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4 Bizâncio e o Ocidente

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História 
Medieval
Rodrigo Vieira Pinnow
Bizâncio e o Ocidente
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Diferenciar o sistema econômico do Império Bizantino do modelo 
econômico medieval europeu.
  Analisar o impacto do movimento iconoclasta no enfraquecimento 
do Império Bizantino.
  Relacionar a queda do Império Bizantino com o avanço do Império 
Otomano.
Introdução
Nos últimos anos, a historiografia medieval tem se debruçado sobre a 
relação entre os dois mundos que coexistiram durante a Idade Média. Até 
pouco tempo atrás, o Império Bizantino figurava como mero coadjuvante 
na construção do conhecimento sobre o mundo medievo. Contudo, novas 
perspectivas de análise surgiram. Assim, os cursos de história e história 
da arte têm trazido à tona um novo olhar sobre o período, rompendo de 
vez com o pensamento renascentista, que por séculos rotulou o mundo 
medievo de maneira equivocada.
Nesse sentido, é importante problematizar a produção do conheci-
mento histórico sobre a Idade Média a partir de uma releitura atenta de 
narrativas que se tornaram célebres no campo historiográfico. Faz parte 
do ofício do historiador reinterpretar as fontes primárias e secundárias 
para, a partir disso, ressignificar o passado e extrair dele subsídios para 
novas problematizações e ponderações.
Neste capítulo, você vai estudar a transformação da Idade Média, 
constantemente dividida em Alta Idade Média e Baixa Idade Média. A 
partir disso, a proposta é compreender o papel da Igreja Católica e a 
estruturação do sistema econômico do lado ocidental. Por outro lado, 
é necessário considerar o comércio do Império Bizantino para compre-
ender a sua prosperidade e a sua longevidade. Por fim, você vai verificar 
o impacto do movimento iconoclasta no enfraquecimento do Império 
do Oriente, associando a queda desse império à ascensão do Império 
Turco-Otomano, evidenciada pela tomada de Constantinopla, que marca 
a transição da Idade Média para a Idade Moderna.
Sistemas econômicos medievais: o Império 
Bizantino e o modelo medieval europeu
A história econômica do período medieval é bastante complexa se comparada 
com a dos períodos moderno e contemporâneo. No estudo destes últimos, as 
pesquisas quantitativas permitem uma série de cruzamentos, com uma miríade 
de fontes primárias, o que não é possível em relação ao mundo medieval. É 
consenso entre alguns pesquisadores da história medieval, como Franco Jr e 
Andrade Filho. (1985), que a ausência de fontes do período medievo refl ete o 
espírito da época, ou seja, um imaginário gestual, simbólico, de oralidade e 
fé, mas infelizmente sem fontes escritas, sem dados, sem números.
Com isso, a investigação historiográfica buscou pautar as suas hipóteses 
e problematizações em pesquisas qualitativas. A pesquisa historiográ-
fica sobre o período da Idade Média construiu as suas análises a partir 
de impressões, padrões e peculiaridades que ajudaram a compreender 
a estrutura econômica medieval de acordo com o imaginário social da 
própria época. Por isso, como destaca Franco Jr. E Andrade Filho (1985), 
muitos tópicos são motivo de polêmica, enquanto outros permanecem sem 
nenhuma resolução:
No essencial, do ângulo econômico, os séculos IV–X podem ser conside-
rados em bloco. Caracterizou-os aquilo que Renée Doehaerd chamou de 
“escassez endêmica” [...]. Ou seja, uma pequena produtividade agrícola e 
artesanal, consequentemente uma baixa disponibilidade de bens de con-
sumo e a correspondente retração do comércio e portanto da economia 
monetária. Aquela historiadora demonstrou que o fator explicativo de tal 
situação não foi um recuo das técnicas, como se poderia pensar à primeira 
vista. O ponto de partida do fenômeno foi o retrocesso demográfico: numa 
economia muito pouco mecanizada, o peso da mão de obra na produção 
é decisivo. Ora, a contração da força de trabalho gerava uma contração 
dos rendimentos e esta reforçava a pobreza demográfica (FRANCO JR.; 
ANDRADE FILHO, 1985, p. 39).
Segundo Figueira e Parente (2010), em meados do século V, por intermédio 
da vários éditos, parte da sociedade que tinha profissão e ofício foi categorizada, 
registrada e estabelecida efetivamente na sua respectiva atividade, previamente 
Bizâncio e o Ocidente2
informada, ao passo que os colonos ficaram presos à terra. Trata-se aqui do 
processo criado pela Igreja de dividir a sociedade em estamentos, em que cada 
indivíduo possui a sua função específica. Nesse contexto, a religião serviu 
para conformar e, assim, gerir a nova sociedade que surgia.
Em meio à desfragmentação estatal do antigo Império Romano, os grandes 
latifundiários ampliaram as suas terras e formaram espécies de guardas, 
com indivíduos armados e preparados para defender as extensões de terras 
e ao mesmo tempo garantir a sua subsistência. Por outro lado, as camadas 
populares livres, tendo em vista os riscos iminentes e a instabilidade do 
período, foram gradativamente coagidas a procurar proteção, negociando 
com os grandes latifundiários, proprietários da terra. Conforme Figueira e 
Parente (2010), a negociação envolvia a doação da terra e, posteriormente, 
o recebimento como posse. Dessa forma, as camadas populares eram de-
pendentes dos latifundiários rurais. Veja:
Fato econômico, fato demográfico, a ruralização é ao mesmo tempo, primor-
dialmente, um fato social que modela a fisionomia da sociedade medieval. A 
desorganização das trocas multiplica a fome, e a fome impele as massas para 
o campo e as submete à servidão aos que dão o pão, os grandes proprietários. 
Fato social, a ruralização é apenas o aspecto mais visível de uma evolução 
que imprimirá na sociedade do Ocidente medieval um caráter essencial que 
permanecerá ancorado nas mentalidades por mais tempo ainda do que na rea-
lidade material: a compartimentação profissional e social. A fuga em relação 
a certos ofícios, a mobilidade da mão de obra rural, levará os imperadores 
do Baixo Império a tornar obrigatoriamente hereditárias certas profissões e 
estimulará os grandes proprietários a vincular à terra os colonos destinados 
a substituir os escravos, cada vez menos numerosos (LE GOFF, 2015, p. 26).
Como esclarece Franco Jr. E Andrade Filho (1985), a produção rural, 
desde os últimos séculos do Império Romano, foi extremamente importante.
Vale ressaltar que a historiografia compreendia a propriedade agrícola da 
época como apenas a evolução da antiga vila romana. No entanto, com as 
novas pesquisas, sabe-se que os grandes latifúndios foram característicos de 
determinadas localizações da Europa ocidental, como a região entre os rios 
Reno e Loire.
Também existiam muitos latifúndios de pequeno e médio portes, mas eles 
eram absorvidos e incorporados às terras dos grandes latifundiários. Com isso, 
os grandes latifúndios, de certa forma, sobrepujavam o território, centro fun-
cional de poder; nesse sentido, se justifica falar em economia agrária. Franco 
Jr. E Andrade Filho (1985) aponta que a extensão dos domínios não significava, 
necessariamente, poder; estavam em jogo estrutura e funcionalidade. A economia 
3Bizâncio e o Ocidente
no mundo ocidental também se fundamentava em torno da divisão das extensões 
de terra entre a área reservada para a exploração do latifundiário e a reservada 
para os seus respectivos servos/colonos.
As generalizações acerca da agricultura europeia na Idade Média devem ser atenuadas pelas 
profundas diferenças regionais e também pela grande diversidade dentro das regiões. Os 
conhecimentos técnicos básicos necessários a um cultivo bem-sucedido de cereais estavam 
ao alcance de todas as comunidades europeias desde os tempos neolíticos, mas a sua 
aplicação e a sua organização eram questões muito distintas. Elas dependiam da natureza 
dos solos, do equilíbrio de atividades pastoris e agrárias, do clima, da proximidade do mar 
e de outras importantes variáveis. Os hábitos sociais e os costumes fundiários também 
estavam intimamente relacionadoscom a prática agrária (LOYN, 1997).
O modelo econômico bizantino apresenta algumas diferenças evidentes 
em relação ao modelo ocidental. A posição geográfica é um exemplo. A 
capital do Império Bizantino, Constantinopla, representava a interface entre 
o Ocidente e o Oriente. A sua organização de Estado era centralizada, com 
foco no controle das atividades comerciais e no acúmulo de riquezas. Por 
outro lado, havia semelhanças na administração dos latifúndios e da mão de 
obra. Considere o seguinte:
O Império Bizantino preservou as estruturas clássicas básicas em princípios 
da Idade Média, com um persistente e forte elemento comercial e monetário 
na economia. Do século VIII em diante verificam-se claras semelhanças entre 
os desenvolvimentos bizantino e ocidental na administração da propriedade 
fundiária e na exação e natureza da mão de obra. Influentes grupos de campo-
neses livres aparecem na Anatólia e em partes dos Bálcãs (LOYN, 1997, p. 9).
Segundo Sancovsky (2010b), o intervencionismo bizantino era uma cons-
tante nas formas de produção urbana. Também havia uma série de medidas 
visando a controlar a ação dos grandes latifundiários, membros das aristo-
cracias militares e burocráticas e das Igrejas. A autora ressalta que é possível 
comparar algumas práticas de controle econômico do Império Bizantino, 
entre os séculos VII e VIII, com os mais sofisticados sistemas econômicos 
europeus do Ocidente nos séculos XVI a XVIII:
Bizâncio e o Ocidente4
Estamos nos referindo aqui, especificamente, às práticas econômicas de cunho 
protecionista e fiscalista, além de ao monopólio sobre alguns setores produtivos 
(têxteis, artesanato, ourivesaria). Sendo o intervencionismo uma tendência 
estrutural das políticas econômicas do Estado Bizantino, este demarcou, por 
quase cinco séculos de História, um desenvolvimento lento e controlado da 
chamada “iniciativa privada” (SANCOVSKY, 2010b, p. 71).
Como você pode notar, há diferenças e similaridades entre os dois modelos 
econômicos. Em especial, houve um descompasso temporal na evolução 
e no desenvolvimento do comércio no Ocidente medieval, em função da 
descentralização de poder. Por outro lado, a questão dos latifúndios en-
volve elementos bastante parecidos. Você deve considerar que o Império 
Bizantino, em função da centralização de poder, do controle estatal e da 
posição geográfica, por alguns séculos, fortaleceu as suas estruturas e tornou 
Constantinopla um referencial para os comerciantes da época. Contudo, na 
busca pela recuperação dos antigos territórios, a sua hegemonia econômica 
foi perdendo fôlego e força com o passar dos séculos e o aumento da pressão 
dos povos invasores.
Nesse sentido, as transformações econômicas no Ocidente e no Oriente 
ocorreram por meio de práticas diferentes, mas com dois elementos em comum 
que perduraram por toda a Idade Média: o controle da Igreja e o poder do 
latifúndio, que, em meados de século X, redimensiona as estruturas sociais 
e estabelece as relações feudo-vassálicas. Paralelamente a esse processo, as 
cidades readquirem importância, com protagonismo na Península Itálica, fator 
importante na transição do Medievo para Modernidade.
O enfraquecimento do Império Bizantino
O chamado movimento iconoclasta, também conhecido como “iconoclastia”, 
foi um movimento político e religioso de grandes proporções, pautado pela 
interpretação das escrituras sagradas. O termo “iconoclasta” designa aquele 
que destrói imagens religosas ou é contrário à sua adoração. Conforme os 
seguidores do movimento iconoclasta, vários versículos da Bíblia informavam 
e advertiam quanto à veneração de imagens religiosas. A idolatria, vedada 
pelos dogmas cristãos, seria o conceito escolhido para defi nir a veneração e 
o culto de imagens sagradas. Essa interpretação fez com que a controvérsia 
iconoclasta estivesse presente no Império Bizantino entre os séculos VIII 
e IX. Tal controvérsia era
5Bizâncio e o Ocidente
resultante da profunda discordância acerca da veneração de ícones na Igreja 
bizantina. Em 726, o imperador Leão III, o Isauro, com forte apoio militar, 
ordenou a destruição de todas as imagens usadas como ídolos e começou 
a perseguir os defensores dos ícones, sobretudo os monges. Com o papa 
Gregório III veio a reprovação do Papado, condenando os iconoclastas em 
dois sínodos celebrados em Roma (731). O filho de Leão, Constantino V 
Coprônimo, continuou a política paterna, convocando o Sínodo Iconoclasta 
de Heiria (753) (LOYN, 1997, p. 199).
Também havia um movimento contrário ao movimento iconoclasta, com 
um compreensão oposta do processo de veneração de imagens. Os defensores 
da iconofilia entendiam que o significado das imagens religiosas estava longe 
do conceito de idolatria, pois a arte sacra representava respeito, fé e uma 
homenagem prestada aos santos católicos da Igreja.
Segundo Sancovsky (2010a), o imperador Leão III, que governou Bizâncio 
entre 717 e 741, religioso e legislador, considerava o seu império uma nova 
Israel e buscava resistir na luta contra o perigoso crescimento do Islã. Além 
disso, ele tinha o intuito de acabar com as críticas rotineiras que sofria do 
califa Omar II (717–720). O imperador, com base em sua experiência e em 
seus estudos, consultou os textos da Bíblia hebraica, fundamentando assim a 
sua doutrina. Contudo, tal doutrina foi considerada descabida por membros 
eclesiásticos que tinham uma compreensão contrária à do imperador em relação 
à iconofilia, como João Damasceno. Contudo, Leão III, a partir dos dogmas 
estabelecidos no Império Bizantino, sendo ele beneficiário e descendente do 
poder que lhe era destinado por Cristo, convocou um concílio em 730. A sua 
meta era obter a proibição do uso de imagens em qualquer templo bizantino.
O movimento iconoclasta teve repercussão imediata, com consequências 
negativas nas relações entre as Igrejas de Roma e de Constantinopla. Conforme 
Sancovsky (2010a), o monge da região da Palestina, João Damasceno, criticou 
a influência do poder imperial em assuntos teológicos, como a definição de 
parâmetros específicos sobre a devoção e o conceito de santidade. A autora 
cita um trecho da obra De Fide Orthodoxa:
Visto que alguns nos culpam por adorarmos e venerarmos a imagem do Sal-
vador, a de Nossa Senhora e também as dos restantes santos e servidores de 
Cristo, fiquem a saber que desde o princípio Deus fez o homem à sua própria 
imagem. Por que outros motivos, então, nos amaríamos uns aos outros senão 
por sermos feitos à imagem de Deus? Porque, como diz Basílio [bispo de Ce-
sareia, 329–379], esse doutíssimo intérprete das coisas divinas: “A veneração 
prestada à imagem transita para o protótipo.” Ora um protótipo é aquele que 
é representado na imagem e a partir do qual esta tira a sua forma. Por que 
Bizâncio e o Ocidente6
razão o povo mosaico (referente a Moisés) se prostrava em adoração à volta 
do tabernáculo que encerrava uma imagem e figura das coisas divinas, ou 
melhor de toda a criação? O próprio Deus disse a Moisés: “Presta atenção, 
para que possas fazer todas as coisas segundo o modelo que te foi mostrado 
na montanha.” [...] Mas visto que nem todos têm conhecimento das letras nem 
tempo para ler, pareceu aos Padres que certas façanhas notáveis devessem 
ser representadas em imagens que delas seriam uma breve recordação (ES-
PINOSA, 1972, p. 62 apud SANCOVSKY, 2010a, p. 61).
A partir desse trecho, percebe-se que João Damasceno, apesar das críticas 
diretas ao imperador, é solenemente ignorado, pois a atenção de Leão III está 
voltada para um debate via correspondência com o califa muçulmano Omar, 
pautado pela imposição de credo, com discussões sobre liturgia, dogmas, messia-
nismo e fé. O resultado disso é o empenho do imperador em provar para o califa 
que não há nenhum tipo de fundamentação bíblica para a adoração de imagens, 
nem nas escrituras, nem nos mandamentos, nem tampouco nos sacramentos.
A compreensão da Igreja do Ocidente, do monge João Damasceno e de 
boa parte do corpo eclesiásticoera de que as imagens e esculturas tinham um 
papel didático na expansão do cristianismo e do processo litúrgico, uma vez 
que a maioria da população era iletrada. Porém, o movimento iconoclasta já 
estava consolidado:
Somente com a regência da imperatriz Irene (780–90) essa tendência foi re-
vertida; ela convocou o II Concílio de Niceia (787), que defendeu os ícones e 
decretou seu restabelecimento. Entretanto, a controvérsia reacendeu-se uma 
vez mais em 814, por instigação de Leão V, o Armênio, um general eleito 
imperador pelo exército. Só terminou, finalmente, em 843, quando Teodora, 
viúva do imperador Teófilo, convocou um sínodo para confirmar o pronun-
ciamento feito em Niceia; uma procissão no primeiro domingo da Quaresma 
assinalou o retorno da ortodoxia (LOYN, 1997, p. 199).
O movimento iconoclasta enfraqueceu o Império Bizantino em vários aspectos, 
mas os imperadores não se deram conta. Nesse contexto, a questão econômica 
foi pontual, pois a produção de arte sacra movimentava um comércio lucrativo 
para a Igreja e para o Império, com a venda de estátuas, relíquias, amuletos, etc. 
Sem o lucro do comércio da arte sacra, como Constantinopla manteria as suas 
defesas? Com quais recursos o sistema defensivo formado por inúmeras etnias iria 
se fidelizar ao imperador? E o mais grave, caso a Igreja do Oriente fosse atacada 
pelo Islã e pedisse ajuda para a Igreja Ocidental, ela ajudaria? Esses eram riscos 
que hoje se compreendem, mas que os imperadores de Bizâncio não perceberam 
e que decretaram o enfraquecimento gradativo da civilização bizantina.
7Bizâncio e o Ocidente
Iconofilia é o pensamento defensor da representação material da fé. A iconofilia bi-
zantina era representada pela série de imagens que ilustravam a natureza de Cristo, 
dos santos e da santidade, como o Pantocrator (SANCOVSKY, 2010a).
A queda do Império Bizantino e a ascensão 
do Império Turco-Otomano
São muitas as interpretações sobre os motivos que fi zeram o Império Bizantino 
alcançar aproximadamente mil anos de existência. Entre eles, destacam-se: a 
sua posição geográfi ca, o interesse dos povos bárbaros/germânicos em avançar 
para o Ocidente e, consequentemente, a sua estrutura de poder, centrada no 
modelo teocrático e cesaropapista. Contudo, é necessário refl etir sobre os 
motivos que gradativamente afastaram o Império do Oriente e a sua Igreja do 
Ocidente. Entre tais motivos, você pode considerar: o enriquecimento, demons-
trado pelo comércio e pelo poder fi nanceiro, o aprimoramento intelectual em 
função do contato com o mundo greco-romano (guardião do conhecimento 
do mundo antigo) e as querelas religiosas.
No governo de Justiniano, por iniciativa do imperador, houve uma ten-
tativa de aproximação entre o Império Bizantino e a Igreja do Ocidente. Foi 
Justiniano que enfrentou o monofisismo, além da revolta de Nika — crise 
gerada em função da estrutura burocrática de cobrança de altos impostos 
—, sem falar nos constantes questionamentos por parte da população sobre 
a sua capacidade de governar. Segundo Monteiro (2016), após a morte de 
Justiniano, o Império enfrentou uma série de dificuldades financeiras, 
além de ataques tanto de árabes como de búlgaros, que desejavam controlar 
Constantinopla. No campo político e teológico, como você viu, o mundo 
bizantino enfrentou uma de suas piores crises em função da celeuma 
religiosa causada pelo movimento iconoclasta, contrário à adoração das 
imagens religiosas.
Conforme Le Goff (2015), apesar das crises, o Império se mantinha em 
função das temas, unidades ou distritos administrativos dos quais os cam-
poneses recebiam pequenos latifúndios, defendendo-os com todas as forças. 
Nas temas, havia uma força militar extremamente bem equipada em termos 
de armas bélicas, com perfil étnico composto por oficiais e tropas asiáticas 
nativas. Veja:
Bizâncio e o Ocidente8
Os imperadores dos séculos VII e VIII, principalmente Heráclio I e Leão 
III, dividiram as províncias em “temas” ou zonas militares, cada uma com 
o seu próprio comandante. Os agricultores locais forneciam e equipavam os 
soldados em troca de um direito inalienável à terra que cultivavam. Os padrões 
sociais e econômicos anteriores foram assim radicalmente mudados. Foram 
os exércitos das “temas” que asseguraram a sobrevivência do Império, recha-
çando os eslavos na Europa e os árabes na Ásia Menor (LOYN, 1997, p. 51).
Le Goff (2015) ressalta que, ainda na metade do século VIII, Bizâncio e 
o Ocidente se desconectam de maneira irreversível, com raras exceções de 
diálogo, seja por questões territoriais ou políticas. Mesmo com as tentativas 
de reconquista de territórios, ora aumentando, ora diminuindo os seus domí-
nios, o Império Bizantino sempre foi alvo de cobiça para os povos do leste. 
Considere o seguinte:
O declínio de Bizâncio coincidiu com o renascimento da Europa. Os ociden-
tais chegavam ao Oriente Médio primeiro como peregrinos à Terra Santa, e 
depois como cruzados. Sua presença e ações fortaleceram os preconceitos 
bizantinos contra eles. O cisma entre as Igrejas de Roma e de Constantinopla, 
dramaticamente anunciado em 1054, era sintoma de uma divergência ideoló-
gica muito mais profunda. Os mercadores venezianos que acompanhavam os 
cruzados adquiriram um extraordinário apetite pela riqueza de Bizâncio. Em 
1204, eles saciaram-no através da Quarta Cruzada, que encontrou (ou perdeu) 
seu caminho para Constantinopla (LOYN, 1997, p. 52).
A memória cultural greco-romana e oriental presente em Constantinopla 
consolidou novas visões e concepções de mundo, que foram a marca da civi-
lização bizantina. Essas características talvez tenham sido um dos motivos 
de ruptura com o mundo ocidental. É bem verdade que o Ocidente almejou 
chegar próximo da estrutura administrativa de Bizâncio e estender o controle 
da Igreja até lá, mas isso não foi possível.
Os anos de ruptura entre Ocidente e Oriente tiveram um trágico desfecho, 
com o enfraquecimento do Império do Oriente e uma tentativa desesperada 
de abertura de diálogo no esforço de garantir a existência de Bizâncio como 
marco do cristianismo no Oriente. Contudo, a Igreja do Ocidente não entendeu 
a situação dessa forma:
Em 1439, no Concílio de Florença, o imperador engoliu seu orgulho e foi 
proclamada a união das Igrejas grega e romana. A maioria de seus súditos 
denunciou o acordo como uma traição à sua fé ortodoxa, mas era tarde demais: 
os turcos já tinham conquistado a maior parte da Europa oriental. Constan-
9Bizâncio e o Ocidente
tinopla estava isolada. Em 29 de maio de 1453, após uma longa e heroica 
resistência, as muralhas da cidade que tinha, durante mil anos, defendido 
o flanco oriental da Cristandade, foram quebradas pela nova tecnologia da 
artilharia pesada. A Constantinopla bizantina converteu-se na Istambul turca, 
capital do Império Otoniano (LOYN, 1997, p. 52).
O Império Bizantino, com sua riqueza arquitetônica e com uma civi-
lização que implementou uma intensa atividade comercial, produziu arte 
com referências de várias culturas e etnias e foi guardiã por séculos da 
literatura e da filosofia do mundo antigo, complementando-a com suas 
belíssimas produções, tombou frente aos turcos otomanos em 1453. Depois 
de aproximadamente mil anos de sobrevivência e após inúmeras batalhas 
de resistência, a muralha de defesa cristã contra os ataques dos muçulmanos 
finalmente desabou.
Otman I foi fundador da dinastia que deu origem ao termo “otomano”. 
Tal dinastia entraria para a história como vencedora e conquistadora de 
Constantinopla. Segundo Loyn (1997), Otman I, controlador do poder do 
Estado turco, liderou os ghãzis, conhecidos por serem guerreiros muçulmanos 
fanáticos, promovendo invasões violentas nos territórios com o objetivo 
de cumprir o esforço de conversão — guerra santa para os cristãos —, 
chamado de jihãd.
Os turcos, além de contemplarem objetivos religiosos, almejavam empre-
ender uma duradoura e bem estruturada política de expansão territorial. Os 
primeiros resultados não foram expressivos,porém, conforme Monteiro (2016), 
com o sucessor de Otman, Orkhan (1326–1362), a estratégia continuou, com 
a queda de Niceia, em 1331, de Nicomédia, em 1337, e de Gallipoli, em 1354, 
estruturando o império dos otomanos permanentemente na Europa.
Entretanto, o caminho dos otomanos foi facilitado em função das recor-
rentes divisões cristãs. Segundo Loyn (1997), aproveitando a crise cristã, 
Murad I (1362–1380) acelerou o processo de conquistas com o domínio de 
Adrianópoles, em 1363, e na batalha de Cirnomen, 1371, os Estados sérvios 
meridionais foram aniquilados. Segundo o autor, Nis e Sófia caíram em 1386. 
Já os Estados sérvios setentrionais foram derrotados em Kosovo, no ano de 
1389. Contudo, o processo de expansão não manteve esse ritmo e o Império 
teve dificuldades para conservar a sua unidade:
O Estado Otomano foi temporariamente fragmentado por herança até voltar 
a ser reunificado por Maomé I (1413–21), que, com o seu sucessor Murad II, 
restabeleceu o ideal da ghãzi e da jihãd. Em Varna (1444) e Kosovo (1448), 
contraofensivas húngaras foram desbaratadas e Constantinopla em 1453 caiu 
Bizâncio e o Ocidente10
em poder das forças de Maomé II. Este (1451–81) continuou avançando na 
Europa: Belgrado foi sitiada em vão em 1456, mas Atenas seria capturada 
em 1458. Vastas áreas da Ásia Menor e da costa do Mar Negro caíram em 
poder dos otomanos, assim como a Sérvia (1459) e a Bósnia (1463–64). As 
dimensões das conquistas restringiram novos avanços e o fervor por vitórias 
abrandou de forma considerável (LOYN, 1997, p. 283).
Sob o comando do sultão Mehmed II, que tinha como meta tornar o Império 
Otomano uma força reconhecida mundialmente, em 1453, Constantinopla é 
dominada, tornando-se a capital do Império Turco-Otomano. O historiadores 
creditam a vitória de Mehmed II a uma adaptação inusitada: transformar o 
canhão chinês, de bambu, em um canhão de metal, o maior da história até 
então, responsável por derrubar as muralhas de Constantinopla.
FIGUEIRA, C. A. F.; PARENTE, P. A. L. A sociedade medieval. In: FIGUEIRA, C. A. F. et al. 
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Bizâncio e o Ocidente12

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