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Desprescrição na APS CARACTERÍSTICAS GERAIS: A desprescrição é definida como a retirada de um medicamento inadequado ou como o processo de análise da medicação para mostrar e resolver o paradoxo por trás do regime terapêutico. Por que considerar desprescrever? O uso excessivo pode ter risco maior do que as doenças, pode causar piora no autogerenciamento, piora qualidade de vida e dificulta a desao. Polimedicação: Para falar de desprescrição é necessário, em primeiro lugar, desenvolver conceitos como o da polimedicação. a polimedicação é definida como o emprego de cinco ou mais fármacos de uso crônico por um paciente determinado; no aspecto qualitativo, analisa-se uso de ao menos um medicamento considerado inadequado. Os perfis associados a ambos os tipos de polimedicação estão condicionados, em geral, pela expectativa de vida reduzida, pela baixa adesão terapêutica e pela alta possibilidade de interações farmacológicas e de efeitos adversos. Nesse sentido, as condições de vida e as expectativas dos próprios pacientes têm papel fundamental. Exisre uma tendencia mundial a polimedicação ou polifarmácia, que se caracterizam pelo envelhecimento da população e o aumento da incidência das doenças crônicas. A multimorbidade está diretamente relacionada com o envelhecimento. A principal população de risco é: • Idosos • Pessoas com doenças crônicas • Crianças, geralmente por condição psiquiátrica dos pais (síndrome de Munchausen – é um tipo de abuso infantil em que um dos pais geralmente a mar simula sinais e sintomas da criança com a intenção de chamar atenção para si) Consequências e riscos da polimedicação: • Diminui a adesão terapêutica • Aumenta a incidência de efeitos adversos e possibilidade de interações medicamentosas, com repercussão direta sobre o estado de saúde das pessoas • Aumenta o risco de hospitalização, • Diminui a qualidade de vida • Supõe maior morbimortalidade Raízes da polifarmácia: • Influências do paciente • Influências políticas • Modelos atuais de evidência (ivermectina) • Modelos atuais de cuidado Classes de medicamentos que aumentam os riscos de polifarmácia: • Sedativos/hipnóticos • Antidepressivos • Anti-inflamatórios • Anticoagulantes (AAS) • Fármacos para doenças cardiovasculares • Opioides • Quimioterápicos • Esteroides A DESPRESCRIÇÃO: Princípios para nortear a de prescrição: IESC V – Aula 4 • Máximo de 5 fármacos e revisões regulares dos medicamentos em uso • Reconsiderar fármacos preventivos • Priorizar medicamentos que possam tratar duas ou mais queixas • Considerar reduzir doses após resolução de um quadro agudo Para nos aproximarmos da maneira mais didática e prática possível, destacaremos dois conceitos comuns. 1) Adequação terapêutica: que pode ser definida como parte da terapia do paciente, na qual, mediante a indicação, a prescrição, a dispensação, a administração e o seguimento, o profissional pode obter alguns resultados apropriados às condições e circunstâncias do próprio paciente e do conjunto da comunidade. 2) Revisão da medicação: entendida como a sua avaliação estruturada, com objetivo de otimizar o uso de medicamentos e melhorar os resultados em saúde, o que implica detectar problemas relacionados com os fármacos e recomendar intervenções.13 Ambos os termos descrevem um processo que parte do conhecimento fiel do estado e da situação do paciente, passando por um diagnóstico correto de seus principais problemas de saúde até a indicação ou não de determinado tratamento. Por isso, é muito importante que se tenha em mente que, quando se fala de desprescrição, se descreve um processo singular e contínuo (prescrição-desprescrição) que necessariamente deve ser adaptado a cada pessoa e circunstância. O resultado final do processo será uma intervenção fundamentada que, levando em conta a situação vital e clínica do paciente, considere a indicação, a seleção, a dose, a substituição ou a eliminação de alguns fármacos, a adição de outros ou a seleção de medidas não farmacológicas. Desprescrever não é só retirar medicamentos que não são considerados adequados. Para a desprescrição, é preciso fazer uma análise mais ou menos pormenorizada e padronizada, que, respeitando como eixo central a idiossincrasia do paciente, tem como finalidade Como fazer a desprescrição: A preocupação fundamental em torno do processo de desprescrição é a de decidir qual fármaco deve ser retirado. Essa identificação dos medicamentos potencialmente inadequados (MPIs), por meio de listagens (sistemas explícitos, com base em critérios), algoritmos e questionários (sistemas implícitos, com base em juízos clínicos), definirá a evolução dos modelos de desprescrição durante esta primeira década. A preocupação fundamental em torno do processo de desprescrição é a de decidir qual fármaco deve ser retirado. Essa identificação dos medicamentos potencialmente inadequados (MPIs), por meio de listagens (sistemas explícitos, com base em critérios), algoritmos e questionários (sistemas implícitos, com base em juízos clínicos), definirá a evolução dos modelos de desprescrição durante esta primeira década. FASES DA DESPRESCRIÇÃO: Fase 1: Obtenção da história completa dos medicamentos: Nessa fase o médico deve obter uma lista completa dos medicamentos que o paciente usa. É necessário associar a dose, frequência, formulação, via de administração, duração de uso e indicação clínica. Devem ser analisados também os problemas de saúde ativos e inativos e sua correspondência com os medicamentos prescritos. A preocupação fundamental em torno do processo de desprescrição é a de decidir qual fármaco deve ser retirado. Essa identificação dos medicamentos potencialmente inadequados (MPIs), por meio de listagens (sistemas explícitos, com base em critérios), algoritmos e questionários (sistemas implícitos, com base em juízos clínicos), definirá a evolução dos modelos de desprescrição durante esta primeira década. Fase 2: Identificação dos medicamentos potencialmente inadequados: Com o balanço dos riscos/benefícios, identificamos medicamentos de alto risco:anticolinérgicos, fármacos de estreita margem terapêutica, psicotrópicos, fármacos sem indicação ou usados fora da ficha técnica (off- label), etc. Na determinação dos riscos/benefícios de um fármaco em um paciente real, devemos considerar: suas necessidades, seus benefícios, seus efeitos adversos presentes ou futuros, suas interações com outros fármacos ou patologias, sua adesão terapêutica, a carga de medicação, as preferências do paciente, os objetivos da atenção e a sua expectativa de vida. Passo 3: Determinação dos fármacos a serem desprescritos e as prioridades: A priori, nunca poderemos ter certeza absoluta de que a retirada será benéfica e segura, ainda mais quando são escassas as evidências sobre a desprescrição. Portanto, devemos apoiar-nos no julgamento que contrabalança as evidências, os riscos e as preferências do paciente Passo 4: Planejamento e início: Muitos fármacos podem ser retirados de forma abrupta, mas outros não (p. ex., psicotrópicos e betabloqueadores). Existem três razões para reduzir as doses de um fármaco antes de retirá-lo definitivamente: prevenir síndromes de retirada, detectar precocemente a recorrência de sintomas e para comodidade do paciente. A retidada gradual e supervisionada ajuda também a reduzir os medos do paciente, para que se sinta cuidado e observado (no caso de não poder desprescrever um fármaco, ajudará na definição da dose mínima eficaz).31,32 No entanto, na maioria das vezes, desconhecemos o melhor modo de fazer a desprescrição para cada medicação em relação ao tempo e à pauta de retirada. O paciente deve estar em situação estável doponto de vista clínico no momento da desprescrição, para otimizar a identificação de recorrências e síndromes de retirada. É necessário especificar se foi feita tentativa para desprescrever uma determinada medicação antes, se falhou e por quê. As falhas com psicofármacos, por exemplo, são frequentes e não devem excluir futuras tentativas. Passo 5: Seguimento, apoio e documentação: O objetivo do seguimento é múltiplo. Em primeiro lugar, monitorar o surgimento de efeitos adversos (síndromes de retirada, recorrência da patologia), tornar explícito o caráter de cuidado ativo da desprescrição e, por último, valorizar a aceitação das recomendações e retroalimentar a adesão ao plano de desprescrição, pois a eficácia da retirada estruturada costuma decair com o tempo. Para obter a confiança da pessoa na desprescrição, é fundamental que o ritmo das mudanças se adapte a suas possibilidades e necessidades. POSSIVEIS COMPLICAÇÕES E PROGNÓSTICO DA DESPRESCRICAO: Como toda intervenção médica, a desprescrição não está isenta de riscos, os quais devem ser pesados para que se possa decidir de forma prudente. Sempre é necessário levar em conta as possíveis complicações que poderiam surgir devido à desprescrição. Síndrome de retirada: Frequente em fármacos que agem sobre o sistema nervoso central (SNC), são comuns as complicações oriundas da retirada de antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS), que ocorrem aproximadamente uma semana depois de tirar o fármaco, sendo leves e se resolvendo em 10 dias, ou com a retirada de benzodiazepinas, que se associam com uma síndrome de abstinência muito mais grave, com confusão, alucinações e convulsões. A interrupção abrupta da levodopa pode precipitar uma reação grave com características de síndrome neuroléptica maligna (SNM), que inclui rigidez muscular severa, disfunção autonômica e deterioração do nível de consciência. Nos pacientes que fizeram uso de corticoides sistêmicos de forma contínua, a interrupção repentina pode conduzir a uma crise addisoniana secundária à supressão do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal. Efeito rebote: Seria a reaparição, após a suspensão brusca do fármaco, dos sintomas em intensidade maior à apresentada previamente pelo paciente. Dessa forma, o término de um tratamento com betabloqueadores pode associar- se com o surgimento de taquicardia e hipertensão, que pode, por sua vez, agravar-se com um quadro de insuficiência cardíaca ou cardiopatia isquêmica. A interrupção de inibidores da bomba de próton (IBP) pode produzir una hipersecreção ácida e o agravamento de sintomas gastrintestinais. A insônia de rebote é comum após a retirada de fármacos hipnóticos. Desmascaramento de interações: As interações farmacocinéticas devem ser levadas em conta no momento de retirar um fármaco. Por exemplo, se há suspensão do omeprazol em um paciente com uma dose estável de varfarina, o índice de normalização internacional (INR) pode diminuir, pois o omeprazol é um fármaco que inibe o metabolismo da varfarina.33 Reaparição de sintomas: É importante não interpretar um efeito rebote como uma recorrência dos sintomas da doença original. Isso é importante sobretudo com condições como a depressão tratada com fármacos, cuja retirada provocaria sintomas que podem ser confundidos com um efeito rebote da doença. Surpreendentemente, os ensaios clínicos que avaliam processos de retirada de fármacos, em muitos casos, não mostram aumento da incidência de sintomas da doença original, ou que os fatores de risco reapareçam após a interrupção da medicação. Referências: Gusso, Gustavo, e outros. Tratado de medicina de família e comunidade - 2 volumes: princípios, formação e prática . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo A, 2019.