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Júlia Demuner - MED UVV XXIX Vias Aéreas As vias aéreas consistem em uma série de tubos ramificados que, quanto mais se aprofundam no parênquima pulmonar, mais se tornam estreitos, curtos e numerosos. A traquéia se divide em brônquio principal direito e brônquio principal esquerdo, os quais, por sua vez, se dividem em brônquios lobares e, após, em brônquios segmentares. Esse processo continua até os bronquíolos terminais, que são as menores vias aéreas sem alvéolos. Os bronquíolos terminais se dividem em bronquíolos respiratórios, os quais ocasionalmente possuem alvéolos nas suas paredes. Por fim, chegamos nos ductos alveolares, os quais são completamente recobertos por alvéolos, local onde ocorre a troca gasosa , conhecida como zona respiratória, até a região pulmonar distal aos bronquíolos terminais, que forma a unidade anatômica chamada ácino. ! Como as vias aéreas condutoras não contém alvéolos e, portanto, não participam da troca gasosa, elas constituem o espaço morto anatômico , sendo seu volume de cerca de 150 mL. Zona de Transporte As vias respiratórias superiores atuam, por conseguinte, acondicionando o ar, protegendo do ressecamento, do desequilíbrio térmico e da agressão por partículas poluentes de grande tamanho, as regiões mais internas do sistema. A árvore traqueobrônquica ou zona de transporte aéreo se estende da traqueia até os bronquíolos terminais. A traquéia se bifurca assimetricamente, com brônquio-fonte direito com menor ângulo com ela em relação ao esquerdo, sendo estes, considerados a primeira geração, ou subdivisão, da árvore traqueobrônquica, seguida pelos brônquios lobares, e assim sucessivamente até os bronquíolos terminais (16º geração). Zonas de Transição e Respiratória A zona de transição se inicia no nível do bronquíolo respiratório, caracterizado pelo desaparecimento das células ciliadas do epitélio bronquiolar . Os bronquíolos respiratórios também se diferenciam por apresentarem, espaçadamente, sacos alveolares e ainda por se comunicarem diretamente com os alvéolos por meio de pequenos poros em suas paredes , denominados canais de Lambert . A partir do último ramo do bronquíolo respiratório, surgem os ductos alveolares, que, por sua vez, terminam em um conjunto de alvéolos, os sacos alveolares. A zona respiratória, então, é constituída por ductos, sacos alveolares e alvéolos . Júlia Demuner - MED UVV XXIX Alvéolo A unidade alveolocapilar é o principal local de trocas gasosas em nível pulmonar, sendo composta por alvéolo, septo alveolar e rede capilar. Os alvéolos são pequenas dilatações revestidas por uma camada de células, a maioria pavimentosas, já o septo alveolar é constituído por vasos sanguíneos e fibras elásticas, colágenas e terminações nervosas, além de descontinuidades denominadas poros de Kohn , que permitem a passagem de ar, líquido e macrófagos entre os alvéolos. A superfície alveolar se constitui de três tipos de células , o pneumócito tipo I , dispõe de pouca organela citoplasmática, recobre a maior parte da superfície alveolar e não consegue se regenerar, ou seja, não tem potencial mitótico. O pneumócito tipo II , apresenta muitos microvilos em sua superfície, contém muitas organelas celulares com grânulos osmofílicos (corpúsculos lamelares), que armazenam e secretam surfactante , que recobre a superfície alveolar reduzindo a tensão superficial, além disso, tem a capacidade de se regenerar e se transformar em tipo I quando ele é lesionado. Além disso, tem-se os macrófagos alveolares , que passam livremente da circulação para o espaço intersticial e, a seguir, percorrem os espaços entre as células epiteliais, tendo como função, fagocitar corpos estranhos, partículas poluentes e bactérias . Inervação A inervação do sistema respiratório é basicamente autônoma, não existindo inervação motora ou sensorial para dor, quer nas vias respiratórias quer no parênquima pulmonar. Na pleura, todavia, há inervação sensorial dolorosa. A atividade basal parassimpática parece ser a responsável pelo tônus broncomotor, que é de maior importância nas vias respiratórias mais centrais, sendo praticamente inexistente na periferia. Os nervos adrenérgicos inervam diretamente glândulas mucosas, vasos sanguíneos e gânglios nervosos das vias respiratórias. O sistema NANC inibitório é responsável pelo relaxamento dos músculos lisos das vias respiratórias, e o óxido nítrico é o neurotransmissor que causa esse efeito. Pressões Pulmonares Os pulmões são estruturas elásticas que colapsam, como um balão, e expelem todo o ar pela traqueia, toda vez que não existe força para mantê-lo inflado. Pressão Pleural Observa-se que, ao nível da capacidade residual funcional, o pulmão tende a se retrair, ao passo que a parede torácica, a se expandir. As duas pleuras não se separam porque a cavidade pleural é fechada e existe em seu interior uma película líquida que as une. Pressão pleural é a pressão do líquido no estreito espaço entre a pleura visceral e a pleura parietal, cuja medida no ponto de equilíbrio elástico do sistema respiratório mostra um valor em torno de -4mmHg . Essa pressão “negativa” (em relação à pressão atmosférica local) representa a tendência para a expansão do espaço pleural , criada pelas forças opostas de retração pulmonar e expansão da parede. Assim, caso uma das superfícies pleurais (ou as duas) se rompa, pondo em comunicação o espaço pleural com o meio ambiente (tanto via superfície corporal quanto através da árvore traqueobrônquica), o ar será aspirado para dentro daquele espaço. A pressão pleural tende a ser negativa devido a elasticidade dos pulmões, a tensão superficial e a elasticidade da parede torácica . Todos estes fatores atuam no sentido de aumentar o volume da cavidade torácica e, consequentemente, diminuem a pressão pleural, mantendo-a em níveis negativos com relação à atmosférica. Além disso, a pressão pleural não é uniforme em todo o seu espaço, pois, devido a gravidade, os pulmões tendem a repousar sobre o diafragma. Essa conformação faz com o que o Júlia Demuner - MED UVV XXIX volume/espaço pleural do ápice seja ligeiramente maior que o da base, consequentemente, a pressão pleural no ápice é menor que a na base pulmonar. Pressão Alveolar Quando a glote está aberta e não existe fluxo de ar para dentro ou para fora dos pulmões, as pressões em todas as partes da árvore respiratória, até os alvéolos, são iguais à pressão atmosférica , que é considerada a pressão de referência zero nas vias aéreas. Para causar o influxo de ar para os alvéolos, durante a inspiração, a pressão nos alvéolos deve cair para valor ligeiramente abaixo da pressão atmosférica (abaixo de 0), afinal, é o gradiente entre o meio ambiente e a pressão alveolar que move o ar para dentro e para fora do sistema respiratório. Pressão Transpulmonar A pressão transpulmonar é a diferença de pressão entre os alvéolos e as superfícies externas dos pulmões (pressão pleural) , ou seja, é uma pressão positiva de +4mmHg, um fator importante que contribui para o processode expansibilidade pulmonar (ao invés do colapso). Mecânica da Ventilação Pulmonar Os pulmões podem ser expandidos e contraídos por duas maneiras: por movimentos de subida e descida do diafragma para aumentar ou diminuir a cavidade torácica e por elevação e depressão das costelas para elevar e reduzir o diâmetro anteroposterior da cavidade torácica. Os músculos respiratórios são músculos esqueléticos estriados que, quando comparados com os esqueléticos da periferia, apresentam as características de maior resistência à fadiga, elevado fluxo sanguíneo, maior capacidade oxidativa e densidade capilar. Inspiração Descida do Diafragma É um septo musculofibroso em forma de cúpula que separa a cavidade torácica da abdominal. Durante a respiração basal, a inspiração depende, principalmente, da contração do diafragma. Quando o diafragma se contrai, o conteúdo abdominal é forçado para baixo e para a frente , aumentando, por conseguinte, o diâmetro cefalocaudal do tórax. Além disso, as margens das costelas são levantadas para cima e para fora , ocasionando o incremento dos diâmetros anteroposterior e laterolateral torácicos. ! Quando o diafragma é paralisado, na inspiração, ele se desloca para cima em vez de para baixo em razão da diminuição da pressão intratorácica, o que é conhecido como movimento paradoxal . Elevação da Caixa Torácica O segundo método para expansão dos pulmões é elevar a caixa torácica no intuito de expandir os pulmões, pois, na posição de repouso natural, ascostelas se inclinam para baixo. Quando a caixa torácica é elevada, no entanto, as costelas se projetam quase diretamente para frente, fazendo com que o esterno também se mova anteriormente para longe da coluna, aumentando o diâmetro anteroposterior do tórax , em função do movimento de “alça de balde” das costelas. Portanto, todos os músculos Júlia Demuner - MED UVV XXIX que elevam a caixa torácica são classificados como músculos da inspiração , e os que deprimem a caixa torácica são classificados como músculos da expiração. Os músculos mais importantes que elevam a caixa torácica são os intercostais externos , mas outros que auxiliam são músculos esternocleidomastóideos , que elevam o esterno, os serráteis anteriores , que elevam muitas costelas e escalenos , que elevam as duas primeiras costelas. ! A paralisia dos músculos intercostais por si só não afeta gravemente a respiração, pois o diafragma é muito eficiente. - Músculos Paraesternais e Esterno Triangular: auxilia no levantamento do gradil costal superior. - Músculo Escaleno: eleva o esterno e as duas primeiras costelas, acarretando expansão para cima e para fora do gradil costal superior. - Músculos Acessórios: esternocleidomastóideo eleva o esterno e expande o gradil costal superior, sendo ativado em condições de aumento da ventilação (exercício) e altos volumes pulmonares (recrutado após a inspiração de três quartos da capacidade vital). Na inspiração forçada os músculos acessórios e os intercostais externos aumentam o diâmetro anteroposterior do tórax pelo mecanismo de alavanca de bomba (costelas mais verticalizadas) e, também, aumentam o diâmetro lateral pelo movimento de alça de balde (mais evidente nas costelas inferiores). Expiração Durante a respiração basal, a expiração é comumente passiva , pois a contração ativa dos músculos inspiratórios conduz à distensão dos tecidos elásticos dos pulmões e da parede torácica, com consequente armazenamento de energia potencial nesses tecidos. A retração dos tecidos distendidos e a liberação de energia armazenada promovem a expiração , processo que é, também, alentecido e suavizado pela desativação vagarosa e gradual dos músculos inspiratórios previamente contraídos. Os músculos que puxam a caixa torácica para baixo, durante a expiração, são principalmente o reto abdominal , que exerce o efeito poderoso de puxar para baixo as costelas inferiores , ao mesmo tempo em que, em conjunto com outros músculos abdominais, também comprime o conteúdo abdominal para cima contra o diafragma, e os intercostais internos , que provocam o abaixamento das costelas. A contração concomitante desses músculos acarreta movimentação do gradil costal para baixo e para dentro, flexão do tronco e compressão do conteúdo abdominal para cima , deslocando o diafragma para o interior do tórax e reduzindo o volume pulmonar. Além disso, esses músculos também se contraem fisiologicamente durante tosse, vômito e defecação. Júlia Demuner - MED UVV XXIX Pressões no Ciclo Respiratório Antes de a inspiração começar, a pressão intrapleural é negativa (de -4mmHg) em função da força de retração do pulmão, já a pressão alveolar é zero (atmosférica) , pois com a ausência de fluxo de ar, não ocorre queda de pressão ao longo das vias aéreas. Entretanto, para que o fluxo inspiratório possa acontecer, a pressão alveolar reduz, estabelecendo, dessa forma, a pressão propulsora. A pressão intrapleural cai durante a inspiração por dois motivos: primeiro, conforme o pulmão se expande a sua retração elástica aumenta, levando a pressão intrapleural a se mover ao longo da linha pontilhada ABC. Além disso, a redução na pressão alveolar causa uma queda adicional na pressão intrapleural , de modo que o verdadeiro caminho da linha seja AB´C. Na expiração, alterações parecidas acontecem, porém, agora, a pressão intrapleural é menos negativa do que seria na ausência de resistência das vias aéreas, pois a pressão alveolar é positiva. Propriedades Elásticas do Pulmão Durante a respiração normal e tranquila, todas as contrações dos músculos respiratórios ocorrem durante a inspiração , sendo a expiração quase inteiramente um processo passivo ocasionado pela retração elástica dos pulmões e da caixa torácica . Assim, sob condições de repouso, os músculos respiratórios normalmente realizam “trabalho” para produzir a inspiração, mas não a expiração. O trabalho da inspiração pode ser dividido em três frações: a necessária para expandir os pulmões contra as forças elásticas do pulmão e do tórax, chamada trabalho de complacência ou trabalho elástico , a necessária para sobrepujar a viscosidade pulmonar e das estruturas da parede torácica, chamada trabalho de resistência tecidual e a necessária para sobrepujar a resistência aérea, ao movimento de ar para dentro dos pulmões, chamada trabalho de resistência das vias aéreas . Complacência O grau de extensão dos pulmões por cada unidade de aumento da pressão transpulmonar é chamado complacência pulmonar. Esta sua tendência a retornar ao volume de repouso após a distensão ocorre, em partes, devido ao tecido elástico, constituído por fibras de elastina e colágeno nas paredes alveolares e ao redor dos vasos e brônquios. As forças elásticas do tecido pulmonar são determinadas, em grande parte, pelas fibras de elastina e de colágeno, entrelaçadas no parênquima pulmonar, pois, quando os pulmões se expandem, as fibras são estiradas e desdobradas e, assim, se alongam e exercem até mesmo força elástica maior. A redução da complacência é causada por aumento de tecidofibroso no pulmão (fibrose pulmonar), por edema alveolar , que não permite a insuflação de alguns alvéolos, diminui a complacência e, também, caso o pulmão permaneça não ventilado por um longo período, em especial se o volume for baixo. Em parte, isso pode ser causado por atelectasia (colapso) de algumas unidades, porém aumentos na tensão superficial também ocorrem. Já o aumento da complacência ocorre em caso de enfisema pulmonar e no envelhecimento normal do pulmão , provavelmente, devido a alterações no tecido elástico do pulmão. Diagrama As duas curvas são denominadas, respectivamente, curva de complacência inspiratória e curva de Júlia Demuner - MED UVV XXIX complacência expiratória , e todo o diagrama é chamado diagrama da complacência pulmonar. Ao analisar a curva de complacência inspiratória , nota-se que existe uma baixa complacência pulmonar no início da inspiração, devido a alta tensão superficial . Observa-se ainda que, após essa tensão ser vencida, os pulmões insuflam-se com maior facilidade e, quando a expansão máxima é alcançada, a complacência pulmonar volta a reduzir , devido à máxima distensão do tecido pulmonar . Tensão Superficial Quando a água forma uma superfície de contato com o ar, suas moléculas tendem a contrair para se manterem unidas. Este processo, nas superfícies internas do alvéolo, tende a forçar o ar para fora do e, consequentemente, induz o colapso do alvéolo, gerando um efeito global de força contrátil elástica em todo o pulmão. Surfactante O surfactante, secretado pelas células epiteliais alveolares tipo II , é um agente ativo da superfície da água que atua na redução da tensão superficial da água e, assim, na redução do esforço requerido pelos músculos respiratórios para expandir os pulmões. Alvéolos Caso as vias aéreas que levam aos alvéolos pulmonares estejam bloqueadas, a tensão superficial, no alvéolo, tende a colapsá-lo, visto que cria uma pressão positiva alveolar, tentando empurrar o ar para fora. Além disso, quanto menor o alvéolo, maior a pressão alveolar ocasionada pela tensão superficial, um fenômeno é especialmente significativo em recém-nascidos prematuros que apresentam raio alveolar muito pequeno. Propriedades Elásticas da Parede Torácica Assim como o pulmão, a caixa torácica também é elástica. Isso pode ser ilustrado com a colocação de ar no espaço intrapleural (pneumotórax): quando o ar é introduzido no espaço intrapleural, elevando a pressão a nível atmosférico, o pulmão se colapsa, e a parede torácica se expande. Isso mostra que, sob as condições de equilíbrio, a parede torácica é tracionada para fora ao mesmo tempo que o pulmão é tracionado para dentro , e as duas trações equilibram uma a outra. Pneumotórax Se a cavidade pleural for aberta e ficar conectada à atmosfera, o ar flui para dentro. A ligação que mantém o pulmão aderido à caixa torácica é perdida, e o pulmão colapsa, criando um pneumotórax (ar no tórax), caracterizado pela presença de ar entre as duas camadas da pleura que gera, assim, redução do volume e da complacência pulmonar e aumento do volume torácico.