Buscar

Melanie Klein e Winnicott

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

· Melanie Klein
Esta psicanalista direcionou o pensamento psicanalítico em nova direção, com o reconhecimento da importância que as experiências dos primeiros anos de vida têm para a formação de nosso mundo emocional na vida adulta. 
Através da expansão e desenvolvimento das idéias de Sigmund Freud, Klein foi inspirado pela análise de jogos infantis para formular novos conceitos, como os das posições esquizo-paranóica e depressiva. Radicais por sua época e gerando grandes controvérsias, suas teorias permanecem no centro do pensamento kleiniano, que continua a evoluir e crescer. 
Nesta disciplina você irá aprender os detalhes sobre os principais conceitos desenvolvidos por Klein, bem como as novas gerações de psicanalistas que encontraram inspiração em suas ideias. 
 
· Melanie Klein: História e Trajetória
Melanie Klein (Viena, 30 de março de 1882 – Londres, 22 de setembro de 1960) foi uma das maiores psicanalistas da história. Seguidora de Freud, com genialidade e amor à verdade erigiu uma escola com pensamentos próprios e distintos. Uma amiga, quando Klein, em 1935, insistia que era uma freudiana, discordou, dizendo: — agora já é tarde; você é uma Kleiniana. Seja como for, Melanie Klein é considerada como uma psicoterapeuta pós-freudiana.
Melanie Klein, pouco desejada, foi a quarta entre os filhos desse casal que não se entendia. Quando, por sua vez, se tornou mãe, também sofreria na vida particular as intrusões da mãe, Libussa, personalidade tirânica, possessiva e destruidora. A juventude de Melanie foi marcada por uma série de lutos, muitos provavelmente responsáveis pela culpa, cujos vestígios se encontram na obra teórica.
O abandono da Medicina e seguiu a formação em Arte e História
Em 1896, Melanie Klein interessava-se pelas artes, tendo-se preparado para o exame de admissão ao liceu feminino, visando a cursar Medicina. Mas, após o casamento com Arthur Klein, em 1903, abandonou a Medicina e seguiu cursos de Arte e História, na Universidade de Viena, sem graduar-se. A seguir teve três filhos.
Contato com a psicanálise e suas obras
Em 1914 inicia sua análise com Sandór Ferenczi em Budapeste e em 1919 torna-se membro da Sociedade Psicanalítica da Hungria. Inicia sua análise com Karl Abrahan em 1924 que morre 11 meses depois. Em 1925, a pedido de Ernest Jones, muda-se para Londres, e em 1927 torna-se membro da Sociedade Britânica de Psicanálise.
Klein desde 1923 apresentava divergências, ainda que veladas, em relação a alguns postulados freudianos, em especial ao desenvolvimento psíquico antes dos três anos de idade. Porém essa divergência, que inicialmente era velada, ficou explicita com a publicação de um livro de Anna Freud (Tratamento psicanalítico de crianças) onde esta acusava Klein de não fazer psicanálise. Uma série de artigos são publicados em resposta a Anna Freud, e em 1932 Klein publica seu livro “Psicanálise de Crianças”, livro que até hoje é a base para trabalhos com crianças. Mais abaixo trataremos das divergências teóricas entre ambas.
Em 1935 Klein publica “Uma contribuição à psicogênese dos estados maníaco-depressivos” que apresentava o conceito de “posição depressiva”. Mesmo D. Winnicott, um dos seus mais magistrais contestadores, admirou essa descoberta, classificando-a como a mais importante depois da descoberta do inconsciente. Ainda que Klein, até mesmo por questões políticas, insistisse em se considerar “freudiana”, a partir deste trabalho, já se pode falar em pensamento Kleiniano, tamanha as introduções de novos conceitos que este artigo trouxe.
· Os três os pilares fundamentais da Teoria Kleiniana:
1º PILAR FUNDAMENTAL:
Primeiro existe um mundo interno, formado a partir das percepções do mundo externo, colorido com as ansiedades do mundo interno. Com isto, os objetos, as pessoas e as situações adquirem um colorido todo especial. O seio materno, primeiro objeto de relação da criança com o mundo externo, tanto é percebido como seio bom, quando amamenta, quanto é percebido como seio mau, quando não alimenta na hora em que a criança assim deseja. Como é impossível satisfazer a todos os desejos da criança, invariavelmente ela possui os dois registros deste seio: um bom e um mau. Este conceito também é muito importante no estudo da formação dos símbolos e no desenvolvimento intelectual.
2º PILAR FUNDAMENTAL:
Em segundo lugar, Melanie Klein admitia que os bebês sentem, logo quando nascem, dois sentimentos básicos: amor e ódio. É como se a vida fosse um filme em branco e preto: ou se ama ou se odeia. É fácil, portanto, perceber que a criança ama o seio bom e odeia o seio mau. O problema é que na fantasia da criança, o seio mau, esse objeto interno, vai se vingar dela pelo ódio e pela destrutividade direcionados a ele. Este medo de vingança é chamado de ansiedade persecutória. Quando estamos diante de um perigo, como, por exemplo, quando caminhando em um parque e nos defrontamos com uma cobra, temos o instinto de fugir. Esta reação diante do perigo é chamada em Psicanálise de defesa. O conjunto da ansiedade persecutória e suas respectivas defesas são chamados por Klein de posição esquizo-paranóide.
2º PILAR FUNDAMENTAL:
Enfim, com o desenvolvimento, o bebê percebe que o mesmo objeto que odeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom). Ele percebe que ambos os registros fazem parte de uma mesma pessoa. Agora, nesta fase, o bebê teme perder o seio bom, pois teme que seus ataques de ódio e voracidade o tenham danificado ou morto. Este temor da perda do objeto bom é chamado por Klein de ansiedade depressiva. O conjunto da ansiedade depressiva e as respectivas defesas do ego é chamado por Klein de posição depressiva.
Em 1940 Klein publica “O luto e suas relações com os estados maníacos-depressivos”, onde amplia os conceitos já introduzidos pela posição depressiva, postulando que o luto não seria mais que uma repetição das sensações dessa posição.
O complexo de Édipo à luz das ansiedades arcaicas (1940) Klein introduz as ansiedades persecutórias e depressivas na dinâmica do complexo de Édipo, ampliando sua atuação no psiquismo infantil. Ao localizar o complexo de Édipo com o surgimento da posição depressiva, aos seis meses de idade, Klein dá um salto na compreensão da formação do superego infantil, bem como de eventuais distúrbios ligados ao Édipo.
Com “Notas sobre alguns mecanismos esquizóides” aprofunda a compreensão das defesas do ego em relação às ansiedades persecutórias, ampliando os conceitos da posição esquizoparanóide. Ele também introduz o importante conceito de identificação projetiva como base para as relações objetais.
Acréscimos importantes sobre esse tema são feitos por W. Bion. Esse trabalho e “Uma contribuição à psicogênese dos estados maníaco-depressivos” formam os eixos principais de sua teoria.
Em “Inveja e Gratidão” de 1957, seu mais controverso trabalho, Klein postula a presença do sentimento de inveja presente desde o nascimento no bebê, e analisa suas conseqüências para as posições esquizoparanóides e depressivas, bem como para o Complexo de Édipo. Ela também faz nesse trabalho um importante avanço em relação às resistências ao tratamento analítico.
· O conceito das posições na escola Kleiniana
O conceito de posições é muito importante na Escola Kleiniana, pois o psiquismo funciona a partir delas, e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados em seu funcionamento.
Neste sentido, o desenvolvimento em fases, proposto por Freud (fase oral, fase anal e fase genital), é aqui substituído por um elemento mais dinâmico do que estático, pois as três fases estão presentes no bebê desde os três primeiros meses de vida. Klein não nega esta divisão, muito pelo contrário, mas dá a elas uma dinâmica até então ainda não vista na Psicanálise.
Aliás, é esta palavra que distingue o pensamento kleiniano do freudiano. Para Klein, o psiquismo tem um funcionamento dinâmico entre as posições esquizo-paranóide e depressiva, que se inicia como o nascimento e termina com a morte.
Todos os problemas emocionais, como neuroses, esquizofrenias e depressões são analisadosa partir destas duas posições. Por isto, em uma análise kleiniana, não se trata de trabalhar os conteúdos reprimidos, é preciso equacionar as ansiedades depressivas e as ansiedades persecutórias. É necessário que o paciente perceba que o mundo não funciona em preto e branco, e que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo.
Em outras palavras: não adianta trabalhar o sintoma (neurose) se não forem trabalhados os processos que levaram seus surgimentos (ansiedade persecutória e ansiedade depressiva).
CLIQUE ABAIXO E SAIBA MAIS SOBRE ESSAS POSIÇÕES E DEPOIS VEJA ESSE VÍDEO COMPLEMENTAR. 
#1 POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE
A Posição Esquizo-paranóide, conceito elaborado por Melanie Klein (1946), é considerada como a fase mais arcaica do desenvolvimento humano. Esta posição, situada nos primeiros meses de vida, é caracterizada pela primeira relação de objeto do bebê, sendo esse o seio da mãe. Esta relação de objeto provoca a aparição de defesas como a projeção, introjeção, identificação projetiva e cisão (splitting) de objeto.
Segundo Klein, o ego da criança é exposto, desde seu nascimento, à ansiedade devido à pulsão de morte e pulsão de vida que agem sobre seu ego. O conflito imediato das duas pulsões gera uma grande ansiedade no bebê. Confrontado pela ansiedade derivada da pulsão de morte, o bebê precisa livrar-se dela e para isso seu ego a deflete. Essa deflexão da pulsão de morte consiste em parte em uma projeção e em parte em uma conversão da pulsão de morte em agressividade. Ocorre então um processo derivado de um dos mecanismos de defesa citados acima — a cisão ou splitting. O ego se divide e projeta a parte em que se encontra a pulsão de morte para fora, no objeto externo (seio). Logo, o seio é percebido como mau e ameaçador para o ego. Dessa forma, o medo original da pulsão de morte é transformado em medo perseguidor. Ao mesmo tempo, é estabelecida uma relação não só com o objeto mau como com o objeto bom (ideal). Ou seja, da mesma forma que a pulsão de morte é projetada a fim de proteger o ego, a libido também é projetada para criar um objeto idealizado (pulsão de vida). Parte de ambas pulsões que permanecem dentro do ego são usadas para estabelecer uma relação com esse objeto idealizado. Dessa forma, o ego tem uma relação com dois objetos desde muito cedo: o objeto primário (seio) é nessa fase dividido em duas partes — seio bom (ideal) e seio mau (persecutório) (SEGAL, 1975). Dentro dessa dinâmica, o objetivo passa a ser adquirir, manter dentro e identificar-se com o objeto ideal que é percebido como algo que lhe dá vida e que lhe protege.
#2 DEPRESSIVA
A Posição Depressiva designa um conceito kleiniano relativo à etapa posterior do desenvolvimento do bebê. A autora acredita que, após vivenciar toda a turbulência da Posição Esquizo-paranóide, o bebê poderá ingressar nesta nova fase da Posição Depressiva. Klein também acredita que o início do Complexo de Édipo ocorre mais cedo que na teoria de Freud e coincide com o início desta Posição Depressiva, quando a ansiedade persecutória diminui e os sentimentos amorosos passam a ocupar mais espaço. Klein (1952), acredita também que algum grau de integração seja necessário para que o bebê consiga introjetar as figuras parentais como um todo. Esse desenvolvimento da integração e da síntese é iniciado quando o bebê ingressa na Posição Depressiva deixando as características da Posição Esquizo-paranóide para trás. O ego passa a diminuir a distância entre o mundo externo e interno, e consequentemente, os objetos passam a ser mais integrados e realistas e menos idealizados. Todos esses processos de integração e de síntese fazem com que apareça o conflito entre amor e ódio. Assim, surge a ansiedade depressiva e o sentimento de culpa diferentes dos encontrados na Posição Esquizo-paranóide, pois os objetos bons e maus não são mais cindidos como antes e há uma aproximação entre a mãe boa e a mãe má.
Na posição depressiva, o bebê encontra-se então mais integrado e as defesas não aparecem de forma tão extrema quanto na Posição Esquizo-paranóide e correspondem mais à capacidade do ego de enfrentar a realidade psíquica. Frente a essas ansiedades eminentes, o ego terá tendência a negá-las e pode, quando a ansiedade for extrema, negar o amor pelo objeto. Nesse caso, ocorrerá um abafamento do amor e um distanciamento dos objetos primários e um aumento na ansiedade persecutória que poderá ou não, resultar em uma regressão à Posição Esquizo-paranóide.
https://www.youtube.com/watch?v=Kpns6gmDFnE
· Análise infantil: controvérsia Melanie Klein e Anna Freud:
Caro (a) aluno (a) Melanie Klein conseguiu desenvolver estudos sobre as ansiedades arcaicas porque dedicou quase toda a sua vida à análise de crianças. Seu primeiro paciente foi seu próprio filho, Hans, que apresentava sérios distúrbios de aprendizagem. Aos poucos Klein foi percebendo estruturas psíquicas que estavam fora do esquema freudiano, e, a partir da investigação dessas estruturas chamadas “arcaicas”, foi possível o desenvolvimento de suas teorias. Alguns paradigmas precisaram ser quebrados para que isso fosse possível e isso lhe rendeu uma série de inimizades.
O primeiro e principal paradigma para a época era a questão da possibilidade da análise infantil. Para Freud era impossível a análise de crianças muito pequenas, pois as mesmas não possuíam uma estrutura de linguagem suficientemente desenvolvida para a elaboração e livre verbalização de ideias.
Sua maior opositora nesse campo foi Anna Freud, que na época também trabalhava com crianças. Robert Young descreve essa relação da seguinte forma “Onde Anna Freud disse que crianças muito pequenas não podiam realizar livre associação, Klein viu um rico mundo de fantasias refletidas no brincar. Onde Anna Freud viu a si mesma como uma professora com suas obrigações educadoras, Klein foi mais fundo, interpretando ansiedades sobre seios e outras partes do corpo, sobre ódio, sofrimento, luto e inveja que chocaram os não-kleinianos.”
Em 1939, com o advento do nazismo, a família Freud se muda para Londres, e um antagonismo que já existia entre Klein e Anna Freud, em função da convivência entre as duas na mesma sociedade psicanalítica, causa um racha na Sociedade Britânica de Psicanálise. Uma série de reuniões e artigos são publicados entre 1940 e 1944, chamados Controvérsia Freud Klein, para se tentar chegar a um acordo, porém, até a presente data esse racha persiste na sociedade Britânica.
· Melanie Klein: O jogo simbólico e a fantasia inconsciente
A capacidade de se expressar verbalmente e exteriorizar através da palavra pensamentos, emoções, desejos e experiências é desenvolvida ao longo da vida. Essa capacidade requer um certo nível de desenvolvimento e aprendizado maturacional, bem como uma certa capacidade de introspecção. 
Assim, para uma criança que não completou seu desenvolvimento, é extremamente complexo poder expressar seus impulsos, desejos e ansiedades. Essa é uma das principais razões pelas quais o método de livre associação da  psicanálise freudiana não poderia ser originalmente aplicado a crianças.
No entanto, os elementos instintivos, os desejos e medos que fazem parte de cada um, estão presentes desde o nascimento. Para a teoria psicanalítica de Melanie Klein, embora na infância esses elementos possam não estar cientes de que podem ser simbolizados na geração de fantasias. Dessa maneira, as fantasias inconscientes atuam como um método de expressar instintos e angústias básicas , projetando-as no jogo e direcionando amplamente a atitude e o comportamento das crianças.
Nesse sentido, uma das contribuições mais valiosas da teoria psicanalítica de Melanie Klein é a introdução do jogo simbólico como método de avaliação e trabalho com menores. Para Klein, o jogo é um método de comunicação em que o bebê externaliza suas preocupações e desejos indiretamente. Assim, analisando o simbolismo contido no processo do jogo, é possível observar as fantasias inconscientes que governam o comportamento da criança de maneira análoga à utilizada nos métodosde associação livre aplicados em adultos.
Ao montar o jogo simbólico, é muito importante definir ou ajustar a situação, ou seja, levando em consideração que a necessidade das sessões, o tipo de móveis e brinquedos adequados à criança de uma maneira que não exija impostos Como jogar A criança deve escolher os brinquedos que deseja usar para si mesma e, através deles, pode expressar livremente seus medos, ansiedades e desejos.
· A clínica psicanalítica de orientação kleiniana atualmente
Atualmente, a clínica psicanalítica de orientação kleiniana apresenta reformulações daqueles aspectos do método que se revelaram questionáveis. Houve um aumento da frequência de atendimentos aos pais, provocado por pelo menos dois motivos.
O primeiro deles foi reflexo da influência da prática lacaniana, que, considerando a criança e seu sintoma um efeito do inconsciente dos pais, deu voz a eles, chegando até mesmo a intercalar sessões com a criança e com os pais ou, ainda, a realizar sessões conjuntas. Um outro fator que contribuiu para essa alteração foi a condição financeira das famílias, que, conforme já se disse, impôs-lhes a diminuição do número de sessões semanais.
Assim, o analista foi impelido a buscar mais informações sobre a história de vida da família e do percurso que culminou no pedido de análise, bem como a fortalecer a aliança terapêutica com os pais, de quem se espera, agora, mais paciência com a lentidão dos resultados do processo analítico. Aumentar a proximidade com os pais, e ainda com a escola e com outros especialistas que porventura atendem a criança, permite ao analista observar melhor a interação entre a história singular daquela criança e as fantasias que são desencadeadas para dar conta dos pequenos enigmas que se colocam para ela.
Uma ilustração pitoresca dessa situação pode ser retirada do material clínico de uma criança com graves comprometimentos autísticos, que, depois de muitos anos de análise, inicia um processo de simbolização que lhe permite dizer que se identifica com um super-herói, “O Homem de Ferro”. Além disso, sua grande dificuldade em incluir a mãe em qualquer uma de suas dramatizações ficou esclarecida para ele mesmo quando pronunciou a frase: “Eu sei quem é a mãe do Homem de Ferro: é a Mulher Invisível!”
PULSÃO DE VIDA E MORTE NO BEBÊ: MELANIE KLEIN
Para Klein o mundo interno do bebê é povoado por fantasias, ansiedades, figuras boas e más, sendo que, desde o nascimento, o bebê está exposto à luta entre as pulsões de vida e de morte, representadas pelos impulsos libidinais e agressivos, respectivamente. De acordo com a teoria metapsicológica kleiniana, portanto, há que se considerar que cada criança nasce com um “dote pulsional”, um quantum de pulsão de vida e de morte, cujo equilíbrio se mantém quando o bebê está livre de fome e tensão. Dessa forma, as experiências gratificadoras – como o carinho da mãe – reforçam a pulsão de vida e, as experiências frustradoras – como a ausência da mãe – intensificam a ação da pulsão de morte. 
· Técnica Kleiniana: aprofundamento para clínica com crianças
A técnica é um conjunto de procedimentos indicados para o analista e o paciente, projetados para ajudar a tornar o inconsciente consciente. É dada particular importância à constância em termos da regularidade do quadro, dos prazos e da frequência das sessões, juntamente com o fato de o analista manter uma atitude mental receptiva e ao mesmo tempo perspicaz.
Ao longo de seu trabalho, Klein deixa claro que seu trabalho, incluindo sua técnica específica, se baseia no trabalho de Freud, que descreveu seu método essencial com pacientes adultos, constituídos por cinco ou seis sessões semanais, e o uso do sofá e da associação livre.
Isso implica transmitir ao analista oralmente, da melhor maneira possível, o que é pensado e sentido, sem censura. Sua indicação complementar aos analistas é que uma ‘atenção flutuante’ deve ser mantida, evitando olhar para o material do paciente o que se espera que seja encontrado (Freud, 1912).
Klein destaca o conceito freudiano de  transferência, em relação ao analista, que se refere à expressão consciente e inconsciente de experiências, relacionamentos, pensamentos, fantasias e sentimentos passados ​​e atuais, positivos e negativos. Coloca ênfase especial no significado da  transferência negativa, que considera possível elaborar sempre que for reconhecida e compreendida pelo analista. Também destaca o papel na transferência da ‘situação total’ de experiências passadas e atuais dos pacientes. Como Freud, destaca a importância das defesas do paciente contra o reconhecimento da realidade psíquica e destaca a ansiedade do paciente como ponto de partida para o entendimento do analista sobre as fantasias inconscientes do paciente, na medida em que ele considera a  interpretação  feita pelo analista como a principal ferramenta na terapia analítica.
Conceito de Fantasia inconsciente: kleiniana
Na teoria kleiniana, as fantasias inconscientes estão subjacentes a todos os processos mentais e fazem parte de todas as atividades da mente. Constituem a representação mental dos fatos somáticos do corpo que compõem os instintos e são sensações físicas interpretadas como relações com os objetos que causam tais sensações. A fantasia é a expressão mental de impulsos libidinais e agressivos, bem como mecanismos de defesa contra esses impulsos. Grande parte da atividade terapêutica da psicanálise pode ser descrita como uma tentativa de transformar a fantasia inconsciente em pensamento consciente.
Freud introduziu o conceito de fantasia inconsciente e fantasia, que ele considerou uma capacidade da mente humana herdada filogeneticamente. Klein adotou esse conceito de fantasia inconsciente, embora o tenha expandido consideravelmente, pois seu trabalho com crianças lhe permitiu obter uma grande experiência da alta variedade de conteúdos das fantasias infantis. Tanto ela quanto seus sucessores enfatizaram que as fantasias interagem entre si na experiência para formar as características intelectuais e emocionais que se desenvolvem em um indivíduo. A fantasia é considerada uma capacidade básica subjacente de pensamento, sonhos e sintomas e padrões de defesa, para os quais eles também moldam.
×
Dispensar alerta
Embora, em termos gerais, Klein compartilhe com Freud sua idéia de pulsões de vida e morte, sua abordagem técnica está mais focada no  conteúdo  específico das pulsões instintivas do que na conceitualização abstrata delas.
A observação clínica é o ponto de partida de Klein e esse é seu presente especial. Em seu trabalho, observação e idéias interagem entre si para gerar novas observações e expandir teorias. Portanto, para Klein, a técnica e o conteúdo clínico estão intimamente ligados e interativos; portanto, ele não tenta descrever a técnica em termos puramente abstratos sem acompanhar o conteúdo clínico.
Ao mesmo tempo, e a partir do trabalho de Klein, houve um progresso no desenvolvimento da técnica por Strachey, Racker , Rosenfeld , Bion , Segal , Joseph e outros, levando a dois tipos principais de mudança. Primeiro, há  o aumento da concentração na relação analista-paciente  como a principal fonte de informações sobre o paciente, contrastando com a visão anterior do paciente como uma entidade isolada que poderia ser observada de uma perspectiva externa “objetiva”. Segundo, e em oposição a Freud e Klein, a posição de contratransferência foi promovida  O analista pode, sob certas circunstâncias, ser uma fonte útil de informações sobre o paciente. Essas duas tendências de mudança na técnica são as principais dentre outras mudanças menos importantes propostas, incluindo inúmeras distinções terminológicas úteis.
As principais contribuições de Klein à psicanálise
As contribuições de Melanie Klein para a psicanálise vão além de seu estudo voltado para as crianças. Dentre essas contribuições, algumas são consideradas como conceitos clássicos, são eles:
1. Conceitos a respeito das etapas mais primitivas do desenvolvimento psicossexual.
2. Conceito de posição.
3. Conceitos sobre a formaçãodo ego e do superego e conceito a respeito da situação edipiana.
4. Conceito de mundo interno.
5. Novo status dado ao objeto e sobre as relações internas de objeto.
6. Conceito dos mecanismos de introjeção e projeção. Ou seja, os quais são tidos como atuantes desde o início da vida psíquica em bebês. Esse conceito foi desenvolvido intensivamente, a posteriori, cujos estudos culminaram com a conceituação da identificação projetiva.
· Complexo de Édipo em Freud e Melanie Klein
O complexo de Édipo, segundo Freud, que se destaca entre os 3 e 5 anos de idade, implica fantasias desiderativas sobre a morte do pai do mesmo sexo e a usurpação de seu papel no casal. Formas inversas também são importantes. O medo da castração da criança por um pai vingativo e o medo da perda de amor da menina levam ao abandono desses desejos e à instalação do superego. A descrição de Freud coloca essa constelação no nível fálico.
Caro aluno (a) tanto Freud quanto Klein consideram o complexo de Édipo como algo central, embora ele varie e expanda suas idéias sobre como serão suas novas concepções de uma situação edipiana anterior. Klein sugere um preconceito infantil com um casal de pais emocionante e assustador, sobre o qual ele fantasia primeiro como uma “figura combinada”: o corpo materno que contém o pênis paterno e os bebês rivais. Esta versão primitiva de um casal, onde fantasia refere-se a um ato sexual contínuo, expõe aspectos sádicos orais, uretrais e anais devido a projeções de sexualidade e sadismo infantil. As fantasias sobre o corpo materno estão relacionadas à nova concepção de Klein de feminilidade primária e aos complexos de Édipo feminino e masculino.
As figuras primitivas do superego se desenvolvem cedo, e geralmente em relação ao sadismo infantil, e não como o simples resultado da situação edipiana. A excisão característica do funcionamento esquizoparanóide. facilita uma divisão clara e oscilatória dos pais parciais do objeto em pais ideais / amados e pais denegridos / odiados. A crescente conscientização do total de objetos percebidos ambivalentemente, juntamente com o aparecimento de culpa depressiva por ataques, leva a uma crescente necessidade de renunciar aos desejos edipianos e à reparação dos pais internos para permitir que eles se unam.  Klein entende que o complexo de Édipo e a posição depressiva estão intimamente ligados.
(…) Melanie Klein faz seu primeiro comentário sobre o complexo de Édipo em
artigo intitulado A resistência da criança ao esclarecimento, apresentado à
sociedade psicanalítica de Berlim, em fevereiro de 1921, como parte subsequente
do trabalho A influência do esclarecimento sexual e do relaxamento da autoridade
no desenvolvimento intelectual de crianças, de dois anos antes, apresentado à
sociedade psicanalítica húngara. O artigo discutia a importância do processo de
análise para crianças como forma de profilaxia para a doença neurótica e outros
distúrbios de caráter. Nele, Klein dá continuidade à ideia, apresentada em 1919, na
primeira parte do trabalho, de que se faz muito mais necessário e saudável à criança
elucidá-la em suas questões e curiosidades sobre fenômenos desconhecidos,
incluindo os do campo da sexualidade.
Veja esse vídeo da Folha literária como material complementar: Melanie Klein desenvolveu a técnica da análise de crianças
https://www.youtube.com/watch?v=UU2lG001irU
· Clínica Psicanalítica: Donald Woods Winnicott
Caro (a) aluno (a) esperamos que até aqui você tenha se aprofundado em psicanálise, agora iremos adentrar na Clínica Psicanalítica de Donald Woods Winnicott.
Este psicanalista assim como Melanie Klein, também direcionou o pensamento psicanalítico em nova direção, com o reconhecimento da importância que as experiências dos primeiros anos de vida têm para a formação de nosso mundo emocional na vida adulta.
Para Winnicott o objeto externo é muito mais do que um modulador das projeções da criança. A mãe participa de uma verdadeira unidade com o seu filho, ajuda a formar sua mente, fazendo com que este processo seja bem feito.
Portanto caro aluno (a) Winnicott acreditava que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, base do fazer-criativo. E a percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo singular de cada indivíduo.
 
História de Winnicott 
Donald Woods Winnicott foi um pediatra e psicanalista inglês nascido em  7 de abril de 1896 — 28 de janeiro, 1971). 
Winnicott era filho de Elizabeth Martha (Woods) Winnicott e do Sr. John Frederick Winnicott, um comerciante que se tornou cavaleiro em 1924 após servir duas vezes como prefeito de Plymouth.
A família era próspera e aparentemente feliz, mas atrás desse verniz, Winnicott se viu como oprimido por uma mãe com tendências depressivas como também por duas irmãs e uma babá. Foi a influência do seu pai, que era um livre-pensador e empreendedor que o encorajou em sua criatividade. Winnicott se descreveu como um adolescente perturbado, reagindo contra a própria auto-repressão que adquirindo sua capacidade de cuidar ao tentar suavizar os sombrios humores de sua mãe. Estas sementes de autoconsciência se tornaram a base do interesse dele trabalhando com pessoas jovens e problemáticas.
Decidindo se tornar um médico, ele começou a estudar medicina em Cambridge mas interrompeu seus estudos para servir como cirurgião aprendiz – residente em um navio (destroyer) britânico, o HMS Lúcifer, durante a Primeira Guerra Mundial. Ele completou sua formação em medicina em 1920 e em 1923, no mesmo ano do seu primeiro casamento com Alice Taylor, foi contratado como médico no Paddington Green Children’s Hospital em Londres. Foi também em 1923, que Winnicott iniciou sua análise pessoal com James Strachey (1887 – 1967), o tradutor das obras de Sigmund Freud para o inglês.
Em 1927 Winnicott foi aceito como iniciante na Sociedade Britânica de Psicanálise, qualificado como analista em 1934 e como analista de crianças em 1935. Ele ainda estava trabalhando no hospital infantil e posteriormente comentou que… “naquele momento nenhum outro analista era também um pediatra, assim durante duas ou três décadas eu fui fenômeno isolado…” O tratamento de crianças mentalmente transtornadas e das suas mães lhe deu a experiência com a qual ele construiria a maioria das suas originais teorias. E o curto período de tempo que ele poderia dedicar-se a cada caso o conduziu ao desenvolvimento das suas “inter – consultas terapêuticas” outra inovação da prática clínica que introduziu.
Um acontecimento relevante da vida desse autor foi a chegada em Londres, no ano 1926, de Melanie Klein (1882-1960), uma das mais importantes analistas de criança da sua época, logo fazendo escola e seguidores. Winnicott aproximou-se e fez uma análise adicional com um deles, Joan Rivière (1883-1962). A convicção do Kleinianos na importância suprema, para saúde psíquica, do primeiro ano da vida da criança, foi compartilhada por Winnicott. Contudo esta visão diverge um pouco da de Freud e de sua a filha Anna Freud (1895-1982) – ela mesma uma analista de crianças, que também vieram para Londres em 1938, refugiados do Nazismo na Áustria. Esboçando-se uma divisão dentro da Sociedade Psicanalítica Britânica entre os Freudianos ortodoxos e o Kleinianos; mas ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, um acordo tipicamente britânico estabeleceu três cordiais grupos: os Freudianos, o Kleinianos e um grupo “conciliador” ao qual Winnicott pertenceu juntamente com Michael Balint (1896-1970) e John Bowlby (1907–1990).
Para Freud, ao brincar, a criança tem prazer na aparente onipotência que adquire ao manipular os objetos cotidianos associando-os a símbolos imaginários como no jogo fort-da que evocava a presença da mãe na análise infantil que realizou. Não há dúvidas, porém que foi Melanie Klein quem efetivamente trouxe a brincadeira para o trabalho psicanalítico com crianças. Klein reconhecera uma similitude entre (1) a atividade lúdica infantil e o sonho doadulto, e (2) as verbalizações da criança ao brincar e a associação livre clássica.
Durante os anos de guerra trabalhou como consultor psiquiátrico de crianças seriamente transtornadas que tinham sido evacuadas de Londres e outras cidades grandes, e separado de suas famílias. Ele continuou trabalhando ao Paddington Green Children’s Hospital nos anos 1960.
Passada a guerra, Winnicott tornou-se um médico contratado do Departamento Infantil do Instituto de Psicanálise, onde trabalhou durante 25 anos. Foi presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise por duas gestões, membro da UNESCO e do grupo de experts da OMS. Atuou como professor no Instituto de Educação e na London School of Economics, da Universidade de Londres. Dissertou e escreveu amplamente como atividade profissional independente.
Ele divorciou-se de sua primeira esposa em 1951 e, nesse mesmo ano, casou-se com Elsie Clare Nimmo Britton, assistente social psiquiátrica e psicanalista. Morreu em 28 de janeiro de 1971, após o último de uma série de ataques de coração e foi cremado em Londres.
Discípulo de Klein, Winnicott redimensiona a brincadeira, situando o brincar do analista e o valor que essa atividade possui em si, instituída como uma atividade infantil, e que também faz parte do mundo adulto. Para ele os analistas infantis por se ocuparem tanto dos possíveis significados do brincar não possuíam um claro enunciado descritivo sobre o brincar. Para ele “Brincar é algo além de imaginar e desejar, brincar é o fazer”.
· Teoria de Winnicott
Caro aluno (a) há várias maneiras de enunciar a novidade da psicanálise de D. W. Winnicott e uma delas refere-se à prática clínica que decorre da sua nova perspectiva teórica. Enquanto na psicanálise tradicional existe um método que caracteriza, por excelência, a própria tarefa analítica – a interpretação dos conflitos inconscientes relativos a elementos reprimidos – não se pode dizer o mesmo da clínica winnicottiana.
A Mãe Suficientemente Boa
Numa breve retrospectiva histórica sobre o conceito de mãe suficientemente boa, tem-se datado como sendo do verão de 1949 um relato da conversa entre Winnicott e a produtora da BBC de Londres, Isa Benzie, sobre a possibilidade de realizar uma série de nove palestras. Nessa conversa, Winnicott expressa interesse em dedicar os temas às mães, embora deixe claro que não possui qualquer intenção de ensinar às mães a grande importância do que elas fazem pelos seus bebês.
Na sua concepção, toda mãe dedica-se à tarefa que tem pela frente, isto é, cuidar de um bebê. Isso é o que geralmente acontece, e constitui uma exceção o fato de um bebê ser cuidado, desde o início, por uma outra pessoa que não seja sua própria mãe.
Embora seja perfeitamente possível explicitar as implicações clínicas de sua teoria, não se pode formular, num enunciado geral, um método ou uma técnica que definiriam o modo como se trabalha, psicanaliticamente, na perspectiva winnicottiana. A razão é simples: o que determina o trabalho a ser feito – e a maneira como deve ser conduzido um determinado tratamento – é a necessidade do paciente, e esta varia enormemente conforme a natureza do distúrbio que este apresenta. Sabemos dos textos winnicottianos já clássicos que o que serve, por exemplo, para um paciente neurótico ou mesmo depressivo não serve, de modo algum, para pacientes cuja problemática central é psicótica, ou mesmo para os anti-sociais. 
Para Winnicott, cada ser humano traz um potencial inato para amadurecer, para se integrar; porém, o fato de essa tendência ser inata não garante que ela realmente vá ocorrer. Isto dependerá de um ambiente facilitador que forneça cuidados que precisa, sendo que, no início, esse ambiente é representado pela mãe suficientemente boa.
É importante ressaltar que esses cuidados dependem da necessidade de cada criança, pois cada ser humano responderá ao ambiente de forma própria, apresentando, a cada momento, condições, potencialidades e dificuldades diferentes.
Segundo esse Winnicott a mãe suficientemente boa (não necessariamente a própria mãe do bebê) é aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que diminui gradativamente, segundo a capacidade deste em aquilatar o fracasso da adaptação e em tolerar os resultados da frustração. 
Assim, podemos pensar que, se amadurecer significa alcançar o desenvolvimento do que é potencialmente intrínseco, possíveis dificuldades da mãe em olhar para o filho como diferente dela, com capacidade de alcançar certa autonomia, podem tornar o ambiente não suficientemente bom para aquela criança amadurecer. Não basta, apenas, que a mãe olhe para o seu filho com o intuito de realizar atividades mecânicas que supram as necessidades dele; é necessário que ela perceba como fazer para satisfazê-lo e possa reconhecê-lo em suas particularidades.
[…] os cuidados maternos com o próprio bebê são inteiramente pessoais,
uma tarefa que ninguém mais pode realizar tão bem quanto a própria mãe.
Enquanto cientistas dão voltas ao problema, procurando provas como lhes
compete fazer antes de acreditar em qualquer coisa, as mães farão bem em
insistir em que elas próprias são necessárias desde o princípio. Esta
opinião não se baseia, devo também acrescentar, não se baseia em ouvir as
mães falarem, em palpites ou na intuição pura; é conclusão que fui
obrigado a estabelecer após longas pesquisas.
https://www.youtube.com/watch?v=pmja_3u8sIw
· Winnicott e a Prática Clínica
A distinção de seu trabalho, metodologicamente, em relação a Freud e outros, foi a decisão de estudar o bebê e sua mãe como uma “unidade psíquica”, o que lhe permitia observar a sucessão de mães e bebês e obter conhecimento referente à constelação mãe-bebê, e não como dois seres puramente distintos. Assim, não há como descrever um bebê sem falar de sua mãe, pois, no início, o ambiente é a mãe e apenas gradualmente vai se transformando em algo externo e separado do bebê.
O ambiente facilitador é a mãe suficientemente boa, porque atende ao bebê na medida exata das necessidades deste, e não de suas próprias necessidades. Esta adaptação da mãe torna o bebê capaz de ter uma experiência de onipotência e cria a ilusão necessária a um desenvolvimento saudável.
O conceito de “Preocupação Materna Primária” pode ser comparado a um estado de retraimento da mãe e é necessário para que ela possa estar envolvida emocionalmente com seu bebê. Uma grande contribuição do autor refere-se ao conceito dos objetos transicionais e fenômenos transicionais que surgem na superação do estágio de dependência absoluta em direção à dependência relativa, sendo que não é importante o objeto que está sendo utilizado, mas sim, o uso que a criança faz desse objeto. Ele se coloca na zona intermediária, na separação entre a mãe e o bebê, ajudando a tolerar a angústia de separação e ausência materna.
· Winnicott – Principais Conceitos
Holding
Para Winnicott a sustentação ou holding protege contra a afronta fisiológica. O holding deve levar em consideração a sensibilidade epidérmica da criança – tato, temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade às quedas – assim como o fato de que a criança desconhece a existência de tudo o que não seja ela própria. Inclui toda a rotina de cuidados ao longo do dia e da noite. A sustentação compreende, em especial, o fato físico de sustentar a criança nos braços, e que constitui uma forma de amar. A mãe funciona como um ego auxiliar.
Winnicott propõe que, durante os últimos meses de gestação e primeiras semanas posteriores ao parto, produz-se na mãe um estado psicológico especial, ao qual chamou de “preocupação materna primaria”. A mãe adquire graças a esta sensibilização, uma capacidade particular para se identificar com as necessidades do bebê.
O holding feito pela mãe é o fator que decide a passagem do estado de não-integração, que caracteriza o recém-nascido, para a integração posterior. O vínculo entre a mãe e o bebê assentará as bases para o desenvolvimento saudável das capacidades inatas do indivíduo.
Self Verdadeiro e Falso Self
Oser humano, para Winnicott, nasce como um conjunto desorganizado de pulsões, instintos, capacidades perceptivas e motoras que conforme progride o desenvolvimento vão se integrando, até alcançar uma imagem unificada de si e do mundo externo.
Quando a mãe não fornece a proteção necessária ao frágil ego do recém-nascido; a criança perceberá esta falha ambiental como uma ameaça à sua continuidade existencial, a qual, por sua vez, provocará nela a vivência subjetiva de que todas as suas percepções e atividades motoras são apenas uma resposta diante do perigo a que se vê exposta. Pouco a pouco, procura substituir a proteção que lhe falta por um “fabricada” por ela. O sujeito vai se envolvendo em uma casca, às custas da qual cresce e se desenvolve o self. O individuo vai se desenvolvendo como uma extensão da casca, como uma extensão do meio atacante.
(…) O papel da mãe é prover o bebê de um ego auxiliar que lhe permita integrar suas sensações corporais, os estímulos ambientais e suas capacidades motoras nascentes.
Winnicott diz que a “mãe boa” é a que responde a onipotência do lactante e, de certo modo, dá-lhe sentido. O self verdadeiro começa a adquirir vida, através da força que a mãe, ao cumprir as expressões da onipotência infantil, dá ao ego débil da criança. A mãe que “não é boa” é incapaz de cumprir a onipotência da criança, pelo que repentinamente deixa de responder ao gesto da mesma, em seu lugar coloca o seu próprio gesto, cujo sentido depende da submissão ou acatamento do mesmo por parte da criança. Esta submissão constitui a primeira fase do self falso e é própria da incapacidade materna para interpretar as necessidades da criança.
Nos casos mais próximos da saúde, o self falso age como uma defesa do verdadeiro, a quem protege sem substituir. Nos casos mais graves, o self falso substitui o real e o indivíduo. Winnicott diz que na saúde o self falso se encontra representado por toda a organização da atitude social cortês e bem educada. Produziu-se um aumento da capacidade do individuo para renunciar a onipotência e ao processo primário, em geral, ganhando assim um lugar na sociedade que jamais se pode conseguir manter mediante unicamente o self verdadeiro. O falso self, especialmente quando se encontra no extremo mais patológico da escala, é acompanhado geralmente por uma sensação subjetiva de vazio, futilidade e irrealidade. 
Objeto Transicional
O objeto transicional representa a primeira posse “não-ego” da criança, têm um caráter de intermediação entre o seu mundo interno e externo.
Em Winnicott o conceito de objeto ou fenômeno transicional recebe três usos diferentes: um processo evolutivo, como etapa do desenvolvimento; vinculada às angústias de separação e às defesas contra elas; representando um espaço dentro da mente do indivíduo. Ele propõe ainda que em determinadas condições, o fenômeno ou objeto transicional pode ter uma evolução patológica, ou mesmo se associar a certas condições anormais.
O objeto transicional é algo que não está definitivamente nem dentro nem fora da criança; servirá para que o sujeito possa experimentar com essas situações, e para ir demarcando seus próprios limites mentais em relação ao externo e ao interno. 
O objeto transicional ocupa para um lugar que Winnicott chama de ilusão. Ao contrario do seio, que não está disponível constantemente, o objeto transicional é conservado pela criança. Ela é quem decide a distância entre ela e tal objeto. Como os fenômenos transacionais “representam” a mãe é essencial que ela seja vivenciado como um objeto bom. Quando dentro da criança, o objeto materno está danificado, é pouco provável que ela recorra, de maneira constante, a um fenômeno transicional.

Continue navegando