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1 CONTROLADORIA PÚBLICA Prof. Me. Edgard Gonçalves da Costa 2 CONTROLADORIA PÚBLICA PROF. ME. EDGARD GONÇALVES DA COSTA 3 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Imperatriz da Penha Matos Revisão Gramatical e Ortográfica: Profª. Fabiana Miraz de Freitas Grecco Revisão técnica: Profª. Esp. Gislaine Dias dos Santos Revisão/Diagramação/Estruturação: Clarice Virgilio Gomes Prof. Esp. Guilherme Prado Lorena Oliveira Silva Portugal Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva Daniel Guadalupe Reis Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Eliza P. Campos Victor Lucas dos Reis Lopes © 2022, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 4 CONTROLADORIA PÚBLICA 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2022 5 Mestrado em Administração. Graduações em Administração, em Ciências Contábeis e em Direito. Especializações em Finanças, em Con- tabilidade Pública e em Direito e Processo do Trabalho. Professor e autor. Auxilia os alunos na elaboração de projetos de pesquisa. Possui ex- periência gerencial e/ou técnica no setor públi- co, nas áreas financeira, orçamentária, controle, auditoria e contábil. Exerce as funções de Data Protection Officer e Agente de Governança em uma empresa pública, onde atua como instru- tor de cursos. É autor e avaliador de artigos em periódicos, nas áreas jurídica, gestão, financeira e contábil, de setores públicos e privados. Autor dos livros Governança Corporativa em Coopera- tivas de Crédito Brasileiras. Appris, 2019 e Gover- nança na Gestão Pública. Faculdade Única de Ipatinga, 2021. EDGARD GONÇALVES DA COSTA Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali- ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/5575035885055610 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 6 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 7 UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4 SUMÁRIO 1.1 Conceito de Administração Pública ..................................................................................................................................................................................................................................10 1.2 Papel da Administração Pública no Ambiente Social e Econômico .........................................................................................................................................................12 1.3 Gestão das Entidades Públicas ...........................................................................................................................................................................................................................................14 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................18 2.1 Surgimento e Conceito de Controladoria ....................................................................................................................................................................................................................23 2.2 Controladoria na Gestão Pública ......................................................................................................................................................................................................................................26 2.3 Natureza, Função e Atribuições da Controladoria Pública .............................................................................................................................................................................29 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................32 3.1 Evolução e Papel da Contabilidade Pública ..............................................................................................................................................................................................................37 3.2 Sistemas de Informações e a Controladoria ..............................................................................................................................................................................................................41 3.3 Sistemas de Informações Contábeis .............................................................................................................................................................................................................................43 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................45 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTROLADORIA A CONTABILIDADE PÚBLICA E A CONTROLADORIA 4.1 Planejamento Público ..............................................................................................................................................................................................................................................................50 4.2 Orçamento Público ...................................................................................................................................................................................................................................................................54 4.3 Responsabilidade na Gestão Fiscal .................................................................................................................................................................................................................................61 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................66 PLANEJAMENTO E CONTROLADORIA 5.1 Natureza e Função Constitucionaldo Controle Interno e Externo na Administração Pública ..............................................................................................70 5.2 Tomadas e Prestações de Contas ....................................................................................................................................................................................................................................74 5.3 Avaliação de Sistemas de Controle Interno e Externo na Administração Pública .........................................................................................................................77 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................80 CONTROLE INTERNO E EXTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UNIDADE 5 6.1 Surgimento e Conceito de Auditoria .............................................................................................................................................................................................................................84 6.2 Auditoria na Gestão Pública ................................................................................................................................................................................................................................................86 6.3 Elementos e Funções da Auditoria Pública .............................................................................................................................................................................................................87 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................................................................................................................................................................................................90 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO........................................................................................................................................................................................................................93 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................................................................................................................................................................94 AUDITORIA PÚBLICA UNIDADE 6 8 O N FI R A N O L I C V R O UNIDADE 1 Esta unidade inicia-se com a apresentação do conceito de Administração e, particularmente, da Administração Pública; na sequência, é apresentado o papel da Administra Pública no ambiente social e econômico, discorrendo-se sobre as principais funções que o Estado exerce. Por fim, são trazidas informações sobre o processo de gestão das entidades públicas, discorrendo-se sobre as formas de gestão existentes e pelos quais passou o Estado brasileiro. UNIDADE 2 Nesta unidade são apresentados, inicialmente, o surgimento e o conceito de contabilidade e controladoria, abordando-se, posteriormente, a controladoria na gestão pública, descrevendo-se sua natureza, funções e atribuições, sendo demonstrada a necessidade de a controladoria prover os gestores de informações necessárias para o alcance do resultado global da entidade pública. UNIDADE 3 Esta unidade tem como proposta apresentar a evolução e o papel da contabilidade pública no Brasil, bem abordar a importância de utilização dos Sistemas de Informações, Gerenciais e de Contabilidade, para que as atividades da controladoria e do processo de gestão aconteçam de forma coordenada e integrada. UNIDADE 4 Através desta unidade apresenta-se a importância do planejamento como mecanismo para que a Administração Pública consiga realizar as suas ações, em atendimento aos princípios constitucionais, sendo feita uma abordagem histórica da evolução do processo de planejamento e de orçamento. São abordadas as leis orçamentárias, bem como os princípios e a classificação dos orçamentos. Esta unidade se encerra com o estudo dos mecanismos de responsabilização na gestão fiscal, principalmente, a partir da LRF. UNIDADE 5 Nesta unidade são discutidas a natureza e a função constitucional do controle interno e externo na Administração Pública, trazendo-se o conceito e a evolução de controle na gestão pública. Discorre-se sobre o processo de levantamento das contas (prestação e tomada de contas), que corresponde ao dever de justificação por quem se utilizar do dinheiro público, sendo apresentado o processo de avaliação do sistema de controle, particularmente com a utilização da metodologia do coso I. UNIDADE 6 Esta unidade apresenta o surgimento e o conceito de auditoria, sendo feita a distinção entre as auditorias interna e externa. Discorre-se sobre o desenvolvimento da atividade de auditoria na gestão pública, particularmente, no Governo Federal. São trazidos os elementos e as funções da auditoria pública, bem como tipos de auditoria existentes. 9 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 10 1.1 CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública é uma espécie do gênero Administração, que é uma ciência inexata pertencente ao campo das ciências sociais aplicadas (COSTA, 2021). A palavra administração vem do latim ad (tendência para ou direção para) e minister (subordinação ou obediência) (CHIAVENATO, 1983; 2012). O verbo administrar corresponde a governar, dirigir ou exercer o governo, enquanto administração refere-se à ação de administrar, de dar direção aos negócios, sejam eles públicos ou privados (DICIO, 2021). Não obstante ser uma ciência relativamente nova, a Administração apresenta-se como um fenômeno universal no mundo moderno, comportando diferentes abordagens e teorias (CHIAVENATO, 1983; 2012). A Administração recebe influências de diferentes ciências e do contexto em que é exercida, lidando com fenômenos complexos, produtor de informações muitas vezes incontroláveis, sobre os quais o administrador detém pouco conhecimento (ANDRADE; AMBONI, 2007). Considerando-se que o ambiente em que atua o gestor está em constante mudança, para o melhor desempenho de suas múltiplas funções, é exigido deste profissional atualização constante, de sorte que a organização seja gerida da melhor forma possível. Em relação ao setor público, no Brasil, a Constituição Federal (CF) de 1988 apresenta no seu capítulo VII o critério (orgânico) que expressa o significado de Administração Pública, o qual obedecendo aos princípios consagrados no artigo 37 da Carta Magna (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), engloba tanto a Administração direta quanto a indireta dos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), demonstrando a complexidade da organização administrativa do Estado Federal brasileiro . A denominação Estado foi apresentada por Maquiavel (1469-1527) na obra O Príncipe, no século XVI. Segundo Maquiavel, a política caracteriza-se pela constante luta pelo poder, onde a moral política, própria do contexto específico, reflete na forma como o Estado será administrado. Ao governante caberia a garantia da segurança e liberdade, gerando a estabilidade social, necessária à estabilidade política. O Estado agrega um conjunto de organismos decisórios (Parlamento e governo) e executivos (Administração Pública), sendo mais amplo que o governo ou que a Administração Pública; integrando os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com suas funções típicas (COSTIN, 2010). Uma melhor compreensão sobre a distinção entre Estado e Administração Pública, pode ser buscada na seguinte obra da referida autora. O livro Administração pública, de Claudia Costin, está disponível na Biblioteca Virtual Minha Biblioteca Única. Disponível em: https://bit.ly/3PWojvU. Acesso em: 05 jul. 2022.BUSQUE POR MAIS 11 Montesquieu (1689-1755) não foi o primeiro a defender a tripartição (Legislativo, Executivo e Judiciário), visto que Aristóteles (384-322 a.C.) já havia apontado a necessidade de separação de funções. Montesquieu defendeu a repartição do poder para se evitar a sua concentração e o risco à liberdade do povo (CARVALHO, 2017), através da criação de um sistema de freios e contrapesos necessários para a distribuição e o controle do poder (CARVALHO FILHO, 2018). A atuação harmônica e independente dos poderes influenciou o constitucionalismo no mundo, propondo a garantia da liberdade individual (DALLARI, 2011). Em uma concepção moderna e democrática, o Estado é uma autoridade soberana, que acompanhando o processo de evolução da sociedade, é o garantidor das regras sociais (TEIXEIRA, 2012). O Governo é exercido pelos políticos eleitos, sendo o responsável por estabelecer as metas governamentais. Por sua vez, a Administração Pública é composta pelos corpos técnico e legal imprescindíveis para que as metas governamentais delineadas pelo Governo sejam seguidas (MATIAS-PEREIRA, 2009). Para Bulos (2017), a Administração Pública é o conjunto orgânico e sistemático de normas jurídicas que abrangem a Administração direta e indireta dos entes federados, que se guiam pelos princípios administrativos consagrados na Carta Magna. Em seu sentido mais simples, a Administração Pública, corresponde ao conjunto que compõe os meios (institucionais, materiais, financeiros e humanos) necessários para que as decisões políticas e as operações sejam executadas e os objetivos atingidos (AFONSO DA SILVA, 2005). Por sua vez, em seu sentido mais amplo, Administração Pública compreende os órgãos de governo, que exercem a função política e estabelecem a ação governamental, assim como os órgãos e pessoas jurídicas, que desenvolvem a função administrativa necessária para a execução das políticas traçadas (ALEXANDRINO; PAULO, 2012). A função administrativa não se confunde com a Administração Pública, uma vez que aquela seria mais ampla e se referiria ao Estado como um todo (COSTIN, 2010). A função administrativa é tipicamente do Poder Executivo, contudo, os demais Poderes Legislativo e Judiciário também a exerce, atipicamente (CARVALHO FILHO, 2018). O conjunto de atividades concretas do Estado expressa o critério orgânico, material, objetivo, ou funcional da Administração Pública (MORAES, 2012; BULOS, 2017). Tais atividades são próprias da função administrativa, não importando quem as desempenha (ALEXANDRINO; PAULO, 2012), que, exercidas de maneira imediata, são imprescindíveis aos serviços públicos em geral, objetivando que as necessidades e os interesses da coletividade sejam atendidos. Por sua vez, o critério formal ou subjetivo é o conjunto de órgãos, de pessoas jurídicas e de agentes que exercem, com base na legislação, a função administrativa estatal, de sorte a permitir que os objetivos do Governo sejam Figura 1: Alguns pensadores Fonte: Elaborado pelo autor (2022) 12 alcançados (MORAES, 2012; BULOS, 2017; CARVALHO FILHO, 2018; DI PIETRO, 2019). Bulos (2017) apresenta, ainda, como integrante da teoria geral dos órgãos públicos o critério residual ou negativista, que corresponde a toda atividade não afeta à função legislativa ou jurisdicional. As entidades políticas, são pessoas jurídicas de direito público interno com capacidade legislativa (poder político) e administrativa. Enquanto as entidades administrativas, compõem a administração indireta (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedade de economia mista) dotadas de autonomia para o exercício de suas competências (ABREU; MOREIRA, 2016). A classificação orgânica da Administração Pública como sendo direta ou centralizada e indireta ou descentralizada foi inicialmente estabelecida pelo Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. A Administração direta ou centralizada refere-se ao conjunto de órgãos administrativos que se subordinam diretamente ao Poder Executivo de cada ente federal. A Administração indireta ou descentralizada compõe o conjunto de órgãos que integram as entidades personalizadas que prestam serviços ou que explorem atividades econômicas, sendo dotadas de personalidade jurídica e desempenham as atividades administrativas de forma descentralizada, vinculando-se ao Poder Executivo de cada ente (AFONSO DA SILVA, 2006; BULOS, 2017; ABREU; MOREIRA, 2016; CARVALHO FILHO, 2018). A desconcentração não se confunde com a descentralização, visto que na primeira opera-se uma distribuição interna de competências, entre órgãos e agentes, dentro da mesma pessoa jurídica (CARVALHO, 2017). A desconcentração liga-se à hierarquia, ocorrendo um descongestionamento (DI PIETRO, 2019) ou mero desmembramento orgânico (CARVALHO FILHO, 2018). A descentralização somente existe a partir do momento em que o Poder Público destaca um serviço público de sua titularidade e o transfere a outra entidade (DI PIETRO, 2019). As ações governamentais ocorrem por meio da política fiscal, englobando as funções alocativa, distributiva e estabilizadora. “A função alocativa consiste ao fornecimento eficiente de bens e serviços públicos, compensando as falhas de mercado” (BRASIL, 2020). A função distributiva diz respeito a ajustes na distribuição de renda, tornando-a mais justa. A função estabilizadora objetiva utilizar a política econômica, visando à garantia do baixo desemprego, à estabilidade de preços e à obtenção de taxas apropriadas de crescimento econômico sustentável (GIABIAGI; ALÉM, 2000; BRASIL, 2020). É importante destacar que os prestadores de serviço público tanto podem ser as pessoas jurídicas de direito público quanto as de direito privado (sob regime de delegação), com preponderância do regime jurídico do direito público (HIGA; CASTRO; OLIVEIRA, 2018). Os serviços de interesse geral, visando ao bom funcionamento da sociedade, englobam os básicos necessários: social, econômico e cultural (QUEIROZ, 2012). Atualmente, oportuniza-se que novos e variados atores sociais contribuam com o 1.2 PAPEL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO AMBIENTE SOCIAL E ECONÔMICO 13 pensamento, o desenvolvimento e o provimento de políticas públicas, expandindo-se as conexões entre o Estado e a sociedade, e, consequentemente, o aumento da oferta de serviços, da democracia e da cidadania. Essa participação conjunta permite a coordenação dos recursos e dos diversos atores sociais na busca por solução de problemas públicos (NETO, 2021). As políticas públicas são entendidas como as ações, metas e planos desenvolvidos e escolhidos pelos entes governamentais para a garantia do bem-estar e do interesse público (DIALLO, 2019). Na obra escrita por Neto (2021), são trazidos conceitos, elementos e modelos vinculados à análise e à gestão de políticas públicas, inclusive, sendo feita referência aos conflitos existentes entre os diversos atores sociais, quando da formação das políticas públicas. Na atualidade, a análise e a reflexão sobre o planejamento de políticas públicas pauta-se na busca da efetividade dos direitos sociais como o seu pilar, exigindo a observância aos princípios do empoderamento, das competências compartilhadas, da participação, da intersetorialidade e, consequentemente, na responsabilização e comprometimento dos envolvidos na seara pública, ligando-se à ideia estratégica de desenvolvimento humano e não apenas do mero crescimento econômico (CUSTÓDIO; SIILVA, 2015). A essencialidade desses serviços depende do grau de desenvolvimento do país e, principalmente, da pressão que a sociedade exerce sobre o Governo no tocante ao provimento dos serviços públicos (QUEIROZ, 2012). Modernamente, o serviço público seria toda atividade material ampliada definida pela lei ou Constituição incumbida ao setor público, para a oferta (direta ou indireta) de utilidades e comodidades a cada usuário (HIGA; CASTRO; OLIVEIRA, 2018). As teorias político-econômicas modernasdo Estado apresentam a redistribuição de renda, a estabilização macroeconômica e a regulação de mercados como os três tipos principais tipos de intervenção pública na economia. Contudo, segundo Majone (1999), O livro Gestão de políticas públicas: conceitos, aportes teóricos e modelos analí- ticos, de Paulo Nascimento Neto, está disponível na Biblioteca Virtual Pearson. Disponível em: https://bit.ly/3PZfMIg. Acesso em: 06 jul. 2021. BUSQUE POR MAIS O serviço público é estatal por natureza (AFONSO DA SILVA, 2005). Mas, com o tempo, o Estado passou a atuar em atividades próprias da iniciativa privada. Da mesma forma, as empresas particulares começaram a exercer atividades de caráter público. Essa evolução tornou incompatível na Europa a ideia de serviços exclusivamente públicos (HIGA; CAS- TRO; OLIVEIRA, 2018). FIQUE ATENTO 14 a importância relativa dessas funções varia de acordo com o país e o momento histórico considerados . Na contemporaneidade, a crise financeira e de gestão do Estado evidenciou a incapacidade estatal em conseguir viabilizar o atendimento às demandas sociais cada vez mais complexas e diversas, o que exibiu uma gama de transformações na administração pública, objetivando à estabilidade financeira e à eficiência na prestação dos serviços públicos (MOURA, 2010). Em relação ao Brasil, no tocante à função reguladora, quanto aos serviços públicos, a transferência das funções para as agências reguladoras não é nova (remonta às décadas de 1930). Mas, o novo modelo do Estado regulador surgiu no final da década de 1970, e inclui a privatização, a liberalização, a reforma dos esquemas de bem-estar e a desregulação (MAJONE, 1999). Não há óbices à existência de agências para regulação de atividades puramente privadas. Ademais, o artigo 174 da CF/1988 previu a função reguladora para as atividades econômicas propriamente ditas (BARROSO, 2002). A privatização dos serviços públicos é normalmente seguida de regulação de preços e pela regulação social (meio-ambiente, saúde, segurança e proteção ao consumidor). Por outro lado, a desregulação também pode significar regulação menos rígida ou restritiva, atendendo aos anseios liberais (MAJONE, 1999). Na pós-modernidade do século XX, o Estado brasileiro perdeu o protagonismo como instrumento do progresso e da transformação. Contudo, nesse contexto, o Brasil efetivamente não conseguiu ser nem liberal nem moderno (BARROSO, 2002). Considerando-se o aumento de conscientização e de participação social na definição e implantação das ações governamentais, é exigido do setor público uma constante evolução em sua forma de gestão, que em sua história experimentou, no Brasil e em outros países, os modelos de gestão Patrimonialista, o Burocrático e o Gerencial (ANTUNES DA SILVA, 2017). Em função das transformações políticas, sociais e econômicas, o Estado passou em seu desenvolvimento por diferentes e longos processos, sendo observadas configurações diversas para a sua caracterização. Em cada tipo de Estado identificam-se as três formas principais de Administração Pública, quais sejam: a patrimonialista, a burocrática e a gerencial. Na Administração Pública Patrimonialista, característico do Estado Absolutista da Idade Média (476 d.C-1453), o patrimônio do Estado confunde-se com o do gestor, facilitando a corrupção e o nepotismo (CHIAVENATO, 2012; MATIAS-PEREIRA, 2009). Em contraposição ao patrimonialismo, na segunda metade do século XIX, no Estado Liberal, a partir das ideias do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), surge a Administração Pública Burocrática. Na gestão burocrática, o controle atua a priori, sendo ela capaz de garantir a previsibilidade e a padronização, necessárias para o alcance da eficiência (CHIAVENATO, 2012; ANDRADE; AMBONI, 2007). O poder racional-legal é centralizador e autoritário, impondo a profissionalização, a carreira pública, o técnico, a hierarquia funcional, a impessoalidade e o formalismo (MATIAS-PEREIRA, 2009). Com o esgotamento da administração burocrática, no final do século XX, a 1.3 GESTÃO DAS ENTIDADES PÚBLICAS 15 Administração Pública Gerencial (ou Gestão Pública) passou a ser defendida como a nova forma de administrar o Estado, servindo de orientação para o Estado Social Liberal Republicano. A Gestão Pública, passa a adotar a eficácia e a eficiência para uma boa gestão (BRESSER-PEREIRA, 2001), e, embora transfira para o setor privado algumas atividades, orienta-se para o cidadão e pauta-se nos princípios da descentralização, na horizontalização, na flexibilidade, na inovação e na confiança (MATIAS-PEREIRA, 2009). No Brasil, o processo de gestão pública apresenta resquícios de cada modelo implantado, do patrimonial ao de governança, passando pelo burocrático e pelo gerencial. A gestão pública pátria caminha para atingir os princípios da boa governança, tida como um instrumento gerencial a ser utilizado pelos gestores, pois facilita, além do combate a atos de corrupção e de improbidade, uma melhor definição da agenda pública, que mais atenta às necessidades da sociedade, evita prejuízos e déficits públicos. A governança corporativa promove condutas e políticas públicas necessárias para que a boa gestão seja alcançada, visto serem pautada em princípios como: transparência, informação, responsabilidade, probidade, ética, equidade, accountability (prestar contas) e eficiência, (SOUZA; FARIA, 2017). No Brasil Colonial (1530-1822), a função administrativa era patrimonialista, a gestão centralizada e o Estado absolutista (COSTA, 2008). No período do Império (1822- 1889), por influência do direito francês foram adotados os princípios do Estado Liberal, mas, a administração continuava patrimonialista (FERTIG, 2001). No primeiro período da República, foram implantados o federalismo e o presidencialismo, mas não foram alteradas significativamente as estruturas socioeconômicas do Império (COSTA, 2008). No início do século XX, o Estado continuava a ser oligárquico, baseado na agricultura e na administração patrimonial. Com o governo provisório da Segunda República (1930-1934) abandona-se o liberalismo e emerge a administração burocrática que surge com a aceleração da industrialização. O Estado atuando como o investidor na produção de bens e serviços, se prepara para a sua primeira grande reforma ocorrida no ano de 1936 (CHIAVENATO, 2012). Nesta primeira reforma foram estabelecidos um serviço público profissional e os princípios da administração pública burocrática (SLOMSKI et al., 2008). Foram criadas as carreiras burocráticas e o concurso público como forma de acesso ao serviço público (MATIAS- PEREIRA, 2009), sendo implantado o modelo clássico ou racional-legal na Administração Pública (CHIAVENATO, 2012). A Quarta República (1946-1964) apresenta a Segunda Reforma da Administração Pública. Esta segunda reforma, de caráter evolucionário, foi promovida através do Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967 (SLOMSKI et al., 2008), mas, não conseguiu promover alterações significativas na administração burocrática instalada. A Terceira Reforma da Administração Pública incorporada na Constituição de 1988, foi a contrarreforma, que buscou restabelecer as regras burocráticas rígidas. A reforma administrativa de cunho gerencial corresponde à Quarta Reforma da Administração Pública, tendo se iniciado no ano de 1990 e ganhado atenção a partir de 1995 (RIBEIRO; PEREIRA; BENEDICTO, 2013). A disciplina fiscal surge como novidade a partir da Lei Complementar nº 101 (LRF), de 04 de maio de 2000 (SLOMSKI et al., 2008) e houve estatização e consolidação na União de todos os gastos públicos dos demais 16 entes (MATIAS-PERERIA, 2009). No início do século XXI, o Brasil, inserido na economia capitalista globalizada, torna- se um Estado democrático, entre burocrático e gerencial (BRESSER-PEREIRA, 2001a). O Estado deixar de ser o principal responsável pelo desenvolvimento econômico-social, passando a assumir as funções de regulação(RIBEIRO; PEREIRA; BENEDICTO, 2013). Na Administração Pública Gerencial, a eficiência na prestação de serviços é buscada e o núcleo estratégico, com base na efetividade, objetiva obedecer e implementar com segurança as decisões a serem tomadas. Assim, é oportuno que elementos da gestão burocrática sejam utilizados conjuntamente com os da gestão gerencial (CHIAVENATO, 2012). Na Gestão Pública observam-se alguns requisitos (eficiência, eficácia, efetividade, excelência, autonomia, liberdade, eficiência e independência), necessários para que as estratégias permitam superar o modelo tradicional da Administração Pública (PESSOA et al., 2016). A busca da eficiência no setor público não é algo novo, visto que o Decreto-lei nº 579, de 1938 já a previa (BRESSER-PEREIRA, 1997). A Reforma Gerencial, insere-se no modelo gerencial ou da Nova Gestão Pública (New Public Management) buscando garantir o caráter democrático da Administração Pública que se volta para a satisfação cidadão usuário ou cidadão-cliente (BRESSER- PEREIRA, 2005). A New Public Management (NPM) surgiu a partir da ocupação pela sociedade de espaços antes tomados pelo Estado na gestão do interesse público (PAULA, 2007). O processo de desenvolvimento, implementação, gestão e avaliação de políticas públicas atrela-se à evolução da Administração Pública e da sociedade. A revolução tecnológica propicia canais de participação popular, facilitando o diálogo e a atuação mais efetiva dos diversos atores sociais . Nesse cenário, a governança deve assegurar a eficiência e a democratização das políticas públicas. E a governança gerencial deve garantir flexibilidade e autonomia, para que convirjam o interesse individual e o social (BENTO, 2002). O Estado eficiente utiliza as instituições e as estratégias gerenciais para melhor enfrentar as falhas de mercado (COSTA, 2010). Para Bresser-Pereira (2005), este novo Estado seria Social-Liberal e cuida do desenvolvimento econômico e da proteção dos direitos sociais. A administração gerencial se baseia na delegação de autoridade, na autonomia e no controle a posteriori, priorizando o interesse público (BRESSER-PEREIRA, 2005). O exercício da cidadania ao fazer um contraponto ao poder burocrático, permite através de controle efetivo que a democratização da administração pública ocorra. A Governança Corporativa pública no Brasil tem se transformado e assim como em A substituição da Administração Pública tradicional brasileira por novos modelos de ges- tão pode permitir um aperfeiçoamento dos resultados governamentais. Como a coordenação de ações e a participação incentivada podem ajudar os gestores públicos a ofertar melhores serviços para a população? VAMOS PENSAR? 17 outros países é um conceito e práticas em construção, pautado na cooperação e na busca de objetivos comuns do conceito de gestão social (ALCÂNTARA; PEREIRA; FERREIRA SILVA, 2015). A desestatização e a democratização promovidas permitiram que fosse utilizada uma rede de governança que apresenta o novo papel do Estado como sendo de catalisador, articulador, regulador e facilitador do mercado e da sociedade civil (PECI; PIERANT; RODRIGUES, 2008). Todos os cidadãos e demais atores sociais interessam-se que os resultados da gestão pública sejam os melhores, situação que exige uma participação efetiva e maior nas instâncias de tomada de decisão governamental. 18 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (CESP – Adaptada). Assinale o item correto que versa sobre a reforma e revitalização do Estado. a) A reforma do Estado restringe-se ao ajuste fiscal. b) Visando-se ao fortalecimento da regulação coordenada pelo Estado, não é importante reforçar as estruturas de governança existentes. c) Um aspecto importante para dar seguimento à reforma do Estado é a existência de governabilidade. d) Atualmente, o modelo vivenciado pelo Estado brasileiro é o da administração pública patrimonialista. e) Na gestão burocrática, o aparelho do Estado é uma extensão do poder do soberano. 2. (CESP – Adaptada). Desde o governo de Getúlio Vargas, diversas modificações ocorreram nas dimensões estruturais e culturais da máquina administrativa brasileira. Acerca dessas modificações e da administração pública brasileira, assinale a opção incorreta. a) A implantação da administração pública burocrática é uma consequência da emergência de um capitalismo moderno no Brasil à época. b) A administração pública burocrática se instalou no Brasil visando acabar com o patrimonialismo vigente. c) A ações rumo a uma administração pública gerencial foram aceleradas com a transição democrática de 1985 e consolidadas com a promulgação da Constituição federal de 1988. d) O Decreto-lei nº 200/1967 surgiu no bojo de uma reforma que tentou aprimorar o modelo burocrático vigente na administração pública. e) A criação das primeiras carreiras burocráticas fez parte do processo de racionalização da administração pública. 3. (PCI Concursos – Adaptada). No novo modelo de administração pública, surge a governança responsiva defendida pela ONU, que se caracteriza pela relação de empoderamento entre os cidadãos e o Estado. (BRAGA, Lamartine Vieira et al. O papel do Governo Eletrônico no fortalecimento da governança do setor público. RSP, Brasília, v. 59, 1, p. 05-21, jan./mar. 2008). 19 Assinale a alternativa correta em relação ao conceito de administração: a) Campo de estudo em que se analisa o funcionamento das organizações, mas não se buscam formas de melhorar o seu desempenho. b) Ação de alocar recursos, orientar e supervisionar pessoa com objetivo de alcançar um fim ou fins que não garantam a sobrevivência de uma organização. c) Local nas organizações onde não se tomam previdências administrativas. d) Designação que pode ser dada aos dirigentes de uma organização. e) É uma ciência que não faz parte do campo de estudo das ciências sociais aplicadas. 4. O Estado é uma autoridade soberana que além de manter as regras sociais é o responsável pela definição da política econômica. Considerando-se essa afirmação, assinale a opção correta. a) Ao exercer a função alocativa o Estado tem plena liberdade para atuar diretamente, como empresário, no domínio econômico. b) A função estabilizadora corresponde a uma distribuição mais justa da renda. c) A função distributiva preocupa-se com a garantia do baixo desemprego. d) Na prestação de serviços públicos, o regime jurídico que prepondera é o de direito privado. e) No planejamento das políticas públicas, o Governo deve tratar o cidadão como um cliente e não apenas como pagador de impostos. 5. (CESP – Adaptada). As agências reguladoras são novas modalidades de organização para a Administração Pública e operam como autarquias. A partir de tal afirmação, assinale a alternativa correta em relação às agências reguladoras. a) Não dispõem de função normativa. b) Estão sujeitas à tutela ou controle administrativo exercido pelo ministério a que se achem vinculadas, nos limites estabelecidos em lei. c) Podem ser criadas por decreto. d) Podem ter suas decisões alteradas ou revisadas por autoridades da administração a que se subordinam. e) Integrante da Administração direta. 6. (CHIAVENATO). A Administração é uma ciência inexata que além de receber influências de diferentes ciências, lida com fenômenos complexos e referentes a um dado contexto (ANDRADE; Rui Otávio Bernardes de; AMBONI, Nério. Teoria geral da administração: das origens às perspectivas contemporâneas. São Paulo: M Books do Brasil, 2007). 20 A Constituição de 1988 responde pela introdução, no universo da administração pública brasileira, de estímulos à universalização do mérito e de novas modalidades de gestão na área social referidas principalmente à ideia de descentralização participativa. A ela também costuma-se associar, no entanto, a reiteração de uma clara tendência ao enrijecimento burocrático, vista por muitos analistas como responsável pelo alto custo e pela baixa qualidade da vida administrativa. Estreas opções a seguir, aponte a que contém alguns dos elementos capazes de expressar essa tendência ao enrijecimento burocrático. (CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública. 3. ed. São Paulo: Manole, 2012). a) Transferência maciça de atribuições e recurso a estados e municípios, organização e carreiras rígidas e adoção de modelos gerenciais típicos da administração de empresas. b) Privilegiamento excessivo da Administração indireta em detrimento da Administração direta e generalização do ingresso por concurso público e fixação de tetos salariais. c) O regime jurídico único, a estabilidade e o fortalecimento dos mecanismos – subordinação dos entes descentralizados a regras de controle formal utilizadas na Administração central. d) A ênfase no planejamento central, obrigatoriedade da isonomia salarial e manutenção das aposentadorias especiais. e) Fortalecimento das empresas estatais, autarquias federais, plano de cargos e salários centralizado e estímulo à implementação de organizações sociais coordenadas pelo poder central. 7. (ESAF - Adaptada). Os instrumentos gerenciais contemporâneos são baseados na avaliação e desempenho e resultados; e na flexibilidade organizacional. A seguir são apresentadas algumas características básicas deste novo tipo de gestão. Assinale a opção que identifica a descentralização. a) Utilização dos recursos. b) Alcance de resultados. c) Delegação de autoridade. d) Escala de prioridades. e) Abordagem sistêmica. 8. (CESP - Adaptada). O Decreto-lei nº 200/1967 estabeleceu a classificação da Administração Pública como sendo direta ou centralizada e indireta ou descentralizada e essa estrutura está prevista no artigo 37 da atual Constituição Federal (texto de elaboração própria). Acerca da organização administrativa, assinale a opção correta. a) Do ponto de vista orgânico, a administração pública compreende as diversas unidades administrativas que visam cumprir os fins do Estado. b) Na descentralização há distribuição de competências materiais entre unidades 21 administrativas sem personalidade jurídica. c) A autorização legislativa do chefe do Poder Executivo é necessária para a criação de determinado órgão. d) Os órgãos possuem personalidade jurídica própria e capacidade processual. e) A desconcentração ocorre quando uma entidade federativa cria uma autarquia. 22 CONTROLADORIA 23 Segundo Lopes de Sá (1994), o conhecimento contábil nasce com a civilização a partir da percepção humana de que o que havia conseguido acumular não precisaria mais ser buscado na natureza. A intuição humana para a contabilidade surgiria empiricamente pelos registros patrimoniais. Apesar de o homem se utilizar de indícios e sinais para descobrir ou aumentar o seu conhecimento desde os primórdios da sua história, o acaso sempre imperou em suas observações (NEVES, 2003). O desenvolvimento da vida em sociedade aliado à complexidade de fatos relacionados ao patrimônio demandaram novas formas de trabalhar, favorecendo o desenvolvimento de técnicas de controle e de registro. Os números surgiram há cerca de 30.000 anos como uma necessidade de contar, de controlar os bens de uso diário, produtos da caça, da pesca e da criação doméstica, substituindo a utilização de pedras, ossos, riscos em madeiras, utilizados como instrumentos de controle (SENADO, 2018). A noção de conta e de contabilidade é tão antiga quanto a origem do Homo sapiens, tendo o homem primitivo utilizado métodos para inventariar o produto da caça e pesca, embora os primeiros sinais objetivos que atestem a existência de contas datem de cerca de 4 mil a.C. (IUDÍCIBUS, 1995). A necessidade de se registrar eventos e situações do cotidiano relacionam-se tanto às inscrições rupestres, quanto à criação da escrita cuneiforme em placas de barro (Mesopotâmia, a cerca de 4.000 a.C.), ou a escrita demótica e a hieroglífica dos egípcios (SENADO, 2018). Com o tempo, o acaso é substituído por procedimentos rigorosos e sistematizados para a coleta, armazenamento, processamento, análise e inferência dos dados, tendo os indicadores sido utilizados para processos de gestão que se associam ao desenvolvimento contábil, através de sistemas de informações e de controle de atividades (NEVES, 2003). Através da aritmética, apresentada por Leonardo Pisano, “o Fibonacci”, em 1202, no livro do Ábaco (Liber Abaci), introduziu-se no Ocidente, o sistema numérico indo-arábico de zero a nove, que já era conhecido a cerca de seis séculos pelo Oriente, permitindo que a contabilidade moderna se desenvolvesse. Esse sistema embora tenha sido considerado herético e banido de Florença pela Igreja, posteriormente, substituiu os sistemas hebraico, grego e romano, que usavam letras para contar e calcular (SLOMSKI, 2011). 2.1 SURGIMENTO E CONCEITO DE CONTROLADORIA Figura 2: Alguns pensadores Fonte: Elaborado pelo autor (2022) O surgimento do método veneziano de partidas dobradas, descrito por Luca Pacioli no livro Summa de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalità, em 1494, 24 O livro Controladoria e governança na gestão pública, de Walmor Slomski, está disponível na Biblioteca Virtual Minha Biblioteca Única. Disponível em: https:// bit.ly/3KwNjbG. Acesso em: 15 jul. 2021. BUSQUE POR MAIS descreve que cada transação é associada tanto a um débito quanto a um crédito. Tal sistemática permitiu um grande avanço na contabilidade e no papel da auditoria, sendo a base da contabilidade moderna (ENAP, 2020). Porém, o primeiro registro de um sistema completo de escrituração por partidas dobradas é encontrado nos arquivos municipais da cidade de Gênova, Itália, cobrindo o ano de 1340 (SLOMSKI, 2011). Os aspectos históricos da contabilidade relacionados ao desenvolvimento da humanidade podem ser mais bem compreendidos no livro Controladoria e governança na gestão pública, deste mesmo autor. O método veneziano foi difundido, surgindo na Europa, no Século XIX, a escola italiana (aziendalismo), permitindo um avanço teórico em relação às necessidades e complexidades das sociedades (IUDÍCIBUS, 1995). Mas, os italianos tiveram uma preocupação demasiada em apresentar a contabilidade como ciência e havia excesso de utilização das partidas dobradas que impedia a versatilidade necessária para outras aplicações práticas (FONTOURA; SOUZA; LONDER, 2020; IUDÍCIBUS, 1995). O método contábil desenvolveu-se intimamente associado ao surgimento do Capitalismo e objetivou quantificar os investimentos iniciais alocados na exploração comercial ou industrial, permitindo o aperfeiçoamento das partidas dobradas (FEA/USP, 1993). Com a ascensão econômica norte-americana a partir de 1920 e o surgimento das grandes corporações, bem como no avanço das instituições econômicas e sociais houve um amadurecimento das teorias e práticas contábeis, surgindo a escola anglo-saxônica (IUDÍCIBUS, 1995). A escola contábil norte-americana tornou-se bastante relevante e influente, pois se preocupava com custos, controladoria, análise das demonstrações, e, posteriormente, com a contabilidade gerencial e a contabilidade financeira (FONTOURA; SOUZA; LONDER, 2020). Enfatiza-se o processo de comunicação da informação econômica (PADOVEZE, 2010). Diferentemente da escola italiana, a escola americana demonstrou a utilidade prática da contabilidade para a gestão. A escola italiana defende a ideia do controle econômico do patrimônio e suas variações, sendo mais teórica (PADOVEZE, 2010). Por outro lado, a escola americana, objetivando ser mais prática, preocupou-se com o usuário das informações contábeis, embora, no início, desse pouca importância à sistematização dos planos de contas (IUDÍCIBUS, 1995). FIQUE ATENTO 25 No Brasil, o desenvolvimento da contabilidade contou com a iniciativa do Governo, que sofreu grande influência da escola italiana. Em 1902 foi fundada a Escola de Comércio Álvares Penteado, voltada para o ensino da contabilidade. Em 1946, foi fundada a Faculdade de Ciências Econômicase Administrativas da USP e iniciado o curso de Ciências Contábeis e Atuariais, inaugurando-se o primeiro núcleo de pesquisa nos moldes norte-americanos. A demanda cada vez mais especializada dos usuários da informação permitiu na modernidade a evolução da contabilidade (CARVALHO; CECCATO, 2011), surgindo a contabilidade comercial e, consequentemente, a profissão de contabilista, regulamentada pelo Decreto-lei nº 9.295 de 27 de maio de 1946 Mas, principalmente a partir da Resolução nº 220 e da Circular nº 179 do Banco Central, de 1972, que passou a ser adotada a filosofia norte-americana, (IUDÍCIBUS, 1995), influência consolidada com a Lei nº 6.404, de 1976. Com a globalização e o crescente dinamismo do mercado acirrou-se a competição entre as organizações e a necessidade da ação de práticas de gestão mais modernas. Nesse cenário, ganha importância a controladoria, que sendo uma disciplina nova, no Brasil, apresenta uma diversidade de conceitos (GIBOSKY; BATISTA; SOUZA, 2021). Característica do século XX, a controladoria surge nas organizações para garantir o aprimoramento da gestão na década de 60 e, aos poucos, passou a ampliar o seu escopo (ASSIS; SILVA; CATAPAN, 2016). Não obstante a controladoria fazer uso da contabilidade, com esta não se confunde, visto ser a controladoria multidisciplinar. Conforme Gouveia (1993), a contabilidade é um sistema bem idealizado que registra as transações e o seus reflexos na situação econômico-financeira de uma empresa, expressos em termos monetários, em uma determinada data. Para a FEA-USP (2021, on-line), a contabilidade é a ciência que estuda, interpreta, registra e analisa os fenômenos (fatos) que afetam o patrimônio (e sua variação) de uma entidade, permitindo que os controles e a gestão sejam assegurados e que as informações necessárias sejam disponibilizadas. Ao apresentar um conceito mais amplo, Santos (2014) informa que a contabilidade é a ciência que estuda tanto o patrimônio das pessoas quanto das organizações, tendo por objetivo registrar, informar, analisar e interpretar ocorrências no patrimônio de um indivíduo ou de uma organização. Nos conceitos acima percebe-se que a contabilidade deve se atentar para os fatos e variações relacionados ao patrimônio, considerando-se os aspectos quantitativos e qualitativos. O livro Contabilidade, organizado por Antônio Sebastião dos Santos, está dispo- nível na Biblioteca Virtual Pearson. Disponível em: https://bit.ly/3AYuviJ. Acesso em: 17 jul. 2021. BUSQUE POR MAIS 26 A controladoria, por sua vez, busca pelo atingimento do ótimo na entidade (pública ou privada), sendo o “algo mais”, procurado pelos elementos componentes da máquina empresarial (SLOMSKI, 2011). Sofrendo influência de fatores internos e externos à organização, conceitualmente, a controladoria pode ser entendida como o conjunto de doutrinas e conhecimentos de gestão econômica, podendo ser um departamento ou órgão administrativo que interage de forma ampla com a contabilidade (ANJOS, 2020). Tendo como objeto as organizações, em sua obra intitulada Controladoria, Edenise dos Anjos apresenta a controladoria como área como área do conhecimento e órgão administrativo. Sabendo-se que a continuidade de uma empresa é dependente da existência de uma controladoria que seja ao mesmo tempo ágil e eficiente, esta deve se respaldar em um robusto Sistema de Informações Gerenciais (SIG. Ao ser implementada como um órgão administrativo, a controladoria engloba áreas diversas, sendo, portanto, necessário contar com o apoio da alta gestão da organização. A missão e o objetivo da controladoria são, respectivamente, assegurar o acesso ao SIG e mantê-lo adequado e em funcionamento. O SIG permite a análise de desempenho e o reporte de informações a toda a empresa, possibilitando a escolha e a execução das melhores ações e, consequentemente, avaliar se os resultados obtidos correspondem ao planejado, oportunizando-se a correção de desvios (LUZ, 2014). No âmbito público, embora seja uma atividade recente, os órgãos de controladoria destacam-se como importantes propulsores do aprimoramento da gestão governamental, mesmo porque, a sociedade exige uma administração cada dia mais correta, resolutiva, transparente e que seja provedora de serviços públicos efetivos (ASSIS; SILVA; CATAPAN, 2016). Na esfera federal, Controladoria Geral da União (CGU) surgiu somente em 2003. A partir de influências internacionais, o Brasil desenvolveu a sua política de Prevenção e Combate à Corrupção, criando instituições e mecanismos voltados para tornar efetiva tal política. Nesse contexto, foi criada a CGU em 2003, a partir da medida provisória nº 103/2003. A CGU por ser o órgão responsável pelo controle interno do Governo Federal realiza atividades relacionadas à defesa do patrimônio público e da transparência, por meio de ações de auditoria pública, correição, prevenção, ouvidoria, e, mais recentemente, combate à corrupção. Exerce ainda, na qualidade de Órgão Central, a supervisão técnica e dá orientações normativas aos órgãos que compõem o Sistema de Controle Interno e 2.2 CONTROLADORIA NA GESTÃO PÚBLICA O livro Controladoria, de Edenise Aparecida dos Anjos, está disponível na Biblio- teca Virtual Pearson. Disponível em: https://bit.ly/3Q11ZRH. Acesso em: 17 jul. 2021. BUSQUE POR MAIS 27 o Sistema de Correição e das unidades de ouvidoria do Poder Executivo Federal. As atividades que antes eram executadas por órgãos distintos, de forma descentralizada, não garantia a devida eficiência do controle interno, razão pela qual a CGU foi elevada ao status de ministério, facilitando, inclusive, a interlocução e atuação conjunta com outros órgãos, reduzindo-se a assimetria informacional. Com esse novo desenho, foram criados instrumentos de fiscalização e parcerias entre a CGU, Polícia Federal e Ministério Público objetivando o combate à corrupção em outros entes, principalmente, nos municípios. Alguns entes federados acabam, respeitadas as suas particularidades e necessidades, espelhando-se na estrutura desenhada pelo Governo Federal. A Controladoria é composta por 5 secretarias finalísticas: Secretaria de Transparência e Prevenção da Corrupção (STPC); Secretaria Federal de Controle Interno (SFC); Corregedoria-Geral da União (CRG); Ouvidoria-Geral da União (OGU); e, Secretaria de Combate à Corrupção (SCC). SECRETARIA PRINCIPAIS FUNÇÕES Secretaria de Transparência e Prevenção da Corrupção Prevenção da corrupção na administração pública e na sua rela- ção com o setor privado: promoção da transparência, do acesso à informação, do controle social, da conduta ética e da integridade nas instituições públicas e privadas. Secretaria Federal de Controle Interno Órgão central do sistema de controle interno: fiscalização e avalia- ção da execução de programas de governo, auditorias e avaliação dos resultados da gestão, apuração de denúncias e representa- ções; controle das operações de crédito; e atividades de apoio ao controle externo. Corregedoria-Geral da União Combate à impunidade na Administração Pública Federal: coor- denação e acompanhamento da execução de ações disciplinares que visem à apuração de responsabilidade administrativa de servi- dores públicos. Ouvidoria-Geral da União Supervisão técnica das unidades de ouvidoria do Poder Executivo Federal: orienta a atuação das unidades de ouvidoria dos órgãos e entidades do Poder Executivo Federal; examina manifestações referentes à prestação de serviços públicos; propõe a adoção de medidas para a correção e a prevenção de falhas e omissões dos responsáveis pela inadequada prestação do serviço público; e con- tribui com a disseminação das formas de participação popular no acompanhamento e fiscalização da prestação dos serviços públi- cos. Secretaria de Combate à Corrupção Propor ao Ministro de Estado a normatização, a sistematização e a padronização dos procedimentos das atividades relacionadasa acordos de leniência, inteligência e operações especiais; supervi- sionar, coordenar e orientar a atuação das unidades da Controla- doria-Geral da União nas negociações dos acordos de leniência; desenvolver e executar atividades de inteligência e de produção de informações estratégicas, inclusive por meio de investigações; e coordenar as atividades que exijam ações integradas da Controla- doria-Geral da União em conjunto com outros órgãos e entidades de combate à corrupção, nacionais ou internacionais. Quadro 1: Principais Funções Fonte: Elaboração própria (2021) adaptado de CGU 28 A Controladoria conta ainda com Unidades Descentralizadas, que são as Controladorias Regionais da União nos Estados. Cabe ainda à Diretoria de Transparência e Controle Social - DTC da CGU apoiar e orientar os demais entes federados (Estados, Distrito Federal e Municípios) para que sejam implementadas “políticas e programas de prevenção da corrupção, de promoção da transparência, do acesso à informação, da conduta ética, da integridade, dos princípios de governo aberto e do controle social”. Percebe-se, portanto, a grande importância que a CGU tem para a sociedade, uma vez que em sua atuação, além do combate à corrupção, tal órgão preocupa-se em desenvolver atividades que garantam o bom funcionamento dos controles internos federais, permitindo que a gestão atinja os seus objetivos a partir do bom uso dos recursos públicos, em atendimento aos princípios da economicidade, eficiência e eficácia. Apesar de terem objetivos diferentes, as organizações públicas e privadas adotam princípios de governança corporativa objetivando que a boa governança seja alcançada. A expressão governança refere-se ao processo de distribuição de poder nas organizações (públicas ou privadas), enquanto a governança corporativa (GC) implica na boa gestão das empresas, sendo considerados os diversos interessados (todos os stakeholders), a proteção aos acionistas minoritários, bem como o incentivo a uma gestão responsável e transparente. A governança corporativa corresponde ao sistema de gestão e monitoramento das sociedades, em que estariam envolvidos os relacionamentos entre diversos interessados, objetivando o aumento do valor da sociedade, o acesso facilitado a fontes de financiamento e a sobrevivência da organização (IBGC, 2015). A governança pública é o sistema composto pelos mecanismos institucionais utilizados para que as políticas públicas sejam bem definidas e que os resultados desejados por todos sejam alcançados (IBGP, 2014, on-line). A importância da controladoria para o setor público repousa no fato de que é possível ser alinhado o fluxo de informações necessárias para que os objetivos traçados sejam alcançados, garantindo-se a boa governança a partir da observância aos princípios da transparência, da accountability (prestação de contas) e da responsabilidade fiscal que também alicerçam a controladoria (ASSIS; SILVA; CATAPAN, 2016). A accountability refere-se ao processo de responsabilização das entidades públicas e dos indivíduos que delas fazem parte, por suas decisões, ações e desempenho. E, em virtude dessa responsabilidade conferida, se submetem a revisão externa (IFAC, 2001). Na transparência, deve ser cultivado o desejo de informar e a comunicação corporativa não pode se restringir à mera divulgação do desempenho econômico- financeiro (IBGC, 2015). As informações relevantes precisam ser divulgadas de forma atempada, transparente e objetiva (G20; OCDE, 2015). Assim como no setor privado, a controladoria governamental, sob a gestão do controller, deve se preocupar em gerir o banco de dados global do ente público, que deve contar com um SIG estruturado e capaz de dar resposta imediata sobre as informações como as financeiras, econômicas, patrimoniais do ente considerado (SLOMSKI, 2011). A controladoria facilita o planejamento, a definição, a execução e a avaliação das políticas públicas, dando maior efetividade ao uso dos recursos orçamentários, com o consequente atendimento às necessidades da sociedade. A controladoria na área pública apesar de ser algo novo tem como grande desafio potencializar a aplicação dos recursos colocados à disposição dos gestores, o que exige 29 um rigoroso processo de planejamento, execução orçamentária e controle das contas públicas (ASSIS; SILVA; CATAPAN, 2016), tornando a aplicação das receitas mais eficiente e eficaz, com produção de melhores serviços que atendam na integralidade as demandas da sociedade (COSTA et al., 2019). As entidades públicas sofrem externalidades (positivas e negativas), assim, a existência de um órgão que consiga fazer a “concertação” (permitir que as ações funcionem em perfeita sintonia), proporciona que todos trabalhem em prol de um mesmo objetivo, o que exige do ente público se conhecer internamente, bem como saber quais são as necessidades dos cidadãos e como melhor atendê-las. Assim, cabe ao controller buscar o melhor resultados possível, gerando valor para a sociedade. 2.3 NATUREZA, FUNÇÃO E ATRIBUIÇÕES DA CONTROLADORIA PÚBLICA Embora tenham relação bem próxima, a Controladoria não é uma evolução da Contabilidade, pois aquela tem natureza multidisciplinar utilizando diversas disciplinas como fontes (ROCHA, 2018). Além disso, a natureza e a extensão das responsabilidades da controladoria atrelam-se a algumas variáveis como o porte da empresa, o ambiente em que operam, o estilo de gestão, a estrutura organizacional (BORINELLI, 2006). A controladoria pode ser encontrada nas organizações tanto como um órgão de linha (autoridade) ou como staff (assessoria) e ao estar mais próxima do topo da cadeia hierárquica da entidade pode ser considerada controladoria estratégica. Contudo, ligando-se aos níveis de gestão intermediários (diretorias e gerências), será considerada controladoria tática (devendo responder diretamente à controladoria geral). Mas, se estiver ligada aos níveos níveis hierárquicos mais baixo, será controladoria operacional (ROCHA, 2018). Inegavelmente, a controladoria desempenha um importante papel no dia a dia das organizações, auxiliando na elaboração e definição das estratégias e dos objetivos, exercendo algumas funções necessárias para o bom funcionamento da organização, seja ela pública ou privada (SUZART; MARCELINO; ROCHA, 2011). Por ser um campo de estudo em construção, a base teórica da controladoria não está consolidada, portanto, não há consenso entre os pesquisadores quanto ao objeto de estudo da controladoria. Ademais, o objeto de estudo da controladoria encontra-se na natureza das próprias relações entre os variados níveis de executivos sobre os quais o controller exerce influência e contribui para que ocorra a efetividade gerencial (VATTER, 1950 citado por BORINELLI, 2006) . Consequentemente, o significado de controladoria ancora-se na natureza dessas contribuições, embora o modelo pretendido segundo assinalado por Regel possa atender à oferta de informações para o usuário interno (operacional e estratégica) ou externo (BORINELLI, 2006). Porém, os objetivos empresariais são o ponto central sobre o qual a controladoria deve atuar, oportunizando-se a criação de valor para a organização (PADOVEZE, 2010). No setor público, a controladoria exerce papel importante no processo decisório. Além de permitir que os recursos públicos (humanos, financeiros e físicos) sejam bem geridos (SLOMSKI, 2011), auxilia no desenvolvimento de mecanismos para acompanhamento das atividades e dos programas governamentais, bem como facilita a avaliação dos resultados alcançados (SUZART; MARCELINO; ROCHA, 2011). 30 Defende-se na teoria uma postura mais proativa e mais forte (no campo do planejamento e coordenação) por parte dos controllers. Porém, na prática, as empresas esperam desses profissionais uma postura mais informativa (reativa), com preponderância dos controles internos e a elaboração de relatórios. Que possíveis explicações podem ser apontadas para essasituação? VAMOS PENSAR? O controller em suas ações pode auxiliar o gestor público na definição e escolha das melhores estratégias, permitindo que haja uma boa gestão dos parcos recursos públicos, através da elaboração de um planejamento e de uma peça orçamentário que consiga agregar as diversas demandas sociais, balanceando as receitas com as despesas de sorte a permitir uma administração responsiva e que ofereça serviços que gerem valor para a sociedade. No tocante às funções da controladoria, da mesma forma, na literatura não há consenso em relação àquelas que precisam ser desempenhadas pelo controller. Embora possa se admitir existirem funções típicas ou comuns da controladoria, há uma diversidade de conceitos apresentados pela literatura sobre quais seriam essas funções, que também são influenciadas pelas estruturas e pelos modelos de gestão das entidades (SUZART; MARCELINO; ROCHA, 2011). Algumas funções da controladoria são: liderança, gestão e planejamento estratégico, gestão tributária, análise das demonstrações financeiras, gestão de marketing, gestão do capital de giro e de investimentos (GIBOSKY; BATISTA; SOUZA, 2021). Não obstante terem constatado que o controle interno se sobressaia como a função principal por terem sido constituídas como órgão central do controle interno, Suzart, Marcelino e Rocha (2011) identificaram as seguintes funções comuns e respectivas atribuições nos órgãos de controladoria da Administração Pública (da União e de alguns Estados). Tais funções já haviam sido apontadas por Borelli (2006) como típicas da controladoria. a) Função contábil, que compreende as seguintes atividades: acompanhar e fiscalizar a gestão contábil, financeira e orçamentária; elaborar demonstrações contábeis; elaborar e manter atualizado o plano de contas do ente federado; e gerenciar a contabilidade do ente federado. b) Função Gerencial-estratégica, que agrega as atividades de: acompanhar e fiscalizar a gestão administrativa e operacional; avaliar os resultados de planos, de orçamentos e de programas públicos; e propor medidas para racionalizar o uso dos recursos públicos. c) Função Tributária, englobando as atividades relacionadas à supervisão da arrecadação e da despesa do ente federado. d) Função Proteção e controle dos ativos, cujas atividades são acompanhar e fiscalizar a gestão patrimonial. e) Função Controle Interno, responsável pelas atividades de: apoio aos órgãos de controle externo; planejamento, coordenação e execução das funções de controle interno, de corregedoria e de ouvidoria; e zelar pela observância dos princípios de administração pública. 31 f) Função Controle de riscos com as atividades de avaliar a execução dos contratos de gestão; e prevenir e combater a corrupção. g) Função Gestão da Informação, que se encarrega de implantar e gerenciar os sistemas de informações, preocupando-se com os dados e as informações estratégicas (BORINELLI, 2006). A controladoria por ser a gestora dos recursos da empresa é responsável pelo SICG e através deste tem como missão assegurar o resultado da companhia, o que torna necessário que ela atue efetivamente em todo processo de gestão, para que, adequadamente, exerça a contento as funções de controle e feedback para que o planejamento seja corrigido. Adicionalmente, deve a controladoria preocupar-se com as funções de caráter regulatório (envolvem aspectos fiscais e societários), de planejamento (estratégico e operacional), programação, execução e controle, além de auxiliar demais atividades em processos específicos de gestão. Na organização, o controller desempenha diversas funções de orientação, controle e coordenação ligadas à investigação e levantamento de dados e informações, mas não são tomadores de decisão (ARRUDA, 2020). Nas atribuições da controladoria pública, as ações coordenadas e harmônicas de controle devem se relacionar às operações de diversas naturezas (contábil, orçamentária, financeira, operacional e patrimonial), objetivando permitir a avaliação da exatidão e regularidade das contas públicas, com observância aos princípios da economicidade, da eficiência, da eficácia e da legalidade da gestão. O Controller dever focar no resultado global da entidade para que a gestão do patrimônio público atenda melhor e com maior transparência aos interesses da sociedade (OLIVEIRA JÚNIOR; CHAVES JÚNIOR; LIMA, 2007). 32 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (CONSULPLAN - Adaptada). A Itália foi o país em que seus pensadores tiveram um papel importante no desenvolvimento da Contabilidade na Europa e, posteriormente, no mundo, pelo desenvolvimento das primeiras escolas da Contabilidade, elevando esta à categoria de ciência. A palavra azienda é comumente usada em Contabilidade como sinônimo de fazenda, na acepção de: a) Conjunto de bens e direitos. b) Mercadorias. c) Finanças públicas. d) Grande propriedade rural. e) Patrimônio, considerado juntamente com a pessoa que tem sobre ele poderes de administração e disponibilidade. 2. (CONSULPLAN - Adaptada). A classificação da Contabilidade como ciência se dá como Ciência Social Aplicada tendo o patrimônio como seu objeto de estudo. Sua cientificidade é embasada em teorias que compõem a sua sustentação, provenientes da economia, psicologia, dentre outras áreas do conhecimento. A finalidade da contabilidade é: a) Determinar o resultado das entidades. b) Atender a legislação comercial e fiscal, que exige das empresas a elaboração das chamadas demonstrações contábeis. c) Controlar o patrimônio das entidades, apurar o resultado e prestar informações sobre a situação patrimonial e o resultado das entidades aos usuários da informação contábil. d) Registrar os custos, as despesas, as receitas e apurar resultado da entidade. e) Estabelecer as relações de débito e de crédito do proprietário com os agentes consignatários e os agentes correspondentes. 3. (CONSULPLAN - Adaptada). A Controladoria tem uma missão e atribuições específicas que implicam um comportamento proativo e profundamente responsável e influenciador no desempenho do negócio. (PADOVEZE, Clóvis Luís. Controladoria avançada. 1. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010). Acerca do conceito e da missão de controladoria, assinale a INCORRETA. a) A Controladoria é um segmento da Contabilidade ou da Administração, podendo ser dividida em Controladoria Administrativa e Controladoria Contábil, mas, na prática profissional, ambas costumam ficar sob a égide de um único gestor, chamado de controller ou controlador. É uma área de staff, ou seja, de assessoria e consultoria. 33 b) É na gestão de situações estratégicas da organização que está a controladoria, cuja missão é otimizar o processo decisório garantindo informações adequadas aos gestores em busca de uma eficácia gerencial, assegurando a continuidade do negócio da empresa. c) Nos dias atuais é imprescindível para uma grande organização um serviço contínuo da controladoria, pois é o setor que detém todas as informações gerenciais da instituição. Planejando, organizando, controlando e dirigindo todos os risco e custos, de forma a maximizar o resultado para garantir o sucesso dela. d) A Controladoria presta contribuições importantes ao progresso organizacional, pois tem como missão a identificação dos culpados pelo insucesso da organização, das dificuldades existentes no ambiente operacional, dos responsáveis por roubos e desperdícios, além de efetuar a contratação e demissão de todos os funcionários/ servidores. e) A controladoria é uma atividade de controle e que no mundo empresarial, atua nas áreas de gestão de risco, recursos humanos, administrativa e de contabilidade, ou seja, no processo da organização como um todo. 4. (EXCELÊNCIA – Adaptada). Não obstante opinião diversa de alguns autores, a Contabilidade não se confunde com Controladoria (texto de elaboração própria). Sobre a Controladoria, leia as sentenças: I. Pode-se dizer que a Controladoria, tem a finalidade de garantir informações adequadasao processo decisório dos gestores, colaborando assim para a busca pela eficácia da empresa e de suas subdivisões, levando-se em conta o aspecto econômico. II. Controladoria pode ser conceituada como o conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos de diversas ciências e, principalmente, da Contabilidade, que se ocupam da gestão Econômica das empresas, com o fim de orientá-las para a eficiência. Desta forma, controladoria é um conjunto de conhecimentos que se constituem em bases teóricas e conceituais de ordem operacional, econômica, financeira e patrimonial, relativas ao controle do processo de gestão organizacional. III. Com o aumento da complexidade das organizações empresariais, acentua-se cada vez mais a importância da Controladoria como instrumento capaz de proporcionar os elementos necessários à administração correta dos vários departamentos da empresa. Um sistema de Controladoria tem a função de avaliar e controlar o desempenho dos diversos setores da organização. IV. Algumas das funções básicas da Controladoria são: a) planejamento: estabelecimento e manutenção de um plano operacional de curto e longo prazo, compatíveis com os objetivos globais; b) controle: desenvolvimento, teste e revisão por meios de padrões, medindo o desempenho real em confronto com os padrões; c) função de relatar: preparação, análise e interpretação financeira para uso da administração, preparação de relatórios para terceiros, conforme suas exigências; d) função contábil: contabilidade geral e de custos, instalação e custódia de todos os livros contábeis, os registros e formas requeridos para registrar as transações financeiras; g) outras funções relacionadas: supervisão e operações com impostos, auditoria independentes, seguros, desenvolvimento e manutenção de padrões, procedimentos 34 e sistemas, entre outras. Assinale a alternativa CORRETA: a) Somente as alternativas I, III e IV estão corretas. b) As alternativas I, II, III e IV estão corretas. c) Somente as alternativas I e II estão corretas. d) Nenhuma das alternativas. e) Somente a alternativa II e II estão corretas. 5. (ESAF - Adaptada). As organizações sejam elas públicas ou privadas operam em ambientes onde há grande concorrência e mudanças constantes, o que exige dos gestores alta capacidade adaptativa e atualização permanente (texto de elaboração própria). Acerca do conceito de controladoria, bem como de sua aplicabilidade ao setor público, é correto afirmar que: a) A implantação da controladoria no setor público não é diferente do setor privado, devendo as funções e atividades ser exercidas de forma semelhante. b) Por ser um mero ramo da Ciência Contábil, a função da controladoria limita-se ao registro de atos e fatos que causem efeitos econômicos e financeiros. c) Na administração pública, os conceitos de Controladoria e de Controle Interno são equivalentes. d) Apenas no setor público a transparência é um objetivo da controladoria, já que, no setor privado, a informação gerencial só interessa ao corpo executivo. e) Tanto no setor público quanto no privado, o principal objetivo da controladoria é prevenir a ocorrência de erros ou fraudes. 6. (ASO – Adaptada). O controller deve ser um profissional capaz de proporcionar informações tempestivas, completas e confiáveis na tomada de decisão (texto de elaboração própria). Sobre a origem da Controladoria, é incorreto afirmar que: a) Parte significativa dos autores apontam a Revolução Industrial, em meados do século XIX, como o período em que se verificou o nascimento e rápido crescimento da ciência. b) Surgiu da necessidade de concentração, num único controle central, dos dados e informações produzidos pelas corporações, que vinha de um processo forte de crescimento e expansão. c) A Controladoria é tida por muitos como a evolução da Contabilidade tradicional, suprindo deficiências que essa vinha apresentando diante das crescentes e diversificadas necessidades dos diversos usuários. d) A Controladoria veio para substituir a alta administração das empresas, na medida em que atua, num primeiro momento, produzindo a informação e, passo seguinte, executando o processo decisório. e) Os Estados Unidos são apontados como o país onde teriam sido presenciados os 35 primeiros sinais da existência da Controladoria nas empresas. 7. (ASO - Adaptada). O controller é o responsável, na organização, pela área de controladoria, quando ela existe. (BORINELLI, Márcio Luiz. Estrutura conceitual básica da controladoria: sistematização à luz da teoria e da práxis. Tese - USP, São Paulo, 2006). Sobre as funções da Controladoria, segundo Borinelli (2006), considere: I. Conceber modelos de informações e gerenciar as informações contábeis, patrimoniais de custos, gerenciais e estratégicas. II. Registrar, mensurar, controlar, analisar e avaliar os custos da organização. III. Estabelecimento e monitoramento do sistema de controle interno. IV. Atividades relativas ao desenvolvimento da contabilidade financeira: gerenciar atividades de contabilidade, realizar o processamento contábil etc. V. Identificar, mensurar, analisar, avaliar, divulgar e controlar os riscos envolvidos nos negócios. VI - Prover informações de natureza contábil, patrimonial, econômica, financeira e não financeira ao processo de gestão como um todo. A sequência que descreve corretamente as funções, segundo a ordem das características acima, é: a) Contábil, Gerencial-estratégica, Custos, Controle Interno, Controle de Riscos, Gestão da Informação. b) Gerencial-estratégica, Controle Interno, Gestão da Informação, Contábil, Controle de Riscos, Custos. c) Controle de Riscos, Gestão da Informação, Custos, Controle Interno, Contábil, Gerencial- estratégica. d) Custos, Gestão da Informação, Controle Interno, Controle de Riscos, Contábil, Gerencial Estratégica. e) Gestão da Informação, Custos, Controle Interno, Contábil, Controle de Riscos, Gerencial Estratégica. 8. (ASO). O conceito de Controladoria não é consenso entre os pesquisadores. No entanto, alguns termos e expressões estão presentes em quase todas as definições dadas pelos mais variados autores. São eles, EXCETO: a) Além da Ciência Contábil, a Controladoria se utiliza de conhecimentos, procedimentos e princípios ligados a outras áreas do conhecimento humano. b) Está situada no nível operacional da organização. c) Gera informações capazes de subsidiar os gestores da empresa na tomada de decisão. d) Pode ser compreendida sob duas vertentes: como ramo do conhecimento ou como órgão administrativo. e) Visa, em última instância, à otimização dos resultados da organização. 36 A CONTABILIDADE PÚBLICA E A CONTROLADORIA 37 No mercado global, todos devem prestar contas de suas operações e resultados para os diversos interessados (stakeholders), desejos de informações que sejam ao mesmo tempo tempestivas, eficientes, confiáveis e compreensíveis. Assim, tornou-se necessária a implementação de uma linguagem internacional e inteligível dos relatórios financeiros, tendo a contabilidade objetivado reduzir a assimetria de informações, nos moldes do IFRS - International Financial Reporting Standards, do IASB - International Accouting Standards Board (CAVALCAN-TE et al., 2012). As IFRSs foram inicialmente regulamentadas nos países da União Europeia em 21 de setembro de 2003 e seguem o modelo anglo-saxão (britânico), que privilegia os shareholders¸ a redução do custo de capital, a confiança nos mercados e o aumento dos recursos à disposição das empresas, almejando-se que a contabilidade consiga expressar fielmente os valores componentes dos Demonstrativos Financeiros. Os EUA iniciaram a convergência às normas internacionais de contabilidade a partir de 2009. Seguindo ações adotadas em outros países, o processo de convergência brasileiro iniciou-se em 2005 com a criação pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Posteriormente,
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