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Livro Texto - Unidade II

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65
FARMÁCIA CLÍNICA
Unidade II
5 PROBLEMAS RELACIONADOS COM OS MEDICAMENTOS (PRM)
5.1 Interações medicamentosas
O conhecimento das propriedades de um fármaco e sua ação farmacológica são fundamentais para 
a farmacoterapêutica racional. Para isso, é preciso considerar a complexidade do organismo em termos 
estruturais, físico‑químicos e bioquímicos. Nesse contexto, cabe evidenciar que inúmeras substâncias 
endógenas e exógenas se relacionam no ambiente biológico.
Portanto, é necessário conhecer todos os aspectos referentes aos fármacos para alcançar o sucesso 
farmacoterapêutico, prever e/ou evitar interações que possam comprometer o resultado da terapêutica 
empregada e diminuir riscos potenciais à integridade física do paciente.
5.1.1 Conceito de interação medicamentosa
O conhecimento das propriedades básicas dos fármacos e de sua ação farmacológica é vital para a 
realização de uma terapêutica adequada, considerando que o corpo humano é um sistema complexo 
formado por uma infinidade de substâncias que, inevitavelmente, entrarão em contato com os fármacos 
introduzidos no ambiente biológico.
Além disso, é preciso estar ciente da farmacodinâmica dos fármacos envolvidos na terapêutica 
para evitar interações prejudiciais e possíveis efeitos adversos dos fármacos que aumentem os riscos 
ao paciente.
Interação medicamentosa pode ser definida como a influência recíproca de um medicamento sobre 
outra substância. Ou seja, quando um fármaco é administrado isoladamente, produz um determinado 
efeito. Porém, quando ele é associado a medicamentos, alimentos ou outras substâncias (como o tabaco, 
drogas de abuso ou substâncias diversas com que o paciente possa entrar em contato, como inseticidas, 
produtos de limpeza, cosméticos etc.), ocorre um efeito diferente do esperado, o que caracteriza uma 
interação — e pode apresentar efeitos nocivos, diminuindo ou eliminando a ação dos medicamentos.
De acordo com a RDC n. 140, de 29 de maio de 2003, temos a seguinte definição de interação 
medicamentosa:
Interação medicamentosa: é uma resposta farmacológica ou clínica, 
causada pela combinação de medicamentos, diferente dos efeitos de 
dois medicamentos dados individualmente. O resultado final pode 
aumentar ou diminuir os efeitos desejados e/ou os eventos adversos. 
66
Unidade II
Podem ocorrer entre medicamento‑medicamento, medicamento‑alimentos, 
medicamento‑exames laboratoriais e medicamento‑substâncias químicas. 
A confiabilidade dos resultados dos exames laboratoriais pode ser afetada 
por sua interação com medicamentos (ANVISA, 2003). 
Quando há interação farmacológica entre dois ou mais fármacos, pode ocorrer a interferência de 
um deles sobre os outros, alterando o efeito esperado, qualitativa ou quantitativamente. Assim, pode‑se 
obter um sinergismo de ação ou antagonismo (parcial ou total) desses efeitos.
Muitos pacientes utilizam dois ou mais medicamentos diariamente. Portanto, a possibilidade de 
interação medicamentosa tende a ser frequente, favorecendo o aparecimento de PRM (RIBEIRO NETO; 
COSTA JUNIOR; CROZARA, 2017). Cabe destacar que a polifarmácia — caracterizada pelo uso de quatro 
ou mais medicamentos — aumenta o risco de reações adversas e interações medicamentosas.
Estudos apontam que pacientes que recebem dois medicamentos apresentam risco de 13% de ter 
interações medicamentosas. Naqueles com quatro medicamentos, esse número passa a ser de 28%, e 
em indivíduos que recebem sete medicamentos ou mais eleva‑se para 82% (GALLAGHER, 2007 apud 
RIBEIRO NETO; COSTA JUNIOR; CROZARA, 2017). Tais dados permitem a percepção do impacto das 
interações medicamentosas na farmacoterapia.
Entretanto, as interações medicamentosas podem apresentar efeitos benéficos para o organismo, e 
até mesmo ser utilizadas com a finalidade de aumentar os efeitos terapêuticos ou reduzir a toxicidade de 
um determinado fármaco em função da dose necessária para atingir a resposta terapêutica adequada. 
Temos, então, a adição ou a somação dos efeitos.
Na adição, a resposta farmacológica é obtida como resultado dos efeitos combinados de cada 
fármaco. Nesse caso, os fármacos apresentam o mesmo mecanismo de ação. Por exemplo, podemos 
citar a associação de dois anti‑inflamatórios não esteroidais (AINEs), como o ácido acetilsalicílico e a 
dipirona, que têm o mesmo mecanismo de ação — ambos são inibidores da ciclo‑oxigenase.
No caso da somação, há a associação de dois fármacos com mecanismos de ação diferentes, mas que 
levam ao mesmo efeito farmacológico. Por exemplo, na junção de codeína com paracetamol, a codeína, 
um opioide considerado pró‑fármaco, é metabolizada predominantemente em morfina. Assim, ela 
ativa os receptores opioides presentes no SNC (sistema nervoso central), e como resultado observa‑se 
a potencialização da via inibitória da dor, ou seja, analgesia. Já o paracetamol promove a inibição de 
uma isoforma específica da COX‑1 (ciclo‑oxigenase‑1) presente no SNC, algo que ocasiona a diminuição 
da síntese de prostaglandinas relacionadas à dor. Veja que nos dois casos há a combinação dos efeitos 
analgésicos dos fármacos associados.
5.1.2 Classificação das interações medicamentosas
As interações medicamentosas são classificadas, quanto à origem, em dois tipos: interações 
farmacêuticas e interações terapêuticas.
67
FARMÁCIA CLÍNICA
• Interações farmacêuticas: são interações físico‑químicas que ocorrem fora do paciente, pois 
entre fármacos diferentes pode haver numerosas incompatibilidades, que levam a reações 
quando elas são misturadas em infusão intravenosa, frascos ou seringas, podendo ocasionar a 
inativação dos fármacos em questão. Um exemplo é a precipitação da anfotericina B coloidal 
quando colocada em solução fisiológica.
• Interações terapêuticas: surgem no ambiente biológico, após a administração do medicamento, 
e podem ser farmacocinéticas ou farmacodinâmicas.
•― Interações farmacocinéticas: acontecem durante os processos de absorção, distribuição, 
biotransformação e excreção dos fármacos. Como exemplo, temos a cimetidina (anti‑histamínico 
H2), que inibe a biotransformação do paracetamol.
•― Interações farmacodinâmicas: ocorrem nos sítios de ação dos fármacos, envolvendo os 
mecanismos pelos quais os efeitos farmacológicos se processam. Este processo pode ser de 
dois tipos: interações farmacodinâmicas sinérgicas (com a ação analgésica do paracetamol e da 
codeína) ou antagônicas (antitussígeno com um xarope expectorante).
Outra classificação importante das interações medicamentosas considera a gravidade delas, e o 
quadro a seguir apresenta como isso funciona.
Quadro 5 – Classificação das interações medicamentosas 
segundo a gravidade
Gravidade alta A interação pode oferecer ameaça à vida, sendo necessário tratamento ou intervenção médica para minimizar ou prevenir os efeitos adversos graves.
Gravidade moderada A interação pode piorar o quadro clínico do paciente, sendo necessária a alteração da terapia.
Gravidade baixa
A interação pode comprometer os efeitos clínicos esperados. As manifestações podem 
aumentar a frequência ou a gravidade dos efeitos adversos, mas geralmente não é necessária 
a modificação na terapia.
Adaptado de: Ribeiro Neto, Costa Junior e Crozara (2017).
A combinação das formas de classificar e observar as interações possíveis ou em andamento nos 
permite condutas mais apropriadas de acompanhamento e seguimento farmacoterapêutico e de 
definição das relações de causa e efeito. A prescrição racional também se beneficia dessa conduta.
Segundo Pivatto Júnior, Bernardi e Barros (2011), há outras maneiras de classificar as interações 
medicamentosas. São elas:
• Conforme o início
— Rápido: até 24 horas após a administração do fármaco.
— Tardio: mais de 24 horas após a administração do fármaco.
68
Unidade II
• Conhecimento sobre a interação medicamentosa
— Excelente: estudos fornecem dados confiáveis e estabelecem adequadamente a interação.
— Bom: os dados disponíveis sugerem fortemente a existência da interação. Entretanto,são 
necessários estudos controlados mais apropriados.
— Razoável: poucos dados, mas as informações farmacológicas apontam para a suspeita de 
existência da interação.
— Pobre: a documentação é pobre e limitada, levando em consideração apenas relatos de casos, 
mas pode ser possível.
— Improvável: documentação é pobre e carece de mais estudos com embasamento 
farmacológico.
As interações medicamentosas também podem ser classificadas conforme o mecanismo que as 
originaram. O quadro a seguir contém essa classificação.
Quadro 6 – Exemplos de interações maiores, moderadas ou menores
Interações
Maiores
Ácido acetilsalicílico + Heparina Pode resultar em aumento do risco de sangramento
Captopril + Morfina Pode resultar em hipercalemia
Codeína + Morfina Pode resultar em depressão respiratória aditiva
Moderadas
Ácido acetilsalicílico + Insulina
Pode resultar em 
hipoglicemia (depressão do 
SNC, convulsões)
Carbamazepina + Sinvastatina
Pode resultar em redução 
da concentração sérica 
da sinvastatina devido 
à indução enzimática 
provocada pela 
carbamazepina
Digoxina + Furosemida
Pode resultar em 
toxicidade digitálica 
(náuseas, vômitos, 
arritmias)
Menores
Ciprofloxacino + Propranolol Pode resultar em bradicardia, hipotensão
Furosemida + Hidralazina Pode resultar em aumento da resposta à furosemida
Omeprazol + Vitamina B12
Pode resultar em 
diminuição da absorção 
da vitamina B12
Adaptado de: Barros e Barros (2011, p. 105).
69
FARMÁCIA CLÍNICA
5.1.3 Interações farmacocinéticas
Como pudemos observar, as interações farmacocinéticas ocorrem em um ponto do processo 
cinético do medicamento no ambiente biológico — ou seja, na absorção, distribuição, metabolização 
ou excreção.
Durante o processo de absorção de um fármaco administrado por via oral, é possível que 
ocorra alteração na velocidade de absorção e, consequentemente, na concentração plasmática 
de um medicamento na presença de outros. Sua absorção está diretamente ligada a características 
físico‑químicas intrínsecas desse fármaco, do ambiente físico‑químico e da porção do trato 
gastrintestinal no qual ele é absorvido.
Dessa maneira, alterações no pH do sistema digestório podem influenciar os processos de dispersão 
da forma farmacêutica e a dissolução do fármaco no ambiente estomacal ou intestinal. Cabe destacar 
que, de acordo com os parâmetros cinéticos do medicamento — como pKa, lipossolubilidade e pH do 
ambiente gastrintestinal —, ele estará predominantemente em sua forma ionizada ou não ionizada 
(neutra). Para ser absorvido adequadamente, precisará estar na forma não ionizada, de modo que seja 
possível a travessia das barreiras de natureza lipofílica.
Assim, substâncias que alterem as condições físico‑químicas do sítio de absorção podem 
comprometer a absorção de outros fármacos quando associados. Como exemplo, podemos citar o uso 
de antiácidos, inibidores da bomba de prótons ou bloqueadores H2, que são capazes de interferir na 
absorção de fármacos de caráter ácido, que são, preferencialmente, absorvidos no estômago. É o caso do 
cetoconazol, cuja absorção será reduzida quando associado à cimetidina, pois o aumento do pH gástrico 
leva à diminuição da absorção do cetoconazol. Outro exemplo é o hidróxido de magnésio, que reduz a 
absorção estomacal do pentobarbital, que apresenta caráter ácido.
Além das condições físico‑químicas, temos que considerar a motilidade do trato gastrintestinal. 
Assim, o tempo do trânsito pode interferir na absorção. Dependendo da substância utilizada, podemos 
ter aumento ou diminuição da motilidade, e o resultado dessa interação dependerá de quais substâncias 
estão associadas. Como exemplos, podemos citar a associação de metoclopramida e paracetamol em 
uma terapêutica combinada. A metoclopramida aumenta a velocidade de esvaziamento gástrico e, por 
consequência, eleva a absorção do paracetamol, que é absorvido predominantemente no intestino. 
Outro caso que pode ser observado é o uso de metoclopramida e digoxina, em que o aumento da 
velocidade do processo de esvaziamento gástrico leva à redução da absorção da digoxina.
Outro mecanismo digno de nota é a formação de complexos insolúveis. Esse fenômeno não tem 
relação com a ação farmacológica dos envolvidos, mas com as características químicas das substâncias. 
Nesse caso, dois fármacos interagem de tal forma que ocorre comprometimento e, até mesmo, inibição 
da absorção dessas substâncias. É a clássica situação da administração de tetraciclina com leite. 
Na presença de metais bivalentes, no caso, o cálcio (Ca2+), ocorre a formação de um complexo insolúvel 
que diminui a absorção de ambos. Temos ainda a ciprofloxacina na presença de cálcio ou ferro, nela 
também ocorre a formação de um complexo insolúvel que reduz a absorção do fármaco e dos metais.
70
Unidade II
Isso explica por que muitos medicamentos precisam ser administrados em horários distantes das 
refeições — por exemplo, uma hora antes ou duas horas depois —, ou esquemas que determinam 
intervalos específicos entre a administração de duas ou mais substâncias.
Em relação à distribuição, há a preocupação no que se refere à ligação com as proteínas plasmáticas, 
principalmente a albumina. Para que o fármaco proporcione a sua resposta, ele deverá estar na sua 
forma livre a fim de atravessar barreiras e interagir com seu alvo molecular. Entretanto, é fundamental 
que as proporções entre fármaco livre e fármaco ligado às proteínas plasmáticas sejam adequadas para 
que não haja aumento ou diminuição da fração livre do fármaco, alterando o efeito farmacológico 
desejado ou elevando sua toxicidade.
Verificamos que medicamentos distintos podem competir pelas proteínas plasmáticas e, 
dependendo da maior ou menor afinidade pelas proteínas, alterar as proporções individuais de fármaco 
livre e fármaco ligado à proteína plasmática.
Observe o equilíbrio cinético entre as concentrações de fármaco livre (Flivre), proteína plasmática 
(Pplasmática) e fármaco ligado à proteína plasmática (FP).
[ FP ] ↔ [Flivre] + [Pplasmática]
Nota‑se que fármacos que se ligam extensamente e apresentam baixo volume de distribuição 
podem levar ao deslocamento da ligação às proteínas. É o caso, por exemplo, da varfarina ou fenitoína. 
A varfarina, quando utilizada com a fenilbutazona, sofre deslocamento e, por consequência, tem sua 
fração livre aumentada; o resultado é o crescimento do risco de hemorragia.
Quando associadas ao metotrexato em um esquema terapêutico, as sulfonamidas deslocam o 
metotrexato; nesse caso, pode ocorrer aumento da toxicidade atribuída ao metotrexato.
Em termos de metabolismo, é possível observar uma parcela importante das interações 
medicamentosas, uma vez que a maioria dos fármacos é metabolizados no fígado. Um medicamento 
pode interferir na metabolização de outro, aumentando ou diminuindo sua taxa de metabolização. 
Isso acontece por indução enzimática ou inibição enzimática.
No caso da indução enzimática, observa‑se aumento da atividade do citocromo P‑450. O citocromo 
P‑450 ou CYP‑450, localizado no retículo endoplasmático do hepatócito, caracteriza‑se por uma 
superfamília de enzimas envolvidas no metabolismo de uma grande variedade de substâncias, 
inclusive fármacos. Dessa forma, o crescimento da atividade enzimática pode levar à metabolização 
mais rápida e comprometer as concentrações adequadas do fármaco que permitem a resposta 
farmacoterapêutica apropriada.
Como indutores enzimáticos, podemos citar barbitúricos, carbamazepina ou rifampicina. 
Como exemplos de interações podemos citar o fenobarbital, que por indução enzimática leva à 
diminuição das concentrações séricas da varfarina, ou de carbamazepina e fenitoína, que reduzem os 
níveis séricos de corticoides, também por indução enzimática.
71
FARMÁCIA CLÍNICA
A rifampicina, também um indutor enzimático, diminui os níveis séricos dos contraceptivos orais.
Em contrapartida, temos a inibição enzimática. Nesse processo, observa‑se a redução da metabolização 
de um ou mais fármacos e, comoresultado, o aumento do tempo de meia‑vida plasmática cuja 
biotransformação foi inibida.
A cimetidina e a eritromicina são inibidores enzimáticos, assim como cloranfenicol, corticoides, 
fluconazol, cetoconazol, ciprofloxacina, inibidores da monoamina oxidase (MAO), entre outros. 
O cetoconazol, por exemplo, por inibição enzimática, aumenta os níveis plasmáticos de bloqueadores de 
canais de cálcio, carbamazepina e ciclosporina.
Interações também podem ocorrer no processo de excreção. Nesse caso, elas acontecem 
predominantemente nos rins, principal órgão de eliminação. Observa‑se que a competição pela secreção 
tubular representa o principal mecanismo de alterações por interação na eliminação de fármacos.
O verapamil inibe a secreção tubular da digoxina; como consequência, ocorre aumento das 
concentrações séricas da digoxina, podendo elevar sua toxicidade. No caso do lítio, sua excreção estará 
aumentada na presença de diuréticos osmóticos; já na presença de inibidores da enzima conversora 
de angiotensina (ECA) ocorre aumento na reabsorção tubular, com crescimento das concentrações 
séricas do lítio.
5.1.4 Interações farmacodinâmicas
As interações farmacodinâmicas caracterizam‑se por modificação na resposta farmacológica. Podem 
ser consideradas diretas (a interação ocorre no alvo molecular, ou seja, no sítio receptor) e indiretas 
(a interação ocorre entre fármacos que apresentam mecanismos de ação distintos). Em geral, a maioria 
das interações farmacodinâmicas se dão de maneira indireta.
Nas interações farmacodinâmicas diretas, os fármacos envolvidos estão competindo por 
determinados receptores. Um exemplo é a interação entre salbutamol (agonista β2) e os β‑bloqueadores 
não seletivos, como o propranolol ou timolol.
Cabe considerar, então, que a administração de fármacos com mecanismo de ação e efeitos 
farmacológicos semelhantes pode resultar em diversos tipos de respostas. Isso pode ser útil ou deletério 
em termos farmacoterapêuticos.
A resposta farmacológica será considerada aditiva quando o efeito da combinação dos fármacos 
for igual à soma dos efeitos proporcionados por cada substância, quando comparada com as respostas 
proporcionadas pelos medicamentos empregados isoladamente, podendo ser terapêutica ou tóxica.
Nas interações farmacodinâmicas em que se observa uma resposta farmacológica potencializada, 
temos um efeito final maior que a somatória dos efeitos farmacológicos esperados das substâncias 
envolvidas. Como exemplo, podemos citar a interação do álcool com benzodiazepínicos. Nesse caso, 
pode‑se observar maior efeito depressivo sobre o SNC se comparado ao efeito esperado das substâncias 
utilizadas isoladamente.
72
Unidade II
A potencialização pode ser interessante no planejamento racional de um esquema 
farmacoterapêutico combinado, pois permite que a dose do fármaco considerado mais tóxico seja 
reduzida sem que haja comprometimento no resultado terapêutico do paciente.
Em contrapartida, alguns fármacos, ao serem empregados em combinação, podem comprometer de 
forma negativa a resposta farmacológica deles próprios e de outros fármacos.
Destaca‑se o caso do uso concomitante de fármacos hipoglicemiantes e glicocorticoides. 
Os glicocorticoides interferem no metabolismo da glicose, aumentando a glicose sérica e o glicogênio 
hepático. Observa‑se também intolerância à glicose e resistência à insulina. Assim, quando eles estão 
indicados para pacientes diabéticos que usam hipoglicemiantes, pode ser necessário o ajuste de dose 
do hipoglicemiante.
Desse modo, os profissionais de saúde precisam conhecer e ter acesso às informações sobre 
interações medicamentosas, pois isso permite acompanhar e planejar adequadamente a terapêutica 
medicamentosa.
 Lembrete
As interações medicamentosas podem comprometer de forma importante 
o tratamento do paciente.
Também é fundamental informar o prescritor sobre o uso concomitante de fármacos que possam 
causar problemas clínicos ou ser potencialmente perigosos. O paciente ainda deve participar de maneira 
ativa, relatando todo e qualquer sinal e sintoma que aponte a uma reação adversa. Outros pontos vitais 
são acompanhamento e seguimento farmacoterapêutico, que propiciam uma intervenção de tal forma 
que medidas de contenção e controle sejam instituídas com a maior brevidade, minimizando danos e 
riscos ao paciente. Contudo, o planejamento racional permite antever as possíveis interações, o que 
proporciona uma farmacoterapia mais segura.
 Saiba mais
A fim de compreender melhor o uso de fitoterápicos e os potenciais 
riscos de interações medicamentosas, leia o seguinte artigo:
DIAS, E. C. et al. Uso de fitoterápicos e potenciais riscos de interações 
medicamentosas: reflexões para prática segura. Revista Baiana de Saúde 
Pública, Salvador, v. 41, n. 2, p. 297‑307, abr./jun. 2017. Disponível em: 
https://bit.ly/3c1M7QA. Acesso em: 30 jun. 2022.
73
FARMÁCIA CLÍNICA
5.2 Reações adversas a medicamentos (RAM)
Conforme a OMS (WHO, 1969, p. 6), as RAM (reações adversas a medicamentos) podem ser definidas 
como “qualquer evento nocivo e não intencional que ocorreu na vigência do uso de medicamentos em 
doses normalmente usadas em humanos com finalidade terapêutica, profilática ou diagnóstica”.
As RAM também são conhecidas como efeito indesejável ou doença iatrogênica (iatrogenia). 
Sobredose (overdose) e abuso de drogas ilícitas não fazem parte desse conceito, assim como reações 
indesejáveis determinadas por falha terapêutica, erros de administração e não adesão ao tratamento.
É importante destacar que fatores relacionados ao paciente, como características genéticas, 
comorbidades, sedentarismo etc., podem não apenas influenciar a resposta farmacológica de um 
fármaco como as reações adversas.
As RAM têm relação direta entre morbidade e mortalidade de uma população, impactando os 
serviços de saúde.
5.2.1 Classificação das reações adversas
Existem diversas formas de classificar as reações adversas, mas a mais aceita atualmente e citada por 
diversos autores é a proposta por Rawlins e Thompson (RAWLINS, 1981).
Nessa classificação, podemos observar dois grupos de reações, as do tipo A e as do tipo B, também 
chamadas de imprevisíveis.
Nas reações adversas do tipo A, temos uma resposta exacerbada de um determinado fármaco 
como resultado de seu mecanismo de ação primário. Em geral, são previsíveis e ocorrem depois da 
administração de doses preconizadas do fármaco. Podemos citar como exemplo a hemorragia na 
vigência de um tratamento com anticoagulantes.
Ainda como reações do tipo A, existe a resposta farmacológica secundária, que pode ser vista na 
manifestação de cefaleia durante o uso de vasodilatadores. Eventualmente, observa‑se a ação do 
fármaco em outros sítios de ação. É possível verificar isso com o haloperidol, que pode causar efeito 
extrapiramidal em alguns pacientes.
A classificação das reações adversas do tipo A também pode levar em consideração as causas das 
reações. Temos, então:
• Causas farmacêuticas: relacionadas à qualidade dos produtos farmacêuticos no que se refere 
a teor do princípio ativo na forma farmacêutica, características físicas, tamanho de partículas, 
qualidade e quantidade dos excipientes etc.
• Causas farmacocinéticas: relacionadas aos processos cinéticos que podem interferir nas 
concentrações do fármaco e, por consequência, na resposta farmacológica. Parte desse processo 
pode estar relacionada a interações medicamentosas ou características do próprio indivíduo 
(polimorfismo genético).
74
Unidade II
• Causas farmacodinâmicas: ocorrem nos sítios de ação dos fármacos, envolvendo os mecanismos 
pelos quais os efeitos farmacológicos se processam. Ou seja, a resposta do alvo ao fármaco é 
modificada pela ação de um segundo fármaco, por exemplo, por competição pelo mesmo 
receptor específico.
Reações adversas do tipo A podem ser, em geral, controladas com ajustes de dose ou substituição 
do fármaco empregado.
As reações adversas do tipo B são classificadas como bizarras,inesperadas em relação à ação 
farmacológica do medicamento. Não são comuns, independem da dose administrada e ocorrem 
em alguns indivíduos. Nessa categoria observamos a hipersensibilidade alérgica, idiossincrasia, 
intolerância, problemas de degradação dos componentes da formulação, presença de impurezas ou 
contaminantes e adjuvantes farmacotécnicos.
Segundo Aronson e Ferner (2003), a classificação das reações adversas tem sido ampliada de forma 
a incluir o tipo C (reações dependentes da dose e do tempo), tipo D (reações tardias), tipo E (síndromes 
de retirada) e tipo F (reações que levam à falha terapêutica).
Barros e Barros (2011) ainda citam os tipos G (genotoxicidade), H (por ativação do sistema imune) 
e U (não classificadas). Infelizmente, nem sempre existe a possibilidade de estabelecer uma relação de 
causalidade, ou seja, causa e efeito entre uma determinada reação adversa e o uso de um medicamento. 
A dificuldade torna‑se também maior no caso do paciente que utiliza concomitantemente mais de um 
medicamento, como no caso da polifarmácia.
Assim, conforme Barros e Barros (2011), é possível classificar as reações adversas em relação à 
causalidade da seguinte forma:
• Definida: observa‑se com maior clareza a relação de causalidade, pois existe uma sequência 
de eventos cronologicamente identificável. Verifica‑se melhora das manifestações adversas ao 
suspender o tratamento e retorno das manifestações ao reintroduzir o medicamento.
• Provável: observa‑se uma sequência cronológica nas manifestações adversas. Podemos 
enxergar o aparecimento durante a utilização do medicamento e, ao suspender o tratamento, o 
desaparecimento das manifestações. Entretanto, no caso, o medicamento não é reintroduzido.
• Condicional: observa‑se uma sequência cronológica nas manifestações, não se conhece uma 
resposta‑padrão e a reação adversa pode ser explicada pelos aspectos já conhecidos do fármaco.
• Duvidosa: qualquer reação que não pode ser explicada e/ou atribuída às situações citadas 
anteriormente.
75
FARMÁCIA CLÍNICA
 Observação
Devemos considerar como sequência cronológica o tempo transcorrido 
entre o início do tratamento medicamentoso e o aparecimento das primeiras 
manifestações de uma reação adversa.
Outra forma de classificar as reações adversas aos medicamentos é segundo a 
intensidade/gravidade da reação adversa. Essa classificação também considera as medidas a serem 
tomadas em cada caso.
Nesse contexto, faz‑se a categorização pela intensidade/gravidade:
• Leve: quando não requer tratamento específico e não leva à suspensão do fármaco.
• Moderada: quando exige modificação da terapêutica, sem suspensão do fármaco. Pode exigir 
tratamento específico.
• Grave: quando ameaça a vida do paciente. É potencialmente fatal, requer interrupção do 
tratamento, prolongamento da permanência hospitalar, hospitalização. Requer intervenção para 
prevenção de incapacidade ou dano permanente.
• Letal: quando contribui direta ou indiretamente para a morte do paciente.
A frequência de aparecimento também é um parâmetro importante na classificação das 
reações adversas. Isso nos permite observar, estatisticamente, a ocorrência dessas manifestações na 
população‑alvo do medicamento em questão.
O Cioms, abreviação de Council for International Organizations of Medical Sciences, considera que 
existe a dificuldade de estimar a incidência de reações adversas em função de incertezas inerentes ao 
processo, no caso, subnotificações. Entretanto, uma estimativa de frequência é importante e deve ser 
fornecida de forma padronizada.
O quadro a seguir apresenta as categorias de frequências padronizadas recomendadas pelo Cioms.
Quadro 7 – Classificação quanto à frequência
Muito comum ≥ 1/10 (≥ 10%)
Comum ou frequente ≥ 1/100 e ≤ 1/10
Incomum ≥ 1/1000 e < 1/100
Rara ≥ 1/10000 e < 1/1000
Muito rara < 1/10000 (< 0,01%)
Adaptado de: Cioms (1999).
76
Unidade II
Em 2003, Aronson e Ferner propuseram um novo sistema de classificação das reações adversas. 
Ele é baseado em uma relação entre dose, tempo e suscetibilidade do paciente e conhecido como 
classificação DoTS (tratamento diretamente observado). Observe a seguir cada um desses parâmetros.
• Relação de dose: visa observar a dose empregada com a qual ocorre a reação adversa. Ou seja, a 
reação adversa está relacionada com a dose utilizada no tratamento farmacológico.
• Relação temporal: considera dois padrões distintos de evolução temporal das reações adversas: 
reações independentes do tempo e reações dependentes do tempo. Vejamos na sequência.
—― Reações independentes do tempo: podem ocorrer a qualquer momento durante o 
tratamento medicamentoso e de forma independente do tempo. Elas podem acontecer com 
ou sem alteração das concentrações do fármaco.
—― Reações dependentes do tempo: são seis os seus tipos. Na sequência estão cada uma delas.
‑ Rápidas: em geral, ocorrem quando um medicamento é administrado rapidamente.
‑ Primeira dose: ocorrem ao administrar a primeira dose e podem acontecer após as doses 
subsequentes.
‑ Precoce ou imediatas/iniciais: ocorrem no início do tratamento e diminuem ao longo 
do processo.
‑ Intermediárias: ocorrem após um determinado período subsequentemente ao tratamento 
com o medicamento ter sido iniciado e o risco de existência diminui com o uso contínuo.
‑ Reações tardias: raramente ocorrem ao se iniciar um tratamento com determinado 
fármaco. Entretanto, o risco da reação adversa aumenta se a exposição ao fármaco for 
contínua ou repetida.
‑ Atrasadas: ocorrem após um período de exposição ao fármaco, mesmo subsequentemente 
à descontinuação do uso da substância.
• Suscetibilidade: apresenta relação com características próprias do indivíduo, como fatores 
genéticos, idade, sexo, doenças e alterações fisiológicas.
Podemos observar uma reação adversa oriunda da mudança na concentração do fármaco em 
razão da piora da função renal. Assim, há diminuição na taxa de eliminação do fármaco em questão, 
aumentando sua concentração. Como exemplo, temos a toxicidade da digoxina devido à piora da função 
renal do paciente.
77
FARMÁCIA CLÍNICA
Como discutido, a reação adversa é capaz de se manifestar sem a alteração na concentração do 
fármaco. Podemos citar, novamente, a toxicidade atribuída à digoxina manifestando‑se graças à 
depleção de potássio, que pode ocorrer por diversos motivos, como o uso de furosemida.
Uma vez que as RAM constituem um dos principais alvos da farmacovigilância, fica nítida a 
importância de se conhecer seus mecanismos, classificação, modo de identificação, medidas preventivas 
e corretivas, principais tipos e possíveis desfechos. O quadro a seguir apresenta algumas reações adversas 
de interesse em farmacovigilância.
Quadro 8 – Reações adversas de interesse em farmacovigilância
Reações adversas a medicamentos
Agranulocitose
Alveolite
Anafilaxia
Anemia aplástica
Cegueira
Fibrilação atrial
Fibrose pulmonar
Focomelia
Hipertermia maligna
Insuficiência hepática
Lúpus eritematoso sistêmico
Miocardite
Necrólise epidérmica tóxica
Necrose hepática
Nefrite intersticial
Rabdomiólise
Síndrome de Reye
Síndrome maligna neuroléptica
Síndrome óculo‑mucocutânea
Síndrome de Stevens‑Johnson
Adaptado de: Storpirtis et al. (2008, p. 49).
Cabe destacar que alguns fármacos podem aumentar o risco de manifestação de reações adversas. 
A seguir, constam alguns de seus exemplos conforme suas características próprias.
• Fármacos com baixo índice terapêutico: digoxina, varfarina, lítio.
• Inibidores do citocromo P‑450 (inibidores enzimáticos): cetoconazol, claritromicina, 
eritromicina, itraconazol, ritonavir, sertralina.
• Indutores do citocromo P‑450 (indutores enzimáticos): carbamazepina, fenitoína, fenobarbital, 
rifampicina.
É importante lembrarmos que o etanol é um indutor enzimático, assim como a nicotina. Dessa 
forma, essas substâncias podem interferir no comportamento de outras substâncias e fármacos.
Para Franken et al. (1996), a nicotina, substância ativa presenteno tabaco, pode causar interações 
farmacocinéticas por interferir na metabolização hepática e na excreção de alguns fármacos, 
como benzodiazepínicos, opioides, insulina, bloqueadores H2, nitratos, bloqueadores de canais de 
Ca2+, furosemida etc. Logo, é extremamente importante a monitoração do uso dos medicamentos, 
78
Unidade II
permitindo a detecção das reações adversas e, consequentemente, garantindo estudos e avaliações 
pós‑comercialização continuados, de forma que seja possível proporcionar o uso mais seguro e 
eficaz dos fármacos.
5.2.2 Prevenção de reações adversas oriundas de interações medicamentosas
O processo farmacoterapêutico pode ser considerado de alta complexidade por abarcar uma 
série de fatores inerentes ao próprio processo e a todos os envolvidos — isso ao mencionarmos 
o emprego de um único fármaco. Contudo, ao considerarmos o uso concomitante de vários 
deles, o cenário fica ainda mais complexo, e diversos pontos críticos devem ser observados pelos 
profissionais de saúde.
Dessa maneira, o objetivo de otimizar e tornar seguro o processo farmacoterapêutico exige do 
profissional não apenas conhecimentos técnicos, mas a habilidade de prever e detectar problemas 
referentes ao uso dos medicamentos.
Ao pensar as prescrições, é fundamental analisar as necessidades que atendam à meta terapêutica, 
bem como se o paciente já utiliza medicamentos isentos de prescrição, fitoterápicos, terapêuticas 
complementares, chás ou, eventualmente, medicamentos por conta própria. Isso possibilita uma 
avaliação melhor e mais segura nos momentos de prescrição e acompanhamento dos resultados do 
tratamento instituído.
Na ocorrência de reações inesperadas ou falha terapêutica, de posse dessas informações, será 
possível compreender melhor o que está ocorrendo para justificar o problema e, com isso, tomar decisões 
mais seguras e racionais. Ao se suspeitar de interações medicamentosas, é necessário suspender os 
fármacos desnecessários, ajustar a dose daqueles que forem suspeitos e, no caso de reações adversas 
graves, descontinuar ou trocar o fármaco.
A monitoração plasmática não é rotineiramente realizada. Todavia, trata‑se de uma ferramenta 
muito útil ao lidar com fármacos de índice terapêutico estreito e que não podem ser suspensos 
ou substituídos. Isso permite verificar os níveis séricos e ajuda a avaliar a adesão do paciente ao 
tratamento, as reações adversas e a toxicidade — e possibilita, sobretudo, o ajuste de dose de maneira 
mais segura.
Segundo Pivatto Júnior, Bernardi e Barros (2011), como não é possível memorizar todas as interações 
medicamentosas, é importante ter em mente alguns princípios gerais. Observe os seus principais:
• Monitoramento de fármacos com índice terapêutico estreito, como anticoagulantes, citotóxicos, 
digitálicos, imunossupressores, anticonvulsivantes.
• Atenção aos fármacos indutores enzimáticos, como carbamazepina, barbitúricos, rifampicina e 
fenitoína, além dos inibidores enzimáticos.
79
FARMÁCIA CLÍNICA
• Exposição aumentada ao risco de interação medicamentosa de idosos, em função da senescência.
• Garantia de informações fundamentais quanto aos hábitos do paciente quando a anamnese é 
bem conduzida, principalmente de medicamentos ou substâncias usadas por conta própria.
 Saiba mais
Dada a importância do acompanhamento e seguimento 
farmacoterapêutico em idosos, leia o artigo a seguir:
REIS, A. M. et al. Reação adversa a medicamentos como fator 
contribuinte para a internação hospitalar de idosos. Revista Brasileira de 
Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde, v. 8, n. 3, p. 8‑13, jul./set. 2017. 
Disponível em: https://bit.ly/3c5O8LJ. Acesso em: 30 jun. de 2022.
5.3 Erro relacionado aos medicamentos
O erro relacionado aos medicamentos é considerado um PRM. Trata‑se de um evento com 
causas multifatoriais e multidisciplinares que pode levar a agravos à saúde dos pacientes nos mais 
diversos graus. Devemos considerar ainda implicações econômicas ou sociais do problema (OTERO; 
DOMÍNGUEZ‑GIL, 2000), observamos então aumento do tempo de internação, complicações no 
tratamento, óbitos, crescimento dos custos para o sistema de saúde, processos e indenizações. 
Assim, é essencial considerar a severidade dos erros relacionados aos medicamentos em termos 
éticos, econômicos e sociais.
O erro pode ser definido como uma falha no plano farmacoterapêutico a ser realizado como proposta, 
isto é, temos o erro de execução, ou o uso de um plano errado para alcançar o objetivo proposto, sendo 
ele considerado erro de planejamento. Em geral, na utilização de medicamentos, são observados erros 
na prescrição, dispensação e/ou administração.
Cabe destacar que o erro pode ocorrer em um ou mais pontos na farmacoterapêutica. Observe 
que cada etapa dessa cadeia apresenta uma série de pontos críticos característicos do processo, 
daí considerarmos que o erro relacionado ao uso de medicamentos é um evento com causas 
multifatoriais e multidisciplinares. Isso se deve ao fato das diversas etapas e/ou processos e fatores 
humanos envolvidos.
Portanto, conforme Brasil (2019a), os erros de medicação podem ser considerados um problema 
grave de saúde pública, como já comentado, sendo fundamental a execução de monitoramentos e 
relatos contínuos.
80
Unidade II
 Lembrete
O erro pode ser definido como uma falha no plano farmacoterapêutico 
a ser realizado como proposta, ou seja, há o erro de execução.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre janeiro e outubro de 
2019, a entidade recebeu cerca de 2.771 notificações relacionadas a erros de medicação. Segundo a 
mesma fonte, estudos realizados em hospitais brasileiros detectaram que a maior parte dos erros 
de medicação tem relação com o horário de administração, além de erros relacionados à prescrição, 
preparo e administração dos medicamentos (BRASIL, 2020a).
Esse tipo de informação também aponta a necessidade de treinamento, educação continuada 
e conscientização de todos os profissionais envolvidos no processo de prescrição, dispensação e 
administração dos medicamentos.
Podemos considerar como condutas importantes a serem estabelecidas: compromisso institucional 
com todos os envolvidos, cultura de segurança, promover a notificação e garantir um ambiente não 
punitivo (LÓPEZ, 2004).
De acordo com Cohen apud Anacleto et al. (2010), o ambiente não punitivo não significa 
tolerar e/ou ignorar os problemas, mas garantir a observação das regras e protocolos de segurança 
na utilização dos medicamentos, sempre objetivando melhorar a segurança e perceber que os 
sistemas podem ser vulneráveis às falhas humanas. Assim, prevenção é a melhor ferramenta 
(STORPIRTIS et al., 2008).
5.3.1 Classificação dos erros de medicação
Diversas formas de classificação dos erros de medicação são observadas na literatura. Mas não 
podemos deixar de comentar que uma de suas maneiras não exclui outra. Muitas vezes, adaptações são 
necessárias para atender particularidades e realidades distintas. No Brasil, sabemos que há inúmeros 
problemas relacionados às notificações de erros de medicamentos. E, nem sempre, elas se adequam 
à realidade nacional. Entretanto, são ferramentas fundamentais no desenvolvimento dos trabalhos 
relacionados com a segurança do paciente.
Em 1998, o National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention 
(NCCMERP) publicou uma taxonomia de erros de medicação, classificando‑os em diferentes tipos 
e subtipos e, em 2002, um grupo de farmacêuticos hospitalares da Espanha criou uma adaptação 
à classificação. Depois, em 2008, ela foi atualizada. Ela pode ser observada do quadro a seguir.
81
FARMÁCIA CLÍNICA
Quadro 9 – Tipos de erros de mediação
Tipos e subtipos de erros
1 Medicamento errado
1.1 Prescrição inadequada do medicamento
1.1.1 Medicamento não indicado/não apropriado para o diagnóstico que se pretende tratar
1.1.2 História prévia de alergia ou reação adversa similar
1.1.3 Medicamento inadequado para o paciente por causa da idade,situação clínica, entre outros.
1.1.4 Medicamento contraindicado
1.1.5 Interação medicamento‑medicamento
1.1.6 Interação medicamento‑alimento
1.1.7 Duplicidade terapêutica
1.1.8 Medicamento desnecessário
1.2 Transcrição/dispensação/administração de um medicamento diferente do prescrito
2 Omissão de dose ou medicamento
2.1 Falta de prescrição de um medicamento necessário
2.2 Omissão na transcrição
2.3 Omissão na dispensação
2.4 Omissão na administração
3 Dose errada
3.1 Dose maior
3.2 Dose menor
3.3 Dose extra
4 Frequência de administração errada
5 Forma farmacêutica errada
6 Erro de preparo, manipulação e/ou acondicionamento
7 Técnica de administração errada
8 Via de administração errada
9 Velocidade de administração errada
10 Horário errado de administração
11 Paciente errado
12 Duração do tratamento errada
12.1 Duração maior
12.2 Duração menor
13 Monitorização insuficiente do tratamento
13.1 Falta de revisão clínica
13.2 Falta de controles analíticos
14 Medicamento deteriorado
15. Falta de adesão do paciente
16 Outros tipos
17 Não se aplica
Adaptado de: López et al. (2008).
82
Unidade II
5.3.2 Tipos de erros
Erro de prescrição
O erro de prescrição está relacionado com a elaboração da prescrição farmacoterapêutica e tem 
importante impacto clínico. Pode ser um erro relacionado à decisão equivocada na tomada de decisão 
sobre os fármacos a serem prescritos e/ou esquema posológico apropriado, além de estar associada à 
redação da prescrição.
Tal erro é capaz de comprometer em maior ou menor grau a efetividade do tratamento do paciente, 
inclusive, expondo‑o a riscos clínicos.
Erro de dispensação
No erro de dispensação, observa‑se o atendimento não condizente da ordem farmacoterapêutica, 
ou seja, da prescrição. Ocorre no ponto de dispensação de medicamentos por funcionários e/ou 
farmacêuticos de farmácias e drogarias e pode acontecer, inclusive, no ambiente hospitalar.
Cabe destacar que, por obrigação, a prescrição deverá ser adequadamente redigida ou digitada 
para que esteja clara e legível. Muitos erros de dispensação têm relação com a baixa legibilidade em 
função da grafia. Infelizmente, casos de prescrições cuja grafia do prescritor são de difícil leitura são 
muito comuns. Neles, observamos aumento da probabilidade de a dispensação ser comprometida por 
dificuldade e/ou impossibilidade de leitura, podendo levar a trocas de medicamentos.
Dessa forma, atender a prescrições escritas de forma inapropriada aumenta muito a possibilidade de 
realização de dispensação equivocada. Não podemos esquecer nossa responsabilidade com a segurança 
do paciente.
Erro de administração
No erro de administração, observa‑se todo e qualquer desvio no preparo e na administração 
de medicamentos devidamente prescritos não atendendo às recomendações técnicas do próprio 
fármaco e/ou da prescrição.
 Saiba mais
Para entender melhor sobre erros de medicação, consulte a cartilha 
 a seguir:
ANACLETO, T. A. et al. Erros de medicação. Pharmacia Brasileira, jan./fev. 
2010. Disponível em: https://bit.ly/3O2wSUO. Acesso em: 30 jun. 2022.
83
FARMÁCIA CLÍNICA
6 ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM ÁREAS ESPECÍFICAS
6.1 Nutrição parenteral (NP)
A terapia de nutrição parenteral (NP) é conhecida pela administração intravenosa de misturas 
nutricionalmente adequadas que consistem em água, dextrose, aminoácidos, eletrólitos, vitaminas e 
oligoelementos para pacientes incapazes de tolerar alimentação oral ou enteral.
Quando todas as necessidades nutricionais diárias são supridas exclusivamente ao paciente por 
NPl, a terapia é denominada nutrição parenteral total (NPT).
Essa terapia é fundamental para pacientes com várias condições clínicas, como recém‑nascidos 
prematuros, pacientes críticos e aqueles com perda permanente da função gastrintestinal.
No Brasil, a NP foi legalmente definida pela Portaria n. 272 do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998a), 
de 8 de abril de 1998, como uma
[...] solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, 
lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em 
recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração endovenosa 
em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou 
domiciliar, visando à síntese ou à manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas.
A nutrição enteral (NE) foi definida pela Anvisa por meio da RDC n. 63, de 6 de julho de 2000, como:
[...] alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, 
na forma isolada ou combinada, de composição definida ou estimada, 
especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, 
industrializado ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir 
ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou 
não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, 
ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, 
órgãos ou sistemas (ANVISA, 2000). 
Conforme as normas vigentes, todas as atividades relacionadas à terapia nutricional parenteral (TNP) 
e à terapia nutricional enteral (tNE) devem ser exercidas por uma equipe multiprofissional de terapia 
nutricional (EMTN) que corresponde a um
[...] grupo formal e obrigatoriamente constituído de, pelo menos, um 
profissional de cada categoria, com treinamento específico para esta 
atividade, a saber: médico, nutricionista, enfermeiro e farmacêutico, podendo 
ainda incluir profissionais de outras categorias a critério das unidades 
hospitalares (uh) e/ou das empresas prestadoras de bens e serviços (EpBS) 
(ANVISA, 2021b).
84
Unidade II
Além da Portaria n. 272/1998, que aprova o regulamento técnico para fixar os requisitos 
mínimos exigidos para a TNP, e da RDC n. 63/2000, que aprova o regulamento técnico para fixar os 
requisitos mínimos exigidos para a TNE, a TN é regulamentada e reconhecida como um procedimento de 
alta complexidade estabelecido pela Portaria n. 343, de 7 de março de 2005, que institui no âmbito do 
SUS mecanismos para a implantação da assistência de alta complexidade em TN (BISSON; CARVALHO; 
CAPUCHO, 2014).
Os farmacêuticos contribuem para o cuidado de pacientes que recebem terapia de NP, são instruídos 
sobre as compatibilidades físico‑químicas das soluções parenterais, fundamentos da farmacoterapia 
e técnica da assistência farmacêutica, e obtêm capacitação especial acerca do suporte nutricional 
para desenvolver a prática especializada. A Farmácia de Suporte Nutricional é focada na melhoria dos 
resultados da terapia de suporte nutricional.
As atribuições do farmacêutico na terapia de NP variam entre os serviços de saúde, dependendo 
da posição do farmacêutico, e do ambiente de prática. Isso pode variar desde ter um papel limitado na 
composição de formulações de NPT até a prestação de cuidados diretos ao paciente.
O farmacêutico fornece atenção que envolve a prestação direta e responsável de cuidados 
relacionados a medicamentos com o objetivo de alcançar resultados definitivos que melhorem a 
qualidade de vida do paciente, podendo ser particularmente relevante para a terapia de NP, tendo em 
vista a natureza clínica dessa tarefa.
No entanto, a implementação da prática de cuidados farmacêuticos tem sido insuficiente em muitos 
países devido a várias barreiras, como limitações de tempo, pessoal insuficiente e conhecimento clínico 
deficiente e habilidades de comunicação do pessoal.
A terapia NP apresenta uma oportunidade para o farmacêutico participar como parte de uma equipe 
multidisciplinar na prestação de cuidados nutricionais seguros e eficazes. Além disso, pode otimizar 
o manejo terapêutico dos pacientes, detectando e resolvendo erros de medicação e/ou problemas 
relacionados a medicamentos.
6.2 Oncologia
A história do farmacêutico na oncologia passou a ser mais presente a partir da década de 1990 através 
das normativas internacionais divulgadas por Occupational Safety and Health Administration (Osha), 
National Institute for Occupational Safety and Health (Niosh) e AmericanSociety of Health‑System 
Pharmacists (AShp).
Foram lançados por vários centros hospitalares trabalhos sobre probabilidade de riscos ocupacionais e 
ambientais; técnicas corretas de manipulação de medicamentos tóxicos; bem como o profissional 
capacitado para essa prática. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) publicou a Resolução n. 288, de 
21 de março de 1996, descrevendo o farmacêutico como profissional responsável pela manipulação 
de drogas antineoplásicas.
85
FARMÁCIA CLÍNICA
Em 2004, a Anvisa elaborou a RDC n. 220, de 21 de setembro, aprovando o regulamento técnico de 
funcionamento dos serviços de terapia antineoplásica.
O farmacêutico especialista em oncologia pode destacar‑se em três áreas:
• Farmacêutico administrativo: trabalha no recebimento dos medicamentos, é responsável 
pelo armazenamento adequado e faz o controle logístico e de qualidade, mantendo a correta 
dispensação, para o paciente certo, na dose solicitada e no horário prescrito.
• Farmacêutico especialista em oncologia: conhecedor da manipulação e dos perigos 
potenciais de cada medicamento antineoplásico. Responsável pela prática ideal de 
manipulação, tornando o fármaco seguro e sem contaminantes do ambiente de trabalho e 
de agentes tóxicos.
• Farmacêutico clínico: trabalha a favor da equipe multiprofissional para potencializar os efeitos 
tratamento, bem como a fim de reduzir os riscos e custos do tratamento do paciente.
Na avaliação da prescrição médica, deve‑se compreender que existem dois tipos de tratamento: 
quimioterapia curativa e quimioterapia sem intenção curativa.
A quimioterapia curativa pode ser de dois tipos:
• Adjuvante: utilizada após cirurgia, para prevenir e/ou erradicar metástases em torno da área do 
tumor ou prolongar a sobrevida.
• Neoadjuvante: pretende a redução parcial do tumor, preparando o paciente para o tratamento 
cirúrgico e/ou radioterápico (BISSON; CARVALHO; CAPUCHO, 2014).
A importância do farmacêutico oncológico no cuidado de pacientes com câncer e na equipe de 
assistência oncológica foi comprovado em vários estudos. Ele atesta seu valor através de cuidados 
clínicos que refletem os resultados das pessoas, administração de cuidados de suporte, acompanhamento 
laboratorial e acréscimo da documentação no prontuário eletrônico.
Os ensinamentos transmitidos aos pacientes foram comprovados através das altas taxas de satisfação 
dos indivíduos e do aumento dos resultados em relação à aprendizagem.
Esses profissionais têm atribuição importante ao demonstrar crescimento das taxas de 
identificação de erros de medicação. Eles auxiliam na redução dos custos através da implementação 
de programas da qualidade, cuidados hospitalares e ambulatoriais, podendo reduzir o tempo 
do médico, desenvolvendo modelos de prática independentes e realizando tarefas tipicamente 
executadas por médicos.
86
Unidade II
Os farmacêuticos oncológicos contribuem para consultas ambulatoriais de pacientes oncológicos, 
evitando, assim, o potencial da escassez de provedores disponíveis para cuidar de pacientes com 
câncer, além de serem capazes de auxiliar na prevenção do esgotamento que ocorre frequentemente 
na equipe de saúde oncológica. Diversos estudos demonstram que a melhoria da eficiência e eficácia 
da equipe de saúde oncológica pode ocorrer com a ampliação do papel do farmacêutico oncológico 
nas equipes assistenciais.
O preparo, a administração e a eliminação dos rejeitos de agentes quimioterápicos exigem prática 
profissional e conhecimentos técnicos de farmacêuticos. Os profissionais de saúde que trabalham com 
quimioterapia do câncer devem possuir os seguintes conhecimentos e habilidades (BISSON, 2021):
• conhecimentos sobre mecanismo de ação;
• modo de administração;
• processos de metabolismo e excreção;
• indicações de uso e potenciais reações adversas;
• competência no manuseio seguro dos rejeitos de quimioterápicos;
• educação de pacientes e familiares.
6.3 Dor e cuidados paliativos
Segundo a OMS (WHO, 2002, p. 83), cuidados paliativos
consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que 
objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, 
diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do 
sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de 
dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.
Os farmacêuticos executam esse trabalho através da análise aprofundada das prescrições e das 
interações medicamentosas, posologia e reações adversas, uma vez que o paciente frequentemente 
pode apresentar sinais de desconforto como fadiga, constipação intestinal, falta de apetite e náuseas, 
entre outros.
Normalmente associado a pacientes oncológicos, enquadram‑se também no perfil de pessoas com 
indicação de cuidados paliativos: pacientes demenciados, neurológicos, portadores de insuficiência 
cardíaca, insuficiência renal crônica, polidiagnosticados e os que se encontram na unidade de terapia 
intensiva (UTI).
87
FARMÁCIA CLÍNICA
O farmacêutico é essencial na atividade de cuidados paliativos. É sua atribuição assistir e colaborar 
no tratamento dos sintomas, dado que o conforto e a qualidade de vida do paciente sejam assegurados, 
garantindo o uso racional dos medicamentos. Deve‑se tratar o indivíduo com o menor número de 
medicamentos possíveis, evitando associações que possam gerar reações e efeitos adversos, ou interações 
medicamentosas que comprometam o tratamento.
Além de prevenir polifarmácia, é fundamental que o profissional possibilite, com a orientação 
adequada dos medicamentos, a redução dos sintomas da doença, de forma a obter o bem‑estar 
do paciente que está sendo tratado. A dor é um sintoma constante em pacientes com doenças 
de princípio oncológico, mas é a manifestação que deve ser aniquilada em um ambiente de 
tratamento paliativo.
Entretanto, vários pacientes, e pessoas ao redor deles, se preocupam com o uso de medicamentos, 
principalmente opioides, no combate à dor. Um direcionamento é fornecido pelo farmacêutico à 
equipe multidisciplinar sobre a interação medicamentosa, e o profissional será responsável pelo 
acompanhamento e esclarecimento de dúvidas que porventura ocorram na utilização dos fármacos.
Assim, é papel do farmacêutico a avaliação da prescrição e verificação conforme o protocolo de 
tratamento. O paciente deverá ser informado sobre quantidade, horários, modo de armazenamento 
e administração, bem como de possíveis reações que venham a surgir após o uso dos medicamentos. 
A humanização na atenção farmacêutica é fundamental e precisa fazer parte da equipe responsável 
pelo cuidado paliativo.
Antigamente, as funções de um farmacêutico eram voltadas a um contato menor com os 
pacientes. Mesmo nos hospitais, tinham como base a manipulação e a logística dos medicamentos. 
A transformação ocorreu ao longo do tempo, com as mudanças nos deveres, em todo o processo 
relacionado aos recursos terapêuticos e também às equipes multidisciplinares, além das 
responsabilidades nas unidades de saúde.
Para o farmacêutico, é possível estabelecer um atendimento humano da mesma maneira que os 
demais profissionais de saúde.
Quando se fala em cuidados paliativos, a humanização vai além de um método, e se torna a base 
de todo um tratamento. O farmacêutico deve estar preparado para fazer sua parte junto aos colegas 
e ao enfermo.
Consta a seguir a descrição dos estudos encontrados com relação ao local de realização e 
apresentação dos cuidados paliativos.
88
Unidade II
Quadro 10 – Descrição dos estudos encontrados com relação ao local 
de realização, tamanho da amostra, duração do acompanhamento, 
apresentação dos resultados e grupos de pacientes envolvidos
Local 
do estudo Amostra
Duração do 
acompanhamento
Medida dos 
resultados
Divisão do grupo de 
estudo
Espanha n = 672 8 meses
Custo do tratamento, 
PRM, erros de 
mediação, tempo 
de tratamento, 
efetividade, 
segurança, adesão, 
indicação
Grupo de intervenção 
farmacêutica
NR
Pacientescom câncer 
hematológico 
(n = 1939)
Modelo centralizado 
(16 meses) e 
descentralizado (10 
meses)
Prevenção e 
identificação dos 
PRM e de erros de 
medicação
Grupo centralizado e 
descentralizado
Alemanha
Pacientes em uso 
de capecitabina 
para tratamento de 
câncer de mama ou 
colorretal (n = 48)
126 dias Adesão ao tratamento
Grupo de intervenção 
farmacêutica e 
grupo controle
Reino Unido
Pacientes tratados 
com quimioterapia 
(n = 18)
5 semanas
Terapia usada, dose, 
frequência e duração, 
administração 
e problemas de 
formulação e 
verificação exata 
da depuração
Grupo de intervenção 
farmacêutica
Alemanha
Pacientes com 
câncer de mama ou 
de ovário (n = 98)
6 ciclos Náuseas e vômito
Grupo de intervenção 
farmacêutica e 
grupo controle
Jordânia Pacientes adultos (n = NR) 1 ano
Segurança, 
terapêutica, 
prescrição adequada e 
educação‑informação
Grupo de intervenção 
farmacêutica
Jordânia Pacientes adultos e pediátricos (n = NR) 1 ano
Terapêutica, 
segurança, 
aconselhamento 
farmacêutico
Grupo de intervenção 
farmacêutica
Singapura Pacientes com linfoma (n = 116) NR
Prevenção ou 
resolução de PRM, 
custo do tratamento 
e fluxo de trabalho
Grupo de intervenção 
farmacêutica
Alemanha
Pacientes em uso 
de capecitabina (n 
= 73)
6 ciclos do 
medicamento Adesão
Grupo de intervenção 
farmacêutica e 
grupo controle
Canadá
Pacientes tratados 
com quimioterapia 
intravenosa (n = 
200)
NR
Segurança, interação 
medicamentosa, 
cálculo de dose, PRM
Grupo de intervenção 
farmacêutica e 
grupo controle
NR
Pacientes tratados 
com terapia 
intravenosa (n = 
102)
4 meses
Náuseas e vômitos 
induzidos pela 
quimioterapia
Grupo de intervenção 
farmacêutica e 
grupo controle
Adaptado de: Pinho, Abreu e Nogueira (2016).
89
FARMÁCIA CLÍNICA
6.4 Antibioticoterapia e CCIH
Uma das mais importantes descobertas da medicina foi o uso dos antibióticos. Anteriormente, a 
humanidade não tinha recursos eficazes para o combate de qualquer infecção. Assim, a penicilina foi 
um marco importante.
Os antibióticos são de origem natural, semissintética e sintéticos e muitos deles, das classes mais 
recentes, obtidos do planejamento racional. São amplamente empregados na farmacoterapêutica em 
função de sua importância clínica.
Embora existam disponíveis diversas classes, algumas delas contêm muitos representantes, 
mesmo assim enfrentamos um enorme desafio na atualidade por causa da resistência bacteriana. 
Devido ao aparecimento de micro‑organismos resistentes a diversos antibióticos, precisamos limitar 
o seu uso em alguns casos, o que, muitas vezes, impossibilita o tratamento e torna a situação cada 
vez mais preocupante.
A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) é constituída por um grupo de profissionais da 
área de saúde, de nível superior, formalmente designado para planejar, elaborar, implementar, manter e 
avaliar o Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) adequado às características e necessidades 
da unidade hospitalar constituída de membros consultores e executores.
O tratamento de pacientes com sinais e sintomas clínicos de infecção se dá pela administração de 
antimicrobianos. Sendo assim, a antibioticoterapia tem a finalidade de curar uma doença infecciosa 
(cura clínica) ou de combater um agente infeccioso situado em um determinado foco de infecção (cura 
microbiológica). Pode ser utilizada de forma terapêutica – que implica utilização de antimicrobianos a 
partir de um diagnóstico preciso, ou presuntivo da etiologia do processo infeccioso, fundamentado na 
anamnese, nos exames clínicos e laboratoriais (BRASIL, 2001).
O princípio básico da terapia anti‑infecciosa é a determinação do agente causal da infecção e de 
sua susceptibilidade aos antimicrobianos. Como regra, o diagnóstico de infecção deve ser embasado em 
resultados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. Em muitas doenças infecciosas, o quadro clínico e os 
dados epidemiológicos permitem a presunção da etiologia com grande margem de certeza. Por exemplo, 
em sarampo, caxumba, erisipela, pneumonia pneumocócica. Em outras circunstâncias, é importante 
a identificação do agente etiológico e de sua sensibilidade aos antimicrobianos por meio de exames 
laboratoriais. Por exemplo, em pielonefrite, peritonite, sepse.
Entre os possíveis antibióticos efetivos, deve‑se sempre escolher com base em:
• menor toxicidade;
• via de administração mais adequada;
• menor indução de resistência;
90
Unidade II
• penetração em concentração eficaz no sítio da infecção;
• comodidade posológica;
• menor custo.
Conforme Bisson (2021), avalia‑se a antibioticoterapia pela resposta clínica e laboratorial de 
48 a 72 horas:
• curva febril;
• leucograma;
Existem sinais específicos para cada tipo de infecção; pelos resultados de culturas, segundo os 
critérios de:
• toxicidade;
• penetração no sítio de infecção;
• necessidade de associação;
• disfunção de órgãos;
• idade e gravidez;
• outros critérios, mesmo que haja melhora clínica.
6.4.1 Importância da farmácia clínica e da atenção farmacêutica para a prescrição 
correta de antimicrobianos
A atuação da farmácia clínica no Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos 
em Serviços de Saúde (ANVISA, 2017) é primordial para melhorar os resultados do paciente e 
os indicadores. Para seu desenvolvimento, a presença de um farmacêutico clínico dedicado é algo 
essencial, com formação adequada e conhecimento na área.
De acordo com a Anvisa (2017, p. 42‑43), podemos elencar algumas das atividades voltadas ao uso 
de antimicrobianos desenvolvidas pela farmácia clínica:
• Participação no desenvolvimento e atualização de protocolos de indicação e uso.
• Auditoria prospectiva da prescrição após a dispensação inicial pela farmácia.
• Auxílio na detecção e prevenção de interações indesejáveis, como medicamento‑medicamento, 
medicamento‑alimento, medicamento‑nutrição enteral.
91
FARMÁCIA CLÍNICA
• Auxílio na detecção e prevenção de reações adversas e erros de medicação.
• Auxílio na otimização da posologia conforme características clínicas do paciente (peso, função 
e hepática, hemodiálise, diálise peritoneal), agente etiológico, sítio infeccioso e características 
farmacocinéticas e farmacodinâmicas do medicamento.
• Otimização da forma de preparo (por exemplo: reconstituição, diluição, forma de administração via 
sondas, equipamento adequado, velocidade de infusão, tempo total de infusão para manutenção 
de estabilidade da solução, compatibilidade).
• Auxílio na monitorização terapêutica e ajuste de dose, de acordo com concentração plasmática 
(por exemplo: vancomicina, aminoglicosídeos).
• Auxílio no processo de descalonamento, ajuste da terapia, terapia sequencial (conversão de terapia 
parenteral para oral) e suspensão de tratamento.
• Educação dos profissionais de saúde.
• Notificação de suspeita de reação adversa a medicamentos, erro de medicação, suspeita de desvio 
de qualidade ou ineficácia terapêutica.
• Orientação do paciente, especialmente no momento da alta.
 Observação
De acordo com Reinhart et al. (2013) apud Moraes et al. (2016), 
descalonamento pode ser considerado como o estreitamento do espectro 
antimicrobiano. Isso se dá de forma orientada pela suscetibilidade do 
micro‑organismo.
7 FARMACOCINÉTICA CLÍNICA
Visando o uso seguro e racional dos fármacos, principalmente aqueles que apresentam baixo 
índice terapêutico, podemos observar a farmacocinética clínica como uma ferramenta extremamente 
importante, não apenas no processo de monitoramento terapêutico, mas na fase I da pesquisa clínica. 
Nela, temos os primeiros estudos realizados em humanos com o intuito de avaliar, entre outros, o perfil 
farmacocinético do medicamento.
Para tanto, a especialidade permite a realização da monitoração dos resultados terapêuticos 
através da monitoração plasmática de fármacos de interesse. Dessa forma, faz‑se necessária uma 
equipe multidisciplinar devidamente preparada para garantir que todas as etapas do processo,começando pela coleta adequada da amostra, passando pelas análises laboratoriais até a interpretação 
e, se necessário, ajustes posológicos, sejam conduzidas por profissionais com conhecimentos sólidos 
sobre farmacocinética.
92
Unidade II
Também temos farmacêuticos clínicos, médicos, enfermeiros e a equipe do laboratório envolvidos no 
processo. O farmacêutico clínico assume a tarefa de interpretar os resultados obtidos para, se necessário, 
propor alguma modificação no esquema posológico.
Conheceremos então algumas ferramentas e conceitos para tal atividade.
As duas principais abordagens da farmacologia são: farmacocinética e farmacodinâmica.
• Farmacocinética: tem como objetivo estudar todos os aspectos relacionados ao caminho do 
fármaco no organismo, sendo responsável pelo estudo e compreensão das fases de absorção, 
distribuição, metabolização e excreção de um medicamento.
• Farmacodinâmica: estuda e descreve o local e mecanismo de ação e, consequentemente, os 
efeitos farmacológicos das substâncias farmacologicamente ativas.
Entretanto, há correlação entre a dose que foi administrada, as concentrações plasmáticas e o sítio 
de ação do fármaco. Para que possamos ter a terapia farmacológica adequada, devemos considerar 
não somente a farmacocinética e a farmacodinâmica do fármaco, mas a fase farmacotécnica ou 
biofarmacêutica, pois, para que o fármaco atinja concentrações plasmáticas adequadas, antes ele 
precisa alcançar a corrente sanguínea.
A fase farmacêutica ou biofarmacêutica avalia e acompanha a liberação do fármaco de seu 
aprisionamento, ou seja, da forma farmacêutica. Ela é de suma importância quando tratamos de formas 
farmacêuticas sólidas, pois diversos fatores relacionados às características da forma farmacêutica, 
aspectos físico‑químicos do ambiente no qual deve ocorrer a absorção, fatores referentes à fisiologia e 
fisiopatologia do paciente podem interferir nela.
Dependendo da interferência, pode haver comprometimento importante nas fases subsequentes 
e, consequentemente, alterações na resposta farmacológica. Considerando um esquema posológico 
adequado e a adesão apropriada por parte do paciente, a correlação entre os fenômenos farmacocinéticos 
e farmacodinâmicos permite que a meta farmacoterapêutica seja alcançada.
Assim, qualquer comportamento ou resposta não esperada podem ser compreendidos por meio 
desse conhecimento, permitindo, quando necessário, o ajuste do esquema posológico do paciente.
Sabemos que o efeito farmacológico proporcionado por um fármaco tem relação direta com a 
sua concentração no sítio de ação. Entretanto, em função da distribuição e localização dos alvos 
farmacológicos, não podemos acessá‑los diretamente para verificar a concentração do fármaco no 
local de ação por serem inacessíveis. Como exemplo, podemos citar um fármaco cujo alvo molecular 
encontre‑se no coração. Não é possível coletar amostras do músculo cardíaco para verificação das 
concentrações do fármaco no sítio de interesse.
93
FARMÁCIA CLÍNICA
É possível determinar a concentração do fármaco no plasma e, a partir desse dado, prever sua 
presença no sítio de ação, em concentrações adequadas para que o efeito terapêutico seja observado. 
Dessa forma, qualquer alteração plasmática do fármaco leva a modificações nas concentrações nos 
diversos tecidos e órgãos, incluindo no sítio receptor.
Contudo, devemos destacar que a distribuição dos fármacos nos diversos territórios tem relação 
com características físico‑químicas do ambiente biológico e do fármaco e a necessidade ou não deles 
de atravessar barreiras. Mas, em linhas gerais, dá para considerar que ao aumentar a concentração 
plasmática de um fármaco, elevaremos a concentração nos tecidos. O mesmo raciocínio é aplicado ao 
se observar a diminuição em suas concentrações.
 Lembrete
Conseguimos determinar a concentração do fármaco no plasma e, a 
partir disso, prever sua presença no sítio de ação.
A figura a seguir apresenta essa correlação. Nela, é possível observar a relação entre a concentração 
do fármaco no compartimento principal (sangue/plasma) e nos tecidos, incluindo‑se os alvos 
moleculares nos tecidos.
Co
nc
en
tr
aç
ão
 d
o 
fá
rm
ac
o 
no
 p
la
sm
a
Concentração do fármaco nos tecidos
Figura 8 – Correlação entre as concentrações do fármaco no sangue e nos tecidos
Adaptada de: Storpirtis et al. (2008, p. 281).
Consequentemente, parâmetros importantes como concentração plasmática terapêuticas e tóxicas 
são estabelecidos a partir desse raciocínio, prevendo a correlação direta entre dose, concentração 
plasmática do fármaco e resposta/efeito terapêutico. É possível também determinar a concentração (C) 
de um medicamento em função do tempo (T) em diversos fluidos biológicos como sangue, urina e saliva 
após a administração de uma dose.
94
Unidade II
A figura a seguir apresenta a curva concentração versus tempo (C x T), mostrando basicamente a 
variação na concentração de um fármaco em função do tempo após a administração dele. Trata‑se da 
curva de decaimento.
Po
rc
en
ta
ge
m
 d
a 
do
se
 a
dm
in
ist
ra
da
Fármaco no sangue (EV)
Metabólito excretado
Fármaco excretado
Fármaco no tecido
Fármaco no sangue (VO)
1612840
100
75
50
25
0
Co
nc
en
tr
aç
ão
(%) C (mg/L)
Tempo (unidade arbitrária)
EV = via endovenosa 
VO = via oral
Figura 9 – Curva de decaimento de um fármaco
Adaptada de: Storpirtis et al. (2008, p. 281).
Um ponto importante a ser levado em consideração é a via de administração do fármaco. Podemos 
observar que, no caso daqueles administrados por via oral, a velocidade de absorção será maior que 
a velocidade de eliminação. Assim, a concentração plasmática do fármaco aumentará em função do 
tempo. São obtidos então um valor de concentração máxima no plasma (Cmáx) e o tempo necessário para 
atingir a concentração máxima (Tmáx). Após essa fase, os valores relacionados às taxas de eliminação são 
predominantes até a eliminação completa do medicamento.
Considerando‑se as propriedades de homogeneidade cinética, é possível observar que a curva 
cinética do fármaco no sangue será semelhante àquela do fármaco no tecido.
7.1 Modelos compartimentais e modelagem farmacocinética
Existem modelos matemáticos capazes de descrever os parâmetros cinéticos e nos quais o 
organismo é representado por um sistema compartimentalizado que leva em consideração suas 
características intrínsecas. Obviamente esse sistema é uma representação simplificada que permite a 
compreensão e estudo do comportamento cinético dos fármacos, uma vez que o sistema biológico vivo 
é extremamente complexo.
Dessa forma, o modelo de compartimentos oferece uma aproximação da realidade, mas trata‑se de 
uma importante ferramenta de estudos farmacocinéticos.
95
FARMÁCIA CLÍNICA
O modelo monocompartimental (um compartimento) julga o organismo de forma única e 
com características homogêneas. Nele, considera‑se que ao administrar um determinado fármaco, 
ele é imediatamente distribuído pelos mais diversos territórios orgânicos não considerando 
condições físico‑químicas, anatômicas ou travessia barreiras. A finalização do processo se dá por 
eliminação/excreção. Observe a figura a seguir, ela ilustra uma representação esquemática do 
modelo de um compartimento.
Administração 
do fármaco
Distribuição 
(compartimento) Eliminação/Excreção
Figura 10 – Representação esquemática do modelo monocompartimental
No modelo de dois compartimentos (bicompartimental) é possível observar a divisão do organismo 
em central e periférico. O compartimento central é representado por sangue (plasma) e territórios nos 
quais se consta elevada perfusão, como cérebro, coração, rins, pulmões, fígado e glândulas endócrinas. 
Neles, há altas concentrações do fármaco logo após sua administração.
O segundo compartimento é representado pelo tecido adiposo, pele e musculatura estriada. Nesses 
territórios, o fármaco chega mais lentamente. A figura a seguir exibe uma representação esquemática 
do modelo bicompartimental.Administração 
do fármaco
Compartimento 
central (plasma)
Eliminação/Excreção Compartimento periférico
Figura 11 – Modelo bicompartimental
No modelo bicompartimental é possível avaliar a distribuição do fármaco no sangue para os tecidos, 
bem como o seu retorno para o compartimento central (principal), o sangue. Um ponto interessante 
aqui é a possibilidade de observação da diferença entre tecidos com mais perfusão daqueles com menor 
perfusão sanguínea.
Observe a figura a seguir, nela conseguimos visualizar uma representação gráfica do comportamento 
cinético de um fármaco após administração em dose única em bolus.
96
Unidade II
Concentração inicial (pico)
Fase alfa (distribuição)
Co
nc
en
tr
aç
ão
 p
la
sm
át
ic
a
Fase beta (eliminação)
Tempo após a administração
C0
Figura 12 – Representação esquemática da concentração plasmática de um fármaco administrado por 
via endovenosa, em dose única – modelo bicompartimental
Fonte: Fuchs e Wannmacher (2017, p. 77).
 Observação
Em bolus é uma expressão muito utilizada na prática clínica. Trata‑se 
de uma forma de administração endovenosa de um medicamento injetável de 
modo rápido, aumentando sua concentração aceleradamente no sangue.
Na figura anterior observamos que no início tem‑se alta concentração do fármaco no compartimento 
principal (sangue). Em um dado momento, vemos o declínio rápido devido à distribuição do fármaco 
no compartimento periférico. Por definição, esse período é designado como fase alfa (distribuição). 
A duração da fase de distribuição tem relação direta com a meia‑vida (T1/2) de distribuição. Assim que se 
estabelece o equilíbrio entre os compartimentos central e periférico, a queda da concentração plasmática 
do fármaco estará ligada à eliminação/excreção da substância.
Na sequência, há a chamada fase beta (eliminação). Nesse caso, medida pela meia‑vida (T1/2) de 
eliminação. Em geral, as concentrações plasmáticas do fármaco caem abaixo do nível considerado 
terapêutico justamente nessa fase, pois trata‑se de uma fase mais lenta se comparada à distribuição 
(FUCHS; WANNMACHER, 2017).
Portanto, a partir da curva de concentração plasmática, podemos calcular matematicamente 
os volumes de distribuição, também denominado volume de distribuição aparente, nos diversos 
compartimentos, utilizando expressões matemáticas. O volume de distribuição (Vd) estabelece relação 
entre a quantidade de fármaco no organismo e sua concentração (C) no sangue. Ele é calculado através 
da seguinte expressão:
97
FARMÁCIA CLÍNICA
Vd = Quantidade de fármaco no organismo
C
Também é possível calcular o volume de distribuição nos compartimentos. Assim, temos o volume de 
distribuição no compartimento central (Vc). Ele é calculado através da seguinte fórmula:
Volume de distribuição central = 
Dose
Concentração inicial
Após a fase de distribuição entre os compartimentos central e periférico, há o volume de distribuição 
no equilíbrio (Ve), parâmetro que é calculado através da seguinte fórmula:
Volume de distribuição de equilíbrio = 
0
Dose
C
Sendo que C0 representa a concentração plasmática do fármaco. Trata‑se de uma concentração 
hipotética por refletir uma distribuição imediata do fármaco. Na realidade, temos o processo de 
eliminação ocorrendo concomitantemente com o processo de distribuição do fármaco. Entretanto, esse 
raciocínio permite compensar a perda na concentração do medicamento durante o processo.
Assim, o volume de distribuição no equilíbrio equivale ao volume de distribuição aparente.
Após a fase de equilíbrio, a queda da concentração do fármaco está relacionada com as taxas 
de eliminação, ou seja, pela depuração (eliminação) plasmática ou clearance. Existe uma expressão 
matemática que permite o cálculo da depuração de um fármaco por um determinado compartimento. 
Ela considera o fluxo plasmático do órgão (Q) e a capacidade de extração.
Depuração = Q . E
Onde: Q = fluxo plasmático do órgão e E = capacidade de extração.
Para fármacos cuja velocidade de metabolização é diretamente proporcional à concentração do 
fármaco livre, a capacidade de extração de um dado órgão expressa a capacidade desse órgão de retirar, 
extrair todo o fármaco presente na corrente sanguínea. Os rins e o fígado são aqueles com maiores taxas 
de extração, contribuindo de forma importante na depuração. A depuração renal é a mais fácil de ser 
determinada. Isso pode ser feito através da análise da concentração plasmática do fármaco presente no 
plasma ou na urina.
A meia‑vida de eliminação, que expressa o tempo necessário para reduzir pela metade a quantidade 
do fármaco no organismo durante o processo de eliminação, apresenta relação direta e proporcional 
ao volume de distribuição de equilíbrio, sendo inversamente proporcional à depuração do fármaco. 
Ela pode ser calculada a partir da seguinte expressão:
( ) 0,693 . Vd1 eliminação 2 depuração
T
=
Onde: Vd = volume de distribuição.
98
Unidade II
Essas expressões matemáticas permitem os cálculos necessários para o planejamento racional 
de diversos esquemas posológicos como dose única, infusão contínua e múltiplas doses. O esquema 
posológico é a expressão usada para descrever como um fármaco será administrado levando 
em consideração a dose e duração do tratamento. Lembrando que este deve ponderar a meta 
farmacoterapêutica.
Exemplo de aplicação
Um paciente internado na UTI de um hospital de alta complexidade está recebendo um antibiótico 
por via endovenosa. A concentração plasmática é de 12 mg/dL logo após a administração de uma dose 
de 600 mg. Assim, calcule o volume de distribuição desse antibiótico.
Dose = concentração . Vd
600 = 12 .Vd
Vd = 50 dL ou 5 L
Sendo que: Vd = volume de distribuição e 1 dL = 0,1 L
7.2 Esquemas de administração de fármacos
7.2.1 Dose única
Dependendo do objetivo terapêutico estabelecido, o tratamento consiste na administração do 
fármaco em esquema de dose única. Eventualmente, faz‑se necessária a repetição da dose devido à 
situação clínica em questão. Entretanto, caso haja tal necessidade, é preciso estimar quanto da dose 
inicial ainda permanece no organismo. Para tanto, deve‑se considerar que a cada t1/2 (meia‑vida) a 
concentração do fármaco reduz em 50%.
Portanto, se imaginarmos de 4 a 5 meias‑vidas após a administração a dose, dá para crermos que o 
fármaco foi eliminado.
Para o cálculo de dose única, utiliza‑se a seguinte fórmula:
Dose única = concentração eficaz . VAD
Onde: VAD = volume aparente de distribuição.
Essa expressão é utilizada considerando a administração por via endovenosa, na qual o fármaco não 
passa por absorção. No caso do emprego de outra via, como oral e outras pelas quais o medicamento 
atravessa durante a fase de absorção, devemos ponderar a biodisponibilidade do fármaco.
Biodisponibilidade é um termo empregado para expressar a fração do fármaco administrado que 
alcança a circulação sistêmica na sua forma inalterada. Nesse caso, utiliza‑se a seguinte expressão 
matemática para o cálculo da dose:
99
FARMÁCIA CLÍNICA
Dose única = ADConcentração eficaz . V
f
Onde: f = biodisponibilidade e VAD = volume de distribuição aparente.
A administração do fármaco por vias nas quais ocorre absorção exige normalmente doses mais 
elevadas, uma vez que ele tem de atravessar barreiras até atingir o compartimento principal.
Cabe destacar que o emprego de fármacos em esquema de dose única precisa ser cuidadoso no caso 
daqueles de baixo índice terapêutico em função do risco de ocorrência de reações adversas e toxicidade.
O índice terapêutico estabelece relação entre a dose letal de um fármaco para 50% dos indivíduos 
(DL 50%) e a dose eficaz (DE 50%) de um fármaco para 50% dos indivíduos. Observe a expressão a 
seguir, que apresenta a forma de calcular o índice terapêutico (IT):
Índice terapêutico (IT) = DL 50%
DE 50%
Assim, o índice terapêutico indica a margem de segurança no emprego de um fármaco por estabelecer 
a relação entre a dose eficaz e a dose tóxica. Para esses fármacos, é interessante

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