Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 1 
 
PMSUS - Oficina 04 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E FEMINICÍDIO 
1) DEFINIR O FEMINICÍDIO E VIOLÊNCIA CONTRA 
MULHER; 
Diana Russel, ativista feminista e escritora, empregou 
pela primeira vez o termo “femicide”, originalmente 
em inglês, em 1976, no primeiro Tribunal Internacional 
sobre Crimes contra as mulheres, em Bruxelas, na 
Bélgica. Este evento reuniu cerca de quarenta países 
com um público estimado de duas mil mulheres. Este 
evento foi um marco na luta feminina, neste foram 
denotados os crimes cometidos contra as mulheres em 
diversos países. 
Diana Russel define femicídio como "a matança de 
fêmeas por homens porque elas são mulheres" e cita 
alguns exemplos de femicídio: Incluem o 
apedrejamento até a morte de mulheres (que eu 
considero uma forma de femicídio de tortura); 
assassinatos de mulheres para a chamada "honra"; 
assassinatos de estupro; assassinatos de mulheres e 
meninas por maridos, namorados e namorados, por ter 
um caso, ser rebelde ou qualquer outro tipo de 
desculpa; matar a mulher por imolação por causa de 
muito pouco dote; mortes como resultado de 
mutilações genitais; escravas sexuais femininas, 
mulheres traficadas e mulheres prostituídas, 
assassinadas por seus "donos", traficantes, "johns" e 
proxenetas, e fêmeas mortas por desconhecidos 
misóginos, conhecidos e serial killers. 
Em 1994, a antropóloga Marcela Lagarde Y de los 
Ríos, inspirada nos trabalhos teóricos de Diana Russell, 
propôs o emprego do termo Feminicídio, em 
substituição de femicídio. 
Para Marcela Lagarde, o feminicídio não é apenas 
uma violência exercida por homens contra mulheres, 
mas por homens em posição de supremacia social, 
sexual, jurídica, econômica, política, ideológica e de 
todo tipo, sobre mulheres em condições de 
desigualdade, de subordinação, de exploração ou de 
opressão, e com a particularidade da exclusão. 
Segundo a antropóloga mexicana, o feminicídio pode 
ser praticado pelo atual ou ex-parceiro da vítima, 
parente, familiar, colega de trabalho, desconhecido, 
grupos de criminosos, de modo individual ou serial, 
ocasional ou profissional. E concorre de forma 
criminosa o silêncio, a omissão e a negligência por 
parte das autoridades encarregadas de prevenir e 
erradicar esses delitos 
Francisco Dirceu Barros (2015), conceitua feminicídio 
como: O feminicídio pode ser definido como uma 
qualificadora do crime de homicídio motivada pelo 
ódio contra as mulheres, caracterizado por 
circunstâncias específicas em que o pertencimento da 
mulher ao sexo feminino é central na prática do delito. 
Entre essas circunstâncias estão incluídos: os 
assassinatos em contexto de violência 
doméstica/familiar, e o menosprezo ou discriminação 
à condição de mulher. Os crimes que caracterizam a 
qualificadora do feminicídio reportam, no campo 
simbólico, a destruição da identidade da vítima e de 
sua condição de mulher. 
O feminicídio nada mais é do que a qualificadora do 
crime de homicídio e configura-se por ser o assassinato 
de mulher por razões de gênero, somando-se a 
condição de estar presente a violência doméstica e 
familiar ou menosprezo e discriminação à condição de 
mulher. 
Feminicídio é um termo utilizado para designar o 
assassinato de mulheres pelo fato de serem mulheres, 
trata-se de um crime de ódio baseado no gênero. 
Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela 
condição de ser mulher, motivado geralmente por 
ódio, desprezo ou o sentimento de perda do controle e 
da propriedade sobre as mulheres. A Lei do Feminicídio 
(Lei 13.104, de 9 de março de 2015) qualificou o crime 
de homicídio quando ele é cometido contra a mulher 
por razões da condição de sexo feminino. Considera-se 
que há razões de condição de sexo feminino quando o 
crime envolve violência doméstica e familiar e 
menosprezo ou discriminação à condição de mulher. A 
lei incluiu também o feminicídio no rol dos crimes 
hediondos. 
2) DEFINIR VIOLÊNCIA DE GÊNERO; 
A violência de gênero é fruto de um processo 
histórico, que possui como origem nas categorias de 
gênero, classe, raça e suas relações com o poder. O 
conceito de violência de gênero perpassa por toda e 
qualquer conduta baseada no gênero, que cause ou 
que seja passível de causar morte, dano ou sofrimento. 
Tal conduta pode ser tanto no âmbito físico, sexual, 
bem como no psicológico, tanto na esfera pública 
como na privada. 
A definição de gênero relaciona-se, portanto, com 
características da cultura atribuídas a cada um dos 
sexos, baseando-se em uma construção cultural para a 
definição de ser homem e ser mulher em uma 
determinada sociedade. O que é estabelecido pela 
cultura como masculino só pode ser aferido partindo-
se do feminino, e vice-versa, determinando-se os 
modelos de masculinidade e feminilidade que serão 
adotados como padrão dentro de uma sociedade. O 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 2 
 
que legitima essa diferenciação de papéis no gênero 
são valores associados à divisão sexual nas esferas 
pública e privada. 
O gênero considera as dissemelhanças biológicas 
entre os sexos, reconhece a desigualdade, mas não 
permite que isto seja utilizado para justificar a violência 
contra as mulheres, ou, para a exclusão, para a 
desigualdade de oportunidade no trabalho, na 
educação e na política. Diante disso, o gênero 
determina tudo o que é cultural, social e 
historicamente determinado. 
“Gênero” surgiu de uma categoria de análise das 
ciências sociais para questionar na essência a diferença 
dos sexos, a ideia de que mulheres são passivas, 
emocionais e frágeis; homens são ativos, racionais e 
fortes. 
Na perspectiva de gênero, essas características são 
resultado de uma situação política, histórica e cultural. 
Deste modo, não existe naturalmente o gênero 
masculino e feminino. Gênero é uma categoria 
relacional do feminino e do masculino. 
O termo gênero considera as diferenças biológicas 
existentes entre os sexos, há um reconhecimento da 
desigualdade e não admite que esta diferença seja uma 
justificativa para a desigualdade de oportunidades e a 
prática da violência. Trata-se de um instrumento de 
poder para compreender as relações sociais entre o 
homem e a mulher. 
3) DISCUTIR A EPIDEMIOLOGIA DA VIOLÊNCIA CONTRA 
MULHER; 
Pesquisa realizada no ano de 2021: 
→ A violência contra as mulheres durante a pandemia 
• 1 em cada 4 mulheres brasileiras (24,4%) acima de 16 
anos afirma ter sofrido algum tipo de violência ou 
agressão nos últimos 12 meses, durante a pandemia 
de covid-19. Isso significa dizer que cerca de 17 
milhões de mulheres sofreram violência física, 
psicológica ou sexual no último ano. 
• Na comparação com a pesquisa de 2019, verificamos 
um leve recuo do percentual de mulheres que 
relataram ter sofrido violência, mas dentro da 
margem de erro da pesquisa, que é de 3 pontos para 
mais ou para menos (27,4% em 2019 e 24,4% em 
2021), configurando estabilidade. 
• 5 em cada 10 brasileiros (51,1%) relataram ter visto 
uma mulher sofrer algum tipo de violência no seu 
bairro ou comunidade ao longo dos últimos 12 
meses. 
• 73,5% da população brasileira acredita que a 
violência contra as mulheres cresceu durante a 
pandemia de covid-19. 
→ Principais mudanças na rotina da população 
(homens e mulheres) em função da pandemia de 
covid-19 
• 52,6% afirmam que permaneceram mais tempo em 
casa. 
• 48,0% afirmam que a renda da família diminuiu. 
• Para 44,4%, o período da pandemia de covid-19 
significou também momentos de mais estresse no lar. 
• 40,2% informaram que os filhos tiveram aulas 
presenciais interrompidas. 
• 33,0% perderam o emprego. 
• 30,0% tiveram medo de não conseguir pagar as 
contas. 
→ Mudanças na rotina foram sentidas de forma 
desigual por homens e mulheres 
• Mulheres reportaram níveis mais altos de estresse 
em casa emfunção da pandemia (50,9% em 
comparação com 37,2% dos homens) e 
permaneceram mais tempo em casa, fato 
provavelmente vinculado aos papéis de gênero 
tradicionalmente desempenhados, dado que 
historicamente cabe às mulheres o cuidado com o lar 
e os filhos, o que aumenta a sobrecarga feminina com 
o trabalho doméstico e com a família. 
• 25,9% dos entrevistados afirmaram que passaram a 
desempenhar trabalho remoto em função da 
pandemia, sem diferenças nos percentuais para 
homens e mulheres. Este dado ilumina a discussão 
sobre a influência da pandemia e do isolamento social 
como motor da violência de gênero, já que os índices 
de isolamento social permaneceram baixos e o 
trabalho remoto restrito a camadas mais abastadas 
da população. No caso das mulheres, 
especificamente, o trabalho remoto está 
concentrado naquelas com nível superior (41%), das 
classes A e B (45% e 37%). 
• 14,4% da população afirma ter passado a consumir 
mais bebidas alcoólicas no último ano, valor 
ligeiramente superior à média foi observado entre os 
homens (17,6%). O dado preocupa já que o consumo 
abusivo de bebidas alcóolicas é fator de risco em 
situações de violência doméstica. 
→ Precarização das condições de vida no último ano 
é maior entre as mulheres que sofreram violência 
• 61,8% das mulheres que sofreram violência no último 
ano afirmaram que a renda familiar diminuiu neste 
período. Entre as que não sofreram violência este 
percentual foi de 50%. 
• 46,7% das mulheres que sofreram violência também 
perderam o emprego. A média entre as que não 
sofreram violência foi de 29,5%. 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 3 
 
• Não se verifica diferenças entre as respostas de 
mulheres vítimas de violência e as demais sobre o 
tempo de permanência em casa, mas as que sofreram 
violência relatam níveis ainda maiores de stress 
(68,2%) do que entre as que não sofreram violência 
(51,0%). 
• Mulheres que sofreram violência passaram a 
consumir mais bebida alcoólica (16,6%) do que as que 
não sofreram (10,4%). 
→ Violências sofridas pelas brasileiras de 16 anos ou 
mais durante a pandemia de covid-19 
• 4,3 milhões de mulheres (6,3%) foram agredidas 
fisicamente com tapas, socos ou chutes. Isso significa 
dizer que a cada minuto, 8 mulheres apanharam no 
Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. 
• O tipo de violência mais frequentemente relatado foi 
a ofensa verbal, como insultos e xingamentos. Cerca 
de 13 milhões de brasileiras (18,6%) experimentaram 
este tipo de violência. 
• 5,9 milhões de mulheres (8,5%) relataram ter sofrido 
ameaças de violência física como tapas, empurrões 
ou chutes. 
• Cerca de 3,7 milhões de brasileiras (5,4%) sofreram 
ofensas sexuais ou tentativas forçadas de manter 
relações sexuais. 
• 2,1 milhões de mulheres (3,1%) sofreram ameaças 
com faca (arma branca) ou arma de fogo. 
• 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou 
sofreram tentativa de estrangulamento (2,4%). 
→ A vítima 
• Em relação ao perfil, verifica-se que quanto mais 
jovem, maior a prevalência de violência, sendo que 
35,2% das mulheres de 16 a 24 anos relataram ter 
vivenciado algum tipo de violência, 28,6% das 
mulheres de 35 a 34 anos, 24,4% das mulheres de 35 
a 44 anos, 19,8% das mulheres de 45 a 59 anos e 
14,1% das mulheres com 60 anos ou mais. 
• Em relação ao perfil racial, mulheres pretas 
experimentaram níveis mais elevados de violência 
(28,3%) do que as pardas (24,6%) e as brancas 
(23,5%). 
• Mulheres separadas e divorciadas apresentaram 
níveis mais elevados de vitimização (35%) do que em 
comparação com casadas (16,8%), viúvas (17,1%) e 
solteiras (30,7%), o que se acentua com o aumento 
da gravidade/intensidade da violência física. A 
tentativa de rompimento com o agressor e histórias 
repetidas de violências são fatores de vulnerabilidade 
que podem aumentar as chances de mulheres serem 
mortas por seus parceiros íntimos, o que revela que a 
separação é, ao mesmo tempo, a tentativa de 
interrupção da violência, mas também o momento 
em que ela fica mais vulnerável. 
→ Companheiros, ex-companheiros e familiares são 
os principais autores de violência 
• 72,8% dos autores das violências sofridas são 
conhecidos das mulheres, com destaque para os 
cônjuges/companheiros/namorados (25,4%), ex-
cônjuges/excompanheiros/ex-namorados (18,1%); 
pais/mães (11,2%), padrastos e madrastas (4,9%), e 
filhos e filhas (4,4%), indicando alta prevalência de 
violência doméstica e intrafamiliar. 
→ O lar é o espaço mais inseguro para a mulher 
• A residência segue como o espaço de maior risco para 
as mulheres e 48,8% das vítimas relataram que a 
violência mais grave vivenciada no último ano 
ocorreu dentro de casa, percentual que vem 
crescendo. A rua aparece em 19,9% dos relatos, e o 
trabalho aparece como o terceiro local com mais 
incidência de violência com 9,4%. 
→ O que fizeram depois da violência sofrida: 
• 44,9% das mulheres não fizeram nada em relação à 
agressão mais grave sofrida. 
• 21,6% das mulheres procuraram ajuda da família, 
com considerável aumento em relação aos anos 
anteriores, 12,8% procuraram ajuda dos amigos, e 
8,2% procuraram a Igreja. 
• 11,8% denunciaram em uma delegacia da mulher, 
7,5% denunciaram em uma delegacia comum, 7,1% 
das mulheres procuraram a Polícia Militar (190), 2,1% 
ligaram para a Central de Atendimento à Mulher 
(Ligue 180). 
• Entre as mulheres que não procuraram a polícia, 
32,8% delas afirmaram que resolveram a situação 
sozinhas, 15,3% não quiseram envolver a polícia e 
16,8% não consideraram importante fazer a 
denúncia. 
→ O que pensam as mulheres vítimas sobre a sua 
própria experiência com a violência 
• 25,1% das mulheres que sofreram violência durante 
a pandemia destacaram que a perda de emprego e 
renda e impossibilidade de trabalhar para garantir o 
próprio sustento são os fatores que mais pesaram 
para a ocorrência de violência que vivenciaram; 
• 21,8% afirmam que a maior convivência com o 
agressor em função da pandemia de covid-19 
também contribuiu. 
 
 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 4 
 
→ Pandemia e restrição de circulação não reduziram 
casos de assédio sexual 
• 37,9% das brasileiras foram vítimas de algum tipo de 
assédio sexual nos últimos 12 meses, o que equivale 
a 26,5 milhões de mulheres. 
• Assédio mais frequente são as cantadas ou 
comentários desrespeitosos quando estavam 
andando na rua, o que atingiu 31,9% das mulheres 
(22,3 milhões). 
• Ambiente de trabalho e transporte público são 
ambientes mais hostis e propícios ao assédio às 
mulheres do que festas e baladas. 8,9 milhões 
(12,8%) receberam cantadas ou comentários 
desrespeitosos no ambiente de trabalho e 5,5 
milhões de mulheres (7,9%) foram assediadas em 
transportes público, como ônibus, metrô ou trem. 
• 3,9 milhões de brasileiras (5,6%) sofreram assédio 
físico durante uma balada/festa, com abordagem 
agressiva e contra a sua vontade. 
• 3,7 milhões de mulheres (5,4%) foram agarradas ou 
beijadas sem consentimento 
• Quanto ao perfil etário, 73,0% das mulheres entre 16 
e 24 anos foram vítimas de algum tipo de assédio no 
último ano, seguido por 46,8% das mulheres na faixa 
etária de 25 a 34 anos; 36,5% das mulheres entre 35 
e 44 anos, 22,3% das mulheres na faixa de 45 a 59 
anos e 13,3% das mulheres acima dos 60 anos. 
• Quanto ao perfil racial, 52,2% das mulheres pretas no 
Brasil sofreram assédio nos últimos 12 meses, 40,6% 
das mulheres pardas e 30% das mulheres brancas. A 
desigualdade racial, aqui, fica evidente: enquanto 
mais da metade das mulheres pretas brasileiras 
foram assediadas no último ano, o número cai para 
quase 1/3 das mulheres brancas. 
Pesquisa 2020 com base nos registros oficiais: 
Em todos os estados para os quais obtivemos os 
dados foi verificada redução dos registros de lesão 
corporal dolosaem decorrência de violência doméstica 
no período de março e abril de 2020. A redução média 
para março e abril de 2020 em relação ao mesmo 
período de 2019 é de 25,5%, o que coincide com o 
padrão verificado na Itália e em cidades dos EUA, onde 
as mulheres encontraram mais dificuldade de se 
deslocar para a delegacia. 
O crescimento no número de feminicídios registrados 
nos 12 estados analisados foi de 22,2%, saltando de 
117 vítimas em março/abril de 2019 para 143 vítimas 
em março/abril de 2020. No Acre o crescimento 
chegou a 300%, passando de 1 para 4 vítimas este ano; 
no Maranhão o crescimento foi de 166,7%, de 6 para 
16 vítimas; no Mato Grosso o crescimento foi de 150%, 
passando de 6 para 15 vítimas. Apenas três UFs 
registraram redução no número de feminicídios no 
período, Minas Gerais (-22,7%), Espírito Santo (-50%), 
e Rio de Janeiro (-55,6%). 
A maior parte das vítimas de estupro é do sexo 
feminino (82%) e vulneráveis (64%), ou seja, a vítima 
tem menos de 14 anos, considerada juridicamente 
incapaz para consentir relação sexual, ou pessoa 
incapaz de oferecer resistência, independentemente 
de sua idade, como alguém que esteja sob efeito de 
drogas, enfermo ou ainda pessoa com deficiência, 
como determina a Lei 12.015/09. Outra informação 
importante para compreender a violência sexual no 
Brasil diz respeito ao vínculo do agressor com as 
vítimas, já que em 76% dos casos o autor era 
conhecido. Considerando que mais da metade das 
vítimas são crianças (54% tinham no máximo 13 anos), 
estas informações indicam um quadro preocupante de 
violência doméstica e intrafamiliar, ainda mais em um 
período em que as crianças não estão frequentando a 
escola, local em que muitas vezes essas violências são 
percebidas pelos professores e outros profissionais da 
educação. 
Outro elemento a ser considerado na análise dos 
registros de estupro é a baixa taxa de notificação 
destes crimes à polícia. No Brasil, a última pesquisa 
nacional de vitimização estimou que cerca de 7,5% das 
vítimas de violência sexual notificam a polícia. Os 
principais motivos apontados para a baixa notificação 
da violência sexual são o medo da retaliação por parte 
do agressor, descrédito nas instituições de justiça e 
segurança pública, vergonha e mesmo sentimento de 
culpa. 
A redução dos registros de estupro e estupro de 
vulnerável nas delegacias de polícia durante a 
pandemia é muito preocupante pois pode não indicar 
redução destas violações, mas, pelo contrário, que as 
vítimas não estão conseguindo chegar até a polícia 
para denunciar o crime. Os dados coletados junto aos 
estados indicam redução de 28,2% nos registros de 
ocorrência, com alta concentração no mês de abril, 
período em que todos os estados já viviam medidas de 
isolamento social. Apenas neste mês a redução foi de 
39,3%. O único estado a apresentar crescimento dos 
registros foi o Rio Grande do Norte, que estava em fase 
de ampliação da cobertura do Sinesp (Sistema Nacional 
de Informações de Segurança Pública), o que faz com 
que, aos poucos, aumente a quantidade de delegacias 
capazes de inserir os dados no sistema. 
Análise dos dados da Polícia Militar do Rio de Janeiro 
refletem todos os chamados relativos à violência 
contra a mulher no período de março a abril de 2019 e 
de 2020. Em janeiro deste ano houve redução do 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 5 
 
número de acionamentos, e crescimento de fevereiro 
para cá. Em abril, período em que já vigoravam 
medidas mais restritivas de isolamento social o 
crescimento foi de 5,1%, tendência inversa a verificada 
nos registros de boletim de ocorrência no mesmo mês, 
que apontaram redução. 
OMS: 
Estimativas globais publicadas pela OMS indicam que 
aproximadamente uma em cada três mulheres (35%) 
em todo o mundo sofreram violência física e/ou sexual 
por parte do parceiro ou de terceiros durante a vida. A 
maior parte dos casos é de violência infligida por 
parceiros. Em todo o mundo, quase um terço (30%) das 
mulheres que estiveram em um relacionamento 
relatam ter sofrido alguma forma de violência física 
e/ou sexual na vida por parte de seu parceiro. 
Globalmente, 38% dos assassinatos de mulheres são 
cometidos por um parceiro masculino. 
4) CARACTERIZAR OS DIFERENTES TIPOS DE VIOLÊNCIA 
QUE A MULHER PODE SOFRER (FOCO NA VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA); 
De acordo com a Lei 11.340/2006, a violência 
doméstica é qualquer ação ou omissão baseada no 
gênero que cause à mulher morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial no âmbito da unidade doméstica, no 
âmbito da família ou em qualquer relação íntima de 
afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido 
com a ofendida, independentemente de coabitação. 
Mistifica-se quem pensa que só ocorre um tipo de 
violência contra a mulher, a física, pois esta é a mais 
divulgada, mas há diversas maneiras de violências. A 
Lei 11.340/2006, a Lei Maria da Penha traz um rol 
exemplificativo, no art. 7º, aduz que: 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta 
que ofenda sua integridade ou saúde corporal; 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer 
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da 
autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno 
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar 
suas 16 ações, comportamentos, crenças e decisões, 
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, 
manipulação, isolamento, vigilância constante, 
perseguição contumaz, insulto, chantagem, 
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir 
e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à 
saúde psicológica e à autodeterminação; 
III - a violência sexual, entendida como qualquer 
conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a 
participar de relação sexual não desejada, mediante 
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a 
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, 
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer 
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à 
gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante 
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que 
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e 
reprodutivos; 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer 
conduta que configure retenção, subtração, destruição 
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de 
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos 
ou recursos econômicos, incluindo os destinados a 
satisfazer suas necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer 
conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. 
A violência física ocorre quando o agressor se utiliza 
de força física ou arma para machucar, causar lesão na 
outra pessoa. Essa agressão pode ser feita através de 
tapas, socos, chutes, pontapés, queimaduras, 
estrangulamento, ou utilizar-se de arma. Para 
configurar a agressão física não é necessário que a 
agressão deixe marca marcas. Comumente, a violência 
contra a mulher não se inicia com a agressão física, na 
maioria dos casos, começa com a violência verbal ou 
moral, fragilizando e debilitando a vítima, para que ela 
não oponha resistência quando for praticada a 
violência física. 
A violência psicológica é a agressão mais difícil de ser 
detectada e comprovada. Trata-se de uma agressão 
emocional, não deixa marcas visíveis no corpo e sim na 
alma. Muitas vezes essa agressão é confundida com 
ciúmes, uma forma de afeto. Mas ela consiste no medo 
e a ameaça que a vítima sofre. A violência psicológica 
foi prevista na Convenção de Belém do Pará como uma 
violência contra a mulher. 
O inciso III da Lei Maria da Penha, prevê a violência 
sexual, a agressão pode ser dada por abuso sexual, 
assédio, por meio de violência física, sedução ou algum 
meio que torna inviável a defesa da vítima. Antes, a 
esposa tinha obrigação, um debito com oseu marido, 
era obrigada a satisfazer os desejos sexuais do seu 
parceiro. A violência aqui, era legitimada. Com as 
mudanças na legislação penal, tais condutas passaram 
a ser criminalizadas e 17 configuram estupro. 
A violência patrimonial ou econômica é aquela 
voltada aos objetos e documentos da vítima. O 
agressor subtrai, destrói, oculta ou retém os bens da 
mulher para os mais diversos fins, esquivar-se do 
pagamento da pensão, privar a companheira do direito 
à partilha de bens ou inibir uma separação. Em geral, 
esta violência ocorre em conjunto com a física, com a 
psicológica ou com a moral. 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 6 
 
Por último, a violência moral, esta é uma das formas 
mais usadas para dominação da mulher, por meio de 
xingamentos públicos e privados, denegrindo sua 
autoestima e expondo a mulher perante seus amigos e 
familiares, o que contribui para seu silêncio. É 
caracterizada por ações destinadas a caluniar, difamar 
ou injuriar a honra e/ou a reputação da vítima. 
Ademais, os tipos de violência de gênero não se 
restringem ao ambiente doméstico, ao âmbito familiar 
ou às relações íntimas de afeto, como trata o artigo 5º 
da Lei Maria da Penha, o qual limita a proteção às 
agressões que ocorrem nestas hipóteses. As formas de 
violência contra a mulher podem perfeitamente se 
realizar 18 sem que o autor sequer tenha uma relação 
de afeto com a vítima. Estas formas de violência não se 
produzem isoladamente, na verdade, fazem parte de 
uma sequência crescente e repetitiva de episódios. 
5) APRESENTAR AS FORMAS DE NOTIFICAÇÕES DE 
VIOLÊNCIA CONTRA MULHER; 
A descrição das características dos casos de violências 
e acidentes, que aconteciam no Brasil, até 
recentemente, se limitava às informações fornecidas 
pelos Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), 
Sistema de Informação Hospitalar do SUS (SIH/SUS) e, 
ocasionalmente, pelas análises dos boletins de 
ocorrência policial (BO) e pesquisas específicas. 
Diante dessa realidade, com a implantação do 
Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) 
em 2006, o MS ampliou o número de variáveis 
contempladas no monitoramento desses eventos que 
atingem pessoas em todos os ciclos de vida. Esse 
sistema de vigilância é constituído por dois 
componentes: 
• Componente I – Vigilância contínua (VIVA 
Contínuo/SINAN), que capta dados de violência 
interpessoal/autoprovocada em serviços de saúde. 
• Componente II – Vigilância sentinela (VIVA 
Inquérito), por meio de pesquisa por amostragem, a 
partir de informações sobre violências e acidentes 
coletadas em serviços de urgência e emergência, 
durante 30 dias consecutivos. A periodicidade da 
pesquisa era inicialmente a cada ano, bienalmente 
entre 2007 a 2011 e, a partir de então, a cada três 
anos. 
A notificação de violências contra crianças, 
adolescentes, mulheres e pessoas idosas é uma 
exigência legal, fruto de uma luta contínua para que a 
violência perpetrada contra estes segmentos da 
população saia da invisibilidade, revelando sua 
magnitude, tipologia, gravidade, perfil das pessoas 
envolvidas, localização de ocorrência e outras 
características dos eventos violentos. Diante do 
exposto torna-se necessário que os profissionais de 
saúde se atentem para a realização da notificação que 
é compulsória, ou seja, obrigatória. 
A notificação de violência pode ser feita por qualquer 
profissional de saúde, independentemente de ser 
confirmada ou não, uma simples suspeita já é motivo 
suficiente para notificar o caso. 
Todas as violências passaram a fazer parte da Lista 
Nacional das Doenças e Agravos de Notificação 
Compulsória desde a publicação da Portaria nº 104 de 
25 de Janeiro de 2011. 
Portanto, a notificação dos casos suspeitos e 
confirmados de violência é obrigatória/compulsória a 
todos os profissionais de saúde de instituições públicas 
ou privadas. Profissionais de outros setores, como 
educação, assistência social, saúde indígena, conselhos 
tutelares, centros especializados de atendimento à 
mulher, entre outros, também podem realizar a 
notificação. 
Notificação não é denuncia policial. Nos casos de 
violência contra crianças, adolescentes e idosos, nos 
quais o Conselho Tutelar e o Conselho do Idoso 
necessária e obrigatoriamente terão que ser 
acionados, respectivamente, alguns desdobramentos 
ou intervenções legais podem ocorrer. 
Para fins de notificação, deve-se notificar: Caso 
suspeito ou confirmado de violência 
doméstica/intrafamiliar, sexual, autoprovocada, 
tráfico de pessoas, trabalho escravo, trabalho infantil, 
tortura, intervenção legal e violências homofóbicas 
contra mulheres e homens em todas as idades. 
No caso de violência extrafamiliar/comunitária, 
somente serão objetos de notificação as violências 
contra crianças, adolescentes, mulheres, pessoas 
idosas, pessoas com deficiência, indígenas e população 
LGBT, independentemente do tipo e da 
natureza/forma de violência. 
Atenção: Não se notifica no SINAN-NET casos de 
violência extrafamiliar cujas vítimas sejam adultos (20 
a 59 anos) do sexo masculino, como por exemplo, 
brigas entre gangues, brigas nos estádios de futebol e 
outras. Essa modalidade de violência pode ser 
monitorada por meio de outros sistemas de 
informação e através do componente do VIVA 
Sentinela (inquérito). 
Os casos de violências que são notificáveis através do 
SINAN-NET, são feitas através da ficha de notificação 
da violência interpessoal e autoprovocada. 
Atenção: Se um evento violento envolver mais de 
uma vítima, para cada uma das vítimas deverá ser 
preenchida uma ficha de notificação individual. 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 7 
 
A periodicidade de notificação das situações de 
violência é semanal. Porém, tentativa de suicídio e 
violência sexual têm a obrigatoriedade de serem 
notificadas em até 24 horas do conhecimento do 
agravo, devido a necessidade de se tomarem medidas 
urgentes (encaminhamento para rede psicossocial e 
medidas de profilaxia das Doenças Sexualmente 
Transmissíveis e anticoncepção de emergência, 
respectivamente). 
6) CONHECER QUAIS SÃO AS MEDIDAS LEGAI S EM CASOS 
DE VIOLÊNCIA E O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA CONTRA 
A VIOLÊNCIA DE GÊNERO E FEMINICÍDIO; 
No âmbito da violência contra mulheres: 
• Lei 10.778, de 24/11/2003, estabelece a notificação 
compulsória, no território nacional, do caso de 
violência contra a mulher que for atendida em 
serviços de saúde públicos ou privados. 
• Lei 11.340 de 07/08/2006, conhecida como Lei ‘Maria 
da Penha que cria mecanismos para coibir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher 
• Política Nacional de Enfrentamento à Violência 
contra as Mulheres (2011) 
• Decreto nº 8.086, de 30 de agosto de 2013, que 
institui o Programa Mulher: Viver Sem Violência e dá 
outras providências 
• III Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013 
a 2015) 
• Lei 13.104 de 09/03/2015 que altera o art. 121 do 
Código Penal para prever o feminicídio como 
circunstância qualificadora do crime de homicídio, e 
o art. 1o da Lei no 8.072 para incluir o feminicídio no 
rol dos crimes hediondos. 
LEI Nº 13.931, DE 10 DE DEZEMBRO DE 2019 
Art. 1º O art. 1º da Lei nº 10.778, de 24 de novembro 
de 2003, passa a vigorar com as seguintes alterações: 
“Art. 1º Constituem objeto de notificação 
compulsória, em todo o território nacional, os casos em 
que houver indícios ou confirmação de violência contra 
a mulher atendida em serviços de saúde públicos e 
privados. 
§ 4º Os casos em que houver indícios ou confirmação 
de violência contra a mulher referidos no caput deste 
artigo serão obrigatoriamente comunicados à 
autoridade policial no prazo de 24 (vinte e quatro) 
horas, para as providências cabíveis e para fins 
estatísticos.” (NR) 
A LEI Nº 11.340/2006, conhecida popularmente 
como Lei Maria da Penha, entrou em vigor em2006, 
dando ao país salto significativo no combate à violência 
contra a mulher. Uma das formas de coibir a violência 
e proteger a vítima asseguradas pela norma é a 
garantia das chamadas medidas protetivas. 
Por se tratar de medida de urgência a vítima pode 
solicitar a medida por meio da autoridade policial, ou 
do Ministério Público, que encaminhará o pedido ao 
juiz. A lei prevê que a autoridade judicial deverá decidir 
o pedido (liminar) no prazo de 48 horas após o pedido 
da vítima ou do Ministério Público. 
O que são as medidas protetivas de urgência? 
Esse é um dos mecanismos criados pela lei para coibir 
e prevenir a violência doméstica e familiar, 
assegurando que toda mulher, independentemente de 
classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, 
nível educacional, idade e religião, goze dos direitos 
fundamentais inerentes à pessoa humana e tenha 
oportunidades e facilidades para viver sem violência, 
com a preservação de sua saúde física e mental e seu 
aperfeiçoamento moral, intelectual e social. 
Pela lei, a violência doméstica e familiar contra a 
mulher é configurada como qualquer ação ou omissão 
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral 
ou patrimonial. Diante de um quadro como esse, as 
medidas protetivas podem ser concedidas de imediato, 
independentemente de audiência das partes e da 
manifestação do Ministério Público, ainda que o 
Ministério Público deva ser prontamente comunicado. 
Quais são essas medidas? 
A Lei Maria da Penha prevê dois tipos de medidas 
protetivas de urgência: as que obrigam o agressor a 
não praticar determinadas condutas e as medidas que 
são direcionadas à mulher e seus filhos, visando 
protegê-los. 
Quais as medidas que obrigam o agressor? 
As medidas protetivas de urgência que obrigam o 
agressor estão previstas no art. 22 da referida Lei: 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica 
e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz 
poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto 
ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de 
urgência, entre outras: 
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, 
com comunicação ao órgão competente, nos termos 
da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003; 
II - afastamento do lar, domicílio ou local de 
convivência com a ofendida; 
III - proibição de determinadas condutas, entre as 
quais: 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das 
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância 
entre estes e o agressor; 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 8 
 
b) contato com a ofendida, seus familiares e 
testemunhas por qualquer meio de comunicação; 
c) frequentação de determinados lugares a fim de 
preservar a integridade física e psicológica da 
ofendida; 
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes 
menores, ouvida a equipe de atendimento 
multidisciplinar ou serviço similar; 
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem 
a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, 
sempre que a segurança da ofendida ou as 
circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser 
comunicada ao Ministério Público. 
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, 
encontrando-se o agressor nas condições mencionadas 
no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de 
dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo 
órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas 
de urgência concedidas e determinará a restrição do 
porte de armas, ficando o superior imediato do 
agressor responsável pelo cumprimento da 
determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes 
de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso. 
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas 
protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a 
qualquer momento, auxílio da força policial. 
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no 
que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do 
art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 
(Código de Processo Civil). 
Acrescenta-se que, quando a lei prevê a proibição de 
qualquer tipo de contato com a mulher, com seus filhos 
e com testemunhas, veda-se também o contato por 
WhatsApp ou Facebook, bem como outras redes 
sociais. 
Quais as medidas para auxílio e amparo da ofendida? 
Já as medidas para auxiliar e amparar a vítima de 
violência estão reguladas no art. 23 e 24, da Lei Maria 
da Penha. Senão, vejamos: 
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem 
prejuízo de outras medidas: 
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a 
programa oficial ou comunitário de proteção ou de 
atendimento; 
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus 
dependentes ao respectivo domicílio, após 
afastamento do agressor; 
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem 
prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos 
e alimentos; 
IV - determinar a separação de corpos. 
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da 
sociedade conjugal ou daqueles de propriedade 
particular da mulher, o juiz poderá determinar, 
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: 
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo 
agressor à ofendida; 
II - proibição temporária para a celebração de atos e 
contratos de compra, venda e locação de propriedade 
em comum, salvo expressa autorização judicial; 
III - suspensão das procurações conferidas pela 
ofendida ao agressor; 
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito 
judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da 
prática de violência doméstica e familiar contra a 
ofendida. 
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório 
competente para os fins previstos nos incisos II e III 
deste artigo. 
Cumpre destacar que, assim como as medidas que 
obrigam o agressor, as medidas direcionadas para a 
proteção da mulher e de seus filhos podem ser 
cumuladas. 
7) COMPREENDER AS FORMAS DE CUIDADO E 
ABORDAGEM A MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA NA REDE 
DE ATENÇÃO À SAÚDE (MANUAL); 
O que fazer? Acolhimento com escuta qualificada 
Quem deve fazer? equipe multiprofissional 
Atendimento humanizado: 
• Observar os princípios do respeito da dignidade da 
pessoa humana, da não discriminação, do sigilo e da 
privacidade, propiciando ambiente de confiança e 
respeito. 
• Garantir a privacidade no atendimento e a 
confidencialidade das informações. 
Vigilância do profissional com relação à sua própria 
conduta: 
• Garantir postura de não vitimização das mulheres e 
ter consciência crítica dos sentimentos para lidar com 
emoções como raiva, medo e impotência que podem 
surgir durante o atendimento das mulheres. 
• Profissionais com dificuldade de abordar o tema 
devem optar por abordagens indiretas (sem 
perguntas diretas). 
Identificação dos motivos de contato: 
Como poucas mulheres fazem queixa ativa de 
violência, perguntas diretas podem ser importantes, 
desde que não estigmatizem ou julguem-nas, para não 
se romper o interesse demonstrado pelo serviço em 
relação ao atendimento da mulher. 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 9 
 
Existem mulheres poliqueixosas, com sintomas e 
dores que não têm nome. Nesse caso, o profissional 
deve atentar para possível situação de violência. Para 
isso, existem propostas de perguntas: 
• Sabe-se que mulheres com problemas de saúde ou 
queixas similares às que você apresenta, muitas 
vezes, têm problemas de outra ordem em casa. Por 
isso, temos abordado este assunto no serviço. Está 
tudo bem em sua casa, com seu(sua) parceiro(a)? 
• Você acha que os problemas em casa estão afetando 
sua saúde ou seus cuidados corporais? 
• Você está com problemas no relacionamento 
familiar? 
• Já sentiu ou sente medo de alguém? 
• Você se sente humilhada? 
• Você já sofreu críticas em casa por sua aparência,roupas ou acessórios que usa? 
• Você e o(a) parceiro(a) (ou filho, ou pai, ou familiar) 
brigam muito? 
Informação prévia à paciente: 
• Assegurar compreensão sobre o que será realizado 
em cada etapa do atendimento (acolhimento com 
escuta qualificada, avaliação global e 
estabelecimento de plano de cuidados) e a 
importância das condutas multiprofissionais na 
rede intra e intersetorial de proteção às mulheres 
em situação de violência, respeitada sua decisão 
sobre a realização de qualquer procedimento. 
• Orientar as mulheres sobre a importância de 
registrar a ocorrência para sua proteção e da 
família, respeitando, todavia, sua opinião e desejo. 
Vale lembrar que o atendimento por parte do 
profissional de saúde deve ser realizado 
independentemente da realização de boletim de 
ocorrência. 
 
O que fazer? Avaliação global 
Quem deve fazer? equipe multiprofissional 
Entrevista: 
• Detectar situação de vulnerabilidade. 
• Identificar se a situação de violência é recorrente ou 
não (violência de repetição). 
• Identificar sinais de alerta de violência: 
I. Transtornos crônicos, vagos (inespecíficos dentro 
da nosografia médica) e repetitivos; 
II. Início tardio do pré-natal; 
III. Parceiro(a) demasiadamente atento(a), 
controlador(a) e que reage se for separado(a) da 
mulher; 
IV. Infecção urinária de repetição (sem causa 
secundária encontrada); 
V. Dor pélvica crônica; 
VI. Síndrome do intestino irritável; 
VII. Complicações em gestações anteriores, aborto de 
repetição; 
VIII. Depressão; 
IX. Ansiedade; 
X. Transtorno do estresse pós-traumático; 
XI. História de tentativa de suicídio ou ideação 
suicida; 
XII. Lesões físicas que não se explicam como 
acidentes. 
• Observar possibilidade de violência entre parceiros 
íntimos. Vale lembrar que essas situações não são 
necessariamente verbalizadas pelas mulheres, 
devido a: sentimento de vergonha ou 
constrangimento; receio por sua segurança ou pela 
segurança de seus filhos(as); experiências 
traumáticas prévias ou expectativa de mudança de 
comportamento por parte do(a) agressor(a); 
dependência econômica ou afetiva de parceiro(a); 
desvalorização ou banalização de seus problemas; 
e/ou cerceamento da liberdade pelo parceiro(a). 
• Se houver situação de risco de vida, fornecer 
informações sobre como estabelecer um plano de 
segurança 
 
O que fazer? Avaliação global 
Quem deve fazer? Médico/Enfermeiro 
Exame físico geral 
Exame físico específico: 
• Atentar para recusa ou dificuldade no exame 
ginecológico de rotina (ver capítulo Prevenção do 
Câncer de Colo do Útero). 
• Observar se há presença de ferimentos que não 
condizem com a explicação de como ocorreram. 
• Realizar inspeção detalhada de partes do corpo que 
podem revelar sinais de violência: troncos, membros 
(inclusive parte interna das coxas), nádegas, cabeça e 
pescoço, não se esquecendo das mucosas (inclusive 
genitais), orelhas, mãos e pés. 
 
O que fazer? Plano de cuidados 
Quem deve fazer? Médico/Enfermeiro 
Dispensação e administração de medicamentos para 
profilaxias indicadas: 
• Para evitar a revitimização e a perda do vínculo com 
a mulher, é recomendável que a AB identifique a 
situação de violência sexual, administre a 
anticoncepção hormonal de emergência (AHE) e 
acompanhe-a até um serviço especializado para 
receber todas as profilaxias e tratamentos indicados. 
 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 10 
 
Estabelecimento de plano de segurança para 
mulheres com risco de vida: 
• Construir, junto com a mulher em situação de 
violência, plano de segurança baseado em quatro 
passos: 
I. Identificar um ou mais vizinhos para o(s) 
qual(is) a mulher pode contar sobre a violência, 
para que ele(s) a ajude(m) se ouvir(em) brigas 
em sua casa, fazendo acordos com algum(a) 
vizinho(a) em quem possa confiar para 
combinar um código de comunicação para 
situações de emergência, como: “Quando eu 
colocar o pano de prato para fora da janela, 
chame ajuda”. 
II. Se a briga for inevitável, sugerir que a mulher 
certifiquese de estar em um lugar onde possa 
fugir e tente não discutir na cozinha ou em 
locais em que haja possíveis armas ou facas. 
III. Orientar que a mulher cogite planejar como 
fugir de casa em segurança, e o local para onde 
ela poderia ir nesse caso. 
IV. Orientar que a mulher se preocupe em 
escolher um lugar seguro para manter um 
pacote com cópias dos documentos (seus e de 
seus filhos), dinheiro, roupas e cópia da chave 
de casa, para o caso de ter de fugir 
rapidamente. 
Atividade de Vigilância em Saúde: 
• Preencher a ficha de notificação de violência 
interpessoal e autoprovocada a partir da suspeita ou 
da confirmação da situação de violência. A ficha de 
notificação apresenta os seguintes blocos: dados 
gerais, notificação individual, dados de residência, 
dados da pessoa atendida, dados da ocorrência, 
violência, violência sexual, dados do(a) provável 
autor(a) da violência, encaminhamento. 
• Atentar para os casos de violência sexual e tentativa 
de suicídio, cuja notificação, além de compulsória, 
deve ser imediata (em até 24h). 
Atenção humanizada na situação de interrupção legal 
da gestação: 
• Orientar que o aborto praticado por médico é legal 
quando é necessário (se não há outro meio de salvar 
a gestante), em caso de gestação de anencéfalos ou 
em caso de gravidez resultante de estupro. Deve 
haver o consentimento da mulher, ou seu 
representante legal, em relação ao procedimento 
(conforme o art. 128 do Código Penal). 
• Esclarecer sobre as ações previstas em caso de 
abortamento legal, as medidas de alívio da dor, o 
tempo e os riscos envolvidos no procedimento e a 
permanência no serviço de abortamento legal. 
• Orientar que, no serviço de referência, será 
preenchido o Procedimento de Justificação e 
Autorização da Interrupção da Gravidez, e que não é 
obrigatória a apresentação de boletim de ocorrência 
ou autorização judicial no âmbito do SUS. 
• Encaminhar para os serviços de referência para 
interrupção legal de gestação nos casos previstos em 
lei. 
• Monitorar a usuária após o procedimento de 
abortamento legal, levando em consideração os 
riscos de intercorrências imediatas (sangramentos, 
febre, dor pélvica) e intercorrências tardias 
(infertilidade, sofrimento psíquicos). 
• Acompanhar e acolher a mulher pós-abortamento e 
realizar orientação anticoncepcional e concepcional 
(recuperação da fertilidade pós-abortamento, 
métodos contraceptivos disponíveis, utilização da 
anticoncepção hormonal de emergência (AHE), 
oferta de métodos anticoncepcionais, orientação 
concepcional). 
Monitoramento de situações de violência: 
• Acompanhar o itinerário terapêutico das usuárias 
(caminhos trilhados na busca por saúde) em situação 
de violência identificadas na área de abrangência 
atendidas pelos serviços da Atenção Básica. 
• Monitorar todos os casos identificados pela equipe 
ou por notificação levada à unidade por meio da 
vigilância em saúde (entrada em outros pontos da 
rede de assistência) e referidos ou não à rede de 
atendimento às mulheres em situação de violência, a 
partir da realização de visitas domiciliares ou outras 
formas de acompanhamento das usuárias (equipes 
de Saúde da Família, equipes NASF, Consultório na 
Rua). 
Abordagem de jovens e adolescentes: 
• Respeitar o sigilo profissional inerente à abordagem 
ética em saúde. 
• Abordar as necessidades de jovens e adolescentes 
sem que haja a obrigação do acompanhamento de 
pais ou responsáveis legais, exceto em casos de 
incapacidade daqueles. Vale lembrar que os códigos 
de ética dos profissionais de saúde que trabalham na 
Atenção Básica, bem como o artigo 11 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, legitimam o direito ao 
acesso à saúde sem a necessidade de 
acompanhamento de pais ou responsáveis legais. 
Coordenaçãodo cuidado: 
• Mapear e acionar os serviços de referência 
disponíveis na rede de atendimento às mulheres em 
situação de violência, que extrapolem a competência 
da Atenção Básica. As unidades de saúde e outros 
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 
Página | 11 
 
serviços ambulatoriais com atendimento a pessoas 
em situação de violência sexual deverão oferecer 
acolhimento, atendimento humanizado e 
multidisciplinar e encaminhamento, sempre que 
necessário, aos serviços referência na saúde, serviços 
de assistência social ou de outras políticas públicas 
voltadas ao enfrentamento da violência e órgãos e 
entidades de defesa de direitos. 
Educação em saúde: 
• Orientar individual ou coletivamente os usuários da 
Atenção Básica acerca dos direitos das mulheres, em 
prol do fortalecimento da cidadania e de uma cultura 
de valorização da paz. 
• Oferecer serviços de planejamento reprodutivo às 
mulheres pós-abortamento, bem como orientações 
para aquelas que desejam nova gestação, para 
prevenção das gestações indesejadas e do 
abortamento inseguro. 
• Orientar sobre os aspectos biopsicossociais 
relacionados ao livre exercício da sexualidade e do 
prazer.

Mais conteúdos dessa disciplina