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1 Marketing e Gestão de Clientes em EaD Prof. Me. Flavio Celso Muller Martin Prof. Me. Luiz Antonio Genghini Professor conteudista Flavio Celso Muller Martin é Bacharel em comunicação social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo – ESPM (1985), pós-graduado em Marketing de Serviços pela Universidade Paulista – UNIP (2006) e mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP (2009). Conta com vinte anos de experiência executiva em empresas nacionais e multinacionais dos ramos de embalagens, equipamentos, gráfico, financeiro e de serviços; experiência acadêmica de dezesseis anos na Universidade Paulista – UNIP como professor nos cursos de Marketing, Administração e Economia e onze anos como coordenador do curso de Administração na modalidade EaD. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4357834866743626. Última atualização do currículo em 6/8/2019. Professor colaborador Luiz Antonio Genghini possui graduação em CEETEC Esquema I pela Faculdade de Educação Campos Salles (1983), graduação em Administração pela Universidade São Judas Tadeu (1989), graduação em Direito pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (1980), pós-graduação em Psicopedagogia (1988) pela Universidade São Judas Tadeu, mestrado em Administração pela Universidade Guarulhos (2001) e pós graduação em Formação em Educação a Distância pela UNIP (2012). Atualmente é professor adjunto I da Universidade Paulista, sócio psicopedagogo consultor organizacional da Mentor Orientação Psicopedagógica Ltda., coordenador (vice-reitoria de pós-graduação e pesquisa – UNIP), consultor (Hidropav Construções e Pavimentação Ltda.). Tem experiência na área de administração, com ênfase em administração, atuando principalmente nos seguintes temas: marketing interno, endomarketing, endocomunicação e em consultoria empresarial no setor de gestão. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/3501696843503553. Última atualização do currículo em 1/8/2019. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 4 UNIDADE I .............................................................................................................................................. 5 1. ORGANIZAÇÕES E MARKETING .............................................................................................. 5 1.1 Definições e aplicações ............................................................................................................... 5 1.2 Breve histórico ........................................................................................................................... 11 1.3 Pesquisa de marketing .............................................................................................................. 15 UNIDADE II ........................................................................................................................................... 21 2. CLIENTES ................................................................................................................................. 21 2.1 Clientes na visão de administração de processos .................................................................... 22 2.2 Tipos de clientes ........................................................................................................................ 24 2.2.1 Consumidor ............................................................................................................................... 24 2.2.2. Comprador ................................................................................................................................. 24 2.2.3. Pagante ..................................................................................................................................... 25 2.2.4. Cliente interno............................................................................................................................ 26 2.2.5. Cliente externo .......................................................................................................................... 26 2.3 Comportamento do consumidor ................................................................................................ 26 UNIDADE III .......................................................................................................................................... 33 3. GESTÃO DE CLIENTES ........................................................................................................... 33 3.1 Segmentação e definição de clientes-alvo ................................................................................ 33 3.2 Atributos valorizados pelos clientes .......................................................................................... 36 3.3 Técnicas para ouvir e entender clientes ................................................................................... 37 3.3.1 Métodos e técnicas ................................................................................................................... 40 3.3.2 Explorando e contextualizando dados ..................................................................................... 42 UNIDADE IV .......................................................................................................................................... 47 4. SATISFAÇÃO DE CLIENTES E O CAMINHO PARA O FUTURO ........................................... 47 4.1 Instrumentos de avaliação ........................................................................................................ 47 4.2 Temas emergentes.................................................................................................................... 49 4.2.1 Comportamento coletivo ............................................................................................................ 49 4.2.2 Eye tracking com pesquisa de observação em ambientes não controlados ............................ 50 4.2.3 Lógica fuzzy aplicada a pesquisa de mercado .......................................................................... 51 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 57 4 INTRODUÇÃO Seja bem-vindo ao mundo do marketing e da gestão de clientes em EaD! O conteúdo que iremos discutir tem crescente importância no dia a dia das organizações. Você terá a oportunidade de compreender a importância do Marketing enquanto função organizacional, bem como entender a dinâmica do relacionamento entre organizações e clientes Nossa discussão sobre marketing vai estabelecer a importância da função dentro de uma visão de processos organizacionais e contém desde os elementos basilares da atividade até elementos contemporâneos da alta competitividade das empresas. Vamos discutir como atrair, atender e reter clientes com qualidade, e como manter uma percepção positiva na memória deles. Muito mais que isso, vamos ajudar você a compreender que cada pessoa apresenta perfil comportamental distinto quando assume diferentes papéis. Esses perfis de comportamento permitem a criação de estratégias mercadológicas específicas com grandes chances de sucesso. Veja bem: sem clientes não há negócio, concorda? É provável que 100% dos gestores concordem também. Então qual o motivo para que nossa percepção, enquanto consumidores, seja distinta dessa importância? Há vários motivos para as organizações não tratarem bem seus clientes (incompetência é um deles), mas mesmo organizações de classe mundial estabelecem níveis diferentes de tratamento de clientes em função de sua importância relativa. Ou seja, a frase “o cliente tem sempre razão” nem sempreé aplicável. O marketing, enquanto função organizacional, desde sua origem vem abordando a importância dos clientes e estabelece diversas tratativas em termos de aplicação. 5 UNIDADE I 1. ORGANIZAÇÕES E MARKETING Nesta unidade, vamos entender e contextualizar o papel do marketing nas organizações, bem como apresentar um pequeno histórico dessa atividade e introduzir conceitos e aplicações de pesquisa de marketing. 1.1 Definições e aplicações Antes de discutir o papel do marketing nas organizações, vamos rever o que é uma organização. Maximiano (2000, p. 7) define organização como uma combinação de esforços individuais que tem por finalidade realizar propósitos coletivos. Ou seja, pessoas realizando tarefas com objetivos grupais. Empresas, de qualquer ramo ou porte, se encaixam na definição. Mas não só empresas: órgãos públicos, denominações religiosas, partidos políticos, ONGs e outros também são organizações! Veja que, na definição, os propósitos coletivos podem ser voltados ao atendimento de um dado mercado (empresas), ao ensino gratuito (escola pública), ao professar de uma fé (igrejas), ao salvamento de baleias (ONG ambiental) e outros tantos. Perceba: nem sempre uma organização tem por objetivo atender um mercado com lucro. Porém, todas as organizações são semelhantes enquanto sistemas. Figura 1 – Sistemas Fonte: elaborado pelos autores (2019). Entram insumos de produção (matéria-prima, componentes, informação etc.), a organização faz o processamento (produção/operação) e sai o produto para o cliente. Note que essa descrição se aplica a uma empresa fabril, mas o desenho básico de sistema é aplicável a qualquer organização. Por exemplo, para um partido político uma das entradas é composta por demandas sociais, que são processadas pelo partido gerando como saídas propostas de leis. Mas, numa visão sistêmica, o papel das organizações é transformar necessidades dos clientes em produtos capazes de satisfazê-las. 6 Figura 2 – Visão sistêmica das organizações Fonte: elaborado pelos autores (2019). Claro que as Entradas no exemplo acima não são somente necessidades: há entrada de matéria-prima, componentes, informação etc. para que o produto seja constituído. Por exemplo, algumas pessoas demandam hortaliças orgânicas para sua alimentação. Essa necessidade é percebida pelo supermercado que providencia esse tipo de produto para vender. Ou é percebida por um produtor rural que altera seus processos produtivos e passa a oferecer esse tipo de produto. Qual o papel do marketing nessa visão sistêmica? A mais recente definição da American Marketing Association (AMA) é: Marketing is the activity, set of institutions, and processes for creating, communicating, delivering, and exchanging offerings that have value for customers, clients, partners, and society at large (https://www.ama.org/AboutAMA/Pages/Definition-of-Marketing.aspx). Ou seja, é a atividade estabelecida por organizações com processos para criar, comunicar, entregar e intercambiar ofertas que tenham valor para clientes, parceiros e sociedade em geral. Os produtos das organizações devem ter valor percebido pelos clientes para que as trocas possam ocorrer (normalmente a troca é dinheiro por produto, mas há outros tipos de trocas incentivadas pelo marketing). Las Casas (2006) pondera sobre o papel do marketing na empresa: Com certeza, procurar orientar a empresa para os funcionários gera satisfação entre eles e ajuda a motivá-los. Consequentemente, com funcionários motivados há dedicação maior por parte destes indivíduos, que passam a tratar melhor também os clientes da empresa (LAS CASAS, 2006, p. 15). 7 O autor também discute o papel do marketing na sociedade: Na verdade, a importância do marketing na sociedade é de muito fácil constatação. Todos os indivíduos têm alguma forma de influência do marketing nas suas atividades diárias. Ao acordar, o indivíduo consome sabonete, creme dental, xampu e uma série de outros produtos. No transporte, usa serviços de ônibus, táxis ou transporta-se em carro próprio, adquirido como resultado de estratégias de marketing (LAS CASAS, 2006, p. 16). Kotler (1967), um dos mais reconhecidos autores de marketing, desenvolveu as ideias de McCarthy (1960) e apresentou os famosos 4 Ps: Produto (Product) Preço (price) Comunicação (Promotion) Distribuição (Place) Há autores brasileiros que traduzem os termos em inglês de forma literal: promotion é promoção e place é praça. Formalmente não há erro, mas pode confundir. Promoção é uma ferramenta de comunicação (há outras: propaganda, publicidade/relações públicas e venda pessoal) e praça pode ser difícil de entender no século XXI, sendo mais adequado traduzir pelo sentido específico: distribuição. Os 4 Ps (também chamados de marketing mix) são ferramentas à disposição das organizações para atingir objetivos mercadológicos. Alguém decide como usar cada uma dessas ferramentas. Por exemplo, numa empresa do ramo de confecção de roupas: o presidente, junto com o diretor de operações, decide quais são os produtos que oferecerá para o mercado (roupa feminina, masculina, infantil etc.), bem como suas características (tipo de modelagem, tamanhos etc.). Decide também sobre embalagens, materiais de fabricação, processo produtivo etc. Essas são algumas das decisões de produto. o diretor financeiro decide sobre tabela de preços, prazos de pagamento com e sem juros, meios de pagamento aceitos etc. Essas são algumas das decisões de “preço”. o diretor de operações, junto com o gerente de logística, decide quais serão os pontos de venda para os produtos por categoria, bem como quais serão os processos logísticos de transporte, entrega e recolhimento em caso de devoluções. Esses são exemplos de decisões de distribuição. 8 O diretor comercial decide quais serão os meios e mensagens para se comunicar com o público-alvo (folhetos, site, e-mail, redes sociais etc.). Essas são algumas das decisões de comunicação. Esse exemplo propositalmente não apresenta uma área formal de marketing na empresa. Isso se deve ao fato de que os 4 Ps são decisões que alguém na organização deve tomar, independentemente de qual função/cargo desempenhe. Ou seja, marketing não é necessariamente um departamento ou diretoria! É um conjunto de atividades ligadas a decisões que podem ser tomadas por várias áreas das organizações. Isso faz parte da estrutura organizacional. Há organizações cujo departamento de marketing lida exclusivamente com decisões de comunicação, sendo este um dos motivos para algumas pessoas confundirem dizendo que “marketing é propaganda”. Marketing é muito mais que isso! Praticamente todas as empresas de médio e grande porte no mundo possuem uma área/departamento de marketing. Pode ser uma vice-presidência (Nestlé, Ambev, Natura), diretoria/CMO (Cargill, Adidas, Waze), gerência ou chefia. Nem todas são responsáveis integrais pelos 4 Ps: há casos em que a distribuição é responsabilidade de vendas e que preço é da área financeira. Se pensarmos rapidamente na aplicação dos 4 Ps em uma instituição de ensino superior com ensino a distância, teríamos decisões como as a seguir. 9 Em produto: quais são os cursos? (graduação, pós-graduação, bacharelado, pedagogia, economia, gastronomia etc.) qual a duração (em meses/anos)? qual a dinâmica de entrada de alunos? (bimestral, semestral, anual etc.) qual o formato de acesso? (materiais, videoaulas etc.) qual o layout dos materiais? (padronização gráfica/videográfica) etc. Em preço: quais são os preços cheios por curso? quais são as políticas de desconto? quais são os meios de pagamento aceitos? quais as margens para os canais de distribuição? (Polos, parceiros etc.) etc. Em distribuição: como gerenciar o relacionamentocom Polos atuais? qual a política de expansão? quais localidades têm potencial para ter novos Polos? como é feita a logística de entrega de materiais? quais softwares utilizar? etc. 10 Em comunicação: qual imagem institucional queremos passar em todas as comunicações? qual o público-alvo para atração de parceiros/Polos? qual o público-alvo para captação de alunos? quais meios de comunicação são utilizados para atingir cada público-alvo? qual imagem específica queremos comunicar para cada curso? quais benefícios queremos reforçar na comunicação de cada curso? quais mensagens devem ser passadas na conversão de interessados em matriculados? quais campanhas sazonais devem ser feitas? há aulas de demonstração gratuitas (degustação)? etc. A evolução tecnológica, bem como a mudança de costumes, alterou significativamente as atividades mercadológicas. Porém, a aplicação do conceito dos 4 Ps continua firme e forte. As organizações, por mais tecnológicas que sejam, continuam precisando utilizar as quatro ferramentas do marketing mix. Alguém precisa definir “produto”; alguém precisa estabelecer “preço”; alguém precisa escolher “distribuição”; e alguém precisa definir “comunicação”. O público, mesmo com tantas mudanças culturais e de costumes, continua tendo “necessidades” que são pesquisadas pelas organizações, que processam um produto que as atenda. Na academia e no mercado, várias pessoas propagam que os marketing são coisa do passado. Oras, um profissional de mercado pode adotar quaisquer referências para realizar seus planejamentos mercadológicos, com ou sem marketing. Porém, em termos acadêmicos, apesar das frequentes tentativas de substituir os 4 Ps por outra teoria de fácil replicação no mundo real, nada na prática substituiu este referencial teórico. Há inúmeras contribuições que vão além dos 4 Ps, mas sem substituí-los. Por exemplo: adição de um quinto P: pessoas. Porém, pessoas (público-alvo) não são variáveis controláveis como os outros quatro. adição de mais três Ps: evidência física, participantes e processos. Participantes são público-alvo, portanto não controláveis. Processos fazem parte da organização como um todo e não só de marketing. Evidência física faz parte do conceito de benefícios do produto e já está contida no P de produto. adição de mais dois Ps: força política e formação de opinião pública. Ambos estão ligados a atividades de relações públicas, que já fazem parte do P de comunicação. Há propostas de 15 Ps, adição de serviços e outras mais, mas, na prática, nada conseguiu substituir o referencial dos 4 Ps. 11 Leia um excelente artigo de Chai Lee Goi abordando as diversas tentativas de substituir os 4 Ps: A review of marketing mix: 4Ps or More? International journal of marketing studies, v. 1, n. 1, 2009. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.656.1894&rep=rep1&type= pdf. 1.2 Breve histórico Segundo Ambler (2004), o marketing deve ser tão antigo quanto o comércio, cuja história corre em paralelo à história da humanidade. Assim, o início do marketing, por essa visão compartilhada por Las Casas (2001) e Sandhusen (2003), teve início com o processo de troca, que é considerada a primeira forma de comércio. Não é à toa que o objeto de estudo do marketing, enquanto área do conhecimento, seja exatamente a troca ou transação! Marketing não é uma ciência, e sim uma área do conhecimento, pois seus limites (boundaries) não são claramente definidos. Para estudar a troca ou transação, objeto de estudo, o marketing lança mão de diversas ciências: psicologia, sociologia, economia etc. Ambler (2004, p. 3) esclarece: O Marketing tem existido desde o início do comércio, mas não era chamado desta forma. Mercadores não simplesmente compravam e vendiam; eles desenvolviam relacionamentos de longo prazo, o que agora seria chamado de equidade da marca. Eles podem não ter sido introspectivos sobre seus métodos de negócios, mas se eles não tivessem conhecimento de como satisfazer seus consumidores, enquanto faziam lucro para eles mesmos, o comércio não teria sobrevivido. (AMBLER, 2004, p. 3) Bartels (1976) tem outro ponto de vista: a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em 1760, aos poucos estendeu-se ao resto da Europa trazendo aumento da produção e consequentemente das vendas. O que Bartels postula é que a produção era maior que a demanda próxima, mas muito distante da demanda externa (outros países). Assim, novas técnicas de distribuição para atingir o mercado nacional foram desenvolvidas, criando conceitualmente o primeiro dos 4 Ps: praça ou distribuição. 12 Perceba que ambas as abordagens são mais conceituais do que práticas, muito embora a abordagem descrita por Bartels tenha uma âncora mais firme. Essa âncora tornou o marketing uma área do conhecimento no início do século XX: De início, a disciplina se dedica essencialmente aos problemas mais concretos suscitados pelo novo contexto: basicamente, a superação das dificuldades impostas pela distância geográfica que separa os produtores dos consumidores. Mas o seu alcance rapidamente ultrapassa esses limites. Longe de ater-se a questões logísticas, o Marketing vai abranger aspectos cada vez mais significativos da relação produtor versus consumidor (CHAUVEL, 2001, p. 4). Santos et al. (2009) contribuem estabelecendo uma perspectiva cronológica da história do marketing. 1900-1910: período da descoberta. A propaganda e a força de vendas evoluíram em conteúdo e técnicas. Teorias da distribuição foram apropriadas das ciências econômicas. O dia das mães foi criado em 1908. 1910-1920: período de conceituação. Conceitos relativos ao marketing foram desenvolvidos e ampliados. Em 1919, surge o autosserviço, criando uma onda avassaladora no varejo e atacado. 1920-1930: período de integração. Vários conceitos esparsos foram pela primeira vez integrados num corpus teórico. 1930-1940: período de desenvolvimento. A teoria e a prática do marketing continuam a se desenvolver. A partir de 1930, surgem os primeiros supermercados em imóveis abandonados durante a grande depressão (fruto do crash da Bolsa de Nova York). 1940-1950: período de reavaliação. Os conceitos de marketing foram reavaliados com a apropriação de conceitos de outras ciências. No final da Segunda Guerra (1945), a psicologia estuda práticas de persuasão e de comportamento logo incorporadas ao marketing. 1950-1960: período de reconceituação. Processos de decisão gerencial características sociais e análise qualitativa renovaram os conceitos e práticas do marketing, envolvendo foco nos mercados consumidores com informação demográfica. 1960-1970: Período de diferenciação. Aspectos gerenciais, holísticos e ambientais entram na agenda do marketing, praticamente acompanhando o desenvolvimento de teorias correlatas na administração. Os 4 Ps são propostos e aceitos. 13 Os 4 Ps são de autoria de Jerome McCarthy, popularizados por Philip Kotler. 1970-1980: período do desenvolvimento do marketing dentro das organizações. Implantação formal de departamentos de marketing em grandes empresas e também em outros tipos de organizações: Estado, organizações civis sem fins lucrativos, denominações religiosas e partidos políticos etc. Grande crescimento de supermercados, shopping centers e franquias. 1980-1990: período do surgimento dos gurus do marketing e do marketing para médias e pequenas empresas. Autores (e palestrantes) como Peters, Waterman, Hunt, Porter e outros contribuíram fortemente na teoria e aplicação de marketing, sendo considerados “gurus” na época. Organizações de médio e pequeno porte passaram a formalizar as funções mercadológicas. Surge o marketing de relacionamento, tema recorrente neste livro-texto. 1990-2000: período do cybermarketing, marketing experiencial e marketingsocietal. A rapidez das inovações tecnológicas impactou a atividade mercadológica. E-Commerce, CRM, e-banking, e-learning etc. tornaram possível uma abordagem de gestão dos clientes nunca vista. O cybermarketing propiciou a personalização em massa, o marketing societal (ou social) converteu responsabilidade social em diferencial competitivo e o marketing experiencial traduziu o apelo das sensações e experiências de consumo em fortes apelos mercadológicos. De 2000 até os dias atuais: período da sociedade pós-industrial. O mundo de hoje traz as rápidas mudanças tecnológicas e comportamentais em seu bojo. Mudança da matriz de acesso (de TV passiva a múltiplos meios ativos via internet e 4G) e mudanças de hábitos de consumo (basta comparar os hábitos dos cinquentões com o de jovens adultos) não devem parar aí. Pense nas redes sociais e na influência dos games como mídia de marcas e produtos! 14 De qualquer forma, o marketing hoje é um dos grandes beneficiários da revolução das TICs (tecnologias de informação e comunicação). O público tem acesso, em regime de 24 horas por dia, sete dias por semana, a informação (verdadeira e falsa), ofertas, comunicação com pares e organizações e muito mais. A mídia tradicional (TV, rádio, revistas e jornais) perde relevância cada vez mais e o fato dessa população ter em mãos smartphones o tempo inteiro, potencializa as campanhas de marketing. Veja a figura 3: O gráfico (fig. 3) mostra a penetração dos dispositivos móveis em 2018 em diversos países do mundo, resultado de uma pesquisa com 30.133 pessoas em 27 países (TAYLOR; SILVER, 2018). Note a importância desses dispositivos nos mais importantes países do mundo, e veja que no Brasil 60% da população possui smartphone. Esse número vai crescer naturalmente à medida que os 17% que possuem celular sem ser smartphone trocarem seus aparelhos. 15 Figura 3 – Penetração de dispositivos móveis 2018 Fonte: Taylor e SILVER, 2018. Perceba a gigantesca oportunidade mercadológica de fazer uso das mais modernas técnicas para atingir esse público! 1.3 Pesquisa de marketing Como veremos adiante, para fazer a gestão de clientes é necessário conhecer e entendê-los. Um dos processos mais comuns é o de pesquisa de marketing. Sheth, Mittal e Newman (2001), abordando as pesquisas sobre o comportamento do cliente, estabelecem dois tipos de pesquisas usuais: pesquisas qualitativas pesquisas quantitativas A pesquisa quantitativa utiliza a quantificação na coleta de dados e no tratamento com técnicas estatísticas, tais como percentual, média, correlação, regressão e outros. Essa é a clássica pesquisa em que vemos entrevistadores na rua abordando pessoas e utilizando questionários. Pesquisas eleitorais, pesquisas de aferição de audiência de TV, pesquisas de opinião e outras lançam mão de questionários junto a amostras do público-alvo e resultam em relatórios com as contagens das variáveis medidas. Por exemplo, uma pesquisa eleitoral gera um relatório com os percentuais de intenção de voto em cada candidato, enquanto que uma pesquisa de perfil de cliente no varejo gera um relatório com os percentuais de 16 sexo, idade, preferência de marca, meio de pagamento utilizado etc. Como o próprio nome diz, a pesquisa quantitativa resulta em quantidades associadas a variáveis alinhadas com o objetivo da pesquisa. Figura 4 – Exemplo de questionário para pesquisa quantitativa Fonte: elaborado pelos autores (2019). O questionário da figura 3 apresenta: Questões fechadas – Estabelecem um limite no horizonte de respostas e são pré-definidas. Exemplo: questão 4. Questões abertas – Possibilitam a resposta sem limitações. Exemplo: questão 7. Questionários podem ter aplicação: Pessoal, com um entrevistador fazendo as perguntas pessoalmente. Por telefone, com um entrevistador fazendo as perguntas por telefone. Por meio eletrônico, com o próprio respondente preenchendo as respostas em computador, smartphone, tablet etc. As pesquisas quantitativas podem trabalhar com um censo (100% da população-alvo) ou com uma amostra dessa população-alvo. As amostras podem adotar critérios estatísticos de aleatoriedade e assim serem representativas da população, ou serem meramente formadas por conveniência/facilidade e não serem representativas. Já a pesquisa qualitativa foca no caráter subjetivo do objeto analisado sem levar em consideração quantidades e técnicas estatísticas. Uma vez que as respostas não são objetivas, e sim contextuais, é possível obter insights sobre o comportamento do público-alvo. As amostras são pequenas e não representativas da população. O instrumento de coleta não é o famoso questionário, pois as respostas não serão tabuladas, e sim o roteiro de pesquisa, que contém tópicos e não perguntas. Esses tópicos são respondidos pelos pesquisados de forma aberta e não estruturada, com liberdade para expor pontos de vista sobre o tema. Loja: (Não perguntar: observe se comprou algo e anote ao lado) 1 Comprou 1 Qual sua nota de 0 a 10 para a diversidade das peças da nova coleção?: 2 Qual sua nota de 0 a 10 para a beleza da nova coleção?: 3 Qual sua nota de 0 a 10 para as cores da nova coleção?: 4 Na sua opinião, o preço das peças da nova coleção é adequado às notas que acabou de dar? 2 Sim 3 Não 5 Você recebeu um convite para conhecer a nova coleção? 4 Sim, por telefone 5 Sim, por correio 6 Não 6 Você já recebeu convites para outros coquetéis de lançamento de coleções antes? 7 Sim 8 Não - ENCERRA 7 Para quais lojas você já recebeu convites? (até 3) 8 Você já atendeu a outros convites de coquetéis de lançamento antes? 9 Sim 10 Não 17 Figura 5 – Exemplo de roteiro para pesquisa qualitativa Fonte: elaborado pelos autores (2019). O roteiro da figura 4 apresenta tópicos, e não perguntas específicas, que serão respondidos de maneira aberta e livre. Pesquisas quantitativas são preciosas para obter insights e percepções espontâneas do público, pois permitem raciocínios próprios e ainda podem ser incentivadas por outros participantes. Por exemplo, uma clássica técnica de pesquisa qualitativa é o group discussion, ou discussão em grupo, em que dez ou doze respondentes são convidados a participar de uma conversa grupal por duas horas mais ou menos, tendo a presença de um moderador. O papel do moderador é conduzir a conversa seguindo o roteiro com tópicos, sem ordem preestabelecida. Os respondentes seguem seus raciocínios livremente, com contribuições (ou interrupções) dos outros respondentes. Esse ambiente de discussão controlada sobre um produto ou marca é gravado em áudio e vídeo, sendo a conversa depois transposta para texto e análise das expressões e opiniões-chave. Outra forma de realizar pesquisas qualitativas é voltada para mercados B2B ou corporativos (os clientes são empresas) e envolve o agendamento de entrevistas em profundidade com pessoas-chave das empresas-alvo. Nesse caso, a entrevista é pessoal, mas a técnica é parecida: o entrevistador aborda um tópico e deixa o entrevistado falar livremente, registrando tudo em áudio para posterior transcrição e análise. Note que essas técnicas de pesquisa qualitativa não possuem valor estatístico e não representam a população, mas ainda assim trazem informações valiosas que as pesquisas quantitativas dificilmente conseguiriam captar. 18 MATTAR, Fauze Najib; OLIVEIRA, Braulio; MOTTA, Sergio. Pesquisa de marketing: metodologia, planejamento, execução e análise. Elsevier Brasil, 2014. O livro apresenta de forma teórica e prática como planejar e realizar pesquisas de marketing abordando etapas, procedimentos, metodologias etc. É um dos livros de pesquisa mercadológica mais citados no Google Acadêmico, com mais de cinco mil citações. Atividade de aplicação Dissertação (p. 8-12) A ferramenta de gestão mercadológica chamada 4 Ps ou mix de marketing, proposta por McCarthye desenvolvida por Kotler, também pode ser utilizada para angariar alunos para cursos em EaD. Disserte sobre a utilização dos 4 Ps no EaD com a finalidade de atrair e angariar novos alunos. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 19 A unidade I tratou de organizações e de marketing. Foram apresentados os conceitos de organização, bem como do modo como elas operam, enquanto que do ponto de vista do marketing, aplicado como ferramenta de gestão dos negócios das organizações com seus clientes foram apresentados os diversos processos, tendo o mix de marketing ou 4 Ps (produto, preço, praça/distribuição e promoção/propaganda/comunicação) como o catalizador das ações estratégicas relativas aos produtos/serviços organizacionais. Depois de apresentar um resumo da história do marketing, a unidade I focou no tema pesquisa de mercado, fundamental para organização identificar tendências e se posicionar para lançar produtos/serviços que atendam às demandas e às necessidades dos clientes, inclusive dos potenciais estudantes que poderão utilizar o EaD como recurso para se especializar e alcançar o grau acadêmico. Unidade I – Exercício 1 Os 4 Ps ou mix de marketing são uma ferramenta à disposição dos gestores para consolidar seus produtos no mercado. Os 4 Ps são a representação de produto, preço, praça/distribuição e promoção/propaganda/comunicação. No caso do EaD, quando as atividades dos gestores se concentram em ações como gerenciar o relacionamento com os polos, estabelecer política de expansão, identificar pontos potenciais para novos polos, cuidar da logística para a circulação dos materiais pedagógicos até os alunos, podemos afirmar que são ações relacionadas a (marque a alternativa correta): A ( ) produto. B ( ) preço. C ( ) praça/distribuição. D ( ) promoção/propaganda/comunicação. E ( ) serviços de atendimento de pós-venda. R.: a alternativa correta é a C (p. 10). 20 Unidade I – Exercício 2 Conforme vimos no texto, quando nos referimos à pesquisa de marketing, há dois tipos de pesquisa: quantitativa e qualitativa. Desse modo, quando vamos aplicar a pesquisa qualitativa, devemos saber que (marque a alternativa correta): A ( ) as questões são fechadas, pré-definidas. B ( ) podem trabalhar com um censo (100% da população alvo como amostra). C ( ) as amostras podem adotar critérios de aleatoriedade. D ( ) são utilizadas perguntas múltipla escolha e dicotômicas. E ( ) é focada no caráter subjetivo do objeto analisado sem levar em conta quantidades e técnicas estatísticas. R.: a alternativa correta é a E (p. 16-19). 21 UNIDADE II 2. CLIENTES O que é cliente? O tema é exaustivamente tratado na academia e vamos apresentar duas definições. Cliente designa uma pessoa ou unidade organizacional que desempenha papel no processo de troca ou transação com uma empresa ou organização. […] O termo cliente refere-se a pessoas que assumem diferentes papéis no processo de compra, como: o especificador, o influenciador, o comprador, o pagante, o usuário ou aquele que consome o produto (BRETZKE apud DIAS, 2003, p. 38). Também pode ser o constituinte, em relação ao advogado ou procurador. Divididos em mercado-alvo, podem ser: consumidores, industriais, revendedores, empresas governamentais e internacionais. Forma pela qual os publicitários designam os anunciantes, os empresários em geral, quando vinculados a uma agência de propaganda (MOREIRA; PASQUALE; DUBNER, 1999, p. 89). Note que as definições abrem um espaço grande para delimitar os clientes. Podem ser pessoas físicas ou jurídicas, assumem diversos papéis, podem ser canais de distribuição, governo etc. Ao longo desta unidade, iremos discutir as aplicações dos itens acima. 22 2.1 Clientes na visão de administração de processos Vimos anteriormente que organizações são semelhantes enquanto sistemas: necessidades (input), processo e produtos (output). Porém, numa visão mais abrangente, na prática, os clientes fazem parte do início e do fim dos processos organizacionais! Veja: Figura 6 – Clientes como início e fim de processos organizacionais Fonte: elaborado pelos autores (2019). Ou seja, as necessidades dos clientes são um dos inputs para as organizações ofertarem produtos para estes mesmos clientes! Dentro do conceito sistêmico, a retroalimentação/feedback faz o processo reiniciar depois de um tempo: Figura 7 – Clientes como início e fim de processos organizacionais Fonte: elaborado pelos autores (2019). 23 Ou seja, as necessidades surgem de novo à medida que os clientes as satisfazem. Assim, as necessidades incentivam as empresas a ofertar produtos que serão oferecidos/comprados por clientes, e a satisfação ou insatisfação derivada irá retroalimentar o processo para que na próxima compra essa percepção seja levada em conta. Perceba que, na visão de administração de processos, é preciso entender o cliente para poder atendê-lo de maneira satisfatória. Schiffman e Kanuk (2000) mapearam o processo de tomada de decisão do consumidor de forma esquemática e clara. Figura 8 – Processo de tomada de decisão do consumidor Fonte: Schiffman e Kanuk, 2000, p. 399. Esse modelo divide o processo em três etapas: input, processo e output. Os inputs são as influências externas na cabeça e no coração do consumidor: os 4 Ps e o ambiente sociocultural composto por vários elementos como a família, a classe social etc. Ou seja, o esforço mercadológico contribui diretamente no processo de tomada de decisão do consumidor. O processo é interno: o consumidor reconhece a necessidade, busca informações e avalia alternativas que possam atender sua necessidade. Isso leva a uma experiência que abastece o campo psicológico do indivíduo. Perceba que o esforço mercadológico pode incentivar no reconhecimento de necessidade e na busca de informações. O output é a compra em si, seja como teste pela primeira vez, seja como repetição de compra já efetuada. Isso leva a uma avaliação pós-compra de satisfação ou insatisfação diante da necessidade reconhecida. Note que o esforço mercadológico 24 também afeta a escolha do local de compra e a avaliação (em função da expectativa criada pela comunicação). 2.2 Tipos de clientes Há uma tipologia específica para clientes, de acordo com Silva e Zambon (2006). 2.2.1 Consumidor À primeira vista, consumidor e cliente são a mesma coisa. Porém, leve em consideração, por exemplo, mercados B2B (business to business), em que empresas vendem para outras empresas. A Ford, ao comprar pneus de seu fornecedor, é consumidora? Claro que não! Naverdade, consumidor é um papel assumido por pessoas físicas, e representa quem efetivamente consome ou usufrui do produto. Você consome leite, sabão em pó, camiseta, viagem aérea, conexão 4G no celular etc. Porém, nem sempre é você quem compra esses produtos. Muitas vezes você somente consome um produto comprado por outra pessoa. Note que nesse caso você é consumidor, mas não é comprador! Exemplo: você consome uma camisa comprada por um familiar ou amigo. A essa altura você já deve estar notando a necessidade de diferenciar consumidor de comprador, certo? 2.2.2. Comprador Comprador é um papel assumido tanto por pessoas físicas quanto jurídicas. Nesse último caso, alguém na Ford compra Pneus de seu fornecedor (alguém do departamento de compras). Mas vamos nos deter por enquanto no comprador pessoa física: esse não é necessariamente o consumidor! A mãe que compra iogurte para o filho é compradora e o filho é consumidor. Qual a importância dessa distinção, você deve estar pensando. Muitas vezes, vale mais a pena mirar o consumidor numa campanha de marketing, como por exemplo brinquedos, biscoitos infantis, bebidas achocolatadas etc., pois o consumidor (no caso, a criança) vai influenciar o comprador (no caso, a mãe). Outras vezes pode ser vantajoso mirar no comprador, como produtos alimentícios do tipo arroz, batata e tomate, pois os consumidores da residência irão necessariamente comer aquilo que o comprador determinou. Há mais um detalhe: muitas vezes ambos os papéis são desempenhados pela mesma pessoa: pense numa pessoa comprando um ingresso de cinema para ela mesma! Em se tratando de pessoas jurídicas, o comprador é uma pessoa (ou conjunto de pessoas) que escolhe qual produto/ marca será comprado, e nem sempre é quem 25 efetua o pedido junto ao fornecedor. Dependendo da categoria de produto/ serviço, muitas vezes quem efetua o pedido é o mesmo que escolhe (pense em papel para impressora em escritório de contabilidade). Outras vezes, alguém escolhe e outro faz o pedido (pense na compra de uma nova máquina para a linha de produção). Assim, o que importa é quem decide qual produto/marca/fornecedor será escolhido. Esse é o alvo de campanhas de marketing em B2B. Muito bem, ficou clara a distinção entre consumidor e comprador. Mas ainda há mais um tipo a ser discutido: o pagante. 2.2.3. Pagante Alguém sempre paga a conta, certo? Alguém é responsável pela transação financeira. Esse é o pagante, um papel assumido tanto no âmbito das pessoas físicas quanto jurídicas. O pagante não precisa estar presente no ato do fechamento da compra. Ele precisa ser o responsável financeiro pela transação. Em pessoas físicas, muitas vezes o pagante é também comprador e consumidor (vide o exemplo de alguém comprar ingresso de cinema para si mesmo). Outras vezes, o pagante é dissociado dos papéis de comprador e consumidor (a mãe é titular do cartão de crédito, o pai tem o cartão adicional e efetua uma compra qualquer). Em pessoas jurídicas, o pagante é uma pessoa (ou conjunto de pessoas) que realiza a transação financeira. Em B2B, normalmente é o setor financeiro ou contábil o responsável. Qual a importância de distinguir quem é o pagante? Quando se trata de pessoa física, é mais fácil responder: a transação deve ser conveniente para o pagante. Não adianta fazer uma campanha de marketing voltada para o consumidor (e/ou comprador) se for exigido pagamento à vista e antecipado e o pagante desconfiar e exigir pagamento em cartão de crédito. Se for em mercado B2B, a conveniência do pagante cresce de importância: o fornecedor exige transferência eletrônica de fundos para uma conta corrente cujo titular não é o fornecedor, e sim uma pessoa física. Qualquer processo de compliance (conformidade) interrompe a transação! Então veja: estamos estabelecendo três papéis para o cliente: consumidor, comprador e pagante, sendo que há a possibilidade de pessoas diferentes assumirem esses papéis. Se estamos focados em fazer a gestão do relacionamento com o cliente, devemos levar em consideração esses papéis e quem os executa! 26 2.2.4. Cliente interno Bogmann (2000) amplia a tipologia de clientes, e o cliente interno faz parte. Dentro da visão de processos, como vimos anteriormente, uma organização é composta por inúmeros processos interconectados: entrada, processamento, saída, sendo que a saída de um processo é a entrada de outro (exemplo: o processo de captação de alunos em EaD gera como saída um cadastro, que é a entrada do processo de secretaria). Pois bem, o cliente interno é aquele dentro da organização que vai utilizar a saída de um processo. No exemplo acima, a Secretaria EaD é cliente da captação de alunos. Essa visão contribui para a melhoria de processos, pois o cliente sempre quer o produto com qualidade, certo? Se todos os clientes internos tiverem suas necessidades atendidas, o produto ofertado ao mercado terá qualidade. 2.2.5. Cliente externo Na visão de Bogmann (2000), é o cliente que é atendido pela organização. Ou seja, consumidor, comprador e pagante entram nessa categoria. A diferenciação que o autor faz é mais focada nas necessidades dos clientes internos, que como vimos, se atendidas com eficiência e eficácia, geram produtos de qualidade para o mercado. 2.3 Comportamento do consumidor Ao contrário do que se possa pensar, o comportamento do consumidor vai além de simplesmente comprar e levar a mercadoria. O comportamento do consumidor é um processo contínuo, e não só o que acontece no instante em que um consumidor entrega o dinheiro ou apresenta seu cartão de crédito e, em troca, recebe uma mercadoria ou serviço. O processo é muito maior e mais interativo do que simplesmente realizar o processo de comercialização entre um ofertante e um demandante. (SOLOMON, 2002, p. 24). É necessário levar em conta tudo que influencia (ou pode vir a influenciar) o consumidor antes, durante e depois da compra. Por exemplo, quando uma pessoa interessada em fazer um curso superior, quais são as fontes de informação sobre os cursos e sobre as Instituições de Ensino? Melhor ainda, qual a motivação para fazer o curso superior? Durante a compra, quais fatores são mais relevantes: preço, benefícios, formato do curso, material didático… Depois da compra, a expectativa condiz com a realidade? John Dewey (1910), filósofo americano, propôs, há mais de cem anos, um elaborado modelo de resolução de problemas e de tomada de decisão chamado reflective thinking, que foi incorporado à área de marketing décadas mais tarde com o nome de processo de decisão de compra. 27 Figura 9 – Processo de decisão de compra Fonte: Churchill, 2005, p. 146. O processo se inicia com o cliente reconhecendo uma necessidade (férias de casal, por exemplo), depois buscando informações como resolver a necessidade (procurando ofertas de viagens em sites, seguindo o exemplo), avaliando as alternativas na sequência (analisando prós e contras de cada oferta), decidindo por uma ação (se compra agora, posterga a compra ou desiste da compra) e avaliando o resultado da decisão tomada. Esse processo sofre influências sociais (família, amigos, grupos de pertencimento etc.), influências de marketing (os 4 Ps) e influências situacionais (local de compra, tempo disponível etc.). Veja que há uma série de questões que precisam ser mapeadas para um planejamento certeiro, e já vimos anteriormente a contribuição de Schiffman e Kanuk (processo de tomada de decisão pelo consumidor, figura 7, deste manual). Solomon (2002) também contribui para o tema apresentando duas perspectivas: a do consumidor (ou seja, sob o ponto de vista do consumidor quais questões são relevantes) e a do profissional de marketing, divididas em três partes (pré-compra, compra e pós-compra) e a figura 7 ilustra essas questões nas duas perspectivas. 28 Figura 7 – Questões que surgem durante os estágiosdo processo de compra Fonte: Solomon, 2002, p. 25. A maior parte desses questionamentos pode começar a ser respondida através de pesquisa. Albrecht (1997) afirma que são necessários dois tipos de pesquisa para compreender os clientes: Pesquisa de mercado, nessa conotação, é a investigação da estrutura e da dinâmica do mercado a que se propõe servir. Ela inclui a identificação de segmentos de mercado, análise demográfica, escolha de nichos críticos no mercado e análise das forças competitivas; Pesquisa da percepção do cliente vai, pelo menos, um passo além da pesquisa de mercado convencional. Ela procura compreender expectativas, pensamentos e sentimentos do cliente individual em relação ao serviço produzido e ao provedor do serviço. Seu objetivo é discernir um ou mais fatores críticos na percepção do cliente em relação à experiência total. Isso possibilita que você elabore um modelo de valor para o cliente, que é um conjunto de critérios que guiam as escolhas do cliente entre você e seus concorrentes. Note que a pesquisa de percepção do cliente tem foco exatamente no processo de gestão de clientes. 29 LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Marketing de serviços. Atlas, 2012. Edição revista e atualizada de um livro utilizado por acadêmicos e profissionais que se interessam pelo assunto. O professor Las Casas é um dos mais prolíficos autores de marketing no Brasil, com dezenas de livros publicados e centenas de produções acadêmicas. 30 Atividade de aplicação Unidade II – Dissertativa (p. 23). Toda operação comercial envolve um período de negociação no qual o comprador aciona o seu processo próprio de tomada de decisão. Disserte sobre o processo de tomada de decisão do consumidor a partir do modelo proposto por Schiffman e Kanuc no ano 2000. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 31 Na unidade II consideramos o cliente em todas as suas características e implicações. Desde a conceituação de cliente até considerá-lo como a razão dos processos organizacionais. Ao categorizar o cliente, identificamos vários tipos que compõem a galeria daqueles que influenciam e até decidem os processos de compra, tais como: consumidores, compradores, pagantes, clientes internos e clientes externos. Finalmente observamos o comportamento dos referidos clientes no processo de satisfação das demandas e necessidades, bem como as suas reações no processo de uso/utilização, que podem ser de satisfação ou de insatisfação. As áreas de marketing e de pós-venda devem gerenciar o comportamento de compra e utilização dos produtos e serviços pelos clientes a fim de assegurar alto grau de fidelidade nas relações comerciais. 32 Unidade II – Exercício 1 Aquele que é responsável pela transação financeira que ampara a operação comercial, estando ou não presente no ato do fechamento da compra e que pode ser tanto pessoa física quanto pessoa jurídica é (marque a alternativa correta): A ( ) pagante. B ( ) cliente interno. C ( ) consumidor. D ( ) comprador. E ( ) especificador. R.: a alternativa correta é A (p. 24-26). Unidade II – Exercício 2 O comportamento do consumidor vai além de comprar e levar a mercadoria. É um processo contínuo maior e mais interativo do que simplesmente realizar a compra. O processo de decisão de compra se sujeita a três grupos de influências que acabam impactando na decisão: influências sociais, influências de marketing e influências situacionais. Nesse contexto é correto afirmar que um processo de compra respeita as seguintes etapas em série e interdependentes. Aponte a alternativa que contem a sequência correta. A ( ) Reconhecimento da necessidade, busca de informações, avaliação de alternativas, decisão de compra e avaliação pós-compra. B ( ) Reconhecimento da necessidade, avaliação de alternativas, busca de informações, decisão de compra e avaliação pós-compra. C ( ) Reconhecimento da necessidade, busca de informações, decisão de compra, avaliação de alternativas e avaliação pós-compra. D ( ) Reconhecimento da necessidade, busca de informações, avaliação de alternativas, avaliação pós-compra e decisão de compra. E ( ) Decisão de compra, reconhecimento da necessidade, busca de informações, avaliação de alternativas, e avaliação pós-compra. R.: a alternativa correta é A (p. 27). 33 UNIDADE III 3. GESTÃO DE CLIENTES A gestão de clientes tem importância para entender quem são os clientes, suas necessidades e desejos, quais atributos eles valorizam e outros tópicos. Em termos práticos, um bom trabalho de gestão de clientes pode melhorar resultados operacionais de marketing, vendas, produção, logística, finanças e RH. 3.1 Segmentação e definição de clientes-alvo Um dos primeiros passos é segmentar o mercado para definir quais são os clientes-alvo. Se você lembrar das aulas de geometria do ensino médio, vai resgatar com facilidade o conceito de Segmentar: qualquer pedaço de uma reta é um segmento de reta. Metaforicamente, uma reta é o mercado total. Ao seccionar um pedaço desta reta teremos um segmento de reta, ou um segmento de mercado. Figura 8 – Ilustração de segmento de mercado Fonte: elaborado pelos autores (2019). 34 A aplicação prática é muito simples: Seu objetivo era claro: diante da impossibilidade de atingir todos os consumidores, em consequência da heterogeneidade de necessidades, valores, dispersão geográfica, gênero ou padrões culturais, as organizações direcionaram seus esforços para grupos específicos de consumo. Por meio dessa filosofia empresarial, fragmenta-se o mercado total em inúmeros micromercados, cada qual englobando consumidores com particularidades que os tornam semelhantes em atitudes, comportamentos, valores, localização, etnia, sexo, uso e emprego dos produtos (PARENTE, 2003, p. 234). Ou seja, uma vez que é impossível direcionar esforços de marketing para todo o mercado, as organizações aplicam critérios de segmentação para dividir esse mercado em partes homogêneas que são então alvo de estratégias mercadológicas e comerciais. Um exemplo clássico de segmentação é o de laticínios sem lactose. Uma vez que parte da população apresenta intolerância à lactose (talvez você mesmo conheça alguém assim), a indústria de laticínios desenvolveu a oferta de leite, iogurte, queijo etc. sem lactose. Esse é um segmento de mercado. Outro exemplo clássico é para o mercado B2B (business to business, ou mercado corporativo). Alguns bancos dividem o mercado de empresas baseado em faturamento: até R$ 50 milhões/ano, de R$ 50 a R$ 100 milhões, de R$ 100 a 300 milhões etc. Cada um desses segmentos temuma estratégia específica, e muitas instituições financeiras focam exclusivamente no segmento das maiores empresas. Churchill Jr. e Peter (2005, p. 204) definem: “segmentação de mercado é o processo de dividir um mercado em grupos de compradores potenciais, com necessidades, desejos, percepções de valores ou comportamentos de compra semelhantes”. 35 E quais são os critérios para fazer segmentação? A academia e os praticantes listam os mais comuns: Segmentação demográfica: características demográficas (faixa etária, sexo, estado civil etc.). Exemplo: mulheres casadas acima de 30 anos de idade. Segmentação socioeconômica: características sociais e econômicas (renda, posse de bens, escolaridade, classe econômica). Exemplo: pessoas com nível superior e renda acima de R$ 8.000 mensais. Segmentação geográfica: critérios geográficos (onde mora/trabalha/ circula). Exemplo: pessoas que trabalham na região do aeroporto Santos Dumont, RJ. Segmentação por benefícios: base nos benefícios procurados pelos clientes (status, desempenho). Exemplo: Pessoas que buscam maior rendimento e economia no sabão em pó. Segmentação por grau de utilização: base no nível de consumo (heavy user, light user). Exemplo: Pessoas que assistem a mais de 120 horas mensais de Netflix. Segmentação psicográfica: base no modo como as pessoas pensam (autoconceito, personalidade, valores) e levam suas vidas (estilo de vida, atividades, interesses e opiniões). Pessoas que valorizam a liberdade de expressão e que participam ativamente de causas sociais. Note que nada impede uma organização utilizar mais de critério simultaneamente. Exemplo: mulheres casadas acima de 30 anos que trabalham na região do aeroporto Santos Dumont, RJ. A chave para a segmentação é descobrir quais são as características relativamente homogêneas que fazem um grupo ser relevante em termos quantitativos. 36 Se pensarmos em segmentação de clientes para cursos EaD voltados para graduação, teríamos esse exemplo: Para a instituição de ensino: pessoas de ambos os sexos com formação completa (ou prestes a completar) no ensino médio (ou responsáveis financeiros pelo mesmo público), residentes nas regiões de xxx, yyy, zzz (localidades dos polos existentes) e que busquem formação superior. Para um polo EaD: pessoas de ambos os sexos com formação completa (ou prestes a completar) no ensino médio (ou responsáveis financeiros pelo mesmo público), que morem ou trabalhem nos bairros/cidades xxx, yyy, zzz (área de abrangência do Polo) e que busquem formação superior. 3.2 Atributos valorizados pelos clientes Um atributo é uma característica de um produto que é próprio dele. O atributo de um produto para um cliente pode não ser um atributo para outro cliente. Por exemplo, um dos atributos mais valorizados por alguns clientes de laptops é o tempo de “boot”. Ou seja, quantos segundos leva para ligar e estar operando normalmente (você provavelmente entende o que significa “boot” lento). Porém, há clientes de laptop que não ligam muito para a velocidade do “boot”, mas que exigem alto processamento e gráficos de altíssima definição. Esses clientes valorizam atributos diferentes de um mesmo produto! Um casal que queira viajar nas férias pode valorizar atributos que outros casais nem ligam. Exemplo: proximidade do aeroporto, acesso wi-fi nos quartos, varanda com vista, café da manhã de alto nível, piscina etc. Não pense que todos esses atributos são valorizados por todas as pessoas! Quem usa o hotel basicamente como ponto de partida para passeios na região não liga para piscina, mas valoriza wi-fi nos quartos. Por outro lado, outras pessoas podem pretender usufruir o hotel a maior parte do tempo, e nesse caso eles valorizam piscina, sauna, salão de beleza, academia, varanda com vista etc. Assim, quais são as expectativas dos clientes em relação ao meu produto/serviço? Veja que o papel da pesquisa de percepção de clientes é importante para entender esses requisitos. Em termos de gestão de clientes, a segmentação por benefícios cai como uma luva: se podemos identificar os atributos valorizados pelos clientes, podemos ter ao menos um segmento para elaborar estratégias. Exemplo: a Caterpillar, multinacional americana que fabrica máquinas e veículos pesados voltados principalmente para a construção civil e mineração, segmenta o mercado mundial em termos de importância crítica de assistência técnica. Seus produtos são oferecidos por preços altos para empresas que precisam de extrema agilidade no conserto de máquinas em trabalho na construção e mineração (ou seja, cada hora de máquina parada por quebra gera prejuízo considerável). Assim em qualquer lugar do globo terrestre, em no máximo “x” horas a partir do chamado surge uma equipe de técnicos para resolver o problema (esse “x” é relacionado ao tipo de contrato). Então veja: o atributo mais valorizado pelos clientes Caterpillar no mundo inteiro é “confiabilidade com excelência operacional”. 37 Uma forma de pensar em termos de segmentação por benefícios através de atributos valorizados para clientes de cursos EaD, além dos segmentos descritos anteriormente, poderia ser: atributo procurado de formação superior com rapidez: oferta de cursos de menor duração. atributo procurado de formação específica em determinada área: oferta do curso de graduação ou pós-graduação dessa área. atributo procurado de liberdade de ação para estudar: mostrar a dinâmica da oferta dos cursos e reforçar a liberdade de decisão do ritmo semanal de estudo. atributo procurado de menor custo: oferecer os cursos com preço final menor. etc. 3.3 Técnicas para ouvir e entender clientes Para ouvir e entender clientes, é preciso dispor de meios que facilitem a comunicação com as organizações. Além disso, é importante filtrar o conteúdo para identificar o que é relevante e o que não é, e dar a tratativa adequada para cada caso. Uma sugestão impossível de implantar deve ser respondida com um agradecimento simpático, e uma sugestão viável deve ser respondida com a informação que o processo está em estudo e, quando efetivamente for implantada, o cliente deve ser novamente contatado agradecendo novamente e informando que já está implantada. Veja que esse processo não é difícil de criar, e que gera uma enorme confiança nos clientes. Joseph Moses Juran, consultor e professor, é considerado um dos pais da revolução da qualidade do Japão, dando condições para o país emergir como potência econômica a partir da década de 1960. Discorrendo sobre necessidades, Juran aponta: Os clientes, comumente, declaram suas necessidades segundo seus pontos de vista e em sua linguagem. Isso acontece especialmente com os clientes externos que compram produtos. […] Os clientes podem declarar suas necessidades em termos dos bens que desejam comprar. Entretanto, suas necessidades reais são os serviços que aqueles bens podem prestar (JURAN, 1992, p. 74). Veja que na visão de Juran os clientes compram o serviço que o produto vai prestar. Por exemplo, não compramos aspirador de pó: compramos a limpeza do ambiente. Outro exemplo clássico: uma pessoa física não compra brocas de ¼ de polegada para furadeiras, e sim o benefício de furos de ¼ de polegada! 38 Assim, no processo de ouvir clientes, devemos nos preocupar em entender que a necessidade declarada nos permite focar nas necessidades reais de serviços que o produto pode proporcionar. No exemplo da broca de ¼ de polegada, talvez fosse possível oferecer o serviço de um profissional fazer o furo com segurança e limpeza dos restos, colocação da bucha e do parafuso adequados e colocação do objeto a ser pendurado (quadros, por exemplo). Juran expande essa questão comparando exemplos. Figura 9 – Necessidades declaradas e necessidades reais Necessidades declaradas Necessidades reais Alimentos Nutrição, sabor agradável AutomóvelTransporte Televisor em cores Entretenimento Casa Espaço para viver Pintura da casa Aparência colorida, ausência de manutenção Fonte: Juran, 1992, p. 75. Veja que o grande crescimento de modais de transporte através de aplicativos como aluguel de carro, serviço de transporte de carro com motorista, bicicletas elétricas, bicicletas normais, patinetes confirma a ideia de Juran! A contribuição de Juran vai além na forma de uma pesquisa da Qantas Airways sobre as necessidades de passageiros em ordem de prioridade: 39 Figura 10 – Necessidades de viajantes aéreos Qantas Airways – Pesquisa de necessidade de passageiros (em ordem de prioridade) 1 Nenhuma bagagem perdida 2 Nenhuma bagagem danificada 3 Toaletes limpos 4 Poltronas confortáveis 5 Entrega rápida da bagagem 6 Amplo espaço para as pernas 7 Refeições de boa qualidade 8 Serviço rápido de reserva 9 Tripulação de cabine amigável/eficiente 10 Cabine limpa e arrumada 11 Temperatura/umidade da cabine confortáveis 12 Assistência para conexões 13 Ser informado dos atrasos 14 Transporte aeroporto-cidade 15 Informações precisas sobre chegadas para parentes e amigos 16 Embarque bem-organizado 17 Check-in rápido e cordial no aeroporto 18 Carrinhos para bagagem 19 Chegada no horário 20 Fornecimento de travesseiros/mantas Fonte: Juran, 1992, p. 100. 40 Ao analisar a tabela, podemos ver que o tratamento dispensado às bagagens é prioridade, e dá para concluir que na época a refeição servida a bordo até poderia ser mais simples, desde que as necessidades anteriores estivessem equacionadas. Se for possível à empresa estabelecer o custeio de cada item da tabela, o planejamento dos benefícios do produto/serviços fica mais claro. Por exemplo, uma ponte aérea de curta distância poderia ter como benefício os cinco primeiros itens da lista, reduzindo o custo geral da oferta: bagagem bem tratada/rastreada com toaletes mantidos limpos e poltronas confortáveis o suficiente para uma viagem curta, tendo a bagagem um processo de liberação rápida. Esse vôo nem precisa oferecer espaço para as pernas (aumentando a quantidade de assentos no mesmo espaço), refeições, travesseiros/mantas etc., para que o custeio geral seja realmente baixo. Veja que o que acabamos de descrever é o modelo de negócios das companhias aéreas low-cost Ryanair e Easyjet na Europa, WestJet e Virgin America nos EUA e Azul no Brasil, entre outras. Um mapeamento como esse prescinde de um conjunto adequado de instrumentos para ouvir o cliente, bem como de processos para tratamento desses dados. 3.3.1 Métodos e técnicas Whiteley e Hessan (1996) fizeram um minucioso estudo sobre as metodologias e técnicas usadas para ouvir o cliente: 41 Figura 11 – Técnicas para ouvir clientes Grupos de foco Pequenos grupos (de clientes ou de qualquer grupo-alvo) convidados para se reunir com um facilitador, a fim de responder a perguntas abertas. Painéis de clientes Como um grupo de foco, um painel de clientes consiste em um pequeno número de clientes convidados para responder a perguntas abertas. Entrevistas individuais Oferece nuances dos pensamentos de diferentes clientes. Visitas a clientes e observação de sua utilização do produto Um exame cuidadoso de como o cliente utiliza o seu produto provavelmente oferece mais intimidade do que qualquer técnica. Números para ligações telefônicas gratuitas As empresas fazem contar em seus produtos, ou material promocional, números de telefones para contato. Registros de contatos com o cliente Pede-se aos funcionários encarregados de manter contato com o cliente que reportem algo de interessante ou significativo que os clientes digam. Linha direta com o serviço ao cliente Número telefônico para o qual o pessoal do serviço ao cliente pode ligar para reportar problemas. Uma caixa de correio de voz pode ser suficiente. Visitas do cliente às instalações da empresa Consiste em convidar os clientes para visitar suas instalações e é possível oferecer-lhes um melhor serviço. Pesquisas de opinião por telefone ou correspondência Essas pesquisas têm um menu de perguntas fixo para um grande número de pessoas. Muito útil para a obtenção de opiniões sobre perguntas fechadas, cuja importância já se determinou ao fazer perguntas abertas em outras situações. Compradores disfarçados Profissionais que visitam a sua empresa no papel de clientes, que reportam a maneira como foram tratados. Interrogatório do pessoal da linha de frente dos departamentos de vendas e serviço Em um ambiente descontraído, pergunte ao pessoal da linha de frente sobre suas experiências, com a finalidade de obter uma visão do que o cliente enfrenta e quer. Encontro com os clientes nas férias profissionais Método de ouvir o cliente que economiza tempo e custos. Fonte: adaptado de Whiteley e Hessan, 1996, p. 77-79. Perceba que esse levantamento foi realizado na década de 1990, quando meios como correio eram relevantes, e quando meios eletrônicos como e-mail e mensagens de celular ainda não eram. Mesmo assim, esse quadro tem validade: basta pensar em meios eletrônicos ao invés de correio! 42 As técnicas mais utilizadas são Entrevistas Pessoais (Pesquisa) e Números para ligações telefônicas gratuitas/Linha direta com o serviço ao cliente (sendo que meios eletrônicos são mais usuais que meios telefônicos). A técnica de Registros de contatos com o cliente na verdade deve ser parte integrante do sistema, sem depender de funcionários reportando o que acham interessante. Pesquisas de opinião por telefone ou correspondência já foram substituídas na sua maioria por pesquisas por internet (móvel ou fixa), e são razoavelmente comuns. Os Grupos de Foco (discutidos anteriormente na forma de Group Discussion) e Painéis de clientes utilizam técnicas de pesquisas qualitativas e são muito úteis para levantar percepções e aspectos subjetivos. São um pouco mais raras, pois o custo é relativamente alto. Encontro com os clientes nas férias profissionais é um método pouco recomendado no Brasil (imagine as reclamações!), apesar de ser razoavelmente comum nos EUA. As técnicas restantes são menos utilizadas no Brasil, e as organizações que as utilizam normalmente têm processos internos para uso frequente. 3.3.2 Explorando e contextualizando dados Não basta ter meios eficientes para captar as informações manifestadas por clientes que representem interesses, desejos e necessidades se não houver processos de tratamento e disseminação dos resultados. Ou seja, para construir o relacionamento, as manifestações devem ser tratadas e encaminhadas para as áreas adequadas. Primeiramente, é preciso aceitar o fato que os próprios métodos e técnicas de ouvir clientes sofrem críticas por parte dos próprios clientes, e é preciso sempre regular frequência e métodos para não os incomodar. Como qualquer processo organizacional, é importante avaliar os feedbacks e promover melhorias contínuas. Utilizar métodos variados, aproveitando o melhor de cada característica, possibilita a geração e atualização de um banco de dados mais consistente, o que permite o cruzamento de dados particularizando os perfis dos clientes. A criação de categorias que descrevam aspectos importantes facilita o gerenciamento. Por exemplo, bancos comerciais de varejo frequentemente classificam seus clientes em categorias como A, B, C e D, sendo os clientes A (ou outra denominação definida) os que mais trazem lucro, e os D os que estão na base de importância. Perceba que essas categorias na verdade são critérios de segmentação aplicados para a base de clientes! Sexo, idade, renda, localização geográfica, volume de compra etc., podem ser a chave para classificar e gerenciar o grupo de clientes atendidos. 43 ZENONE, Luiz Claudio. CRM – Customer Relationship Management: gestão do relacionamentocom o cliente e a competitividade empresarial. Novatec Editora, 2007. O livro discute relacionamento como diferencial competitivo e apresenta processos, procedimentos e ferramentas neste foco. GREVE, Goetz; SCHLÜSCHEN, Andrea. From Customer Relationship Management to Influencer Relationship Management. In: Diverse Methods in Customer Relationship Marketing and Management. IGI Global, 2018. p. 80-91. Esse artigo aborda a transição dos modelos de relacionamento tradicionais para modelos de relacionamento através da figura de influencers digitais. 44 Atividade de aplicação Unidade III – Dissertativa (p. 32) A gestão de clientes é o processo de entender quem são os clientes, suas necessidades e desejos, os atributos que eles valorizam e outros dados importantes para a formação das estratégias de marketing. A segmentação de mercado é uma das principais ferramentas para se conhecer os clientes e focar os esforços naqueles que se deseja atender. Disserte sobre segmentação de mercados e definição de clientes-alvo. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 45 A unidade III tratou da gestão dos clientes, isto é, a compreensão das suas necessidades e desejos, bom como o modo de atendê-lo bem em busca de sua fidelidade à marca e ao estabelecimento. Dentre as ferramentas mais comuns de gestão dos clientes encontram-se a segmentação e a definição dos clientes-alvo, a identificação dos atributos valorizados pelos clientes e as técnicas para ouvir e entender os clientes. Aplicadas as ferramentas/técnicas para ouvir os clientes e obtidos os dados em bruto, é necessário processá-los para convertê-los em informações que serão interpretadas e exploradas no contexto do ambiente de negócios da empresa a fim de ampliar a carteira de compradores e aumentar a participação no mercado. Unidade III – Exercício 1 O texto “pra ouvir e entender clientes, é preciso dispor de meios que facilitem a comunicação com as organizações a fim de filtrar conteúdos e identificar o que é relevante e o que não é e dar a tratativa adequada para cada caso”, se refere a (marque a alternativa correta): A ( ) técnicas para ouvir e entender clientes. B ( ) contextualização de dados de pesquisa. C ( ) visitas de clientes às instalações da empresa para comparar com a concorrência. D ( ) as alternativas A, B e C são corretas. E ( ) as alternativas A, B e C são falsas. R.: a alternativa correta é A (p. 36). 46 Unidade III – Exercício 2 Quando nos referimos a aplicação de técnicas para ouvir e entender clientes e encontramos uma afirmativa como “Não basta ter meios eficientes para capturar as informações manifestadas por cliente, que representem interesses, desejos e necessidades se não houver processos de tratamento e disseminação dos resultado”, temos uma referência direta a (marque a alternativa correta): A ( ) métodos e técnicas de pesquisa. B ( ) sistemas de entrevistas. C ( ) segmentação aplicada para as bases de clientes. D ( ) necessidades declaradas e necessidades reais dos clientes. E ( ) exploração e contextualização dos dados de acordo com a organização interessada. R.: a alternativa correta é E (p. 40) 47 UNIDADE IV 4. SATISFAÇÃO DE CLIENTES E O CAMINHO PARA O FUTURO Philip Kotler, citado anteriormente, pondera sobre a relação entre satisfação e expectativas: A satisfação do comprador após a realização da compra depende do desempenho da oferta em relação às suas expectativas. De modo geral: satisfação consiste na sensação de prazer ou desapontamento resultante da comparação do desempenho (ou resultado) percebido de um produto em relação às expectativas do comprador. Fica claro, por essa definição, que a satisfação é função de desempenho e expectativas percebidas. Se o desempenho não alcançar as expectativas, o cliente ficará insatisfeito. Se o desempenho alcançar as expectativas, o cliente ficará satisfeito. Se o desempenho for além das expectativas, o cliente ficará altamente satisfeito e encantado (KOTLER, 2000, p. 58). Veja que há uma variável controlável nessa função: o desempenho do produto (dentro de produto nos 4 Ps). Ou seja, a organização projeta o produto para atingir determinado resultado. A expectativa do comprador não é controlável; entretanto, uma das formas de criar expectativa é a comunicação (um dos 4 Ps). Ou seja, o conteúdo da comunicação carrega uma série de características desejáveis para o produto e influencia o cliente. Kotler sugere que o ideal é criar expectativas realistas e não prometer demais. 4.1 Instrumentos de avaliação Kotler sugere alguns instrumentos para avaliar satisfação de clientes. 48 Figura 12 – Instrumentos de avaliação Ferramentas Detalhamento Sistemas de reclamações e sugestões Uma organização centrada no cliente facilita o recebimento de sugestões e reclamações. Muitos restaurantes e hotéis oferecem formulários, para que seus clientes relacionem os itens de que gostaram e de que não gostaram. Algumas empresas, centradas no cliente, criaram sistemas de ligações gratuitas. Há ainda empresas que estão aderindo a páginas web e e-mail, para facilitar a recepção e resposta das comunicações. Esses fluxos de informação oferecem muitas boas ideias às empresas e permitem que elas ajam com rapidez para solucionar problemas. Pesquisas de satisfação de clientes Estudos mostram que, embora os clientes fiquem insatisfeitos com uma a cada quatro compras, menos de 5% desses insatisfeitos reclamam. A maioria dos clientes simplesmente passa a comprar menos ou muda de fornecedor. Os níveis de reclamação, portanto, não são uma boa medida de sua satisfação. Empresas proativas medem a satisfação dos clientes diretamente, realizando pesquisas periódicas. Elas enviam questionários ou telefonam para uma amostragem aleatória de clientes recentes. Também solicitam a opinião de seus compradores quanto ao desempenho de seus concorrentes. Ao coletar os dados de satisfação dos clientes, é útil medir também o nível da intenção de recompra, que normalmente será alto se houver alto nível de satisfação do cliente. Recomenda-se ainda avaliar a probabilidade de esse novo cliente recomendar a empresa e a marca para outras pessoas, assim como sua disposição para isso. Um alto índice positivo de propaganda boca a boca indica que a empresa está produzindo alto nível de satisfação dos clientes. Compras simuladas As empresas podem contratar pessoas para se passar por compradores potenciais, para relatar pontos fortes e fracos vivenciados na compra de produtos da empresa e dos concorrentes. Esses compradores misteriosos podem até testar se a equipe de vendas da empresa está preparada para lidar adequadamente com diversas situações. Assim, um comprador misterioso pode reclamarda comida de um restaurante para testar como ele lida com esse tipo de reclamação. Análise de clientes perdidos As empresas devem contar clientes que deixaram de comprar ou que tenham mudado para outro fornecedor, para verificar por que isso aconteceu. Quando a IBM perde um cliente, ela empreende um esforço minucioso para descobrir onde errou. É importante não apenas conduzir entrevistas de saída quando clientes param de comprar, como também acompanhar o índice de perda de clientes. Se esse estiver crescendo, é um claro indício de que a empresa não está conseguindo deixar seus clientes satisfeitos. 49 4.2 Temas emergentes Os temas emergentes em marketing estão relacionados com o comportamento coletivo, pesquisas em ambientes controlados e o conceito de lógica fuzzy aplicados para interpretar e compreender a movimentação do mercado. 4.2.1 Comportamento coletivo Esta área de estudo, no que se refere a marketing e pesquisa de mercado, trata das dinâmicas que levam grupos de pessoas a participar coletivamente, mesmo sem se conhecerem, em ações criadas por outras pessoas ou organizações. A psicologia é uma ciência que estuda há tempos essas manifestações, mas a sociedade digital ampliou enormemente a capacidade das pessoas (e organizações) de se comportarem a favor ou contra algo. Se pensarmos num nível mais básico, temos os famosos haters da internet. Coimbra (2014) define hater como o sujeito que fala mal dos outros nos espaços de interação e conversação da internet. Basta entramos na seção de comentários de alguma notícia que inevitavelmente teremos posts recheados de raiva e ambiguidade normalmente protegidos pelo anonimato. Sabedores desse fato, há organizações especializadas em criar discórdia na internet criando perfis falsos que falam mal de marcas, produtos, partidos políticos, pessoas etc. Um fabricante de veículos, por exemplo, pode contratar empresas desse tipo para espalhar boatos sobre defeitos de veículos concorrentes, ou de elogiar os veículos do contratante. Independentemente da intenção psicológica (ou utilidade estratégica remunerada) do hater, eles podem fazer um belo estrago em reputações de pessoas, produtos e marcas. Porém, o mesmo mecanismo pode ser adotado por organizações dispostas a elevar a reputação de pessoas, produtos e marcas. São o oposto dos haters pagos, pois o papel dessas personas (reais ou fictícias) é elogiar. E, no campo da gestão de clientes, há pessoas que agregam um coletivo para reclamar de empresas. Pense nas associações de vítimas de determinado acidente aéreo, ou de clientes de construtoras que não entregam o imóvel. Veja que é uma atividade honesta em função das circunstâncias: exigir algo de uma empresa. Também no campo da gestão de clientes, há pessoas que criam espontaneamente um coletivo favorável a um produto ou marca. São Embaixadores de Marcas, e são naturalmente incentivados e agraciados pelos fabricantes. Outra forma de comportamento coletivo incentivado (ou derivado) da internet é o crowdsourcing. Stephen, Zubcsek & Goldenberg (2016) definem crowdsourcing como fonte de informações oriundas de uma multidão. Ou seja, pessoas que se unem para conjuntamente resolver problemas, desenvolver produtos e serviços, testar ideias, criar conteúdo e muito mais. Pode parecer equivalente ao cooperativismo, e é, com a adição do elemento internet que permite que pessoas desconhecidas entre si compartilhem um dos objetivos acima. Um exemplo conhecido de crowdsourcing é a 50 Wikipedia. Todos os verbetes dessa enciclopédia digital são de autoria de pessoas como nós que querem colaborar com o conhecimento. Uma versão mais aplicada de crowdsourcing é o crowdfunding, que nada mais é que a busca de financiamento (funding) para iniciativas de interesse coletivo através de contribuições pessoais na forma de investimento. Sites como o www.vakinha.com.br permitem que qualquer pessoa crie uma campanha de arrecadação de fundos para uma causa qualquer, sendo o próprio site o meio de pagamento/ transferência. Causas que variam de ajuda para doentes ou instituições, pessoas que perderam tudo, despesas de casamento e outras são comuns em iniciativas deste tipo. O Facebook também é um canal para divulgar campanhas como dividir o cachê de um artista para tocar em algum lugar, financiar a produção de uma obra artística como filme, livro ou disco, pagar a fiança de algum colega em apuros e assim por diante. Em termos de gestão de clientes, o crowdsourcing pode revitalizar marcas em declínio e até mesmo relançar produtos. Fãs de séries de TV já conseguiram prolongar as temporadas de títulos ameaçadas de serem encerrados. Por exemplo, a série de ficção científica The Expanse, do canal de tv paga SyFy, teve o anúncio do cancelamento após três temporadas e a pressão dos fãs convenceu a Amazon Prime, canal de streaming, a continuar produzindo e exibindo novos episódios. Já o crowdfunding, no mesmo produto, custeou onze episódios de Star Trek Continues, uma série gratuita de internet que continua a saga da série Star Trek original. Por sinal, há algumas produções de Star Trek custeadas pelo KickStarter, plataforma de crowdfunding: Star Trek Axanar e Star Trek Horizon, por exemplo. 4.2.2 Eye tracking com pesquisa de observação em ambientes não controlados Eye tracking é uma tecnologia de coleta de dados desenvolvida nos anos 1960 na qual uma câmera voltada para os olhos do pesquisado registra as rápidas movimentações e paradas diante de um estímulo visual. O conceito de eye-tracking refere-se a um conjunto de tecnologias que permite medir e registar os movimentos oculares de um indivíduo perante a amostragem de um estímulo em ambiente real ou controlado, determinando, deste modo, em que áreas fixa a sua atenção (volume de fixações visuais gerado), por quanto tempo e que ordem segue na sua exploração visual (existência de eventuais padrões de comportamento visual) (BARRETO, 2012, p. 168). Vários institutos de pesquisa no mundo possuem equipamentos modernos que, em ambiente controlado como uma sala ou laboratório, registram os movimentos oculares de pessoas expostas a anúncios e com isso conseguem melhorar a atenção e foco em determinadas áreas estratégicas da peça promocional. Porém, os equipamentos para coleta de dados representam um problema, já que os aparelhos são visíveis e é impossível realizar uma pesquisa disfarçada. 51 O desenvolvimento futuro do eye tracking implica câmeras de alta definição espalhadas em ambientes não controlados como lojas de varejo para que registrem os pontos focais de seus clientes. Imagine poder montar o lay-out de uma loja otimizando o posicionamento físico de produtos, placas de preços, avisos de promoções etc. baseado no padrão de movimentação e foco dos olhos de clientes! Se for possível identificar os clientes observados (sistemas de reconhecimento facial), o eye tracking poderá registrar os pontos de atenção de cada cliente, bem como os pontos de rejeição. Outra possibilidade é utilizar as câmeras dos smartphones para capturar o movimento dos olhos de seus portadores e com isso garantir que o anúncio que está na tela realmente está sendo visto com atenção. Há ainda um outro modelo, similar ao do smartphone, que utiliza a câmera no alto dos laptops e monitores de computador para registro similar. O problema tecnológico esbarra na capacidade de alta definição das câmeras, da localização estratégica delas e da capacidade de processamento do hardware associado. O Youtube tem um enorme acevo de vídeos demonstrando a técnica e aplicação do eye tracking em diversas áreas da ciência. 4.2.3 Lógica fuzzy aplicada a pesquisa de mercado O conceito de lógica fuzzy envolve a interpretação de termos vagos e imprecisos, e segundo Lin et al. (2016) o conceito passou a ser desenvolvido na década de 1960. A lógica fuzzy procura interpretar expressões como estas: A farmácia está a “alguns metros” do posto de gasolina. A previsão para amanhã na praia é de “parcialmente” nublado. Se eu não emagrecer “alguns” quilos vou continuar “mal”. No primeiro caso, como uma pesquisa de mercado poderia tabular esse dado? No segundo caso, “parcialmente” está localizado entre quais limites exatamente? No terceiro caso, de quantos quilos estamos falando e qual o limite entre estar “bem” e “mal”? Note que as palavras entre aspas são imprecisas e vagas. São termos fuzzy! Quando, em pesquisa de mercado, surgem termos fuzzy a tendência é tratá- los em contagem equivalente. Por exemplo, numa questão aberta 3% dos respondentes avaliam a praça como “suja”. Mas é possível que a escala de sujeira 52 deles (e dos outros respondentes que não afirmaram isso) seja muito diversa e não agrupável. Porém, em nome da objetividade e das necessidades de mensurar tudo o que for possível, a pesquisa de mercado começa a ter mecanismos para ir incorporando elementos da lógica fuzzy em sistemas estatísticos. Em termos de gestão de clientes, as pesquisas de percepção de clientes ganham um forte aliado. Pesquisas com questões abertas, em que o respondente pode preencher com suas próprias palavras livremente, ganham um forte aliado para interpretação. MARIN, Andrea Cristina, et al. Marketing digital como ferramenta de inovação e alavancagem de negócios. Research, Society and Development, 2018, 7.3: 9. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6231248. Esse artigo analisa novos conceitos de marketing que superam o marketing tradicional e que podem ser utilizados no ambiente digital como forma de atração e relacionamento com clientes. PASTORE, Cristina Maria de Aguiar; MAFFEZZOLLI, Eliane Cristine Francisco; MAZZON, José Afonso. O Uso de Biomarcadores em Pesquisas de Marketing. Revista de Administração Contemporânea, 2018, 22.3: 403-423. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rac/v22n3/1982-7849-rac-22-3-0403.pdf. Esse artigo apresenta e compara algumas ferramentas neurocientíficas que são fundamentadas em respostas não cognitivas do cérebro humano para utilização em pesquisas de comportamento humano relacionadas ao consumo ou em outras interações com ações de marketing. 53 Atividade de aplicação Unidade IV – Dissertativa (p. 45/46) Considerando o contexto atual do marketing, especialmente o quesito “satisfação do cliente”, disserte sobre o efeito das redes sociais como vinculador e formulador de opinião e seu impacto sobre as organizações. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 54 A unidade IV analisou o momento presente e sinaliza para o futuro das relações comerciais ao abordar a “satisfação de clientes e o caminho para o futuro”. Novamente recorre a Philip Kotler, o professor que acompanhou todas as fases de marketing moderno, indo desde a massificação do consumo pós-guerra com a reiterada publicação de seu clássico “Administração de Marketing” até a visão atual visão de mercado baseada nas novas demandas e tendências mundiais voltadas para a responsabilidade social, publicando recentemente o título “Marketing 3.0” depois revisado para “Marketing 4.0”. Esta unidade IV tratou da avaliação da satisfação do cliente como a base para o planejamento de ações futuras e correções das ações em andamento. Nossa época, início do século XXI, é palco de reposicionamento estratégico em nível global porque estamos em vias de perder o controle da situação em função do consumo desenfreado e do impacto ambiental que provocamos. Estamos numa encruzilhada e temos pouco tempo para agir. Eis a importância de incluir o relacionamento com os clientes num cenário mais responsável e comprometido com ações globais, muito além dos meros objetivos de aumentar as vendas. Nesse contexto, o mestre Kotler saiu na frente com suas recentes publicações (Marketing 3.0 e Marketing 4.0) nas quais propõe consideráveis mudanças de rumo na administração mercadológica e, consequentemente, no relacionamento com os clientes. 55 Unidade IV – Exercício 1 Kotler (2000) sugere vários instrumentos de avaliação de satisfação de clientes. Dentre as principais ferramentas sugeridas encontram-se: sistema de reclamação e sugestões, pesquisa de satisfação, compras simuladas e análise de clientes perdidos, entre outras mais recentes como a abertura de canais de acesso em tempo real. Quando dizemos que “Estudos mostram que, embora os clientes fiquem insatisfeitos com uma a cada quatro compras, menos de 5% desses reclama. A maioria dos clientes simplesmente passa a comprar menos ou muda de fornecedor. Empresa proativas medem a satisfação dos clientes realizando sondagens periódicas”. Logo, estamos nos referindo a possibilidade de uso de instrumentos de avaliação, por intermédio da ferramenta (marque a alternativa correta): A ( ) sistema de reclamações e sugestões. B ( ) pesquisa de satisfação de clientes. C ( ) análise de clientes perdidos. D ( ) compras simuladas. E ( ) abertura de canais de acesso em tempo real. R.: a alternativa correta é B (p. 43/44). 56 Unidade IV – Exercício 2 Ainda no universo da satisfação do cliente, entendemos que comportamento coletivo se refere a marketing e pesquisa de mercado e trata das dinâmicas que levam grupos de pessoas a participar coletivamente, mesmo sem se conhecerem, em ações criadas por outras pessoas ou organizações. Trata-se de tema emergente no ambiente do marketing que introduz termos novos como hater, crowdsourcing, crowdfunding, eye tracking, smatphones e lógica fuzzy. Desse modo, quando nos deparamos com termos vagos e imprecisos no ambiente de tomada de decisões de marketing, podemos afirmar seguramente que estamos diante de (marque a alternativa correta): A ( ) hater. B ( ) crowdsourcing. C ( ) crowdfunding. D ( ) lógica fuzzy. E ( ) eye tracking. R.: a alternativa correta é D (p. 45-48). 57 REFERÊNCIAS ALBRECHT, K. A única coisa que importa: trazendo o poder do cliente para dentro da sua empresa. São Paulo: Pioneira, 1997. AMBLER, T. The new dominant logic of Marketing: views of the elephant. London: Centre for Marketing of London Business School, 2004. Working Paper, n. 04 BOGMANN, I. M. Marketing de relacionamento: estratégias de fidelização e suas implicações financeiras. São Paulo: Nobel, 2000. CHAUVEL, M. A. The historyof marketing thought and “the great transformation” of Polanyi: how to conciliate social and economic interests. In: BALAS CONFERENCE, 2001, San Diego. Anais […]. San Diego, 2001. CHURCHILL JUNIOR, G. A.; PETER, J. P. 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