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HISTÓRIA MEDIEVAL 
Rodrigo Vieira Pinnow
A mentalidade medieval
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Conceituar a visão hierofânica de mundo.
  Examinar a influência cristã na expressão das artes e na literatura 
medieval.
  Reconhecer as características da filosofia medieval e sua base teológica.
Introdução
Compreender a Idade Média a partir da produção historiográfica brasileira 
é bastante desafiador, quiçá a tentativa de elucidar a mentalidade medie-
val por meio de um breve capítulo. Contudo, faz-se necessário reconhecer 
que a Idade Média é um dos temas mais fascinantes e estimulantes 
para os pesquisadores. Os aspectos mais intrigantes que compõem os 
campos de investigação sobre o período estão diretamente conecta-
dos aos estudos sobre imaginário social, mentalidades, memória social, 
religiosidade e poder. 
Nossa posição geográfica, a barreira idiomática e a miríade de fontes 
sobre o período espalhadas pelos inúmeros centros de pesquisa do 
mundo dificultam a prática de investigações mais aprofundadas, porém 
a tecnologia nos instiga a navegar em busca de novas problematizações. 
Neste capítulo, você compreenderá como o conceito de hierofania, 
criado por Mircea Eliade, pesquisador da religião, se aplica ao período. 
Além disso, você examinará a influência da religiosidade do período na 
expressão das artes e na literatura, construindo um melhor entendimento 
sobre a riqueza cultural da época e reconhecendo a importância da 
filosofia medieval.
A visão hierofânica do mundo medieval
Muitas tradições culturais deram origem à mentalidade medieval, pois, no 
processo de sua constituição, existem elementos greco-romanos, germânicos 
e judaico-cristãos (FRANCO JR., 2001). Nesse sentido, o segmento historio-
gráfi co conhecido como história das mentalidades, composto por renomados 
historiadores, como Aries, Mandrou, Duby, Le Goff, entre outros, nos dão 
subsídios para buscar compreender os fenômenos relacionados ao imaginário 
ou, mais especifi camente, às visões de mundo. 
Entretanto, no que diz respeito à Idade Média, escassa de registros escritos, 
principalmente pela quantidade de indivíduos que não sabiam ler nem escrever, 
compreender a mentalidade da época se torna um pouco mais complexo. É 
preciso investigar, nesse caso, a instituição detentora de conhecimento na 
época, bem como estabelecer parâmetros de comparação entre as ações da 
instituição e a produção historiográfica desde então.
Segundo Le Goff (2007), no caso da sociedade medieval, a referência 
lógica normativa estava calcada no sagrado, ou seja, em Deus. Tal fenô-
meno é considerado no arcabouço teórico-metodológico da sociologia e 
da história das mentalidades como psicossocial, independentemente do 
período social. 
Tendo em vista que a composição do tecido social medieval era, por um lado, pura-
mente agrária, com dependência exclusiva da relação com a natureza, e, por outro, 
uma realidade social sem referências de Estado, descentralizada, apenas com a doutrina 
cristã exercendo o papel dentro do processo civilizador, foi lógico que a presença do 
sobrenatural se enraizasse no imaginário social. 
Sociologia clínica e psicossociologia podem ser consideradas divisões disciplina-
res inscritas no campo das ciências humanas que se caracterizam, sobretudo, por 
uma determinada compreensão das noções de social e psíquico em seu objeto de 
investigação. Para além dos objetos específicos de cada área, ambas as disciplinas 
compartilham da mesma noção de sujeito do inconsciente e, nesse sentido, inauguram 
a perceptiva psíquica no campo da sociologia. Partindo então da noção de sujeito 
do inconsciente, o próprio pesquisador, inscrito no campo investigativo dito clínico, 
passa a ser considerado nessa qualidade investigativa. 
Fonte: Gebrin e Andreotti (2016, documento on-line).
A mentalidade medieval2
A igreja e o sagrado 
A morte estava presente desde a infância no mundo medieval — as expectativas 
de vida eram bem pessimistas, uma vez que não havia recursos humanos capa-
citados para a manutenção da saúde, bem como para o planejamento familiar 
da época. A porta-voz da esperança naturalmente se tornou a fé em Cristo, a 
fé no sagrado e, principalmente, a pós-vida no paraíso cristão, tão difundido 
pela Igreja Católica. De acordo com Franco Jr. (2001, p. 190):
Esbarramos aqui em dificuldades terminológicas importantes. Falar em sagrado 
desperta hoje a ideia de oposição com o profano, quando na verdade esta palavra 
quer dizer mais “diante do templo” (pro fanum) do que “fora do templo”. Ou 
seja, não se trata de conceitos opostos (como pensava a sociologia das religiões 
do século XIX), e sim complementares. Falar em sobrenatural implica pensar 
na natureza de forma restrita, enquanto para os medievais e sua cosmologia, 
pela qual todas as partes do universo estão estreita e indissoluvelmente ligadas 
entre si, a natureza tinha um sentido muito amplo. Não havia propriamente 
aquilo que chamamos sobrenatural: a própria palavra surgiu apenas no século 
XIII, no contexto do desenvolvimento de uma nova concepção de natureza. 
A população medieval era extremamente voltada para crenças supersticiosas 
criadas pela Igreja Católica, considerando todos os eventos naturais como uma 
expressão da vontade divina, como, por exemplo, o sucesso nas plantações, 
a saúde, os nascimentos, as mortes e até mesmo as vitórias ou derrotas. As 
escrituras sagradas eram o único meio para estabelecer uma relação com o 
sagrado, com o divino, para que fosse possível vencer o pecado através de uma 
vida condizente aos mandamentos da Igreja. Segundo Eliade (1992, p. 13): 
O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra 
como algo absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o ato da 
manifestação do sagrado, propusemos o termo hierofania. Este termo é cômodo, 
pois não implica nenhuma precisão suplementar: exprime apenas o que está 
implicado no seu conteúdo etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela. 
Poder-se-ia dizer que a história das religiões – desde as mais primitivas às mais 
elaboradas – é constituída por um número considerável de hierofanias, pelas 
manifestações das realidades sagradas. A partir da mais elementar hierofania 
– por exemplo, a manifestação do sagrado num objeto qualquer, urna pedra ou 
uma árvore – e até a hierofania suprema, que é, para um cristão, a encarnação 
de Deus em Jesus Cristo, não existe solução de continuidade. Encontramo-nos 
diante do mesmo ato misterioso: a manifestação de algo “de ordem diferente” 
– de uma realidade que não pertence ao nosso mundo – em objetos que fazem 
parte integrante do nosso mundo “natural”, “profano”. 
3A mentalidade medieval
O sagrado, para o mundo medieval, era revelado pela Igreja Católica por 
meio da palavra e de sua aplicabilidade. O imaginário social da época se 
encarregava de construir as conexões com a realidade, pois, como lembra 
Le Goff (2018), a fusão de culturas que deram origem à sociedade medieval 
construiu pontes entre o sagrado e o profano, juntamente com o maravilhoso, 
o misterioso e o mágico. 
O sobrenatural se manifestava para além dos dogmas cristãos, pois estavam 
enraizadas lendas de seres, como dragões, bruxas, unicórnios, fadas, faunos, 
entre outras entidades oriundas da diversidade cultural, que compunham o 
tecido social do medievo. É preciso considerar que a transição do mundo 
politeísta para o mundo monoteísta se deu por meio de um sincretismo cons-
truído pela Igreja Católica. Com isso, presume-se que boa parte das crenças 
das culturas politeístas tenham sido a base para a construção das alegorias de 
fantasia do mundo medieval, porém, consequentemente, a essência do sagrado 
e da verdade estava devidamente resguardada sob a égide do Cristianismo. 
A relação entre visão hierofânica medieval
e o estabelecimento dos sacramentos cristãos 
Parafraseando a pergunta original de Eliade (1992) — “como uma sociedadese esforça para se manter ao máximo do tempo possível num universo sa-
grado?” — na obra O Sagrado e Profano, o autor problematiza, do ponto de 
vista fenomenológico, a questão relacionada ao sagrado e às suas dimensões. 
Até o momento, compreendemos que a mentalidade medieval foi forjada 
pelos dogmas do Cristianismo, e, a partir disso, a instituição consolidou for-
mas de controle social e espiritual. Contudo, a partir das reflexões de Eliade 
(1992), pode-se considerar que uma das estratégias da Igreja Católica para 
manter a sociedade medieval constantemente em um universo sagrado foi o 
estabelecimento dos sacramentos. De acordo com Franco Jr. (2001, p. 202): 
Colocado no centro da luta entre o Bem e o Mal, com sua alma disputada 
por anjos e demônios, o homem podia contar com preciosos apoios, hierofâ-
nicos. Em primeiro lugar, indispensáveis para a salvação, os sacramentos* 
ministrados pela Igreja: a comunhão, por exemplo, era vista como contato 
mais mágico que espiritual com Deus, daí, ainda no século XI, camponeses 
enterrarem pedaços de hóstias consagradas para aumentar a fertilidade da 
terra. De forma geral, toda a liturgia era “aos olhos dos fiéis uma coleção de 
ritos dos quais eles esperavam tirar proveito”. Depois, os santos e as relíquias* 
também fortaleciam o homem, dando-lhe melhores condições de enfrentar 
as forças demoníacas. 
A mentalidade medieval4
Os sacramentos da Igreja Católica foram baseados na interpretação das 
escrituras sagradas. Segundo as fontes oficiais do Vaticano, os sacramentos 
concebidos pela Igreja Católica são elos entre os cristãos com o sagrado, ou 
seja, por meio deles, na perspectiva teológica cristã, o indivíduo que professa 
a fé em Jesus Cristo se renova e se fortalece. 
Segundo Franco Jr. (2001), os sacramentos foram parte importante da estraté-
gia da Igreja Católica para manifestar o sagrado efetivamente na vida secular da 
população medieval. O autor ressalta que o cotidiano medieval foi gradativamente 
sendo atingido pelos sacramentos cristãos. Por outro lado, Eliade (1992) propõe 
que a representação do sagrado possui expressão simbólica através de uma 
malha de significados. Segundo o autor, num primeiro momento, esse conjunto 
de significados não é compreendido como parte de um todo. Entretanto, quando 
analisamos os sacramentos como apoios hierofânicos e complementares ao ima-
ginário dos cristãos, percebemos o quanto a Igreja criou meios para a expansão 
da percepção dos fenômenos considerados sagrados, disseminando, assim, uma 
sensação de pertencimento mais sólida ao Cristianismo e, consequentemente, 
estabelecendo seus alicerces na sociedade medieval. 
No link a seguir, você poderá assistir ao vídeo do Prof. Dr. João Mac Dowell, em que 
ele comenta sobre a obra O sagrado e o profano, de Mircea Eliade.
https://qrgo.page.link/3xLj3
A arte e o sagrado no mundo medieval 
A manifestação do sagrado esteve presente como expressão da arte, sobretudo 
na arquitetura medieval, uma vez que a Igreja entendia que, em um mundo 
sem referências físicas de centralização de poder, como, por exemplo, prédios 
públicos, era preciso consolidar espaços de vivência da fé pautados pelas 
escrituras sagradas. A partir disso, a arquitetura medieval teve destaque na 
construção de castelos, catedrais, igrejas e monastérios. Como vimos até 
aqui, a Igreja recorria às sagradas escrituras para justifi car suas demandas 
estratégicas. Sendo assim, como porta voz de Deus, estabelece a simbologia 
dos templos como a materialização da doutrina cristã. 
5A mentalidade medieval
Vocês esperavam muito, mas, eis que veio pouco. E o que vocês trouxeram 
para casa eu dissipei com um sopro. “E por que o fiz?”, pergunta o SENHOR 
dos Exércitos. “Por causa do meu templo, que ainda está destruído enquanto 
cada um de vocês se ocupa com a sua própria casa” (AGEU, 1980, 1:9).
A escritura acima é uma das muitas que ajudaram a caracterizar na arte me-
dieval a essência da religiosidade cristã. A Igreja recorreu à arte como forma de 
educar a população iletrada, por meio de pinturas e vitrais, com a representação 
de passagens bíblicas que expressavam os dogmas cristãos. 
Segundo Strickland e Boswell (2014), a arte religiosa teve objetivos didáticos 
construídos em parceria com o corpo eclesiástico, não havendo, em muitos casos, 
obras assinadas, pois tudo pertencia ao sagrado, logo, não haveria necessidade 
de interferência do mundo secular. Nesse contexto, durante os primeiros séculos 
da Idade Média, os artistas não tiveram o devido destaque pela grandiosidade 
de suas obras, pois eram parte integrante do imaginário social “[...] fé sem obras 
é morta [...]” (SÃO TIAGO, 1980, 2: 26). 
Como a meta cristã era a salvação e o paraíso, ou seja, a vida eterna, aos 
poucos, o realismo das representações de mundo desapareceu. Comuns na 
Antiguidade Clássica, período que antecedeu a Idade Média, a representação 
do corpo nu não era mais recomendada, passando a ser condenada. As novas 
composições de corpos femininos tinham um novo olhar em termos de anatomia, 
fugindo, e muito, das representações greco-romanas. Observe, na Figura 1, uma 
pintura da Virgem Maria.
Figura 1. Pintura medieval da Virgem Maria.
Fonte: Zsolt Horvath/Shutterstock.com.
A mentalidade medieval6
No contexto artístico medieval, o corpo foi substituído pelo espírito, 
pois o corpo do mundo greco-romano era considerado profano, e o espí-
rito, a partir dos dogmas católicos, seria a conexão com o sagrado. Esse 
ensinamento foi incentivado pelos teólogos da época com o intuito de que 
os cristãos vislumbrassem a beleza por meio do divino representado nas 
esculturas, pinturas e vitrais das Igrejas, catedrais e monastérios. De acordo 
com Franco Jr. (2001, p. 144):
A arte ocidental dos séculos IV-VIII realizou uma síntese de elementos de 
origens diversas. Da arte romana clássica conservou-se algo das técnicas e 
das características arquitetônicas. Da arte oriental, com a qual se manteve 
contato mesmo após as invasões germânicas, através de mercadores e 
missionários, veio certa estilização e hieratismo das formas. Da arte ger-
mânica, típica de povos nômades, aproveitou-se o caráter não figurativo e o 
geometrismo estilizado. Da arte céltica, através das iluminuras dos monges 
irlandeses, absorveu-se o uso de linhas abstratas, apenas ornamentais. Da 
arte cristã primitiva veio o essencial, isto é, a temática e o simbolismo. No 
todo, elementos que se completavam mais do que se negavam, tendo cada 
um deles peso variável conforme o gênero artístico (arquitetura, escultura, 
pintura, miniatura, mosaico etc.) e as condições locais (composição étnica, 
meio físico, época). 
Segundo Soares (2017), a arquitetura medieval teve como foco projetos 
com estruturas mais leves, suaves e arejadas. O padrão cristão de edifica-
ção tinha um exterior simples, a massa e o volume da arquitetura romana 
cederam lugar para edificações que refletiam o ideal cristão: discretos no 
exterior, mas resplandecentes, com uma simbologia representada pelo uso 
de afrescos, mosaicos e vitrais. Com isso, a autora evidencia três estilos 
de arte medieval distintos: bizantino, romano e gótico. 
A arte bizantina geograficamente se manifesta no Mediterrâneo Oriental 
a partir de 330 d.C., momento marcado pela transferência do trono do Império 
Romano, por Constantino, para Bizâncio, que teve seu nome posteriormente 
alterado para Constantinopla. O estilo bizantino mesclou elementos da arte 
cristã, combinados com uma variedade de cores e um estilo decorativo 
único, com influências da cultura grega oriental. Conforme Soares (2017), 
a Igreja de Santa Sofia é a representação da arquitetura da época, tendo sido 
construída por aproximadamente 10 mil homens por quase 6 anos (Figura 2). 
7A mentalidade medieval
Figura 2. Igreja de Santa Sofia, na Turquia.
Fonte: viperman/Shutterstock.com.
A arte românica se apropria de elementos da cultura romana e foi de-
senvolvida entre os séculos V e IX, período historiograficamente chamadode Alta Idade Média. Fazem parte do estilo uma arquitetura focada em 
castelos, catedrais, igrejas e monastérios, com características específicas: 
poucas entradas de luz, sem muitas janelas, robustas, com edificações 
horizontais, mais grossas, com abóbadas e arcos, como fortalezas seguras 
e prontas para defesa. 
Entre os séculos X e XV, a arte gótica ganha força no mundo medieval 
e apresenta características distintas de sua antecessora, a arte românica, 
por possuir mais aberturas, leveza, paredes mais finas. Há consenso entre 
os historiadores da arte de que as catedrais góticas reúnem elementos 
únicos de beleza e esplendor do mundo greco-romano combinados com 
o sagrado cristão. 
Alguns autores, como Strickland e Boswell (2014), chamam as catedrais 
góticas de “bíblias de pedra”, pois avançam para além dos elementos da 
cultura clássica, com uma arquitetura mais ousada e com novos elementos 
de engenharia para a época: a utilização da abóbada entre traves, sendo 
sustentada por estruturas externas, chamadas de arcobotantes (Figura 3). 
Segundo Soares (2017), essa nova engenharia possibilitou que as cons-
truções góticas tivessem paredes estreitas, com janelas maiores, cobertas 
por vitrais, aumentando, assim, a luminosidade no interior da edificação. 
A mentalidade medieval8
Figura 3. Catedral de Colônia, na Alemanha.
Fonte: phoelixDE/Shutterstock.com.
A literatura medieval 
Ao contrário de nossa realidade, no mundo medieval, a literatura também 
esteve a serviço da Igreja Católica como ferramenta pedagógica para o reforço 
do Cristianismo. Os autores da época eram membros do corpo eclesiástico. 
bispos, padres e até mesmo papas se aventuravam nas práticas literárias. 
Contudo, os consumidores da literatura da época eram os próprios membros 
do clero e alguns da nobreza. 
Além das inspirações religiosas que faziam parte da substância essencial 
das obras, as influências da filosofia também se faziam presentes, com re-
flexões de Aristóteles e Platão, mas poucas na Alta Idade Média. O corpo 
eclesiástico, apreciadores do conhecimento das muitas dimensões da arte 
dos greco-romanos, foram os guardiões e responsáveis pela conservação de 
inúmeras bibliotecas e verdadeiras preciosidades artísticas do mundo clássico.
Nesse período, a Igreja, por intermédio do sagrado, explícito na doutrina 
cristã, estimulou que os literatos medievais escrevessem sobre o imaginário 
cultural, social e sagrado do complexo tecido medieval. Os autores escolheram 
relatar em suas obras passagens bíblicas, produziram verdadeiras biografias 
9A mentalidade medieval
romanceadas sobre a jornada de santos católicos e, sempre, reforçaram o 
sagrado por intermédio da existência de Deus e da vida eterna. 
Na literatura, por outro lado, à primeira vista a fronteira entre os dois pólos 
culturais estava colocada no idioma utilizado, o latino na cultura clerical e o 
vernáculo na vulgar. De fato, segundo Bruce Rosenberg, a literatura medieval 
em língua vulgar está mais impregnada de elementos folclóricos do que a de 
qualquer outra época. No entanto, a questão é mais complexa. Na literatura 
latina, ao lado de uma produção nitidamente clerical (crônicas, poesias de 
cunho clássico), havia uma de espírito popular (hagiografia) e outra erudita 
mas anti eclesiástica (goliárdica). Na literatura vernácula, havia gêneros com 
forte coloração clerical (canção de gesta, ciclo do Graal) e outros acentua-
damente laicos (lais, fabliaux). Em termos culturais, portanto, e não apenas 
lingüísticos, boa parte da literatura da Idade Média Central estava na zona 
da cultura intermediária (FRANCO JR., 2001, p. 144). 
Há um consenso entre os historiadores Le Goff (2018) e Gombrich (1999) 
sobre dois aspectos importantes relacionados á Idade Média: primeiro, a falácia 
do termo renascentista “idade das trevas”, uma vez que, em quase mil anos de 
medievo, houve muitos “renascimentos”; segundo, para os autores, as camadas 
sociais que viveram entre os séculos V e X não compreendiam e tampouco 
identificavam-se com estilos artísticos, seja nas artes ou na literatura, pois 
haviam muitas influências artístico-culturais. Somente a partir do século XI, 
com um processo civilizatório mais consolidado, os estilos artísticos seriam 
mais bem compreendidos e apreciados. 
A partir do século XII, conforme o consenso de alguns autores do me-
dievo, o trovadorismo provocou algumas mudanças na literatura. O amor, a 
aventura, contos épicos e sátiras começaram a ter mais espaço, mas sempre 
sob os auspícios da Igreja e muitos considerados profanos. Segundo Barros 
(2015, p. 216):
O Amor Cortês encontra seus principais veículos de expressão nas cantigas 
dos trovadores, nos romances corteses, nas “cortes de amor” e, em muitos 
casos, nas próprias “vidas” dos poetas-cantores que percorriam as cortes 
feudais da Europa Medieval e que por vezes acabavam transformando a sua 
própria existência errante em uma autêntica obra de arte. O século XII também 
nos legou o famoso Tratado do Amor Cortês, de André Capelão, que procura 
refletir sobre o Amor à maneira dos tratadistas medievais, sendo esta também 
uma importante fonte para a compreensão dos novos padrões de sensibilidade. 
Entretanto, desse momento em diante, a literatura passa a ter outro papel 
no imaginário da época. 
A mentalidade medieval10
Entre a fé e a razão: a filosofia medieval 
A igreja Católica, para além de tudo o que já foi dito neste capítulo, teve a 
incumbência de agir como uma entidade supranacional, dialogando e cos-
turando alianças com as camadas dominantes, estabelecendo seu papel no 
campo cultural, social e político. Com isso, expandiu sua estrutura física, 
agregando riqueza material e, por conseguinte, tornando-se a proprietária de 
quase um terço das terras férteis do continente europeu, em um período em 
que o latifúndio signifi cava glória, poder e riqueza. 
Com isso, seu plano universalista abarcou diferentes territórios, mediando 
muitas celeumas entre a fé e a razão. A partir disso, a Igreja estabeleceu, do 
ponto de vista da cultura, uma estratégia intelectual, na qual a fé cristã seria a 
base primordial de todo o conhecimento humano. Portanto, a fé fundamentava-
-se em um processo de doutrinação contínua e plena às revelações feitas por 
Deus aos homens, registradas na Bíblia, com os devidos esclarecimentos feitos 
pela autoridade da Igreja Católica.
Num primeiro momento, é preciso ter em mente que a questão central do 
debate para a constituição da filosofia na Idade Média gira em torno do con-
flito entre fé e razão. Trata-se de um período profundamente teocêntrico, em 
que os filósofos também eram religiosos, com uma forte bagagem teológica, 
e a grande preocupação desses homens era equilibrar a fé e a razão. Se a 
razão não fosse ignorada, ao contrário, fosse incorporada à fé cristã, a Igreja 
católica certamente teria mais seguidores. Então, era preciso que houvesse 
uma diferenciação e, ao mesmo tempo, uma conciliação no debate entre os 
dogmas construídos pela fé e as descobertas elaboradas pela razão. No entanto, 
segundo Franco Jr. (2001, p. 146):
[...] o campo cultural em que melhor se expressou a tentativa de harmonização 
do passado clássico com o cristianismo foi o da Filosofia. Na verdade, tal 
pretensão não foi apenas a dos primeiros tempos medievais, mas de toda a 
Idade Média, como veremos mais adiante. Na fase que ora examinamos, isso 
transparece na corrente conhecida por Patrística. Na essência, ela procurava 
provar que a doutrina cristã não conflitava com a razão, demonstrando assim 
a falsidade do paganismo, para tanto, ela recorreu à filosofia grega, sobretudo 
ao platonismo, que se adequava melhor à mensagem cristã. 
Agostinho de Hipona, posteriormente, Santo Agostinho, como ficou co-
nhecido, foi o primeiro filósofo e teólogo responsável pela aproximação entre 
a fé e a razão. Em sua obra, Cidade de Deus, produzida em 426 d.C., o pen-
sador cristão refutou as heresias da época, tais como o Maniqueísmo (crença 
11A mentalidademedieval
no dualismo bem e mal, de origem persa), o Donatismo (corrente contrária 
aos eclesiásticos com atribuições no Estado), o Arianismo (compreensão de 
Jesus humano, não divino) e o Pelagianismo (compreensão do homem como 
responsável por sua salvação). 
Agostinho foi o principal expoente da Patrística, corrente filosófica que 
buscou compreender a relação entre o corpo e a alma, entre a fé e a razão. O 
diferencial de Agostinho foi o resgate do mundo dos sentidos da Antiguidade 
Clássica, concebido pela filosofia de Platão. A partir desse mundo dos sentidos, 
Agostinho propôs uma reflexão que equilibrava o conhecimento, a razão, o 
pensamento e os sentidos humanos dentro do debate teológico da doutrina 
cristã. Segundo Gomes (2002, p. 222):
A bifurcação da escatologia cristã consumou-se com a teologia agostiniana, 
mantendo o cristianismo numa permanente tensão entre instituição e inspira-
ção, entre poder e carisma. Agostinho refutou o milenarismo e a escatologia 
iminente, rejeitando a possibilidade da identificação de um reino visível de 
Cristo na terra antes do Juízo Final e falando antes de uma presença invisí-
vel do Reino de Deus na Igreja. Nesta escatologia que se tornou oficial na 
Cristandade medieval, o futuro prometido era reconhecido como já presente 
no culto, na proclamação da Palavra de Deus, nos sacramentos, na Igreja. 
Dava-se deste modo uma quase identificação do Reino de Deus com a Igreja 
numa espécie de “êxtase” da realização no presente do futuro prometido. Era 
como que um “mito” do presente. 
Seguidor das ideias de Agostinho de Hipona, o teólogo e filósofo Anselmo 
de Cantuária, nascido como Anselmo de Aosta (cidade de Aosta, Itália), hoje 
conhecido como Santo Anselmo, tinha como lema principal a expressão: fides 
quaerens intellectum (a fé que procura entender), ou seja, ele utilizava um 
argumento ontológico, também da escola platônica, sobre “o que é isso?”. O 
filósofo defendia a ideia de que Deus era um ser perfeito, portanto, ele deveria 
existir por essa perfeição. E se Deus era perfeito, era inconcebível para a mente 
humana o significado de Deus. A Igreja traduziria quem seria e o que seria 
Deus. Em suas obras, o filósofo expressa suas preocupações sobre os debates 
relacionados à conciliação entre fé e razão. 
No livro Monológio, Anselmo tenta demonstrar a existência de Deus por 
intermédio da razão, sem o uso das escrituras sagradas. Em Proslógio, Anselmo 
também desenvolve uma fundamentação da fé com argumentação pautada pela 
razão. O pensador cristão, além de ser um intelectual adepto do aprimoramento 
filosófico por meio do equilíbrio entre a razão filosófica e teológica, também 
teve atuação política na sustentação e na defesa da doutrina cristã e da Igreja.
A mentalidade medieval12
Mas uma vez que é melhor ser sensível, omnipotente, misericordioso, impas-
sível, do que não o ser, de que modo és sensível se não és um corpo?, ou om-
nipotente se não podes todas as coisas?, ou misericordioso e simultaneamente 
impassível? De facto, se só as coisas corporais são sensíveis, reportando-se 
os sentidos ao corpo e estando no corpo, de que modo és tu senciente <es 
sensibilis>, quando não és corpo, mas sumo espírito, o qual é melhor que o 
corpo? Mas, se sentir não é senão conhecer ou <apenas estar em ordem> ao 
conhecimento – quem sente, com efeito, conhece segundo a proprie-dade dos 
sentidos, como por exemplo, a cor pela vista, os sabores pelo gosto – diz-se sem 
inconveniente que <quem sente>, sente de algum modo tudo o que conhece 
<também> de algum modo. Assim, Senhor, se bem que não sejas corpo, és, 
contudo, vera e sumamente senciente <sensibilis>, do modo mesmo como 
conheces sumamente todas as coisas, e não da maneira como também o animal 
conhece pelo sentido corpóreo (ANSELMO, 2008, p. 15).
Segundo Chesterton (2015), Tomás de Aquino foi professor da Universidade 
de Paris e membro da Ordem dos Dominicanos, responsável por ampliar o 
projeto universalista da Igreja, desenvolvendo a Escolástica, método caracte-
rístico das universidades medievais europeias, entre os séculos IX e XVI. A 
partir das escolásticas, segundo o autor, Tomás de Aquino propôs e trouxe à 
tona os ensinamentos de Aristóteles por meio da metafísica aristotélica, com 
foco nas causas primeiras, ou seja, na origem das coisas. E, a partir disso, sua 
proposta objetivava conciliar a fé cristã com o pensamento racional, levantando 
questões que conectariam a teologia e a filosofia, ou seja, uma proposição de 
uma investigação e fundamentação racional da fé. 
Quanto ao método de estudo, aplicava-se a Escolástica, assim chamada devido 
ao local em que nascera, a escola urbana. Tratava-se de um conjunto de leis 
sobre como pensar determinado assunto. Inicialmente, leis da linguagem, 
buscando-se o exato sentido das palavras, já que por meio delas é que se 
desenvolve o raciocínio, são elas o instrumental que constrói o pensamento. 
Depois, leis da demonstração, por meio da dialética, isto é, forma de provar 
certa posição recorrendo-se a argumentos contrários. A seguir, leis da auto-
ridade*, ou seja, o recurso às fontes cristãs [Bíblia, Pais da Igreja*) e do pen-
samento clássico (Platão, Aristóteles) para fundamentar as idéias defendidas. 
Por fim, leis da razão, utilizáveis para uma compreensão mais profunda de 
tudo, mesmo de assuntos da fé. A aplicação do método escolástico ao ensino 
fazia com que este se desenrolasse em dois momentos básicos, a lectio ou 
leitura, comentário e análise de texto, e a disputatio ou debate sobre tudo 
aquilo (FRANCO JR., 2001, p. 161).
A Igreja Católica soube identificar, no período de consolidação de seu poder, 
os anseios de uma parcela da população medieval de sede por conhecimento, 
13A mentalidade medieval
conciliando a razão com o universo sobrenatural e supersticioso presente na 
época. As explicações e formulações teológicas precisavam de um elemento 
que construísse uma ponte entre o mundo da fé cristã com o outrora mundo 
clássico, superado pelas inúmeras transformações demográficas do período, 
bem com pela perda do poder centralizador romano.
A partir disso, a Igreja, para além dos debates sobre a religião cristã, 
efervescentes na sociedade medieval, articulou uma aliança com os maiores 
intelectuais da estrutura eclesiástica e implementou o maior projeto de uni-
versalização visto na história da humanidade.
A população do mundo medieval, composta, em sua grande maioria, por 
analfabetos, foi contemplada com o conhecimento da doutrina cristã por 
meio da visão hierofânica de mundo, com a Igreja agindo para propagar a 
compreensão do sagrado em todas as expressões de arte a partir do século V. 
Paralelo a isso, os núcleos da nobreza, oriundos das mais diversas culturas 
germânicas e românicas, também eram seduzidos pela difusão cultural cristã, 
com acesso a eventos para assistirem intelectuais nas festividades alusivas ao 
calendário cristão e pela beleza e exuberância das edificações eclesiásticas. 
Em suma, assim como os pobres, os nobres, líderes e até mesmo imperadores 
cederam ao Cristianismo e seu projeto de universalização.
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15A mentalidade medieval

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