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CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA CURSO DE DIREITO GABRIELLE MUÑOZ MENDES O COMÉRCIO DO CORPO HUMANO RIBEIRÃO PRETO 2014 GABRIELLE MUÑOZ MENDES O COMÉRCIO DO CORPO HUMANO Monografia Jurídica elaborada por exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pelo Centro Universitário Moura Lacerda, sob a orientação da Prof. Leisa Boreli Prizon RIBEIRÃO PRETO 2014 GABRIELLE MUÑOZ MENDES O COMÉRCIO DO CORPO HUMANO Monografia apresentada no curso de graduação ao Centro Universitário Moura Lacerda para conclusão do curso de Direito. Data de defesa: ______ de _____________________ de 2014. Resultado: ________________________ BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Orientador _______________________________________ Indicado _______________________________________ Convidado Dedico este trabalho aos meus pais. Por terem feito de mim a pessoa que sou hoje. Pelo seu carinho e amor incondicional. À vocês eu dedico todas as minhas conquistas, todos os meus sucessos e todo meu amor. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus, por tudo que tem feito em minha vida. À minha querida orientadora Leisa Boreli Prizon, sem a qual não seria possível a realização do presente trabalho, agradeço ao seu tempo à mim de dedicado, à paciência, ao carinho e a amizade para com a minha pessoa. À minha família pela paciência comigo durante o processo de elaboração deste trabalho. Aos meus amigos, que me ajudaram e me incentivaram para a conclusão do mesmo, em especial às minhas queridas amigas Renata Cristiane e Thais Vital pelo momento de união e força na hora do desespero. Aos meus queridos professores, que através desses 5 anos, não só me passaram todo o conhecimento necessário para seguir em frente em minha carreira, como também fizeram de mim uma pessoa melhor. Ao meu convidado, Dr. Álvaro Feracini Junior, pelo carinho ao aceitar o convite, e pelo apoio dedicado ao presente trabalho. Ao Núcleo de Prática Jurídica, desta instituição de ensino pelo apoio ao longo dos 5 anos de curso. E à todos aqueles que direta ou indiretamente me ajudaram na elaboração do presente trabalho, meus sinceros agradecimento. “..Pra que tanta futilidade. Pra que servem os rótulos se somos todos iguais O mundo é superficial. Maior é o nosso caráter, nossos sentimentos e aquilo em que realmente acreditamos.”- Ana Carolina RESUMO O presente trabalho tem como objetivo trazer atenção para essa terrível realidade que o tráfico internacional de pessoas para fins sexuais, um fenômeno que vem ganhando cada vez mais força no cenário mundial. O crime de tráfico internacional de pessoas para fins sexuais é considerado hoje o terceiro delito mais rentável do mundo para as organizações criminosas, ficando atrás apenas do tráfico de entorpecente e do de armas. Este delito está diretamente ligado à prostituição e a indústria sexual. Milhares de pessoas, em sua maioria mulheres, ao redor do mundo são enganadas por falsas promessas de trabalhos e condições de vida melhores em outros países e acabam caindo nas mãos desses traficantes. Que quando chegarem ao seu destino final com estas vítimas, vão trancafiá-las, estupra-las, e explora-las sexualmente, como se fossem uma mercadoria, na maioria das vezes, elas são forçadas ao exercício da prostituição até a exaustão. Mesmo se tratando de um crime ligado com à prostituição não se pode confundir essas duas modalidades de comércio sexual, uma vez que são totalmente distintas em suas próprias características. Sendo a prostituição voluntária uma opção de escolha da pessoa em comercializar o próprio corpo para o sexo. E o tráfico para fins de exploração sexual, a forma de escravidão moderna mais cruel existente. Palavras chave: Tráfico de pessoa, exploração sexual, prostituição, legalização, dignidade humana. ABSTRACT The present work aims to bring attention to this terrible reality that international trafficking for sexual purposes, a phenomenon that is gaining more strength on the world stage. The crime of international trafficking for sexual purposes is now the third most profitable crime in the world for organized crime, behind only the trafficking of narcotics and weapons. This crime is directly linked to prostitution and the sex industry. Thousands of people, mostly women, around the world are deceived by false promises of jobs and better living conditions in other countries and end up falling into the hands of these traffickers. That when they reach their final destination with these victims, ranging struck through them, rape them and exploit them sexually, as if they were a commodity, in most cases, they are forced into prostitution to exhaustion. Even when dealing with a crime linked to prostitution should not confuse these two forms of sex trade, since they are totally different in their characteristics. Being voluntary prostitution a choice of the person selling one's body for sex. In addition, trafficking for sexual exploitation, the existing form of modern slavery more cruel. Keywords: Trafficking in person, sexual exploitation, prostitution, legalization, human dignity. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11 1. PRINCÍPIOS .................................................................................................................... 13 1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana .............................................................. 13 1.2 Princípio Dignidade Sexual .......................................................................................... 14 1.3 Princípio da Liberdade Sexual ..................................................................................... 15 1.4 Direitos Humanos .......................................................................................................... 16 2. TRATADOS, CONVENÇÕES E POLÍTICAS DE ENFRENTAMENTO .................. 18 2.1 Aspectos Históricos ....................................................................................................... 18 2.2 Declaração Universal dos Direitos Humanos ............................................................ 18 2.3 Convenção de Palermo ............................................................................................... 19 2.4 Pacto de São José da Costa Rica ............................................................................. 20 2.5 Fórum de Viena .............................................................................................................. 21 2.6 Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas ...................................... 22 2.7 Da Proteção à Criança e ao Adolescente .................................................................. 23 3.CONCEITOS ...................................................................................................................... 24 3.1 Prostituição..................................................................................................................... 24 3.2 Países Legalizados ....................................................................................................... 27 3.3 Países não Legalizados ................................................................................................ 31 3.4 Exploração Sexual ......................................................................................................... 34 3.5 Turismo Sexual .............................................................................................................. 37 3.6.Escravidão Sexual ......................................................................................................... 38 3.7 Pedofilia .......................................................................................................................... 39 4. DO TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS ..................................................... 41 4.1. Aspectos Históricos ...................................................................................................... 41 4.2 Do Tráfico de Negros .................................................................................................... 42 4.3 Do Tráfico de escravas Brancas ................................................................................. 42 4.4 Do Tráfico Internacional de Pessoas para fins de Exploração Sexual.................. 43 4.5 Da Classificação do Delito............................................................................................ 47 4.5.1 Do Bem Jurídico Tutelado ......................................................................................... 47 4.5.2 Do Sujeito Ativo ......................................................................................................... 48 4.5.3 Da Organização Criminosa ....................................................................................... 49 4.5.4 Do Sujeito Passivo .................................................................................................... 51 4.5.5 Do Consentimento da vítima .................................................................................... 53 4.6 Do Tráfico de Pessoas e da Comercialização de Migrantes ilegais ...................... 54 4.7 Do Tráfico de Pessoas para Exploração e Sexual e da Prostituição Voluntária...56 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 59 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 61 11 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por finalidade ir a fundo neste fenômeno que cresce a cada dia no mundo. O tráfico internacional de pessoas para fins sexuais, além de ser um crime bárbaro e cruel, acaba por ser também um problema social. Pois acomete as comunidades mais carentes, onde encontram-se pessoas vulneráveis, que aos olhos dos traficantes, são vítimas perfeitas. Além do crime de tráfico de pessoas para fins sexuais, trataremos neste trabalho de todo o processo que envolve o comércio do sexo. Temos no capitulo 1, um breve esboço sobre os princípios da dignidade humana, da liberdade sexual, da dignidade sexual, e os direitos humanos. Todos estes que são violados constantemente no crime de tráfico para exploração sexual. Uma vez que assim como prega nossa Constituição Federal, a dignidade humana descende dos direitos fundamentais e deve ser respeitada acima de qualquer coisa. Por este mesmo motivo a dignidade sexual e a liberdade sexual de cada indivíduo deve ser igualmente respeitada, uma vez que descendem da dignidade humana. Em nosso Capitulo 2, trataremos dos Tratados, das Convenções e das Políticas de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Temos dentre eles a Declaração dos direitos humanos, que veio como uma medida das Nações Unidas, reforçar a ideia de garantias aos direitos fundamentais de cada indivíduo na condição de ser humano. O Protocolo de Palermo, que trata do combate ao crime organizado, cujo o qual na maioria dos casos é sujeito ativo do crime de Tráfico internacional de pessoas para fins sexuais. O Pacto de São José da Costa Rica, que vem também para reafirmar a segurança dos direitos fundamentais do ser humano, seja ela nacional ou não. O Fórum de Viena, que trata do combate ao tráfico de pessoas. A Política de enfrentamento ao tráfico de pessoas, que tem por finalidade, prevenir, investigar e punir, quem comete este delito. E a Convenção de Genebra que vem para proteger principalmente os direitos das crianças. O Capitulo 3 trata da Prostituição, seu histórico ao redor do mundo, dos preconceitos ainda enfrentados ainda nos dias de hoje. Dos países que legalizaram a prostituição, como Alemanha, Holanda e Nova Zelândia, e traz também países onde 12 a prostituição ainda é tida como ilegal, como na China, Estados Unidos e Suécia. Trata também de temas como a Exploração sexual tão inerente no crime de tráfico internacional de pessoas para fins de exploração, sendo o principal objetivo dos traficantes, em relação as vítimas, o lucro que irão obter através da exploração dessas vítimas. Escravidão Sexual, situação pela qual as vítimas de tráfico passam, elas tornam-se escravas de seus traficantes, não tendo vontade própria e tendo de obedecer a ordens dos criminosos com medo das punições as quais são constantemente ameaçadas. E a Pedofilia, para que se estabeleça o que é abuso sexual de menor, e o que é pedofilia. Uma vez, que pedofilia é o termo que dá nome a um transtorno de preferência sexual. E por último no Capitulo 4, iremos tratar do Tráfico internacional de pessoas para fins sexuais, trazendo o histórico das primeiras vítimas de tráfico para a exploração que foram os negros, que eram retirados a força de seu país para exercer trabalho forçado em outros países. As negras que eram abusadas sexualmente de seus senhores, e por muitas vezes obrigadas por eles a exercerem a prostituição. O tráfico de escravas brancas, que já começava a render frutos para as organizações criminosas, que exploravam sexualmente essas mulheres. Trataremos também, de como se dá o angariamento e o aliciamento dessas vítimas, os traficantes/aliciadores, vão atrás dessas vítimas em comunidades menos desenvolvidas economicamente, onde encontraram na maioria das vezes pessoas, na sua maioria mulheres, em condição vulnerável, sendo ela o tipo perfeito de vítima. Essas vítimas são convencidas a saírem de seu pais junto com essas pessoas em busca de uma vida melhor, seguindo as faltas promessas lhe foram dadas. Têm-se também algumas noções sobre organização criminosa, que na maioria dos casos são os agentes ativos no crime de tráfico internacional de pessoas para fins de exploração. Trata-se também das diferenças entre o crime de tráfico internacional de pessoas para fins sexuais e da comercialização de migrantes ilegais, além das diferenças entre as pessoas que são traficadas para serem exploradas sexualmente, sob constante violência, abuso de poder, humilhações e condições degradantes, daquelas pessoas que viajam à outro país para exercer a prostituição voluntária, ou seja de livre e espontânea vontade. 13 1. Princípios. A ofensa aos direitos humanos, aos princípios da dignidade da pessoa humana, dignidade sexual, a violação da intimidade e da liberdade individual, estão evidentes no crime de tráfico de pessoas, uma vez que condições as quais as vítimas enfrentam quando traficadas sãos as mais degradantes que um ser humano poderia enfrentar. Vivendo em seu próprio inferno particular. 1.1 - Dignidade da pessoa Humana O princípio da dignidade humana é trazido pelo artigo 1º, III da nossa Constituição Federal, como sendo um dos fundamentosda República, e tem um valor imensurável. A dignidade humana é tida como um atributo essencial em todo ser humano, por este motivo tem de ser tratada como uma qualidade própria especial de todo indivíduo e não tão somente como um direito que lhe é conferido através de um ordenamento jurídico. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana; - Constituição Federal artigo 1º inciso III. A dignidade humana, por uma característica essencial em todo e qualquer ser humano, nela não há distinção, não é possível que um tenha mais dignidade que o outro, não se pode hierarquizar a dignidade. Todo ser humano, pelo simples fato de ser humano, todo e qualquer indivíduo pode e deve ser respeitado não importa a circunstância, sexo, cor, raça, condição social, tipo de profissão, (no caso da prostituição), opção sexual, etc. Por este motivo é necessário que a noção de dignidade humana deve ser compreendida da maneira ampla, para assim abranger a diversidade dos aspectos da vida humana. A dignidade humana é um princípio que deve ser respeitado acima de tudo, sendo ele fundamental para a vida em sociedade. Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, o indivíduo passou a ter garantido o seu direito sem limites geográficos – territoriais. O princípio da dignidade humana é de extrema relevância, por isso, temos, desde a Constituição do Império, que foi outorgada em, 1824, um assunto mais moderno do que a época para resguardar os direitos e garantias fundamentais do brasileiro. Desde então temos em todas as nossas Constituições os direitos e garantias fundamentais, sendo resguardados, para assim, oferecer guarida aos seus cidadãos. E estes princípios fundamentais estão elencados na CF/88 no título I e II, isso para mostrar que o indivíduo e o coletivo prevalecem ao estado. 14 No caso do Tráfico de pessoas, precisamos dos direitos humanos para que leis internas possam proteger as vítimas que, na sua maioria são pessoas extremamente vulneráveis e influenciáveis, de famílias pobres e de condições de vida precária. A prática desse crime sexual não só viola a lei penal, ela fere a liberdade individual, a dignidade e afronta diretamente a dignidade humana. 1.2 Dignidade Sexual Bem jurídico tutelado pelo art. 231 do Código Penal, que dita: Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2º A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. § 3º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Tínhamos aqui no Brasil, até o ano de 2005 um sistema jurídico-penal que pretendia proteger a sexualidade, em especial a das mulheres, mas tão somente daquela mulher considerada ‘’mulher honesta’’, expressão essa que aparecia em vários dispositivos, uma clara demonstração de ideologia baseada na dominação masculina, tratando a mulher como sexo inferior, que uma vez desprotegidas, necessitavam dessas garantias para trazer-lhes segurança. Mas, mais desprotegidas do que estas mulheres, estavam aquelas que optaram por exercer a prostituição, o que demonstra o forte e ainda existente preconceito que vive em nossa sociedade. Foi no final da primeira década do século XXI, que a aprovação da Lei n. 12.015, de 7 de Agosto de 2009, reconheceu a sexualidade como um atributo da pessoa humana, sendo esta uma livre expressão de sua dignidade, a lei também acabou com a expressão de ‘’crimes contra os costumes’’ trazendo então a nova concepção para os crimes contra sexualidade e para sua proteção, no âmbito da dignidade sexual. 15 A dignidade sexual tem um valor fundamental que há muito tempo deveria ter sido reconhecida, e ter recebido desde então uma proteção adequada, para resguardar aqueles que praticam a sua sexualidade libertos dos preconceitos hipócritas enraizados até os dias de hoje na sociedade e não só para as mulheres consideras ‘’honestas’’ mas para todo e qualquer indivíduo, tão somente pelo fato de ser humano, o direito a sua individualidade, liberdade, sexualidade e privacidade devem ser levados seriamente em consideração e acima de qualquer outra coisa respeitados. É faculdade de cada indivíduo utilizar o seu corpo da maneira que lhe bem entender, o que não acontece com as vítimas do tráfico de pessoas para fins sexuais, que são forçadas a manter atividades sexuais por dinheiro, nas modalidades de prostituição, turismo sexual, pornografia, dançando em boates como ‘’stripper’’ entre outras. [...] liga-se à sexualidade humana, representada pelo conjunto de fatos, ocorrências e aparências da vida sexual de cada indivíduo. O saudável desenvolvimento da sexualidade deve dar-se em ambiente amigável, associado à respeitabilidade e à autoestima de cada pessoa, resguardadas a sua intimidade e a sua vida privada. Nucci, 2013, p. 16) As vítimas do tráfico são muitas vezes leiloadas e vendidas como um simples pedaço de carne, cujo o papel é satisfazer as vontades e desejos mórbidos de quem as compra. A compra de pessoa traficada é crime tipificado no art. 231, §1º do Código Penal. O ser humano, no caso, é transmitido em objeto sexual em algo passível de ser comercializado ou apropriado para satisfação dos prazeres alheios, onde os seus valores pessoais, as suas vontades, as mínimas condições condignas de existência, são violentamente proscritas, menoscabadas. (Capez, Fernando; Prado Stela. Op. Cit., p. 118) A dignidade é parte fundamental de todo e qualquer ser humano, e quando esta lhe é tirada, então não lhe resta mais nenhum traço de sua humanidade. Desde a simples masturbação, ato sexual individual, até a conjunção carnal com outra pessoa, são quadros da vida humana íntima, concernente apenas a órbita privada, longe das vistas e do controle do Estado, como regra. Qualquer interferência nesse âmbito termina por ferir a dignidade sexual, bem jurídico que se pretende seja tutelado. – Nucci 2013, p. 44) 1.3 Liberdade Sexual A liberdade sexual deve ser entendida como o direito de expressar e exercer a própria sexualidade da pessoa de forma livre, da maneira que ela bem entender. Quando houver intolerância quanto a maneira de cada um expressar sua sexualidade, teremos condutas discriminatórias, o que traz consequências jurídicas. 16 Com a liberdade sexual a pessoa é livre e tem total poder sobre si mesma, sabendo ela que irá responder por suas escolhas e possíveis consequências. Claro que a liberdade deve estar presente em ambos os indivíduos quando tratar-se de uma relação, não há que se falar em liberdade sexual quando uma das pessoas está sendo pressionada, coagida ou nos piores dos casos abusada e explorada para atividades sexuais. A sexualidade precisa ser respeitada e reconhecida, uma vez que não é possível que o sujeito se reconheça como ser humano se não lhe for assegurado o respeito ao exercício de sua sexualidade bem como a liberdade a sua livre orientação sexual. A liberdade abrange o direito à liberdade sexual, que aliadoao direito de tratamento igualitário, independentemente da sexualidade. Temos então uma liberdade individual, um direito da pessoa, sendo este inalienável e imprescritível. É um direito de primeira geração e natural, ou seja, nasce com o ser humano, uma vez que decorre de sua própria condição de pessoa, de sua própria natureza humana. Mas o sexo é atividade humana íntegra e intima. O estado deve ficar completamente alheio a ela, a menos que coloque em risco direito fundamental de terceiro. Ilustrando, o desejo sexual de alguém não pode ser tão intenso e descontrolado a ponto de lhe permitir estuprar outra pessoa para satisfaze-lo. Nucci, 2013, p.18) A sexualidade é parte integral da personalidade do ser humano, e o seu total desenvolvimento depende diretamente da satisfação das necessidades humanas básicas, desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, carinho e amor. Os indivíduos sentem-se sexualmente mais livres: em partes porque não percebem os entraves reais às experiências que almejam, em parte porque somente desejam o que já está previamente condicionado; ou ainda, porque desenvolvem a capacidade de obter prazer de situações que considerariam indignas se as confrontassem com as possibilidades históricas irrealizadas. Atualmente, a liberdade sexual formal, fomentada pelo padrão de desempenho estabelecido pela sociedade industrial avançada, aceita como forma natural da conduta, expressões idiossincráticas e formas de comportamento outrora considerados inadmissíveis. Envolta por uma ambiguidade que ofusca a sua percepção, essa liberdade submetida aos interesses da produção capitalista insinua diversificadas possibilidades de relação entre os modos de expressão da sexualidade permitidos e os sistemas de controle destinados à sua regulação. Mesmo quando condicionado o ser humano à liberdade sexual formal, não deixa de ser a manifestação da sua liberdade individual; ambígua ou duvidosa em certos aspectos, ela não deve ser suprimidos, sob pretextos moralistas ou mesmo totalitários. (Nucci, 2013, p.46) 1.4 Direitos Humanos 17 A Declaração dos Direitos Humanos foi aprovada em 10 de Dezembro de 1948, tendo como seu primordial objetivo proteger e garantir o respeito à dignidade da pessoa humana, e a universalidade dos seus direitos. Direitos humanos é a expressão intrinsecamente ligada ao direito internacional público. Assim quando se fala em ‘’direitos humanos’’ está-se tecnicamente a referir à proteção que a ordem internacional guarda sobre esses direitos. Os direitos humanos são, portanto, direitos protegidos pela ordem internacional (especialmente por meio de tratados multilaterais, globais ou regionais) contra as violações e arbitrariedades que um Estados possa cometer às pessoas sujeitas à sua jurisdição. (Mazzuoli 2014, p. 22) Com a Declaração de 1948, nasce a concepção contemporânea dos Direitos Humanos, assim como dita Flávia Piovesan: ‘’essa concepção é fruto da internacionalização dos Direitos Humanos que constitui um movimento extremamente recente na história surgindo a partir do pós-guerra, como resposta as atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo.’’ Com a chegada da Declaração, começava a surgir um novo ramo do direito internacional público. O Direito Internacional dos Direitos Humanos, que tem por característica o objetivo de garantir o exercício dos direitos fundamentais do ser humano. Os direitos humanos são ‘’uma plataforma emancipatória voltada para a proteção da dignidade humana’’. (Piovesan 2006, prefácio) No dizer de Joaquim Herrera Flores, os direitos humanos compõem uma racionalidade de resistência, na medida em que traduzem processos que abrem e consolidam espaços de luta pela dignidade humana. (Piovesan 2006, p. 8) Os Direitos Humanos contemporâneos, segundo a Declaração Universal de 1948, tem em sua base, três princípios fundamentais, sendo eles: princípio da inviolabilidade da pessoa, o qual traz em seu significado que não deve-se beneficiar do sacrifício imposto a alguém, não se deve impor sacrifícios a outrem para então se beneficiar do resultado. O princípio da autonomia da pessoa, que dita que todo indivíduo é livre para praticar seus atos, desde que suas escolhas, sua conduta e seus atos não venham a prejudicar outras pessoas. E por último o princípio da dignidade da pessoa, no qual as pessoas devem serem tratadas e julgadas tão somente por seus atos praticados, sejam eles bons ou ruins, para que se respeite a dignidade do indivíduo. Princípio este que trata de um dos direitos fundamentais, que é a própria dignidade humana. Quando uma coisa tem um preço, pode pôr-se em vez dela qualquer outra como equivalente, mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e, portanto não permite equivalente, então tem ela a dignidade... Esta apreciação dá, pois a conhecer como dignidade o valor de uma tal disposição de espírito e põe-na infinitamente acima de todo o preço. Nunca ela poderia ser posta em cálculo ou confronto com qualquer coisa que tivesse um preço, sem de qualquer modo ferir a sua santidade. – Kant. [11]SARLET apud Kant. (Tradução da obra Kant, Grundlegung.... “Kant, Fundamentos..., p. 134-135”). - Citação na parte de direitos humanos. 18 2. Tratados, Convenções e Políticas de enfrentamento. 2.1 - Aspectos Históricos. Apareceu no ano de 1904 o primeiro documento internacional a tratar sobre tráfico de pessoas. Tinha o propósito de acabar com a troca de escravos brancos, que vinha ocorrendo por conta das mulheres brancas que migravam ou eram traficadas para países árabes e orientais, para servirem como concubinas ou exercerem a prostituição. O documento não obteve sucesso uma vez que tratava de um problema que até então tão somente preocupava a sociedade europeia e seus governantes. No ano de 1910, outro documento tratando sobre o tráfico de pessoas surge, agora reconhecendo a existência do tráfico dentro do território nacional e também incluindo previsões para que os envolvidos nestes crimes fossem punidos. Outro documento que não logrou sucesso, obtendo somente 13 ratificações. (Rodrigues, Tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual, 2013) Já em 1921 e 1933 os documentos que tratavam sobre o tráfico de pessoas basearam-se no contexto da Liga das Nações, que definia que o tráfico independia do consentimento da mulher. Ocorre então no ano de 1949 a Convenção para Supressão do Tráfico de Pessoas e da Exploração da prostituição, onde foram então consolidados os quatro documentos anteriormente citados, tornando-se então um instrumento único para o combate do tráfico de pessoas, até o surgimento do Protocolo de Palermo e suas convenções. (Ela Wiecko V. de Castilho, Política Nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas, 2013) Com isso os Direitos Humanos juntamente com seus sistemas de proteção internacionais, foram ao longo do tempo se aprimorando, e no ano de 1993, na Conferência Mundial de Direitos Humanos, designou-se então a Declaração e o Programa de Ação Viena, que trazia em um dos seus 18 itens: ‘’ Os Direitos Humanos das mulheres e das meninas são alienáveis e constituem parte integral e indivisível dos direitos humanos universais’’ O tráfico de pessoas, enfrentou uma enorme resistência e passou por muitas dificuldades, para que o direito das pessoas traficadas serem reconhecidos, e estabelecidos em documentos internacionais. 2.2 Declaração Universal do Direitos Humanos. 19 A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi aprovada em 1948 na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O documento é a base da luta universal contra a opressão e a discriminação, defende a igualdade e a dignidade das pessoas e reconhece que os direitos humanos e as liberdades fundamentais devem ser aplicados a cada cidadão do planeta http://www.brasil.gov.br/ A DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos, foi adota pela ONU, (Organizações das Nações Unidas) no mês de Dezembro do ano de 1948, e estabelece que os principais Direitos Humanos Fundamentais, assim como a liberdade, devem ser uma garantia para todos. A positivação internacional dos Direitos mínimos dos seres humanos é tida como uma das principais preocupações, o que tende a completar um dos propósitos da Declaração que nada mais é se não a proteção aos Direitos Humanos. A declaração veio para nós como uma espécie de código de conduta internacional, para ditar que os direitos humanos são universais e que basta tão somente a condição de pessoa para que os seus direitos sejam reivindicados em qualquer situação e em qualquer lugar. (Http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2009/11/declaracao- universal-dos-direitos-humanos-garante-igualdade-social) Por não ter sido submetida aos procedimentos de celebração dos tratados, não poderia ser considerada como um tratado, tratando-se assim de uma mera ‘’ recomendação’’ das Nações Unidas, para que os Estados possam respeitar e quiçá se perpetue uma nova maneira de lidar com a proteção internacional dos direitos humanos. No que se refere ao tráfico internacional de pessoas, a Declaração traz em seu art. 4º que ‘’ Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas suas formas” 2.3 – Convenção de Palermo No ano de 2000, foi adotada a Assembleia da ONU (Organização das Nações Unidas) instituindo a Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado, 20 universalmente conhecida como Convenção de Palermo, tendo seu documento assinado por 147 países, os quais se comprometeram em criar medidas para acabar com o crime organizado. A Convenção de Palermo juntamente com seus protocolos adicionais são, vários tratados os quais visam o combate ao crime organizado transacional. Portanto é importante que seja combinado com os outros tratados que versem sobre direitos humanos, uma vez que a convenção veio vinculada a um tratado que trata especificamente do combate ao crime organizado. (http://www.unodc.org/lpo- brazil/pt/crime/marco-legal.html) A Convenção junto de seus protocolos, caracteriza o crime organizado como a grande causa do tráfico de pessoas, por esse motivo, não se dá importância para aqueles que tentam a todo o custo, mesmo que ilegalmente migrarem. Em seu artigo 3º define tráfico de pessoas como: ‘’ [...] o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou a à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamento ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração’’. E traz em seu artigo 2º, ‘’ b’’ um dos objetivos propostos pela Convenção é o de: ‘’ proteger a ajudar as vítimas desse tráfico, respeitando plenamente os seus direitos humanos’’, percebe-se aqui então, que o enfoque principal, seria o combate e a punição aos responsáveis pelo crime de tráfico, e não tão somente a proteção dos direitos humanos da vítima. O protocolo de Palermo, que foi adotado em novembro de 2000, continuou sendo ratificado pelos países até dezembro do ano de 2007, agora contando com 116 países, desde então, tem-se uma comoção a nível universal no interesse em combater o crime de tráfico de pessoas. Entretanto, da mesma maneira que cresce o interesse no combate ao tráfico de pessoas, o crime ao redor do mundo continua crescendo em proporções parecidas. 2.4 Pacto de São José da Costa Rica Firmado em 1969, pelo países integrantes da OEA – Organização de Estados Americanos, que tem por finalidade o cuidado com os direitos sociais e os individuais de cada indivíduo, como o direito à vida, liberdade, dignidade, educação, e outros 21 direitos que nos são fundamentais. O Pacto é muito importante no que toca o tráfico de pessoas, pois veio para garantir o direito individual básico que é violado por este crime, o direito à liberdade de cada ser humano. (Flavia Piovessan, Direitos Humanos e Justiça Internacional, 2006) Sobre o tráfico de pessoas, traz em seu artigo 6º:[...]1. Ninguém pode ser submetido à escravidão ou a servidão, e tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as formas. 2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa da liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode ser interpretada no sentido de que proíbe o cumprimento da dita pena, importa por juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a capacidade física e intelectual do recluso.’’ 2.5 Fórum de Viena Cerca de 1.400 pessoas se reuniram em Viena, Áustria, na segunda semana de fevereiro do ano de 2008, para debater acerca de estratégias no combate ao tráfico de pessoas. (http://www.unric.org/pt/controlo-de-droga-e-prevencao-do-crime/15535) Os debates giraram em torno de três aspectos tidos como mais importantes pelos representantes dos países que ali estavam, são eles; a vulnerabilidade, impacto e ação. Um dos objetivos era a discussão sobre o que poderia ser considerado ‘’vulnerabilidade’’. Segundo o documento, não é possível proteger populações que são vulneráveis, e tão pouco protege-las das situações que são altamente danosas, sem primeiro saber o que torna aquela população tão vulnerável a ponto de trazer atenção dos aliciadores, a violência e consequentemente o tráfico de pessoas. A ONU, pensa que essa situação de vulnerabilidade das populações só poderá ser erradicada por meio de medidas que possam prevenir e alertar essas vítimas em potencial. O termo ‘’vulnerabilidade’’ ficou definido então como: ‘’as condições resultantes de como os indivíduos experimentam negativamente a interação entre os fatores sociais econômicos, políticos e ambientais que criam o contexto de suas comunidades’’. Durante o seu discurso, a ex-ministra austríaca de assuntos para a mulher, Helga Konrad, desabafou dizendo que, infelizmente os traficantes estão milhares de passos à frente dos governos, os quais, segundo ela, não deveriam serem tão inertes assim 22 em relação a um problema de proporções tão graves assim como é o tráfico de pessoas. 2.6 Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas No ano de 2006 o Brasil deu um passo importante em relação ao combate ao tráfico de pessoas. Aprovando uma política nacional de enfrentamento ao tráfico, (Decreto nº 5.948, de 26 de outubro de 2006). Trata-se de um marco normativo e muito inovador para o Brasil, que traz consigo uma série de princípios e orientações para melhorar a atuação do poder público nacional no combate a este crime. O documento foi elaborado por representantes do Poder Executivo Federal e convidados do Ministério Público Federal, e teve também participação o Ministério Público do Trabalho. (Plano Nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas no site, http://www.unric.org/pt/controlo-de-droga-e-prevencao-do-crime/15535) Depois de muitos debates, chegou-se a um consenso sobre qual seria o conteúdo da nova política nacional. Nos termos da política o enfrentamento ao tráfico de pessoas é considerado, em suas várias modalidades, para que sejam todas combatidas, a exploração sexual comercial, à luta ao trabalho escravo, às políticas voltadas às mulheres, crianças e adolescentes, trazendo sempre a perspectiva dos direitos humanos para resguardar os direitos das vítimas. Um dos objetivos é dar atenção a 3 pontos considerados de maior importância para o combate ao tráfico, são eles: prevenção ao tráfico, repressão ao crime e responsabilização dos seus autores e atenção voltada paraas vítimas. São chamados de eixos estratégicos. Na prevenção, a intenção é tentar diminuir a vulnerabilidade que cerca alguns grupos sociais e trabalhar com essas pessoas para que se sintam menos fragilizadas, tudo isso acompanhada de uma forte política pública, que visa combater não só as reais causas deste problema, mas como também perpetuar a igualdade social. Em relação a repressão e responsabilização, o foco principal é a fiscalização juntamente com o controle e a investigação desses crimes, onde se leva em consideração aspectos penais, trabalhistas, nacionais e internacionais do crime de tráfico de pessoas. 23 No tocando à atenção às vítimas, um dos focos principais está no tratamento justo, não-discriminatório e seguro das vítimas, garantindo-lhes, proteção especial e acesso ao judiciário, como também assistência consular. E isso não só com os brasileiros, como também com os estrangeiros que se encontrarem em situação de tráfico no Brasil. 2.7 Da Proteção à Criança e ao Adolescente Considera-se a exploração de crianças e adolescentes para fins sexuais uma das formais mais graves de violação aos direitos humanos. Uma vez que estes são os tipos mais vulneráveis de vítimas. Entrou em vigor na data de 19/11/2000 a Convenção 182 da OIT, Organização Internacional do Trabalho, que dispõe sobre a proibição das piores formas de trabalho infantil e traz um plano de ação imediata para eliminar essa terrível situação do cenário mundial. O objetivo da Convenção é a adoção por parte dos países que a ratificaram, de medidas e de programas de ação internacional para eliminação, dessas chamadas piores formas de trabalho infantil, sendo elas: o trabalho escravo, a prostituição infantil, ou o uso de crianças e adolescentes para a reprodução de material de conteúdo pornográfico, assim como a participação de crianças e adolescentes em práticas ilícitas, como muito se vê, crianças ‘’trabalhando’’ no tráfico de drogas. A OIT, contribui e muito para o combate ao trabalho forçado infantil, e além disso luta também por condições e trabalhos dignos para os adultos. O primeiro documento a ter como objeto a proteção da criança, foi publicado em 1924, a Declaração de Genebra, não se restringia apenas aos aspectos trabalhistas, assim como a OIT, em sua luta para erradicação do trabalho infantil. Já no ano de 1959, surge a Declaração dos Direitos da Criança, trazendo inovações principalmente na maneira de tratar a criança e o adolescente, que agora são tratados como sujeitos de direito, com todas as garantias que são conferidas aos adultos, e outras que lhe são exclusivas diante da sua condição de crianças e adolescentes. A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança é um importante instrumento de garantias, no entanto, para que efetivamente as determinações por ela apresentadas sejam adotadas em contextos nacionais, é imprescindível que ocorram não somente 24 transformações no campo das normas, mas uma reorganização das Instituições, incremento dos programas que trabalham com a criança e o adolescente, na visão de que não se tratam de objetos, mas de sujeitos de direitos.’’ (SILVA, ROSSATO, LÉPORE, CUNHA 2013, p.103) E no ano de 2000, foi publicado um Protocolo facultativo, para a Convenção dos Direitos da Criança, que vem a tratar da venda de crianças para a prostituição e pornografia infantil. O protocolo dita em seu artigo 1º, que os Estados os quais fazem parte, tem o dever de proibir a venda de crianças com destino a prostituição e pornografia infantil. Já em seu artigo 2º, o protocolo traz as definições de venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil, para melhor esclarecer o objetivo principal que é a proibição. a) Venda de crianças significa qualquer ato ou transação pelo qual uma criança seja transferida por qualquer pessoa ou grupo de pessoas para outra pessoa ou grupo mediante remuneração ou qualquer outra retribuição. b) Prostituição infantil significa a utilização de uma criança em atividades sexuais mediante remuneração ou qualquer outra retribuição. c) Pornografia infantil significa qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança no desempenho de atividades sexuais explicitas ou simuladas ou qualquer representação dos órgãos sexuais de uma criança para fins predominantemente sexuais. (SILVA, ROSSATO, LÉPORE, CUNHA 2013, p.104) 3. Conceitos 3.1 Prostituição Em sentindo estrito comum, a prostituição é o comércio sexual do próprio corpo, geralmente desenvolvido com habitualidade, objetivando o sustento. Mas não se pode considerar tal atividade de maneira tão simples quanto incompleta. Afinal, o verbo prostituir possui significados variados, abrangendo a visão de comercialização do sexo, além de desmoralizar, corromper, degradar, desonrar, auferindo intenso conteúdo moral – na realidade, imoral. (Nucci, 2013, p.62) Na definição de Cernicchiaro, prostituição é a conduta de uma pessoa que se entrega à pratica de relações sexuais. No mesmo sentido, Bento de Faria, define prostituição como a conduta de quem concede 25 o gozo de seu corpo em regra habitualmente, a qualquer pessoa. Para ambos o pagamento era prescindível. – (Rodrigues, 2013, p.40) A prostituição é um fenômeno que esteve presente em diversos modelos de sociedade. Acabou colaborando, direta ou indiretamente para a formação das normas sociais, com características gerais e especificas para cada momento histórico. Trata-se de uma atividade sexual, nem sempre reconhecida como um trabalho, licito ou ilícito, cuja origens se perde nos primórdios da humanidade. Nas palavras de Fábio Lopes Alves ‘’o epíteto ‘’mais antiga das profissões’’ atribuído à prostituição, busca dar conta da universalidade deste fenômeno conhecido em todas as épocas e lugares. Tão antigo quanto a prostituição são o preconceito, o rechaço público e a estigmatização das prostitutas, expressos na ‘mais antiga das ofensas’ que se designa sua prole’’. (Nucci, 2013, p.47) . A prostituição nem sempre sofreu desprezo e criticas, como no mundo de hoje. Essa prática que existe desde a antiguidade. Mulheres respeitáveis faziam sexo com o sacerdote ou com um andante, para adorar a um deus ou uma deusa. As prostitutas, não sofriam com preconceito, pelo contrário, estas eram tratadas com respeito, os homens que dormiam com essas prostitutas, lhe prestavam homenagens. Por muitas vezes, acontecia de a própria sacerdotisa ser prostituta. O comércio da prostituição teve inicio logo após o fechamento dos templos, com a chegada do Cristianismo. Era raro naquela época a prostituição individual como temos hoje em dia, naquela época as mulheres poderiam ser encontradas em bordéis e casas de banho, onde viviam. O cristianismo sempre valorizou o ascetismo e o celibato; o aspecto sexual da santidade eclipsava todos os outros. A moralidade tornou- se identificada com a pureza sexual, uma definição que ainda resiste nos dias de hoje. A castidade tornou-se uma das maiores virtudes, como condição de retidão. A bíblia, no Novo Testamento, procurou evidenciar a conversão de ex-prostituta (Maria Madalena, Santa Maria Egípicia. Santa Afra, Santa Pelágia, Santa Thais, Santa Teodora) Mesmo diante de tal quadro, os padres sentiram a necessidade de tolerar a prostituição, como um mal indispensável. (Nucci, 2013, p.55) A igreja mesmo tendo de aceitar a prostituição como um mal indispensável, tentava por outro lado, medidas para controlar e organizar a prostituição. Incentivando as mulheres a não continuarem a se prostituir e a tentarem constituir uma família. Muitas mulheres entraram para a prostituição por não quererem fazer parte da classe operária, encontrando então na prostituição uma maneira de conseguir o seu sustento, esta época foi marcada pelas chamadas ‘’costureirinhas’’. Embora se tolerasse a prostituição, o lenocínio era severamente punido.O cafetão podia sofrer castigos físicos, prisão e até expulsão da cidade. Por isso como já mencionado, os bordéis se fechavam, encobrindo suas atividades. É interessante observar que as mesmas coberturas, até hoje existentes no mundo todo para a prostituição 26 exercida em locais fechados, eram igualmente utilizadas na Idade Média: casas de banho, barbearias, saunas, todas com aspectos da mais perfeita legalidade. Nucci, 2013, p.56) São conhecidas várias tentativas de proibição da prostituição ao longo da história, especialmente por influência religiosa. Porém, pode-se afirmar que o proibicionismo se encontra falho na origem, já que toda tentativa de proibição foi burlada. (Rodrigues, 2013, p.41) Nos dias de hoje, temos três grandes concepções internacionais sobre a prostituição. A primeira delas e a mais antiga também a regulamentarista, a qual tende a querer regular administrativamente a prostituição, o seu exercício. O estado por sua vez, passará a controlar essa atividade através de controle público. Exigindo de toda prostituta que a mesma passe por um sistema de controle através de fichas, controles sanitários e que paguem taxas. [...] o sistema de regulamentação, que teve inicio em 1803, na França, e se espalhou para outros países. Esse sistema considerava a prostituição um mal necessário e a cercava de medidas higiênicas e policiais, visando salvaguardar a saúde da população e a ordem pública. Além dessas medidas, cabe destacar que moderadamente há a preocupação também com questões fiscais e previdenciárias (direito prostitucional). É o sistema adotado atualmente na Holanda e na Alemanha, como forma de regulamentação moderna. (Rodrigues, 2013, p.41) O sistema regulamentador tem por finalidade legalizar a prostituição dar-lhe benefícios como a outro trabalhador qualquer, registrando os trabalhadores do sexo fiscalizando suas atividades. (Nucci, 2013, p.69) A segunda concepção é o chamado abolicionismo, onde se considera a prostituição um atentado contra a dignidade da mulher e também uma violação aos direitos humanos. – O Brasil, assinou o Tratado Abolicionista em 1951 [...] o escopo desse sistema era submeter a prostituta ao direito comum, como qualquer outra cidadã. De acordo com Esther de Figueiredo Ferraz, o abolicionismo não vê a prostituição como um mal necessário, mas como um mal evitável e reparável. Trata-se de um sistema que pune não a prostituta, mas quem a explora: o rufião, o proxeneta ou o traficante, seja de forma consentida ou não. É o sistema adotado hoje pela política criminal brasileira. (Rodrigues, 2013, p.45)’’ O sistema abolicionista reconhece a existência da prostituição, considerando-a como uma mal social, devendo ser abolida. Fere a dignidade da pessoa e, particularmente, oprime a mulher. Não se deve castigar a prostituta, mas punir o cliente e todos os demais indivíduos que a volteiam, favorecendo ou auxiliando. 27 O abolicionismo advém do movimento dos direitos civis de finais do século XIX e de princípios do século XX, com o espirito da Convenção de 1949 para a suspensão do tráfico de pessoas e da exploração da prostituição. O objetivo não é proibir a prostituição - considerada incompatível com a dignidade humana – mas a exploração da prostituição é proibida. Tem medidas de prevenção visando proteger quem entra na prostituição e medidas de reinserção para quem se prostitui. (Nucci, 2013, p.70) Já a terceira concepção enxerga a prostituição como a compra e venda de prestação de serviços sexuais que deveriam ser proibidas. Aqui acredita-se que a solução para este problema seria uma intervenção ou interrupção na demanda. ‘’A proibição é o sistema adotado hoje nos Estados Unidos, por exemplo. Consiste em criminalizar a prostituição de per si, punindo o exercício e também sua exploração. (Rodrigues, 2013, p.41)’’ O sistema proibicionista visa a tolher e castigar a prostituição, seja a própria pessoa que comercializa o corpo, como também pode se estender a punição aos clientes. Proíbe qualquer forma de auxílio, favorecimento, intermediação, tráfico, sustento em razão da atividade. O modelo proibicionista vê a prostituição como um grave atentado contra os direitos humanos, uma clara manifestação da violência contra as mulheres e um símbolo inequívoco da exploração sexual. (Nucci, 2013, p.68) Temos aqui no Brasil uma espécie de sistema misto, uma vez que não se pune nem a prostituta e nem o cliente, e sim todos aqueles que de alguma maneira, auxiliam, favorecem e obtém lucro através da prostituição. 3.2 – Países legalizados. Alemanha No ano de 2002, durante o governo de coalisão de verdes e socialistas, que a Lei de prostituição LProst, foi aprovada. Não que a prostituição fosse um trabalho ilegal antes do ano de 2002 e nem proibido, aqueles que exerciam à época tinham de pagar impostos, mas enfrentavam o preconceito que taxava sua atividade imoral e sem nenhum valor jurídico. O que por muitas vezes fazia com que aqueles que viviam da prostituição sentissem-se desamparados e frágeis perante qualquer ameaça ou risco que viessem a correr durante o exercício de sua profissão. A Alemanha possui cerca de 82 milhões de habitantes, e dentre eles calcula-se que entre 100 e 300 mil mulheres, homens e transexuais trabalhem com sexo 28 Mesmo com o reconhecimento da prostituição com a aprovação da lei, sabe-se que o preconceito ainda existe, mesmo que muitas das vezes velado, mas a prostituição continua sendo mal entendida e os profissionais do sexo ainda são tidos como imorais, A lei tem como objetivo acabar com a imoralidade que paira sobre a atividade e também cria regras jurídicas para que se melhore as condições de trabalho daqueles que exercem a prostituição. Temos na lei três pontos importantes: Trabalhadores do sexo têm o amparo da lei para cobrar o pagamento por serviços prestados não quitados; Podem escolher entre trabalhar como empregados ou autônomos. Em ambos os casos com obrigações e direitos a benefícios sociais como de qualquer outra atividade laboral; Foi abolida a lei que considerava como ‘promoção da prostituição’ o fato de bordéis oferecerem boas condições de trabalho ou ter, por exemplo, preservativos à disposição dos clientes. - http://br.boell.org/pt-br/2014/05/09/prostituicao-na-alemanha-e-legal Estima-se haver 400.000 prostitutas no país e 1.2 milhão de clientes para usar seus serviços por dia. Esse comércio movimenta cerca de 6 bilhões de euros por ano, algo equivalente a empresas como Porsche e Adidas. (Nucci, 2013, p. 72) Para os trabalhadores do sexo na Alemanha a lei foi um passo importante para que os seus direitos como trabalhadores fossem devidamente reconhecidos. Por outro lado, sabem também, que foi apenas um pequeno primeiro passo de muitos que ainda restam até que o trabalho sexual seja de uma vez por todas descriminalizado também pela sociedade. Um fato interessante sobre a lei é que, por ela tratar-se de uma regulamentação voluntária, por sua vez não obriga ninguém a se declarar oficialmente trabalhador do sexo. De fato um ponto positivo para aqueles que temem sofrer preconceitos por conta de sua profissão. Na Alemanha existiam algumas organizações locais onde os trabalhadores do sexo se reuniam para então juntos, lutar por seus direitos, mas não havia até então uma organização a nível nacional, o que aconteceu no ano de 2013 quando um grupo com 40 pessoas que exercem a prostituição como profissão fundaram a Associação Profissional de Serviços Eróticos e Sexuais. Essa associação foi criada em um momento crucial e delicado, uma vez que a luta contra a prostituição começava a ficar cada vez mais forte no país. O grupo vem sendo extremamente ativo, tanto na mídia quanto fora, saem pelo país afora dando palestras, para que as pessoas conheçam a sua realidade da profissão sobre a perspectiva do profissional dosexo através de relatos do seu dia-a-dia, com isso buscam erradicar aos poucos o preconceito para com a profissão. Holanda 29 Na Holanda, a prostituição é considerada profissão assim como qualquer outra desde Janeiro de 2001, o comércio do sexo voluntário foi legalizado e a pressão penal quanto as organizações criminosas, que propagam o comércio do sexo involuntário, em particular o infantil. A prostituição no país aumentou consideravelmente após a legalização, por conta das garantias trabalhistas agora garantidas as prostitutas. O que acabou por não agradar muito aqueles que são contra o exercício da prostituição, fazendo com o que o preconceito permaneça e a profissão não deixe de ser imoral para aqueles que não concordaram com sua legalização desde o início. A legalização na Holanda aconteceu para que a imagem dos Cafetões desaparecessem e para também erradicar o tráfico de pessoas para serem escravizadas sexualmente no país. A imagem do cafetão então, foi substituída pela imagem de grandes empresários que investem rios de dinheiro no turismo sexual, no entretenimento erótico que comanda praticamente todo o país, através da prostituição, casas noturnas recheadas de strippers, e até um museu destinado à prostituição recém inaugurado na cidade de Amsterdam. Há na Holanda o Red Light, que é um bairro localizado na cidade de Amsterdam, que contém ruas destinadas à prostituição, as conhecidas ‘’ vitrines’’. As prostitutas alugam uma espécie de quartinho em construção com janelas enormes voltadas para a rua, e então ficam lá, de frente para a rua, se exibindo com roupas sensuais e chamativas, como se estivem em uma vitrine de loja. Dessa maneira, os visitantes do local, muitas vezes turistas, podem apreciar e escolher a prostituta que mais lhe agrade aos olhos. O preço dos serviços dessas prostitutas gira em torno de 50 euros, com o preço tabelado para assim não gerar concorrência desleal. O cliente que optar pela prostituta de seu agrado, entra pela porta lateral e recebe o serviço ali mesmo. A ideia das vitrines surgiu por conta do clima chuvoso e frio de Amsterdam, o que dificultaria a vida das prostitutas de rua, assim, dentro de seus quartinhos estas ficam protegidas e podem realizar seu trabalho, com o máximo de conforto que o aquele espaço puder proporcionar. Existem mais de 7 mil prostitutas na Holanda, muitas delas trabalhando cerca de 11 horas por dia, 6 vezes por semana. Os trabalhadores do sexo recebem do governo a garantia de assistência médica, direitos trabalhistas além da fiscalização para que lhe seja assegurada boas condições de trabalho, para que assim sua dignidade não seja afetada e este possa exercer sua profissão em segurança. ‘’O sistema acolhido é o regulamentador. A prostituta deve ter pelo menos 18 anos e o cliente 16. Um terço das famosas vitrines de bordéis de Amsterdã fecharam após a Prefeitura recusar-se a renovar suas licenças. (Nucci, 2013, p. 79)’’ Existem três regiões, relativamente próximas, conhecidas como Red Light District, mas a mais famosa é a mais próxima à estação central, 30 onde existe a maior concentração de prostitutas se exibindo em janelas a qualquer hora do dia. Amsterdã orgulha-se de seu liberalismo e de sua política de descriminalização sem precedentes. Na capital da Holanda a prostituição é um serviço como outro qualquer, onde prostitutas são contribuintes e lutam, socialmente, pela aceitação de seus direitos trabalhistas. (http://www.rodei.com.br/2010/07/14/prostituicao-em- amsterda-e-red-light-district/) Nova Zelândia A prostituição na Nova Zelândia foi legalizada há dez anos. Os parlamentares do país resolveram, que seria melhor votar por mudanças nas leis que tratavam da prostituição, após os trabalhadores do sexo e a Organização de mulheres e defensores da saúde pública, trazerem a mídia, debates sobre o tema. O projeto denominado de Prostitution Reform Act de 2003, veio para promover uma mudança significativa, revogando leis que até então criminalizavam as prostitutas, as tornando vulneráveis e desprotegidas dessa forma perante a sociedade. O projeto tem por objetivo descriminalizar a prostituição, além de visar a proteção dos direitos básico e fundamentais do trabalhadores do sexo, seus direitos humanos. Dando importância e garantindo o bem-estar do trabalhador, lhe proporcionando maior segurança até mesmo para sua saúde, já que sabemos ser uma profissão de risco, devido as doenças sexualmente transmissíveis a que estão sujeitos estes profissionais. A lei no entanto proíbe a prostituição dos menores de 18 anos. Mesmo depois de aprovada a lei, o trabalho sexual continua sendo praticado de maneira muito discreta, tanto nas grandes, quanto nas pequenas cidades do país. Isso devido ao preconceito que ainda predomina na sociedade com relação à prostituição, mesmo que legalizada ela ainda é marginalizada pela sociedade, que faz com que os trabalhadores do sexo, mesmo tendo seu direito garantido e podendo exercer a profissão livremente assim como qualquer outro trabalho, ainda sim, prefira fazer isso por baixo dos panos. O trabalho sexual é permitido, assim como também é permitido que se trabalhe de maneira individualizada, coletivamente, ou até mesmo em casas de prostituição. O que exige-se desses lugares, é que tenham um certificado emitido pela Corte Distrital. Caso a prostituta, venha sofre algum tipo de violência dentro do estabelecimento, o mesmo pode ser interditado, e é direito da prostituta que esta procure a justiça caso seja necessário. Desde 2003, a prostituição foi legalizada para maiores de 18 anos. Admite-se a existência de bordéis, cujos proprietários devem ter mais de 18, ser cidadão da Austrália ou da Nova Zelândia e possuir uma licença. Inexiste proibição no tocante ao proxenetismo. (Nucci, 2013, p. 82) 31 Há dez anos, parlamentares da Nova Zelândia votaram por mudanças nas leis relativas à prostituição, após intenso debate e mobilização de trabalhadoras do sexo, organizações de mulheres e defensores da saúde pública. O Prostitution Reform Act 2003 (PRA) promoveu uma significativa mudança, revogando leis que tinham sido usadas para criminalizar prostitutas e que as tornavam vulneráveis. O objetivo do PRA é descriminalizar a prostituição e proteger os direitos humanos dos profissionais do sexo e contribuir para protegê- las da exploração. A lei também define a importância da promoção do bem-estar e da segurança e saúde de quem está na atividade. A lei proíbe a prostituição de menores de 18 anos (http://www.sxpolitics.org/pt/wp- content/uploads/2013/10/prostituicao-na-nz.pdf) A lei veio também como um instrumento que visa, prevenir e eliminar a exploração dessas pessoas, e também é uma válida ferramenta combater o tráfico de pessoas. Dados do serviço de imigração do país revelam que não foram identificados casos de tráfico de pessoas no país. A descriminalização vem também para elevar os padrões no tocante a saúde ocupacional e a segurança, uma vez que prostitutas e clientes, agora sentem-se seguros para, caso suspeitem de algo anormal ou suspeito dentro do bordel, fazer a denúncia para a polícia. 3.3 – Países não legalizados China Na China, a prostituição é ilegal, em todas as suas formas, seja a individual, os bordéis onde se pratica a prostituição e também o proxenetismo. Porém as rondas policiais na China, por muitas vezes encontra locais de prostituição, prendendo as prostitutas, os mantedores de sites de prostituição, os clientes e todos aqueles que contribuem, facilitam e utilizam da prostituição. Já em Taiwan, a prostituição foi legalizada em Junho do ano de 2009. A prostituição é definitivamente ilegal, mas na prática as leis e a aplicação das leis nem sempre caminhamjuntas, por isso os policiais na China, em suas rondas tem encontrados prostitutas e lugares onde a prostituição é praticada, pois há um conflito muito grande, entre as leis e sua correta aplicação. 32 A exemplo disso temos a Constituição Chinesa que prega a garantia a liberdade de expressão, mas aquele que ousar usar de sua liberdade para se expressar sobre algo ‘’ proibido’’ tem grandes chances de ser preso ou no pior dos casos, levar punições bem severas, sendo colocado em uma prisão, sendo levado ao trabalho forçado, entre outros. Quando presas as prostitutas na China passam por humilhações e há relatos de casos onde foram torturadas pelos próprios policiais. São tratadas como um ser inferior como se não fossem dignas de terem seus direitos respeitados, o que chega a ser contraditório, uma vez que se proíbe a prostituição por acreditar-se que esta viole o direito de personalidade da mulher, e em outro momento viola-se a dignidade e todos os seus direitos fundamentais, humilhando, torturando e desprezando a mulher que exerce a prostituição. ‘’Traduz-se a prostituição como violação dos direitos da personalidade da mulher. (Nucci, 2013, p. 75)’’ Em fevereiro, o Ministério da Segurança Pública em Pequim prometeu atacar duramente os "três vícios" – prostituição, apostas e uso de drogas –, mas o foco da iniciativa está claramente na venda de sexo. A campanha nacional começou em 9 de fevereiro, quando a China Central Television veiculou uma matéria com repórteres disfarçados mostrando a prostituição em hotéis de Dongguan. No dia seguinte, o chefe do partido na província de Guangdong, que inclui Dongguan, ordenou o fechamento de locais de entretenimento na cidade por três meses. A polícia invadiu algumas saunas, casas noturnas e bares de caraoquê – os tipos de locais com reputação de imoralidades por toda a China. O Ministério da Segurança Pública chinês ordenou que delegacias de todo o país conduzam operações similares. Uma piada popular diz que, para conter uma recente onda de gripe aviária, Xi disse "livrem- se das galinhas", mas a ordem foi enviada ao Ministério da Segurança Pública, em vez do Ministério da Saúde – e os policiais acharam que ele estava se referindo a prostitutas .Até agora, a maior baixa política foi o chefe de polícia de Dongguan, Yan Xiaokang, que foi demitido e colocado sob investigação. No entanto, são as prostitutas que vêm enfrentando as piores consequências (http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida- e-estilo/noticia/2014/03/industria-do-sexo-e-severamente-reprimida- em-dongguan-na-china-4450402.html) A China também enfrenta um problema que é o ‘’tráfico de noivas’’, são websites nos quais vende-se pacotes de viagens para que grupos de homens, conheçam ‘’noivas estrangeiras’’, o que acaba se tornando um caso de tráfico, uma vez que essas mulheres são retiradas do seu país de origem, com falsas propostas de casamento, para serem exploradas depois e colocadas no mundo da prostituição forçada, escravizadas sexualmente. A polícia Chinesa luta para combater essa prática, retirando e proibindo que sites como esse estejam disponíveis na internet, o que acaba por ser uma ‘’missão impossível’’, devido à grande quantidade de anúncios fantasiosos espalhados pela rede. A polícia tenta erradicar esse problema também, mantendo uma mais vigilância nas fronteiras, evitando assim que essas mulheres saiam traficadas do país. 33 Estados Unidos. Nos Estados Unidos, a prostituição é ilegal, tendo exceção em algumas áreas do Estado de Nevada que permite algumas formas de prostituição nos condados afastados de Las Vegas. Porém, a indústria do sexo nos Estados Unidos, é considerada a maior e mais ativa do mundo, e gera milhões de dólares por ano. Na maior parte dos Estados Unidos, a prostituição é oficialmente classificada como um crime sem vitimas. (...) As prostitutas têm sido concebidas como criminosas sexuais, vítimas de crimes sexuais e mulheres contaminadas pelas autoridades legais, paladinos da moralidade, oficiais da saúde pública. Além disso, vê-se prostitutas como ligadas a outros crimes. O crime organizado, furto, roubo, estupro, tráfico de drogas, são frequentemente, associados à prostituição. Segundo Ronald Weitzer, aproximadamente, 60.000 americanos foram presos em 2009 por violação das leis de prostituição. A maioria das prisões envolve o comércio de rua, enquanto o de lugares fechados são visados apenas em algumas cidades. (...) A criminalização tem várias consequências. Em primeiro lugar as prisões e muitas provocam pouco efeito nos vendedores, que rapidamente voltam a vender sexo. Prisão e punição podem ser danosas pelo estigma gerado pelo antecedente criminal. Em segundo lugar, algumas dessas prisões não apresentam nenhum dano ao público, pois as negociações entre vendedor e comprador se dão em local discreto. Em terceiro, a criminalização é um custo para o sistema judiciário, algo que poderia ser realocado para outras prioridades. Em quarto, a criminalização põe em perigo os trabalhadores do sexo, pois ficam relutantes em relatar abusos de clientes. (estupro, roubo etc). Não são preocupações inconsistentes. (Nucci, apud Weitzer 2013, p. 77) Contratar serviços de prostitutas também é ilegal nos EUA, há muitos casos de homens que geralmente estão embriagados e acabam abordando policiais femininas nas ruas de Las Vegas por pensarem se tratar de uma fantasia e acabarem na prisão. A promoção da prostituição só não é considerada crime contra a ordem pública quando esta se dá no mundo virtual, um território até agora quase sem lei. Manter site que promove, divulga e propaga a prostituição não é crime. Para o governo americano a prostituição é altamente prejudicial, uma vez que ela vem alimentando o tráfico humano. Por este motivo o governo se opõe a prostituição e todas as outras atividades relacionadas a ela, incluindo o lenocínio, proxenetismo e os bordéis. Para eles, a prostituição interfere e prejudica a escolha de um trabalho ‘’digno’’ nos moldes da sociedade. 34 Percebe-se que o grande problema por trás disso tudo é o preconceito enraizado na sociedade, que ainda considera a prostituição como algo sujo e degradante, aqui não se enxerga a prostituição como um trabalho como um outro qualquer, como uma escolha daquele que decide trabalhar com sexo, mas sim, como algo que lhe é imposto, forçado pelas circunstancias ou por alguém, o que acaba por criminalizar a prostituição e torna-la alvo de intermináveis preconceitos. Suécia A Suécia criminaliza a venda e compra de serviços sexuais desde o ano de 1999, e prevê penas de prisão de até 6 meses ou multa para aqueles que infringirem a lei. As prostitutas tem direito ao anonimato e não precisam comparecer ao juízo, uma vez que são tratadas como a vítima e não como criminosas. ‘’A Suécia adota uma política abertamente abolicionista, apoiada na convicção de que a prostituição se trata de uma situação de exploração. (Nucci, 2013, p. 83)’’ Porém, a criminalização não bastou para erradicar a prostituição do país uma vez que as prostitutas procuraram novas maneiras de oferecer seus serviços, hoje em dia a oferta é feita por telefone e também pela internet. Embora a prostituição ainda que minimizada o tráfico de pessoas para exploração sexual diminuiu consideravelmente no país. Com o risco de ser preso, a procura dos clientes pelas prostitutas diminuiu consideravelmente, o que torna a Suécia um mercado infrutífero para o comércio de escravas sexuais. Para os suecos a prostituição não é nunca uma escolha livre, e não há dúvidas de que o modelo sueco tem inspiração no movimento feminista e que por este motivo pune o cliente e preserva a prostituta, aqui também há uma superproteção aos seus direitos humanos, é oferecia uma ajuda à prostituta para que ela consiga sair da prostituição e passe a ter uma vida mais ‘’digna’’ e um trabalho que lhe ofereça essas possibilidades,conforme dita a sociedade. O sistema sueco não se concentra exclusivamente em punir o cliente, mas cuidar da prostituta, oferecendo-lhe variadas opções de trabalho alternativo, bem como um programa social e psicológico para assisti- la se quiser deixar a vida. (Nucci, 2013, p.83) 3.4 - EXPLORAÇÃO SEXUAL 35 Explorar é uma conduta de variados significados, contendo em seu universo desde uma simples procura ou estudo, passando por uma pesquisa, até chegar à condição de tirar proveito de alguém ou de algo. E neste último sentido, pode-se fazê-lo de maneira honesta ou desonesta. O modo desonesto a má-fé, envolvendo o abuso da ingenuidade alheia, enganando ou ludibriando para, então, tirar proveito ou lucro, em prejuízo do explorado. (Nucci, 2013, p.89) A expressão exploração sexual constitui elemento normativo do tipo penal. Segundo Francisco de Assis Toledo, os elementos normativos são os constituídos por termos ou expressões que só adquirem sentido quando completados por um juízo de valor, preexistente em outras normas jurídicas ou ético-sociais ou emitido pelo próprio intérprete. Como não há definição legal, esta ficará a cargo dos doutrinadores e também do poder público. Segundo André Estefam, o nosso Código Penal fornece algumas diretrizes na determinação do conceito da elementar. Para o autor, os conceitos de violência sexual (p. ex..: estupro) e de satisfação sexual (atividade licita) representam os limites interpretáveis da exploração sexual. Estefam define exploração sexual como conduta daquele que tira proveito de outrem, transformando-o em objeto ou mercadoria e promovendo sua degradação sob o aspecto da sexualidade. (Rodrigues, 2013, p. 50, 51) Denomina-se exploração sexual toda e qualquer prática sexual as quais através dela o indivíduo venha a obter lucro. Geralmente ocorre por consequência da pobreza, da violência doméstica, da falta de perspectiva de vida, o que leva jovens nessas situações, deixarem seus lares e encontrarem ‘’abrigo’’ em locais onde explorarão sua sexualidade, em troca de moradia e comida. Para Guilherme Nucci a exploração sexual deve ser caracterizada como forma de retirada de vantagem em relação a alguém, valendo- se de fraude, ardil, posição de superioridade ou qualquer forma de opressão. Esse autor afirma que a exploração sexual não se confunde com qualquer forma de violência sexual ou com a mera satisfação sexual. No mesmo sentido Luiz Flavio Gomes entende que a exploração sexual tem a conotação negativa de aproveitamento ou fruição de uma debilidade. Renato Fabbrini afirma que o termo exploração sexual comporta diferentes acepções no contexto legal, como tirar proveito, beneficiar- se, extrair lucro de uma situação ou de alguém. Para esse autor o fim econômico não é exigido pelo legislador o podendo o proveito ser natureza sexual por exemplo. (Rodrigues, apud Nucci, Gomes, Fabrini 2013, p. 51) A grande realidade é que hoje em dia vários países sofrem com a exploração sexual, no geral são meninas e mulheres, que são colocadas neste mercado do sexo por meio de uma rede organizada de exploradores, com os seus aliciadores trabalhando em comunidades, na maioria das vezes lugares mais necessitados e com pouca qualidade de vida, para que assim, fique mais fácil o convencimento da vítima. 36 ‘’Inexiste exploração sexual sem violência, ameaça ou qualquer espécie de emprego de fraude para dobrar a resistência de alguém à prática do sexo. (Nucci, 2013, p. 91)’’ No entanto, há discussões acerca da exploração sexual em relação à prostituição, muitos pregam que não há que se falar em exploração sexual, quando a prostituição é voluntária, pois estaríamos falando de uma auto exploração. Cuidando do tema, Beatriz Gimeno esclarece ser a exploração sexual um conceito ambíguo e difícil de definir. ‘’No entanto, as feministas antiprostituição insistem em considerar que a atividade da prostituição é sempre exploração sexual, mas não se incomodam em argumentar a respeito... Então, por que a prostituição será sempre exploração? Creio que a consideração de que a prostituição é sempre exploração é errônea e que as generalizações maximalistas aplicadas a situações tão diferentes como as que podem dar aqui dificultam uma aproximação real e crível. (...) Ademais, se nos concentrarmos em demasia nas condições de exploração, finalmente no veremos obrigadas a aceitar que a regulação poderia melhorar essas mesmas condições de exploração. Normalmente, o debate para as feministas se concretiza no discutir se a essência da exploração concentra-se (Munro, 2008, p.84) no uso instrumental de uma pessoa como meio para outro fim, se seguimos a perspectiva kantiana, ou nas consequências de que uma pessoa ( o empresário ou o cliente, se aceitarmos que existe uma ganância em termos simbólicos: a mais- valia de gênero) tenha umas ganâncias desproporcionais às custas do trabalho da outra. (...) A maioria dos trabalhadores é explorada, mas, ao mesmo tempo, tira um benefício dessa exploração, posto que, como consequência da mesma a sua situação é melhor antes do que depois. Portanto a questão não é se há ou não elementos daninhos senão se há unicamente dano ou se tem, sobretudo dano. (Nucci, apud, Gimeno 2013, pgs. 91, 92) Quando a prostituição é voluntária, sendo o consentimento válido, entendemos que fica excluída a exploração. Aqui novamente se afirma que não cabe ao Estado intervir na esfera privada da pessoa plenamente capaz. Contudo, tratando-se de menor, pessoa vulnerável, ou presentes a fraude, coação ou violência, fica evidenciada a exploração. (Rodrigues, 2013, p. 53) Há ainda alguns doutrinadores que conceituam a exploração sexual como a espécie da qual surgem as demais espécies de utilização do sexo de forma comercial, como a prostituição, a pornografia, o turismo sexual e também o tráfico de pessoas. Não se pode negar a existência de autêntica exploração sexual de alguns setores da prostituição, em especial as pessoas prostituidas sob controle e fiscalização violenta ou ameaçadora de rufiões. O tráfico de pessoas, quando inserido no cenário dos delitos contra a dignidade sexual, também se destina basicamente a prostituição, restando vazia de conteúdo a expressão outra forma de exploração sexual. (Nucci, 2013, p.90,92) 37 3.5 - Turismo Sexual O turismo é a atividade de lazer, abrangendo, também os variados serviços de apoio ao viajante, como hotéis, aluguéis de carros, restaurantes, museus etc. O denominado turismo sexual é a viagem empreendida por alguém para buscar em outro paradeiro o conhecimentos de lugares ou pessoas, que lhe possam satisfazer a lascívia. (Nucci, 2013, p. 102) O turismo sexual ocorre no mundo já há dezenas de anos, no Brasil, pelo menos nos últimos 15 anos o turismo sexual tem se intensificado nas regiões Norte e Nordeste. Na realidade o turismo é apenas um meio utilizado para a prática da prostituição. Os estrangeiros, destinam-se a outros países querendo satisfazer seus extintos com pessoas exóticas, diferente da realidade que conhecem no seu país de origem. [..,] o turista sexual busca, em primeiríssimo lugar, prostituição, nos lugares onde considera mais fácil, barata e acessível. Em segundo plano, pode buscar estabelecimento de diversão adulta, concentrados em shows eróticos de toda ordem. O turismo sexual em si mesmo não que dizer nada, sendo absolutamente incompatível com a designação de uma espécie de exploração sexual. Seria o turista um explorador de terceiro, porque deixou seu local de residência para conhecer outros lugares, encontrar pessoas de nacionalidades e culturas diversas, para fins sexuais. Como mencionado, essa viagem de descoberta de novos contatos sexuais, por si só, não pode equivaler à exploração sexual. (Nucci,
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