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MONOGRAFIA - A EPIDEMIA SOCIAL DE ABANDONO AFETIVO: A paternidade responsável e a ausente figura paterna nos lares brasileiros.docx

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AUTARQUIA EDUCACIONAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO - AEVSF 
FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS E SOCIAIS DE PETROLINA - FACAPE 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
REBECCA BEZERRA BORGES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A EPIDEMIA SOCIAL DE ABANDONO AFETIVO: A paternidade responsável e a 
ausente figura paterna nos lares brasileiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PETROLINA – PE 
2020 
 
 
REBECCA BEZERRA BORGES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A EPIDEMIA SOCIAL DE ABANDONO AFETIVO: A paternidade responsável e a 
ausente figura paterna nos lares brasileiros 
 
 
Monografia apresentada à Faculdade de Ciências 
Aplicadas e Sociais de Petrolina – FACAPE, como 
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel 
em Direito. 
 
Orientadora: Prof. Diane Jéssica Morais Amorim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PETROLINA - PE 
2020 
 
 
REBECCA BEZERRA BORGES 
 
 
 
A EPIDEMIA SOCIAL DE ABANDONO AFETIVO: ​A paternidade responsável e 
a ausente figura paterna nos lares brasileiros 
 
 
Monografia apresentada à Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – 
FACAPE, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. 
Orientadora: Prof. Diane Jéssica Morais Amorim. 
 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
______________________________ 
Prof. Diane Jéssica Morais Amorim 
Orientadora – Curso de Direito – FACAPE 
 
 
______________________________ 
Prof. 
Curso de Direito – FACAPE 
 
 
______________________________ 
Prof. 
Curso de Direito – FACAPE 
 
 
 
 
 
Petrolina, ______ de _____________________ de 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente quero agradecer à Deus, por ter me concedido fé, perseverança e 
força para me manter firme diante das tribulações e dúvidas. 
À minha família por acreditar na minha capacidade e potencial, incentivando-me a 
continuar e não desistir. 
Aos meus amigos que, me diziam que até as pequenas vitórias merecem ser 
celebradas, em especial à minhas amigas mais próximas que, apesar da distância nos 
separando, sempre me davam apoio moral e conselhos. 
À minha orientadora, por me assistir, esclarecer minhas dúvidas, e pela paciência ao 
orientar, além de crer no mérito e importância do tema escolhido. 
E, finalmente, a todos os docentes que fizeram parte da minha caminhada acadêmica, 
contribuindo para o meu aprendizado, os quais levarei para o resto da vida – seja pessoal, seja 
profissional. 
Que tudo que aguentei e enfrentei até agora seja o combustível para eu continuar a 
caminhada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“​São os restos do amor que batem às portas do Judiciário​.” 
Rodrigo da Cunha Pereira 
 
 
 
RESUMO 
 
RESUMO: O presente trabalho tem como finalidade evidenciar o fenômeno do abandono 
afetivo paterno-filial nas relações familiares (ou relações ​interprivadas​), posto que o afeto e o 
cuidado possuem crucial função no desenvolvimento do indivíduo como ser humano, em 
outras palavras, no processo de crescimento cognitivo da criança e do adolescente. Para isso, é 
necessário nos aprofundarmos nas singularidades do abandono afetivo sob a perspectiva da 
legislação brasileira, qual seja, a Constituição Federal Brasileira de 1988, o Código Civil de 
2002 (​Lei nº 10.406/2002​), o Estatuto da Criança e do Adolescente ou ECA (​Lei nº 
8.069/1990​) e dos entendimentos jurisprudenciais dos tribunais superiores. Consolidado na 
pesquisa exploratória e bibliográfica, e partindo-se de informações existentes acerca do tema 
para uma melhor compreensão dos aspectos que envolvem a denominada “teoria do 
desamor”, conta com amparo em aportes teóricos jurídicos e de alguns doutrinadores, fazendo 
uso da pesquisa descritiva tendo como objetivo possibilitar a percepção das consequências 
psicológicas e jurídicas derivadas do abandono afetivo. Por fim, com uma abordagem 
qualitativa e através do método dedutivo, partindo-se do ​lato sensu para o ​stricto sensu​, 
também será demonstrado o significado e as características do abandono afetivo. 
 
Palavras-chave: ​Direito de Família. Relação paterno-filial. Abandono afetivo. Danos morais. 
Responsabilidade civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO 8 
1 O PODER FAMILIAR SOB A ÉGIDE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 10 
1.1 Noções gerais e conceito 10 
1.2 Sujeitos e objeto da relação jurídica 12 
1.2.1 Sujeitos e a titularidade do poder familiar 12 
1.2.2 Natureza jurídica e objeto 14 
2 O DEVER DE CUIDADO E DE AFETO 15 
2.1 A responsabilidade civil diante do poder familiar 16 
2.2 Entendimentos dos Tribunais Superiores 18 
3 O INSTITUTO FAMÍLIA E SEUS ASPECTOS 20 
3.1 Evolução histórica da entidade familiar 20 
3.2 Princípios constitucionais basilares do direito de família 22 
3.2.1 Princípio de proteção da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da 
CFB/88)22 
3.2.2 Princípio da solidariedade familiar (art. 3º, I, da CFB/88) 23 
3.2.3 Princípio do maior interesse da criança e do adolescente (art. 227, ​caput​, da 
CFB/88)24 
3.2.4 Princípio da afetividade 25 
3.2.5 Princípio da função social da família (art. 226, ​caput​, da CFB/88) 25 
4 AS NUANCES DO ABANDONO AFETIVO PATERNO-FILIAL 26 
4.1 O dano moral 27 
4.2 A responsabilidade civil no âmbito do abandono afetivo paterno-filial 29 
4.3 Entendimentos jurisprudenciais superiores 32 
4.4 Divergências jurídicas 34 
5 A TIPIFICAÇÃO DO ABANDONO AFETIVO COMO ILÍCITO CIVIL E PENAL 
(PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 700 DE 2007) 36 
5.1 Disposições gerais 36 
5.2 Dos fundamentos do projeto 37 
5.3 A tentativa de qualificação do amor, sua monetização e a obrigação de amar 38 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 42 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44 
 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
O Direito de Família Brasileiro passou por consideráveis mudanças estruturais e 
funcionais nas últimas décadas. Os doutrinadores denominam de Direito de Família 
Existencial aquele fundado na pessoa humana e que tem como fulcro normas de ordem 
pública, e, sabe-se que o Estado tem como fundamento o princípio da dignidade da pessoa 
humana, previsto no art. 1º, III, da CFB/88, no qual é inafastável a proteção da pessoa 
humana. Assim como a Carta Magna, o Novo Código de Processo Civil também ostenta 
normas valorizadoras da dignidade da pessoa humana e, assim, atuando como um norte 
principiológico quando o julgador aplica o Direito positivado, conforme determina o art. 8º do 
NCPC. 
A omissão afetiva de um ente, este significativo para a formação do ​caráter, da 
conduta e personalidade da criança e/ou adolescente, pode ocasionar danos psicológicos e 
sociais negativos. ​E, sendo uma das questões mais controvertidas do Direito de Família 
contemporâneo e objeto de divergências na doutrina e jurisprudências pátrias, o abandono 
afetivo e a paternidade responsável possuem relações com os ​princípios norteadores do 
Direito de Família, além de trazerem consequências jurídicas, psicológicas e sociais – uma 
vez que a tese interessa não apenas às relações ​interprivadas​, mas também ao Estado. 
A prática do abandono afetivo não é algo moderno, pelo contrário, ela acompanha o 
ser humano desde os seus primórdios. Ao longo das eras, o conceito de família sofreu 
inovações, de modo que a ideia patriarcal – isto é, o poder familiar centralizado no homem ou 
no masculino – nos diasde hoje não mais o é. Com a evolução da sociedade e das 
necessidades do núcleo familiar, novos preceitos sobre a temática revelam-se. Assim, novas 
espécies de relações familiares se configuram e, o afeto torna-se um elemento de considerável 
relevância nos relacionamentos familiares contemporâneos. Simultaneamente, advém o dever 
de conferir parâmetros modernos ao direito de família, sendo reconhecidas juridicamente a 
afetividade e a socioafetividade, além da possibilidade de aplicar àqueles pais que não 
cumprem os seus deveres e obrigações com os filhos a paternidade responsável. 
A​té o ano de 2004, a aplicação de danos morais decorrentes do abandono afetivo não 
ocorria, sob o argumento de que não é possível tutelar ou quantificar o afeto por ausência de 
previsão legislativa. Contudo, atualmente os magistrados para a quantificarem a indenização 
vêm levando em conta os critérios extraídos dos arts. 944 e 945, do Código Civil. Além disso, 
juristas assinalam no sentido de que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem empregado o 
denominado “método bifásico”, que promove uma análise cautelosa da adequação de valores 
9 
 
referentes a indenização, quantificando o dano moral o qual a vítima tolerou – portanto, 
uniformizando os paradigmas jurisprudenciais quanto ao tratamento da questão. Em suma, tal 
método dá-se da seguinte maneira: em um primeiro momento, o magistrado fixaria um valor 
inicial da ofensa moral, utilizando como referência outros julgados que abordam a temática; já 
em um segundo momento, aqui, o juiz estaria autorizado a empreender uma majoração ou 
minoração do ​quantum indenizatório concebido inicialmente, ante as circunstâncias do caso 
concreto. 
Ultimamente, também vem sendo discutido entre os operadores do Direito a 
possibilidade do reconhecimento de um direito ao afeto nas relações de filiação, bem como a 
aplicabilidade do instituto da responsabilidade civil em caso de omissão dos pais. Todavia, há 
divergências doutrinárias e jurisprudenciais acerca da temática, mas julgados majoritários 
consideram que essa reparação deve estar em consonância com o trauma que a criança e/ou 
adolescente sofreu. ​Então, a aplicação de medidas jurídicas serviria de obstáculo para 
condutas futuras semelhantes, exercendo a função de advertência, nas quais consistem em 
uma compensação pecuniária por dano moral quando configurada a omissão paterno-filial​. 
E, diante do florescente número de casos e ações indenizatórias – além de ser uma 
questão de cunho social que recentemente tornou-se objeto de debates entre os operadores do 
Direito (tanto na doutrina quanto na jurisprudência) – é de considerável importância que a 
sociedade tome conhecimento do tema, uma vez que ​a tese compete tanto às relações 
interprivadas quanto ao Estado, pois a temática em análise reforça a significância das 
responsabilidades da paternidade previstas em lei, bem como o fato de que o 
comprometimento e a participação ativa do pai na criação dos filhos desencadeia benefícios 
incalculáveis no seu desenvolvimento. 
Ante ao exposto, o presente trabalho tem como motivação a demonstração da 
temática envolvendo a questão e a forma como é analisada a partir do Direito de Família, 
conceitualizando e contextualizando o instituto da família e o abandono afetivo nas relações 
paterno-filiais a partir de aportes doutrinários jurídicos – exemplificando a temática através de 
casos concretos com a apresentação de jurisprudências e entendimentos superiores, bem como 
relacionando suas peculiaridades aos princípios norteadores do Direito de Família com as 
demais normas do ordenamento jurídico pátrio, investigando quais as suas consequências 
jurídicas, psicológicas e sociais na medida que provoque a sociedade e o Direito para o debate 
social. Ademais, também serão elaboradas possíveis recomendações ao direito civil e às 
disposições processuais civis no que se refere ao cabimento de uma ação indenizatória por 
10 
 
dano moral, definindo, assim, as formas de ressarcimento a ofensa moral suportada pelo 
indivíduo. 
 
1 O PODER FAMILIAR SOB A ÉGIDE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 
 
1.1 Noções gerais e conceito 
 
Estabelecido nos arts. ​1.630 a 1.638 do Código Civil de 2002, Tartuce (2018, p. 
1564-1570) conceitua o poder familiar como “uma decorrência do vínculo jurídico de 
filiação”, exercido pelos genitores em relação aos filhos (relações estas fundadas, sobretudo, 
no afeto). ​Tido como irrenunciável, o poder familiar é também intransferível, inalienável, 
imprescritível, proveniente da paternidade natural e da filiação legal, bem como da 
socioafetiva. Outro aspecto do poder familiar é que as obrigações decorrentes dele são ​intuitu 
personae​, ou seja, personalíssimas. Ademais, também é apontada como atributo a 
indivisibilidade da titularidade e não o seu exercício. Desse modo, assevera-se que: 
 
O poder familiar consiste num conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e 
bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de condições por 
ambos os pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes 
impõe, tendo em vista o interesse e a proteção dos filhos (DINIZ, 2012, p. 1.197). 
 
Flávio ​Tartuce (2018, p. 1.564) ainda afirma que parcela da doutrina opta por 
denominar o poder familiar de ​autoridade parental em decorrência das mutações feitas em 
algumas expressões no Estatuto das Famílias (PL 470/2013). ​De acordo com o art. 87 do 
aludido projeto “A autoridade parental deve ser exercida no melhor interesse dos filhos”. 
Portanto, esta deve ser exercida pelo pai e pela mãe, não utilizando-se mais a expressão ​pátrio 
poder​, integralmente superada em consequência da ​despatriarcalização do Direito de 
Família​. No que diz respeito às famílias homoafetivas, a autoridade parental pode ser exercida 
por dois homens ou por duas mulheres, sem ressalvas quanto ao tratamento da matéria. ​Nesse 
sentido, desprende-se do art. 1.630 do CC que “Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, 
enquanto menores”. 
Quanto ao art. 1.631 do dispositivo civilista, durante o casamento e a união estável, 
compete a autoridade parental aos pais e na falta ou impedimento destes, o outro exercerá 
com exclusividade. A caso haja divergências no tocante ao seu exercício, é assegurado por 
força de lei a qualquer deles recorrer a tutela jurisdicional do juiz para a solução do desacordo 
11 
 
(art. 1.631, parágrafo único, do CC). Determina, ainda o art. 1.632 do CC que “​A separação 
judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais e filhos 
senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos​”. 
A norma legal reforça o status da convivência familiar, bem como ser esta um dever 
dos pais de terem os filhos sob sua companhia – sendo um dos fundamentos para a 
responsabilidade civil por abandono afetivo, uma vez que essa companhia abrange o afeto, a 
interação entre pais e filhos. Desse modo, cumpre observamos que o Superior Tribunal de 
Justiça reconhecedireito de indenização não apenas nos casos de abandono afetivo, mas 
também em havendo abandono material do filho pelo pai (conforme o Informativo n. 609 da 
Corte). Por fim, como se observa na leitura do art. 1.633 do CC: “​O filho, não reconhecido 
pelo pai, fica sob poder familiar exclusivo da mãe; se a mãe não for conhecida ou capaz de 
exercê-lo, dar-se-á tutor ao menor​”. Todavia, na hipótese de a mãe não for conhecida ou 
demonstrar incapacidade de exercê-lo, a autoridade parental será exercida por um tutor. 
 
A redação do art. 1.634 do codex legal, recentemente foi modificado pela Lei n. 
13.058/2014, traz novas atribuições quando ao exercício do poder familiar que compete aos 
pais, a saber: 
 
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o 
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: (Redação dada 
pela Lei nº 13.058, de 2014) 
 
I -​ dirigir-lhes a criação e a educação​ (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014); 
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584 (Redação 
dada pela Lei nº 13.058, de 2014); 
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem (Redação dada pela 
Lei nº 13.058, de 2014); 
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior (Redação 
dada pela Lei nº 13.058, de 2014); 
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência 
permanente para outro Município (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014); 
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais 
não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar (Redação 
dada pela Lei nº 13.058, de 2014); 
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos 
da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, 
suprindo-lhes o consentimento (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014); 
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha (Incluído pela Lei nº 13.058, de 
2014); 
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade 
e condição (Incluído pela Lei nº 13.058, de 2014). (​grifo nosso​). 
 
 
Por sua vez, o art. 1.637 do CC traz a seguinte redação: 
 
12 
 
Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou 
arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o 
Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do 
menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. 
 
No que diz respeito aos fundamentos da destituição da autoridade parental por 
sentença judicial à luz das informações contidas no art. 1.638 do CC, são hipóteses de 
destituição: 
 
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: 
 
I - castigar imoderadamente o filho; 
II - deixar o filho em abandono​; 
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; 
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente; 
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção (Incluído pela 
Lei nº 13.509, de 2017). (​grifo nosso​). 
 
 
Tartuce (2018, p. 1.570) enfatiza que não se trata de um rol taxativo (​numerus 
clausus​), pois, é tendência de o Direito Privado atual compreender que as relações constantes 
em lei não são taxativas, e sim exemplificativas (​numerus apertus​). ​Portanto, é um instituto 
jurídico que vincula pais e filhos menores, não emancipados, que são os sujeitos da relação 
jurídica que se constitui por vínculo natural, biológico, adotivo, pelo reconhecimento 
espontâneo, cujo objeto desse relacionamento é um conjunto de direitos e deveres, em âmbito 
pessoal e patrimonial. 
 
1.2 Sujeitos e objeto da relação jurídica 
 
1.2.1 Sujeitos e a titularidade do poder familiar 
 
O poder familiar constitui uma relação jurídica entre os pais, em igualdade de 
direitos, interesses, deveres e exercício, e seus filhos menores, não emancipados, seja o 
vínculo paterno-materno-filial originado de uma relação matrimonial, ou não, em união 
estável, ou por adoção. O Estatuto da Criança e do Adolescente (​Lei n. 8.069/90​) impõe no 
art. 21 que o poder familiar será exercido tanto pelo pai quanto pela mãe, logo, não 
baseando-se no gênero para definir as atribuições destinadas aos pais, à medida que agirem 
segundo a forma prevista em lei. 
São titulares do poder familiar os genitores, em plena, total e equânime igualdade de 
direitos, interesses, deveres e exercícios, considerando-se que, eventuais divergências 
insuperáveis entre eles poderá ser solucionada pelo Poder Judiciário (art. 1.631, ​caput​, e 
13 
 
parágrafo único, e art. 1.634, ​caput​, ambos do CC/2002; art. 21, ECA), uma vez que não mais 
prevalecerá a vontade de quaisquer deles. Sua titularidade será exclusiva de um só dos pais 
quando o outro falecer ou dele for destituído, ou, em caso de não reconhecimento da filiação 
(art. 1.633, CC/2002). Os pais, em igualdade de condições, possuem a responsabilidade pelo 
cumprimento de todas as atribuições que lhe são inerentes em igualdade jurídica – logo, não 
se fala mais em competências ou encargos diferenciados ante a diferença de sexo. 
Quanto aos titulares do polo passivo, o Código Civil estabelece que figuram os filhos 
menores (art. 1.630 c/c. o art. 5º, ​caput​, ambos do CC/2002) que estão subordinados ao poder 
familiar, sendo os genitores os únicos titulares ativos – a respeito dos filhos menores 
emancipados a ele não estão sujeitos, pois o poder familiar se extingue com a emancipação 
(art. 1.635, II, CC/2002). Ressalte-se, outrossim, que a orfandade paterna e materna também o 
extingue (art. 1.635, I, CC/2002), caso em que esse infante (criança ou adolescente), haverá 
de ser posto sob tutela, consoante disciplinam os arts. 1.728 a 1.766 do Código Civil e arts. 
36, 37 e 38, estes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Portanto, o poder familiar 
é composto por titulares mútuos de direitos. 
A titularidade passiva é determinada pelo fato da maternidade e paternidade estarem 
reconhecidos legalmente, por qualquer das formas previstas em lei, dando-se prioridade ao 
exercício correto do poder familiar e seus deveres bem como o resguardo dos direitos da 
criança e adolescente. Segundo o art. 1.632 do Código Civil de 2002: "​A separação judicial, o 
divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão 
quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos​"​. Quer 
dizer, sendo a titularidade inerente a ambos os cônjuges, ainda que após a separação ou 
divórcio, os direitos e deveres relativos ao filho menor, estes dividem-se entre os genitores 
ante a ausência de um dos pais no seio familiar. 
Cumpre enfatizarmos que conforme o art. 5º do Código Civil de 2002, a menoridade 
cessa após atingir dezoito anos completos, no momento em que a pessoa está habilitada a 
praticar e gozar de todos os atos da vida civil. Sendo assim, a maioridade civil do filho é uma 
das causas extintivas do poder familiar (art. 1.635, III,CC/2002), competindo aos pais após a 
extinção do poder familiar prestar apoio e ajuda quando necessário, porém a obrigação 
incumbida não é mais exigida. Entretanto, tal como realça Oswaldo Peregrina Rodrigues 
(2015)​1​, ​"​caso permaneça a incapacidade civil desse filho por outro fator – clínico, físico, 
1Promotor de Justiça em São Paulo​, Professor Universitário – Graduação e Pós-Graduação – na PUC/SP, ​Doutor 
e Mestre em Direito Civil pela PUC/SP, Associado do IBDFAM n. 102. 
14 
 
psíquico ou psicológico –, será aplicável o instituto da curatela, com a prévia e imprescindível 
interdição do incapaz​". Essa hipótese configuraria um exercício cumulativo da curatela 
(especificamente, do poder familiar) pelos pais que, até o dado momento, a exerciam 
conjuntamente e solidariamente. 
 
1.2.2 Natureza jurídica e objeto 
 
A respeito da natureza jurídica, apresenta-se como um conjunto de prerrogativas, 
conferidas aos pais pelo Estado tendo como finalidade a formação dos filhos, observando o 
melhor interesse destes e de forma que promova suas capacidades e desenvolvimento 
saudável. Conforme evidencia Maria Helena Diniz, ​apud Silva (2015, p. 8), o poder familiar 
é: 
 
[...] conjunto de direitos e obrigações quanto à pessoa e bens do filho menor não 
emancipado, exercido, em igualdade de condições por ambos os pais, para que 
possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o 
interesse e a proteção do filho​2​. 
 
À vista disso, a autoridade parental está ​intrinsecamente atrelada ao dever, ao 
poder-dever; e simultaneamente, tem-se a titularidade do instituto e o exercício de prestações 
relativas ao poder familiar, com os direitos, e, conjuntamente, a obrigação de satisfazer os 
vários deveres inerentes ao seu exercício. Portanto, como ​sujeitos titulares no exercício do 
poder familiar temos os pais (ou genitores), detentores do direito de exigir obediência e 
respeito dos filhos menores não emancipados e, ainda, concomitante a este, o dever de prestar 
sustento, guarda, criação e educação. ​Acerca do tema demonstra Maria Berenice Dias, ​apud 
Carvalho (2016)​3 que “(...) ​Têm ambos o dever de dirigir a criação e a educação, conceder ou 
negar consentimento para casar, para viajar ao exterior, mudar de residência, bem como 
representá-lo e assisti-lo judicial ou extrajudicialmente (CC, art. 1.634)”. 
Em relação ao objeto, há a prevalência de direitos de natureza pessoal e material, 
onde, o Estatuto ​da Criança e do Adolescente, em seu o art. 22, impõe que "Aos pais incumbe 
o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse 
destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais". Ainda que haja 
divergências se o poder familiar se resume somente a deveres e obrigações estabelecidos em 
lei ou se são poderes atribuídos aos pais, a autoridade parental é um instituto ​sui generis que 
2SILVA, Nadine Anelli. ​O poder familiar e suas implicações no direito civil brasileiro, ​2015. 
3CARVALHO, Renata Nunes. ​Poder familiar e suas limitações: análise da lei da palmada​, 2016. 
https://www.sinonimos.com.br/intrinsecamente/
15 
 
possui natureza, características e especificidades, de modo que constitui uma relação jurídica 
de direito material estabelecida entre pessoas físicas que figuram em dois polos (ativo e 
passivo), na medida em que há correlação e correspondência de direitos e deveres entre os 
sujeitos. 
2 O DEVER DE CUIDADO E DE AFETO 
 
A partir do momento em que um casal demonstra ​animus em ter filhos, surge o dever 
de cuidado com os mesmos – isto é, advém a responsabilidade dos pais em relação aos filhos, 
seja no sentido material, seja no sentido moral. Tal responsabilidade consiste em uma 
obrigação presumida de os genitores promoverem materialmente os filhos até que atinjam a 
maioridade civil. Logo, a responsabilidade civil inerente a autoridade parental decorrente da 
falta de afeto por parte dos pais materializa-se através da ausência de cuidado e negligência ao 
direito de convivência familiar. 
Essenciais para a formação e desenvolvimento saudável da criança e adolescente, o 
cuidado e o afeto é apontado como o principal fundamento das relações familiares e apesar de 
alguns juristas manifestarem suas críticas ao fato de que constitui um princípio jurídico 
aplicado ao âmbito familiar, a afetividade consiste na capacidade individual de experimentar o 
conjunto de fenômenos afetivos (tendências, emoções, paixões, sentimentos etc.)​4​, que tem 
um papel crucial no processo de aprendizagem do ser humano, uma vez que está presente em 
todas as áreas da vida, exercendo uma profunda influência no crescimento cognitivo da 
criança/adolescente. Malgrado, não se encontra prevista expressamente na Carta Magna como 
um direito fundamental, porém, diz-se que a afetividade “decorre da valorização constante da 
dignidade humana e da solidariedade” (TARTUCE, 2018, p. 1.327). 
Nas palavras da Ministra Nancy Andrighi, ​apud Tartuce, “o afeto tem valor 
jurídico” (2018, p. 1.327 e 1.328): 
 
A quebra de paradigmas do Direito de Família tem como traço forte a valorização do 
afeto e das relações surgidas da sua livre manifestação, colocando à margem do 
sistema a antiga postura meramente patrimonialista ou ainda aquela voltada apenas 
ao intuito de procriação da entidade familiar. Hoje, muito mais visibilidade 
alcançam as relações afetivas, sejam entre pessoas de mesmo sexo, sejam entre o 
homem e a mulher, pela comunhão de vida e de interesses, pela reciprocidade zelosa 
entre os seus integrantes. Deve o juiz, nessa evolução de mentalidade, permanecer 
atento às manifestações de intolerância ou de repulsa que possam porventura se 
revelar em face das minorias, cabendo-lhe exercitar raciocínios de ponderação e 
apaziguamento de possíveis espíritos em conflito. A defesa dos direitos em sua 
plenitude deve assentar em ideais de fraternidade e solidariedade, não podendo o 
Poder Judiciário esquivar-se de ver e de dizer o novo, assim como já o fez, em 
4AFETIVIDADE. ​Significado de afetividade​, 2013. 
16 
 
tempos idos, quando emprestou normatividade aos relacionamentos entre pessoas 
não casadas, fazendo surgir, por consequência, o instituto da união estável. 
 
O dever de cuidado e de afeto manifestam-se por meio de condutas de assistência 
recíproca entre os componentes de uma família. Quer dizer, refere-se à assistência moral, 
material, psicológica e social que os pais ou responsáveis devem prestar aos filhos e esses, 
devem prestar aos seus genitores, na velhice. Dispostos nos arts. 229 da CFB/88 e 22 do ECA 
(​Estatuto da Criança e do Adolescente​), os quais possuem as seguintes redações: 
 
Art. 229 da CFB/88. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores 
e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou 
enfermidade. 
 
Art. 22 do ECA. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e ​educação​ dos filhos 
menores. 
 
Ocorre que, muitas famílias deixam de observar esse cuidado, acarretando 
consequênciaspara o desenvolvimento da criança ou adolescente. Não é possível – e até 
mesmo quase impossível – criar e educar uma criança e/ou adolescente não dando a devida 
observância a convivência familiar, posto que esta proporciona a base moral e psíquica do 
menor e permite o desenvolvimento saudável de sua personalidade. Em razão disso, a 
ausência de um dos genitores, ainda que a criança seja amparada pelos demais familiares ao 
longo da vida, pode dar origem a danos sociais e psíquicos marcantes. O ordenamento 
jurídico pátrio trouxe o cuidado e o afeto como um valor jurídico presente em diversas 
legislações, tais como a CF/88, o Código Civil de 2002 e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, bem como tem como fundamento basilar as diversas decisões dos Tribunais 
Superiores. 
A despeito de que parcela da doutrina e jurisprudência ainda possuam o 
entendimento de que não é possível obrigar alguém a amar, o fundamento para que se admita 
a responsabilização civil por abandono afetivo acha respaldo no argumento de que a falta de 
cuidado bem como a ausência da convivência familiar, estas obrigações inerentes a autoridade 
parental, uma vez descumpridas caracterizam ato ilícito. Ressalta-se que não se responsabiliza 
a falta de amor, e sim a de cuidado, de afeto e de convivência o que, em geral, está associado 
ao amor, porém, trata-se de um dever que independe do sentimento. Logo, atribui-se ao dever 
de cuidado um valor jurídico de considerável relevância, uma obrigação legal, dado que tem 
como finalidade a proteção integral do menor – em outras palavras, o preceito constitucional 
da tutela máxima é no efeito de colocá-la a salvo de todas as formas de negligência. 
 
https://jus.com.br/tudo/educacao
17 
 
2.1 A responsabilidade civil diante do poder familiar 
 
Por essa via, seria o cuidado uma obrigação de assistência material, antes mesmo de 
um agir afetivo e, uma vez caracterizada a transgressão obrigacional, há uma manifesta 
situação de vulnerabilidade do menor​5​. De acordo com as lições da Professora Giselda Maria 
Fernandes Novaes Hironaka, ​apud​ Tartuce (2017)​6​: 
 
A responsabilidade dos pais consiste principalmente em dar oportunidade ao 
desenvolvimento dos filhos, consiste principalmente em ajudá-los na construção da 
própria liberdade [...]. Paralelamente, significa dar a devida atenção às necessidades 
manifestas pelos filhos em termos, justamente, de afeto e proteção [...]. 
 
Acerca da matéria relacionada ao poder familiar, de acordo com o art. 932 do Código 
Civil de 2002, os pais são responsáveis pela reparação civil aos filhos menores que estiverem 
sob sua autoridade e em sua companhia. Como pressuposto para caracterização do abandono 
afetivo, é indispensável a presença da lesão de um direito alheio por meio da inobservância a 
um dever jurídico previsto em lei, qual seja, o dever de convivência. Tendo como 
embasamento algumas decisões emanadas dos Tribunais Superiores, têm-se reconhecido o 
requerimento de filhos que alegam abandono ou rejeição por parte dos genitores, sequelados 
em face da falta de carinho, afeto, ensinamento na infância e na juventude. 
Por sua vez, sob o prisma dos tribunais, o maior óbice da responsabilização por 
abandono afetivo encontra-se no debate acerca da caracterização da falta de cuidado e/ou dos 
deveres inerentes ao vínculo paterno-filial como ato ilícito bem como a possibilidade de 
aplicar as normas gerais da responsabilidade civil no Direito de Família. Dispõe o art. 186 do 
Código Civil de 2002 que “aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito ou causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete 
ato ilícito”. E ainda, prevê o art. 927 do referido diploma legal que ​“aquele que por ato ilícito, 
causar dano a outrem, fica obrigado a indenizar”. Com base nos preceitos civilista, fica 
perfeitamente demonstrado que o pai ou a mãe que deixa de cuidar do filho, voluntariamente, 
descumpre os deveres inerentes ao poder familiar (estes expressamente estabelecidos nos art. 
227 e 229 da CFB/88, bem como no supramencionado art. 22 do ECA) – cometendo, desta 
forma, ato ilícito e fazendo gerar a possibilidade de uma indenização. O Código Civil de 2002 
trata a responsabilidade civil ​in lato sensu​, isto é: 
5JAIME, Carla Custodio. ​O dever de cuidado como ensejador da responsabilidade civil por abandono 
afetivo, ​2015. 
6TARTUCE, Flávio. ​Da indenização por abandono afetivo na mais recente jurisprudência brasileira,​ 2017. 
18 
 
Inexiste no ordenamento jurídico qualquer restrição legal que impeça a aplicação das 
normas que regulam a responsabilidade civil às relações tuteladas pelo Direito de 
Família. Ao contrário, a matéria é abordada no Código Civil (CC) de maneira ampla 
e irrestrita (MOYSÉS, 2012, p. 6). 
 
A fim de evitar quaisquer controvérsias sobre a caracterização do abandono afetivo 
como conduta ilícita, a proposta do Estatuto das Famílias (​PLS n. 470/2013​), nos arts. 108 e 
109, conceitua a prática como qualquer ação ou omissão que ofenda direito fundamental da 
criança ou do adolescente, entre eles a convivência familiar saudável. ​Portanto, a ausência do 
afeto no seio da família causaria danos psíquicos aos filhos, que podem ser irreversíveis e 
jamais serão compensados por indenizações pecuniárias eventualmente cobradas. 
Lembrando-se que não se trata de “dar preço ao amor”, tampouco de compensar a dor, 
propriamente dita. A saber: 
 
Art. 108. Considera-se conduta ilícita o abandono afetivo, assim entendido a ação ou 
a omissão que ofenda direito fundamental da criança ou adolescente. 
 
Art. 109. Compete aos pais, além de zelar pelos direitos estabelecidos em lei 
especial de proteção à criança e ao adolescente, prestar-lhes assistência afetiva, que 
permita o acompanhamento da formação da pessoa em desenvolvimento. 
 
Parágrafo único. Compreende-se por assistência afetiva: 
 
I - orientação quanto às principais escolhas e oportunidades profissionais, 
educacionais e culturais; 
II - solidariedade e apoio nos momentos de necessidade ou dificuldade; 
III - cuidado, responsabilização e envolvimento com o filho. 
 
O aspecto mais relevante é alcançar a função punitiva e dissuasória da reparação dos 
danos, conscientizando o pai do gravame causado ao filho e sinalizando para ele, e aos 
demais, que sua conduta deve ser cessada e evitada, por reprovável e grave. Da mesma forma, 
a reparação poderia prevenir condutas de abandono na medida em que houvesse um trabalho 
de conscientização de gerações futuras, não só pelo Poder Judiciário, mas principalmente, 
pelas Instituições de Ensino e, também pelas famílias, sobre a importância de se planejar ter 
filhos para que possam ser criados com todo o afeto e cuidado de que necessitam​7​. 
 
2.2 Entendimentos dos Tribunais Superiores 
 
A problemática que abrange a responsabilização civil por abandono afetivo 
mostra-se como um tema polêmico, vez que os magistrados devem ter cautela ao efetuar a 
7JAIME, Carla Custodio. ​O dever de cuidado como ensejador da responsabilidade civil por abandono 
afetivo, ​2015. 
19análise do caso concreto objeto de julgamento, a fim de proteger a tutela jurisdicional estatal 
da litigância de má-fé (servindo de mecanismo de vingança contra pais ausentes ou 
negligentes no tratamento com os filhos). Nesse sentido, conforme entendimento dos 
Tribunais pátrios: 
 
EMENTA: CONSTITUCIONAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ABANDONO MATERIAL E AFETIVO 
DA FILHA POR PARTE DO GENITOR. TRAUMA PSICOLÓGICO 
CARACTERIZADO. EXISTÊNCIA DE CONCAUSALIDADE. AFASTAMENTO 
DA RESPONSABILIDADE CIVIL. INOCORRÊNCIA. DANOS MORAIS 
CARACTERIZADOS. INDENIZAÇÃO. CABIMENTO. ​1. No âmbito das relações 
familiares, para a configuração da responsabilidade civil, no caso de abandono 
afetivo, deve ficar comprovada a conduta omissiva ou comissiva do genitor, quanto 
ao dever jurídico de cuidado com o filho, bem como o dano, caracterizado pelo 
transtorno psicológico sofrido e o nexo causal entre o ilícito e o dano suportado, nos 
termos do artigo 186 do Código Civil. 2. Em hipóteses excepcionais, quando 
configuradas trauma psicológico decorrente do descaso do genitor perante a prole, é 
cabível indenização por abandono afetivo, em virtude do descumprimento legal do 
dever jurídico de cuidado, necessários à adequada formação psicológica e inserção 
social da prole. 3. Demonstrado que o genitor, por omissão voluntária, deixou de 
observar o dever jurídico de cuidado, previsto nos artigos 227 e 229, da Constituição 
Federal e no artigo 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente, causando trauma 
psicológico à autora, conforme laudo pericial produzido nos autos, tem-se por 
caracterizado ato ilícito passível de indenização. ​4. A existência de concausas, por si 
só, não ilidi o nexo causal, tampouco afasta a responsabilidade civil daquele que, 
com sua conduta ilícita, causou dano a outrem, razão pela qual o genitor omisso 
deve responder pelos danos experimentados pela prole, na proporção em que 
concorreu para o evento danoso. 5. Para a fixação do quantum indenizatório a título 
de danos morais, deve o magistrado levar em consideração as condições pessoais das 
partes, a extensão do dano experimentado, bem como o grau de culpa do réu para a 
ocorrência do evento. 6. Recurso de Apelação conhecido e parcialmente provido. 
ACÓRDÃO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 
UNÂNIME. (Tribunal de Justiça do Distrito Federal). (​grifo nosso​). 
 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL.AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS 
MORAIS.PRELIMINAR. CERCAMENTO DE DEFESA. NÃO 
DEMONSTRADO. ABANDONO AFETIVO DE MENOR. COMPROVAÇÃO. 
VIOLAÇÃO AO DIREITO DE CONVÍVIO FAMILIAR. DANO MORAL. 
OCORRÊNCIA. [...]. 3. ​A falta da relação paterno-filial, acarreta a violação de 
direitos próprios da personalidade humana, maculando o princípio da dignidade da 
pessoa humana. Mostra-se cabível a indenização por danos morais decorrentes da 
violação dos direitos da criança, decorrente do abandono afetivo​. [...] (TJ-MG, AC 
10024143239994001 MG, Rel. Evandro Lopes da Costa Teixeira, 17​ª Câmara Cível, 
j. em 08.08.2019, DJe 20.08.2019). (​grifo nosso​). 
 
A partir da leitura dos julgados, podemos extrair a seguinte conclusão inicial: o 
Poder Judiciário gradativamente tem atribuído a devida importância ao afeto no âmbito 
familiar, na medida em que a jurisprudência nacional vem admitindo a possibilidade de dano 
moral afetivo sujeito a indenização, se por acaso ficar demonstrada violação aos deveres 
integrantes da autoridade familiar e, em especial, os direitos da criança e do adolescente 
20 
 
(TJ-SP, AC 1007185-90.2019.8.26.0007 SP, Rel. J. B. Paula Lima, 10​ª Câmara de Direito 
Privado, j. em 29.05.2020, DJe 29.05.2020). 
 
 
 
3 O INSTITUTO FAMÍLIA E SEUS ASPECTOS 
 
3.1 Evolução histórica da entidade familiar 
 
Ao longo da evolução humana, a família consiste em um dos conceitos que mais 
se modificou e que se tornou um dos mais diversificados, sendo encarada como um elemento 
que favorece o desenvolvimento da personalidade, considerada o núcleo estruturante do 
indivíduo, que tem como embasamento a ética, a afetividade e a solidariedade – estando 
vinculada a proteção. Para uma melhor compreensão, ​é imprescindível perceber sua 
preexistência em relação ao Estado. A instituição família organiza-se através de regras 
culturalmente elaboradas.​ ​Conforme assevera Priscila Marques Degani (2020): 
 
[...] a sociedade está em constante ebulição, fazendo com que a lei não consiga 
acompanhar com tanta rapidez todas as mudanças por que passam as famílias, 
cabendo à doutrina e jurisprudência atender os artífices da justiça. O direito é o 
reflexo do momento social e modifica-se conforme as mudanças ocorridas na 
sociedade. 
 
Considerada por Barreto (2012, p. 206) como a “primeira célula de organização 
social e formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligada pelos laços afetivos”, 
substancialmente foi criada na Roma antiga e era fundada no patriarcado, onde, as mulheres, 
filhos e servos estavam sujeitos ao poder do pai, que detinha a chefia do núcleo familiar. A 
evolução do instituto família se divide em quatro fases: família consanguínea, família 
punaluana, pré-monogâmica e a monogâmica, cada uma com suas particularidades e atributos 
(ENGELS ​apud​ BARRETO, 2012). 
A união era constituída através de um instrumento político: o casamento, onde, a 
ausência de afeto no núcleo familiar era algo ordinário, pois, tal laço era estabelecido com o 
propósito de conservar os bens e preservar a honra e as vidas acaso surgisse uma crise. Um 
comportamento usual na sociedade familiar romana era a distinção entre os filhos. Enquanto 
para a filha incumbiam os ensinamentos e preparativos para um possível matrimônio, 
pertencia aos filhos homens o direito sob os bens. Além disto, o homem dispunha do direito 
de romper o matrimônio ou, na hipótese de adultério ou esterilidade, de repudiar sua mulher. 
21 
 
No decorrer dos séculos, a religião cristã teve uma influência substancial nas 
bases familiares que, a partir deste momento, seriam formadas através das cerimônias 
religiosas. Assim, o dogma da Igreja Católica pregava o casamento como algo sagrado, o 
qual, sob as bençãos divinas do céu tal vínculo entre o homem e a mulher somente poderia ser 
desfeito pela morte. Com o fim da Idade Média e início da Era Moderna, uma nova ideia de 
família emergiu baseada não apenas nos axiomas católicos, e sim no afeto, no amor, no 
carinho, na convivência etc. Desse modo, com o afastamento do Estado das influências 
religiosas e a positivação do instituto família no Direito, adquiriu-se uma perspectiva mais 
social, a família como peça fundamental da sociedade. 
Sob a égide do Código Civil de 1916, marco histórico da legislação cível 
brasileira, o instituto família (moldado a sua época) estava vinculado a dois aspectos 
fundamentais: o casamento formal e a consanguinidade, bem como ordenavam a ideologia da 
família patriarcal que descartava da tutela jurisdicional do Estado as demais espécies de 
entidades familiares e os filhos havidos fora da constância do matrimônio (sendo este último a 
únicaforma de constituição da denominada ​família legítima​, logo, toda e qualquer outra 
forma seria considerada ilegítima, mesmo que presente o afeto). 
Quanto ao poder familiar, exercido pelo marido, a figura paterna detinha 
autoridade sobre os demais membros descendentes, quer dizer, “um perfil rigorosamente 
hierarquizado e patriarcal, em que um conjunto de pessoas permanecia sob o poder absoluto, 
ilimitado e vitalício de um chefe, o ​pater famílias” ​(DEGANI, 2020). ​No que diz respeito ao 
direito das famílias, a legitimidade da família e a dos filhos, em consonância ao princípio da 
defesa da constituição matrimonial, adotou-se como paradigma de proteção à filiação a 
presunção ​pater is et​, ou seja, de que o filho concebido na constância da sociedade conjugal 
tem por pai o marido da mãe. Todavia, o Código não trazia em seu texto normas que 
abordassem a prática do abandono afetivo paterno-filial e a sua responsabilização civil. Com 
o passar das décadas, desenvolveu-se um novo panorama, e com isso, o instituto 
desprendeu-se dos modelos originários (baseados no casamento, sexo e procriação) de origem 
romana, resultando no fim do molde patriarcal. 
Promulgada em 1988, a atual Constituição Federal Brasileira ao reunificar o 
sistema, trouxe consigo conceitos do direito civil, atribuindo uma nova roupagem a sua 
estrutura e reorganizando os parâmetros basilares da legislação civilista de 1916. Dessa 
forma, a família perde a sua natureza patrimonial e passa a valorizar as pessoas que a 
compõem, portanto, a ideia que atualmente temos é de que ela consiste em um vínculo, 
independentemente das suas origens ancestrais. Assim, ela ganha prestígio no ordenamento 
22 
 
jurídico, recebendo proteção especial do Estado, e concedendo tratamento indistinto aos filhos 
havidos ou não do casamento, bem como reconhecendo os efeitos jurídicos de outros moldes 
familiares. 
Visando acompanhar a evolução da sociedade, foi instituído o Estatuto da Criança 
e do Adolescente (ECA), disciplinando os interesses da criança e do adolescente, 
compreendendo nessa proteção sujeitos de direitos. Baseado na Doutrina Jurídica da Proteção 
Integral, fez com que o filho deixasse de ocupar a posição de objeto, para ocupar a posição de 
sujeito na relação familiar (art. 15). 
Com a chegada do novo Código Civil, em 2002, efetuou-se uma dissociação entre 
o estado de filiação e o estado civil dos pais, pondo um término ao impedimento no que tange 
ao reconhecimento da paternidade. Além disso, ocorreu um alargamento do conceito de 
parentesco, deixando de ser apenas o liame da consanguinidade para se tornar também um 
critério socioafetivo respaldado no afeto. Embora não seja de conhecimento geral, o art. 5º, 
inciso II, da Lei n. 11.340/06 (​Lei Maria da Penha​), estabeleceu infraconstitucionalmente em 
sua redação a definição moderna de família, que consiste em uma “comunidade formada por 
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou 
por vontade expressa” (NORONHA, 2012, p. 18-19).​8 
Assim, a relação entre pais e filhos deve ser pensada e exercida em benefício 
destes. Malgrado, outras temáticas não foram tratadas de forma satisfatória, a exemplo do 
debate quanto à admissibilidade de indenização por danos morais em caso de abandono 
afetivo paterno-filial, cabendo-nos preencher tais lacunas com entendimentos 
jurisprudenciais. 
 
3.2 Princípios constitucionais basilares do direito de família 
 
3.2.1 Princípio de proteção da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da 
CFB/88) 
Encarado como um dos princípios mais abrangentes em relação aos demais previstos 
na Carta Magna de 1988, o princípio da dignidade da pessoa humana encontra-se expresso no 
art. 1º, inciso III da Constituição Federal Brasileira de 1988 e, de acordo com o legislador, 
atribui a pessoa humana status central na norma – sendo um dos fundamentos estruturais da 
construção do Estado Democrático de Direito –, garantindo a todos os seres humanos respeito 
e tratamento isonômico, independentemente de cor, raça, gênero ou religião. 
8NORONHA, Maressa Maelly Soares. ​A evolução do conceito de família. ​Nova Andradina, 2012. 
23 
 
O direito de família está inerentemente relacionado ao princípio em análise, pois, é 
no ambiente familiar que o indivíduo encontra o devido tratamento e respeito de que necessita 
para desenvolver de modo saudável e positivo o seu caráter (logo, se traduz como um 
importante mecanismo de manutenção e proteção à família e à integridade dos membros desse 
grupo, das relações e vínculos familiares, bem como manutenção dos direitos de 
personalidade). A dignidade é um valor intrínseco do ser humano, à sua essência, o qual já 
dispõe desde o seu nascimento. Assim estabelece o referido artigo: 
 
Art. 1º da CFB/88. A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
democrático de direito e tem como fundamentos: 
(...) 
III - a dignidade da pessoa humana; 
 
No dizer de Tartuce (2018, p. 1.316), “a dignidade humana deve ser analisada a 
partir da realidade do ser humano em seu contexto social​”. ​A finalidade do princípio de 
proteção da dignidade da pessoa humana seria a de “propiciar tutela integral à pessoa, de 
modo que não pode permanecer em departamentos estanques do direito público e do direito 
privado” (MONTEIRO ​apud DANTAS, 2017)​9​, o que possibilita à família manter firmes os 
laços afetivos construídos. Além disso, em razão de estarem em processo de desenvolvimento 
e construção de personalidade, etapa da vida na qual necessitam de considerável apoio, 
carinho, cuidado, amor e atenção, é indispensável a preservação também da sua dignidade e 
interesse. 
 
 
3.2.2 Princípio da solidariedade familiar (art. 3º, I, da CFB/88) 
 
Estabelece expressamente o art. 3º, inciso I da Constituição Federal de 1988 que 
dentre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil está a construção de uma 
sociedade livre, justa e solidária. Definido como a necessidade de que os componentes 
familiares possam compartilhar dos mesmo valores e deveres recíprocos, tendo origem nos 
vínculos afetivos e compreende a fraternidade e a reciprocidade. Nesse sentido, o princípio 
incide sobre a família ao impor tais deveres enquanto ente coletivo e a cada um dos membros 
de modo individual (LÔBO ​apud​ TRINDADE, 2019, p. 1), além de que: 
 
9MONTEIRO, Washington de Barros. ​Curso de direito civil, volume 2: Direito de Família. 38ª Edição. 
Revista e Atualizada.​ São Paulo: Saraiva, 2007. 
24 
 
[...] ao mesmo tempo, estabelece diretriz ao legislador, para que o densifique nas 
normas infraconstitucionais e para que estas não o violem; ao julgador, para que 
interprete as normas jurídicas e solucione os conflitos familiares contemplando as 
interferências profundamente humanas e sentimentais que encerram.​10 
 
Tem como desígnio primacial o resguardo das relações de afeto, da mesma forma 
que o respeito e a consideração entre os indivíduos que integram a entidade familiar.Portanto, 
cada membro da família deve cooperar a fim de que o outro possa concretizar e desenvolver o 
mínimo necessário para o seu crescimento biológico e psicológico positivo. 
 
 
3.2.3 Princípio do maior interesse da criança e do adolescente (art. 227, 
caput​, da CFB/88) 
 
Encontrado implicitamente na Constituição Federal de 1988, no ​caput do art. 227, 
esse princípio é entendido pela doutrina como uma forma de proteção ao menor de idade. ​In 
verbis​: 
 
Art. 227 da CFB/88. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de 
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão. ​(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, 
de 2010)​. 
 
Trata-se da primazia das necessidades da criança e do adolescente como 
pressupostos de resolução de conflitos ou, ainda, para composição de futuras regras – 
garantindo o respeito aos direitos fundamentais da criança e jovens, vez que a convivência 
familiar saudável é compreendida como direito fundamental característico da 
infantoadolescência. E, ainda, o art. 3º e parágrafo único do ECA (Estatuto da Criança e do 
Adolescente) determinar que: 
 
Art. 3º do ECA. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais 
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, 
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual 
e social, em condições de liberdade e de dignidade. 
 
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e 
adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, 
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e 
aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou 
10LÔBO, Paulo Luiz Netto. ​Princípio jurídico da afetividade na filiação. ​2004. 
25 
 
outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que 
vivem. ​(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016). 
 
Em complemento, o art. 4º do ECA traz em sua redação os deveres da família, da 
comunidade, da sociedade em geral e do poder público, de modo a assegurar a efetivação dos 
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária. A ​Lei n. 13.257/2016 estabelece, ainda, que a prioridade absoluta em garantir os 
direitos da criança, do adolescente e do jovem (nos termos do art. 227 da Constituição Federal 
e do art. 4º do ECA) inclui o dever do Estado em estabelecer políticas, planos, programas e 
serviços para a primeira infância (isto é, período que abrange os primeiros 6 (seis) anos 
completos), na medida em que atendam às especificidades dessa faixa etária, tendo em vista o 
seu desenvolvimento integral (art. 3º). 
 
3.2.4 Princípio da afetividade 
 
Como desdobramento do princípio da dignidade da pessoa humana e mesmo que 
implicitamente exposto no ordenamento jurídico pátrio, seu fundamento é constitucional, se 
manifestando como uma afirmação da natureza da família como grupo social fundado 
essencialmente nos laços de afetividade (LÔBO ​apud TRINDADE, 2019)​11​. A afetividade é 
reconhecida como elemento substancial que delineia o suporte fático da família a partir da 
“repersonalização das relações civis”, um fenômeno jurídico pelo qual prestigia o interesse da 
pessoa humana em face das relações patrimoniais​12​. Nesse seguimento, ao ficar demonstrada a 
ausência de afeto no ambiente familiar tem-se infrutífera toda a proteção concedida pelo 
ordenamento jurídico e, consequentemente, prejudicando o crescimento da criança e do 
adolescente vítima do abandono afetivo. 
 
 
3.2.5 Princípio da função social da família (art. 226, ​caput​, da CFB/88) 
 
É a partir da vivência em família que o indivíduo efetivará seu pleno 
desenvolvimento, ficando visível a relevante ocupação da entidade familiar na construção 
saudável da criança e do adolescente. A própria Carta Magna de 1988 em seu art. 226 confere 
a família o status de base da sociedade ao revesti-la de proteção do Estado. Isto posto, a 
função social da família desempenha o papel de parâmetro para alguns direitos elencados na 
11LÔBO, Paulo Luiz Netto. ​Princípio jurídico da afetividade na filiação. ​2004. 
12LÔBO, Paulo Luiz Netto. ​Famílias​. São Paulo: Saraiva, 2008, p.11. 
26 
 
legislação pátria, em especial os relacionados a criança e ao adolescente. Com o 
reconhecimento da função social da família, consequentemente, legitima-se a função social da 
própria sociedade (TARTUCE, 2018). 
 
 
 
 
 
 
4 AS NUANCES DO ABANDONO AFETIVO PATERNO-FILIAL 
 
Segundo Tartuce (2018, p. 1.321), “ser solidário significa responder pelo outro, o 
que remonta à ideia de solidariedade do direito das obrigações. Quer dizer, ainda, 
preocupar-se com a outra pessoa. Desse modo, a solidariedade familiar deve ser tida em ​lato 
sensu​, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial, espiritual e sexual​” – logo, atribui-se 
valor inquestionável ao afeto (ao amor) como sentimento proveniente do amor, importante 
para construção positiva das relações familiares e elemento vital para o aperfeiçoamento do 
princípio da dignidade da pessoa humana (ANGELUCI ​apud​ NASCIMENTO, 2017). 
Por sua vez, a paternidade responsável pode ser definida como a ideia de 
responsabilidade que deve ser observada tanto na formação quanto na manutenção da família. 
Isto é, o indispensável acompanhamento dos filhos pelos pais. Destarte, o abandono afetivo 
(ou ​teoria do desamor​) caracteriza-se pelo não cumprimento dos poderes-deveres dos pais de 
educar, cuidar e assistir o filho, temática que vem sendo objeto de discursão nos tribunais, 
com diversas opiniões divergentes. Então, seria uma questão de inadimplemento desses 
poderes-deveres, uma omissão do pai no cumprimento de um poder-dever decorrente de sua 
autoridade parental, dentre os quais destaca-se os deveres de prestar educação, carinho, 
assistência moral, afeto, dentre outros (LÔBO ​apud​ NASCIMENTO, 2017). 
Comumente o abandono afetivo se dá de duas formas: após a separação dos 
genitores, no momento em que a guarda do menor passa a ser concedida apenas à um dos 
genitores, ou por espontânea vontade do pai que deixa de conviver cotidianamente com seu 
filho e de fomentar todo afeto necessário para uma formação psicológica saudável – e, 
consequentemente, tal conduta viola o princípio da dignidade da pessoa humana. Essa 
segunda hipótese corresponde a uma forma de abandono moral, tão prejudicial quanto o 
27 
 
material, e que dá ensejo à compensação pecuniária. Porém, há correntes apontam no sentido 
de que há ocorrênciado abandono afetivo em ambientes familiares onde há uma coabitação 
entre seus membros, na qual o pai não dispensa qualquer tipo de zelo para com seu(s) filho(s). 
A exemplo, temos o entendimento da professora Alana Gabi Sicuto (​apud 
Esteves, 2017, p. 80), onde: 
 
Normalmente o abandono afetivo configura-se quando o pai abandona física e 
moralmente a vida do filho, mas também pode ocorrer quando, mesmo havendo 
coabitação entre eles, o pai não dispensa qualquer forma de atenção, afeto ou apoio 
ao filho. Tal hipótese é possível, porque como mencionado acima, a convivência 
familiar exige não só a presença física, mas principalmente o apoio moral do pai ao 
filho.​13 
 
No entanto, é preciso observar o caso concreto, pois, existem situações alheias à 
vontade do pai. Para um melhor entendimento, por exemplo, seria a hipótese em que o pai não 
possui a guarda do filho e recursos suficientes para visitá-lo quando reside em uma localidade 
consideravelmente distante. Outro tipo de cenário seria quando não há ciência de paternidade, 
quer dizer, até que seja realizado o exame de DNA e fique comprovado o liame biológico da 
paternidade, não se fala em abandono afetivo paterno-filial. 
Nesse sentido, apesar da mãe poder exercer a função de pai e mãe, a figura 
masculina é elemento essencial para um sadio desenvolvimento psíquico emocional-afetivo 
da criança ou adolescente. O leito familiar tem responsabilidade pela formação do indivíduo 
como pessoa, onde, inserido neste meio absorverá todos os valores, princípios, ensinamentos 
etc., os quais serão levados adiante na vida adulta. Portanto, está propenso a efetivamente 
oportunizar a dignidade ao incorporar os sentimentos e esperanças no rol de valores 
primordiais para conquista da felicidade (DIAS​14​ ​apud​ NASCIMENTO, 2017). 
De acordo com Nascimento (2017, p. 214), no campo da psicologia, os 
profissionais citam como ofensas geradas pelo distanciamento da figura paterna: rejeição, 
baixa autoestima, danos ao rendimento escolar, transtornos alimentares, depressão, ansiedade 
aguda (decorrente da insegurança pela ausência de uma base familiar), temperamentos 
agressivos, etc. Contudo, deve-se sempre analisar o caso concreto vez que dispõem de fatores 
singulares a serem averiguados e indagados. 
 
4.1 O dano mora​l 
13SICUTO, Alana Gabi. ​Responsabilidade civil no direito de família: dano moral decorrente do abandono 
afetivo.​ 2016. 
14DIAS, Maria Berenice. ​Adoção e a espera do amor. ​Brasília, DF: Conteúdo Jurídico. p. 3, abr. 2005. 
28 
 
 
Para que seja possível o pagamento de uma indenização, é indispensável a 
comprovação do dano patrimonial ou extrapatrimonial suportado por alguém em que, via de 
regra, não há responsabilidade civil sem dano, incumbindo o ônus da prova ao autor da 
demanda. Impende salientar que em algumas hipóteses é admitida a inversão do ônus da 
prova do dano ou prejuízo (Tartuce, 2018, p. 554). Nessa lógica, no entendimento do 
doutrinador civilista Flávio Tartuce (2018, p. 555), o dano ostenta o status de atributo 
imprescindível da responsabilidade civil, se divide em: ​danos clássicos ou tradicionais e 
danos novos ou contemporâneos​. De acordo com sua classificação, o primeiro corresponde 
aos danos materiais e aos danos morais enquanto o segundo diz respeito aos danos estéticos, 
danos morais coletivos, danos sociais e danos por perda de uma chance. Entretanto, iremos 
nos voltar apenas para o dano moral. 
Tornando-se pacificada a partir da Constituição Federal de 1988 e estando prevista 
expressamente no art. 5º, incisos V e X, a chamada “reparabilidade dos danos imateriais” é 
encarada como algo moderadamente contemporâneo. Com isso, compreende-se por dano 
moral ​aquele que se caracteriza pela ofensa a um bem de natureza imaterial juridicamente 
tutelado pela lei (um direito da personalidade), e que pode ocorrer tanto por ação quanto por 
omissão que signifique ato ilícito, independentemente de dolo ou culpa. Todavia, lembremos 
que deve-se atentar ao caso concreto, posto que “os danos morais suportados por alguém não 
se confundem com os meros transtornos ou aborrecimentos que a pessoa sofre no dia a dia” 
(Tartuce, 2018, p. 562), cabendo ao magistrado apontar se a reparação imaterial é cabível ou 
não. 
Hironaka​15​ ​apud​ Rezende (2017) aduz que: 
 
O dano causado pelo abandono afetivo é antes de tudo um dano à personalidade do 
indivíduo. Macula o ser humano enquanto pessoa, dotada de personalidade, sendo 
certo que esta personalidade existe e se manifesta por meio do grupo familiar, 
responsável que é por incutir na criança o sentimento de responsabilidade social, por 
meio do cumprimento das prescrições, de forma a que ela possa, no futuro, assumir a 
sua plena capacidade de forma juridicamente aceita e socialmente aprovada. 
(HIRONAKA, 2011 ​apud​ REZENDE, 2017, p. 1). 
 
Para uma análise cautelosa do caso concreto, o magistrado deve utilizar como 
referência os direitos aludidos nos arts. 5º e 7º, da CFB/1988, que dizem respeito a cláusula 
geral de tutela da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da Carta Magna). Nesse perspectiva, 
como estabelece o Tribunal de Justiça de São Paulo no seguinte julgado: 
15HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. ​Pressupostos, elementos e limites do dever de indenizar 
por abandono afetivo. ​Santa Catarina: CCJ, 2011, p. 7. 
29 
 
 
APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ABANDONO 
AFETIVO E MATERIAL DOS FILHOS PELO GENITOR. [...] O estudo 
psicossocial juntado a fls. 88/91, constata-se que as visitas deixaram de ser 
constantes após a morte da avó paterna, chamada Faustina e após a realização do 
exame de DNA para comprova a paternidade biológica do réu, ora apelante, houve a 
interrupção do pagamento da pensão devida por um período prolongado, e que o 
mesmo teria sido obrigado a pagar os valores atrasados, e diante disso, o apelante 
teria interrompido completamente a visitação. O aludido estudo concluiu que “(...) o 
afastamento descrito pelos filhos como ‘abandono’ no caso em questão pode ter 
intensificado a angústia vivenciada pelos mesmo (...)”, “com poucos prejuízos 
psíquicos a ambos em virtude da dedicação da família materna ao exercício dos 
cuidados necessários ao longo do desenvolvimento dos mesmos” (fls. 91). [...] 
Enfim, pela prova produzida nos autos, verifica-se que houve abandono dos filhos 
por parte de seu genitor, sendo que o arbitramento do dano moral no valor de R$ 
5.000, 00 (cinco mil reais) para cada um dos autores se mostrou adequado, porque 
atendidos os critérios de razoabilidade e proporcionalidade, representando um valor 
meramente simbólico para algo inestimável e quase irreparável que é o abandono 
afetivo. A sentença, portanto, deve ser mantida por seus próprios fundamentos, eis 
que enfrentou os fundamentos reprisados nas razoes recursais. [...] Diante do 
exposto, meu voto não dá provimento ao recurso. RECURSO IMPROVIDO. (TJSP, 
2020). 
 
Assim sendo, ao ficar perfeitamente ilustrada a omissão afetiva do pai quanto aos 
cuidados fundamentais, o ordenamento jurídico e parte dos entendimentos jurisprudenciaisapontam no sentido de ser possível o indivíduo lesionado ser indenizado pelos danos morais 
causados pela violação ​a integridade psicofísica​, nos termos do art. 5º, inciso X, da CFB/88, e 
em respeito ao ​princípio da solidariedade familiar – ​tornando-se possível a responsabilização 
civil do genitor​. 
 
4.2 A responsabilidade civil no âmbito do abandono afetivo paterno-filia​l 
 
Impende frisarmos que, a responsabilidade civil (ou ​antijuridicidade civil​) ocorre 
quando uma pessoa deixa de observar um preceito normativo que regula a vida. De acordo 
com Tartuce (2018, p. 516), a responsabilidade classifica-se em ​responsabilidade civil 
contratual ou negocial e ​responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana​. Esta última 
merece nossa atenção, vez que está baseada no ato ilícito (art. 186 do Código Civil). 
Entende-se por ato ilícito o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, na medida em 
que viola direitos e causa prejuízos a outrem. Fala-se em ato ilícito ​in lato sensu​, posto que 
“produz efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente aqueles impostos 
pela lei” (Tartuce, 2018, p. 518). 
Dessarte, pode-se dizer que o ato ilícito se caracteriza pela conduta humana capaz 
de ferir direitos subjetivos privados, indo de encontro a ordem jurídica e ocasionando danos a 
alguém. Além disso, é também a soma entre lesão de direitos e dano causado, conforme 
30 
 
dispõe o art. 186 do Código Civil. O dano é tido como elemento fundamental para a 
configuração do ato ilícito e para o correspondente dever de reparação (art. 927, ​caput​, do 
CC/2002). E, como consequência, deriva do ato ilícito a obrigação de indenizar, de reparar o 
dano (art. 927, parte final, do CC/2002). Dentre os elementos basilares da responsabilidade 
civil (ou os pressupostos do dever de indenizar) temos: a conduta humana, ​a culpa ​in lato 
sensu​ ou genérica, nexo de causalidade e o dano ou prejuízo​16​. 
Segundo Tartuce (2018), a conduta humana pode ser causada por uma ação ou 
omissão voluntária ou por negligência, imprudência ou imperícia. Na hipótese de omissão, é 
imprescindível a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido 
evitado. Em regra, a responsabilidade que decorre desse elemento faz com que o agente 
responda com o seu patrimônio (art. 942, ​caput​, do CC/2002), em observância ao ​princípio da 
responsabilidade civil ​em sede de responsabilidade extracontratual. Quanto a culpa ​in lato 
sensu ou genérica, esta engloba o dolo e a culpa ​in stricto sensu​. Em relação a primeira, temos 
a violação intencional do dever jurídico com o fito de prejudicar outrem e que pode tratar-se 
de uma ação ou omissão voluntária – e, uma vez presente o dolo, observa-se o ​princípio da 
reparação dos danos​, quer dizer, todos os danos suportados pela vítima serão indenizados 
(posto que presente o dolo do agente, em regra, não se fala em culpa concorrente da vítima ou 
de terceiro). 
Acerca da segunda, pode ser definida como o desrespeito a um dever preexistente, 
não havendo propriamente um ​animus de violar o dever jurídico, sendo caracterizado por três 
aspectos: imprudência, negligência e imperícia. Aqui, merece especial atenção a ​culpa 
extracontratual ​ou ​aquiliana​, visto que é resultado da violação de um dever fundado em 
norma do ordenamento jurídico ou de um abuso de direito, a ​culpa in omittendo que é 
alinhada à negligência, e a ​culpa in concreto que analisa a conduta de acordo com o caso 
concreto. Já o nexo de causalidade, indispensável requisito para a concretização da 
responsabilidade, constitui a relação de causa e efeito entre a conduta culposa (ou risco 
criado) e o dano suportado por alguém. 
E, finalmente, o dano ou prejuízo. Para que haja a compensação pecuniária, 
necessariamente deve-se comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial suportado por 
alguém. Logo, em regra, não há responsabilidade civil sem dano, cabendo o ônus de sua 
prova ao autor da demanda (art. 373, I, do CPC/2015). Outrossim, classifica-se em: ​danos 
clássicos ou tradicionais (danos materiais e danos morais) e ​danos novos ou contemporâneos 
16TARTUCE, Flávio. ​Manual de Direito Civil: volume único. ​8ª edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
MÉTODO, 2018. p. 534-598. 
31 
 
(danos estéticos, danos morais coletivos, danos sociais e danos por perda de uma chance). 
Destaca-se o dano moral, o qual encaixa-se à temática objeto de discursão. 
É necessário que, ao ingressar-se com a ação, sejam comprovados os elementos 
fundamentais da responsabilidade, quais sejam: a conduta ilícita ao demonstrar que o pai 
deixou de cumprir os deveres legais imposto na Constituição Federal, em seu art. 227, no 
Código Civil, em seu art. 1.634 e art. 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente. ​In verbis​: 
 
Art. 227 ​É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. 
Art. 1.634 ​Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o 
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: 
I – dirigir-lhes a criação e a educação; 
 
Art. 22 ​Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos 
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer 
cumprir as determinações judiciais. 
 
Além da conduta ilícita, deve ser comprovado o dano, que se entende presumido e 
o nexo de causalidade entre a conduta e dano, sendo certo que sem esses não haveria como ser 
concedida a indenização a título de dano moral. ​Outrossim: 
 
[...] há a violação dos deveres inerentes ao exercício da paternidade, quais sejam: a 
presença efetiva do genitor em situações cotidianas da prole como reuniões 
escolares, visitação de qualidade, auxílio material, auxílio moral e intelectual, e 
demais deveres a serem exercidos conjuntamente (SOUSA, 2016, p. 48). 
 
Apesar de ter como finalidade retornar as coisas ao seu estado inicial (​status a quo 
ante​), a compensação pecuniária não possui o condão de possibilitar isso, pois a aplicação da 
indenização neste caso teria como escopo servir de sanção e modo de prevenção a novas 
situações. Embora não haja unanimidade quanto a natureza jurídica da indenização por danos 
morais, tem-se três correntes doutrinárias e jurisprudenciais atualmente em vigência, das quais 
prevalece na jurisprudência pátria a terceira. Segundo esta, a indenização reveste-se de um 
caráter principal reparatório e de um caráter pedagógico (ou disciplinador acessório), tendo 
como objetivo servir como óbice de novas condutas – entretanto, esse caráter acessório 
existirá apenas se vir acompanhado do principal. 
Haverá, necessariamente, um certo grau de ​discricionariedade do magistrado na 
aplicação

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