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2023/1 HISTÓRIA DA ENFERMAGEM Profª Mércia Karla Pina 2 SUMÁRIO 1.0 História da Enfermagem ................................................................................................. 04 1.1 A Enfermagem no Brasil e no Mundo ............................................................................ 04 1.2 Desenvolvimento das práticas de saúde durante os períodos históricos. ....................... 05 1.3 Enfermagem Moderna ......................................................................................................... 07 2.0 Período Florence Nightingale ......................................................................................... 08 2.1 Primeiras Escolas de Enfermagem .................................................................................. 11 2.2 Sistema Nightingale de Ensino ........................................................................................ 11 3.0 História da Enfermagem no Brasil .................................................................................. 11 3.1 Ana Néri. ....................................................................................................................... 12 4.0 Antecedentes externos do ensino da Enfermagem moderna no Brasil. ........................... 13 4.1.1 Ensino da Enfermagem na Inglaterra ............................................................... 13 4.1.2 Ensino da Enfermagem nos EUA ....................................................................... 13 4.1.3 Ensino da Enfermagem Moderna no Brasil ...................................................... 14 5.0 surgimento e expansão do ensino da enfermagem moderna no brasil no contexto das políticas educacionais e de .................................................................................................... 18 ............................................................................................................................................... 22 Referência Bibliográficas Anexos 3 Perfil do Profissional de Enfermagem segundo Florence "A enfermeira não deve ser maldizente; não deve falar em vão; jamais deve responder as perguntas sobre seus pacientes, a não ser aqueles que têm o direito de fazê-las; deve (nem seria preciso dizê-lo) ser sóbria e honrada; mas que isso, deve ter elevado senso de religiosidade e devotamento; deve respeitar a própria vocação, porque a vida, dom precioso que recebemos de Deus muitas vezes estará em suas mãos. A enfermeira deve ser uma observadora segura, atenta e rápida, possuidora de sentimentos elevados e dedicados." A Enfermagem é a arte de cuidar incondicionalmente, de alguém que você nunca viu na vida, mesmo assim, ajudar e fazer o melhor por ela. Não se pode fazer isso só por dinheiro... Isso se deve fazer por e com amor! Deus nos ensinou a amar o próximo, é exatamente isso que esquecemos muitas vezes de fazer; olhar o próximo e perceber que sua vida, neste momento é mais difícil que a nossa, que sua situação é muito mais precária. 1.0 História da Enfermagem O estudo da história é importante para descobrirmos e entendermos os caminhos trilhados por nossos pais e antepassados, responsáveis pela atual realidade. Da mesma forma, o futuro será uma consequência ou reflexo da situação presente. Para compreendermos melhor os caminhos que, na sociedade brasileira levam à construção da categoria profissional “técnico de enfermagem”, precisaremos conhecer um pouco sobre o curso dos acontecimentos históricos. 4 De onde vem o nome Enfermeiro? A palavra Enfermeira/o se compõe de duas palavras do latim: “nutrix”, que significa Mãe, e do verbo “nutrire”, que tem como significados criar e nutrir. Essas duas palavras, adaptadas ao inglês do século XIX, acabaram se transformando na palavra NURSE que, traduzida para o português, significa Enfermeira. 1.1 A Enfermagem no Brasil e no Mundo Os achados históricos que contém informações sobre tratamento de doenças datam do período antes de Cristo, conhecido como período Pré-Cristão. Nesse período as doenças eram tidas como um castigo de Deus ou resultavam do poder do demônio. Em razão dessas crenças os sacerdotes ou feiticeiras acumulavam funções de médicos e enfermeiros, pois eram responsáveis pelo tratamento dos doentes. O tratamento consistia em aplacar as divindades, afastando os maus espíritos por meio de sacrifícios. As medidas terapêuticas adotadas eram: massagens, banho de água fria ou quente, purgativos, substâncias provocadoras de náuseas. Mais tarde os sacerdotes adquiriram conhecimentos sobre plantas medicinais e passaram a ensinar pessoas, delegando-lhes funções de enfermeiros e farmacêuticos. Registros egípcios mostram como a medicina ocorria naquela época, o tratamento prescrito pelos médicos deveriam ser acompanhadas por atos religiosos, as práticas mais comuns era o hipnotismo, a interpretação de sonhos, a influência de algumas pessoas sobre a saúde de outras. Documento do século VI A.C. relatam conhecimento dos hindus sobre anatomia e farmacologia: ligamentos, músculos, nervos, plexos, vasos linfáticos, antídotos para alguns tipos de envenenamento e o processo digestivo. Há descrição de alguns tipos de procedimentos, tais como: suturas, amputações, trepanações e correção de fraturas. Os hindus tornaram-se conhecidos pela construção de hospitais. Foram os únicos, na época, que citaram enfermeiros e exigiam deles qualidades morais e conhecimentos científicos, há relatos que nos hospitais ocorriam à prática da utilização de músicos e narradores de histórias para distrair os pacientes, o bramanismo fez decair a medicina e a enfermagem, pelo exagerado respeito ao corpo humano - proibia a dissecação de cadáveres e o derramamento de sangue. 5 As doenças eram consideradas castigo. Moisés, o grande legislador do povo hebreu, deixa relatos de noções de higiene e exame do doente: diagnóstico, desinfecção, afastamento de objetos contaminados e leis sobre o sepultamento de cadáveres para que não contaminassem a terra. Nos povos assírios e babilônios existiam penalidades para médicos incompetentes, tais como: amputação das mãos, indenização, etc. A medicina era baseada na magia - acreditava-se que sete demônios eram os causadores das doenças. Os sacerdotes-médicos vendiam talismãs com orações usadas contra os ataques dos demônios. Nos documentos assírios e babilônicos não há menção de hospitais, nem de enfermeiros. Na China as doenças eram classificadas como benignas, médias e graves, os sacerdotes eram divididos em três categorias que correspondiam ao grau da doença da qual se ocupava. Os templos eram rodeados de plantas medicinais. Os chineses conheciam algumas doenças: varíola e sífilis. Realizavam alguns procedimentos, como, operações de lábio, tratamentos também eram indicados: para anemia indicavam ferro e fígado; verminoses tratavam com determinadas raízes; sífilis prescreviam mercúrio; doenças da pele aplicavam o arsênico e anestesias utilizavam ópio. Construíram alguns hospitais de isolamento e casas de repouso. A cirurgia não evoluiu devido à proibição da dessecação de cadáveres, a cultura japonesa aprovava e estimulava a eutanásia. A medicina era fetichista e a única terapêutica era o uso de águas termais. Na Grécia o tratamento das doenças estava relacionado à mitologia. Apolo, o deus sol, era o deus da saúde e da medicina. Há relatos de uso de fármacos (sedativos, fortificantes e hemostáticos), da utilização de ataduras e da retirada de corpos estranhos e também casas para tratamento dos doentes. A medicina era exercida pelos sacerdotes-médicos, que interpretavam os sonhos das pessoas. Tratamentos relatados: banhos, massagens, sangrias, dietas, sol, ar puro, águapura mineral, dava-se valor à beleza física, cultural e a hospitalidade, contribuindo para o progresso o nascimento e a morte eram considerados impuros, causando desprezo pela obstetrícia e abandono de doentes graves,graças a Hipócrates a medicina passou a ser considerada ciência, 6 deixando de lado a crença de que as doenças eram causadas por maus espíritos. Hipócrates é considerado o Pai da Medicina. Observava o doente, fazia diagnóstico, prognóstico e a terapêutica. Reconheceu doenças, tais como: tuberculose, malária, histeria, neurose, luxações e fraturas. Seu princípio fundamental na terapêutica consistia em “não contrariar a natureza, porém auxilia-la a reagir.” Utilizava como tratamento: massagens, banhos, ginásticas, dietas, sangrias, ventosas, vomitórios, purgativos e calmantes, ervas medicinais e medicamentos minerais. A medicina não teve prestígio em Roma. Durante muito tempo era exercida por escravos ou estrangeiros. O indivíduo recebia cuidados do Estado como cidadão destinado a tornar- se bom guerreiro, audaz e vigoroso. Roma distinguiu-se pela limpeza das ruas, ventilação das casas, água pura e abundante e redes de esgoto. Os mortos eram sepultados fora da cidade. 1.2 Desenvolvimentos das práticas de saúde durante os períodos históricos As práticas de saúde instintivas caracteriza a prática do cuidar nos grupos nômades primitivos, neste período as práticas de saúde propriamente ditas, num primeiro estágio da civilização consistiam em ações que garantiam ao homem a manutenção da sua sobrevivência, estando na sua origem, associadas ao trabalho feminino. Com o evoluir dos tempos, constatando que o conhecimento dos meios de cura resultava em poder, o homem, aliando este conhecimento ao misticismo, fortaleceu tal poder e apoderou-se. Observa-se que a Enfermagem está em sua natureza intimamente relacionada ao cuidar das sociedades primitivas. As práticas de saúde mágico- sacerdotais aborda a relação mística entre as práticas religiosas e as práticas de saúde primitivas desenvolvidas pelos sacerdotes nos templos. Este período corresponde à fase de empirismo, verificada antes do surgimento da especulação filosófica que ocorre por volta do século V a.C. Essa prática permanece por muitos séculos desenvolvidos nos templos que, a princípio, foram simultaneamente santuários e escolas, onde os conceitos primitivos de saúde eram ensinados. 7 Posteriormente, desenvolveram-se escolas específicas para o ensino da arte de curar no sul da Itália e na Sicília, propagando-se pelos grandes centros do comércio, nas ilhas e cidades da costa, naquelas escolas pré-hipocráticas, eram variadas as concepções acerca do funcionamento do corpo humano, seus distúrbios e doenças, concepções essas que, por muito tempo, marcaram a fase empírica da evolução dos conhecimentos em saúde. O ensino era vinculado à orientação da filosofia e das artes e os estudantes viviam em estreita ligação com seus mestres, formando as famílias, as quais serviam de referência para mais tarde se organizarem em castas, quanto à Enfermagem, as únicas referências concernentes à época em questão estão relacionadas com a prática domiciliar de partos e a atuação pouco clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as atividades dos templos com os sacerdotes. As práticas de saúde no alvorecer da ciência, relaciona a evolução das práticas de saúde ao surgimento da filosofia e ao progresso da ciência, quando estas então se baseavam nas relações de causa e efeito. Inicia-se no século V a.C. estendendo-se até os primeiros séculos da Era Cristã. A prática de saúde, antes mística e sacerdotal, passa agora a ser um produto desta nova fase. Baseando-se essencialmente na experiência, no conhecimento da natureza, no raciocínio lógico que desencadeia uma relação de causa e efeito para as doenças e na especulação filosófica, baseada na investigação livre e na observação dos fenômenos, limitada, entretanto, pela ausência quase total de conhecimentos anatomo-fisiológicos. Essa prática individualista volta-se para o homem e suas relações com a natureza e suas leis imutáveis. Este período é considerado pela Medicina grega como período hipocrático, destacando a figura de Hipócrates que propôs uma nova concepção em saúde, dissociando a arte de curar dos preceitos místicos e sacerdotais, através da utilização do método indutivo, da inspeção e da observação. Não há caracterização nítida da prática de Enfermagem nesta época. As práticas de saúde monástico-medievais focalizam a influência dos fatores socioeconômicos e políticos do medievo e da sociedade feudal nas práticas de saúde e as relações destas com o cristianismo. 8 Esta época corresponde ao aparecimento da Enfermagem como prática leiga, desenvolvida por religiosos e abrange o período medieval compreendido entre os séculos V e XIII. Foi um período que deixou como legado uma série de valores que, com o passar dos tempos, foram aos poucos legitimados e aceitos pela sociedade como característica inerente à enfermagem. A abnegação, o espírito de serviço, a obediência e outros atributos que dão à Enfermagem, não uma conotação de prática profissional, mas de sacerdócio. As práticas de saúde pós-monásticas - evidencia a evolução das práticas de saúde e, em especial, da prática de Enfermagem no contexto dos movimentos Renascentistas e da Reforma Protestante. Corresponde ao período que vai do final do século XIII ao início do século XVI A retomada da ciência, o progresso social e intelectual da Renascença e a evolução das universidades não constituíram fator de crescimento para a Enfermagem. Enclausurada nos hospitais religiosos, permaneceu empírica e desarticulada durante muito tempo, piorando sua situação a partir dos movimentos de Reforma Religiosa e das conturbações da Santa Inquisição. O hospital, já negligenciado, passa a ser um insalubre depósito de doentes, onde homens, mulheres e crianças coabitam as mesmas dependências, amontoados em leitos coletivos. Esta fase tempestuosa, que significou uma grave crise para a Enfermagem, permanece por muito tempo e apenas no limiar da revolução capitalista é que alguns movimentos reformadores, que partiram principalmente de iniciativas religiosas e sociais, tentam melhorar as condições do pessoal a serviço dos hospitais. As práticas de saúde no mundo moderno - analisa as práticas de saúde e, em especial, a de Enfermagem, sob a ótica do sistema político-econômico da sociedade capitalista. Ressalta o surgimento da Enfermagem como prática profissional institucionalizada. Esta análise inicia-se com a Revolução Industrial no século XVI e culmina com o surgimento da enfermagem moderna na Inglaterra, no século XIX. 9 1.3 Enfermagem Moderna O avanço da Medicina vem favorecer a reorganização dos hospitais. É na reorganização da Instituição Hospitalar e no posicionamento do médico como principal responsável por esta reordenação, que vamos encontrar os reflexos na Enfermagem, ao ressurgir da fase sombria em que esteve submersa até então. A evolução crescente dos hospitais não melhorou, entretanto, suas condições de salubridade. Diz-se mesmo que foi a época em que estiveram sob piores condições, devido principalmente à predominância de doenças infectocontagiosas e à falta de pessoas preparadas para cuidar dos doentes. Os ricos continuavam a ser tratados em suas próprias casas, enquanto os pobres, além de não terem esta alternativa, tornavam-se objeto de instrução e experiências que resultariam num maior conhecimento sobre as doenças em benefício da classe abastada. É neste cenário que a Enfermagem passa a atuar, com o convite feito a Florence Nightingale pelo Ministro da Guerra da Inglaterra, para trabalhar junto aos soldados feridos em combate na Guerra da Criméia. 2.0 PERÍODO FLORENCE NIGHTINGALE (ADama da Lâmpada) Esta é a história de uma mulher corajosa, impetuosa, de uma mente brilhante e que possuía tenacidade de propósitos como característica particular. Mulher que marcou sua época não só por rebelar-se contra o papel convencional para as mulheres de seu status, mas por abdicar do “reino” de luxo e pomposidade para atender o chamado de Deus e atender o povo. Mulher que apesar de sua determinação e garra, usou toda sua generosidade e doçura para cuidar de pessoas por quem ela renunciou todos os sonhos que toda moça e sua época possuía. Mulher que transmitia a imagem (e realmente era) de um anjo auxiliador que consolava os moribundos. Mulher que rompeu barreiras e mudou conceitos, indo a guerra para cuidar de soldados feridos, reforma hospitais treinar enfermeiras, 10 numa época que estas eram vistas como mulheres marginalizadas, ou seja, fora dos padrões da época, até mesmo como prostitutas. Correndo o risco de ser confundida como tal. Se prepare para conhecer a fascinante história desta mulher que foi uma candidata perfeita a heroína e que ate hoje é lembrada como tal. O nome dela? Florence Nightingale. Quase dois séculos depois, no dia 12 de maio de 1820, durante uma viagem que Edward e Francis Nightingale realizavam pela Europa, nasce uma de suas filhas que recebeu o nome de Florence em virtude de o nascimento ter acontecido na cidade de Florença . Por ter nascido em uma família rica e educada, viveu a adolescência participando de uma sociedade aristocrática, tendo tido a oportunidade de estudar diversos idiomas, matemática, religião e filosofia. Extremamente religiosa, desejava mesmo era fazer "trabalho de Deus" - ajudar os pobres, os doentes e os menos dotados, amenizando lhes o sofrimento e a degradação. Florence Nightingale é considerada a fundadora da Enfermagem moderna em todo o mundo, obtendo projeção maior a partir de sua participação como voluntária na Guerra da Criméia, em 1854, quando com 38 mulheres (irmãs anglicanas e católicas) organizou um hospital de 4000 soldados internos, baixando a mortalidade local de 40% para 2%. Com o prêmio recebido do governo inglês por este trabalho, fundou a primeira escola de enfermagem no Hospital St. Thomas - Londres, em 24/06/1860. Os fundamentos que nortearam a criação da escola de enfermagem foram originados também, de suas experiências anteriores à guerra, ou seja, sua educação aristocrática que lhe permitiu ter acesso a vários idiomas, a matemática, religião e filosofia e seu estágio de três meses no Instituto de Diaconisas de Kaiserswerth/Alemanha, onde aprendeu os primeiros passos da disciplina na enfermagem (regras e horários rígidos, religiosidade, divisão do ensino por classes sociais). A organização do Instituto de Diaconisas instituída pelo pastor luterano Theodor Fliedner e sua esposa Frederika muito se assemelhava àquela preconizada pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, estando mais preocupados em formar o caráter de suas alunas do que em ministrar-lhes conhecimentos específicos de enfermagem. 11 Um fato que é pouco reforçado pelos historiadores é o de que Florence Nightingale conheceu e apreendeu o trabalho desenvolvido pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo em Paris, no Hôtel-dieu, onde acompanhou o tipo de trabalho assistencial e administrativo que realizavam, suas regras, sua forma de cuidar dos doentes, fazendo anotações, gráficos e listas das atividades desenvolvidas, e aplicou o mesmo questionário, que já havia distribuído nos hospitais da Alemanha e Inglaterra, tendo aprofundado seus estudos; a sua organização . Num segundo momento, Florence Nightingale retornou a este hospital por mais um mês, vestindo com o hábito das irmãs, para sentir mais próximo o seu carisma, apenas residindo em casa separada. Possivelmente, o convívio com as regras de conduta das Irmãs de Caridade e as Senhoras da Confraria a influenciaram intimamente na construção do seu modelo de enfermagem. Em 1854, com a Guerra na Criméia, a Grã-Bretanha lutava junto com a França ao lado dos aliados turcos em sua guerra contra a Rússia. Mais uma vez, as contingências aproximam Florence Nightingale das irmãs de caridade, só que agora de forma indireta. As irmãs já estavam em Constantinopla desde 1839, desenvolvendo seu trabalho nos hospitais, e por ocasião da Guerra foram enviadas por solicitação do governo francês para os hospitais militares e da marinha para prestar cuidados aos enfermos “nem os rigores do inverno, nem a cólera e o tifo, nada as assusta, nada as repele”. Ao serviço das ambulâncias e dos hospitais, elas juntaram ainda a visita frequente aos prisioneiros de todas as nações, e esperavam o desembarque dos navios carregados de doentes e de feridos chegados da Criméia. Enquanto isso, os hospitais militares ingleses estavam vivendo o caos, o exército britânico estava prestes a ser derrotado em virtude da doença, da desorganização, do frio e da fome, a cólera reduziu o exército à inutilidade e as primeiras batalhas da Criméia foram feitas por homens exauridos pela doença e sedentos. Os jornais ingleses criticavam a administração dos hospitais militares e alguém que conhecia o excelente trabalho das irmãs de caridade nos hospitais militares franceses escreveu no “Time": "PORQUE NÃO TEMOS IRMÃS DE CARIDADE?" O ótimo tratamento que dispensavam aos soldados franceses constituía, sem dúvida, uma novidade para os ingleses, porquanto, algum tempo 12 depois o Ilustred London News estampou uma ilustração, onde se viam as irmãs trabalhando na enfermaria de seu hospital, a consequência disto foi que, o Ministro da Guerra necessitava tomar medidas urgentes para reverter a situação, e assim escreve “Na Inglaterra, só conheço uma criatura capaz de organizar e dirigir um plano assim...mas não devo ocultar que, segundo penso, o sucesso final ou o fracasso do projeto depende de sua decisão, esta pessoa era Florence Nightingale. A partir destas informações, entendo que, ao pensar numa escola de enfermagem, Florence Nightingale deva ter utilizado muito do que havia aprendido com as irmãs de caridade, desde as vastas exigências de caráter moral e espírito religioso feitas às candidatas, a distribuição e controle do tempo destinado ao trabalho hospitalar, curso e folgas, bem como, a admissão de alunas de classes sociais diferenciadas. As de classe elevada (lady nurses) podem ser comparadas às Senhoras da Confraria, que eram preparadas para as atividades de supervisão, direção e organização do trabalho em geral, e as de nível socioeconômico inferior (nurses) que podem ser comparadas as irmãs de caridade provenientes das aldeias, que eram mais preparadas para o trabalho manual, o cuidado direto, a obediência e a submissão. As ideias de Florence Nightingale acerca da enfermagem como profissão chocavam-se com a ideologia da era vitoriana, correspondente à prática da enfermagem, ou seja, uma forma de ocupação manual desempenhada por empregadas domésticas. Não obstante, a escola iniciou seu funcionamento tendo por base:a) preparo de enfermeiras para o serviço hospitalar e para visitas domiciliárias a doentes pobres; b) preparo de profissionais para o ensino de enfermagem na seleção das candidatas, as qualidades morais tinham prioridade durante o curso e a disciplina era rigorosa. O rigor da escola justificava-se, considerando o que era corrente na época, isto é, quem cuidava dos doentes na Inglaterra eram pessoas imorais e, portanto, o modelo preconizado deveria ser o oposto, o mais próximo possível do que realizavam as associações religiosas, porém laicas. Florence morre a 13 de agosto de 1910, deixando caminho aberto para o ensino de Enfermagem. Assim a Enfermagem surge não mais como uma atividade 13 empírica, desvinculada do saber especializado, mas como uma ocupação assalariadaque vem atender a necessidade de mão-de-obra nos hospitais, constituindo-se como uma prática social institucionalizada e específica. 2.1 Primeiras Escolas de Enfermagem Apesar das dificuldades que as pioneiras da Enfermagem tiveram que enfrentar, devido à incompreensão dos valores necessários ao desempenho da profissão, as escolas se espalharam pelo mundo, a partir da Inglaterra. Nos Estados Unidos a primeira Escola foi criada em 1873. Em 1877 as primeiras enfermeiras diplomadas começam a prestar serviços a domicílio em New York. As escolas deveriam funcionar de acordo com a filosofia da Escola de Florence Nightingale, baseada em quatro idéias-chave: O treinamento de enfermeiras deveria ser considerado tão importante quanto qualquer outra forma de ensino e ser mantido pelo dinheiro público. As escolas de treinamento deveriam uma estreita associação com os hospitais, mas manter sua independência financeira e administrativa. As estudantes deveriam, durante o período de treinamento, ter residência à disposição, que lhes oferecesse ambiente confortável e agradável, próximo ao hospital. 2.2 Sistema Nightingale de Ensino As escolas conseguiram sobreviver graças aos pontos essenciais estabelecidos: Direção da escola por uma enfermeira. Mais ensino metódico, em vez de apenas ocasional. Seleção de candidatos do ponto de vista físico, moral, intelectual e aptidão profissional. 3.0 História da Enfermagem no Brasil A organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira começa no período colonial e vai até o final do século XIX. A profissão surge como uma simples prestação de cuidados aos doentes, realizada por um grupo formado, na sua maioria, por escravos, que nesta época trabalhavam nos domicílios. 14 Desde o princípio da colonização foi incluída a abertura das Casas de Misericórdia, que tiveram origem em Portugal. A primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543. Em seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória, Olinda e Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaugurada em 1880, com a presença de D. Pedro II e Dona Tereza Cristina. No que diz respeito à saúde do povo brasileiro, merece destaque o trabalho do Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de ciências e catequeses. Foi além. Atendia aos necessitados, exercendo atividades de médico e enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o Brasil, seus primitivos habitantes, clima e as doenças mais comuns. A terapêutica empregada era à base de ervas medicinais minunciosamente descritas. Supõe-se que os Jesuítas faziam a supervisão do serviço que era prestado por pessoas treinadas por eles. Não há registro a respeito. Outra figura de destaque é Frei Fabiano Cristo, que durante 40 anos exerceu atividades de enfermeiro no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro (Séc. XVIII). Os escravos tiveram papel relevante, pois auxiliavam os religiosos no cuidado aos doentes. Em 1738, Romão de Matos Duarte consegue fundar no Rio de Janeiro a Casa dos Expostos. Somente em 1822, o Brasil tomou as primeiras medidas de proteção à maternidade que se conhecem na legislação mundial, graças a atuação de José Bonifácio Andrada e Silva. A primeira sala de partos funcionava na Casa dos Expostos em 1822. Em 1832 organizou-se o ensino médico e foi criada a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A escola de parteiras da Faculdade de Medicina diplomou no ano seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira parteira formada no Brasil. No começo do século XX, grande número de teses médicas foi apresentado sobre Higiene Infantil e Escolar, demonstrando os resultados obtidos e abrindo horizontes e novas realizações. Esse progresso da medicina, entretanto, não teve influência imediata sobre a Enfermagem. Assim sendo, na enfermagem brasileira do tempo do Império, raros nomes de destacaram e, entre eles, merece especial menção o de Anna Nery. 15 3.1 Ana Néri Aos 13 de dezembro de 1814, nasceu Ana Justina Ferreira, na Cidade de Cachoeira, na Província da Bahia. Casou-se com Isidoro Antonio Néri, enviuvando aos 30 anos. Seus dois filhos, um médico militar e um oficial do exército, são convocados a servir a Pátria durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), sob a presidência de Solano Lopes. O filho mais jovem estava cursando o 6º ano de Medicina e oferece seus serviços médicos em prol dos brasileiros. Ana Néri não resiste à separação da família e escreve ao Presidente da Província, colocando-se à disposição de sua Pátria. Em 15 de agosto parte para os campos de batalha, onde dois de seus irmãos também lutavam. Improvisa hospitais e não mede esforços no atendimento aos feridos. Após cinco anos, retorna ao Brasil, é acolhida com carinho e louvor, recebe uma coroa de louros e Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no Edifício do Paço Municipal. O governo Imperial lhe concede uma pensão, além de medalhas humanitárias e de campanha. Faleceu no Rio de Janeiro a 20 de maio de 1880. A primeira Escola de Enfermagem fundada no Brasil recebeu o seu nome. Ana Néri como Florence Nightingale, rompeu com os preconceitos da época que faziam da mulher prisioneira do lar. 4.0 ANTECEDENTES EXTERNOS DO ENSINO DA ENFERMAGEM MODERNA NO BRASIL 4.1.1 ENSINO DE ENFERMAGEM NA INGLATERRA (1860) Apesar da existência secular da Enfermagem, a história da Enfermagem Moderna tem início a partir da segunda metade do século XIX com Florence Nightingale, na Inglaterra (SILVA, 1986; PIRES, 1989), o qual baseava-se em criteriosa seleção das candidatas ao curso, na sistematização do ensino teórico e da prática correspondente e na total autonomia da escola em assuntos financeiros e pedagógicos. 16 No entanto mantinha o caráter religioso e caritativo, servindo ao próximo como meio de aperfeiçoamento espiritual, principalmente aos pobres e necessitados (FERNANDES, 1983; GERMANO, 1993). Para o curso, a aluna deveria ser sóbria, honesta, leal, digna de confiança, pontual, calma e ordeira, correta e elegante. Tomava também conhecimento do currículo no qual, segundo CARVALHO (1972), esperando-se que desenvolvesse várias habilidades, entre elas - em curativos de pústulas, queimaduras, escaras, ferimentos, na aplicação de fricções terapêuticas, cataplasmas e curativos menores;- na aplicação de sanguessugas, externa e internamente (sic). O Sistema Nightingale expandiu-se rapidamente a princípio na própria Inglaterra e países escandinavos e, posteriormente nos Estados Unidos e Canadá. Assim, o que se encontrava na Inglaterra neste momento interfere no ensino nos Estados Unidos que por sua vez, vem influenciar o ensino na Enfermagem brasileira. 4.1.2 O ENSINO DE ENFERMAGEM NOS EUA (1870) Nos Estados Unidos, segundo CARVALHO (1972), no período de 1873 a 1890 foram criadas trinta e cinco escolas; em 1900 o número subiu a 432; em 1909 já existiam 1096 escolas em funcionamento. O primeiro curso universitário para a formação de enfermeiras foi criado na Universidade de Minnessota, em 1909. Seis anos após, em 1916, existiam quinze desses cursos em funcionamento nos Estados Unidos. As escolas norte americanas tinham como finalidade prover assistência aos paciente indigentes por meio do trabalho das estudantes e preparar enfermeiras para a comunidade. No entanto, houve um predomínio do treinamento em serviço sem a preocupação com o crescimento intelectual das estudantes, apenas interesse em torná-las rápidas e eficientes no atendimento aos doentes. (CARVALHO, 1972; FERNANDES, 1975). Em 1917, a National League of Nursing Education publicou uma obra trazendo uma tentativa concreta de padronização do currículo das escolas, sugerindo para tanto o curso de três anos (com o programa teórico totalizando cerca de 590 horas), exigência do secundário completo para admissão,prática obrigatória nos diversos serviços hospitalares e práticas eletivas. Falhas graves nas condições de vida e de estudos das alunas de Enfermagem foram apontadas 17 no relatório "Goldmark Raport", publicado em 1923, que enuncia uma série de recomendações, entre elas a necessidade do curso secundário para admissão na escola; colocação de algumas escolas nas universidades; programas com objetivos educacionais; trabalho das estudantes a um máximo de 48 horas por semana; curso com duração mínima de 28 meses (CARVALHO, 1972). Até os anos 50 o currículo de Enfermagem passou por várias revisões, análises das falhas do sistema educacional e modificações baseadas nas funções e no papel que as enfermeiras deviam desempenhar na equipe de saúde e na competência e eficiência técnica delas exigidas, visando melhorar o programa das escolas. 4.1.3 O ENSINO DA ENFERMAGEM MODERNA NO BRASIL Antes do advento da "Enfermagem Moderna" no país, a Enfermagem brasileira estava nas mãos de irmãs de caridade e de leigos (recrutados sobretudo entre ex-pacientes e serventes dos hospitais), quase que exclusivamente à mercê do empirismo de ambos, forjado no embate das exigências concretas das rotinas das Santas Casas de Misericórdia espalhadas pelo Brasil (SILVA, 1986; ALMEIDA & ROCHA, 1986). Portanto a Enfermagem exercida desde a fundação das primeiras Santas Casas tinham um cunho essencialmente prático; daí por que eram excessivamente simplificados os requisitos para o exercício das funções de enfermeiro, não havendo exigência de qualquer nível de escolarização para aqueles que as exerciam. Essa situação perdurou desde a colonização até o início do século XX, ou seja, uma Enfermagem exercida em bases puramente empíricas (GERMANO, 1993; FERNANDES, 1975). GERMANO (1993) aponta que na época do descobrimento do Brasil os índios, nas pessoas dos pajés, foram os primeiros a se ocuparem dos cuidados daqueles que adoeciam em suas tribos. Com a colonização outros elementos assumiram também essas responsabilidades, dentre eles os jesuítas e posteriormente por religiosos, voluntários leigos e escravos selecionados para tal tarefa. Dessa forma, gradativamente surge a Enfermagem, com fins mais curativos que preventivos e exercida no início, ao contrário de hoje, praticamente por pessoas do sexo masculino. 18 A criação de escolas de Enfermagem no Brasil ocorreu na virada deste século, mas teve impulso após o ano de 1923 como veremos posteriormente. A primeira iniciativa oficial com relação ao estabelecimento da Enfermagem profissional no Brasil foi a criação da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras do Hospital Nacional de Alienados, no Rio de janeiro, pelo Decreto nº 791/1890, a qual seguia mais o sistema francês que o Sistema Nightingale, já então espalhado por todo o mundo de língua inglesa (CARVALHO, 1972; GUSSI, 1987). Com a proclamação da República, as relações entre a Igreja e o Estado ficam estremecidas, chegando ao rompimento. Houve a desanexação do Hospício Nacional de Alienados da Santa Casa de Misericórdia que repercutiu na estatização da assistência aos doentes mentais e, os médicos assumem o poder. As relações com as irmãs de caridade, responsáveis pela administração interna do Hospital, se tornam insustentáveis neste novo sistema a ponto destas abandonarem repentinamente o serviço (FERNANDES, 1975; GUSSI, 1987). Conforme aponta GUSSI (1987), em meio ao discurso de melhoria da assistência psiquiátrica e a situação em que ficou o serviço do Hospício com a saída das religiosas e conseqüente falta de mão de obra para assumir os trabalhos, praticamente ao mesmo tempo em que foram convidadas enfermeiras francesas para suprir a deficiência de recursos humanos para a assistência, foi também vislumbrada a possibilidade de se solucionar o problema criando-se uma escola para enfermeiros e enfermeiras. Em seguida à saída das religiosas foi assinado pelo Governo Provisório da República o Decreto 791/90 (BRASIL, 1974), que dispõe sobre a criação da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras anexa ao Hospital de Alienados. Este Decreto fixava os objetivos da Escola, currículo, duração do curso, condições de inscrição e matrícula, título conferido, garantia de preferência de emprego e aposentadoria aos 25 anos dos candidatos exigia-se no mínimo saber ler e escrever, conhecer aritmética e apresentar atestado de bons costumes. No entanto, não contempla recursos para a viabilização do curso assim como as normas para sua concretização (BRASIL, 1974; GUSSI, 1987). Segundo GUSSI (1987), um incêndio destruiu os arquivos da Divisão Nacional de Saúde Mental, na década de 60, o que impossibilita detalhes oficiais quanto ao funcionamento da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras até 19 1905 e também com relação à vinda das enfermeiras francesas ao Brasil para assumir o Hospício Nacional com a saída das religiosas. Essa escola, posteriormente denominada Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, hoje uma unidade da UNIRIO, inspirou-se na Escola de Salpetière, na França, embora a direção por uma Enfermeira somente tenha ocorrido com mais de 50 anos de sua existência, precisamente em 1943 (FERNANDES, 1983; GERMANO, 1993; MOURA, EGRY & MOURA 1995). O Sistema Nightingale espalhou-se rapidamente pelo mundo inteiro, levado principalmente pelas pioneiras inglesas e norte-americanas. Em 1892 foi instalado em São Paulo o "Hospital Evangélico", para estrangeiros, hoje Hospital Samaritano, com um corpo de enfermeiras inglesas oriundas de escolas orientadas por Florence Nightingale. O curso de Enfermagem iniciado neste Hospital por volta de 1901-02 trazia todas as características do sistema inglês sendo, inclusive, ministrado nesse idioma, para estudantes recrutadas nas famílias estrangeiras do sul do país, tendo como objetivo precípuo preparar pessoal para a Instituição. Essa Escola nunca chegou a ser reconhecida por tratar-se de iniciativa privada que visava unicamente preparar pessoal para o próprio hospital (CARVALHO, 1972). Em 1916, como repercussão do movimento mundial de melhoria nas condições de assistência aos feridos da Primeira Grande Guerra, a Cruz Vermelha Brasileira criou uma Escola no Rio de Janeiro, subordinada ao Ministério da Guerra preparando enfermeiras em curso de dois anos de duração(CARVALHO, 1972). Um detalhe curioso quanto a esta Escola é que o Decreto 21141/32, que aprovava o regulamento para a organização do quadro de Enfermeiras do Exército, determinava a fiscalização da Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha Brasileira pela Diretoria de Saúde da Guerra, desvinculando o exercício profissional dos enfermeiros por ela formados, das determinações do Dec. 20109/31, que regulava o exercício de Enfermagem no Brasil e fixava as condições para a equiparação das escolas de Enfermagem. Posteriormente o programa foi ampliado para três anos e a escola foi subordinada ao Ministério da Educação e Cultura, como as demais. Foi equiparada à Escola de Enfermeiras "Ana Neri", conforme Dec. 20209/31, pelo Dec. 24768/48 (CARVALHO, 1972). A criação da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública (Dec. 15799 de 10/12/22) constituiu de fato o início de 20 uma nova era para a Enfermagem brasileira; o mérito do acontecimento deve-se, principalmente, a seu Diretor, Carlos Chagas e ao grupo de enfermeiras norte- americanas, trazidos pela Fundação Rockefeller, a pedido daquele, para prestarem serviço no Departamento. Lideradas por Ethel Parsons e Clara Louise Kienninver, algumas dessas enfermeiras assumiram a responsabilidade pela direção e pelo ensino da escola, tendo influenciado grandemente no conteúdo da legislação que determinava o currículo a ser adotado e no Decreto 20109/31 que instituiu a Escola Ana Neri como "escola padrão" para efeito de equiparação(CARVALHO, 1972; FERNANDES, 1983; ALMEIDA & ROCHA, 1986). SILVA (1986), aponta que este fato, no que se refere à Enfermagem brasileira, representa um marco de extrema importância, isto é, o advento da Enfermagem Moderna no país, 63 anos depois de seu surgimento na Inglaterra. Surge num momento em que o Estado brasileiro emergente institui políticas de saúde voltadas ao controle das grandes endemias e epidemias que colocavam o Brasil numa posição ameaçadora ao desenvolvimento do comércio internacional, porém contava com escassos equipamentos de saúde e mão de obra qualificada para a viabilização das ações coletivas propostas. Nesse sentido, Carlos Chagas ao tomar contato com o trabalho no padrão nightingaleano das enfermeiras norte americanas, acreditou ser este o profissional necessário para a estratégia sanitarista do governo brasileiro e solicitou auxílio à International Health Board para criar serviço semelhante no Brasil. Assim foi criada a Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública nos moldes das escolas americanas que utilizavam o "Sistema Nightingale", mesmo mantendo a contradição de preparar as enfermeiras dentro das enfermarias do Asilo São Francisco de Assis, adaptado para ser o hospital- ensino da Enfermagem, para o trabalho em saúde pública (FERNANDES, 1975; GUSSI, 1987). No entanto vale apontar que a partir de 1930, com a ampliação do sistema previdenciário, a produção de serviços privados foram privilegiados e favoreceram a assistência hospitalar curativa em detrimento da Saúde Pública, ampliando dessa forma a oferta de trabalho às enfermeiras no âmbito do hospital. 21 O funcionamento da Escola foi regulamentado pelo Decreto nº 16300/23 que aprovava o regulamento do Departamento Nacional de Saúde Pública, e que determinava o currículo da Escola (BRASIL, 1974). De acordo com CARVALHO (1972), curso possuía as seguintes características: Duração de dois anos e quatro meses, divididos em cinco fases, a última das quais reservada para a especialização Enfermagem clínica, Enfermagem de saúde pública; Exigência de diploma de Escola Normal como requisito de entrada facilitando, porém, a admissão dos candidatos que, na falta desse diploma, provassem capacitação para o curso; Os quatro primeiros meses correspondiam ao período probatório das escolas norte- americanas, sendo essencialmente teórico; A prestação de oito horas diárias de serviços ao hospital era obrigatória, com direito a residência, pequena remuneração mensal e duas meias folgas por semana. O confronto do conteúdo do currículo dessa primeira escola brasileira com as determinações contidas no "Standard Curriculum" norte americano de 1917 mostra a grande semelhança entre os dois, tanto na parte teórica quanto nos serviços nos quais as alunas deveriam estagiar e a fragmentação do currículo em disciplinas de pequena carga horária e de curta duração constituía uma das principais características dos dois currículos. O Art. 429 do Dec. nº 16300/23 não continha o número de horas destinadas à parte teórica e ao estudo; entretanto, o Art. 418 do mesmo Decreto estabelecia claramente a obrigatoriedade do "serviço diário de oito horas no Hospital Geral de Assistência", o que leva à conclusão de que as horas destinadas ao ensino teórico e ao estudo fossem em acréscimo às quarenta e oito horas semanais de prática hospitalar (BRASIL, 1974). A publicação dos livros "Essentials of a Good School of Nursing" e Nursing for the Future" e tradução de ambos para o português pelo então Serviço Especial de Saúde Pública, tiveram grande repercussão no desenvolvimento da Enfermagem brasileira. Junto a isso houve influência também das escolas universitárias norte- americanas, às quais eram encaminhadas as docentes de algumas das escolas do país para cursos de aperfeiçoamento e de pós-graduação (CARVALHO, 1972). 22 Portanto os anos 20 e 30 marcaram a implantação da Enfermagem Moderna no Brasil e a partir de então, o ensino na área se expandiu em atenção ao aumento da demanda desses profissionais impulsionado basicamente pela crescente urbanização e pelo processo emergente de modernização dos hospitais e com isso começa a transferência da Enfermagem das congregações religiosas às mãos laicas (VERDERESE, 1979). É importante apontar ainda que a partir de então, a Enfermagem procura consolidar- se buscando garantir seu espaço profissional com a fundação em 1926 da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras, com a regulamentação do exercício da Enfermagem pelo Decreto 20109/31 e também com a publicação da revista "Anais de Enfermagem" em 1932 (CARVALHO, 1972; SILVA, 1986; GERMANO, 1993). 5.0 SURGIMENTO E EXPANSÃO DO ENSINO DA ENFERMAGEM MODERNA NO BRASIL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E DE SAÚDE No início do século XX, a situação das cidades portuárias das cidades brasileiras era precária colocando em risco o comércio de exportação e a política de imigração. Destacava-se o Rio de Janeiro, importante via de acesso no país na época. Assim, sobre pressão dos mercados internacionais são adotadas medidas visando o controle das endemias através do saneamento dos portos. Tendo como pano de fundo a necessidade de controlar a febre amarela, o Estado implementa um mercado de trabalho de saúde pública ao promover a reforma Carlos Chagas, ao criar o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) e as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), instituídos pela Lei Eloy Chaves (CORDEIRO, 1991). É criada a Escola de Enfermagem Ana Néri em 1923, a então Escola de Enfermeiras do DNSP, para atender a necessidade de pessoal no campo da saúde pública, com objetivo de dar continuidade às atividades de educação sanitária que haviam sido iniciadas por médicos sanitaristas (ALCANTARA, 1966). Constituindo assim uma iniciativa necessária para qualificar profissionais que cooperassem no saneamento dos portos. Apesar das tentativas anteriormente descritas de sistematização do preparo do pessoal de enfermagem, foi a partir de uma iniciativa do Estado que a Enfermagem Moderna chega ao Brasil. 23 FERNANDES (1983), considera que esta institucionalização se deu, não somente pelo fato do Estado reconhecer a necessidade da Enfermagem na melhoria das condições sanitárias da população, ao lado do atendimento dos interesses econômicos do país mas, também, como resultado de algumas pressões para se implementar esta sistematização. Tiveram papel proeminente na fundação desta primeira Escola, assumindo as atividades atinentes à sua direção e ensino, um grupo de enfermeiras norte americanas lideradas por Ethel Parsons e Clara Louise Kienninger que vieram para o Brasil através do Serviço Internacional de Saúde Pública da Fundação Rockfeller (CARVALHO, 1972). Para GERMANO (1993), havia interesse desta fundação em criar condições sanitárias adequadas ao desenvolvimento capitalista. Assim, através do decreto 17268/1926, é institucionalizado o ensino de enfermagem no Brasil e, em 1931, pelo decreto 20109 da Presidência da República, a Escola Ana Neri foi considerada oficial, um padrão para todo o país. Em 1937, é considerada instituição complementar da Universidade do Brasil e em 1946, é definitivamente incorporada a esta Universidade (BRASIL, 1974). A política educacional estatal até 1930, era praticamente inexistente. A monocultura latifundiária exigia um mínimo de qualificação da força de trabalho a qual se compunha quase exclusivamente de escravos trazidos da África, não havia nenhuma função de reprodução da força de trabalho a ser preenchida pela Escola (FREITAG, 1986).A década de 20 encerra-se com apenas uma escola de enfermagem oficial no país. A crise mundial de 1929 encaminha as mudanças estruturais que vão caracterizar o modelo de substituição das importações, é o marco para o processo de industrialização.Segundo FREITAG (1986), a classe até então hegemônica dos latifundiários cafeicultores, é forçada a dividir o poder com a classe burguesa emergente. No âmbito da educação inicia-se o movimento de expansão e democratização da escola. São transformados os objetivos da escola que passa a privilegiar a formação de quadros de trabalhadores especializados em todos os campos exigidos pela sociedade moderna. - Em 1930, é criado o Ministério da Educação e Saúde, a Constituição de 1934 estabeleceu a necessidade de elaboração de um Plano Nacional de Educação que coordenasse e supervisionasse as atividades de ensino 24 em todos os níveis do país e, na Constituição de 1937, é introduzido o ensino profissionalizante (CUNHA, 1977). Acontece assim, neste período, uma tomada de consciência por parte da sociedade política da importância estratégica do sistema educacional para assegurar e consolidar as mudanças estruturais ocorridas (FREITAG, 1986). A educação passa a ser um meio de preparo dos cidadãos para as diversas ocupações, que naquele momento são exigidos pelos processos de urbanização e de industrialização. Socialmente, a industrialização representa a consolidação de dois componentes, a burguesia industrial e o operariado, pois, é a partir daí, que o povo começa a existir enquanto expressão política. As manifestações urbanas organizadas, retratavam de forma mais objetiva a insatisfação dos setores de classe dominada (RIBEIRO, 1987). Por outro lado, as mudanças que se observam no quadro social e urbano, em decorrência do processo de industrialização, da organização das classes empresariais e dos assalariados urbanos, impulsionam o movimento da previdência social e a expansão dos programas de assistência à saúde, ampliando-se assim, a demanda desses serviços de atenção ao doente (FREITAS, 1990). 25 Referências Bibliográficas ALMEIDA,M.C.P. O saber de enfermagem e sua dimensão prática . São Paulo:Cortez,1986 BRASIL, Leis, etc. Lei 5.905, de 12 de julho de 1973. Dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 13 de julho de 1973. Seção I, p. 6.825. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Documentos Básicos de Enfermagem. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO. Home-page. GEOVANINI, T . et al. História da enfermagem: versões e interpretações. Rio de Janeiro:Revinter , 2002. LOUZEIRO,J.A.N.A brasileira que venceu a guerra.Rio de Janeiro:Mondrian,2002 MOREIRA, A escola de Enfermagem Alfredo Pinto- 100 anos de história. Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado, Universidade do Rio de Janeiro- UNIRIO, 1990. SEYMER, L. Florence Nightingale.São Paulo: Melhoramentos, s/d. TURKIEWICZ, Maria. História da Enfermagem. Paraná, ETECLA, 1995. 26 Anexos Florence Nightingale 27 28 Ana Neri
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