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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS - DEPARTAMENTO DE QUÍMICA QUÍMICA EXPERIMENTAL - 207 ENGENHARIA QUÍMICA CALOR DE DISSOLUÇÃO Acadêmicos: RA: Giovana Junges Pattaro 124833 Laura Andrade da Mota 123511 Maria Fernanda Rodrigues 125149 Pedro Antonio Galacci Reinert 125101 Prof. Paulo Cesar S. Pereira MARINGÁ 2023 1 - INTRODUÇÃO 1.1 – Fundamentação teórica O calor é um dos conceitos base da físico-química, que consiste na energia térmica que se transfere de um corpo para outro devido a diferença de temperatura entre eles. Segundo a primeira lei da termodinâmica a energia interna (U) é igual ao calor (Q) somado ao trabalho (W): (1)𝑑𝑈 = 𝑑𝑄 + 𝑑𝑊 Analogamente, o trabalho é a subtração do calor da energia interna, e pode ser definido como a transferência da energia entre um corpo e sua vizinhança, ou, através da seguinte equação: (2)𝑑𝑊 = − 𝑃 · 𝑑𝑉 Com isso, substituindo a Equação (2) em (1), podemos dizer que a energia interna, energia total do sistema, pode ser dada pela seguinte expressão: (3)𝑑𝑈 = 𝑑𝑄 − (𝑃 · 𝑑𝑉) Se considerado o volume do sistema constante, temos que sua variação é nula, dV = 0, logo, a Equação (3) pode ser reescrita como: (4)𝑑𝑈 = 𝑑𝑄 Além disso, como entalpia (H) é a quantidade máxima de energia do sistema que pode ser transferida como calor, à pressão constante, e é dita pela fórmula: (5)𝐻 = 𝑈 + 𝑃𝑉 Considerando a pressão constante, ou seja, dP = 0, podemos reescrever a Eq. (3) da seguinte maneira: (6)𝑑𝑄 = 𝑑(𝑈 + 𝑃𝑉) E, substituindo a Equação (5) na (6), temos: (7)𝑑𝑄 = 𝑑𝐻 Porém, podemos também determinar esses conceitos básicos levando em conta que a variação da entalpia é igual ao calor absorvido: (8)∆𝐻 = 𝑄 𝑝 e temos que: (9)𝐶 𝑝 · 𝑑𝑇 = 𝑄 𝑃 Conseguimos determinar o valor da entalpia através da capacidade calorífica da matéria a pressão constante: (9)𝐶 𝑝 = 𝑄 𝑃 𝑑𝑇 Assim como podemos fazer esse mesmo processo para determinar a energia interna através da capacidade calorífica a volume constante: (10)𝐶 𝑉 = 𝑄 𝑉 𝑑𝑇 Por fim, podemos citar outro importante conceito da físico química, a energia de Gibbs (G) é a energia útil do sistema que é usada para realizar trabalho, dada pela expressão: (11)𝐺 = 𝐻 − 𝑇 · 𝑆 E, sua relação com a energia interna é dada pela substituição de (5) em (11), a qual resulta em: (12)𝐺 = 𝑈 + (𝑃 · 𝑉) − (𝑇 · 𝑆) O calor de dissolução é a variação de entalpia na dissolução de 1 mol da substância em solvente suficiente para que a solução seja diluída. A entalpia de dissolução é subdividida em calor integral, diferencial, de diluição e diferencial de dissolução na saturação. O calor diferencial da dissolução é o calor absorvido quando uma certa quantidade de soluto se dissolve em uma quantidade de solução, onde esta não apresenta mudança significativa na concentração. Calor integral é o calor liberado ou absorvido quando um mol de soluto se dissolve em uma certa quantidade de solvente suficiente para uma dissolução de concentração desejada. Calor de diluição é o calor extraído das vizinhanças quando se adiciona mais solvente a uma solução. O calor de dissolução pode ser calculado utilizando a variação de calor no processo de dissolução de um soluto para compor a solução saturada através da seguinte equação: (13) 𝑑𝑙𝑛𝑆 𝑑( 1 /𝑇) = −∆𝐻° 𝑑𝑖𝑠 𝑅 onde, é a entalpia de dissolução, S a solubilidade do soluto, T a temperatura e R a∆𝐻° 𝑑𝑖𝑠 constante universal dos gases. A partir dessas informações será possível determinar o calor diferencial de dissolução do ácido benzóico em água observando a sua solubilidade em diferentes temperaturas, comparando-as. Além desses conceitos, temos a constante de equilíbrio, que relaciona as concentrações dos reagentes e do produto quando ocorre o equilíbrio. O é o valor das constantes de𝐾 𝑐 equilíbrio em uma certa temperatura determinada, em função da concentração das espécies em .𝑚𝑜𝑙. 𝐿−1 Quando o sistema estudado se encontra em equilíbrio, é possível calcular o calor através da equação de Van’t Hoff, pela seguinte equação: (14) 𝑑(𝑙𝑛 𝐾 𝑐 ) 𝑑𝑇 = ∆𝐻° 𝑅𝑇2 onde é a constante de equilíbrio, ∆𝐻° a variação da entalpia e T a temperatura.𝐾 𝑐 Ademais, podemos citar também a ideia de solução ideal, que significa aquela que obedece a Lei de Raoult, a qual estabelece que a pressão de vapor do solvente sobre uma solução é igual à pressão de vapor do solvente puro multiplicada pela fração molar do solvente na solução. As soluções ideais possuem propriedades como, o calor de mistura dos componentes puros para formar a solução é zero, além disso, a variação de volume na mistura é zero. Para uma solução composta por um solvente volátil e um soluto não volátil, a pressão de vapor no equilíbrio líquido-vapor para o solvente puro é maior que a pressão de vapor no equilíbrio líquido-vapor para a solução, na mesma temperatura. Para finalizar, a respeito do composto utilizado nesse experimento, o ácido benzóico, sabe-se que é um composto aromático, que possui fórmula molecular C7H6O2, e pertence ao grupo dos ácidos carboxílicos. É pouco tóxico, possui ponto de fusão de 122,4°C e ponto de ebulição de 149,2°C ademais, se apresenta como um sólido incolor cristalino cuja estrutura molecular é a representada abaixo: Figura 1 - Representação da estrutura molecular do ácido benzóico. Fonte: Autoria própria, 2023. 1.2 – Objetivos Os objetivos dessa prática foram determinar o calor de dissolução por medidas calorimétricas, determinar o calor em sistemas em equilíbrio e observar a constante de solubilidade e sua dependência com a temperatura. 2 - PROCEDIMENTOS a) Inicialmente, foram colocados 8,01 g de ácido benzóico em 400 mL de água. A mistura foi colocada em um béquer grande (o qual foi parcialmente submerso em água sob aquecimento) e aquecida por bico de bunsen e agitador magnético até que chegasse a 80oC. b) Utilizando um funil com lã de vidro previamente aquecido com água destilada, foram retiradas 7 amostras de 10 mL (cada uma com uma temperatura, começando em 60oC e decaindo de 5 em 5 graus, até 30oC) e colocadas em béqueres menores, também aquecidos. Nessa etapa, é importante que os materiais utilizados estejam em uma temperatura elevada para evitar a cristalização do ácido benzóico, caso contrário, a concentração de ácido seria diferente em cada amostra. c) Aproximadamente 3 gotas de indicador ácido-base (fenolftaleína) foram adicionadas às amostras. Em seguida, o béquer com a amostra de maior temperatura foi colocado sob uma bureta que continha uma solução de NaOH. A bureta gotejou até que a solução de ácido ficasse rosada e então o volume da solução básica utilizado foi aferido. O processo repetiu-se para todas as amostras. d) Entre cada parte do experimento, os instrumentos utilizados foram lavados com água destilada e aquecidos novamente para a reutilização. Não houve recuperação do ácido após a neutralização para a continuidade do experimento. 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO Com o intuito de determinar o calor de dissolução do ácido benzóico, C7H6O2, pelo método da solubilidade, foi realizada a titulação de alíquotas de 10 mL de uma solução aquosa contentando tal ácido a diferentes temperaturas. Sendo o titulante o hidróxido de sódio, NaOH, o titulado o próprio ácido e o indicador ácido-base a fenolftaleína. Os dados referentes a temperatura absoluta na qual se encontrava a solução e ao volume de NaOH gasto na titulação estão dispostos no Quadro (1), abaixo: Quadro 1 - Dados coletados referentes às titulações realizadas. TEMPERATURA (K) VOLUME GASTO (mL) 333,15 8,6 328,15 6,9 323,15 6,5 318,15 5,5 313,15 5,1 308,15 3,7-4 303,15 3,3 Fonte: Autoria própria, 2023. Analisando os dados acima, é possível perceber que, à medida que a solução esfriava, a quantidade de base gasta para a titulação diminuía, isto pode ser explicado pelo fato de que o ácido benzóico é praticamente insolúvelem água e com a queda de temperatura a quantidade de ácido ionizado diminui. O ponto de viragem de uma titulação, que se refere ao volume gasto do titulante, é aquele no qual a quantidade em mol da base se iguala à quantidade em mol do ácido. Logo, (15)𝑛 𝑁𝑎𝑂𝐻 = 𝑛 𝐶 7 𝐻 6 𝑂 2 A solução de NaOH utilizada possuía concentração molar (C) de 0,1 mol.L-1, então tem-se que: (16)𝑛 𝑁𝑎𝑂𝐻 = 𝐶 𝑁𝑎𝑂𝐻 . 𝑉 Sendo V o volume gasto na titulação em litros (L). Dessa forma, o número de mols de ácido benzóico é: (17)𝑛 𝐶 7 𝐻 6 𝑂 2 = 𝐶 𝑁𝑎𝑂𝐻 . 𝑉 O processo de dissolução do ácido benzóico ocorreu a pressão constante, isto significa que o calor envolvido é igual à variação de entalpia: (18)𝑞 = ∆𝐻 Para obter o calor de dissolução do ácido benzóico, utiliza-se a seguinte relação que é obtida a partir da equação de Van’t Hoff: (19)𝑙𝑛(𝑀) = −∆𝐻 𝑑𝑖𝑠𝑠 ° 𝑅 𝑇 + 𝑐 Sendo M a molalidade em mol.kg-1, a variação de entropia molar padrão de∆𝐻 𝑑𝑖𝑠𝑠 ° dissolução em J.mol-1, R a constante universal dos gases, a qual vale 8,314 J.mol-1.K-1, T a temperatura em kelvin (K) e c uma constante qualquer. Dessa forma, ao plotar um gráfico de ln(M) versus T-1 e realizar a sua linearização, obtém-se a relação: (20) 𝑙𝑛(𝑀) = −∆𝐻 𝑑𝑖𝑠𝑠 ° 𝑅 . 1 𝑇 + 𝑐 ⇔ 𝑦(𝑥) = 𝑎𝑥 + 𝑏 é: A molalidade (M) é definida como a razão entre o número de mols do soluto e a massa do solvente em quilograma. O soluto é o ácido benzóico cujo número de mols é dado pela Eq. (3). O solvente é a água cuja massa específica foi considerada constante e igual a 1 g.mL-1 e, como o volume das alíquotas foi de 10 mL, tem-se que a massa do solvente (21)𝑚 𝐻 2 𝑂 = 1 𝑔𝑚𝐿 . 10 𝑚𝐿. 1 𝑘𝑔 1000 𝑔 = 0, 01 𝑘𝑔 A partir dos dados do quadro (1) e das relações envolvendo a molalidade, a seguinte tabela é construída: Quadro 2 - Dados referentes às molalidades do ácido benzóico em diferentes temperaturas. M (mol/kg) ln(M) T (K) T-1 (K-1) 0,086 -2,453407983 333,15 0,003001651 0,069 -2,673648774 328,15 0,003047387 0,065 -2,733368009 323,15 0,003094538 0,055 -2,900422094 318,15 0,003143171 0,051 -2,975929646 313,15 0,003193358 0,037 -3,296837366 308,15 0,003245173 0,033 -3,411247718 303,15 0,003298697 Fonte: Autoria própria, 2023. Com isso, é feita a plotagem de um gráfico de ln(M) versus T-1: Figura 2 -gráfico de ln(M) versus T–1. Fonte: Autoria própria, 2023. É possível observar um comportamento decrescente no gráfico o que já era esperado, visto que o número de mols de ácido benzóico ionizados diminui conforme a temperatura diminui, pois a solubilidade deste caí também. Isto é provado pelo fato de que a menores temperaturas o volume de NaOH gasto na titulação é menor. Realizando a linearização do gráfico, é obtida a seguinte equação de reta: (22)𝑦(𝑥) = − 3153, 9248 𝑥 + 7, 00245 Logo, pela equação acima, o coeficiente angular (a) vale -3153,9248 e o coeficiente linear (b) vale 7,00245. Pela relação mostrada na Eq. (20), tem-se que: (23)𝑎 = −∆𝐻 𝑑𝑖𝑠𝑠 ° 𝑅 ⇔ ∆𝐻𝑑𝑖𝑠𝑠 ° = − 𝑎. 𝑅 Dessa forma, pode-se calcular a variação da entropia molar padrão de dissolução do ácido benzóico a qual, como o processo ocorreu a pressão constante, corresponde ao calor de dissolução: (24) ∆𝐻 𝑑𝑖𝑠𝑠 ° = − (− 3153, 9248). (8, 314) = 26221, 73 𝐽. 𝑚𝑜𝑙−1 = 26, 22173 𝑘𝐽. 𝑚𝑜𝑙−1 Um valor de 26,2273 kJ.mol-1 para o calor de dissolução do ácido benzóico é aceitável, visto que foram feitas várias considerações para chegar em tal valor, como: a solução foi considerada ideal, algo que só acontece quando a fração molar do soluto tende a zero, logo, se as alíquotas fossem mais diluídas, os resultados poderiam ter sido melhores e a massa específica da água no intervalo de temperatura correspondente ao experimento, de 60 °C até 30 °C, foi considerada constante, porém sabe-se que o volume da água varia com a temperatura, logo, a sua massa específica não é constante. Inclusive, há também possíveis erros experimentais, como equívocos envolvendo a titulação e também sobre a medição da temperatura, pois foi utilizado um termômetro digital o qual não possui muita precisão e como há várias trocas térmicas no processo, não tinha como garantir que as alíquotas estavam exatamente naquela temperatura. 4 - CONCLUSÃO Com a realização desta prática experimental, foi possível aplicar vários conceitos de físico-química e também chegar a um valor para o calor de dissolução do ácido benzóico. Por meio da titulação de alíquotas de soluções aquosas deste ácido a diferentes temperaturas, utilizando o método da solubilidade, pode-se aplicar os conhecimentos acerca do equilíbrio químico em soluções ideais. Desta forma, foi obtido um valor satisfatório para o calor de dissolução dada às condições experimentais. Com isso, pode-se concluir que os objetivos deste experimento foram alcançados. 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Apostila de Química Experimental, UEM, 2022. 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