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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - TCC

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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
VALÉRIA SANTOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE 
 
 
 
UMA ANÁLISE ACERCA DO AUMENTO DE CASOS DE 
VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES EM PERNAMBUCO, NO 
CONTEXTO PANDÊMICO DO COVID-19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PAULISTA 
2022 
VALÉRIA SANTOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UMA ANÁLISE ACERCA DO AUMENTO DE CASOS DE VIOLÊNCIA 
CONTRA MULHERES EM PERNAMBUCO, NO CONTEXTO PANDÊMICO DO 
COVID-19 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para 
conclusão do curso de Bacharelado em 
Direito do Centro Universitário Maurício de 
Nassau. 
Orientador(a): Adelson José da Silva 
 
 
 
 
PAULISTA 
2022 
 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
VALÉRIA SANTOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE 
 
 
 
UMA ANÁLISE ACERCA DO AUMENTO DE CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA 
MULHERES EM PERNAMBUCO, NO CONTEXTO PANDÊMICO DO COVID-19 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para 
conclusão do curso de Bacharelado em 
Direito do Centro Universitário Maurício de 
Nassau. 
 
Aprovada em: __/__/____. 
 
 
 
 
 
 BANCA EXAMINADORA: 
 
 
 
 
________________________________________________ 
Prof ... (Orientador ou Orientadora) 
 
 
 
________________________________________________ 
Prof ... (Examinador/a) 
 
 
 
________________________________________________ 
Prof ... (Examinador/a) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta monografia à minha família, 
meu esposo e meus filhos que me 
apoiaram e incentivaram, nesta longa 
caminhada. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Primeiramente, agradeço a Deus, a quem me agarrei com força e fé para dar 
continuidade ao meu objetivo e finalizar a tão esperada graduação, por seu amor 
incondicional e por ser a rocha firme que me sustentou e me permitiu chegar até aqui. 
Aos meus pais, por serem o porto seguro onde sempre encontro amor e 
proteção. Obrigada por serem os maiores incentivadores para realização dos meus 
sonhos. 
Aos meus filhos, Yago e Yasmin, por serem minhas maiores inspirações, que 
traz alegria aos meus dias e está ao meu lado em qualquer situação, me dando força 
para seguir em frente, dia após dia. É por eles que me levanto todos os dias e luto 
para proporcionar um futuro melhor. 
Ao meu esposo, por ser um companheiro maravilhoso que me incentiva todos 
dias a continuar, que sempre está ao meu lado, em toda e qualquer circunstância, me 
lembrando todos os dias que sou capaz de alcançar todos os meus objetivos. 
À Adelson, meu orientador, por me direcionar na construção deste trabalho. Por 
fim, agradeço a todos que torceram e oraram pela concretização desse sonho. Muito 
obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Socar uma parede é uma agressão emocional. 
Antes de morder, ele late. Antes de te bater, o 
soco é na parede.” Molly Smith Metzler. 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho tem como tema o aumento da violência contra a mulher durante 
a pandemia do Covid-19. Tal pesquisa se propõe a analisar o aumento dos casos de 
violência doméstica durante o período pandêmico, considerando que, uma das 
medidas não farmacológicas de redução do vírus é o isolamento social, o que faz com 
que a vítima passe mais tempo isolada com seu agressor. Para a realização desta 
monografia, foram examinadas algumas bibliografias disponíveis na internet e análise 
de julgados, sendo desenvolvida pela pesquisa quantitativa. 
No desdobramento da pesquisa, para que se chegasse a conclusão, foi necessário 
pesquisar sobre o patriarcado, aprofundar o tema de violência doméstica com dados 
e estatísticas quanto à incidência de casos em Pernambuco, entender o que é a 
pandemia do Covid-19 e buscar fatores que poderiam aumentar a incidência dos 
casos e diminuir a procura das denúncias e busca pelas proteções à vítimas de 
violência doméstica. É sabido que tal violência é um problema social, em que estas 
mulheres são vítimas de agressão, abuso, constrangimento, insubordinação e 
machismo. No nosso país os casos são de grande incidência. A cada dois minutos 
uma mulher é agredida, mesmo com uma lei vigente de proteção à mulher, medidas 
de proteção para as vítimas, possibilidades para que seja denunciado o abuso. O 
Coronavírus trata-se de um vírus extremamente transmissível, mais de 607 mil 
brasileiros viraram estatísticas. Devido a alta propagação do Covid-19, tornou-se 
imprescindível o isolamento social, momento em que se fez necessário aderir ao 
trabalho na modalidade home office. As instituições de ensino, as igrejas, os 
restaurantes e bares fecharam, as empresas cancelaram contratos de trabalho, as 
pessoas foram orientadas a ficarem em casa, sendo adotadas também outras 
medidas. Em razão do distanciamento social, as vítimas passaram a ficar a maior 
parte do tempo em suas casas, sendo na maioria dos casos o local em que mais 
sofrem agressões. 
 
Palavras-chave: Violência Doméstica. Covid-19. Pandemia. Isolamento. Abuso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present work has as its theme the increase in violence against women during the 
Covid-19 pandemic. This research proposes to analyze the increase in cases of 
domestic violence during the pandemic period, considering that one of the non-
pharmacological measures to reduce the virus is social isolation, which causes the 
victim to spend more time isolated with their aggressor. For the accomplishment of this 
monograph, some bibliographies available on the internet were examined and 
judgment analysis, being developed by quantitative research. 
In the unfolding of the research, in order to reach the conclusion, it was necessary to 
research on patriarchy, deepen the theme of domestic violence with data and statistics 
regarding the incidence of cases in Pernambuco, understand what the Covid-19 
pandemic is and look for factors that could increase the incidence of cases and 
decrease the demand for complaints and the search for protections for victims of 
domestic violence. It is known that such violence is a social problem, in which these 
women are victims of aggression, abuse, embarrassment, insubordination and 
machismo.In our country the cases are of great incidence. Every two minutes a woman 
is assaulted, even with a current law to protect women, protection measures for victims, 
possibilities for the abuse to be reported. The Coronavirus is an extremely 
transmissible virus, more than 607 thousand Brazilians became statistics. Due to the 
high spread of Covid-19, social isolation became essential, at which time it was 
necessary to adhere to work in the home office modality. Educational institutions, 
churches, restaurants and bars closed, companies canceled employment contracts, 
people were told to stay at home, and other measures were also adopted. Due to social 
distancing, victims started to stay most of the time in their homes, being in most cases 
the place where they suffer the most aggressions. 
 
Keywords: Domestic violence. Covid-19. Pandemic. Isolation. Abuse. 
 
SUMÁRIO 
 
10 
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Erro! Indicador não definido. 
 
REFERÊNCIAS42422 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
O objetivo da pesquisa é analisar e questionar se houve um aumento da 
violência contra a mulher no contexto da pandemia e, caso a resposta seja positiva, 
identificar os motivos que levaram a esse aumento, a fim de possibilitar em última 
instância, uma discussão sobre o desenvolvimento de diretrizes e ação pública para 
combater esse problema social. Ao analisar dados sobre a incidência de casos e 
outras hipóteses pesquisadas, o objetivo é pensar se e de que maneira a pandemia 
do coronavírus tem contribuído para o aumento dos casos de violência doméstica. 
Caso a pesquisa e análise seja favorável, se faz necessário imaginar novos 
parâmetros de segurança e novos estudos com o fito de solucionar e acolher mulheres 
vítimas de violência doméstica em tempos de pandemia do Covid-19, encerrando o 
aumento de casos de violência doméstica e de vítimas fatais. 
O interesse pelo tema surgiu devido a situações de vivência pessoal em 
relacionamentos abusivos com abuso psicológico grave, daí o interesse em explorar 
questões de gênero e violência doméstica. Em termos de demarcação, chegou-se a 
pensar que a pandemia de covid-19 tinha afetado esta questão social, por se tratar de 
uma pandemia com isolamento para conter a doença, fazendo com que a mulher 
passasse mais tempo com o seu agressor. 
A princípio, o capítulo trará noções gerais de violência doméstica, seguindo 
para o segundo capítulo versando sobre a Lei Maria da Penha, suas fontes 
inspiradoras e os avanços trazidos pela referida Lei, prosseguindo com o terceiro, 
onde trás os impactos da violência contra a mulher no Estado de Pernambuco, com 
gráficos e estatísticas, e, por fim, concluindo no quarto capítulo, as consequências que 
a pandemia do coronavírus causou para mulheres que sofrem violência doméstica. 
Por último, através de todos os dados e estatísticas analisadas sobre se e como 
a pandemia pelo coronavírus afetou e intensificou o aumento de casos da pandemia, 
entende-se que, mais do que nunca, há necessidade de medidas alternativas e 
aprimoradas para proteger as mulheres durante a pandemia, mesmo em todas as 
outras situações. 
 
 
11 
 
1. VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES 
 
Este capítulo trata de conceitos gerais de violência doméstica. Deste modo, 
será abordado os conceitos introdutórios, haverá uma explanação acerca dos tipos de 
violência, e, por fim, mas, não menos importante, a analise da violência doméstica em 
Pernambuco, em especial, no período da pandemia do COVID-19. 
 
1.1 Violência contra mulheres no contexto pandêmico x patriarcado 
 
Primeiramente, destaca-se que a Organização Mundial de Saúde (OMS) 
declarou, no dia 11 de março de 2020, a Covid-19, doença causada pelo novo 
coronavírus, como uma questão sanitária grave, de caráter mundial. 
O termo pandemia descreve o momento em que uma doença infecciosa 
ameaça vários continentes ao mesmo tempo. Como resultado, o isolamento social foi 
introduzido por vários países como medida para combater a propagação do vírus e 
prevenir o potencial contágio da nova doença. Com isso, muitas mulheres agredidas 
foram obrigadas a conviver constantemente com o agressor em casa. 
Mas, infelizmente, esse histórico de violência contra a mulher já vem de outras 
épocas, os costumes e as histórias que perpetuam esse patriarcado, consolida a 
dominação masculina, o que leva à vulnerabilidade da mulher. Na Antiguidade 
clássica, havia uma sociedade caracterizada pela desigualdade, e a "linha patriarcal" 
era mestre absoluto e indiscutível. 
Eles tinham poder vital sobre suas esposas, filhos e qualquer outra pessoa que 
vivesse sob eles. Em suma, sua vontade era a lei suprema. O homem como papel de 
senhor absoluto de seus domínios perdurou através dos tempos e, ainda no Brasil - 
colônia, era permitido àquele que surpreendesse sua mulher em adultério, matar o 
casal de amantes, previsto na legislação portuguesa (DIAS, 2007, p. 21). 
Em 1830, o primeiro Código Penal Brasileiro proibia tal permissão, mas como 
mudar a cultura de tal nação com a rapidez exigida pela aplicação da lei, que vem 
crescendo, vivendo e presenciando esse comportamento há muitos anos como se 
fosse correto? 
Porque as pessoas ainda acreditam que a infidelidade de uma mulher vai 
prejudicar os direitos de seu marido, sua honra manchada só será lavada pelo sangue 
de uma mulher adúltera (CUNHA, 2007, p. 82). A violência contra a mulher traz o seu 
12 
 
pensamento, a relação com as categorias de gênero, classe e raça e suas relações 
de poder. 
Essa relação é retratada na proeminente ordem patriarcal da sociedade 
brasileira, que confere aos homens o direito de dominar e controlar suas esposas, 
chegando em alguns casos aos limites da violência e resultando na morte da vítima. 
Parece que a violência contra as mulheres está profundamente enraizada na história 
e, portanto, difícil de desconstruir. 
Lentamente, só em 1988 a Constituição Federal igualou os direitos de homens 
e mulheres, retirou de nosso ordenamento jurídico muitas cláusulas que 
discriminavam as mulheres e atribuiu ao Estado a responsabilidade de estabelecer 
mecanismos para coibir a violência nesse campo. 
A escolha deste tema deve-se ao fato cotidiano de que se trata dos diferentes 
tipos de violência contra a mulher e que de 2020 para cá, o aumento da violência 
doméstica e feminicídio em Pernambuco, em tempos de pandemia, abriu a existência 
de um cenário alarmante: por um lado uma pandemia e um vírus potencialmente 
mortal e por outro lado pessoas da própria casa e potencialmente violentas. 
 
1.2 Conceituando a violência contra a mulher 
 
O conceito dado à violência contra a mulher - forjado inicialmente nas ciências 
sociais - tinha o propósito de evidenciar que o espaço privado era o local da proteção 
para as mulheres, e ao mesmo tempo um espaço produtor e reprodutor de violências 
e relações de poder (PASINATO, 2018, p. 38). 
Podendo, no entanto, ser conceituado da seguinte forma: “Violência doméstica 
é uma série de atos ou omissões na família que causa dano, sofrimento físico, sexual 
ou psicológico na forma de uma série de atos ou omissões, não importa quem os 
perpetue ou sofra”. (SEIXAS, 2013, p. 08). Segundo Saffioti, a violência contra a 
mulher ocorre principalmente em casa, mas nada impede o agressor de esperar a 
parceira no trabalho e de espancá-la de forma demonstrativa na frente de todos os 
colegas porque ela está com raiva de suas ações. (SAFFIOTI, 2011, p. 64). 
Mesmo diante das sociedades contemporâneas e democráticas, a violência 
doméstica persiste e é um atentado aos direitos humanos das mulheres. “Sabendo 
que a educação tem um papel essencial para a desconstrução de preconceitos e da 
misoginia, também responsáveis pela violência de gênero, parte dos textos versarão 
13 
 
sobre as pesquisas atuais desenvolvidas tendo como objeto a educação para a 
igualdade de gênero” (BRABO, 2015, p. 09). 
Quando se trata do processo de medidas no âmbito da violência em contexto 
familiar, ou seja, doméstica, a erradicação é um elemento essencial: 
 
a violência contra as mulheres constitui um obstáculo para a realização dos 
objetivos de igualdade, desenvolvimento e paz… tanto viola como impede ou 
anula o usufruto pelas mulheres dos seus direitos humanos e das suas 
liberdades fundamentais. A incapacidade que tem vindo a prevalecer na 
proteção e promoção desses direitos e liberdades… é umaquestão que diz 
respeito a todos os estados e que deveria ser endereçada (BEIJING 
DECLARATION AND PLATFORM FOR ACTION, 1995, p. 48, apud, Tânia 
Brabo, 2015, p. 27). 
 
 
Pasinato, em participação no estudo desenvolvido pelo CNMP presume que “a 
violência contra mulheres deixou de ser um problema da privacidade, para se externar 
no fenômeno de gênero, onde fez com que esse tipo de violência se tornasse um 
problema de política pública” (LISBOA, 2018, p. 21). A violência doméstica contra a 
mulher é considerada um problema de saúde pública, além da agressão sofrida pela 
mulher, a família, a economia, os serviços de saúde, o sistema judiciário e toda a 
sociedade são atingidos (MOREIRO, p. 24). 
Considerando o fato de que a violência contra a mulher é tratada como 
problema de saúde pública (SCHRAIBER, 2001), seu debate se torna ainda mais 
pertinente em um momento no qual se fala predominantemente de saúde. Portanto, 
parece necessário compreender as "possíveis razões" pelas quais muitas mulheres 
se encontram em situação de perigo iminente em casa e como isso se relaciona com 
o atual contexto pandêmico. 
No entanto, é importante destacar que não está se justificando a violência 
contra a mulher, mas sim tentando compreender a complexidade desse fenômeno no 
contexto de uma pandemia. Porque, como todos sabemos, esse tipo de violência é 
diretamente constituído e legitimado pelo patriarcado, racismo e capitalismo. Eles 
ainda afetam a forma como as pessoas existem e como se conectam, especialmente 
no contexto das relações afetivo-sexuais e familiares. 
Neste presente estudo, o foco será a violência perpetrada por homens contra 
mulheres. Porém, de fato, a violência de gênero, além de encontrar correspondentes 
no âmbito das relações entre pessoas do mesmo sexo, também pode ser praticada 
14 
 
por mulheres contra seus parceiros, mesmo que neste último caso, os números sejam 
insignificantes nas estatísticas cotidianas. 
Pois, como afirmou Heleieth Saffioti (2001, p. 115), “as mulheres como 
categoria social não têm, contudo, um projeto de dominação-exploração dos homens. 
E isto faz uma gigantesca diferença.” Pode-se notar que o isolamento social tornou-
se uma lente de aumento do problema. Isso significa que os agressores do sexo 
masculino não se tornaram violentos quando presos com suas parceiras, mas a 
desigualdade de poder existente é latente e, eventualmente, atinge seu pico em 
situações de violência. 
No entanto, ainda é necessário fazer as seguintes perguntas: O que aconteceu 
com o primeiro ato violento durante o período de isolamento social? Essa situação 
remete a reflexões sobre padrões e valores ainda válidos do sexismo e da misoginia, 
que contribuem para o exercício – potencial e/ou concreto – da violência por homens, 
quando os mesmos estão expostos a situações de extremo estresse, que funcionam 
como verdadeiro gatilho, como seria o caso da pandemia. 
Além disso, as medidas tomadas e sua possível eficácia serão analisadas para 
entender se a violência contra a mulher, continua a ser tratada com negligência pelo 
regulador. Esta análise é extremamente importante, porque parece haver uma lacuna 
deliberada entre a legislação e o acesso efetivo das mulheres a medidas, recursos e 
política. O estudo será baseado, então, na abordagem sobre a qual o momento atual 
leva a refletir não apenas sobre os efeitos da crise humanitária causada pelo 
coronavírus, mas como ela escancara a necropolítica intencional do governo atual 
brasileiro (MBEMBE, 2019). 
 
2. A LEI MARIA DA PENHA 
 
 
Faz-se necessário abordar a Lei Maria da Penha, um breve histórico da gênese 
e contexto de origem da lei, bem como o que ela representou em termos de avanços 
e inovações na proteção da mulher em situação de violência doméstica no Brasil, por 
isso que esta análise terá um capítulo separado e dedicado a ele. 
 
 
 
 
15 
 
2.1 Breve histórico da Lei Maria Penha 
 
O processo de criação dessa lei, tão importante no combate à violência 
doméstica e familiar contra a mulher no Brasil, foi longo e repleto de percalços, 
precedido de muitos movimentos e debates. Merecem destaque os mencionados 
movimentos feministas da década de 1970 e de ordem internacional que exigiam 
políticas públicas de proteção às mulheres vítimas de violência, enquanto a sociedade 
por muito tempo permaneceu apática diante de tantas violações dos direitos das 
mulheres. (BARBOSA, E.; BRANDÃO, R.; TELECIO, 2011). 
O resultado efetivo veio gradativamente e, em 1980, foram criadas cinco 
delegacias da mulher, com foco no estado de São Paulo, que liderou a implantação. 
A existência de um serviço especializado, majoritariamente desenvolvido por 
mulheres, estimula e encoraja outras vítimas a denunciar as agressões e maus-tratos 
que sofrem silenciosamente há anos (SANTOS, 2010). 
Faz-se referência à constituição de 1988, que garante a ambos os sexos a 
proteção necessária em caso de violência doméstica no artigo 226, § 8º. Nesse 
aspecto, trouxe um grande e significativo avanço em relação aos direitos das 
mulheres, pois estabeleceu a igualdade de gênero e deu efeito ao dispositivo 
constitucional. 
No aprofundamento do tema, que visa implementar o disposto na Constituição, 
a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Eliminar a Violência Contra a 
Mulher - a Convenção de Belém do Pará, que entrou em vigor em 5 de março de 1995, 
tornou-se referência mundial no combate à violência contra a mulher e base 
fundamental da Lei Maria da Penha para o entendimento jurídico social e a dimensão 
de sua efetividade (BANDEIRA; ALMEIDA, 2015). 
Portanto, o Brasil ainda não possuía legislação específica que tratasse da 
violência contra a mulher. A Lei 9.099/95 vigorou até 2006, que instituiu os Juizados 
Especiais Criminais (JECrim) e deu acesso à justiça para toda a população, com esses 
tribunais dando prioridade aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, 
em caso de ofensas que envolvam ameaças e lesões corporais leves, uma vez que 
estas constituem delitos com menor potencial de agressão antes da aplicação da 
pena. 
Nesta senda, observa-se uma forte revolta por parte das feministas em relação 
a Lei n º 9099/95, conforme aponta (Montenegro, 2016, p.33): 
16 
 
 
Essa lei, ao menos em tese, introduziu uma possibilidade de devolver 
o conflito pessoal nele envolvido, apresentando alternativas não punitivas 
para a sua minoração. Tal possibilidade foi afastada pela lei 11.340/2006, que 
foi criada, declaradamente, para dar um tratamento diferenciado a mulher que 
se encontre em situação em situação doméstica ou familiar. Dessa forma, 
termina aí, o discurso feminista. (MONTENEGRO, 2016, p.33) 
 
 
Tal moção mostrou-se totalmente inadequada, para defender o entendimento 
errôneo de que a violência contra a mulher era um crime menos ofensivo e não uma 
grave violação dos direitos humanos, uma vez que naturalizou e legitimou esse padrão 
de violência, reforçando assim a hierarquia entre os gêneros (PIOVESAN; PIMENTEL, 
2011). 
No mesmo passo, houve a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas 
de Discriminação Contra a Mulher, adotada em 1979 e até hoje continua sendo a mais 
marcante e completa convenção em favor dos direitos das mulheres. Este documento 
apela aos Estados signatários para que tomem todas as medidas relevantes para 
eliminar a discriminação contra as mulheres, em suas diversas manifestações. 
Posteriormente, de acordo com o disposto no artigo 226, § 8º da Carta Magna, 
o Projeto de Lei 4.559/2004 cria e desenvolve mecanismos de combate à violência 
doméstica e familiar contra a mulher. 
Em 2006, foi aprovada a tão esperada Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340/2006, 
que introduziu mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher 
e se apresentou como uma das principais ferramentas para combatê-la, 
estabelecendo medidas de apoio e proteçãoàs mulheres em situação de violência no 
país. Essa lei recebeu o nome da história de Maria da Penha Maia Fernandes, uma 
cearense que foi brutalmente agredida pelo marido enquanto dormia, no ano de 1983. 
 
2.2 Fontes Inspiradoras da Lei Maria da Penha 
 
 
Em 1983, Maria da Penha Maia Fernandes foi vítima de duas tentativas de 
assassinato do então marido Marco Antônio Heredia Viveros, que a deixou 
paraplégica em decorrência da primeira agressão. 
A Lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, recebeu o nome em 
homenagem a Maria da Penha, cujo caso foi encaminhado à Comissão 
17 
 
Interamericana de Direitos Humanos após quinze anos de negligência judicial, para 
condenar o marido. Maria da Penha Maia Fernandes, farmacêutica casada com um 
professor universitário. Ela morava em Fortaleza, Ceará e teve 3 filhas com ele. 
A agressão sofrida deixou consequências inimagináveis em sua vida, pois ela 
ficou paraplégica após ser baleada pelo marido com uma espingarda. Apesar de toda 
a barbárie que assola este caso e de todos os abusos sofridos por Maria da Penha, o 
caso aos poucos avançava pelos tribunais, chamando a atenção da mídia 
internacional. 
Em 2001, o Brasil foi condenado pela Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos (CIDH) por pressão de Maria da Penha e negligência no tratamento da 
violência contra a mulher. O agressor foi finalmente preso em outubro de 2002, quase 
vinte anos após a data do crime. 
Também em 2001, a CIDH publicou um relatório sobre o caso, no qual concluiu 
que o Brasil violou o direito ao devido processo legal de Maria da Penha. A CIDH, 
informou que esta violação constitui um padrão de discriminação evidenciado pela 
ineficácia do judiciário em consentir com a violência contra a mulher no Brasil. Entre 
as várias recomendações, o Estado brasileiro precisaria legitimar normas na 
esfera nacional objetivando o fim da tolerância dos agentes do Estado perante 
à violência contra as mulheres (SANTOS, 2010). 
Assim, diante da indolência e negligência do Estado brasileiro, o documento foi 
publicado e incluído no relatório anual da Assembléia Geral da Organização dos 
Estados Americanos. Concluído o julgamento, o caso foi encaminhado à Corte 
Interamericana de Justiça e o Brasil foi julgado e condenado como um país que violou 
a Convenção Americana e, portanto, violou diretamente os direitos humanos 
(CORREA; CARNEIRO, 2010). 
Diante do caso, a Comissão Internacional de Direitos Humanos concluiu que a 
ineficiência judicial, a impunidade e a incapacidade das vítimas de obter reparação 
pela barbárie cometida, demonstram a falta de cumprimento e mecanismos 
adequados para enfrentar a violência doméstica. 
Diante da total negligência e omissão do Estado brasileiro, foi imposto o artigo 
39 do Decreto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com o objetivo de 
que os fatos relatados na Denúncia fossem apurados, pois mais de 250 dias se 
passaram desde a notificação da petição ao Brasil e o mesmo não havia comentado 
o caso, portanto, a Comissão Interamericana decidiu publicar o Relatório No. 54, o 
18 
 
qual estabeleceu recomendações ao Brasil no caso Maria da Penha Maia Fernandes 
(SEGATTI, 2018). 
Conforme declarado na sentença judicial, o Brasil finalmente procedeu ao 
julgamento de Marco Antônio e manteve a decisão pela qual ele foi condenado. O 
agressor foi preso em 28 de outubro de 2002 e deu início à execução da pena de 
prisão, que inicialmente deveria ser cumprida em regime fechado. 
A OEA recomendou que o Brasil desenvolva ações para criar políticas públicas 
que dificultem a violência doméstica contra a mulher. Dessa forma, nasceram os 
projetos de lei que criaram a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 – Lei de Maria da 
Penha, em homenagem à vítima deste caso emblemático e sua incansável luta por 
justiça (CORREA; CARNEIRO, 2010). 
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, teria afirmado no seguinte 
sentido, conforme relata (Dias, 2019, pp. 16 e 22): 
 
Apesar de, por quatro vezes, a Comissão ter solicitado informações ao 
governo brasileiro, nunca recebeu nenhuma resposta. Em 2001 o Brasil foi 
condenado internacionalmente. O Relatório n. 54 da OEA, além de impor o 
pagamento de indenização no valor de 20 mil dólares, em favor de Maria da 
Penha, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão frente 
à violência doméstica, recomendando a adoção de várias medidas, entre elas 
“simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzido 
o tempo processual”. A indenização, no valor de 60 mil reais, foi paga a Maria 
da Penha, em julho de 2008, pelo governo do Estado do Ceará, em 
uma solenidade pública, com pedido de desculpas 
 
[...] responsabilizou o estado brasileiro por negligência e omissão frente 
a violência doméstica, recomendando recomendado a adoção de várias 
medidas, entre elas “simplificar os procedimentos judiciais a fim de que possa 
ser reduzido o tempo processual.(Dias, 2019, pp. 16 e 22) 
 
 
Essa lei também impulsionou o Brasil a dar um passo significativo, no sentido 
de aceitar e cumprir integralmente as recomendações feitas ao Estado brasileiro na 
decisão da CIDH no caso Maria da Penha e os princípios consagrados na Convenção 
Interamericana sobre Prevenção, Sanções e Eliminação da Violência contra a Mulher. 
Além disso, deve-se reconhecer que este documento influenciou o processo criativo 
que levou à elaboração da legislação, incluindo a presença substancial de 
organizações da sociedade civil que trabalham para defender e proteger os direitos 
das mulheres. 
Por isso, no final de 2004, o Poder Executivo apresentou o Projeto de Lei nº 
4.559 ao Congresso Nacional, encaminhado e aprovado pela Câmara dos Deputados 
19 
 
e Senado Federal, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar 
contra a mulher no Brasil e os esforços decorrentes para o cumprimento do disposto 
na Carta Magna. 
A vigência da Lei nº 11.340/06, a Lei Maria da Penha, aprovada por 
unanimidade no Congresso Nacional e que criou mecanismos inéditos para coibir a 
violência doméstica e familiar contra a mulher, por meio de medidas de prevenção, 
amparo e proteção à mulher foram situações e representam um evento histórico 
emblemático da luta das mulheres em busca da efetivação de seus direitos. 
 
2.3 Avanços e Inovações trazidos pela Lei Maria da Penha 
 
Com a aprovação da Lei Maria da Penha, o tratamento jurídico da agressão no 
âmbito das relações familiares mudou e trouxe consigo medidas importantes que 
fortaleceram o combate à violência contra a mulher. Dentre as mudanças trazidas pela 
nova lei que merece destaque, está a previsão da inaplicabilidade da lei n. 9.099/1995 
às violações contra a mulher no âmbito doméstico. 
Isso significa que os crimes e infrações penais cometidos contra as mulheres 
no âmbito das relações domésticas, deixam de ser da competência dos juizados 
especiais criminais, independentemente da pena que lhes seja imposta. Isso 
finalmente legitimou que a violência contra a mulher, seja por meio do cometimento 
de infrações penais ou pelo cometimento de infrações penais, não deve ser analisada 
corretamente como uma violação com menor potencial de agressão. 
Não é correto tratar a violência contra a mulher como crime de baixo potencial 
e escandaloso, pois tratados internacionais, inclusive aqueles dos quais o país é parte, 
declaram que esse tipo de violência é uma grave violação dos direitos humanos. Essa 
violência desrespeita os direitos humanos das mulheres, pois prejudica as mulheres 
moral, psicologicamente, fisicamente, sexualmente e hereditariamente. 
Em detrimento da inaplicabilidade da Lei nº 9.099/1995, as infrações, que 
incluem a violência doméstica e familiar contra a mulher, deixam de ser apuradas com 
prazo preciso e deve ser instaurado inquérito policial. Não sendo mais admissívela 
aplicação dos institutos da composição civil, da transação penal e da suspensão 
condicional do processo, não recaindo nessas infrações o procedimento sumaríssimo 
(FULLER, 2014). 
20 
 
A Lei Maria da Penha é a resposta à anos de omissão e silêncio sobre o 
sofrimento das mulheres em situação de violência, e é considerada uma das três leis 
mais progressistas do mundo no combate à violência doméstica, onde prevê direitos 
que criam mecanismos em torno dessa modalidade, a coibição e prevenção da 
violência permite a criação de varas de violência doméstica e familiar contra a mulher 
com competência cível e criminal, além de propor medidas para ajudar e proteger as 
mulheres expostas à violência doméstica. 
A Lei Maria da Penha estipula que o Estado deve tomar medidas públicas para 
prevenir, apoiar e reprimir a violência que sejam capazes de promover mudanças para 
superar a desigualdade de gênero. 
O artigo 3.º do referido diploma legal prevê que sejam asseguradas a todas as 
mulheres as condições que lhes permitam exercer efetivamente os direitos humanos 
que lhes são garantidos no âmbito das relações domésticas, tais como: serviços de 
saúde, transportes, habitação, desporto, lazer, educação e cultura, dignidade, acesso 
ao trabalho e justiça. 
O artigo 8º estabelece que união, estados, distrito federal, município e ação não 
governamental devem unir forças e propor ações públicas com base nas seguintes 
diretrizes: 
 
Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra 
a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
governamentais, tendo por diretrizes: 
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da 
Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, 
saúde, educação, trabalho e habitação; 
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações 
relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes 
às causas, às consequências e à frequência da violência doméstica e 
familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem 
unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das 
medidas adotadas; 
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais 
da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que 
legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o 
estabelecido no inciso III do artigo 1º, no inciso IV do artigo 3º e no inciso IV 
do artigo 221 da Constituição Federal; 
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, 
em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher; 
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção 
da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar 
e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção 
aos direitos humanos das mulheres; 
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros 
instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou 
21 
 
entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a 
implantação de programas de erradicação da violência doméstica e 
familiar contra a mulher; 
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda 
Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos 
órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de 
raça ou etnia; 
VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos 
de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva 
de gênero e de raça ou etnia; 
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para 
os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de 
raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 (LEI 11.340/06) 
 
 
Estruturado pelos artigos 3º e 8º, o artigo 35 garante que a união, o distrito 
federal, os estados federados e os municípios possam criar e promover serviços 
especializados e aptos a atender mulheres em situação de violência. São serviços 
como: 
 
Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar 
e promover, no limite das respectivas competências: 
I – centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e 
respectivos dependentes em situação de violência doméstica e familiar; 
II – casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em 
situação de violência doméstica e familiar; 
III – delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e 
centros de perícia médico legal especializados no atendimento à mulher em 
situação de violência doméstica e familiar; 
IV – programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e 
familiar; 
V – centros de educação e de reabilitação para os agressores. 
(LEI 11.340/06) 
 
 
Um serviço importante que deve ser destacado é a previsão no artigo 38 de 
que as estatísticas sobre violência doméstica e familiar contra a mulher sejam 
incluídas nas bases de dados dos órgãos oficiais do sistema de justiça e segurança 
para subsidiar o sistema nacional de dados e informações sobre as mulheres . A base 
de dados deve ser constantemente atualizada para que o governo possa alterá-la a 
qualquer momento, se julgar necessário. 
Vale destacar também que para criar esses serviços uma rede integrada entre 
diferentes companhias aéreas e potências nos termos do art. 8º, inciso I, exige-se que 
os recursos sejam previamente previstos no planejamento governamental. Os artigos 
36 e 39 da lei determinam que a União, os Estados federados, o Distrito Federal e os 
Municípios devem promover a adequação de seus órgãos e programas no âmbito das 
22 
 
leis diretivas orçamentárias e disponibilizar recursos financeiros para a implementação 
das medidas necessárias. 
O artigo 40 da lei reitera que as obrigações impostas às autoridades públicas 
não excluem outras obrigações previstas em outra legislação. Corroborando para que 
a ação pública de combate à violência doméstica e familiar seja efetiva. 
O artigo 9º prevê o atendimento à mulher nas áreas de saúde, assistência social 
e segurança pública de forma articulada. 
As mulheres devem ser incluídas nos programas de assistência, pois é uma 
exigência da Lei Maria da Penha a ser definida pelo juiz, o Estado deve garantir 
condições para viabilizar o seu cumprimento. Por esse motivo, uma vez que muitas 
dessas mulheres são dependentes financeiramente dos agressores, é fundamental 
envolvê-las em programas sociais para que possam se desvencilhar mais facilmente 
da situação de violência. 
Alguns programas de ajuda existentes oferecem esses tipos de serviços, 
incluindo: Bolsa Família, Fome Zero, Inclusão Produtiva e outros programas de alívio 
da pobreza. 
Como você pode ver, a violência doméstica e familiar é considerada uma 
questão de ordem pública e saúde pública, onde não se admite a máxima de que “é 
briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. O Estado tem a obrigação e o 
dever de que, logo que o tenha conhecimento através da autoridade policial, aplique 
as medidas cabíveis previstas nos artigos 10.º, 11.º e 12.º da Lei 11.340/06. 
Uma das medidas é a prisão do agressor em flagrante pela autoridade policial. 
Esta medida deve ser realizada no caso específico de violência ou sua possibilidade. 
Outra inovação é a prevista no artigo 11, que promove atendimento especializado e 
humanizado às mulheres que buscam a figura da autoridade policial, após o que 
devem ser tomadas as seguintes medidas: 
 
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência domésticae 
familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências: 
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao 
Ministério Público e ao Poder Judiciário; 
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico 
Legal; 
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo 
ou local seguro, quando houver risco de vida; 
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus 
pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; 
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços 
disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento 
23 
 
perante o juízo competente da ação de separação judicial, de divórcio, 
de anulação de casamento ou de dissolução de união estável. 
(LEI 11.340/06) 
 
 
A Lei Maria da Penha foi criada para proteger as mulheres que foram 
violentadas de todas as formas e garantir seu retorno seguro para casa, sempre 
acompanhada por uma força policial, principalmente se o agressor ainda estiver 
foragido. Em nenhum caso a mulher deve ficar sozinha, pois a qualquer momento ela 
pode sofrer represálias do agressor. 
A lei prevê, ainda, novas regras para a avaliação dos casos de violência 
doméstica e familiar, bem como os procedimentos específicos a aplicar, para além 
das normas previstas no Código de Processo Penal e no Código de Processo Civil, 
do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Estatuto do Idoso, na medida em que 
ultrapassem as disposições estatutárias não conflitam. 
A lei dá mais um passo ao criar tribunais responsáveis pela resolução de 
conflitos decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. A criação de 
tribunais é condição essencial para a real eficácia do direito. Neles, as mulheres 
devem encontrar atendimento humanizado e especializado de juiz, promotor e 
defensor público devidamente instruídos para resolver um problema tão complicado e 
evitar o processo de revitimização, que é tão comum e impede a mulher de buscar 
ajuda. 
Com o envolvimento de uma equipa multidisciplinar de acompanhamento dos 
casos, a lei acolheu uma alternativa para o melhor resultado nas questões mais 
complexas da nossa realidade, nomeadamente a violência doméstica. Uma vez que 
uma equipe treinada e capacitada esteja pronta para lidar com o devido cuidado e 
atenção que a situação exige, as vítimas terão confiança para prosseguir com a 
reclamação. 
Medidas protetivas urgentes são outra inovação recebida pela Lei Maria da 
Penha. Essas medidas são medidas necessárias que podem garantir maior segurança 
e proteção às mulheres e evitar perigos imediatos. Dessa forma, eles oferecem 
oportunidades para a vítima continuar o processo judicial sem maiores preocupações 
ou interrupções, permanecer em casa, exercer o direito à livre circulação e continuar 
com sua vida profissional normalmente. Essas medidas podem ser solicitadas pela 
própria mulher ofendida, diretamente na delegacia ou no Ministério Público. 
24 
 
Recebido o pedido de medidas protetivas de urgência encaminhado pela 
Delegacia de Polícia, o juiz o examinará e terá 48 horas para deferir ou indeferir o 
pedido e, se necessário, decidir se encaminhará a vítima a assistência judiciária e 
denunciar o crime ao Ministério Público. 
Também pode aprovar as medidas de imediato, sem que as partes tenham de 
ser ouvidas em audiência oral ou aguardar a comunicação posterior do Ministério 
Público. 
Qualquer pessoa que pratique violência doméstica contra a mulher, também 
pode ser sentenciada à prisão preventiva. Isto significa que o magistrado pode 
prender, preventivamente, o agressor no decurso do processo para garantir o bom 
andamento das investigações policiais do processo penal e agora também em caso 
de incumprimento de medidas protetivas de urgência. O Ministério Público ou a 
autoridade policial também podem requerer a prisão preventiva. 
Além das medidas de prevenção, proteção e assistência, as medidas punitivas 
também reforçam a ideia de uma lei abrangente de combate à violência doméstica e 
familiar contra a mulher. A Lei Maria da Penha alterou o Código Penal, o Código de 
Processo Penal e o Código de Execução Penal para adaptá-los e impor sanções 
condizentes com a violação da integridade física, psicológica, sexual, moral e 
patrimonial da mulher. 
Atrelado a essa ideia, para proteger a ordem pública, o sistema econômico, a 
instrução do direito penal ou mesmo para garantir a aplicação do direito penal, é 
admissível a decretação da prisão preventiva em caso de crimes dolosos de violência 
doméstica e familiar contra a mulher. Ou seja, no curso do processo, o magistrado 
pode agora prender preventivamente o agressor mesmo que não sejam observadas 
medidas protetivas de urgência. O Ministério Público ou a autoridade policial também 
podem requerer a prisão preventiva. 
Um ponto que merece atenção é a publicação da Lei nº 13.104/2015, que 
contém alterações ao Código Penal para incluir a modalidade habilitante para 
feminicídio. Acrescentou-se o § 2° A como norma explicativa do conceito de "razões 
para ser mulher", evidenciando que ocorre em dois casos: a) violência doméstica e 
familiar; b) desprezo ou discriminação pela condição de mulher; a lei também 
acrescentou ainda o § 7° ao Art. 121 para identificar causas de aumento da pena para 
o crime de feminicídio. 
25 
 
Feminicídio é o assassinato de mulher pela condição de ser mulher, o termo 
trata dos crimes de ódio contra a mulher justificados por uma trajetória de 
subordinação da mulher ao homem e ditada pela inércia do Estado e da sociedade. A 
pena seria aumentada de 1/3 (um terço) para metade se o crime fosse cometido (i) 
durante a gravidez ou até 3 (três) meses após o parto; (ii) contra qualquer pessoa 
menor de 14 (quatorze anos), maior de 60 (sessenta) ou portador de deficiência; ou 
(iii) na presença de um descendente ou ascendente da vítima. 
Com a nova lei, além de proteger as mulheres, a legislação penal fortaleceu o 
tratamento penal dos agressores. É necessário que o Código Penal brasileiro 
classifique e tipifique explicitamente o crime de feminicídio para acabar com o silêncio 
e a desatenção. Em relação a esse tipo de crime, ainda que caiba na competência da 
Lei Maria da Penha em casos de violência doméstica, mas quando essa violência 
ocorre como homicídio sacrificial, trata-se de feminicídio. 
Outro importante serviço de combate à violência contra a mulher é o Ligue 180, 
canal de atendimento ao público que facilita o recebimento de denúncias de agressão 
contra a mulher, onde a central encaminha todas as denúncias das vítimas às 
autoridades competentes e acompanha todo o andamento do judiciário, dando suporte 
e orientação as mulheres, encaminhando-as para setores especializados para auxiliá-
las. Além disso, um ponto importante que este serviço oferece, é informar as mulheres 
sobre seus direitos e o que a legislação dispõe sobre violência e também explicar 
sobre a rede de serviços e apoios disponíveis às mulheres envolvidas neste complexo 
cenário. 
A ação do movimento de mulheres foi fundamental para a conquista de seus 
direitos e a Lei 11.340/2006 foi uma dessas vitórias e um verdadeiro marco no 
processo. 
É certo que o surgimento da lei trouxe inúmeros avanços e melhorias no 
combate à violência doméstica e familiar, mas é inegável que ainda falta 
implementação concreta de políticas públicas para que o disposto na legislação seja 
devidamente respeitado e efetivamente desenvolvidos. 
Nesse contexto, o debate sobre o atual cenário que a pandemia do novo 
coronavírus enfrenta mundialmente é relevante e necessário, visto que as mulheres 
em situação de violência tornaram-se reféns de suas próprias quatro paredes, devido 
ao nível de isolamento social imposto pela sociedade desde o o confinamento 
26 
 
compulsório causadopela medida de isolamento social aumentou em maior medida a 
exposição das vítimas à violência. 
 
3. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM PERNAMBUCO 
 
 
Neste estudo, optou-se por citar a violência contra a mulher, por ser 
considerada importante do ponto de vista ético e político. Para evitar a possibilidade 
de eliminação da realidade, infelizmente, esta realidade tem um impacto maior na 
maioria das mulheres (mulheres negras, pobres, lésbicas, transgêneros, bissexuais, 
travestis, heterossexuais, indígenas, deficientes, etc.), E infelizmente é 
proporcionalmente maior.). Tendo isso em vista, era de se esperar que o mesmo 
ocorresse no Brasil, país no qual são vistos, diariamente, diversos tipos de 
manifestação de violências e de misoginia, mesmo que de modo simbólico (BOUR-
DIEU, 1998). 
Segundo Secretaria da Mulher, até o início da crise, o número de registros de 
boletins de ocorrência subiu 47%, entre 2012 e 2020. Porém, em relação ao número 
de registros de boletins de ocorrência em delegacias, a Secretaria Estadual da Mulher 
apontam que, na comparação com o período de antes da pandemia, houve uma 
redução de 1%. Os dados fazem referência a uma diferença de quantidade de queixas 
prestadas em 2020 e em parte de 2021 e 2019. Ainda segundo o governo de 
Pernambuco, até o início da crise mundial do novo coronavírus, a Lei Maria da Penha 
estava conseguindo levar mais vítimas a buscar ajuda das polícias. 
As estatísticas, divulgadas pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, 
mostram que o número de mulheres que fizeram denúncias passou de 28.188, em 
2012, para 41.403, em 2020. Vejamos a evolução anual dos números de vítimas de 
violência contra a mulher, em Pernambuco, correspondente aos anos de 2012 à 2021: 
27 
 
Tabela 1: evolução anual dos números de vítimas de violência doméstica em 
Pernambuco. 
 
Fonte: https://www.sds.pe.gov.br/estatisticas 
 
Em relação aos feminicídios, Pernambuco apresentou alta nos casos, 
assassinato cometido em razão do gênero, no primeiro bimestre de 2021 em 
comparação aos primeiros dois meses do ano de 2020. Tais dados foram divulgados 
em 15/03/2021, pela Secretaria de Defesa Social, e apontam um aumento de cinco 
mortes, sendo contabilizados 19 feminicídios em janeiro e fevereiro deste ano, 
enquanto, nos mesmos meses do ano passado, foram 14. Comparando apenas com 
fevereiro, registaram-se mais de quatro casos no crime desta natureza. 
No segundo mês deste ano, foram registados 10 casos de homicídios de 
mulheres e 6 casos foram registados em fevereiro de 2020. O documento mostra que 
em comparação com o mesmo período de 2020 (onde foi o auge da pandemia), o 
número de casos de violência doméstica no primeiro bimestre de 2021 diminuiu 9,5%. 
No geral, houve uma redução de 744 casos e uma redução de 7.086 casos este ano. 
Foram 7.830 no mesmo período do ano passado. Podemos observar, na tabela a 
seguir, um crescente e alarmante número de casos mensais de violência doméstica, 
entre os meses de janeiro à abril do ano de 2022, na capital pernambucana, região 
metropolitana e interior do estado: 
 
28 
 
Tabela 2: evolução mensal dos números de vítimas de violência doméstica em 
Pernambuco 
 
Fonte: https://www.sds.pe.gov.br/estatisticas 
 
É necessário, portanto, diante de inúmeros dados chocantes sobre o índice de 
violência doméstica e assassinato de mulheres, falar sobre a sociedade em que 
vivemos e as possíveis causas desse aumento da violência e quais medidas foram ou 
não tomadas para conter esse aumento. 
 
3.1 Violência por parceiro íntimo: possíveis gatilhos x fatores externos 
 
No contexto desta pandemia e isolamento social, é crucial abordar a questão 
da violência entre parceiros íntimos. Depois que medidas de quarentena foram 
aprovadas em todo o mundo, a ONU Mulheres começou a alertar sobre o aumento de 
casos de violência doméstica em alguns países. Inicialmente, apontou-se que a 
violência por parceiro íntimo tem vários aspectos, como abuso físico e sexual, 
agressão psicológica e moral e até violência patrimonial (MASCARENHAS et.al.; 
2020). Em todo o mundo, as mulheres carregam o peso dessa violência. Com isso em 
mente, é importante entender todos esses eventos para que as autoridades de saúde 
e segurança possam considerar e tomar contramedidas eficazes. 
Embora a pandemia de Covid-19 seja um agravante desse problema, é 
importante ressaltar que a pandemia não é a causa da violência, pois as mulheres em 
29 
 
situação de violência ficam limitadas ao agressor ou potencial agressor: o agressor, 
parece fazê-lo independentemente das frustrações e tensões causadas pelo 
isolamento social. Portanto, evita-se o uso do termo causa da violência, pois se 
pressupõe que o fato de o agressor violento agir dessa forma se deve ao machismo 
estrutural e tal comportamento não pode ser atribuído a nenhuma circunstância. Em 
outras palavras, alguns fatores podem, no entanto, ser identificados como influências 
externas no aumento da incidência de violência por parceiro íntimo. 
Conforme alertou a presidente, Renata Brasil Araújo, é preocupante, uma vez 
que tem aumentado devido à dificuldade do acesso ao tratamento de dependências 
químicas no atual contexto, além de que muitas pessoas passam a recorrer ao uso 
abusivo de álcool e outras drogas em momentos de extrema tensão, o que acaba por 
aumentar a impulsividade e a intolerância (BARBOSA, 2020). 
Além do consumo excessivo de álcool e outras drogas mencionado nos 9 
artigos, outro fator que tem levado ao aumento da violência analisada neste tópico é 
a crise econômica, que acaba por levar ao aumento do desemprego. Esse fator reflete 
direta e claramente o machismo estrutural que permeia nossa sociedade. O homem 
violento, construído e socializado com base no patriarcado que o leva a acreditar que 
quando se encontra em um contexto de insegurança econômica e frustração por medo 
de perder o poder, deve ser o provedor do lar e da família, acredita que pode expressar 
com maior intensidade a violência que já exerceu. 
Nesse ponto, valem as considerações de Belma Andrade: 
 
A questão do desemprego é um ponto que merecem atenção, porque 
homens dominadores e egocêntricos afirmam seu poder em razão da 
virilidade e estar passando por momentos de privação econômica, ou 
mesmo de desemprego, é algo que pode tornar o homem ainda mais 
violento, envolvendo até o aumento do consumo de álcool e drogas 
nesse período. (BELMA ANDRADE, 2020) 
 
No entanto, há outro fator que influencia a violência doméstica: a tensão entre 
um homem e uma mulher diante dos problemas econômicos muitas vezes leva o 
homem a descarregar sua raiva na mulher, o que também reflete o machismo, em que 
o agressor trata a mulher como uma propriedade dele. As tensões, contratempos e 
tensões das crises são muitas vezes os gatilhos para o aumento da violência durante 
a pandemia. Além disso, a superexposição aos agressores aumenta a vulnerabilidade 
das mulheres e exacerba o ciclo de violência. Com o isolamento social e a 
30 
 
permanência constante com o agressor, acaba que a ordem lógica do ciclo da 
violência se perde e as fases passam a se completar em uma velocidade extrema. 
(BUCHINI, 2020). O que também tem sido amplamente discutido, é a separação das 
mulheres de toda a rede de apoio devido ao isolamento social. 
A vulnerabilidade das mulheres tende a aumentar à medida que se afastam do 
núcleo familiar e social, fator potencializador da agressividade (DIAS, 2020). Além 
desses fatores externos que influenciam no aumento da violência, há outros também 
apontados na pesquisa, são eles: sensação de impunidade provocada pelo 
isolamento (RIBEIRO, 2020); maior dificuldade em ir pessoalmente aos equipamentos 
públicos de atenção às mulheres (ÁVILA; BIANCHINI, 2020); sobrecarga do trabalho 
doméstico (RAGASINI, 2020; ÁVILA; BIANCHINI, 2020). 
Como discutido anteriormente, a relação entre mulheres e patriarcadonão pode 
ser introduzida sem reconhecer a intersecção das mulheres e do patriarcado com as 
características de cor/raça e classe social. Dependendo do gênero, classe e raça, o 
coronavírus tem efeitos ainda mais extremos nos indivíduos. Circunstâncias como 
informalidade e precariedade do trabalho, cuidados domésticos e familiares, habitação 
e acesso à água potável e serviços de saúde, por exemplo, são questões que 
diferenciam a maneira como as pessoas estão vivenciando a pandemia no Brasil e no 
mundo, de modo que o vírus dita classe, raça e gênero. (LOBATO, 2020). 
E por que isso está acontecendo? No contexto de isolamento social, as 
mulheres vítimas de agressão estão distantes de sua rede de apoio e o autor da 
violência pode monitorá-las com mais facilidade e impedi-las de conversar com seus 
amigos e parentes. Esse cenário acaba por ampliar a abertura para a violência 
psicológica. Além de não poder sair de casa, o que dificulta o ato de denunciar, ainda 
há o fato de que as mulheres em situação de violência estão em todo momento sendo 
monitoradas pelos parceiros, o que aumenta a vulnerabilidade (ANDRADE, 2020). 
Consequentemente, com o isolamento, há maior tempo de convivência com o 
agressor e, ao contrário, diminuição do contato com amigos e familiares, o que reduz 
as oportunidades para a mulher construir e contatar uma rede de apoio, o que acarreta 
dificuldade em buscar ajude e sair da situação violenta (BUCHINI, 2020). 
Além disso, o medo dos criminosos violentos aumenta no isolamento, já que as 
mulheres estão sempre – ou quase sempre – em sua companhia. Nas palavras de 
Ana Tereza Basílio (2020), Vice-Presidente da OAB-RJ e autora de um dos artigos 
selecionados: 
31 
 
 
Essa queda certamente ocorreu porque milhões de mulheres estão 
confinadas com seus agressores em casa, muitas em verdadeiro cativeiro, o 
que prejudica a denúncia em delegacias, mesmo com os sistemas virtuais. 
Constata-se o acerto dessa conclusão pelo fato de que, embora a 
possibilidade de acusação de crimes tenha caído, a ocorrência de feminicídio 
aumentou no Brasil de forma expressiva. Fenômeno similar foi constatado na 
Itália e divulgado pela ONU. (ANA TEREZA BASILIO, 2020) 
 
 
Ademais, o ciclo de violência se torna mais rápido e claro. Isso se deve muitas 
vezes ao fato de que, a convivência mais próxima das mulheres e seus parceiros em 
situação de violência doméstica, faz com que o intervalo de tempo entre a fase de 
estresse e ataque e a fase de reconciliação seja menor. Dessa forma, uma vez que a 
mulher foi atacada, ela já estava em uma cena que parecia melhor. Contudo, não tarda 
muito para que o ciclo se repita e comumente se torne mais violento (BARBOSA, 
2020). Caso contrário, os aparatos de proteção do estado, que não são mais 
facilmente acessíveis em tempos normais, estão mais distantes da acessibilidade. 
Porque, por motivos de saúde e segurança, o suporte pessoal não está mais 
disponível para todas as consultas relacionadas à violência doméstica. 
Além disso, as mulheres podem ter medo de contrair o vírus se saírem de casa 
para procurar ajuda. Conclui-se, portanto, que esta pandemia e o isolamento social 
dificultam a quebra do ciclo de violência entre parceiros íntimos. A declaração de 
Conceição de Andrade (2020), superintendente geral do Instituto Maria da Penha, 
retrata bem isso: “A violência doméstica não diminuiu, ela está mais privada do que 
nunca. A mulher já vivia isolada tendo que conviver com um agressor, agora, ela está 
praticamente em cárcere privado” (ANDRADE, 2020). Uma coisa é certa, quando as 
mulheres são vítimas de violência doméstica todos os dias, seja ela física, psicológica, 
sexual, moral e/ou patrimonial, é difícil se proteger dos danos do mundo exterior. 
 O Isolamento Social pode se tornar uma verdadeira prisão para essas vítimas 
de seus próprios parceiros e uma sociedade ainda dominada pelo patriarcado, 
racismo e elitismo como o Brasil. Portanto, a descoberta da pandemia do novo 
coronavírus não nos trouxe novos problemas, apenas os tornou mais óbvios. Aqueles 
que estiveram na sociedade incluem a violência contra as mulheres. As pessoas 
pensam que o isolamento social e a violência aumentaram, mas tudo isso mostra o 
quanto ainda vivemos em um mundo desigual onde hierarquias de gênero, classe e 
raça se cruzam e produzem todo tipo de opressão. 
32 
 
Além do mais, vários fatores externos influenciaram, mas não justificaram, o 
aumento da violência contra a mulher relacionada à pandemia: abuso de álcool e 
outras drogas; desemprego e crises financeiras; Retirar a mulher de sua rede de apoio 
(família, amigos) e intensificar o ciclo de violência por meio do contato constante com 
o agressor. Observou-se também que, embora seja perceptível o aumento da 
violência, muitos casos ainda são subnotificados, o que é instigante mesmo diante do 
número de mulheres que se encontram em situação de violência e não se reconhecem 
como tal. 
Desse modo, a Secretaria da Mulher de Pernambuco está sempre atenta ao 
aumento no número de casos de violência contra as mulheres, por conta do 
confinamento durante a pandemia do Covid-19. As casas de abrigo fazem parte de 
um serviço de proteção à mulheres, filhas, filhos e dependentes menores de 18 anos 
que enfrentam ameaças de morte por violência doméstica e funciona 24 horas por dia. 
Esse serviço é prestado pela Secretaria da Mulher, que recebe encaminhamentos de 
delegacias, centros de aconselhamento, órgãos municipais e outros órgãos de 
proteção à mulher, que somam 593 no estado. A mulher também pode ligar para 0800-
281-8187 (Ouvidoria Estadual da Mulher) para obter ajuda direta. 
Outro serviço que as mulheres também podem usar, é a vigilância eletrônica. 
Trata-se de mulheres com decisão judicial para que seja colocada tornozeleiras 
eletrônicas em seus agressores, enquanto as mulheres ficam com os dispositivos que 
sinalizam a aproximação dos mesmos. Mulheres com discrição devem se dirigir à sede 
da SecMulher-PE na Rua Cais do Apolo 222. Mulheres vítimas de violência doméstica 
que precisam se cadastrar no 190 Mulher, também podem se inscrever por telefone 
ou na sede da Secretaria. 
Para quem mora em outras cidades, o estado trabalha com os municípios para 
prestar assistência às mulheres por meio de Organimos Municipais de Políticas 
Públicas para Mulheres - Pernambuco é o único estado com 185, incluindo Fernando 
de Noronha - Além de Centros Especializados de Atendimento às mulheres (veja 
abaixo). A rede conta ainda com 11 delegacias especializadas, além das comuns e 
demais serviços. Reclamações e todas essas informações podem ser obtidas pelo 
telefone 0800-2818187. O número é válido 24 horas por dia e permite ligações 
gratuitas de telefones fixos e celulares. Quem ouvir o grito de uma mulher ou qualquer 
pedido de socorro pode ajudar a salvar vidas, não apenas a da mãe, mas de outros 
parentes e amigos que também são vítimas dessa violência. 
33 
 
Seguem os serviços de atendimento às mulheres no Estado de Pernambuco: 
 
OUVIDORIA DA MULHER - ATENDENDO 24H; Centro Especializado de 
Atendimento à Mulher Márcia Dangremon - Plantão 24H; Centro Especializado de 
Atendimento à Mulher Clarice Lispector/Recife; Centro Especializado de 
Atendimento à Mulher Maristela Just/Jaboatão; Centro Especializado de 
Atendimento à Mulher Aqualtune/Paulista; Centro Especializado de Atendimento à 
Mulher Maria Porcina Souto/Cabo de Santo Agostinho; Centro Especializado de 
Atendimento à Mulher/Camaragibe; Centro Especializado de Atendimento à 
Mulher/Igarassu; Centro Especializado de Atendimento à Mulher/São Lourenço da 
Mata. 
 
Dentre tantos outros que são disponibilizados para dar suporte à estas 
mulheres vítimas de violência doméstica. 
Agora, o estado conta com 11 delegacias da mulher, que estão localizadas em 
Santo Amaro (Recife), Prazeres (Jaboatão dos Guararapes), Cabo de Santo 
Agostinho, Paulista,Vitória de Santo Antão, Goiana, Caruaru, Surubim, Afogados da 
Ingazeira, Garanhuns e Petrolina. 
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS) do estado de Pernambuco, 
houve uma queda no número de denúncias de violência doméstica contra a mulher e 
de estupro relativo à cinco meses no ano de 2020. No mês de maio, a queda 
relacionada às denúncias de violência contra a mulher foi de 23,51% em comparação 
com 2019. Concomitante, no ano anterior, foram registrados 3.573 boletins de 
ocorrência, este ano, o número foi de 2.733 denúncias. 
 
3.2 Os tipos de violência doméstica 
 
A Lei Maria da Penha traz em seu artigo 7º, formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher. Sendo, pois, a violência física, psicológica, sexual, 
patrimonial e moral (Lei 11.340/06). A vítima de violência doméstica pode sofrer mais 
de um tipo de violência, o SINAM registra diferentes tipos com maior frequência e 
incidência, a saber: violência física, violência psicológica, tortura, violência sexual, 
violência econômica e violência de abandono. A violência física é a mais comum e 
34 
 
ocorre durante a fase jovem e adulta da vida da mulher, seguida pela violência 
psicológica e em terceiro lugar a violência sexual. (WAISELFISZ, 2015, p. 52). 
Por meio do Sinan, é realizado pelo gestor de saúde do SUS, notificações 
através de uma ficha que tornam dados trabalhados, que são utilizados para 
pesquisas de campo e determinadas estatísticas, graças ao reconhecimento de 
diferentes violências contra mulheres dentro da violência doméstica, contribuiu-se 
para que fosse todas os tipos de violências englobadas dentro do sistema em 2009 
(WAISELFISZ, 2015). 
Nessa triste realidade para as mulheres, os tipos de violência vivenciados são 
crescentes e, em muitos casos, a violência silenciosa– como moral e psicológica – 
consideradas as mais prejudiciais, como aponta Saffioti: 
 
Trata-se de uma conduta inaceitável do homem – quebrar objetos e rasgar 
roupas da companheira – em virtude de tentar destruir, às vezes 
conseguindo, a identidade desta mulher. Os resultados destas agressões não 
são feridas no corpo, mas na alma. Vale dizer feridas de difícil cura. Nas cerca 
de 300 entrevistas feitas com vítimas na pesquisa Violência doméstica: 
questão de polícia e da sociedade, é frequente as mulheres se pronunciarem 
a respeito da maior facilidade de superar uma violência física, como 
empurrões, tapas, pontapés, do que humilhações. De acordo com elas, a 
humilhação provoca uma dor muito profunda (SAFFIOTI, 2011, p. 55). 
 
 
Integrando outro tipo de violência contra mulheres, apresenta também com 
sobreposição com a familiar. Acontece com pessoas que não pertencem a família em 
si, mas são agregadas, a exemplo, temos as empregadas domésticas, que vivem 
parcialmente ou integralmente no domicílio do agressor (SAFFIOTI, 2011, p. 63). 
Na acepção de “violência doméstica”, existe um aglomerado, de que Tânia 
Brabo desmarca sua associação pejorativa a ideias naturalizadas de “domesticidade” 
e de subordinação, e ainda argumenta que as diferentes formas de violência, 
penetram-se, replicam-se e reforçam-se, tanto no espaço social amplo, quanto no 
restrito constituído pela família (BRABO, 2015, p. 23). 
Muitas vítimas de violência doméstica não percebem que estão sendo 
abusadas porque acreditam que a agressão é apenas física. Na minissérie, MAID, 
transmitida na Netflix e produzida pela Molly Smith Metzler, retrata a personagem 
acreditando que não deveria ter saído da casa de seu agressor e achar que estava 
retirando a vaga de uma vítima de verdade por não precisar de auxílio em abrigo para 
vítimas de violência doméstica por seu namorado “apenas” ter socado a parede do 
lado da cabeça dela. 
35 
 
Para a vítima, é difícil reconhecer o comportamento agressivo além da 
agressão física, e é ainda mais difícil para a vítima acusar seu agressor e manter a 
acusação, sem recuar, por motivos de ordem econômica, emocionais, psicológicas ou 
sociais e familiares e insistir na denúncia. (LOURENÇO, 2001, p. 02). 
 
4. QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS QUE A PANDEMIA DO COVID-19 CAUSOU 
PARA MULHERES QUE SOFREM VIOLÊNCIAS DE SEUS PARCEIROS? 
 
Durante a pandemia de coronavírus, observou-se que as mulheres estão 
divididas em dois grupos: mulheres sobrecarregadas com tarefas domésticas e 
cuidados ininterruptos devido à dinâmica familiar e mulheres que navegam sozinhas 
na pandemia, sem ou com uma rede de apoio limitada. Esta situação é agravada pela 
forma como as mulheres são educadas: 
 
Entre esses extremos temos uma série de arranjos familiares que também 
têm sobrecarregado as mulheres, apontando para a certeza de que todas as 
pessoas necessitam de cuidado. E o trabalho de cuidado que nos é ensinado 
desde criança, seja através de brincadeiras ou diante da necessidade de 
aprender este ofício para suprir as demandas dos irmãos mais novos, se 
aperfeiçoa, introjeta-se em nossas subjetividades, se reproduz, se 
mercantiliza, sempre nos condicionando às expectativas sociais ao ponto de 
naturalizar-se e então, nos oprimir (LIMA, 2020, p.02). 
 
 
Uma pandemia revela muita sobre o indivíduo, a sociedade e o Estado, em 
uma pandemia grandiosa como esta da Covid-19, “revela-se muito sobre como as 
sociedades se organizam, sobre as maneiras precedentes de desigualdades, de 
violência, de vulnerabilidade” (MORAIS, 2020, p.03). 
Por meio de todos os fatores que foram problematizados em função da 
pandemia, podemos mostrar que ela exacerbou muito as desigualdades sociais que 
já existiam nos dias normais de brasileiros e mulheres. (LIMA, 2020, p. 03). 
Em pesquisa realizada com 2.641 mulheres, 50% passaram a cuidar de 
alguém desde o início da pandemia no Brasil e ainda, 58% das brasileiras 
desempregadas são negras e 41% das mulheres que conseguiram se manter 
trabalhando na pandemia recebendo salário afirmaram que passaram a trabalhar mais 
na quarentena (LIMA, 2020, p. 04). 
O isolamento social veio como uma das diversas consequências da pandemia 
do Covid-19, “ a violência doméstica, aumentou em vários países à medida que 
36 
 
preocupações com segurança, saúde e dinheiro criam tensões acentuadas pelas 
condições de vida apertadas do confinamento” (ROSO, 2020, p. 08). 
“Entre o período de março e maio de 2020, ocorreu um pequeno aumento de 
2,2% nos casos de feminicídios, registrados em comparação com o mesmo período 
de 2019” (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020, p. 04). 
O maior fator para o aumento da violência doméstica durante a pandemia é o 
isolamento, que pode não fazer sentido e tem um efeito assustador, pois aumenta o 
risco de exposição à violência doméstica, principalmente para mulheres que já 
possuem histórico de violência dentro de suas casas. (ROSO, 2020, p. 04). 
“Para se proteger do adoecimento causado pela COVID-19 as mulheres 
acabam mais expostas à violência doméstica. Isso acontece porque o lar pode ser um 
lugar onde a dinâmica do poder, é capaz de distorcer e subverter aqueles que 
abusam” (ROSO, 2020, p. 05). 
Sabendo que o distanciamento social é um fator favorável para o aumento da 
violência contra a mulher, ele entende que em um contexto social, esse isolamento 
gera sentimentos de medo e insegurança, pois aumenta a vivência de maus-tratos, 
podendo incluir violência física, sexual, patrimonial e moral. Em conjunto ao 
isolamento, como já evidente, o fator da desigualdade social e de gênero interfere 
também para o aumento de experiências de sofrimento psíquico, maior sensação de 
pânico, medo e ansiedade (LIMA, 2020, p. 04). 
Hoje vivemos um novo normal, com um novo modo de vida no dia a dia, com 
uso de máscaras, com distanciamento entre as pessoas e temos que enfrentar tudo 
isso em decorrência do Covid-19 para nos proteger. Além de todas as medidas 
necessárias, “precisamos também lidar com outra pandemia mais antiga, que pode 
ser considerada mais “silenciosa”, que é a violência domésticae suas diferentes 
formas” (ROSO, 2020, p. 05). 
A pandemia, de certa forma, obrigou o convívio mais contínuo entre vítima e 
agressor, a vítima em situação de violência acaba por “enfrentar obstáculos adicionais 
para fugir de situações violentas ou acessar ordens de proteção que salvam vidas 
e/ou serviços essenciais devido a fatores como restrições ao movimento em 
quarentena” (ROSO, 2020, apud ONU Mujeres 2017, p. 2). 
Considerando que o isolamento social é um fator que aumenta a violência 
contra a mulher, e que a maioria dos casos ocorre dentro de residências e lares, 
37 
 
imagina-se que a denúncia tenha sido dificultada. No entanto, é isso que uma 
declaração do chefe da ONU relata: 
 
Durante a pandemia, os números relacionados aos casos de violência 
doméstica devido ao isolamento social são expressivos dessa violência de 
gênero. No Brasil, em março de 2020, início da medida protetiva de 
isolamento, imposta pela pandemia, as denúncias recebidas no Disque 180 
cresceu 40% em relação ao mesmo período do ano de 2019, segundo dados 
divulgados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos 
(SILVA, 2020). 
 
 
Durante esse período, as pessoas estão passando mais tempo em casa em 
um espaço seguro sem o risco de contrair o Covid-19, suportando o medo da morte, 
o medo da sobrevivência e o medo das consequências do vírus. Além de todas as 
preocupações e medos que as cidadãs ainda tinham que se preocupar, ter um lar 
seguro para evitar contrair um vírus não era a realidade para muitos. 
A redução de crimes de violência contra a mulher no ano de 2020 não é algo 
para comemorar, “não significa que a violência diminuiu ou deixou de acontecer, mas 
pode indicar uma subnotificação por causa das restrições implementadas durante a 
pandemia (SILVA, 2020). 
A Lei Maria da Penha que aduz em seus artigos proteção à mulher, com o 
objetivo de erradicar a violência doméstica e familiar contra a mulher, em meio ao caos 
causado pela Covid-19 completou 15 anos em 2021, sendo uma das leis mais 
importantes neste momento de crescimento dos números de agressões e abusos 
contra a mulher (SILVA, 2020). 
 
4.1 Possíveis medidas de proteção em tempos pandêmicos 
 
Desde o início da pandemia de Covid-19, medidas foram tomadas para 
proteger as mulheres, pois a relação entre vítima e agressor aumentou, as vítimas têm 
tempo para ficar em casa, a dificuldade em buscar ajuda e fazer denúncias: 
 
A Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres descreve doze ações, 
dentre elas destacamos: manter serviços da rede de atendimento, com a 
devida segurança dos/as profissionais; atualizar quais serviços estão em 
funcionamento e seus respectivos horários; disponibilizar materiais 
informativos nos estabelecimentos abertos e também nos sítios eletrônicos; 
e ainda criar comitês de enfrentamento à violência no contexto da COVID-19 
(ROSO,2020,p.15). 
 
38 
 
 
As mulheres que foram vítimas de violência doméstica são aconselhadas a 
estarem acompanhadas de familiares durante o distanciamento social e, em situações 
extremas, manter seus celulares protegidos e fazer um plano de fuga seguro” (ROSO, 
2020, p. 15). 
As vítimas de violência, também contam com as medidas de proteção de 
urgência, que tem o intuito de reprimir os vários tipos de violência cometidas contra a 
mulher em situação doméstica, sendo verificada a necessidade de proteção, as 
medidas devem ser solicitadas e tem o juiz tem até 48 horas para deferir ou indeferir 
os pedidos (ROSO, 2020, p. 16). 
Durante as medidas de distanciamento e isolamento para evitar o contágio do 
vírus Covid-19, puderam ser observadas várias redes de apoio solidárias e prontas a 
prestar apoio financeiro e psicológico a mulheres vulneráveis e vítimas de violência 
(SILVA, 2020). 
Durante esse período de pandemia do coronavírus, as mulheres também 
tiveram várias iniciativas do setor público, nas quais podem denunciar anonimamente, 
compartilhar histórias, registrar contatos de emergência, fornecer atendimento médico 
e psicológico. Pernambuco foi um exemplo de local para aderir a essa iniciativa. 
Imagine quantas mulheres foram abandonadas pelo poder público, se 
perderam de si mesmas, seus ideais, sua vontade, sua segurança, perderam o afeto, 
a alegria e perderam a vida. 
 
 
39 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O progresso na realização dos direitos das mulheres é, sem dúvida, um marco 
na história da humanidade. Assim como o advento de uma lei específica para coibir a 
violência doméstica e a violência contra a mulher, desmistificando o machismo 
estrutural de que a violência contra a mulher é "normal", pois foram culturalmente 
ensinadas a aceitar a submissão como forma de proteção. 
A violência doméstica é um mal que atinge não apenas os envolvidos 
diretamente na situação, mas toda a população. Tem que ser tratado como um 
problema de saúde pública, senão a sociedade brasileira estará condenada em 
poucos anos. Ressaltando sua não indissociabilidade do ambiente externo nas 
relações familiares, mas a disseminação do que é vivenciado no ambiente domiciliar, 
na sociedade. Ao mesmo tempo, confere ao Estado o dever constitucional de 
monitorar e garantir os direitos das mulheres. 
Portanto, notou-se que a pandemia do novo coronavírus não nos trouxe novos 
problemas, mas apenas evidenciou aqueles que sempre estiveram na sociedade, 
inclusive a violência contra a mulher. Acredita-se que o isolamento social e o aumento 
da violência têm mostrado o quanto ainda vivemos em um mundo desigual onde 
hierarquias de sexo, gênero, classe e raça se cruzam e criam opressão multifacetada. 
Além disso, vários fatores externos influenciaram, mas não justificaram, o 
aumento da violência contra a mulher relacionada à pandemia: abuso de álcool e 
outras drogas; desemprego e crises financeiras; Retirar a mulher de sua rede de apoio 
(família, amigos) e intensificar o ciclo de violência por meio do contato constante com 
os agressores. Observou-se também que, embora seja perceptível o aumento da 
violência contra a mulher, muitos casos ainda são subnotificados, o que é instigante 
mesmo diante do número de mulheres que se encontram em situação de violência e 
não se reconhecem como tal. 
Considerando o aumento significativo, principalmente no número de 
feminicídios, concluiu-se que as medidas públicas implementadas são insuficientes, 
precárias e insatisfatórias. Não só por esse pensamento, mas também após uma 
análise da Lei 14.002/2020. Embora isso aborde vários aspectos importantes, não 
contempla a complexidade desse tema, que precisa ser pensado de forma contexto 
patriarcal, colonial-racista, classista e cisheteronormativo. 
40 
 
A criação da Lei Maria da Penha criou uma das mais importantes ferramentas 
de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, embora longe de ser o 
ideal perfeito, com as ações e serviços implementados tornaram-se mais acessíveis 
e contribuiu diretamente para a mudança estrutural da desigualdade existente entre 
os sexos. Ao mesmo tempo, as necessidades dos indivíduos mudaram, fato que nem 
sempre foi acompanhado de legislação, a falta de diretrizes públicas para tempos 
atípicos, o que confirma a fragilidade de recursos e mecanismos de apoio às vítimas 
femininas em âmbito regional ou nível nacional que vem dificultando o enfrentamento 
da violência em tempos de pandemia do Covid19. 
Essa ação estatal em matéria de combate à violência contra a mulher tem 
apresentado um desenvolvimento notável nos últimos anos, mas ao mesmo tempo 
também tem gerado críticas, principalmente alegando que não promove medidas de 
enfrentamento e prevenção de inserção no cenário da violência, pois o aumento da 
violência doméstica nesse período atípico de pandemia mostra a desorganização e 
total descaso com a situação das mulheres, principalmente em um momento em que 
as vítimas estão ainda mais vulneráveis do que há mais tempo em contato

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