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Fabio Conte A tecnologia e a informação são os componentes com capacidade real de imprimir mudanças significativas nos serviços públicos, na participação cidadã, nas políticas públicas, nas prestações de contas, no controle externo dos atos públicos e, principalmente, na construção de uma sociedade melhor. A presente obra busca demonstrar os principais aspectos da temática da tecnologia da informação em gestão pública, tratando desde a exploração dos conceitos da administração como disciplina, até os casos práticos de aplicação de tecnologias na gestão pública. TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA TECNOLOGIA DA INFORM AÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA Fabio Conte Código Logístico 59024 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6554-7 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 5 4 7 Tecnologia da informação em gestão pública IESDE 2019 Fabio Conte © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Funtap/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C777t Conte, Fabio Tecnologia da informação em gestão pública / Fabio Conte. - 1. ed. - Curitiba [PR]: IESDE Brasil, 2019. 90 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6554-7 1. Tecnologia da informação. 2. Administração pública - Inovações tecnológicas. 3. Administração pública - Recursos de rede de computador. 4. Sistemas de informação gerencial. I. Título. 19-60654 CDD: 352.365 CDU: 35:004.7 Fabio Conte Mestre em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Gestão e Estratégia Empresarial pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Graduado em Direito pela PUCPR. Atuou como consultor em diversos municípios e organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial. Atualmente, é professor no ensino superior e em ambientes corporativos e consultor em escritórios de projetos, atuando na estruturação de projetos de concessões e de parcerias público-privadas. Sumário Apresentação 7 1 Administração e gestão pública 9 1.1 Administração: teoria geral e conceitos 9 1.2 Administração pública: conceitos e evolução 13 1.3 Os desafios da gestão pública 15 1.4 Modernização da gestão pública 18 2 Planejamento público e governança 23 2.1 Planejamento público e controle externo 23 2.2 Conceito e tipos de governança 25 3 Tecnologia da informação 35 3.1 Informação 35 3.2 Uso da informação 38 3.3 Tecnologia da informação (TI) 39 4 Uso de dados e informações na gestão pública 45 4.1 A tecnologia da informação no setor público 45 4.2 Diferenciais da TI na gestão pública 50 4.3 Análise de dados e informações 51 4.4 Inteligência de dados 53 5 Aplicações estratégicas de TI nos serviços públicos 57 5.1 ERP (Enterprise Resource Planning) 57 5.2 CRM (Customer Relationship Management) 59 5.3 SCM (Supply Chain Management) 61 5.4 Gestão Documental (GD) e Gestão Eletrônica de Documentos (GED) 62 5.5 ECM (Enterprise Content Management) 64 5.6 BI (Business Intelligence) e cloud computing 65 6 Gestão de projetos de TI na administração pública 69 6.1 Projetos: gestão e efetividade 69 6.2 Metodologias, normas e melhores práticas 71 Glossário de termos estrangeiros 85 Gabarito 87 Apresentação A presente obra busca demonstrar os principais aspectos da temática da tecnologia da informação em gestão pública, tratando desde a exploração dos conceitos da administração como disciplina até os casos práticos de aplicação de tecnologias na gestão pública. Desse modo, você poderá compreender a grandeza do tema e suas interseções. Esta obra está estruturada em seis capítulos, iniciando pela exploração dos conceitos de administração e gestão pública e percorrendo as principais noções sobre as teorias da administração, sua evolução e os conceitos da administração pública. No Capítulo 1, ainda, são apresentados os desafios da gestão pública e suas diferenças em relação à gestão privada, com destaque às finalidades e características da nova gestão pública, além de sua relação com o princípio da eficiência. No Capítulo 2, são abordados os temas de planejamento público e governança. Na primeira parte, são explicitados os conceitos e componentes do planejamento público; já na segunda, são exploradas a conceituação e as aplicações da governança, tanto na gestão pública quanto na tecnologia da informação. Após conhecidos os conceitos e desafios da gestão pública, inicia-se a etapa do universo tecnológico, em um capítulo exclusivo a respeito da tecnologia da informação. Assim, o Capítulo 3 visa compreender tudo aquilo que, no uso de aparatos tecnológicos, tenha como objeto o uso de dados e informações. Nesse capítulo, inicia-se a compreensão sobre o uso dos principais componentes de tecnologia, suas conceituações e possíveis aplicações. O Capítulo 4 trata de uma visão mais específica do uso de dados e informações. Esse tema remete ao pensamento proativo, procurando fazer com que você compreenda como as informações e as tecnologias poderiam ser aplicadas na gestão pública. Nesse momento, surgem as primeiras reflexões sobre a temática principal desta obra, uma vez que os dados e as informações representam os principais temas deste livro. Com o domínio desse tema, você poderá criar soluções e novos negócios na administração pública. Já o Capítulo 5 sugere aplicações estratégicas da tecnologia da informação nos serviços públicos, tais como o relacionamento com o cliente-cidadão, a gestão da empresa pública como um todo, o controle dos fornecedores, a gestão de documentos e de conteúdos e as ferramentas de business intelligence. Todos esses mecanismos já existem e são de uso frequente em governos mais evoluídos em termos de uso de técnicas e ferramentas de gestão. Para tratar das metodologias que se aplicam à coordenação do aparato tecnológico e da definição dos critérios de negócios envolvidos, no Capítulo 6, foram trazidos alguns frameworks de gestão, principalmente o de projetos, mas também o de serviços, entre outros. Esse capítulo demonstra que as técnicas de administração já possuem modelos com ferramentas de tecnologias que podem ajudar o gestor na difícil tarefa de gerir o mundo público. Tecnologia da informação em gestão pública8 Ao final deste livro, é apresentado um glossário de termos estrangeiros, visto que muitas denominações são utilizadas em língua estrangeira nesta área. Além disso, são apontadas as siglas usadas para se referir a cada expressão, pois há casos em que, mesmo que seja usado um termo em português, sua sigla continua tendo como base o original em língua estrangeira. Enfim, com esses conhecimentos, a obra pretende ser provocativa, instigando o pensamento acerca das possibilidades de aplicação da tecnologia da informação na gestão pública. Provavelmente surjam questionamentos mais profundos durante sua leitura e reflexão, que não tenham sido abordados neste livro, mas você pode buscar as respostas nas obras recomendadas. Vale ainda ressaltar que a tecnologia e a informação são os componentes com capacidade real de imprimir mudanças significativas nos serviços públicos, na participação cidadã, nas políticas públicas, nas prestações de contas, no controle externo dos atos públicos e, principalmente, na construção de uma sociedade melhor. Sendo assim, proveite bem este livro! Bons estudos! 1 Administração e gestão pública Primeiramente, este primeiro capítulo percorre, de forma sintética, as principais noções sobre as teorias da administração, sua evolução e os conceitos da administração pública, evidenciando suas distinções. Em um segundo momento, apresentam-se os principais desafios da gestão pública e suas diferençasem relação à gestão privada, ressaltando a finalidade e as características da nova gestão pública, além da sua relação com o princípio da eficiência. Para a construção do conhecimento sobre a administração e a gestão pública, o tema está dividido em cinco seções: a primeira traz conceituações sobre a área da administração; em seguida, na segunda seção, são abordados os conceitos específicos da administração pública; já a terceira seção aborda os desafios da gestão pública e faz um comparativo entre a gestão pública e a privada. A quarta e última seção, por sua vez, expõe a modernização da gestão pública. Ao final deste capítulo, você terá conhecimentos conceituais sobre todos esses temas, além de adquirir a capacidade de desenvolver raciocínios e críticas aos modelos existentes, fomentando ideias e novas possibilidades para a área da administração pública. 1.1 Administração: teoria geral e conceitos A palavra teoria se refere a “explicações, interpretações ou proposições sobre a realidade” (MAXIMIANO, 2008a, p. 8). Já a administração é uma ciência dedicada a estudar a maneira como as organizações funcionam e é também reportada como a “condução racional das atividades de uma organização” (CHIAVENATO, 2003, p. 2). Assim, a teoria geral da administração aborda uma coleção de ideias que têm como finalidade administrar organizações públicas ou particulares, com a implementação de meios eficazes e regras para atingir suas metas e objetivos. Bächtold (2012) cita que qualquer organização, seja ela privada, pública ou do terceiro setor, necessita conduzir ações que tenham como finalidade orientar a busca de seus objetivos. Isso significa que as organizações precisam saber se administrar. Ao longo da história da humanidade, emergiu uma ciência que visava subsidiar tais procedimentos de organização para obtenção dos fins estabelecidos. Essa ciência foi denominada administração e sofreu a influência da filosofia, da religião e das instituições militares, dando origem a muitas teorias, com o intuito de se sistematizar. As teorias administrativas trouxeram aprendizados e avanços no modo de gerenciar recursos para obtenção de seus fins, cada uma para a sua época. Existem dois períodos importantes no século XX: o primeiro deles é chamado de escola clássica (até 1930), o qual influenciou e deu origem às demais teorias do período neoclássico, formadas em um segundo momento (de 1940 até os dias atuais). As principais ideias do século XX e seus principais autores estão demonstrados na Figura 1, a seguir. Tecnologia da informação em gestão pública10 Figura 1 – Administração no século XX Primeiro grande movimento do século XX, impulsionado pelo surgimento de empresas e pela necessidade crescente de produção após a Revolução Industrial. Enfatizava a necessidade de lidar com grandes quantidades de materiais e com recursos humanos. Baseava-se na eficiência dos processos fabris, racionalizando o trabalho, evitando desperdícios e promovendo a prosperidade de trabalhadores e empregadores. Buscava otimizar a eficiência do trabalhador e minimizar o tempo de trabalho. O foco principal era a estrutura da gestão da organização e os indivíduos na realização de suas tarefas, para melhorar e aumentar a produção pelo uso da tecnologia intensiva. Movimento da administração científica Frederick Winslow Taylor Ford desenvolveu a linha de montagem baseada na padronização de peças e na especialização do trabalhador, ampliando os limites da produção em massa e da expansão econômica da época. Linha de montagem móvel Henry Ford Com base nas evoluções citadas anteriormente, Shewhart desenvolveu métodos para garantir que as produções tivessem o mesmo resultado, fazendo dessa padronização o espelho da qualidade da organização. Controle de qualidade Walter A. Shewhart O sentido da palavra burocracia faz referência ao cumprimento das lógicas e racionalidades das leis existentes, às quais as organizações estavam submetidas naquela época. A teoria burocrática é marcada pelo controle sobre os trabalhadores individuais, pela hierarquia de autoridade, pela força de trabalho especializada e por princípios padronizados, regras e regulamentos. Teoria da burocracia Max Weber Fayol documentou o processo de administrar com base em três ideias centrais: a visão da administração como uma função distinta das demais funções das organizações; a administração como um processo de planejamento, organização, comando, coordenação e controle; e a administração como disciplina replicável (MAXIMIANO, 2008a). Teoria clássica (processo de administração) Henri Fayol Mayo foi convidado a participar das análises da experiência de Hawthorne , entre 1927 e 1933, e definiu o enfoque comportamental. Mayo encontrou as seguintes conclusões: a qualidade do tratamento dos funcionários afeta o desempenho, ou seja, melhor tratamento é igual a melhor desempenho; o indivíduo é mais fiel ao grupo social em que está envolvido do que à organização, ou seja, se o grupo atende à organização, os resultados são melhores; os supervisores devem atuar como intermediários amigáveis entre os grupos e a organização. Teoria e escola das relações humanas Elton Mayo Essa experiência expôs um grupo de funcionários de uma fábrica, no bairro de Hawthorne, a inúmeras variações ambientais e de incentivos no trabalho, tais como melhoria da iluminação e oferta de alimentação. Os resultados não corresponderam às expectativas, pois quando os incentivos eram retirados, a produção continuava crescendo; ou seja, as respostas foram tão variadas e inexplicáveis que os organizadores do estudo chamaram Elton Mayo para apoiar a análise. 1903 1909 1913 1916 1920 1932 (Continua) Administração e gestão pública 11 Busca conciliação das teorias burocrática, clássica e das relações humanas, baseando-se no movimento estruturalista. Esse movimento foi fundamentado pela tentativa de se obter a interdisciplinaridade das ciências. O termo estrutura se refere à soma das partes, como um sistema, em que o todo pode ser afetado se forem mexidas as partes (CHIAVENATO, 2003). Essa teoria denota o homem organizacional, flexível e tolerante. Teoria estruturalista Diversos teóricos Visão que identifica e reconhece a interação entre as tecnologias e as pessoas nas empresas. Essa teoria preconiza o bem- -estar e o aumento da produção, com base na autonomia responsável, na adaptabilidade, nas tarefas inteiras e na compreensão do significado das tarefas. Teoria da abordagem sociotécnica Diversos teóricos Demonstra as tendências das organizações no estudo de suas estruturas e dos comportamentos de seus colaboradores. Teoria do desenvolvimento organizacional Leland Bradford Bertalanffy se estabeleceu como um dos pensadores que deram vida ao pensamento sistêmico. Nessa visão, a administração é vista por elementos que interagem para formar conjuntos que buscam objetivos. Há duas ideias básicas nessa teoria: a realidade é feita de sistemas, que são formados por elementos interdependentes; e a compreensão da realidade vem da análise não só dos elementos, mas de suas inter-relações. Teoria dos sistemas Ludwig von Bertalanffy Enfatiza as pessoas e suas necessidades no ambiente de trabalho, buscando a motivação humana. Teoria comportamental Abraham Maslow Baseada em estudos das décadas de 1960 e 1970, a teoria propôs descontruir as demais teorias da administração, afirmando que nada nelas é concreto e que tudo é relativo e depende de outros fatores. Teoria da contingência Diversos teóricos 1947 1951 1953 1957 1962 1972 Fonte: Elaborada pelo autor. Tecnologia da informação em gestão pública12 Os diversos movimentos e teorias representam os pensamentos e correntes que ganharam destaque entre os estudiosos. A partir dessa linha do tempo, é possível verificar que algumas evoluções aconteceram em pouco tempo e sem um teórico que as representasse diretamente. Nessescasos, os teóricos de outras correntes aprimoraram, em conjunto, seus pensamentos e lançaram novas diretrizes, sem que seus nomes fossem registrados como “pais” de uma nova teoria. Ainda sobre as escolas da administração, Maximiano (2008b) resumiu as principais contribuições da escola neoclássica, como podemos ver no Quadro 1, a seguir. Quadro 1 – Contribuições da escola neoclássica 1940 Administração por objetivos: definição de metas de desempenho em áreas-chave das organizações e controle de sua realização, até que sejam atingidos os objetivos previstos. 1950 Modelo japonês de administração: combate ao desperdício, zero defeito, simplificação do modelo de Ford, qualidade total, participação dos funcionários no processo de aprimoramento contínuo. 1960 Qualidade de vida no trabalho: visão sistêmica do bem-estar do ser humano. Administração de projetos: aplicação dos princípios e técnicas do processo administrativo e atividades temporárias. Aprendizagem organizacional e administração do conhecimento: processo de identificar, guardar e utilizar a experiência e as competências da organização. 1980 Administração por processos: administração interdepartamental dos processos integrados da empresa. Administração empreendedora: desenvolvimento de competências empreendedoras para iniciar novos negócios. Administração virtual: uso da tecnologia da informação para administrar organizações. Fonte: Adaptado de Maximiano, 2008b, p. 47. Assim, pode-se observar que a escola neoclássica trouxe importantes contribuições, como: a meritocracia, baseada na análise de desempenho como modelo de crescimento; os modelos simplificados de qualidade, com redução de desperdício e incrementação constante de qualidade; a importância do ser humano como peça-chave do processo industrial; os processos de gestão do conhecimento como base do aprendizado da empresa; a gestão integrada dos recursos da empresa; e o uso de tecnologia como apoio à gestão. É importante frisar que as teorias e modelos expostos nesta seção não suplantam ou extinguem seus predecessores por completo, mas os aperfeiçoam e perpetuam suas boas práticas. Um exemplo disso é a preservação das práticas burocráticas até os dias atuais, as quais conservaram seus princípios fundamentais, como: critérios de admissão e crescimento de carreira, segundo rígidas provas de mérito; a existência de um sistema estruturado e universal de remuneração e de carreira; a avaliação constante de desempenho; e o treinamento e capacitação sistemáticos dos funcionários públicos. A administração virtual, iniciada em 1980, celebrou um novo paradigma na disciplina, incrementando novos horizontes com base na tecnologia da informação (TI), ainda precária na época, mas com enorme potencial. Administração e gestão pública 13 Em 1998, Megginson, Mosley e Pietri (1998) mencionavam as possibilidades de entrecruzamento e geração de novas abordagens nas organizações, valorizando o campo organizacional e o capital intelectual. Com isso, a administração virtual já demonstrava seus potenciais e se materializava como um modelo aplicável a qualquer organização, inclusive às empresas públicas, das quais iremos tratar a seguir. 1.2 Administração pública: conceitos e evolução Como já visto, a administração, como disciplina, se aplica a todas as organizações, empresas, e, até mesmo, à vida particular e cotidiana das pessoas. A administração pública, por sua vez, refere-se aos organismos públicos, que gerenciam as cidades, os estados e a União, como entidades da divisão sociopolítica à qual estamos submetidos. Os órgãos públicos, responsáveis pela administração pública, devem se posicionar como gestores de grandes empresas. Os municípios, os Estados e a União sempre têm maior porte em comparação às demais empresas e organizações que ocupam seu território. As dificuldades, os desafios e os impactos das decisões da gestão pública são mais complexos do que os de uma organização privada. Em raras exceções, algumas empresas privadas apresentam faturamento maior do que as cidades onde tais empresas estão sediadas; entretanto, suas atuações não possuem o mesmo caráter impactante e não podem ser comparadas ao desafio da gestão pública. Como conceito, de acordo com o Dicionário Direito (2019), “a administração pública, direta ou indireta, é formada pelos órgãos e pessoas jurídicas que prestam os serviços públicos visando o bem da coletividade e a garantia do interesse público sobre o particular”. Di Pietro (2012, p. 50) classifica a administração pública nos sentidos subjetivo e objetivo: no sentido objetivo, também denominado material ou funcional, a administração pública é “a própria função administrativa que incumbe, predominante ao poder executivo”; por outro lado, no sentido subjetivo, chamado de formal ou orgânico, ela “designa os entes que exercem a atividade administrativa abrangendo as pessoas jurídicas, os órgãos e agentes públicos” e suas respectivas funções. Isto é, a administração pública, em uma visão jurídica, significa todo o corpo de órgãos e pessoas que representam o poder público. A gestão pública pode se referir às pessoas (gestores) que gerenciam a coisa pública. São considerados, nesse entendimento, os funcionários de carreira (concursados), funcionários comissionados e membros eleitos para mandato político. No entendimento mais comumente aceito, a gestão pública é o conjunto de pessoas, boas práticas, técnicas e ferramentas, dedicado à administração do setor público. A gestão e a administração públicas possuem conceitos tão próximos que acaba sendo comum a utilização de um termo pelo outro. A administração pública é regida por princípios. O artigo 37 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) diz que “a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Entende-se que a administração indireta Tecnologia da informação em gestão pública14 é aquela em que o Estado transfere a autonomia de sua administração para outra pessoa jurídica (autarquias, empresas públicas, fundações públicas e sociedades de economia mista), promovendo a descentralização da prestação de serviços públicos. Com o passar do tempo e respeitando as características locais, como aspectos sociais, costumes, cultura, legislação, recursos financeiros e ambientais, a administração mostrou ser uma poderosa ferramenta para o governo. Isso se deu porque a administração pública, como uma ramificação da administração, faz uso de técnicas como planejamento, direção, organização, coordenação e controle, os quais permitem que os usuários atinjam os objetivos esperados, da maneira mais adequada às peculiaridades da administração pública (BÄCHTOLD, 2012). Conforme Silva (2017), historicamente, a administração pública sofreu mudanças em sua forma de gestão, tendo como base os modelos apresentados no Quadro 2. Quadro 2 – Modelos de administração pública Modelo Características Patrimonialista Os governantes consideravam o Estado seu patrimônio; indistinção entre patrimônio público e privado e apropriação indevida de bens públicos; nepotismo e corrupção. Burocrático proteção da coisa pública, organizando e racionalizando a administração pública; cumprimento de normas, formalidades; tratamento igualitário; modelo insustentável e ineficiente no atendimento das necessidades coletivas. Gerencial privilégio à inovação; valorização do cidadão; eficiência, eficácia e competitividade; proibição do nepotismo e corrupção; descentralização de poderes; incentivo à gestão participativa; redução de gastos. Fonte: Adaptado de Silva, 2017. O modelo gerencial tornou-se realidade no mundo desenvolvido por meio de sua “definição clara de objetivos para cada unidade da administração, da descentralização, da mudança de estruturas organizacionais e da adoção de valores e de comportamentos modernos”(BÄCHTOLD,2012, p. 35-36). Esse modelo gerencial se revelou capaz de facilitar e promover a melhoria da qualidade e a eficiência do setor público por ser, segundo Pereira (2010), gerencial e flexível, descentralizado, participativo e democrático. Novamente, as possibilidades de utilização de tecnologias da informação e comunicação (TICs), oriundas da administração virtual, surgem como ferramenta indissociável para a viabilização do modelo gerencial. Administração e gestão pública 15 1.3 Os desafios da gestão pública Como visto, o conceito de gestão tem caráter polissêmico, ou seja, tem mais de um significado. Considerando esses inúmeros conceitos sobre gestão e administração, pode-se concluir que administrar nada mais é do que planejar, coordenar, controlar e organizar alguma coisa, enquanto gerir é o ato de executar as ações determinadas pela administração, no uso de suas técnicas e práticas. Por essa razão, daqui em diante falaremos sempre em gestão pública. Os desafios da gestão pública são muitos, a começar pelo tamanho das cidades e estados brasileiros, passando pela pluralidade das necessidades dos cidadãos e suas diferenças culturais, socioeconômicas e de acesso aos serviços providos pelo poder público. Nesse aspecto, a igualdade preconizada pela Constituição Federal não significa suprir todos de forma igualitária, mas sim promover a igualdade, provendo mais a quem mais precisa, e obtendo mais daqueles com maior capacidade contributiva. Essa é a constante busca por reequilíbrio social. A gestão pública, por sua vez, precisa se mostrar cada vez mais eficiente, caminhando sempre ao encontro do princípio constitucional da eficiência, já praticado nas organizações privadas. Porém, é preciso considerar a diferença enorme entre objetivos, pois, enquanto nas organizações privadas os objetivos do trabalho se resumem às metas da empresa, na gestão pública os objetivos são plurais e versam sobre valores diversos, tais como bem-estar social, qualidade de vida, educação, saúde e todas as obrigações previstas na Constituição. Seguindo esse pensamento, na segunda metade do século XX, teve início um novo modelo na administração americana, chamado de New Public Management (NPM), que rompia com as práticas antiquadas e inaugurava um modelo de busca de eficiência nos serviços públicos1. As evoluções da ciência da administração, incluindo o setor público e considerando as influências do NPM, o princípio da eficiência, as teorias e técnicas da escola neoclássica de gestão e as ideais da gestão pública virtual e de avanços tecnológicos da atualidade, representam um novo cenário de desafios para a gestão pública. Dentre os muitos fatores que precisam ser considerados nesse novo cenário, pode-se citar: • A Constituição Federal ampliou tanto o conceito de participação social no âmbito do poder público, como a promoção e o incentivo do desenvolvimento científico da pesquisa, da capacitação, da tecnologia e da inovação. Santos e Soares (2017) indicam que essa posição tomada pelo governo federal veio para promover a criação e o uso de ferramentas condizentes com a atualidade e com a finalidade de beneficiar a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos. • As leis de orçamento público, a Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000), a Lei de Acesso à Informação (BRASIL, 2011), as políticas de dados abertos dos governos e o uso massivo de tecnologias para processamento e distribuição de informações via internet fazem com que o poder público trabalhe cada vez mais em prol da coletividade. 1 Trataremos disso com mais detalhes na Seção 1.5. Tecnologia da informação em gestão pública16 • A visão da máquina pública ineficiente e burocrática (no sentido de morosa e excessiva em regras e dificuldades) é demonstrada pela pesquisa de Cordeiro (2012), que ilustra a gestão pública pela falta de servidores técnico-administrativos, existência de servidores novos sem conhecimento, baixo comprometimento e demora de atendimento das demandas. O desafio maior é romper com essa cultura retrógrada, aplicar as boas técnicas de gestão no setor público e alavancar a qualidade dos serviços ao cidadão. A Figura 2 ilustra a interação entre a gestão pública e o cidadão por meio da TI, que atua como ferramenta para enfrentamento dos desafios da efetividade na gestão pública. Figura 2 – TIC: desafios e ferramentas para a interação da gestão pública com os cidadãos Cidadão Gestão pública Tecnologia da informação e comunicação (TIC) • Atendimento qualificado; • Gestão participativa; • Tratamento de dados; • Sistematização; • Terceirização efetiva; • Comunicação otimizada; • Outros. Desafios • Participação; • Fomento de ideias; • Agilidade; • Eficiência; • Registro e medição; • Atuação; • Outros. Ferramentas Fonte: Elaborada pelo autor. Os desafios apresentados são apenas alguns exemplos que não buscam exaurir o tema. Para melhor compreensão do cenário é apresentada, a seguir, uma breve descrição de cada desafio. • Atendimento qualificado à população: a tecnologia propicia a aproximação entre gestores e cidadãos e facilita o entendimento das demandas e da devolutiva ao cidadão, permitindo, ainda, a medição de sua satisfação. • Gestão participativa: a tecnologia permite que o cidadão participe da gestão pública, apoiando, sugerindo, informando e, até mesmo, demonstrando suas ideias, atitudes e intenções na formulação das políticas e dos planejamentos públicos. • Tratamento de dados: a coleta, o armazenamento e o processamento de dados são realizados por artefatos da TI. As ações do gestor público podem ser informadas à Administração e gestão pública 17 população por meio de seus dispositivos pessoais, e os cidadãos podem ser importantes fontes para troca de dados com o poder público. • Sistematização: o uso de sistemas permite a sistematização e a otimização de processos; também propicia a coleta de demandas do cidadão e provê informações sobre o andamento das solicitações, inclusive controlando prazos e apoiando o gestor público no controle de qualidade e transparência. • Terceirização efetiva: os serviços podem ser terceirizados, visando à otimização de tempo e de recursos, e monitorados pelos cidadãos em critérios de custo e qualidade. Softwares de gestão capazes de automatizar tarefas executadas por um ou mais servidores públicos diminuem o risco de erros, gerando informações fundamentais para a operação dos serviços públicos e seus projetos. • Comunicação otimizada: a tecnologia otimiza a comunicação entre governo, servidores públicos, cidadãos e sociedade. Os serviços integrados por ferramental tecnológico poupam tempo e recursos, evitam desencontros e, ainda, padronizam a informação, criando servidores públicos engajados e comprometidos com resultados. Portanto, para a melhoria do desempenho da gestão pública, torna-se necessário o conhecimento e o uso das ferramentas de gestão e das TICs, com olhos abertos para a inovação constante, a capacitação de pessoas e o incremento dos serviços públicos. 1.3.1 Entre o público e o privado Souza e Reinhard (2015) citam que a administração pública tem suas particularidades, pois as tarefas, o tamanho e as funções das organizações públicas se assemelham às organizações privadas e vice-versa. Os autores também acreditam que governar uma organização pública pode ser semelhante a gerir uma empresa privada. No entanto, pode-se apontar uma série de características que distinguem a administração e as organizações públicas da administração de empresas das organizações privadas. Como exemplo, pode-se elencar algumas diferenças entre a administração pública e a privada: • Tomadas de decisões: na administração pública, as tomadas de decisões e ações são lentas, visto que elas dependem de políticas públicas e de trâmites burocráticos. Já na administração privada, as decisões são mais ágeis, porque estão subordinadas apenas às políticas empresariais. • Obtenção de recursos: na organizaçãoprivada, os recursos são obtidos por meio de pagamentos realizados por clientes; na pública, são obtidos por impostos, contribuições e taxas. • Público-alvo: na administração pública, o público-alvo é o cidadão; por outro lado, na administração privada, é o cliente. • Ordenamento jurídico: na administração pública, o ordenamento é o princípio da legalidade e do direito constitucional e administrativo, obedecendo à determinação da lei; na administração privada, são os direitos civil e comercial, entre outros. Tecnologia da informação em gestão pública18 • Tipo de controle: na privada, o controle é feito pelo mercado; na pública, ele é feito pelos órgãos de controle (tribunais de contas e ministérios públicos). Além das diferenças mencionadas, Souza e Reinhard (2015) acrescentam que as diferenças entre a administração pública e a privada abordam os fatores ambientais e os processos organizacionais. Entende-se que fatores ambientais de uma organização referem-se à sua estrutura organizacional, aos seus recursos, banco de dados, software de gerenciamento de projetos e infraestrutura. Os processos organizacionais, por sua vez, correspondem a tudo aquilo que se relaciona às atividades ou tarefas para produzir um serviço ou um produto e seus projetos. Mesmo apresentando distinções, as organizações, sejam elas públicas ou particulares, são fundamentais para o funcionamento da sociedade, uma vez que os indivíduos exercem papéis de empresários, trabalhadores, clientes e cidadãos. 1.4 Modernização da gestão pública Entre 1970 e 1980, o modelo de desenvolvimento econômico e social era denominado estado de bem-estar social (welfare state). Com o rápido crescimento populacional e o consequente acréscimo das demandas sociais, exigindo políticas públicas eficientes, surgiu a nova gestão pública (NPM). A NPM se embasa na incorporação de alguns mecanismos de mercado e algumas ferramentas usadas na gestão privada, como a análise de dados e o engajamento em uma gestão efetiva, com a finalidade de modernizar o Estado, ou seja, de levar um padrão mais moderno, integrado e aberto para a gestão pública. Assim, na busca de avanços, a NPM veio propor rígidas responsabilidades aos gestores e políticos na operação do Estado, assumindo a posição de provedora de bens e serviços aos cidadãos. Além disso, ela demarcou o conceito de eficiência na gestão pública, propiciado pelas contratações, e baseou os novos moldes de políticas públicas. Nessa linha, como diretriz político-institucional para aperfeiçoamento da administração pública, o princípio da eficiência foi incorporado à legislação nacional (Constituição Federal de 1988) que, entre outras finalidades regulatórias e programáticas, rege o orçamento público como instrumento fundamental para a administração pública federal, estadual e municipal. A eficiência oriunda da evolução das teorias da administração e modernidade, recepcionada na legislação nacional, tornou obrigatória a adoção de ferramentas capazes de suportar o incremento qualitativo necessário aos serviços públicos. Essa capacidade se refere ao potencial de coleta e processamento de dados e informações em grandes volumes, de modo a tornar a gestão pública mais assertiva. “Só é possível gerenciar aquilo que se mede”. Essa frase conhecida, de Peter Drucker, se aplica à necessidade de medir o mundo real, para que tal mensuração embase eventuais mudanças e aprimoramentos. O ciclo PDCA (plan, do, check, act), preconizado por William Edwards Deming, ampara-se nesse conceito. Administração e gestão pública 19 Nesse contexto, considerando a imensidão de dados produzidos nas cidades e estados, é notória a percepção da dificuldade que a gestão pública enfrenta em coletar a diversidade de informações em seu território e processar tais dados, a ponto de obter as orientações necessárias para suas decisões e atuações. Desde o movimento da administração virtual, são percebidas as possibilidades de aplicação de tecnologias da informação na gestão pública. As tecnologias disponíveis na atualidade são ferramentas importantes na medição e no processamento de dados em grandes volumes, como necessita a gestão pública moderna. Tais tecnologias são utilizadas para compor os sistemas de informações, formados por hardwares (máquinas), softwares (sistemas de computadores) e bancos de dados (dados armazenados em dispositivos e gerenciados por sistemas), os quais, em funcionamento integrado a outros SI, criam as condições de suporte necessárias aos gestores públicos e cidadãos. As tecnologias evoluíram a passos largos nas últimas décadas. Essa evolução trouxe o barateamento das tecnologias e, por consequência, promoveu a difusão e o acesso em massa aos seus benefícios. Outro fator de suma importância foi o advento da internet e as várias alternativas de conectividade, dispondo informações atualizadas na ponta dos dedos dos seres humanos, com cobertura praticamente global. Por fim, a vasta capacitação e disponibilidade de mão de obra especializada em tecnologias coloca o poder público em reais condições de uso dos seus benefícios no caminho da modernidade. No novo modelo de gestão pública, os projetos de TI adquirem importância, pois suas características diferenciadas e unificadoras, que emergem do setor público, estão relacionadas às mudanças na TI e nas alterações dos SI. A busca por melhores condições de vida dos cidadãos está atrelada à maior qualidade e efetividade na prestação dos serviços públicos, ou seja, de uma melhor gestão pública. Mesmo que as soluções ainda não estejam diretamente ao alcance do cidadão, elas certamente serão influenciadas por eles. Considerações finais De acordo com Paludo e Procopiuk (2014, p. 73), “vivemos na era da informação, em que cidadãos conscientes exigem maior participação nas decisões que afetam o destino da Nação e mais transparência nas ações governamentais”. Isso se reflete na elevação da complexidade da missão dos gestores públicos contemporâneos no atendimento aos usuários/cidadãos, sem afastar os olhos dos resultados de investimentos públicos, competitividade, combate à pobreza, conformidade legal e sustentabilidade ambiental. Exige-se qualificação dos profissionais que atuam no planejamento, enfrentando o desafio de viabilizar a participação da sociedade civil organizada para alinhamento da ação estatal às reais demandas sociais. Há, portanto, a necessidade de o Estado demonstrar-se eficiente na gestão de recursos (sociais, econômicos, ambientais e outros) nos moldes da eficiência exigida no mercado privado. Tecnologia da informação em gestão pública20 Esses desafios permanecem, não obstante, na tentativa de implementação de uma burocracia pública desde a década de 1930, a qual buscou avanços, como o profissionalismo da administração pública e o fim da influência do coronelismo, mas não conseguiu estancar males como o clientelismo político, o nepotismo e a corrupção. Por fim, vale lembrar que a administração está em constante mutação. Souza e Reinhard (2015) argumentam que estamos em um momento de transição, no qual está surgindo um novo padrão denominado Era da Governança Digital (Digital-Era Governance – DEG), necessário para um novo modelo de gestão pública que seja efetivo e de acordo com os anseios da população. Ampliando seus conhecimentos • MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2008a. • MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo: Atlas, 2008b. Essas obras são clássicas e trazem o aprofundamento necessário ao leitor que deseja intensificar as noções apresentadas neste capítulo. Maximiano traz compêndios completos da disciplina de administração. A cada dúvida ou curiosidade, vale sempre consultar uma das obras de referência desse autor! • PEREIRA, José Matias. Governança no setor público. São Paulo: Atlas, 2010. Pereira mostra uma visão muito importante sobre governança no setor público, extrapolandoa visão acadêmica pura e partindo para um olhar prático sobre o tema governança e os desafios da gestão pública. Vale a leitura! Atividades 1. Souza e Reinhard (2015) afirmam que as diferenciações entre a administração pública e a privada abordam os fatores ambientais e os processos organizacionais. Quais outras diferenças podem ser elencadas entre as administrações públicas e privadas? 2. A NPM tem como finalidade propor rígidas responsabilidades aos gestores e políticos na operação do Estado. Qual é a relação entre o princípio de eficiência e a nova gestão pública? 3. A promulgação da Constituição Federal ampliou tanto o conceito de participação social no âmbito do poder público como a promoção e o incentivo dos desenvolvimentos científicos da pesquisa, da capacitação, da tecnologia e da inovação. Descreva a relação existente entre a gestão pública e a ampliação do conceito de participação social. 4. A interação entre a gestão pública e o cidadão, por meio da TI, atua como ferramenta para enfrentamento dos desafios da efetividade na gestão pública. Cite os principais desafios dessa interação e descreva as possíveis soluções por meio da TI. Administração e gestão pública 21 5. O modelo de gestão gerencial tem sido adotado nas últimas décadas pelas organizações. Discorra sobre suas características e suas principais diferenças em relação ao modelo burocrático de Weber. 6. Considerando que são muitos os desafios da gestão pública, o que a Constituição Federal indica para o reequilíbrio social? Referências BÄCHTOLD, C. Noções de administração pública. Curitiba: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, 2012. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União. Brasília, DF, Poder Legislativo, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao. htm. Acesso em: 3 out. 2019. BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Diário Oficial da União. Brasília, DF, Poder Legislativo, 5 mai. 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp101.htm. Acesso em: 3 out. 2019. BRASIL. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Diário Oficial da União. Brasília, DF, Poder Legislativo, 18 nov. 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12527.htm. Acesso em: 3 out. 2019. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. CORDEIRO, M. I. G. M. et al. Desafios da gestão pública contemporânea: uma análise no Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSUL). In: XII Colóquio Internacional de Gestión Universitária, 2012. Rio Grande do Sul. Anais [...]. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/97661?show=full. Acesso em: 3 out. 2019. DICIONÁRIO DIREITO. O que é administração pública? Conceitos, divisões e princípios. 2019. Disponível em: https://dicionariodireito.com.br/administracao-publica. Acesso em: 3 out. 2019. DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2012. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo: Atlas, 2008a. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2008b. MEGGINSON, L.; MOSLEY, D.; PIETRI, P. Administração: conceitos e aplicações. São Paulo: Harbra, 1998. PALUDO, A. V.; PROCOPIUCK, M. Planejamento governamental: referencial teórico, conceitual e prático. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014. PEREIRA, J. M. Governança no setor público. São Paulo: Atlas, 2010. SANTOS, D. N.; SOARES, M. E. A gestão pública frente aos seus desafios: como estimular a produção acadêmica de discentes e egressos na promoção de ideias inovadoras para a sociedade. Revista de Negócios em Projeção, v. 8, n. 2, p. 179-190, 2017. Disponível em: http://revista.faculdadeprojecao.edu.br/index.php/ Projecao1/article/view/942/804. Acesso em: 3 out. 2019. Tecnologia da informação em gestão pública22 SILVA, T. A. Conceitos e evolução da administração pública: o desenvolvimento do papel administrativo. In: VIII Seminário Internacional sobre desenvolvimento regional, 2017. Santa Cruz do Sul. Anais [...]. Disponível em: https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidr/article/download/16678/4429. Acesso em: 3 out. 2019. SOUZA, E. G.; REINHARD, N. Uma revisão bibliográfica dos fatores ambientais que influenciam a gestão de projetos de sistemas de informação no setor público. Revista de Gestão e Projetos, v. 6, n. 2. mai./ago. 2015. Disponível em: http://www.revistagep.org/ojs/index.php/gep/article/view/226/pdf. Acesso em: 3 out. 2019. 2 Planejamento público e governança No Capítulo 1, foram abordados os temas de administração e gestão pública. Agora, dando sequência ao aprendizado, este capítulo traz duas novas abordagens: o planejamento público e a governança. Na parte de planejamento público, são explicitados seus conceitos e componentes, tais como orçamento público, Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias, Lei Orçamentária Anual e controle externo. Em governança, são exploradas sua conceituação e suas aplicações, tanto na gestão pública quanto na TI. Os temas deste capítulo são de suma importância para a construção do conhecimento proposto nesta obra: a tecnologia da informação em gestão pública. 2.1 Planejamento público e controle externo O planejamento público é um instrumento de planejamento governamental no qual as despesas e as receitas – previstas e arrecadadas – da administração pública são avaliadas para programar a destinação dos recursos. Pode-se dizer que, no planejamento, as despesas e receitas são gerenciadas, ou seja, são administradas. O ato de planejar está contido em todas as teorias, escolas e modelos da administração já estudados no capítulo anterior. Em termos de gestão pública, planejar é pensar em como fazer a gestão dos recursos públicos. Uma das principais ações do planejamento público é o orçamento público, por meio do qual pode-se averiguar a situação econômico-financeira dos municípios, estados e União, avaliando suas perspectivas de arrecadação, de despesas e possibilidades de projetos para diversas áreas, tais como saúde, educação, saneamento, obras públicas e outras ações executadas pelos gestores (UNA-SUS, 2016). O orçamento público é o instrumento de planejamento governamental em que constam as despesas da administração pública – de um a quatro anos –, em equilíbrio com a arrecadação das receitas previstas, como já visto na definição do planejamento público. É nesse documento que estão os recursos arrecadados e a programação de seu destino, como para hospitais, manutenção de estradas, construção de escolas, pagamento de professores, entre outros. O modelo de planejamento orçamentário brasileiro é definido pelo artigo 165 da Constituição Federal, que aponta três instrumentos legais: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) (BRASIL, 1988). Na prática, os atos seguem a ordem prevista na lei, ou seja, primeiro vem o PPA, seguido da LDO e, então, a LOA. Existem diferenças de periodicidade e de nível de detalhamento dos respectivos conteúdos e as datas legais de produção e entrega desses documentos também Tecnologia da informação em gestão pública24 podem variar entre as esferas de governo (federal, estadual e municipal). Vejamos algumas informações importantes sobre cada um desses instrumentos a seguir: • PPA: define as políticas públicas do governo (federal, estadual e municipal) com base nos compromissos programados nas eleições e realiza o planejamento orçamentário de médio prazo (quatro anos). Suas prioridades são os investimentos de grande porte destinados a organizar e viabilizar a ação pública na busca de seus objetivos de alto nível, como estratégias e metas do governo (BRASIL, 2019). • LDO: sua função é estabelecer uma relação entre o planejamento de médio prazo, previsto no PPA, e o de curto prazo, a ser explicitado na LOA (Figura1). A LDO tem como finalidade orientar a elaboração de orçamentos fiscais, especificando suas regras e prioridades para o exercício anual seguinte à sua elaboração. • LOA: é um planejamento de curto prazo (um ano) com o objetivo de gerenciar as receitas e despesas públicas a serem geridas pelos órgãos do Poder Executivo para atingir as previsões da LDO e do PPA. A LOA também é denominada Lei de Meios e é constituída por elementos fundamentais na gestão dos recursos públicos (receitas e despesas), que se destinam a programas e projetos para diversas áreas (BRASIL, 2019). Figura 1 – Orçamento público e relações entre PPA, LOA e LDO LDO LDO LDO LDO LOA LOA LOA LOA Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 PPA (Ano 1 – Ano 4) Fonte: Elaborada pelo autor. O Poder Executivo – representado pelos gestores públicos eleitos para mandato específico (presidente, governadores e prefeitos) – tem a prerrogativa de planejar e administrar os recursos públicos, mas precisa de aprovação prévia do Poder Legislativo. Para isso, existem prazos legais que devem ser respeitados à risca e seguem trâmites específicos. Na prática, o orçamento público (PPA, LDO e LOA), tão logo seja aprovado pelo Poder Legislativo, autoriza o Poder Executivo a gerenciar e administrar as receitas e despesas pelo período de um a quatro anos. Ainda sobre o planejamento público, ele deve observar alguns princípios básicos, oriundos dos direitos públicos e administrativos. São os princípios da unidade, da transparência, da totalidade, da universalidade, da anualidade, da publicidade, da exclusividade, da legalidade, da especificidade, do equilíbrio, da objetividade e da exatidão (UNA-SUS, 2016). A gestão pública (ou administração pública) é responsável por planejar e executar ações e serviços públicos em prol do cidadão no uso dos recursos públicos. Todos os atos da administração Planejamento público e governança 25 pública são considerados atos públicos e podem ser acompanhados, conferidos e auditados pelos cidadãos. Esse acompanhamento se dá para aferir o bom uso dos recursos públicos, chamados de erário. O acompanhamento da efetividade da gestão pública é direito de todos e dever institucional dos órgãos de controle, entre eles os tribunais de contas. O tribunal de contas é o órgão responsável pela fiscalização dos gastos públicos. No âmbito federal, há o Tribunal de Contas da União (TCU); nos estados e municípios, geralmente há os Tribunais de Contas do Estado (TCEs); e, em alguns estados, existem os Tribunais de Contas dos Municípios (TCMs), que atuam na capital e em municípios do estado – o município de São Paulo possui um tribunal de contas exclusivo para a capital. No entanto, para o presente estudo, não é necessário aprofundamento nesse tema, bastando somente reconhecer que existem estruturas públicas específicas para a realização do controle externo à gestão pública, e que esse controle pode ser feito por qualquer cidadão. A fiscalização realizada pelo tribunal de contas é denominada de controle externo, que é o ato de acompanhamento e de auditoria dos recursos públicos, conforme o planejamento e sua adequação e observância à legislação vigente. Cada poder tem seu controle interno, mas o Poder Legislativo (Senado, Câmara dos Deputados, Câmara dos Vereadores e Assembleias Legislativas) é responsável por exercer o controle junto aos Poderes Executivo (governos federal, estadual e municipal) e Judiciário (STF, STJ, tribunais regionais, federais, eleitorais e tribunais de justiça dos estados) (BRASIL, 2014). Conforme visto anteriormente, o planejamento público é desenvolvido pelo Poder Executivo e é submetido à aprovação do Poder Legislativo e ao controle externo por meio dos tribunais de contas. Após o planejamento e a aprovação, cabe ao governo executar. Para isso, surge um novo desafio, que é a organização de todos os insumos necessários para a promoção dos resultados planejados. Por insumo entendem-se todas as partes, componentes, pessoas, ferramentas, materiais, serviços e produtos relacionados aos projetos públicos. A execução desses projetos segue ritos legais específicos, os quais não serão tratados nesta obra. De toda forma, trata-se de projetos de grande porte, em sua maioria, e, por essa razão, os desafios de gestão são proporcionais e exigem enorme atenção nos quesitos de gerenciamento (administração e gestão). Nesse aspecto, para a efetiva gestão dos insumos e garantia dos resultados pretendidos, é recomendada a adoção de governança, a qual é explicada na seção a seguir. 2.2 Conceito e tipos de governança A palavra governança vem sendo utilizada de múltiplas formas nos últimos anos. Isso se deve ao seu caráter genérico e, ao mesmo tempo, flexível e adaptável a muitas áreas. Em diversos dicionários, é dito que governança significa a ação, o resultado ou o efeito de governar, isto é, pode-se interpretar governança como uma forma de obter efetivo controle sobre algo. Pode-se falar em governança pública como sendo a forma de gerir e garantir resultados da gestão pública. Assim, pode-se também falar em governança corporativa, governança jurídica, governança ambiental e governança de TI. Nesse sentido, a governança alcança uma Tecnologia da informação em gestão pública26 compreensão maior do que simplesmente de gestão ou de administração, sendo uma forma de reunião de ferramentas e processos para garantia de resultados ou obtenção de suporte à decisão. As concepções de governança se iniciaram nos projetos e relatórios de agências como o Banco Mundial em 1992. Segundo Diniz (1995, p. 400), o documento lançado por esse banco se intitulou Governance and development, cujo objetivo era “aprofundar o conhecimento das condições que garantem um Estado eficiente”. Tal documento se desarticulou, abandonando a atenção somente das implicações econômicas da ação estatal e passando a envolver as dimensões sociopolíticas da gestão pública. Rosenau aponta que governança é um fenômeno mais amplo que governo; abrange as instituições governamentais, mas implica também mecanismos informais, de caráter não governamental, que fazem com que as pessoas e as organizações dentro da sua área de atuação tenham uma conduta determinada, satisfaçam suas necessidades e respondam às suas demandas. (ROSENAU, 2000, p. 15-16) A significação maior do termo governança é de melhoria dos meios de gestão para obtenção dos resultados pretendidos. É importante não confundir essa abordagem em se tratando do sentido estritamente político de governo e gestão, principalmente porque o tema principal que se está tratando no capítulo é o planejamento público. Cabe lembrar que a governança corporativa se atribui a empresas privadas, e a governança pública às organizações públicas e aos seus gestores. Governabilidade é um termo similar utilizado na área de gestão pública e significa o conjunto de condições para se exercitar o poder. Governança e gestão são funções que se complementam, uma vez que a governança instrumenta, acompanha, monitora, avalia e direciona a atuação da gestão. Esta, por sua vez, busca, promove, maneja e autoriza os recursos e insumos para obtenção dos resultados esperados. 2.2.1 Governança corporativa A governança, como disciplina, foi adotada por diversas áreas, com enfoques também distintos. Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), os princípios básicos da governança corporativa são a transparência, a equidade, a prestação de contas e a responsabilidade corporativa. Ela pode ser definida como o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. As boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitandoseu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum. (IBGC, 2019) Mendonça et al. (2013) compreendem a governança corporativa em uma organização como aquela que garante que as decisões adotadas respeitem os parâmetros de ações para os gestores, com a finalidade de resguardar os acionistas. Pereira (2010, p. 117) diz que o modelo de governança corporativa, ou governo das sociedades, é uma coleção de “processos, costumes, políticas, leis, regulamentos que regulam Planejamento público e governança 27 como uma empresa é administrada e controlada”; ou seja, a governança trata da aquisição e distribuição de poder e a governança corporativa enfatiza a maneira pela qual as corporações são governadas e administradas. 2.2.2 Governança no poder público Entre os inúmeros modelos de governança, a corporativa – destinada às empresas privadas – estabeleceu padrões que foram adotados pela gestão pública. A governança nas organizações privadas e públicas exibe expressivas analogias, por mais que o setor público tenha suas peculiaridades e objetivos específicos. Tais semelhanças abrangem questões pontuais, que envolvem a propriedade e a gestão, as responsabilidades e o poder, o incentivo na execução das políticas e a definição de objetivos. Assim, conforme Pereira (2010, p. 87), “o novo paradigma da governança global no setor privado e público tem como referência a necessidade de promover uma governança que torne mais efetiva as relações entre os 3 principais atores: setor público, setor privado e terceiro setor”. Por meio da abordagem gerencial na administração pública, a flexibilidade e a adaptabilidade nos setores públicos se tornaram necessárias e o conceito de governança, suas funções e ferramentas foram adotados e adaptados nesses ambientes. Eles ainda passam por transformações constantes e têm por finalidade a melhoria nos resultados oferecidos à sociedade em geral, além da perspectiva de como esses resultados podem ser alcançados. Como aspectos positivos, a governança traz uma distinção clara de outros modelos de administração com relação ao tratamento do cidadão, pois o transforma em participante na construção das políticas públicas. De acordo com Secchi (2009, p. 363), “a esfera pública constrói modelos horizontais de relacionamento e coordenação sob a ótica da governança pública”, na qual os cidadãos e outras organizações são parceiros (stakeholders). O instituto da governança pública foi recepcionado por meio do Decreto n. 9.203 (BRASIL, 2017). Foram abordadas, nesse decreto, as conceituações de governança pública, valor público, alta administração e gestão de riscos. Entre as disposições legais, destacam-se: I - governança pública - conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade [...]. Art. 3º São princípios da governança pública: I - capacidade de resposta; II - integridade; III - confiabilidade; IV - melhoria regulatória; V - prestação de contas e responsabilidade; e VI - transparência. (BRASIL, 2017) As diretrizes da governança pública, preconizadas pelo artigo 4º do mesmo decreto, representam uma visão contemporânea do instituto da governança pública, bem como suas possibilidades de uso prático. São elas: Tecnologia da informação em gestão pública28 I - direcionar ações para a busca de resultados para a sociedade, encontrando soluções tempestivas e inovadoras para lidar com a limitação de recursos e com as mudanças de prioridades; II - promover a simplificação administrativa, a modernização da gestão pública e a integração dos serviços públicos, especialmente aqueles prestados por meio eletrônico; III - monitorar o desempenho e avaliar a concepção, a implementação e os resultados das políticas e das ações prioritárias para assegurar que as diretrizes estratégicas sejam observadas; IV - articular instituições e coordenar processos para melhorar a integração entre os diferentes níveis e esferas do setor público, com vistas a gerar, preservar e entregar valor público; V - fazer incorporar padrões elevados de conduta pela alta administração para orientar o comportamento dos agentes públicos, em consonância com as funções e as atribuições de seus órgãos e de suas entidades; VI - implementar controles internos fundamentados na gestão de risco, que privilegiará ações estratégicas de prevenção antes de processos sancionadores; VII - avaliar as propostas de criação, expansão ou aperfeiçoamento de políticas públicas e de concessão de incentivos fiscais e aferir, sempre que possível, seus custos e benefícios; VIII - manter processo decisório orientado pelas evidências, pela conformidade legal, pela qualidade regulatória, pela desburocratização e pelo apoio à participação da sociedade; IX - editar e revisar atos normativos, pautando-se pelas boas práticas regulatórias e pela legitimidade, estabilidade e coerência do ordenamento jurídico e realizando consultas públicas sempre que conveniente; X - definir formalmente as funções, as competências e as responsabilidades das estruturas e dos arranjos institucionais; e XI - promover a comunicação aberta, voluntária e transparente das atividades e dos resultados da organização, de maneira a fortalecer o acesso público à informação. (BRASIL, 2017) É importante comentar a visão abrangente de governança, tal qual preconizada em suas diretrizes. A governança não se confunde com o gerenciamento, pois representa uma camada superior, com foco em viabilizar políticas de análise, monitoramento e ações de nível macro para impulsionar resultados. O dispositivo legal elenca também os mecanismos de governança pública em seu artigo 5º: I - liderança, que compreende conjunto de práticas de natureza humana ou comportamental exercida nos principais cargos das organizações, para assegurar a existência das condições mínimas para o exercício da boa governança, quais sejam: a) integridade; b) competência; c) responsabilidade; e d) motivação; II - estratégia, que compreende a definição de diretrizes, objetivos, planos e ações, além de critérios de priorização e alinhamento entre organizações e Planejamento público e governança 29 partes interessadas, para que os serviços e produtos de responsabilidade da organização alcancem o resultado pretendido; e III - controle, que compreende processos estruturados para mitigar os possíveis riscos com vistas ao alcance dos objetivos institucionais e para garantir a execução ordenada, ética, econômica, eficiente e eficaz das atividades da organização, com preservação da legalidade e da economicidade no dispêndio de recursos públicos. (BRASIL, 2017) Nesse ponto, estão elencadas como mecanismos as formas e ferramentas que o gestor deve utilizar para materialização da governança pública. O artigo 6º dessa mesmo decreto reitera o disposto, trazendo os mecanismos, as instâncias e práticas: Caberá à alta administração dos órgãos e das entidades, observados as normas e os procedimentos específicos aplicáveis, implementar e manter mecanismos, instâncias e práticas de governança em consonância com os princípios e as diretrizes estabelecidos neste Decreto. Parágrafo único. Os mecanismos, as instâncias e as práticas de governança de que trata o caput incluirão, no mínimo: I - formas de acompanhamento de resultados; II - soluções para melhoria do desempenho das organizações; e III - instrumentos de promoção do processo decisório fundamentado em evidências. (BRASIL, 2017) É possível notar que a legislação previu os mecanismos de governança e atribuiu a eles três possibilidades muito alinhadas ao tema desta obra: formas de acompanhamento, soluções para melhoria de desempenho e instrumento de promoção do processo de decisão. Esses quesitos remetem a duas reflexões imediatas. A primeira delas se refere ao alinhamento encontrado com a disposiçãodo Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2014), considerado como referencial nesse setor, e que apresenta algumas funções da governança pública: • define o direcionamento estratégico; • supervisiona a gestão; • envolve partes interessadas; • gerencia conflitos internos; • audita e avalia o sistema de gestão e controle; • promove a prestação de contas e transparência. A segunda reflexão se refere ao potencial de aplicação de recursos tecnológicos para atendimento das recomendações do artigo 6º, o que inaugura amplas possibilidades para o tema, com resultados cada vez melhores para o cidadão. Nesse sentido, a governança pública se relaciona a processos de comunicação, análise e avaliação, liderança, tomada de decisões, controle, monitoramento e de prestação de contas. A governança não envolve somente ferramentas, mas também práticas e processos. Ela tem como objetivo essencial, na gestão pública, a criação de processos de liderança que determinem o equilíbrio de poder entre todos os envolvidos de uma instituição pública (governantes, gestores, servidores e cidadãos), garantindo, assim, a prevalência do bem comum. Tecnologia da informação em gestão pública30 2.2.3 Governança em tecnologia da informação Como vimos, o termo governança abrange várias aplicações; entre elas, a governança em tecnologia da informação também tem sido destaque na literatura. Na atualidade, muitas áreas de negócio amparam-se em ferramentas de tecnologia, pois a velocidade da informação se tornou decisiva para a manutenção e a prosperidade no ambiente empresarial. A tecnologia veio, portanto, para reduzir custos, agilizar processos, acompanhar as mudanças, enfim, para continuar a conduzir os negócios e serviços nas organizações privadas e públicas. A TI pode ser citada como facilitadora e provedora desses procedimentos, e sua governança e gestão tornam-se relevantes, já que a governança de TI trata da definição de responsabilidades, do controle de aquisição de serviços e de aplicações e procedimentos que atendam à demanda corporativa e governamental. As ferramentas proporcionadas pela governança de TI servem não só para o suporte do negócio, mas também promovem a transparência das informações públicas e a escalabilidade e disponibilidade das soluções propostas, da simplicidade, agilidade, da economia e dos valores públicos. De acordo com Weill e Ross (2006), alguns dos princípios relacionados à governança corporativa foram adotados na TI, originando a governança de TI, já que esta promove o compartilhamento de informações e decisões e estabelece regras com gestores, clientes, usuários, departamentos, fornecedores das organizações, entre outros. São comuns os problemas nas infraestruturas de TI, interrompendo serviços e causando lentidões. A cada incidente de tecnologia são gerados inúmeros reflexos na qualidade do serviço que dela dependem. Se a pretensão de qualidade nos serviços públicos está baseada em critérios de governança pública e se os serviços dependem de soluções de TI, é fácil concluir que há necessidade de governança também nos processos de tecnologia. Com o passar do tempo e o aumento significativo da dependência dos negócios às soluções e infraestruturas de TI, o grau de qualidade dos serviços tecnológicos precisou se adequar às expectativas dos clientes. A governança de TI possui critérios que devem estar sempre alinhados às necessidades da sua organização. A literatura compilou os aprendizados coletados na história da tecnologia, aglutinando-os em manuais de melhores práticas e frameworks, que serão abordados com maior profundidade mais adiante. Algumas dessas metodologias foram recepcionadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), tornando-se referências de qualidade em serviços. Os guias e suas aplicações são apresentados no Quadro 1. framework: desenho, ou quadro, que representa a reunião de conceitos no intuito de ilustrar algum tema de estudo graficamente. Planejamento público e governança 31 Quadro 1 – Principais frameworks de governança Sigla Significado Descrição Cobit Control Objectives for Information Technology Framework de gerenciamento e governança de TI adotado nas organizações para apoiar empresas em desenvolvimento, implementação, monitoramento e melhoria contínua de práticas de governança de TI e de gestão ISO 38.500 International Organization for Standardization Norma de governança de TI ITIL Information Technology Infrastructure Library Framework de gestão de qualidade em serviços de TI ISO 20.000 International Organization for Standardization Norma de qualidade de serviços de TI PMP Project Management Professional Framework de gestão de projetos ISO 27.000 International Organization for Standardization Norma de segurança da informação Fonte: Elaborado pelo autor. Cabe destacar que o Cobit é um framework considerado como metodologia-mãe pelo fato de demonstrar uma visão bastante ampla sobre a estrutura de TI e suas relações com o negócio. As demais metodologias e frameworks tratam de assuntos mais específicos e servem de suporte a muitas áreas e processos do Cobit, que é também conhecido como modelo de maturidade da governança de TI, como demonstra a Figura 2 a seguir. Figura 2 – Modelo de maturidade da governança de TI (Cobit) Av al ia r, or ie nt ar e m on ito ra r ISO/IEC 38500 A lin ha r, pl an ej ar e o rg an iz ar C on st ru ir, ad qu iri r e i m pl em en ta r En tre ga , s er vi ço e su po rt e Monitorar e avaliar ISO/IEC 27000 ISO/IEC 31000 TOGAFPRINCE2/PMBOK CMMI ITIL V3 2011 e ISO/IEC 20.000 Fonte: Isaca, 2012, p. 61. Tecnologia da informação em gestão pública32 A Figura 2 demonstra o framework do Cobit e a abrangência dessa boa prática. Além disso, mostra sua interoperacionalidade em relação a outros guias1. O Cobit foi criado pelo Information Systems and Control Association (Isaca)2 e é considerado um modelo aplicável desde o planejamento da TI até sua auditoria de processos, passando por sua monitoração (FERNANDES; ABREU, 2008). O framework considera quatro princípios essenciais para a governança de TI na organização: requisitos do negócio, recursos de TI, processos de TI e informação organizacional. O uso de conjuntos de melhores práticas, frameworks e metodologias de TI apoia e reforça as ferramentas de governança de TI, que, por sua vez, refletem seus resultados na governança do negócio tanto na área privada quanto na pública. Considerações finais O planejamento público reúne as ações de uma organização pública, as quais devem ser o reflexo das intenções e necessidades da sociedade. Afinal, as ações do poder público estão em constante avaliação e fiscalização por parte da sociedade e dos órgãos de controle, referentes ao uso dos recursos públicos e suas destinações. A governança pública pode ser utilizada para a garantia dos resultados planejados pelo poder público, bem como para as ações de avaliação e fiscalização da qualidade de seus serviços, de seus colaboradores e de seus gestores, na busca pela efetividade e pelo aperfeiçoamento contínuo. Uma das funções de um gestor é buscar o equilíbrio fiscal da organização aplicando os recursos públicos em benefício dos cidadãos. Veiga (2018) menciona a governança pública como meio eficiente para a avaliação das ações, das estratégias e de controle à disposição dos gestores. Portanto, o processo de planejamento, aprovação, gestão e controle das ações do poder público necessita da governança para garantir, além dos resultados previstos, um diálogo transparente com a sociedade e um modelo de gestão mais dinâmico e interativo. Nessa ordem, a governança de TI surge como um importante processo de controle do negócio público em relação aos órgãos de controle externo e à população. A velocidade e a organização no processamento de informações promovem maior efetividade na gestão pública, e o valor agregado ao negócio público vem da efetividadee da qualidade de seus serviços ao cidadão, os quais são providos pela TI. Ampliando seus conhecimentos • MENDONÇA, C. M. C. et al. Governança de tecnologia da informação: um estudo do processo decisório em organizações públicas e privadas. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 47, n. 2, p. 443-468, mar./abr. 2013. Disponível em: https:// www.redalyc.org/pdf/2410/241026045008.pdf. Acesso em: 30 set. 2019. 1 No Capítulo 6, serão abordados alguns desses guias com mais profundidade. 2 Em português: Associação de Auditoria e Controle de Sistemas de Informação. Planejamento público e governança 33 O artigo traz uma pesquisa feita com 44 gestores de TI no município de Natal, RN. Foram analisados os setores públicos e privados e mostrados os modelos de maturidade implementados, assim como as metodologias utilizadas e os impactos nos dois setores. • MEDEIROS, B. C. et al. Maturidade da governança de tecnologia da informação: diferenças entre organizações públicas brasileiras. Revista de Administração FACES Journal, Belo Horizonte, v. 15, n. 2, p. 82-99, abr./jun. 2016. Disponível em: http://www. fumec.br/revistas/facesp/article/view/3117/1960. Acesso em: 30 set. 2019. O artigo tem o objetivo de identificar os aspectos que diferenciam a maturidade da governança de TI em organizações públicas brasileiras. Tal estudo de caso retrata o modelo Cobit e seus níveis de maturidade da governança de TI, questões referentes à estratégia de negócios e liderança da área de TI. Atividades 1. O modelo de planejamento orçamentário brasileiro é definido na Constituição Federal e compõe-se de três instrumentos: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). Discorra sobre cada um desses instrumentos, comentando sua importância. 2. A visão contemporânea de governança possui diretrizes que possibilitam uma atuação prática. Selecione e descreva as diretrizes que estabelecem relação entre governança e melhoria de serviços à sociedade. 3. Cite algumas características da tecnologia da informação, gestão e governança que facilitam as ações descritas no capítulo. Referências BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 30 set. 2019. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública. Brasília: TCU, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, 2014. BRASIL. Câmara Federal dos Deputados. Orçamento da União. 2019. Disponível em: https://www2.camara. leg.br/orcamento-da-uniao. Acesso em: 9 out. 2019. BRASIL. Decreto n. 9.203, de 22 de novembro de 2017. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 23 nov. 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/D9203. htm. Acesso em: 9 out. 2019. DINIZ, E. Governabilidade, democracia e reforma do estado: desafios da construção de uma nova ordem no brasil dos anos 90. Revista de Ciências Sociais, v. 38, n. 3, p. 385-415, 1995. Tecnologia da informação em gestão pública34 FERNANDES, A. A.; ABREU, V. F. Implantando a governança de TI: da estratégia à gestão dos processos e serviços. 2. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2008. IBGC. O que é governança corporativa. 2019. Disponível em: https://www.ibgc.org.br/conhecimento/ governanca-corporativa. Acesso em: 30 set. 2019. ISACA. COBIT 5 – a business framework for the governance and management of enterprise IT. Rolling Meadows: ISACA, 2012. MENDONÇA, C. M. C. et al. Governança de tecnologia da informação: um estudo do processo decisório em organizações públicas e privadas. Revista de Administração Pública, v. 47, n. 2, p. 443-468, mar./abr. 2013. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2410/241026045008.pdf. Acesso em: 30 set. 2019. PEREIRA, J. M. Governança no setor público. São Paulo: Editora Atlas, 2010. ROSENAU, J. N. Governança sem governo: ordem e transformação na política mundial. Brasília: Ed. Unb; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000. SECCHI, L. Modelos organizacionais e reformas da administração pública. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n. 2, p. 347-369, mar./abr. 2009. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index. php/rap/article/view/6691/5274. Acesso em: 30 set. 2019. UNA-SUS. Responsabilidades gestoras no último ano de mandato. CONASEMS, 2016. VEIGA, M. A importância da governança na gestão pública. São Paulo: Tribunal de Contas do Município de São Paulo, 2018. WEILL, P.; ROSS, W. J. Governança de TI: como as empresas com melhor desempenho administram os direitos decisórios de TI na busca por resultados superiores. São Paulo: Makron Books, 2006. 3 Tecnologia da informação Considerando os conhecimentos necessários ao gestor público, cabe agora iniciar a abordagem sobre os temas que envolvem a tecnologia. De acordo com Valle (1996, p. 2), a “tecnologia é comumente conceituada como o conjunto de conhecimentos, especial e principalmente científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade; pode também ser considerada como uma ciência que trata da técnica”. Pode-se notar grandes saltos tecnológicos na história da humanidade, do motor de explosão aos carros elétricos, do raio-X à ressonância magnética, da hélice ao avião supersônico. A tecnologia comporta diversos temas, mas, nesta obra, o direcionamento é a tecnologia da informação, também chamada de TI ou TIC (em que o C se refere à comunicação). O próprio entendimento da expressão tecnologia da informação remete à compreensão de tudo aquilo que, no uso de aparatos tecnológicos, tenha como objeto a informação. Mas, o que vem a ser informação, então? 3.1 Informação Com a finalidade de aprofundar conhecimentos ou restringir incertezas, a informação nada mais é do que a reunião de dados sobre um determinado tema ou processo, esclarecendo- -os e dando-lhes significados (conhecimento). Conforme Miranda (1999), ela serve de subsídio para a tomada de decisões. Gomes e Dumont (2015, p. 133) também apontam na mesma direção, afirmando que “o mundo contemporâneo se constitui na perspectiva de que as informações são geradas para possibilitar novos conhecimentos [...] as tecnologias são consideradas necessárias para contribuir com o processo de organização, recuperação e transmissão da informação”. Assim, a TI é uma área que utiliza a computação como método para produzir as mais variadas informações. Nos campos da tecnologia, a informação pode ser considerada um conjunto dos dados processados em um computador, visto que ela gera resultados para um determinado objetivo. A seguir, é apresentada a pirâmide do conhecimento, na qual é possível observar que os dados geram informações e, a partir destas, é desenvolvido o conhecimento que, por fim, forma a sabedoria. Tecnologia da informação em gestão pública36 Figura 1 – Pirâmide do conhecimento Sabedoria Conhecimento Informação Dado Fonte: Adaptada de Bernstein, 2009, p. 69. É necessária uma boa distinção entre cada etapa da pirâmide para que seja possível definir bem o que se busca, o que se tem e o que é possível fazer com cada etapa. Compreender isso de forma equivocada pode gerar retrabalhos e perdas de resultados importantes. 3.1.1 Dados e informações A relação entre dados e informações é intrínseca, pois o primeiro é um conteúdo quantificável que, por si só, não transmite ou expressa uma situação ou conhecimento. Segundo Miranda (1999, p. 286), dado “é o conjunto de registros qualitativos ou quantitativos conhecido que organizado, agrupado, categorizado e padronizado adequadamente transforma-se em informação”. A informação vem de um processamento de dados que foram analisados e interpretados sob determinada perspectiva e, assim, qualificados para se tornarem uma base. Desse modo, sem eles, não há informação. O dado é a informação mais simples, mais
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