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TCC ABANDONO AFETIVO

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Prévia do material em texto

FAC – FACULDADE CURITIBANA 
 
 
 
 
 
 
 
Abandono Afetivo, Responsabilidade Civil 
 
 
 
 
 
 
 
Kathellen Kawane da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA/PR 
 
2022
 
 
 
 
Kathellen Kawane da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA 
Abandono Afetivo, Responsabilidade Civil 
 
 
 
 
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado na Faculdade de Direito da FAC- 
FACULDADE CURITIBANA como requisito básico 
para a conclusão do Curso de Direito. 
 
Orientador (a): Me. Andrei Mohr Funes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA/PR 
2022
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
S581r Silva, Kathellen Kawane da. 
 
 Responsabilidade Civil Por Abandono Afetivo 
/ Kathellen Kawane da Silva. Curitiba, Paraná. Brasil.2022. 
 
 56 f 
 
Orientador: Andrei Mohr Funes. 
 
Monografia apresenta a Faculdade Curitibana como requisito para o 
título de bacharel em Direito. 
 
1. Família. 2. Abandono afetivo. 3. Abandono afetivo inverso. 4. 
Responsabilidade civil. 5. Afetividade. I Título. 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como 
requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel 
em Direito 
 
 
___________________________ 
ANDREI MOHR FUNES 
Orientador 
____________________________ 
NOME 
Examinador 
____________________________ 
NOME 
Examinador 
 
 
Curitiba/PR, 31 de outubro de 2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Abandonar uma criança é destruir a imagem que 
ela tem de nós, no mundo dela somos perfeitos e 
insubstituíveis”. 
 Dan Cliver 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente agradeço a Deus por ter me dado força e coragem para superar todas 
as dificuldades, sendo sempre minha luz na escuridão. "O Senhor é a minha força e o 
meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda. Meu coração exulta de 
alegria, e com o meu cântico lhe darei graças". Salmos 28:7 
 
A toda minha familia agradeço o apoio e por me incentivarem a nunca desistir em 
especial meus pais e meu filho combustivel diário para sempre seguir em frente, 
para realização deste sonho. 
 
A todos professores, eu agradeço a orientação incansável, para contruibuir para 
minha formação, agradeço em especial o Professor Mestre Andrei a qual não mediu 
esforços para me ajudar transmitindo conhecimento e orientando o meu trabalho. 
 
E por fim agradeço a todos aqueles que de alguma forma, nesse processo 
contribuiram para que chegasse até aqui. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho tem como objetivo, expor a responsabilidade civil por abandono afetivo, 
assunto que possui diversas discussões acerca do tema, o trabalho também traz um 
breve relato para conhecimento de todos, sobre o abandono afetivo inverso. Desse 
modo abordaremos os princípios que tange o direito de família e a reparação por 
abandono afetivo, seja ele dos genitores para com os filhos ou dos filhos para com os 
pais, na velhice ou na doença, vale mencionar alguns princípios do direito de família, 
sendo eles, o princípio da afetividade, da paternidade responsável, da dignidade da 
pessoa humana e da proteção da criança e do adolescente e o melhor interesse da 
criança. No decorrer do trabalho veremos os danos causados pelo abandono afetivo 
e as diversas áreas pessoais que ele pode interferir, sendo elas na área emocional, 
psicológica, pois ninguém tem o dever de amar alguém, mas sim de cuidado e apoio 
emocional durante o seu desenvolvimento e a falta desse pode acarretar problemas 
irreversíveis do individuo em seu desenvolvimento, quando isso ocorre deverá a vitima 
ser reparada, mesmo não sendo possível medir a ausência deste genitor o mesmo 
devera indenizar pelo dano moral que ocasionou a outrem. Sobre a indenização do 
abandono afetivo temos aqueles com pensamentos controversos, ou seja, negativo, 
em prol da indenização por danos morais, mas também temos decisões favoráveis 
em relação a indenização, na responsabilidade civil, por abandono afetivo, afirmando 
que é de extrema responsabilidade o dever dos genitores em acompanhar seu filho 
até que não seja mais necessário, oferecendo todo suporte e atenção e quando isso 
não ocorre existe o dever de indenizar. 
 
Palavras-chave: Família; Abandono afetivo; Abandono afetivo inverso; 
Responsabilidade civil; Afetividade 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This paper aims to expose the civil liability for abandonment of affection, a subject that 
has several discussions on the subject, the work also brings a brief report for 
everyone's knowledge about the reverse abandonment of affection. In this way we will 
address the principles that affect family law and reparation for affective abandonment, 
whether the parents towards their children or children towards their parents, in old age 
or disease, it is worth mentioning some principles of family law, and they are, the 
principle of affectivity, responsible parenthood, human dignity and protection of 
children and adolescents and the best interests of the child. Throughout the work we 
will see the damage caused by abandonment and the various personal areas that it 
can interfere, and they are in the emotional area, psychological, because no one has 
a duty to love someone, but care and emotional support during their development and 
the lack of this can lead to irreversible problems of the individual in his development, 
when this occurs the victim should be repaired, even though it is not possible to 
measure the absence of this parent it should compensate for the moral damage caused 
to others. About the compensation for abandonment of affection we have those with 
controversial thoughts, i.e., negative, in favor of compensation for moral damages, but 
we also have favorable decisions regarding compensation, in civil liability, for 
abandonment of affection, stating that it is of extreme responsibility the duty of parents 
to accompany their children until it is no longer necessary, offering all support and 
attention and when this does not occur there is the duty to compensate. 
 
Key-words: Family; Emotional Abandonment; Inverse Emotional Abandonment; 
Liability; Affectivity Security. 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ___________________________________________________ 10 
2 DIREITO DE FAMÍLIA _____________________________________________ 11 
2.1 Noções gerais sobre família _____________________________________ 11 
2.2 FAMÍLIA NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 _________________ 12 
2.3 PRINCÍPIOS INERENTES A RELAÇÃO FAMILIAR ___________________ 13 
a) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ________________________ 14 
b) Princípio da Afetividade no Direito de Família _______________________ 15 
c) Princípio da Igualdade Jurídica entre os Cônjuges e Companheiros _____ 16 
d) Princípio da Igualdade Jurídica dos Filhos __________________________ 16 
e) Princípio da Paternidade Responsável e do planejamento familiar _______ 17 
f) Princípio da Solidariedade Familiar _______________________________ 17 
g) Princípio da Liberdade __________________________________________ 18 
h) Princípio do Pluralismo Familiar __________________________________ 18 
i)Princípio da Consagração do Poder Familiar _________________________ 19 
j) Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente ____________ 19 
k) Princípio da Função Social da Família ____________________________ 20 
2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL E SUA EVOLUÇÃO ____________________ 20 
2.4.1 Responsabilidade Civil _______________________________________ 20 
2.4.2 Evolução histórica ___________________________________________ 21 
2.4.3 Responsabilidade civil no direito de família _______________________ 22 
3 CONCEITO ______________________________________________________ 23 
3.1 Posicionamento na teoria geral do direito _________________________ 23 
3.3 Função da responsabilidade civil ________________________________ 24 
3.4 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE _____________________________ 25 
3.5 Responsabilidade Civil nas Relações Familiares ___________________ 26 
3.6 Responsabilidade contratual e extracontratual _____________________ 26 
3.7 Responsabilidade subjetiva e objetiva ____________________________ 27 
3.8 Pressupostos da Responsabilidade Civil __________________________ 28 
a) Conduta ____________________________________________________ 28 
b) Dano _______________________________________________________ 29 
c) Nexo de causalidade ___________________________________________ 30 
3.4.1 Da competência no julgamento da responsabilidade civil nas relações de 
 
 
 
família ________________________________________________________ 30 
4 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO ______________ 32 
4.1 CONCEITO ___________________________________________________ 32 
4.2 Responsabilidade nas relações familiares _________________________ 32 
 4.2.1 Penalidades pelo abandono afetivo e o dever de indenizar ___________ 34 
4.3 DO ABANDONO AFETIVO ______________________________________ 35 
 4.3.1 Direito ao Afeto _____________________________________________ 36 
4.3.2 Danos causados pelo abandono afetivo na vida do individuo _________ 37 
4.3.3 Abandono afetivo inverso ____________________________________ 39 
4.4. Responsabilidade civil e sua relação com o abandono afetivo ________ 40 
4.4.1 Quantum indenizatório _______________________________________ 42 
4.4.2 Fixação da indenização por Abandono Afetivo _____________________ 44 
4.5 EMBASAMENTO LEGAL________________________________________ 45 
4.5.1 Entendimentos Contrários ao Abandono Afetivo ___________________ 46 
4.5.2 Entendimentos favoráveis ao Abandono Afetivo ___________________ 48 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ___________________________________________ 51 
REFERÊNCIAS ____________________________________________________ 53 
 
 
 
10 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O abandono afetivo é um tema que gera controvérsias dentro do ordenamento 
jurídico, os que são contrários dizem que ninguém é obrigado a amar alguém, já as 
decisões favoráveis garantem que é dever dos genitores cuidar, e ter afeto com seus 
filhos e a falta desse cuidado ocasiona danos irreversíveis na vida da criança e 
adolescente, visto isso é possível a indenização pela responsabilidade civil, por 
abandono afetivo, desde que comprovado que houve a conduta, ato ilícito e o nexo 
causal. 
É de suma importância destacar que o presente trabalho é formado por três 
capítulos, o primeiro capítulo traz o histórico familiar dentro do direito de família, 
analisamos os princípios norteadores do direito de família, estando em destaque o 
princípio da afetividade, da paternidade responsável, da dignidade da pessoa humana 
e da proteção da criança e do adolescente e o melhor interesse da criança. 
No segundo capítulo o trabalho aborda a responsabilidade civil e sua evolução 
histórica, detalhando os pressupostos necessários para que ocorra a responsabilidade 
civil e o dever de indenizar. 
Por fim o último capítulo aborda o abandono afetivo e o dano causado a vítima, 
para conhecimento de todos o trabalho aborda um estudo social trazendo dados de 
suma importância onde relata o grande numero de crianças nascidas apenas com o 
nome da mãe e o número da criminalidade. 
Observamos os critérios utilizados para fixar o quantum indenizatório, abordamos 
jurisprudências contra e favoráveis ao abandono afetivo, mostrando os fundamentos 
para tais entendimentos. 
Podemos afirmar que este trabalho tem como finalidade discutir a 
responsabilidade civil e sua aplicação no âmbito familiar, analisando os danos 
causados pelos genitores que abandonam seus filhos e pelos filhos que abandonam 
seus pais na velhice ou na doença, tendo esses o dever de indenizar. 
Todavia para realização do presente trabalho foi utilizado método de pesquisa 
bibliográfico, doutrinas, legislação pertinente ao tema e jurisprudências cabíveis, bem 
como artigos científicos, textos e notícias da internet. 
11 
 
 
2 DIREITO DE FAMÍLIA 
 
 
2.1 Noções gerais sobre família 
 
 
Podemos destacar que ao longo dos anos o conceito de família teve mudanças 
históricas significativas, segundo observa Morgan (1877, p. 49). 
 
Partes da família humana existiram num estado de selvageria, outras partes 
em um estado de barbárie, e outras, ainda, no estado de civilização, por isso 
a história tende à conclusão de que a humanidade teve início na base da 
escala e seguiu um caminho ascendente, desde a selvageria até a civilização, 
através de acumulações de conhecimento e experimentos, invenções e 
descobertas. 
 
O conceito de família se dava por um pai chefe do lar, a mulher cuidando dos 
filhos e submissa ao marido, não era permitido família homossexuais, como cita Maria 
Berenice Dias (2016, p. 59), 
 
Historicamente, a família sempre esteve ligada à ideia de instituição 
sacralizada e indissolúvel. A ideologia patriarcal somente reconhecia a família 
matrimonialista, hierarquizada, patrimonialista e heterossexual, atendendo à 
moral conservadora de outra época, há muito superada pelo tempo. [...] A 
ideologia patriarcal converteu-se na ideologia do Estado, levando-o a invadir 
a liberdade individual, para impor condições que constrangem as relações de 
afeto. 
 
 
Convém mencionar que o direito de família brasileiro teve grande influência 
canônica e romana, e só recentemente devido a grandes acontecimentos históricos, 
culturais e sociais é que o direito de família passou a caminhar sozinho. 
Todavia vale destacar que a visão do século passado que família deveria ser 
pai, chefe de família, mulher submissa cuidando dos filhos caiu por si, atualmente 
família é considerado um ente despersonalizado sendo ela a base da sociedade, 
moldado pelo vínculo da sociedade não cabendo ao Estado moldá-lo apenas 
reconhecê-lo. 
Convém destacar três características de família sendo elas: 
SOCIOAFETIVA – Onde a noção de família é moldada pela afetividade. É 
pacífico no STJ que a paternidade socioafetiva prevalece sobre a genética. 
12 
 
 
EUDEMONISTA – Diz-se que a função social da família é buscar a felicidade 
de cada membro. 
ANAPARENTAL – Ocorre o reconhecimento da família mesmo quando não 
exista vínculo parental técnico entre os seus integrantes. 
 
 
2.2 A FAMÍLIA NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 
 
 
Podemos destacar que não foi a partir da promulgação da Constituição Federal 
de 1988 que a mudança na concepção de família ocorreu. A lei apenas codificou os 
valores já sedimentados, reconhecendo a evolução da sociedade e o inegável 
fenômeno social das uniões, o legislador apenas ampliou o seu conceito protegendo 
seus membros de forma igualitária. Vale ressaltar que a Constituição Federal de 1988 
tratou o Direito de Família de forma especial, reservando um capítulo apenas para 
este ramo do Direito (Capítulo VII do Título VIII) , onde sofreu grande 
transformação, todavia convém mencionar que o modelo de família é fundado em 
preceitos como a igualdade, solidariedade e do respeito à dignidade da pessoa 
humana, fundamentos direto e ao mesmotempo objetivos do Estado brasileiro. 
Vale mencionar que a natureza do direito de família é ramo do direito privado, 
apesar da intervenção estatal, devido à importância social da família; é direito 
extrapatrimonial, não admitindo condição ou termo ou exercício por meio de 
procurador); suas normas são cogentes ou de ordem pública; suas instituições 
jurídicas são direitos-deveres. A nova Constituição confirmou normas já existentes no 
ordenamento jurídico brasileiro como a gratuidade do casamento e a garantia de 
efeitos civis ao casamento religioso, reconheceu como entidade familiar a união 
estável entre o homem e a mulher, ao igualar ambos na sociedade conjugal, foi vetado 
todas as diferenças de direitos de qualificação ou de tratamento entre os filhos havidos 
na constância do casamento ou fora dele, ou por adoção, convém destacar que a 
Constituição Federal de 1988 foi o primeiro dispositivo jurídico brasileiro a reconhecer 
e igualar o afeto como formador da família, sem distinção aos laços decorrentes dos 
casamento ou sangue. 
 
13 
 
 
Podemos enfatizar que Gonçalves aborda a revolução do direito de família na 
constituição de 1988 a partir de três eixos básicos (2012, p.17): 
 
Assim, o art. 226 afirma que “a entidade familiar é plural e não mais singular, 
tendo várias formas de constituição”. O segundo eixo transformador 
“encontra-se no § 6º do art. 227. É a alteração do sistema de filiação, de sorte 
a proibir designações discriminatórias decorrentes do fato de ter a concepção 
ocorrido dentro ou fora do casamento”. A terceira grande revolução situa-se 
“nos artigos 5º, inciso I, e 226, § 5º. Ao consagrar o princípio da igualdade 
entre homens e mulheres, derrogou mais de uma centena de artigos do 
Código Civil de 1916” 
 
Nota-se que a Constituição de 1988 apresenta grandes reformas, mas a 
sociedade e consequentemente o direito são dinâmicos, todavia novos temas estão 
surgindo para desafiar o legislador, como as inseminações artificiais, útero de aluguel, 
mudança de sexo, relacionamentos homoafetivos entre outros assuntos que devem 
ser decididos no direito e família. 
 
É preciso levar em consideração as transformações da sociedade diante do 
tempo para que a Constituição possa promover novos direitos, a fim de que 
atrocidades não sejam repetidas. Diante desse novo texto constitucional, 
ocorre a reinterpretação do direito civil, com força normativa não apenas para 
se adaptar a uma nova realidade, e sim, com força ativa para impor tarefas. 
O direito civil constitucionalizou-se, afastando-se da concepção individualista, 
tradicional e conservadora das outras codificações, culminando na 
universalização e humanização do direito das famílias (DIAS, 2016, p. 46). 
 
O IBGE (Brasileiro de Geografia e Estatística) trouxe um conceito de família de 
suma importância, pois, determinou que para conceituar família basta apenas analisar 
se são: “Grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco ou relacionamento 
romântico que vivem numa unidade doméstica” (senso 2010) 
 
 
2.3 PRINCIPIOS INERENTES A RELAÇÃO FAMILIAR 
 
 
Em virtude das várias situações em face da complexidade das sociedades 
atuais a lei não consegue prever todas as situações, visto isto é feito uma análise 
sistemática de um caso, ou seja, não é feita na letra da lei, mas levando em conta a 
interpretação da mesma à luz dos princípios jurídicos, a jurisprudência e a doutrina. 
Vale mencionar que a palavra princípio significa começo, ou seja, ponto de 
14 
 
 
partida, no direito seu significado é de causa, que justifica porque as coisas são da 
maneira que são, os princípios são os alicerces que regem os preceitos para toda 
espécie de operação jurídica. Segundo Carlos Roberto Gonçalves diz que: 
 
O Direito de Família é o mais humano de todos os ramos do direito e em 
razão disto, e pelo sentido ideológico e histórico de exclusões, é necessário 
pensá-lo atualmente com a ajuda e pelo ângulo dos direitos humanos, cuja 
base e ingredientes estão diretamente relacionados à noção de cidadania. 
 
Os princípios do direito de família não são taxativos, eles são entendimento de 
outros princípios gerais e relevância, destacasse entre eles o Princípio da Dignidade 
da Pessoa Humana, Princípio da Igualdade Jurídica entre os Cônjuges e 
Companheiros, Princípio da Igualdade Jurídica dos Filhos, Princípio da Paternidade 
Responsável, Princípio da Solidariedade, Princípio da Afetividade e da Convivência 
Familiar, Princípio do Pluralismo Familiar, Princípio da Consagração do Poder 
Familiar, Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente, Princípio da 
Afetividade, Princípio da Função Social da Família. 
 
 
a) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
 
 
O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana pode ser entendido como a garantia 
da necessidade de cada indivíduo, esse princípio trouxe a valorização do indivíduo 
dentro da família, assegurando os seus direitos de personalidade, tem sua previsão 
no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal. Segundo Diniz (2012, p. 37): 
 
Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana (CF, art.1º,III), que 
constitui base da comunidade familiar (biológica ou socioafetiva), garantindo, 
tendo por parâmetro a afetividade, o pleno desenvolvimento e a realização de 
todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente (CF, art. 
227). 
 
Segundo destaca Ingo Wolfgang Sarlet (2004, p.52) 
 
A doutrina destaca o caráter intersubjetivo e relacional da dignidade da 
pessoa humana, sublinhando a existência de um dever de respeito no âmbito 
da comunidade dos seres humanos.”, ou seja, a família é tida como um 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
15 
 
 
espaço comunitário para uma existência digna e de comunhão com os outros. 
 
Pode-se concluir que os Direitos Humanos estão entrelaçados à Dignidade da 
Pessoa Humana, visando sempre a igualdade entre o homem e a mulher, visa também 
o reconhecimento e igualdade entre os diferentes modelos de família, na igualdade e 
equiparação entre os filhos sendo eles sanguíneos ou adotados. 
 
 
b) Princípio da Afetividade no Direito de Família 
 
 
É de conhecimento geral que afeto quer dizer interação ou ligação entre pessoas, 
podendo ter carga positiva ou negativa, todavia o afeto positivo é o amor sendo o 
negativo é o ódio, ambas as formas amor e ódio, estão presentes nas relações 
familiares. 
 Na atualidade o afeto é o que vem moldando as famílias contemporâneas, elas 
são formadas por laços de afetividade onde as pessoas devem ter comunhão de vida 
e estabilidade nas relações afetivas, toda via esse princípio está de forma implícita na 
Constituição Federal, sendo um elemento inspirador da família. 
Segundo descreve Rolf Madaleno: 
 
O afeto é a mola propulsora dos laços familiares para dar sentido e 
dignidade à existência humana. Nos vínculos de filiação e parentesco a 
afetividade deve estar sempre presente, pois os vínculos consanguíneos 
não se sobrepõem aos liames afetivos, ao contrário, a afetividade pode 
sobrepor-se aos laços consanguíneos. 
 
A afetividade se faz presente no Código Civil, em fulcro do artigo 1511, onde 
exige plena comunhão de vida no casamento, a Lei Maria da Penha (artigo 5º, II) e 
o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 12.010/2009, acrescentado parágrafo 
único ao artigo 25) se encontram também o princípio da afetividade. 
Todavia o princípio da afetividade contribuiu para o reconhecimento jurídico 
da união homoafetiva, sendo a decisão histórica embasada pelo STF em 5 de maio 
de 2011, publicada no seu informativo n. 625, também favoreceu para o 
reconhecimento de reparação por abandono afetivo podemos também pontuar o 
reconhecimento da parentalidade socioafetiva como nova forma de parentesco, 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/818490/lei-12010-09
16 
 
 
onde está enquadrada na cláusula geral do art. 1.593 do CC/2002. 
Dias (2015, p. 47) destaca que: 
 
A organização e a própria direção da família repousam no princípio da 
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (CC 1.511), tanto que compete 
a ambos a direção da sociedade conjugal em mútua colaboração (CC 1.567). 
São estabelecidos deveres recíprocos e atribuídos igualitariamente tanto ao 
marido quanto à mulher (CC 1.566). Também em nome da igualdade é 
permitido a qualquer dos nubentes adotar o sobrenome do outro (CC 1.565 § 
1.º). É acentuada a paridade de direitos e deveres do pai e da mãe no 
respeitante à pessoa (CC 1.631) e aos bens dos filhos. 
 
 
c) Princípio da Igualdade Jurídica entre os Cônjuges e Companheiros 
 
 
De acordo com a Constituição Federal Brasileira, instaurada em 1988, igualou 
homens e mulheres, no que tange os deveres e obrigações, posteriormente utilizou-
se da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescentes (Lei nº 8.069/90) e do 
Código Civil de 2002, a mulher passa a exercer o poder de família em conjunto com o 
homem, em fulcro do artigos 1566, III E IV, 1.631 e 1634 do Código Civil de 2002, 
artigo 226, parágrafo 5º e 227, parágrafo 7º da CF, todavia também podemos 
mencionar o artigo 21 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 É de fundamental importância mencionar que a igualdade deste princípio abrange 
todos os modelos de família, onde o tratamento igualitário aplica-se as pessoas 
visando à isonomia constitucional em defesa da dignidade da pessoa humana. 
 
 
d) Princípio da Igualdade Jurídica dos Filhos 
 
 
Segundo a Constituição Federal de 1988, o princípio da igualdade jurídica entre os 
filhos está localizado nos artigos 2.276 º e 1.596 seguintes: 
 
Art. 2276º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou 
por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer 
designações discriminatórias relativas à filiação. 
17 
 
 
 
Art. 1.596 - Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou 
por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer 
designações discriminatórias relativas à filiação. 
 
É de fundamental relevância destacar que os filhos legítimos, naturais ou 
adotivos exercerão todos os deveres e direitos de forma igualitária, havendo também 
a possibilidade de reconhecimento do filho fora do casamento com fundamento no 
artigo 1.607, CC/2002. Para Maria Helena Diniz a única diferença entre os filhos seria 
o ingresso, ou não, no âmbito jurídico para o seu reconhecimento. 
 
 
e) Princípio da Paternidade Responsável e do planejamento familiar 
 
 
Este princípio significa responsabilidade, todavia está começa na concepção e 
se estende até que não seja mais necessário este acompanhamento, convém 
mencionar que mesmo tendo todo suporte material é de suma importância a 
assistência mental, acompanhamento, convivência na educação, orientações, afeto, 
entre outros, a dissolução de um casamento não deve ser motivo para o abandono 
afetivo, e negligenciar os filhos. O planejamento familiar está regulamentado pela Lei 
9.263/9, que regula o parágrafo 7º do artigo 227 da Constituição Federal, onde 
estabelece orientações, prevenção e formas para o planejamento familiar. 
Podemos concluir que esse princípio visa o planejamento familiar de forma 
racional, consciente e independente, para que o indivíduo possa se desenvolver 
naturalmente, uma sociedade consciente busca o planejamento natural da família 
como um projeto global de amor, vida, saúde e justiça. 
 
 
f) Princípio da Solidariedade Familiar 
 
 
Convém ressaltar que a palavra solidariedade é definida como o compromisso 
que as pessoas possuem umas com as outras, podemos usar como exemplo os pais 
que cuidam dos filhos, os filhos precisam cuidar dos pais na velhice, segundo esse 
18 
 
 
princípio, ele é o auxílio mútuo, material e moral. 
visto isso observa-se que este princípio tem origem nos vínculos afetivos, este 
princípio tem como base o artigo 3º, I, da Constituição Federal, “Artigo 3º Constituem 
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade 
livre, justa e solidária.” 
 
 
g) Princípio da Liberdade 
 
 
Certamente este é um dos princípios com maior relevância dentro do âmbito do 
direito de família, se encontra no código civil onde visa estabelecer limites de qualquer 
pessoa ou até mesmo do Estado na constituição familiar, no regime de bens e até 
mesmo na partilha destes, este princípio da autonomia aos indivíduos para iniciar ou 
até mesmo realizar a extinção da entidade familiar. 
 
 
h) Princípio do Pluralismo Familiar 
 
 
O modelo de família vem se moldando ao longo dos anos, adquirindo novas 
formas, trazendo consigo mudanças sociais de extrema importância, dentro das 
relações familiares, a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 226, parágrafo 3º e 
4º, contribuiu para esse pluralismo abrangendo nos novos modelos de família. Além 
da família matrimonial, é considerado família aquelas derivadas pela união estável 
entre o homem e a mulher e as monoparentais, aquelas formadas por apenas um dos 
pais e seus descendentes, todavia é importante destacar que o legislador foi amplo 
ao considerar várias possibilidades de arranjos familiares. 
Esse princípio trouxe uma visão mais ampla sobre os modelos de família, 
tirando aquela exclusividade da família formada apenas pelo homem e a mulher, 
dentro de um matrimonio, ele assegura os direitos a liberdade de se formar a família 
de maneira desejada, aceitando seja elas as famílias plurais ou homoafetivas. 
 
19 
 
 
 
i) Princípio da Consagração do Poder Familiar 
 
 
O poder de dirigir a família é exercido em conjunto por ambos os genitores, 
trata da igualdade entre os cônjuges e companheiros, dentro de uma sociedade 
conjugal, ambos possuem os mesmos direitos e deveres em igualdade de condições, 
não há, portanto, superioridade entre o homem e a mulher em nenhum aspecto do 
poder familiar. Esse princípio se baseia no artigo 226 parágrafo 5º da CF. 
 
 
j) Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente 
 
 
Convém enfatizar que este princípio tem previsão jurídica na Constituição 
Federal de 1988, artigo 227, caput, e no Estatuto da Criança e do Adolescente, artigos 
4º, caput, e 5º. Todavia vale mencionar que o Brasil adotou em 1990 a Convenção 
Internacional dos Direitos da Criança, consagrando esse princípio em seu artigo 3º, I. 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, 
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda 
Constitucional nº 65, de 2010). 
 
Todavia este princípio tem como principal função manter a proteção da 
dignidade da criança e do adolescente, visando sua liberdade de expressão, ouvindo 
sempre a sua vontade, permite a convivência baseados em laços afetivos com 
aqueles que é considerado como pais, mesmo que não possuem consanguinidade, 
autorizando também o reconhecimento jurídico da paternidade socioafetiva. 
 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm#art2
20 
 
 
k) Princípio da Função Social da Família 
 
 
Como já vimos a família tem uma função fundamental na sociedade, pois é nela 
que se forma o indivíduo, ela serve como ambiente para o seu desenvolvimento, 
fundamentada nos valores e princípios que tange o direito de família, a Constituição 
Federal consagra a família como base da sociedadeem fulcro do seu artigo 226 caput. 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e 
ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
 
2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL E SUA EVOLUÇÃO 
 
 
2.4.1 Responsabilidade Civil 
 
 
Convém enfatizar que responsabilidade civil é toda ação ou omissão que 
deriva da violação de uma norma jurídica legal ou contratual, quando isso ocorre 
nasce a obrigação de reparar o ato danoso. 
Vale ressaltar que a teoria clássica da responsabilidade civil tem como 
fundamento a culpa como a obrigação de reparar o dano, conforme essa teoria se 
não há culpa não há obrigação de reparar o dano, é necessário a comprovação do 
nexo de causalidade com o dano e a culpa do agente. Podemos então concluir que 
para ocorrer a responsabilidade civil se faz necessário a verificação desses três 
elementos, o ato ilícito, o dano e o nexo de causalidade. 
Institui o Código Civil. 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente 
moral, comete ato ilícito. (Código Civil 2002). 
 
21 
 
 
2.4.2 Evolução histórica 
 
 
 No que tange o início da humanidade, os atos sobre vinganças coletivas 
dominavam, onde os grupos revidavam qualquer agressão que ocorresse com um dos 
seus integrantes. 
Vale mencionar que no direito romano imperava a vingança privada, ou seja, a 
individual, onde era dente por dente e olho por olho, provocando uma reação imediata, 
instintiva e brutal do ofendido, que valia da Lei de Talião regida. O poder público 
intervinha apenas para declarar quando e como a vítima sofreria retaliação, devendo 
ser está proporcional ao dano que sofreu. 
Neste sentido leciona Venosa: 
 
O famoso princípio da Lei de Talião, da retribuição do mal pelo mal. “olho por 
olho”, já denota uma forma de reparação do dano, Na verdade o princípio e 
da natureza humana, qual seja reagir a qualquer mal injusto perpetrado 
contra a pessoa, a família ou ao grupo social. 
 
Com o decorrer do tempo a vingança foi substituída pela reparação do dano, 
sendo ela uma prestação de pagamento, esse pagamento era uma quantia 
determinada pela reparação do dano causado, podemos analisar que essa 
composição era mais eficiente que a retaliação, pois nesta gerava um dano duplo: o 
da vítima e o do ofensor depois de punido. 
Com o decorrer do tempo o legislador entendeu que justiça com as próprias 
mãos não era apropriado, tornando a composição obrigatória e tarifada, de acordo 
com o dano era o valor estabelecido para pagamento. 
Convém mencionar que a reparação se iniciou com a diferenciação dos delitos 
públicos e dos delitos privados, onde a quantia devida pelo réu era devida aos cofres 
públicos, isto se o delito fosse público e devido à vítima se o delito fosse privado. O 
Estado assumiu para si a função de punir e surgiu então a ação de indenização. 
 
 
 
 
 
22 
 
 
2.4.3 Responsabilidade civil no direito de família 
 
 
Analisando o cenário atual, podemos observar que a responsabilidade civil no 
Direito de Família ainda é tema muito controverso, pois não é amparado por um 
embasamento legal sim derivado de entendimentos doutrinários e julgados 
jurisprudenciais, a responsabilidade civil é subjetiva. 
Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald destacam a possibilidade de incidência das 
normas da responsabilidade civil no âmbito das relações familiares: 
 
Seguramente, a obrigação de reparar danos patrimoniais e extrapatrimoniais 
decorrentes da prática de um ato ilícito também incide no Direito das Famílias. 
Por certo, não se pode negar que as regas da responsabilidade civil invadem 
todos os domínios da ciência jurídica, ramificando-se pelas mais diversas 
relações jurídicas, inclusive as familiaristas (FARIAS, 2013, p. 162). 
 
A responsabilidade civil é tanto a culpa, como o risco, onde o próprio fato da coisa 
ou exercício de atividades perigosas, gera para quem a exerce a obrigação de 
responder pelos eventuais danos a usuários e consumidores. 
 
 
 
23 
 
 
3 CONCEITO 
 
 
 É de crucial importância destacar que toda ação que de alguma forma gerar 
prejuízo a outrem tem o dever de ser reparado, fundamentado na responsabilidade 
civil, pois está tem como objetivo trazer a harmonia, equilíbrio moral e patrimonial em 
razão do dano ocorrido, devendo o causador do prejuízo restaurar o status quo ante 
que significa no “mesmo estado de antes”. 
Gonçalves ensina que: 
 
Toda atividade que acarreta prejuízo traz em seu bojo, como fato social, o 
problema da responsabilidade. Destina-se ela a restaurar o equilíbrio moral e 
patrimonial provocado pelo autor do dano. Exatamente o interesse em 
restabelecer a harmonia e o equilíbrio violados pelo dano constitui a fonte 
geradora da responsabilidade civil. 
 
 É de fundamental enfatizar que há diferença entre a responsabilidade jurídica 
da responsabilidade moral, sendo a responsabilidade moral onde ocorre as infrações 
de normas morais e religiosas que atuam na consciência individual, sem causar danos 
a terceiros, já a responsabilidade jurídica ocorre quando à um descumprimento dela, 
ocasionando danos a alguém ou a uma coletividade. 
Podemos então concluir que a responsabilidade nasce com a falta de 
cumprimento da obrigação. Segundo afirma Diniz: 
 
Poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que 
obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiro em 
razão de ato do próprio imputado, de pessoas por quem ele responde, ou de 
fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda de simples imposição legal. 
Definição esta que guarda em sua estrutura a ideia de culpa quando se cogita 
a existência de ilícito (responsabilidade subjetiva) e a do risco, ou seja, da 
responsabilidade sem culpa (responsabilidade objetiva). 
 
 
3.1 Posicionamento na teoria geral do direito 
 
 
Convém mencionar que a responsabilidade civil deriva de um ato jurídico, 
podendo ser este lícito ou ilícito, vale destacar que o ato jurídico é uma espécie de 
fato jurídico, ou seja, todo aquele que possui importância para o direito, caso não 
24 
 
 
ocorra a importância é tratado apenas como fatos, não sendo assim “fatos jurídicos”, 
os fatos jurídicos podem ser de natureza humana e natural. 
Todavia os fatos naturais derivam da natureza, são fatos ordinários o 
nascimento, morte... Já os extraordinários são as tempestades, terremotos, em caso 
fortuito e força maior. Os fatos humanos podem ser lícitos e ilícitos, podemos 
classificar os fatos lícitos sendo aqueles que estão de acordo com o ordenamento 
jurídico, já os fatos ilícitos são aqueles que vão contra o ordenamento jurídico, 
produzindo efeitos contrários. É de suma importância destacar que os atos ilícitos se 
subdividem em negócio jurídico, ato jurídico, ato jurídico em sentido estrito e ato-fato 
jurídico, o último ato é praticado pelo homem de forma involuntária produzindo efeitos 
previstos em lei. 
Vale destacar que no negócio jurídico e o ato jurídico em sentido estrito 
derivam da manifestação de vontade, sendo caracterizado pela composição de 
interesses e declaração de vontades, sendo necessário a manifestação de vontade 
como ocorre com os contratos, já o segundo tem sua característica pela conduta do 
agente que produz efeitos já previstos em lei, podemos mencionar como o exemplo o 
reconhecimento da paternidade. 
 
 
3.3 Função da responsabilidade civil 
 
 
Todavia quando se falamos em responsabilidade civil, temos em mente que 
alguém sofreu um dano e precisa ser reparado, o que de fato está correto, pois 
responsabilidadeé um aspecto social que tem o dever de reparação sendo ela, 
responsabilidade civil objetiva ou subjetiva, com fulcro a restabelecer o status 
quo ocasionada pelo prejuízo 
 Segundo entende Diniz: 
 
Logo, o princípio que domina a responsabilidade civil na era contemporânea 
o da restutitio in integrum, ou seja, da reposição completa da vítima a situação 
anterior à lesão, por meio de uma reconstituição natural, de recurso a uma 
situação material correspondente ou de indenização que represente de modo 
mais exato possível o valor do prejuízo no momento de seu ressarcimento, 
respeitando assim sua dignidade. 
 
25 
 
 
Para mensurar um dano é necessário fazer uma análise entre a situação na 
data da sentença, e como estaria o individuo se este dano não houvesse ocorrido na 
mesma data sem este dano. Vale destacar que a responsabilidade civil possui três 
funções sendo elas, reparatória (compensatória), punitiva (sancionatória) e preventiva 
(dissuadora). Segundo Diniz, é dupla a função da responsabilidade civil, sendo a 
primeira delas a garantia que o individuo lesado possui, a segunda servir como sanção 
civil de natureza compensatória, reparando a vítima e punindo o lesado, para 
desestimular a ocorrência do dano. 
 
 
3.4 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE 
 
 
É de extrema relevância destacar que a responsabilidade civil, como conflito 
jurídico decorre da convivência conflituosa do homem e a sociedade, até um 
determinado momento da historia a responsabilidade subjetiva era suficiente para a 
resolução de todos os conflitos, posteriormente a doutrina e a jurisprudência passaram 
a entender que este modelo baseado na culpa não era o suficiente para a resolução 
de todos os conflitos existentes, essa mudança se fez em relação a evolução industrial 
e o aumento em acidentes de trabalho. 
A responsabilidade civil, tem como função reestabelecer a reparação do dano 
entre o lesado e o autor do dano, recolocando o lesado no status “quo ente”, a 
responsabilidade civil objetiva evidencia-se através das clausulas gerais, nos quais 
estão baseados os artigos 927 e 187, do Código Civil de 2002, o qual se denomina 
abuso de direito, ou seja, comete ato ilícito o tutelar de um direito que, ao exercê-lo, 
manifestam-se os limites impostos pelo seu econômico ou social, pela boa fé ou pelos 
bons costumes, segundo Cavalieri (2011, p.136), haverá obrigação de reparo o dano 
independente da culpa, nos casos específicos em lei, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar risco. 
Explica Cavalieri (2011, p.130) que a atividade de risco é probidade e perigo 
(risco inerente), mas a obrigação de indenizar só surge quando alguém viola dever 
jurídico e causa dano a outrem, podemos observar que não é o risco, mas sim o dano 
causado pela violação do dever jurídico, sem esta violação não a o que falar em 
26 
 
 
responsabilidade. 
 
 
3.5 Responsabilidade Civil nas Relações Familiares 
 
 
De acordo com o Código Civil de 2002, em seus artigos 186 e 927, estabelece 
as normas da responsabilidade civil, o dever de indenizar ocorre sempre que ocorrer 
um dano causado a outrem em decorrência de um ato ilícito, este ato estará presente 
sempre que houver a ação ou omissão voluntária, negligencia, imprudência ou 
imperícia, ocorrer a violação do direito e lesão, sendo de cunho material ou moral. Nas 
relações de família destacam Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald a possibilidade 
de incidência das normas da responsabilidade civil no âmbito das relações familiares: 
 
Seguramente, a obrigação de reparar danos patrimoniais e extrapatrimoniais 
decorrentes da prática de um ato ilícito também incide no Direito das Famílias. 
Por certo, não se pode negar que as regas da responsabilidade civil invadem 
todos os domínios da ciência jurídica, ramificando-se pelas mais diversas 
relações jurídicas, inclusive as familiaristas (FARIAS, 2013, p. 162). 
 
Em suma no que tange o direito de família e a responsabilidade civil que a cerca, 
está é de forma subjetiva, devendo estar presentes os pressupostos de responsabilidades, 
ou seja, o ato ilícito, dano e nexo causal, desse modo estando presentes pode exigir-se a 
indenização no âmbito do direito de família. 
 
 
3.6 Responsabilidade contratual e extracontratual 
 
 
A responsabilidade civil contratual, ocorre quando existe um contrato e este 
resulta em um ato ilícito, que por algum motivo não ocorreu a sua efetivação, podendo 
ser de uma ação ou omissão, somados à culpa ou dolo, nexo e o consequente dano, 
todavia o não cumprimento do contrato faz surgir uma nova obrigação no lugar da 
anterior, seja ela reparar o prejuízo da primeira obrigação, a responsabilidade 
contratual ocorre de uma violação de uma obrigação anterior, sendo o ônus da prova 
do devedor, desse modo este deve provar a inexistência de sua culpa ou qualquer 
27 
 
 
excludente do dever de indenizar. 
Na responsabilidade civil extrapatrimonial, ou aquilina, o agente não possui o 
vinculo contratual com a vítima, mas sim o vínculo legal, uma vez que, por conta do 
descumprimento de um dever legal, o agente por ação ou omissão, com nexo de 
causalidade e culpa ou dolo, causará à vítima um dano. O artigo art. 927 do CC/02 
que impõe a quem causa dano a outrem o dever de reparar. Aqui caberá a vítima 
provar a culpa do agente. A responsabilidade extracontratual inclui a responsabilidade 
sem culpa gerada no risco. 
Sobre responsabilidade contratual e extracontratual ensina Venosa: 
 
A doutrina contemporânea sobre certos aspectos aproxima as duas 
modalidades, pois a culpa vista de forma unitária e fundamento genérico da 
responsabilidade. Na culpa contratual porem, examinamos o inadimplemento 
como seu fundamento e os termos e limites da obrigação. Na culpa aquiliana 
ou extranegocial, levamos em conta a conduta do agente e a culpa em sentido 
lato 
 
Visto isso, podemos concluir que tanto na responsabilidade extracontratual 
como na contratual há a violação de um dever preexistente. 
 
 
3.7 Responsabilidade subjetiva e objetiva 
 
 
Responsabilidade civil subjetiva é aquela decorrente de um dano causado 
por um ato doloso ou culposo conforme cita o artigo 186 do CC/2002: “Aquele que, 
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar 
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Para identificar a 
responsabilidade civil subjetiva são necessários três pressupostos sendo eles, a 
conduta culposa ou omissa, o dano causado e o nexo de causalidade entre a conduta 
e o dano. 
Toda via a responsabilidade civil objetiva é a aquela que se chama de 
abuso de direito, ou seja, comete o ato ilícito aquele que manifesta os limites impostos 
pelo seu poder econômico ou social, pela boa fé ou pelos bons costumes. Para a teria 
da responsabilidade objetiva foi criado a teoria do risco onde todo aquele que pratica 
28 
 
 
uma determinada atividade que gere riscos a terceiros fica responsável por repará-
los. Vale enfatizar que no Brasil a teoria adotada é a teoria subjetiva, pauta 
exclusivamente na culpa. 
 
 
3.8 Pressupostos da Responsabilidade Civil 
 
 
Todavia podemos ressaltar que pressupostos, são fenômenos que precisam 
ter ocorrido para que haja a responsabilidade civil, sendo a responsabilidade a forma 
de reparação a quem sofre um dano, a importância de entender os pressupostos se 
equivale a identificação quando existe ou não existe o dever de indenizar. 
 
 
a) Conduta 
 
 
Vale mencionar que a conduta é um ato humano comissivo ou omissivo, 
podendo ser ilícito ou lícito, do próprio agente ou de terceiros, ou ainda pode decorrer 
de fato animal ou coisa, que cause dano a outrem, ocasionando assim o dever de 
indenizar. 
Será a conduta comissiva quando a prática de um ato não deveria ocorrer, ou 
seja, ocorre por meio de uma ação, todavia a omissão ocorre da ação da não 
observância de um deverde agir, podendo esta ser lícita ou ilícita, quando está é ilícita 
é baseada na ideia de culpa e quando ilícita na teoria do risco. 
Convém destacar que para identificar o ato ilícito além da conduta culposa é 
necessário a imputabilidade, que ocorre quando o ato do agente for proveniente da 
vontade livre e consciente deste de praticá-lo. Dessa forma a imputabilidade são as 
condições que permitem ao agente, com capacidade de prever e medir os efeitos de 
seus atos, responder pelas consequências destes. Visto isso as circunstâncias como: 
menoridade, demência, anuência da vítima, exercício regular de um direito, legitima 
defesa, estado de necessidade, excluem a imputabilidade do agente. 
29 
 
 
Podemos concluir que a culpa não consegue atender a todas as situações, 
surgindo assim a responsabilidade sem culpa, derivada de um ato lícito, onde o sujeito 
mesmo praticando o ato sem culpa e de forma lícita, em alguns casos previstos em lei 
terá a responsabilidade de ressarcir os prejuízos causados. A responsabilidade civil 
objetiva adotou a teoria do risco onde mesmo a atividade sendo lícita se causa perigo 
a outrem aquele que a exerce é responsável civilmente pelos danos. Sobre isso Maria 
Helena Diniz a explica a conduta (2005, p. 43): 
 
A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, 
comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntario e objetivamente imputável 
do próprio agente ou de terceiros, ou o fato de animal ou coisa inanimada, 
que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. 
 
 
b) Dano 
 
 
 Podemos destacar que o dano é a existência de um prejuízo a outrem ou á um 
bem jurídico e sem este não á o que se falar em responsabilidade de indenizar, desse 
modo dano, portanto é a lesão ou destruição que alguém sofre podendo ser de forma 
moral ou patrimonial. Diante disso Maria Helena Diniz pontua: 
 
O dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, 
devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra a sua vontade, em 
qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral” (DINIZ,2006). 
 
Em suma dano patrimonial é a lesão ocasionada de interesses relativos ao 
patrimônio acarretando a perda ou deterioração, dos bens materiais, o dano 
patrimonial atende o dano emergente, sendo o que o lesado evidentemente perdeu 
em seu patrimônio, presentes nesse o lucro cessante, que é o que a vítima deixou de 
ganhar em virtude do dano. Por outro lado, o dano moral é a lesão á interesses não 
patrimoniais de pessoa física ou jurídica, de direitos a personalidade, violando a 
dignidade da pessoa humana, sendo está passível de reparação. 
 
 
 
30 
 
 
c) Nexo de causalidade 
 
 
O nexo de causalidade é considerado por muitos de suma importância, pois 
esse é a ligação entre a conduta e o agente e o dano sofrido pela vítima, deve existir 
entre ambos uma relação necessária de causa e efeito, sobre isso Carlos Roberto 
Gonçalves afirma que: 
 
Das várias teorias sobre o nexo causal, o nosso Código adotou, 
indiscutivelmente, a do dano direto e imediato, como está expresso no art. 
403; e das várias escolas que explicam o dano direto e imediato, a mais 
autorizada é a que se reporta à consequência necessária” (GONÇALVES, 
2002, p. 524). 
 
Não á o que se falar em responsabilidade civil sem a relação de causalidade 
entre a ação e o efeito danoso, para identificar o nexo de causalidade não é 
necessária uma ação de imediato sim que este fique evidenciado, que o fato não 
ocorreria se não fosse por determinada ação. 
As excludentes do nexo casal são: culpa exclusiva da vítima; culpa 
concorrente da vítima e do agente; culpa comum, isto é, ofensor e ofendido causaram 
conjuntamente o mesmo dano, caso em que haverá compensação de reparações; 
culpa de terceiro, por caso fortuito ou força maior e quando houver pactuado cláusula 
de não indenizar. 
 
 
3.4.1 Da competência no julgamento da responsabilidade civil nas relações de 
família 
 
 
É de extrema importância destacar que a competência para julgar as questões 
de responsabilidade civil, seja elas nas relações familiares são da vara de família, pois 
essas possuem o conhecimento teórico e prático nos quais envolvem as questões do 
núcleo familiar. Segundo o entendimento de Gagliano e Filho: 
 
Assim da mesma forma que a reparação pelos danos morais e materiais na 
elação de trabalho devem ser apreciada pela justiça do trabalho (e 
31 
 
 
defendíamos esse posicionamento muito antes da emenda constitucional n. 
45/2004) a reparação de danos morais e materiais nas relações familiares 
deve ser da fara de família. 
 
 
32 
 
 
3 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
 
 
4.1 CONCEITO 
 
 
No que tange o direito de família, a ela se compete o cuidado para o 
desenvolvimento do indivíduo, sendo responsável pelo auxílio dos seus membros, 
visando sempre o bem comum e do indivíduo de forma individual. 
Todavia à família que compõem o núcleo familiar tem o dever moralmente de ajudar 
uns aos outros, devendo eles se responsabilizarem pelo apoio afetivo necessário, 
visando o bem-estar de todos. 
O dever de amparo é de suma importância para aquele indivíduo que por 
diversas razoes se encontram em maior fragilidade no núcleo familiar e na sociedade, 
como é o caso das crianças e idosos. 
Todavia o abandono afetivo ocorre por parte dos genitores que deixam de 
cuidar dos seus filhos deixando-os à mercê, já no caso específico dos idosos, o 
inadimplemento configura o que se chama de abandono afetivo inverso. Percebe-se, 
portanto, que, assim como ocorre com os pais que deixam de amparar seus filhos 
menores, os filhos adultos também abandonam seus pais. 
 
 
4.2 Responsabilidade nas relações familiares 
 
 
É de fundamental relevância destacar que os pais possuem um papel 
fundamental na vida de seus filhos, pois estes são a primeira referência de família na 
vida de seus filhos, a base da criança é a família indiferente da sua composição é nela 
que vai se formar o caráter desse individuo, formando sua personalidade, 
desenvolvendo emoções, educação, afeto, o senso de moral e imoral, o que é correto 
e o errado, para assim se adaptarem dentro de uma sociedade. 
Convém destacar que o Código Civil de 2002 em seus artigos 186 e 927, dispõe 
as normas básicas acerca da responsabilidade civil, quando ocorre um ato ilícito 
33 
 
 
causando um dano a outrem, devera a pessoa que ocasionou reparar esse dano, de 
forma indenizatória, sendo por ação ou omissão involuntária, negligência, imprudência 
ou imperícia, ocorrer a violação de direito e lesão, sendo este de cunho material ou 
moral. 
Destacam Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald a possibilidade de incidência 
das normas da responsabilidade civil no âmbito das relações familiares: 
 
Seguramente, a obrigação de reparar danos patrimoniais e extrapatrimoniais 
decorrentes da prática de um ato ilícito também incide no Direito das Famílias. 
Por certo, não se pode negar que as regas da responsabilidade civil invadem 
todos os domínios da ciência jurídica, ramificando-se pelas mais diversas 
relações jurídicas, inclusive as familiaristas (FARIAS, 2013, p. 162). 
 
No que se refere a família o seu embasamento legal se encontra na 
Constituição Federal no artigo 227, onde se refere o dever de garantia da criança e 
adolescente, visando sempre os direitos fundamentais, todavia no que tange o dever 
dos filhos para com os pais o embasamento está na Constituição Federal em seu 
artigo 229. 
 
Art. 227 CF - “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, 
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, àliberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação da EC 65/2010)" 
 
art. 229 CF - "Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, 
e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, 
carência ou enfermidade." 
 
Podemos observar outros dispositivos legais espalhados na lei como o Estatuto 
da Criança e do Adolescente (artigo 22), onde delega aos pais o dever de sustento, 
guarda e educação, é importante relembrar que a responsabilidade dos pais não 
acaba com o divórcio ou dissolução da união estável, como prevê o artigo 1632 do 
Código Civil de 2002. A separação não modifica os direitos e deveres dos pais em 
relações aos filhos, nem mesmo uma nova união por parte de um dos genitores, não 
pode ocorres restrições aos direitos e deveres da criança. 
 
 
34 
 
 
4.2.1 Penalidades pelo abandono afetivo e o dever de indenizar 
 
 
É válido ressaltar que existem penalidades para os pais que abandonam seus 
filhos e para os filhos que abandonam seus pais. 
De acordo com o Código Civil de 2002, em seu artigo 1.637, está previsto a 
perda do poder familiar aos genitores que cometem abuso de autoridade ou deixam 
de exercer seu papel protetivo, já no Estatuto da Criança e do Adolescente em seu 
artigo 29, encontra-se um rol de medidas aplicáveis aos genitores ou responsáveis 
que deixam de exercer as obrigações legais. É importante ressaltar que no artigo 130 
do ECA, que em caso de maus tratos, opressão, abuso sexual, cometido pelos 
genitores ou responsáveis, será aplicado uma medida cautelar para o afastamento 
dos mesmos, da moradia comum, havendo ainda a penalidade de multa de três a vinte 
salários-mínimos para quem descumprir os deveres em relação aos filhos, decorrente 
da tutela ou guarda, está multa converte ao poder público não ao filho lesado. 
No que tange o direito dos filhos para com os pais o Estatuto do Idoso (Lei 
10.741/2003), estabelece em seu artigo 98 que: 
 
Art. 98 “Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa 
permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, 
quando obrigado por lei ou mandado". A pena prescrita para essa conduta é 
de detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa”. Estatuto do Idoso (Lei 
10.741/2003). 
 
 
Visto isto podemos concluir que até mesmo na velhice ocorre o abandono 
afetivo, a falta de apoio moral e material, em um momento que exige extremo cuidados 
e afeto por parte dos filhos e da família, causando um profundo abalo psicológico no 
idoso, ferindo assim um dos principais princípios, o da dignidade da pessoa humana. 
Todavia a finalidade da ação para reparação do abandono afetivo não é obrigar 
os pais a amar os filhos, nem os filhos a amar os pais ou suprir a falta desse amor, 
mas sim dar um amparo a vítima pelo dano sofrido decorrente da omissão pelo 
abandono, vale lembrar que o objeto da ação é o cumprimento do dever que o genitor 
ou o filho tem, já que o amor lhe faltou. 
 
35 
 
 
4.3 DO ABANDONO AFETIVO 
 
 
Antes de mais nada podemos conceituar o abandono afetivo, como a ausência 
de afeto necessário, apoio emocional e social, para com os filhos ou vice e versa, 
podendo ser esse abandono na convivência familiar ou no abandono de visitas ou 
convivência. A estrutura de uma família tem como base o amor, respeito, educação, 
dedicação e o afeto, estes são os pilares necessários para que os filhos se 
desenvolvam plenamente, é do contato familiar que eles receberão o afeto e proteção, 
esses atos são de extrema importância para o desenvolvimento da personalidade, 
influenciando, na formação e no comportamento da vida adulta dos filhos. 
Convém mencionar que o abandono afetivo é um ato de violência psicológica 
contra a criança, isto é um ato de negligência por parte de quem pratica o abandono, 
sendo tão grave como a alienação parental e o abandono de incapaz, quando os 
genitores agem com descaso sentimental, entende-se que ocorre o abandono afetivo 
acarretando danos morais, isto pois, afeta a dignidade da criança. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado em 1990, já a lei 8.069 
reforça o que foi determinado na Constituição Federal, o texto do ECA é taxativo 
referente as obrigações da convivência familiar, quando um desses rol é 
desrespeitado, é que surge a configuração do abandono afetivo, é valido lembrar que 
não podemos confundir apoio emocional com a prestação de alimentos ou com o 
apoio financeiro, pois o abandono afetivo nada mais é que o apoio psicológico, social 
e emocional, não exercido, a tutela que rege o abandono afetivo não é material sim 
sentimental, vale ressaltar que este abandono também ocorre de forma inversa sendo 
dos filhos com os pais. 
Visto isto conclui-se que abandono afetivo é deixar de dar assistência 
emocional para os filhos ou vice e versa, seja no âmbito do seio familiar ou com a 
separação dos pais, sendo na convivência familiar ou no abandono de visitação. 
É de fundamental relevância expor um dado que chama atenção, segundo a 
Agencia Brasil no ano de 2022, nasceram 1.526.664 crianças, nos 7 primeiros meses, 
dessas crianças 100.717 foram registradas sem o nome do pai, ou seja, 6,5% dos 
recém nascidos do país tem apenas o nome da mãe na certidão de nascimento, outro 
dado de suma importância que foi levantado é em relação a esta porcentagem ser 
36 
 
 
maior quando comparada ao período de 2021 e 2020, esses números são registrados 
pelo portal da transparência do registro civil. 
A informação trazida acima é de grande importância quando se falamos em 
abandono afetivo, visto que à um grande caminho para evoluir quando se falamos 
em responsabilidade afetiva e civil, essas crianças já crescem com a base da família 
formada apenas por um genitor sendo o outro ausente de responsabilidade. 
 
 
4.3.1 Direito ao Afeto 
 
 
Podemos ressaltar que ninguém impõe o dever de amar alguém, o afeto é mais 
que um sentimento, ele é um valor jurídico e social, todavia vale observar várias 
famílias que se formam apenas pelos laços de afeto sendo este o principal fundamento 
das relações familiares, onde a criança ou adolescente deve ser amparada 
moralmente e emocionalmente, o afeto é necessário para elevar o indivíduo ao nível 
de desenvolvimento para se inserir na sociedade, sobre isto dispõe Dias (2011, p. 
425): 
 
A autoridade parental está impregnada de deveres não apenas no campo 
material, mas, principalmente, no campo existencial, devendo os pais 
satisfazer outras necessidades dos filhos, notadamente de índole afetiva. 
 
É A falta de afeto frusta a expectativa dos filhos de serem criados por seus pais de 
forma cuidadosa e afetuosa, quando os genitores, ou mesmo o filho em relação aos 
pais idosos, é omisso no dever de cuidado. Nesse sentido entende Dias (2013, p. 
363 apud HOPPE, 2014, p. 18): 
 
A nova ordem jurídica consagrou como fundamental o direito à convivência 
familiar, adotando a doutrina da proteção integral. Transformou crianças e 
adolescentes em sujeitos de direito. Deu prioridade à dignidade da pessoa 
humana, abandonando a feição patrimonialista da família. Proibiu quaisquer 
designações discriminatórias à filiação, assegurando os mesmos direitos e 
qualificações aos filhos nascidos ou não da relação de casamento e aos 
havidos por adoção (CF 227 § 6º). 
 
De acordo com Madaleno (2000, p. 8 apud DILL, CALDERAN, 2010, p. 04): 
37 
 
 
 
Os filhos são realmente conquistados pelo coração, obra de uma relação de 
afeto construída a cada dia, em ambiente de sólida e transparente 
demonstração de amor a pessoa gerada indiferente origem genética [...]. 
Afeto para conferir tráfego de duas vias a realização e a felicidade da pessoa. 
Representa dividir conversas, repartir carinho, conquistas, esperanças e 
preocupações; mostrar caminhos, recebere fornece informação. Significa 
iluminar com a chama do afeto que sempre aqueceu o coração de pais e filos 
socioafetivos, o espaço reservado por Deus na alma e nos desígnios de cada 
mortal, de acolher como filho aquele que foi gerado dentro do seu coração. 
 
Com isso podemos concluir que todos possuem direito ao afeto dentro das 
relações familiares, mesmo este não sendo obrigatório da parte contraria, quando não 
ocorre o afeto no âmbito das relações familiares temos então o abandono afetivo. 
 
 
4.3.2 Danos causados pelo abandono afetivo na vida do individuo 
 
 
Quando analisamos o abandono afetivo, trazemos para a análise os danos 
causados na vida do indivíduo que sofreu, todavia é muito difícil materializar esse 
abandono, uma vez que é permeado de subjetividade, a questão sobre reparação do 
abandono afetivo é algo que ainda gera controvérsias no direito brasileiro, com 
decisões favoráveis e desfavoráveis. Sobre a infância Freud relata que a criança vive 
na dependência dos pais, que deixam como herança toda influência parental. 
 
Esta influência parental, naturalmente, inclui em sua operação não somente 
a personalidade dos próprios pais, mas também a família, as tradições raciais 
e nacionais por eles transmitidas, bem como as exigências do ambiente social 
imediato que representam”. (FREUD, 1937-1939) 
 
Vale enfatizar que diversos estudos em Psicologia Clínica vêm demonstrando 
que as funções de afeto da família são de extrema importância para a formação da 
personalidade da criança no início da vida, a falta deste desencadeia diversos danos. 
Ser abandonado pelos genitores causa prejuízos emocionais na vida de um filho, dói 
não ser amado, mas dóis mais ainda ser abandonado, sobre romper os laços de 
convívio relata Maria Berenice Dias (2016, p. 138 e 139): 
 
A falta de convívio dos pais com os filhos, em face do rompimento do elo de 
afetividade, pode gerar severas sequelas psicológicas e comprometer o seu 
38 
 
 
desenvolvimento saudável. A omissão do genitor em cumprir os encargos 
decorrentes do poder familiar, deixando de atender ao dever de ter o filho 
em sua companhia, produz danos emocionais merecedores de reparação. 
A ausência da figura do pai desestrutura os filhos, que se tornam pessoas 
inseguras, infelizes. Tal comprovação, facilitada pela interdisciplinaridade, 
tem levado ao reconhecimento da obrigação indenizatória por dano afetivo. 
Ainda que a falta de afetividade não seja indenizável, o reconhecimento da 
existência do dano psicológico deve servir, no mínimo, para gerar o 
comprometimento do pai com o pleno e sadio desenvolvimento do filho. Não 
se trata de atribuir um valor ao amor, mas reconhecer que o afeto é um bem 
que tem valor. 
 
Através da visão jurídica “ o amor é facultativo, porém, o cuidar é dever”, ou 
seja, os genitores não tem apenas o dever de custear gastos materiais, possuem 
também o dever de possibilitar o desenvolvimento humano pleno através das relações 
de afeto, quando a criança se vê sem a convivência de um desses genitores ela se 
sente perdida, esse sofrimento pode ocasionar diversos problemas em seu 
comportamento, desencadear problemas mentais e sociais, depressão, tristeza, 
levando está criança a se isolar do restante da sociedade, crescendo com complexo 
de inferioridade, baixo autoestima, e problemas de saúde. Sobre os danos causados 
sobre o abandono afetivo podemos destacar as palavras de Gisela Hironoka (2007, 
IBDFAM): 
 
O dano causado pelo abandono afetivo é antes de tudo um dano à 
personalidade do indivíduo. Macula o ser humano enquanto pessoa, dotada 
de personalidade, sendo certo que esta personalidade existe e se manifesta 
por meio do grupo familiar, responsável que é por incutir na criança o 
sentimento de responsabilidade social, por meio do cumprimento das 
prescrições, de forma a que ela possa, no futuro, assumir a sua plena 
capacidade de forma juridicamente aceita e socialmente aprovada. 
 
Podemos mencionar que é necessário a ajuda da psicologia e da psicanálise, 
para a identificação e tratamento deste dano ocasionado pelos genitores, quando 
ocorre a comprovação desse dano de forma afetiva, é que será objeto de eventual 
reparação civil, podemos demonstrar alguns dados estatísticos que de certa forma o 
abandono afetivo se faz presente: · Segundo um censo escolar realizado pelo CNJ 
em 2013 “existem 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão 
de nascimento”. Podemos analisar outro estudo de suma importância realizado pelo 
MPSP, divulgado pelo Site Folha de São Paulo (2016), menciona que 42% dos delitos 
cometidos por menores infratores em São Paulo entre 2014 e 2015, não vivem e não 
tiveram qualquer contato com a figura paterna. 
39 
 
 
Podemos concluir que na psicologia, vários especialistas defendem a base dos 
estudos e estatísticas, onde aborda o tema sobre a ausência do genitor na vida dos 
filhos e que pode sim influenciar este individuo em sua formação, mesmo outro 
membro da família estando disposto a preencher esta lacuna ocasionada pelo 
abandono afetivo. Todavia não é todo individuo abandonado que vira um delinquente 
ou tem problemas em relação a este abandono, pois cada ser humano reage de uma 
forma diante de um abandono e existem mães que assumem ambos os papéis e 
conseguem lidar com essa situação mesmo com todas as dificuldades e julgamentos 
da sociedade. Segundo Içami Tiba (2002, p. 221 
 
“O mau pai presente é mais prejudicial que o ausente”, de modo que muitas 
vezes será mais danoso a presença do genitor irresponsável no lar, do que a 
sua ausência. 
 
 
4.3.3 Abandono afetivo inverso 
 
 
Podemos classificar Abandono afetivo inverso como aquele cometido pelos 
filhos em relação aos pais, a sociedade julga essa atitude como sendo os filhos 
ingratos, mas nem sempre é assim, muita das vezes eles apenas não possuem tempo 
necessário, disponibilidade ou até mesmo recursos para realizar este cuidado, em 
algumas situações estes idosos são colocados em casa de repousos e os filhos 
acompanham de maneira possível, mas nem sempre isso ocorre em alguns casos 
apenas colocam esses idosos em casas lar e não ligam para a situação em que se 
encontram. 
O abandono afetivo inverso, ainda é pouco conhecido, passando despercebido 
pela sociedade, o termo abandono afetivo inverso se dá pela ausência de cuidados 
dos filhos ou netos para com os seus ascendentes (pais e avós), especialmente 
aqueles com idade mais avançada, por isso o termo "inverso", pois é um instituto de 
filho para pais, ou seja, ocorre uma inversão. O fundamento de dever que os filhos 
têm para com os pais está embasado na Constituição Federal em seu artigo 229, onde 
trás os deveres em relação aos pais na velhice. Segundo Guilherme Calmon Nogueira 
Gama: 
40 
 
 
 
Especialmente quanto às pessoas dos avós, o art. 229 da Constituição 
Federal, na parte final, assegura aos pais dos titulares da autoridade parental 
sobre os menores – portanto, os avós destes – a ajuda e o amparo na velhice, 
carência ou enfermidade, não se referindo tal preceito apenas à assistência 
material ou econômica, mas também às necessidades afetivas e psíquicas 
dos mais velhos (GAMA, 2006, p. 108). 
 
Jônes Figueiredo Alves, em entrevista ao IBDFAM em 2013, explicou no que 
consiste o chamado abandono afetivo inverso: 
 
Diz-se abandono afetivo inverso a inação de afeto, ou mais precisamente, a 
não permanência do cuidar, dos filhos para com os genitores, de regra idosos, 
quando o cuidado tem o seu valor jurídico imaterial servindo de base fundante 
para o estabelecimento da solidariedade familiar e da segurança afetiva da 
família. O vocábulo “inverso” da expressão do abandono corresponde a uma 
equação às avessas do binômio da relação paterno-filial, dado que ao dever 
de cuidado repercussivo da paternidade responsável, coincide valor jurídico 
idêntico atribuído aos deveres filiais, extraídos estes deveres do preceitoconstitucional do artigo 229 da Constituição Federal de 1988, segundo o qual 
“...os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, 
carência e enfermidade (IBDFAM, 2013). 
 
Quando presente o descumprimento do dever de cuidado em relação aos pais 
na velhice ou na doença, ocorre a violação da dignidade do idoso abandonado, 
gerando assim o dever de indenizar. 
 
 
4.4. Responsabilidade civil e sua relação com o abandono afetivo 
 
 
Todavia a responsabilidade civil surge como um método do Estado 
Democrático de Direito aplicar uma pena a quem causar dano a outrem, de forma 
proporcional ao prejuízo sofrido, sendo de ordem material ou moral, assim como a 
culpa que teve aquele que prejudicou. O artigo 186 do Código Civil, ao tratar da 
cláusula geral de responsabilidade civil determina que: “Aquele que, por ação ou 
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, 
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” 
 No que diz respeito aos filhos, o ordenamento impõe aos responsáveis o dever 
de cuidado e zelar pelas suas necessidades, sobre o dever de cuidado com os filhos 
explica Ana Maria Lencarelli: 
41 
 
 
 
O ser humano nasce muito frágil e com várias necessidades de cuidado, que 
comprometem sua sobrevivência. É indispensável que alguém lhe forneça e 
zele pelo alimento, pela higiene do corpo, pelo sono, e pelo colo. O cuidado, 
portanto, se constitui no condutor que o levará deste estado de 
vulnerabilidade absoluta ao processo de aquisição de autonomia e, 
consequentemente, de humanização (IENCARELLI, 2009, p. 163). 
 
Os cuidados necessários não podem se limitar apenas em necessidades 
materiais, pois para que o desenvolvimento ocorra de forma plena é necessário 
cuidado e afeto, por parte desses genitores, ao longo da vida dessa criança, a 
ausência do mesmo acarreta danos irreversíveis como leciona Ana Maria Lencarelli: 
 
A deficiência e a privação de cuidado afetuoso obstruem a coesão e 
estruturação saudável da mente de uma criança ao longo do seu 
desenvolvimento, causando estado de vulnerabilidade (IENCARELLI, 2009, 
p. 168). 
 
Atualmente com os as mudanças que ocorreram na sociedade o ordenamento 
jurídico foi se adaptando as necessidades de proteção ao indivíduo, permitindo assim 
a doutrina e jurisprudência a possiblidade de pleitear indenização contra os genitores 
que cometeram o abandono afetivo, nesse sentido menciona Maria Berenice Dias: 
 
A falta de convívio dos pais com os filhos, em face do rompimento do elo de 
afetividade, pode gerar severas sequelas psicológicas e comprometer o seu 
desenvolvimento saudável. [...] A omissão do genitor em cumprir os encargos 
decorrentes do poder familiar, deixando de atender ao dever de ter o filho em 
sua companhia, produz danos emocionais merecedores de reparação. Se lhe 
faltar essa referência, o filho estará sendo prejudicado, talvez de forma 
permanente, para o resto de sua vida. [...] Tal comprovação, facilitada pela 
interdisciplinaridade, tem levado ao reconhecimento da obrigação 
indenizatória por dano afetivo. Ainda que a falta de afetividade não seja 
indenizável, o reconhecimento da existência do dano psicológico deve servir, 
no mínimo, para gerar o comprometimento do pai com o pleno e sadio 
desenvolvimento do filho (DIAS, 2015, p. 97-98). 
 
Para verificar a possibilidade da responsabilidade nos casos de abandono 
afetivo, é necessário analisar os elementos da responsabilidade civil, sendo eles o 
fato, seja de forma omissa pela privação de convivência com o genitor, ou com 
atitudes de rejeição e indiferença, deve o fato ser antijurídico, a não observância do 
dever que os genitores possuem de cuidar e proteger o filho, tanto em aspecto físico 
como psíquico e afetivo, se este fato produzir danos: sendo estes comprovados 
efetivamente, de forma que afetaram a sua personalidade e dignidade, todavia estes 
42 
 
 
considerados como causadores pelo ato ou fato praticado derivado do abandono 
afetivo ou seja deve ser comprovado a existência do nexo causal entre a conduta e o 
abandono do genitor e os danos a personalidade dos filhos, isso também vale para o 
abandono afetivo inverso onde se faz necessário a comprovação dos três 
pressupostos, cumprido esses pressupostos é cabível a indenização por abandono 
afetivo. 
Sobre a ocorrência de danos morais indenizáveis nos casos de abandono 
afetivo leciona Rui Stocco: 
 
Em tese, e diante das circunstâncias do caso, o filho, em razão do desprezo, 
abandono, pouco caso de qualquer dos pais poderá ser atingido em seu 
direito de personalidade e sofrer dano moral. E, como não se desconhece, a 
Carta Magna contém cláusula geral – posto que proteção erigida à condução 
de princípio – afirmando e estabelecendo a inviolabilidade da intimidade, da 
vida privada, da honra e da imagem de todas as pessoas, 
independentemente de sua condição econômica, social ou familiar, 
assegurando a indenização pelo dano material ou moral quando a violação 
não possa ser evitada (STOCCO, 2007, p. 946). 
 
 
4.4.1 Quantum indenizatório 
 
 
]Podemos destacar que o quantum indenizatório tem como finalidade a 
reparação moral, pois tenta diminuir a dor sofrida, a solidão e desamparo, diante da 
ausência de cuidado dos genitores, não é apenas compensar a falta de afeto, pois é 
valido destacar que ninguém é obrigado a amar por obrigação ou imposição, o valor 
definido em uma indenização deve ser definido como forma de demonstração para 
sociedade que precisa respeitar as formas básicas da convivência familiar e o não 
desempenho das funções inerentes ao poder familiar poderá ocasionar punição para 
reparar o dano a outrem. Todavia este dever de cuidado não se limita apenas no poder 
familiar, sendo este exigido no sentido inverso, dos filhos para com os pais, na velhice 
ou na doença, não é apenas assistência material, é necessário zelar e oferecer 
atenção afetiva e psicológica. 
É de extrema relevância enfatizar que apenas com o julgamento do Recurso 
Especial nº 1159242/2009, relatado pela Ministra Nancy Andrighi, é que fortaleceu o 
argumento que ninguém é obrigado a amar sim cuidar e pela ausência forte deste 
43 
 
 
cuidado pode ocorrer danos cabíveis de reparação, raciocínio que deve se estender 
aos casos de abando afetivo inverso. 
Vale mencionar que assim como ocorre com crianças e adolescentes, a pessoa 
idosa, também necessita de cuidados nessa fase de vulnerabilidade da vida, 
necessitando de atenção especial, conforme pontua Oswaldo Peregrina Rodrigues: 
 
A criança, o adolescente e o idoso são seres humanos que se encontram em 
etapas especiais da vida; aqueles porque estão em fase de desenvolvimento 
(crescimento), com uma gama de peculiaridades – físicas, psíquicas, 
emocionais etc. – inerentes ao transcurso desse interregno entre o 
nascimento e a chegada à fase adulta. Por seu turno, a pessoa idosa está na 
última etapa, mas igualmente com razoável gama de peculiaridades (físicas, 
psíquicas, emocionais), donde o envelhecimento há de ser garantido, com 
todos os predicados possíveis para uma vida digna (RODRIGUES, 2009, p. 
442). 
 
Convém destacar que o dano moral não possui caráter patrimonial, ou seja, é 
imaterial, sendo o abandono afetivo inserido nessa classificação, este dano está 
relacionado diretamente aos direitos da personalidade, de forma mais próxima ao 
valor fundamental da dignidade humana. Embora não possua valor econômico, tem 
valor e merece tutela do direito, visto isso relata Santos (1998, p. 
16 apud CORBELLINI, 2012, p. 19), afirma in verbis: 
 
 A reparação do dano não visa reparar no sentido literal a dor, pois esta não 
tem preço, mas aquilatar um valor compensatório par amenizar a dor moral. 
Para isso requer indenização autônoma, pelo critério de arbitramento, onde o 
juiz fixará o quantum indenizatório, levando em conta as condições das 
partes, nível social, escolaridade, o prejuízo

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