (hipertensão secundária); ➢ Medicamentos em uso e que podem interferir na PA. ↠ No exame físico, a medida da pressão arterial é o ponto cardinal, pois será a partir desses valores que se considerará o diagnóstico de HAS (SOCESP, 4ª ed.). Aferição da PA dentro do consultório A PA deve ser medida em toda avaliação por médicos, de qualquer especialidade, e por todos os profissionais da saúde devidamente capacitados (DIRETRIZ, 2020). O paciente deve sentar-se confortavelmente em um ambiente silencioso por 5 minutos, antes de iniciar as medições da PA. Explique o procedimento ao indivíduo e oriente a não conversar durante a medição. Possíveis dúvidas devem ser esclarecidas antes ou depois do procedimento. (DIRETRIZ, 2020). Certifique-se de que o paciente NÃO: (DIRETRIZ, 2020). ➢ Está com a bexiga cheia; ➢ Praticou exercícios físicos há, pelo menos, 60 minutos; ➢ Ingeriu bebidas alcoólicas, café ou alimentos; ➢ Fumou nos 30 minutos anteriores. Três medidas de PA devem ser realizadas, com intervalo de 1 a 2 minutos; e medidas adicionais somente se as duas primeiras leituras diferirem em > 10 mmHg. Registre em prontuário a média das duas últimas leituras da PA, sem “arredondamentos” e o braço em que a PA foi medida. Medidas adicionais podem ter que ser realizadas em pacientes com valores instáveis da PA devido a arritmias. Use o manguito adequado para a circunferência do braço. O manguito deve ser posicionado ao nível do coração. A palma da mão deve estar voltada para cima e as roupas não devem garrotear o braço. As costas e o antebraço devem estar apoiados; as pernas, descruzadas; e os pés, apoiados no chão. Meça a PA nos dois braços na primeira visita, de preferência simultaneamente, para detectar possíveis diferenças entre os braços. Use o braço com o maior valor como referência. ↠ Outros aspectos do exame são fundamentais, como: (SOCESP, 4ª ed.). ➢ Obtenção da frequência cardíaca; ➢ Peso, estatura e índice de massa corporal (IMC), calculado a partir desses dados: peso (kg/altura2(em metros) = IMC.. ➢ Procurar sinais de lesões em órgãos-alvo (DIRETRIZ, 2020); ➢ Avaliar o aparelho cardiovascular (palpação e ausculta) (DIRETRIZ, 2020); ➢ Observar as extremidades: edemas, pulsos em MMSS e MMII (DIRETRIZ, 2020); OBS.: A obesidade é identificada quando o IMC for maior ou igual a 30 kg/m (SOCESP, 4ª ed.). A obesidade visceral, um parâmetro que estima risco cardiovascular com muita precisão, pode ser estimada pela medida da circunferência abdominal. Segundo o NCEP III, são considerados valores normais aqueles inferiores a 88 cm para as mulheres e a 102 cm para os homens (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Com a história clínica, valores de pressão arterial e exame físico, é possível estratificar o risco de cada paciente com HAS, o que será fundamental para o estabelecimento do tratamento e para que se definam as metas ideais de pressão arterial a serem atingidas com as intervenções propostas (SOCESP, 4ª ed.). Aferição da PA fora do consultório A PA fora do consultório pode ser obtida através da MAPA ou da MRPA, respeitando-se suas indicações e limitações (DIRETRIZ, 2020). MAPA e a MRPA não devem ser confundidas com a automedida da PA (AMPA), realizada com equipamento automático do próprio paciente, que não obedece a nenhum protocolo preestabelecido. As 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck medidas são realizadas aleatoriamente e feitas por decisão do próprio paciente ou até a pedido médico (DIRETRIZ, 2020). EXAMES LABORATORIAIS (COMPLEMENTAR) ↠ Os exames recomendados para a avaliação do paciente com HAS são os apresentados na tabela abaixo, sendo divididos em testes de rotina, testes adicionais baseados no histórico clínico, exame físico e exames de rotina e avaliação especializada, em geral de competência do especialista em hipertensão arterial sistêmica (SOCESP, 4ª ed.). INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL NO PACIENTE COM HAS EXAMES DE ROTINA Hemoglobina e/ou hematócrito Glicemia de jejum Colesterol plasmático total, LDL-C, HDL-C Triglicérides plasmático Sódio e Potássio Ácido úrico Creatinina Análise da urina Microalbuminúria Eletrocardiograma de 12 derivações EXAMES DE ROTINA HIPERTENSÃO, 3ª ed. SANGUE Hemograma: deve-se observar a presença de anemia na doença renal crônica e nas situações primárias de aumento do hematócrito (síndrome de Gaisbock). Glicemia de jejum e hemoglobina glicada: é fundamental afastar a presença de diabetes melito, fator de risco agravante da hipertensão arterial sistêmica. Creatinina sérica e taxa de filtração glomerular (TFG calculada): a creatinina sérica é o principal indicador da função renal. Contudo, deve- se atentar que a creatinina somente começa a se elevar quando houver perda de 30 a 40% da massa funcional glomerular, por isso a necessidade de se calcular a TFG. Ácido úrico: a artrite gotosa é subdiagnosticada e passível de ser agravada pelo uso intempestivo de tiazídico. Da mesma forma que o uso de substâncias que acidificam a urina (p. ex., a vitamina C) pode facilitar a formação de cálculos renais. Potássio: a hipocalemia pode ser o único indicador para hiperaldosteronismo. Além disso, hipocalemia facilita desenvolvimento de arritmias e prejudica o controle da glicemia. Lipidograma (colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol e triglicerídeos): atores de risco muito frequentes entre os hipertensos, já bem estabelecido o seu tratamento quando alterados. Não há necessidade de solicitar a dosagem do LDL-colesterol.Ele pode ser obtido (quando os triglicerídeos forem < 400 mg/dL) utilizando-se a fórmula: LDL-colesterol = Colesterol total – (Triglicerídeos/5 + HDL- colesterol) URINA Alterações nos sedimentos e densidade urinária indicam disfunção renal e a necessidade da dosagem da fração albumina:creatinina, principalmente em diabéticos. ELETROCARDIOGRAMA (ECG) O ECG é um exame pouco sensível, porém bastante específico. A presença de sinais indicativos de aumento do átrio e hipertrofia ventricular esquerda (HVE) são dados importantes obtidos pelo exame. O ECG é também importante para detectar arritmias, principalmente a fibrilação atrial, frequente nos idosos. EXAMES ADICIONAIS, BASEADOS EM HISTÓRICO CLÍNICO, EXAMES FÍSICOS E ACHADOS DE EXAMES LABORATORIAIS DE ROTINA Hemoglobina se glicemia de jejum >/= 100 mg ou diagnóstico prévio de diabetes Proteinúria quantitativa Monitorização ambulatorial de pressão arterial (MAPA) ou residencial (MRPA) Ecocardiograma: é mais sensível que o ECG quanto ao diagnóstico de hipertrofia do ventrículo esquerdo e agrega valores na avaliação de formas geométricas; Holter em caso de arritmias que necessitam de avaliação detalhada Fundoscopia Classificação da HAS ↠ No diagnóstico da HA, são possíveis vários fenótipos. Define-se a normotensão verdadeira (NV) como as 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck medidas da PA no consultório e fora do consultório normais, a HA sustentada (HS) quando ambas são anormais, a HA do avental branco (HAB) quando a PA é elevada no consultório, mas é normal fora dele, e HA mascarada (HM) quando a PA é normal no consultório, mas é elevada fora dele (DIRETRIZ, 2020). ↠ Embora a prevalência varie entre os estudos, a HAB pode ser detectada em cerca de 15 a 19% dos indivíduos no consultório, alcançando 30 a 40% naqueles com PA elevada no consultório. É mais comum nos pacientes com HA estágio 1 (DIRETRIZ, 2020). RECOMENDAÇÕES PARA DIAGNÓSTICO E SEGUIMENTO ↠ A HA é uma condição habitualmente assintomática. Por isso, deve ser avaliada em todo atendimento médico e em programas estruturados de triagem populacional. Nestes últimos, mais de 50% dos portadores de HA não sabiam que tinham a doença (DIRETRIZ, 2020). ↠ Pessoas saudáveis com uma PA ótima no consultório (< 120/80 mmHg) ou com PA normal (120-129/80-84 mmHg) devem ter a PA medida novamente pelo menos anualmente e nas consultas médicas (DIRETRIZ, 2020). ↠ Pacientes com pré-hipertensão (130-139/85-89 mmHg) devem ter a PA medida anualmente ou, preferencialmente antes, devido às altas taxas de progressão para HA. Além disso, nos casos suspeitos de HM, a MAPA ou a MRPA devem ser realizadas para detectar tal fenótipo (DIRETRIZ, 2020). ↠ Como a PA pode ter alta variabilidade, o diagnóstico de HA não deve se basear exclusivamente na medida da PA em apenas uma consulta médica, a menos que esteja substancialmente elevada (HA estágio 3) ou haja diagnóstico estabelecido de LOA ou de doença CV. Para os demais pacientes, as medidas repetidas da PA em visitas subsequentes no consultório devem ser utilizadas para confirmar uma elevação persistente, bem como para classificar o estágio da HA (DIRETRIZ, 2020). ↠ Quanto maior o estágio da HA, maior deverá ser o número de visitas e menor o intervalo de tempo entre elas (DIRETRIZ, 2020). Tratamento da HAS ↠ Um dos objetivos específicos do tratamento do paciente hipertenso é obter o controle pressórico alcançando a meta de pressão arterial (PA) previamente estabelecida. Tal meta deve ser definida individualmente, sempre considerando a idade e a presença de doença cardiovascular (DCV) ou de seus fatores de risco (FR). De forma geral, deve-se reduzir a PA visando a alcançar valores menores que 140/90 mmHg e não inferiores a 120/70 mmHg (DIRETRIZ, 2020). TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO ↠ O tratamento não farmacológico (TNF) está indicado para todos os pacientes com HAS, pois viabilizam menores doses dos anti-hipertensivos (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Para pacientes com HAS estágio 1 e baixo a moderado risco CV, sem evidência de lesão m órgãos-alvo, o TNF está indicado isoladamente por um período de 3 a 6 meses, antes de se iniciar a terapia farmacológica. Paciente com HAS estágio 1, mas com alto risco CV e lesão em órgãos-alvo devem iniciar simultaneamente o tratamento farmacológico e não farmacológico (SOCESP, 4ª ed.). ↠ As mudanças de estilo de vida recomendadas para redução da pressão arterial (PA) são: restrição de sal, moderação do consumo de álcool, alto consumo de vegetais e frutas, redução de peso com manutenção do peso corporal ideal e atividade física regular (SOCESP, 4ª ed.). OBS.: Um potencial desvantagem da modificação do estilo de vida é sua baixa adesão ao longo do tempo (SOCESP, 4ª ed.). HÁBITOS ALIMENTARES ↠ É importante salientar que orientação de estilo de vida do ponto de vista nutricional não é recomendar dieta e sim educação nutricional para o resto da vida (SOCESP, 4ª ed.). ↠ A reeducação alimentar, por sua vez, implementa o conceito de mudança de hábitos alimentares que terão 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck impacto na prevenção CV ao longo da vida (SOCESP, 4ª ed.). CAFÉ E PRODUTOS COM CAFEÍNA ↠ O café, além de ser rico em cafeína, possui compostos bioativos como polifenóis, em especial os ácidos clorogênicos, o magnésio e o potássio, que podem favorecer a redução da PA. A cafeína é capaz de elevar agudamente a PA, por mais de três horas, mas o consumo regular leva à tolerância (DIRETRIZ, 2020). PERDA DE PESO ↠ O peso corporal está diretamente relacionado com a PA. Isso se torna mais evidente com o aumento da prevalência de obesidade ao redor do mundo. A perda de peso, além de promover a queda da PA, reduz o risco CV e melhora a eficácia das medicações anti-hipertensivas (DIRETRIZ, 2020). ATIVIDADE FÍSICA E EXERCÍCIO FÍSICO ↠ A atividade física (AF) refere-se a qualquer movimento corporal que aumente o gasto energético acima daquele em repouso, como locomoção e atividades laborais, domésticas e de lazer (DIRETRIZ, 2020). ↠ O exercício físico (EF), por sua vez, refere-se à AF estruturada, organizada e com objetivo específico, como melhorar a saúde e/ou a aptidão física (DIRETRIZ, 2020). ↠ A prática regular de AF diminui a incidência de HÁ Além disso, os hipertensos que alcançam as recomendações de prática de AF para a saúde apresentam uma redução de 27 a 50% no risco de mortalidade, mas níveis menores também apresentam efeito benéfico (DIRETRIZ, 2020). TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ↠ A proteção cardiovascular (CV) consiste no objetivo primordial do tratamento anti-hipertensivo. A redução da pressão arterial (PA) é a primeira meta, com o objetivo maior de reduzir desfechos CV e mortalidade associados à hipertensão arterial (HA) (DIRETRIZ, 2020). ↠ As cinco principais classes de fármacos anti- hipertensivos são: (DIRETRIZ, 2020). ➢ diuréticos (DIU); ➢ bloqueadores dos canais de cálcio (BCC); ➢ inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA); ➢ bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA); ➢ betabloqueadores (BB). ↠ Esses medicamentos demonstraram reduções significativas da PA comparadas com placebo, acompanhadas de diminuições consideráveis dos desfechos CV fatais e não fatais, benefício relacionado fundamentalmente com a redução da PA (DIRETRIZ, 2020). OBS.: Outras classes de fármacos, como os alfabloqueadores, os simpatolíticos de ação central, os antagonistas da aldosterona e os vasodilatadores diretos, não foram amplamente estudadas em ensaios clínicos e associam-se a maior taxa de eventos adversos e devem ser usadas quando não há controle da PA em uso de combinações utilizando-se as principais classes de fármacos já mencionadas (DIRETRIZ, 2020). CARACTERÍSTICAS E ORIENTAÇÕES SOBRE OS FÁRMACOS ANTI- HIPERTENSIVOS São característicasdesejáveis do fármaco anti-hipertensivo: (DIRETRIZ, 2020). ➢ Ter demonstrado a capacidade de reduzir a morbidade e a mortalidade CV; ➢ Ser eficaz por via oral; ➢ Ser bem tolerado; ➢ Ser administrado preferencialmente em dose única diária; ➢ Poder ser usado em associação; ➢ Ter controle de qualidade em sua produção. Além disso, recomenda-se: (DIRETRIZ, 2020). ➢ Utilizar por um período mínimo de quatro semanas, antes de modificações, salvo em situações especiais; ➢ Não utilizar medicamentos manipulados, pois não são submetidos a controle da farmacocinética e farmacovigilância; ➢ O paciente deverá ser orientado sobre a importância do uso contínuo da medicação anti-hipertensiva, da eventual necessidade de ajuste de doses, da troca ou da associação de medicamentos e ainda do eventual aparecimento de efeitos adversos; ➢ Não há evidências suficientes para a recomendação rotineira da administração noturna de fármacos anti- hipertensivos, exceto em condições especiais. IMPORTANTE: O tratamento com medicamentos pode ser iniciado com monoterapia ou com combinação de fármacos. Ênfase deve ser dada ao uso de combinação de fármacos como estratégia preferencial para a maioria dos pacientes hipertensos (DIRETRIZ, 2020). 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck DIURÉTICOS (DIU) ↠ O mecanismo da ação anti-hipertensiva dos DIU relaciona-se inicialmente a seus efeitos natriureticos, com a diminuição do volume circulante e do volume extracelular (DIRETRIZ, 2020). MECANISMO DE AÇÃO: Os diuréticos modificam a excreção ou a reabsorção dos eletrólitos (sódio e cloreto) no rim. Por sua vez, isso determina o volume de água que se torna urina e que será eliminada pelo sistema urinário (FORD, 11ª ed.). ➢ Diuréticos de alça inibem a reabsorção de sódio e de cloreto nos túbulos distais e proximais do rim, bem como na alça de Henle. A ação nesses três locais aumenta sua efetividade como diuréticos (FORD, 11ª ed.). ➢ Diuréticos tiazídicos e diuréticos relacionados inibem a reabsorção de íons sódio e cloreto no ramo ascendente da alça de Henle e na parte inicial do túbulo distal do néfron. Essa ação resulta na excreção de sódio, cloreto e água (FORD, 11ª ed.). ➢ Diuréticos poupadores de potássio reduzem a excreção de potássio pelo rim. Eles bloqueiam a reabsorção de sódio nos túbulos renais, com consequente aumento da eliminação de sódio e água na urina; isso reduz a excreção de potássio. A espironolactona antagoniza a ação da aldosterona. A aldosterona, um hormônio produzido pelo córtex das glândulas suprarrenais, aumenta a reabsorção de sódio nos túbulos contorcidos distais do rim. Quando essa reabsorção é bloqueada pelo fármaco, o sódio (mas não o potássio) e a água são excretados (FORD, 11ª ed.). ➢ Diuréticos osmóticos (manitol, sorbitol) aumentam a densidade do filtrado no glomérulo. Isso impede a reabsorção seletiva de água, que é eliminada na forma de urina. Ocorre também aumento da excreção de sódio e cloreto (FORD, 11ª ed.). ➢ Inibidores da anidrase carbônica (acetazolamida) são sulfonamidas, sem ação bacteriostática, que inibem a enzima anidrase carbônica, resultando em excreção de sódio, potássio, bicarbonato e água (FORD, 11ª ed ↠ Após quatro a seis semanas, o volume circulante praticamente normaliza-se, e ocorre redução da resistência vascular periférica (RVP) (DIRETRIZ, 2020). ↠ Deve-se dar preferência aos DIU tiazídicos (hidroclorotiazida) ou similares (clortalidona e indapamida) em doses baixas, pois são mais suaves e com maior tempo de ação, reservando-se os DIU de alça (furosemida e bumetanida) às condições clínicas com retenção de sódio e água, como a insuficiência renal (DIRETRIZ, 2020). EFEITOS ADVERSOS: Os principais efeitos adversos dos DIU são fraqueza, cãibras, hipovolemia e disfunção erétil (DIRETRIZ, 2020). BLOQUEADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO (BCC) As artérias sistêmicas e coronárias são influenciadas pelo movimento de cálcio através das membranas celulares do músculo liso vascular. As contrações do músculo cardíaco e músculo liso vascular dependem do movimento de íons cálcio extracelulares para dentro dessas paredes através de canais iônicos específicos (FORD, 11ª ed.). ↠ Bloqueadores dos canais de cálcio inibem o movimento de íons cálcio através das membranas celulares das células musculares cardíacas e arteriais. Isso resulta em menor disponibilidade de cálcio para a transmissão de impulsos nervosos. Em consequência, esses fármacos relaxam os vasos sanguíneos, aumentam o suprimento de oxigênio ao coração e reduzem o trabalho cardíaco (FORD, 11ª ed.). ↠ Reduz a disponibilidade de cálcio no interior das células dificultando a contração muscular e, consequentemente, diminui a RVP por vasodilatação (DIRETRIZ, 2020). ↠ Os BCC são classificados em dois tipos básicos: os di- hidropiridínicos e os não di-hidropiridínicos (DIRETRIZ, 2020). ↠ Os dihidropiridínicos (anlodipino, nifedipino, felodipino, manidipino, levanlodipino, lercanidipino, lacidipino) exercem efeito vasodilatador predominante, com mínima interferência na FC e na função sistólica, sendo, por isso, mais frequentemente usados como medicamentos anti- hipertensivos (DIRETRIZ, 2020). 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Os BCC não di-hidropiridínicos, como as difenilalquilaminas (verapamila) e as benzotiazepinas (diltiazem), têm menor efeito vasodilatador e agem na musculatura e no sistema de condução cardíacos. Por isso, reduzem a FC, exercem efeitos antiarrítmicos e podem deprimir a função sistólica, principalmente nos pacientes que já tenham disfunção miocárdica, devendo ser evitados nessa condição (DIRETRIZ, 2020). Convém dar preferência aos BCC de ação prolongada para evitar oscilações indesejáveis na FC e na PA. São anti-hipertensivos eficazes e reduzem a morbidade e mortalidade CV (DIRETRIZ, 2020). EFEITOS ADVERSOS: O edema maleolar costuma ser o efeito colateral mais registrado e resulta da própria ação vasodilatadora (mais arterial que venosa), promovendo a transudação capilar. A cefaleia latejante e as tonturas são comuns (DIRETRIZ, 2020). INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA (IECA) ↠ São medicamentos anti-hipertensivos eficazes que têm como ação principal a inibição da enzima conversora de angiotensina I, responsável a um só tempo pela transformação de angiotensina I em angiotensina II (vasoconstritora) e pela redução da degradação da bradicinina (vasodilatadora). São eficazes no tratamento da HA, reduzindo a morbidade e mortalidade CV (DIRETRIZ, 2020). EFEITOS ADVERSOS: Habitualmente, são bem tolerados pela maioria dos pacientes hipertensos, sendo a tosse seca seu principal efeito colateral, acometendo 5 a 20% dos usuários (DIRETRIZ, 2020). BLOQUEADORES DOS RECEPTORES AT1 DA ANGIOTENSINA II (BRA) ↠ Os BRA antagonizam a ação da angiotensina II pelo bloqueio específico dos receptores AT1, responsáveis pelas ações próprias da angiotensina II (vasoconstrição, estímulo da proliferação celular e da liberação de aldosterona) (DIRETRIZ, 2020). BETABLOQUEADORES (BB) ↠ Os BB têm ações farmacológicas complexas. Promovem a diminuição inicial do débito cardíaco e da secreção de renina, com a readaptação dos barorreceptores e diminuição das catecolaminas nas sinapses nervosas (DIRETRIZ, 2020). ↠ Eles podem ser diferenciados em três categorias, de acordo com a seletividade para ligação aos receptores adrenérgicos: (DIRETRIZ, 2020). ➢ não seletivos: bloqueiam tanto os receptores adrenérgicos beta-1, encontrados principalmente no miocárdio, quanto os beta-2, encontrados no músculo liso, nos pulmões, nos vasos sanguíneos e em outros órgãos (propranolol, nadolol e pindolol, este último apresentando atividade simpatomimética intrínseca, agindo como um agonista adrenérgico parcial e produzindo menos bradicardia); ➢ cardiosseletivos: bloqueiam preferencialmenteos receptores beta-1 adrenérgicos (atenolol, metoprolol, bisoprolol e nebivolol, que é o mais cardiosseletivo); ➢ com ação vasodilatadora: manifesta-se por antagonismo ao receptor alfa-1 periférico (carvedilol) e por produção de óxido nítrico (nebivolol). OBS.: Uma metanálise que incluiu mais de 130 mil pacientes com hipertensão primária identificou que o atenolol, comparado com os demais anti-hipertensivos, aumenta o risco de AVE em 26% e a mortalidade geral em 8%, ambos estatisticamente significantes. Essa é a principal razão para tal diretriz recomendar os BB como medicação anti-hipertensiva inicial apenas nos casos em que têm indicação específica (DIRETRIZ, 2020). EFEITOS ADVERSOS: Broncoespasmo, bradicardia, distúrbios da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão, astenia e disfunção sexual. Os BB são contraindicados em pacientes com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus. Podem acarretar intolerância à glicose, induzir ao aparecimento de novos casos de diabetes melito, hipertrigliceridemia, elevação do colesterol-LDL e redução do colesterol-HDL (DIRETRIZ, 2020). SIMPATOLÍTICOS DE AÇÃO CENTRAL ↠ Os alfa-agonistas de ação central agem por meio do estímulo dos receptores alfa-2 que estão envolvidos nos mecanismos simpatoinibitório (DIRETRIZ, 2020). ↠ Os efeitos dessa classe são: diminuição da atividade simpática e do reflexo dos barorreceptores, o que contribui para a bradicardia relativa e a hipotensão notada na posição ortostática; discreta diminuição na RVP e no débito cardíaco, redução nos níveis plasmáticos de renina; e retenção de fluidos (DIRETRIZ, 2020). ↠ São representantes desse grupo: metildopa, clonidina e o inibidor dos receptores imidazolínicos rilmenidina (DIRETRIZ, 2020). OBS.: A metildopa encontra sua principal indicação na HA durante a gestação, pois é usada por um curto período da vida, com grande experiência clínica em sua utilização nesse tempo, e apresenta o 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck melhor perfil de segurança para a gestante e para o feto (DIRETRIZ, 2020). EFEITOS ADVERSOS: Os medicamentos dessa classe apresentam reações adversas decorrentes da ação central, como sonolência, sedação, boca seca, fadiga, hipotensão postural e disfunção erétil (DIRETRIZ, 2020). ALFABLOQUEADORES ↠ Os medicamentos dessa classe agem como antagonistas competitivos dos receptores alfa-1 pós- sinápticos, reduzindo a RVP sem mudanças no débito cardíaco. Promovem maior redução pressórica quando na posição ortostática e na taquicardia reflexa (DIRETRIZ, 2020). ↠ Os representantes dessa classe utilizados como medicamentos anti-hipertensivos são a doxazosina e a prazosina (DIRETRIZ, 2020). OBS.: Uma ação coadjuvante benéfica dos bloqueadores alfa-1 é o relaxamento da musculatura do assoalho prostático, a qual favorece o esvaziamento da bexiga nos pacientes com hiperplasia prostática benigna (HPB) (DIRETRIZ, 2020). EFEITOS ADVERSOS: Podem provocar hipotensão sintomática na primeira dose (DIRETRIZ, 2020). VASODILATADORES DIRETOS ↠ Os medicamentos dessa classe, ativos por via oral, são a hidralazina e o minoxidil. Atuam diretamente, relaxando a musculatura lisa arterial, levando à redução da RVP (DIRETRIZ, 2020). EFEITOS ADVERSOS: Os efeitos colaterais da hidralazina são cefaleia, flushing, taquicardia reflexa e reação lupus-like (dose-dependente). Um efeito colateral frequente do minoxidil é o hirsutismo, que ocorre em aproximadamente 80% dos pacientes (DIRETRIZ, 2020). INIBIDORES DIRETO DA RENINA ↠ O alisquireno, único representante da classe disponível comercialmente, promove a inibição direta da ação da renina com a consequente diminuição da formação de angiotensina II (DIRETRIZ, 2020). OBS.: Não existem, contudo, evidências de seus benefícios sobre a morbidade e a mortalidade CV em hipertensos e pré-hipertensos (DIRETRIZ, 2020). ↠ Seu uso é contraindicado na gravidez pelas mesmas razões dos IECA e BRA (DIRETRIZ, 2020). ASSOCIAÇÕES DE FÁRMACOS ANTI-HIPERTENSIVOS A terapia anti-hipertensiva inicial com combinação de fármacos parece estar associada à redução do risco de desfechos CV quando comparada com o tradicional início do tratamento com monoterapia. A combinação inicial de dois fármacos em comparação com a associação sequencial promove um controle mais rápido, podendo reduzir em até cinco vezes mais a PA, com evidente impacto sobre LOA e desfechos CV a longo prazo (DIRETRIZ, 2020). 14 Júlia Morbeck – @med.morbeck Prevenção da HAS A HA tem alta prevalência e é um dos principais fatores de risco para as DCV e renais, apresentando determinantes genéticos, ambientais e sociais combinados. Mostra-se de fácil diagnóstico e seu tratamento é eficaz utilizando-se um arsenal terapêutico diversificado, bastante eficiente e com poucos efeitos adversos. Mesmo assim, seu controle em todo o mundo é pífio, porque se trata de doença frequentemente assintomática, o que dificulta a adesão aos cuidados (DIRETRIZ, 2020). A equação final torna o desafio do tratamento muito elevado, e a prevenção continua a ser a melhor opção em termos de custo- benefício. A abordagem adequada dos fatores de risco para o desenvolvimento da HA deve ser o grande foco do SUS. Nesse quesito, há vários pontos que merecem destaque (DIRETRIZ, 2020). CONTROLE DO PESO ↠ A obesidade geral e a obesidade abdominal foram associadas ao aumento do risco de HA. Por outro lado, a diminuição do peso promove a diminuição da PA tanto em indivíduos normotensos quanto em hipertensos. Ser “o mais magro possível” dentro da faixa da normalidade do IMC pode ser a melhor sugestão com relação à prevenção primária da HA (DIRETRIZ, 2020). DIETA SAUDÁVEL E SÓDIO ↠ Tem destaque, nesse sentido, a dieta DASH e suas variantes (baixa quantidade de gordura, mediterrânea, vegetariana/vegana, nórdica, baixo teor de carboidratos etc.). Os benefícios são ainda maiores quando ocorre em conjunto a redução de ingestão de sódio (DIRETRIZ, 2020). OBS.: Todos os documentos sobre o assunto indicam a alimentação com consumo parcimonioso de frutas, verduras, legumes, cereais, leite e derivados, além de indicarem menor quantidade de gordura e sal (DIRETRIZ, 2020). ↠ O consumo excessivo de sódio é um dos principais fatores de risco modificáveis para a prevenção e o controle da HA e das DCV. A restrição de sódio mostrou ter um efeito redutor da PA em muitos estudos (DIRETRIZ, 2020). ↠ Recomenda-se que a ingestão de sódio seja limitada a aproximadamente 2 g/dia (equivalente a cerca de 5 g de sal por dia) na população em geral (DIRETRIZ, 2020). OBS.: A redução no consumo de sal na população brasileira continua sendo prioridade de saúde pública, mas requer um esforço combinado entre indústria de alimentos, governos nas diferentes esferas e público em geral, já que 80% do consumo de sal envolve aquele contido nos alimentos processados (DIRETRIZ, 2020). ATIVIDADE FÍSICA ↠ Todos os adultos devem ser aconselhados a praticar pelo menos 150 min/semana de atividades físicas moderadas ou 75 min/semana de vigorosas. Os exercícios aeróbicos (caminhada, corrida, ciclismo ou natação) podem ser praticados por 30 minutos em 5 a 7 dias por semana. A realização de exercícios resistidos em 2 a 3 dias por semana também pode ser recomendada (DIRETRIZ, 2020). FATORES PSICOSSOCIAIS ↠ O controle do estresse emocional, por diversas técnicas existentes, pode contribuir para a prevenção da HÁ, carecendo ainda de mais estudos robustos nesse sentido (DIRETRIZ, 2020). TABAGISMO ↠ Independentemente de seu efeito sobre a PA, abordar este tema mostra-se muito importante, porque o fumo é o único fator de risco totalmente evitável de doença e morte cardiovasculares, e seu enfrentamento precisa serfeito (DIRETRIZ, 2020). ↠ O combate ao tabagismo é difícil, pelas dependências química e psíquica que causa, mas os benefícios da cessação na mortalidade CV já ocorrem a curto prazo (DIRETRIZ, 2020). ↠ O rigor no combate e no controle, a orientação contínua e o apoio psicoemocional incondicional ao tabagista, com a eventual prescrição de medicamentos, têm-se mostrado a abordagem mais eficaz. É também importante a proteção contra a exposição ao fumo passivo que também implica maior risco (DIRETRIZ, 2020). 15 Júlia Morbeck – @med.morbeck Referências BRANDÃO et. al. Hipertensão, 3ª edição – Santana de Parnaíba – São Paulo: Manole, 2022. CONSOLIM-COLOMBO et. al. Tratado de Cardiologia SOCESP, 4ª edição – Barueri – São Paulo: Manole, 2019. FORD, S. M. Farmacologia Clínica, 11ª edição – Rio de Janeiro: Gunabara Koogan, 2019. BARROSO et. al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial - 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2021. NORRIS. PORTH Fisiopatologia, 10ª edição – Rio de Janeiro: guanabara Koogan, 2021.
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