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0 3 - Filosofia

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28/12/2022 17:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/20
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA
AULA 1
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Paulo Niccoli Ramirez
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CONVERSA INICIAL
O objetivo desta aula é investigar a passagem do pensamento mítico ao racional. Trata-se de
analisar e compreender as condições históricas e aspectos que caracterizam a formação do que se
entende como sendo filosofia. Nesta aula, vamos estudar as origens do pensamento filosófico na
cultura ocidental. Veremos como o seu surgimento está relacionado ao pensamento grego antigo,
destacando-se, primeiro, os pensadores chamados de pré-socráticos (séculos VII a V a.C.) e, depois,
filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles (séculos IV a III a.C.), todos eles promovendo a
substituição de explicações míticas por racionais.
TEMA 1 – O QUE É MITO?
Compreenderemos, neste tema, quais são as características do pensamento mítico e por quais
motivos a filosofia buscou combatê-lo ao empregar visões consideradas mais racionais.
Antes do surgimento da filosofia e do pensamento considerado racional, na Grécia Antiga, as
explicações em torno da origem e funcionamento do Universo e dos seres humanos eram dadas com
base em concepções míticas. O predomínio do mito na cultura grega se deu entre os séculos XI ao IV
a.C., quando, a partir do século VII e sobretudo IV a.C., a filosofia desponta criticando esse tipo de
compreensão da realidade. Mas, afinal, o que é o mito?
Os mitos representam explicações sobrenaturais e fantásticas sobre a origem do Universo, dos
seres humanos e da natureza. Em grego, o termo deriva da palavra mythos, que significa narração.
Segundo o pesquisador francês Jean Pierre Vernant (2001, p. 255-267), na obra Entre mito e política,
as construções míticas podem ser categorizadas em cosmogonias e teogonias. Do grego cosmos,
universo ou ordem; e gonos, gênese, origem, cosmogonias são mitos que narram a origem do
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Universo e da natureza. Quanto às teogonias, do grego theos, deuses, as teogonias narram a origem
dos deuses, de suas relações, acordos e conflitos.
O mito representa narrações de teor sensível ou emotivo, de modo a expressar tanto os
sentimentos e contradições do comportamento humano, quanto também as forças e ciclos da
natureza. Apresentados na maioria das vezes oralmente, por poetas, ou nos teatros gregos, por meio
das tragédias, os mitos produziam, nos ouvintes, emoções, com as histórias de grandes heróis. Entre
choros e risadas, os ouvintes entravam em transe porque se identificavam com as histórias,
conduzindo ao que se denomina catarse.
Os mitos representavam elementos sagrados da cultura grega. Possuíam também papel de
justificação e organização da sociedade, seja do ponto de vista político, seja do ponto de vista social,
religioso ou econômico. Verifica-se a abrangência da mitologia na cultura grega. Na obra intitulada O
Universo, os deuses, os homens, Vernant (2000, p. 14) indica que o mito “[...] contém o tesouro de
pensamentos, formas linguísticas, imaginações cosmológicas, preceitos morais, etc., que constituem a
herança comum dos gregos na época pré-clássica”.
As principais fontes de narrativas míticas entre os gregos provinham do poeta Homero, que teria
vivido entre os séculos XIX e VIII a.C. e escrito a Ilíada, referente ao conflito entre gregos e troianos, e
a Odisseia, história que narra a trajetória de Ulisses (ou Odisseu), personagem considerado racional e
que se confronta com os deuses gregos na tentativa de retornar para sua cidade natal, Ítaca, após a
Guerra de Troia (Homero, 2013, 2014). Há dúvidas se Homero teria ou não existido; se teria de fato
escrito essas duas obras ou se representou, na verdade uma escola de poesia responsável pela
compilação de mitos narrados no passado, de forma oral, na Grécia. Por vezes, Homero é descrito em
relatos da Antiguidade como um cego, andarilho que narrava os mitos gregos de cidade em cidade.
Outra fonte de interpretações míticas, entre os gregos, considerada sagrada eram as descrições
de Hesíodo (2002, 2003), que viveu no século VII e escreveu importantes obras, como Os trabalhos e
os dias e Teogonia. Os mitos de Homero e Hesíodo eram considerados sagrados e todos os gregos
deviam respeito e obediência aos seus preceitos. Veremos, no próximo item, que a filosofia surgiu, na
Grécia, com a intenção de combater essas explicações sensíveis e divinas presentes nos mitos. Ainda
que os mitos sejam atacados pela filosofia, autores como Vernant (2001) não deixam de apontar que
eles, apesar de terem o predomínio de concepções fantásticas e sobrenaturais, não deixam de possuir
grau de racionalidade ao buscarem compreender a organização do Universo e do mundo humano.
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TEMA 2 – O QUE É FILOSOFIA?
No presente tópico, você estudará o contexto histórico, na Grécia Antiga, que permitiu a
passagem das explicações míticas em direção ao surgimento do pensamento racional e filosófico.
Quando se procura estabelecer que a filosofia nasceu na Grécia Antiga, por volta do século VII a.C.,
com Tales de Mileto, isso não quer dizer que outras culturas ou sociedades não tenham desenvolvido
formas de filosofia. Por exemplo, há a existência de filosofia na Índia ou na China, na Antiguidade ou
mesmo hoje, assim como entre sociedades indígenas e africanas. No entanto, o que difere a filosofia
ocidental das demais e o que fornece a ela um caráter sui generis é a realização de uma cisão ou
divórcio entre a razão (logos) e o mito (mythos). Outros povos e civilizações desenvolveram filosofias
nas quais as forças divinas e naturais misturam-se, em seu fundamento, ao comportamento e
instituições humanas, ou seja, em que as explicações mítico-religiosas se confundem com as
explicações calcadas na racionalidade. No entanto, a filosofia grega produziu cisma inédito. Buscou
separar o racional do mitológico, como também negar e rebaixar os mitos por considerá-los fontes
de interpretações equivocadas, mentirosas, ilusórias ou fantasiosas, que conduzem ao erro e à
ignorância.
A partir do pensamento pré-socrático, que será abordado no próximo item, a cultura ocidental
passará por uma ruptura com a tradição mítica, em direção à construção de modelos racionais que
terão impacto e deixarão heranças nas construções sociais, políticas, econômicas, científicas e mesmo
religiosas da cultura ocidental. Isso se deve ao fato de que, segundo Deleuze e Guatari (1991), na
obra O que é filosofia?, a própria filosofia trabalha com conceitos que procuram, de forma mais
pragmática, definir racionalmente como se dá o funcionamento do Universo e da vida humana.
A palavra filosofia teria surgido de um pensador pré-socrático conhecido como Pitágoras de
Samos (século V a.C.). Filosofia, em grego é a justaposição de dois termos: philia, que significa desejo
intenso, amizade, gosto ou amor fraternal; e sophos, que expressa a noção de conhecimento ou
sabedoria (Kirk; Raven; Schofield, 1994). Ou seja, filosofia significa um amor ou amizade pela
sabedoria ou conhecimento. É importante destacar que a filosofia desperta nos indivíduos aquilo que
Platão (2007), na obra Teeteto, e Aristóteles (1973), em Metafísica, classificam com o termo grego
thaumazein, que é traduzido como estranhamento, perplexidade, assombro, maravilhamento, espanto,
estupefação ou estarrecimento.
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Isso significa dizer que a filosofia emerge de um movimento de desnaturalização da realidade a
nossa volta, isto é, no instante em que não se observa mais o mundo com os olhos habituais, como
antes estávamos acostumados a enxergar a realidade, ou com uma visão conformada a se tomar as
coisas como se fossem normais ou como se sempre tivessem sido assim. A filosofiasurge do
sentimento de que o sentido das coisas está no fato de que nada faz sentido, quando há um
permanente questionamento a respeito da ordem do mundo e de suas interpretações corriqueiras,
como as míticas. Por isso, a filosofia, quando surge na Antiguidade, irá se opor aos mitos, tomados
pelos cidadãos gregos como verdadeiros e fontes legítimas para todas as explicações sobre o
Universo e a vida humana.
Como o papel da filosofia é interrogar todos os aspectos de nossa existência, como a vida social,
a política, as crenças, as hierarquias e a posição que nossa existência ocupa no Universo, ela não está
preocupada com fornecer ou alcançar as respostas verdadeiras (pois elas podem variar de pensador
para pensador); senão, a filosofia procura promover as verdadeiras perguntas. Esse princípio se torna
mais claro com o dito socrático só sei que nada sei, o que significa dizer que quanto mais se busca o
conhecimento ou a verdade, maior a certeza de nossa ignorância.
A filosofia não é uma ciência, embora influencie, com suas questões, todas as demais formas de
conhecimento científico, sejam elas ciências exatas, sejam ciências naturais ou humanas, exatamente
por possuir a percepção de que as verdadeiras perguntas são mais relevantes que a busca das
verdadeiras respostas. Embora a filosofia e a ciência tenham em comum o uso do logos, ou seja, da
razão, vemos a filosofia se diferenciar da ciência na medida em que esta última tem a tendência a
trabalhar com métodos matemáticos, experimentais ou observacionais que visem a se alcançar
comprovações de elementos objetivos dispostos na natureza. Já a filosofia possui como tendência o
trabalho lógico da mente diante de temas mais subjetivos, como a felicidade, o bem comum, a
virtude ou os atributos cognitivos que permitem à mente estar certa ou equivocada.
Outra diferença importante entre filosofia e ciência está no fato de que a ciência é cumulativa, o
que significa dizer que ela evolui, se aprimora ou se desenvolve de tal forma que nos permite dizer
que os achados científicos de hoje são mais avançados ou superiores do que certas descobertas ou
tecnologias existentes no passado. O acúmulo de conhecimentos, portanto, conduz ao progresso
científico. Já a filosofia não permite esse tipo de constatação, de modo que não se pode dizer que,
por exemplo, a filosofia contemporânea seja melhor ou mais avançada do que a antiga. São, na
realidade, filosofias diferentes, com coordenadas distintas, o que não nos impede de compará-las,
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apenas não sendo possível a afirmação da superioridade ou inferioridade de um filósofo sobre outro.
Aprender o pensamento de um filósofo é como aprender um idioma novo. Há um vocabulário
específico a esse pensamento que torna, no início, sua compreensão difícil. Porém, à medida que ele
é estudado e o leitor penetra nas principais questões e conceitos fornecidos pelos filósofos, lhe é
permitido compreender melhor uma determinada filosofia e conjunto de conceitos e ideias. Enquanto
a ciência avança como uma linha do progresso, com seus métodos e respostas, a filosofia opera
como uma espiral, porque seus problemas e perguntas são transversais, isto é, estão presentes em
diferentes épocas, na abordagem de diversos filósofos e suas linhas de pensamento.
Na obra Convite à filosofia, a filósofa Marilena Chauí (1994) responde de forma irônica à questão
para que serve a filosofia?, geralmente feita pelos críticos do saber filosófico. Os críticos tendem a
observar a filosofia como um amontoado de reflexões desnecessárias e inúteis. Segundo Chauí (1994,
p. 10), geralmente vê-se que “[...] a filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de
‘filósofo’ alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da Lua, pensando e dizendo coisas que
ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.”
Portanto, deve-se responder ironicamente à questão para que serve a filosofia. A resposta é: a
filosofia não serve a nada não porque seja inútil ou desinteressante, senão devido ao fato de que a
filosofia não serve por não ser servil ou escrava de nenhuma forma de poder, domínio ou hegemonia.
A filosofia é um saber livre e libertador que nos permite contradizer e questionar toda a realidade à
nossa volta.
TEMA 3 – OS PRÉ-SOCRÁTICOS
Conforme estudamos no item anterior, a filosofia ocidental se diferencia das filosofias praticadas
por outras culturas devido ao fato de que se promoveu na Grécia Antiga a cisão entre as explicações
míticas e as racionais. Os primeiros filósofos são conhecidos como pré-socráticos e buscaremos
compreendê-los a partir de agora.
3.1 OS FILÓSOFOS DA NATUREZA
Alguns fatores históricos e geográficos foram determinantes para que a filosofia e a separação
entre os argumentos racionais e os mitológicos tivessem origem na Grécia Antiga. O primeiro deles
está no fato de que a maioria das cidades gregas são portuárias, de modo que isso permitiu aos seus
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habitantes, desde cedo, o contato com outras civilizações e mitos diferentes dos seus, como os povos
egípcios, babilônicos, sumérios, fenícios, persas, entre outros. Concebe-se que o contínuo contato e
comparação com outras formas religiosas e míticas de compreensão do Universo tenha levado alguns
pensadores, na Grécia, a partir do século VII ao V a.C., a buscarem formas e alternativas mais racionais
de entendimento da natureza, fugindo dos relatos sensíveis, sobrenaturais e fantásticos tão comuns,
então.
Além disso, as cidades gregas, conhecidas como polis, possuíam leis escritas que transferiram à
filosofia a tradição de fixar na forma de livros as reflexões desses primeiros filósofos, embora
praticamente todas as obras dos pensadores conhecidos como pré-socráticos tenham se perdido
devido a incêndios e destruições de bibliotecas, ainda na Antiguidade. Muito do que sabemos de
seus livros e reflexões se devem à atividade denominada doxografia. Os doxógrafos foram estudiosos,
historiadores e filósofos da Antiguidade que tiveram a oportunidade de ler, na íntegra, os textos dos
pré-socráticos que se perderam. Com isso, citaram trechos ou teceram comentários sobre essas
obras, a que não temos mais acesso.
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Créditos: Olinchuk/Adobe Stock.
Outro fator importante para o surgimento da filosofia na Grécia foi a existência da escravidão,
conforme aponta Vernant (2001), pois o trabalho escravo, embora forçado e oposto à liberdade
humana, possibilitava que alguns homens, considerados cidadãos, tivessem condições como dispor
de tempo livre e ócio para participar da praça pública (como a chamada ágora de Atenas) e das
decisões políticas, além de especular racionalmente sobre indagações filosóficas.
Os pré-socráticos ou primeiros filósofos são também conhecidos como filósofos da natureza. Isso
se deve ao fato de que, diferentemente do que veio a ocorrer a partir da filosofia de Sócrates (470-
399 a.C.), preocupada com questões em torno do ser, da relação entre corpo e alma, da justiça, das
virtudes e do bem-comum na cidade, os pré-socráticos estavam interessados e direcionados à
seguinte questão: qual é o elemento primordial ou qual a origem de tudo o quanto existe na natureza?
Esse elemento primordial que buscavam explicar é designado arché.
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A busca da arché, entre os pré-socráticos, conduziu a interpretações distantes das elaborações
sobrenaturais míticas. Embora os primeiros filósofos divirjam a respeito de qual é a arché, isto é, o
elemento primeiro que dá origem e está presente em toda a matéria da natureza, a sua busca e
interpretação é um elemento comum nas construções desses filósofos e, por isso mesmo, eles são
definidos como filósofos da natureza.
2.2 TEORIAS DOS PRÉ-SOCRÁTICOS
A ruptura com o pensamento míticose deu quando Tales de Mileto (séc. VII e VI a.C.) procurou
por uma explicação pragmática da arché que fosse concreta e distante das construções fantásticas ou
sobrenaturais dos mitos. Filósofo jônio, estabeleceu a água como arché. De acordo com a obra Os
filósofos pré-socráticos (Kirk; Raven; Schofield, 1994), Tales observou a relação da água com todos os
seres da natureza; e em seus estados sólidos, líquidos e gasosos. No Egito, percebeu como a terra
desértica se tornava fértil com a cheia do Rio Nilo. Em altas montanhas, encontrou fósseis de animais
marinhos. Concluiu, assim, que o mundo era coberto pela água, originalmente. Tales é considerado o
pioneiro do que hoje chamamos de paleontologia (Kirk; Raven; Schofield, 1994).
Influenciado pelas questões em torno da arché de Tales, outro filósofo de Mileto, Anaximandro
(610-547 a.C.), buscou dar uma outra resposta sobre o elemento constituinte de toda a realidade.
Diverge de seu mestre ao propor que a arché é o ápeiron, palavra grega que significa ilimitado,
indeterminado, indefinível, sem origem e inominável, sendo, portanto, imaterial, infinita e imortal, mas
que origina todos os elementos e toda a matéria presente no Universo. O indeterminado é a origem
e a causa de tudo o que existe, sendo apreendido apenas pelo pensamento e não pela sensibilidade.
Anaximandro concebia que o Universo é guiado pelo movimento eterno e circular do ápeiron, que faz
surgir o quente (fogo) e o frio (ar); nele, há equilíbrio e retribuição entre os contrários ou substâncias
opostas. Os seres comuns, quando morrem, retornam ao ápeiron (Kirk; Raven; Schofield, 1994).
Anaxímenes (Mileto, 585-528/525 a.C.), filósofo jônio, afirma que a arché é o ar (pneuma).
Discorda de Anaximandro, pois a arché não poderia, para ele, ser o indeterminado, posto que o
ápeiron seria inconcebível pelo pensamento, porque abstrato. Diferentemente da água (na tese de
Tales), o ar é invisível, mas nem por isso deixa de ser natural e estar presente em tudo o quanto
existe, sendo o elemento primordial constituinte do Universo. Anaxímenes constata que, do nascer ao
morrer, há a existência do primeiro até o último respiro, sendo o ar determinante para qualquer ser
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vivo. O mundo é vivo e respira (ar seria equivalente a alma, algo comparado ao corpo da natureza)
(Kirk; Raven; Schofield, 1994).
Xenófanes de Cólofon (570-475 a.C.) deixou a Jônia em direção ao sul da Península Itálica
quando os persas invadiram a Grécia. Errante, andarilho e recitador de poemas, visitou diversas
cidades, sendo o patrono da escola eleática, da qual farão parte também Parmênides e Zenão.
Segundo Xenófanes, a arché é a unidade na imutabilidade, contida em um deus uno e imutável, não
apresentando nenhum elemento sólido como o princípio de tudo, mas manifestando-se com base no
elemento terra. A concepção de um deus único, imortal e imutável como princípio de tudo esboça
sua concepção de arché. Xenófanes opôs-se ao antropomorfismo e ao politeísmo das religiões que
conheceu, sobretudo a grega. Deu-se conta de que a intenção de atribuir aos deuses as próprias
características e potencialidades humanas era natural, porém equivocada (Kirk; Raven; Schofield,
1994).
Heráclito (Éfeso, 540-470 a.C.) foi um filósofo jônio conhecido como O Obscuro ou O Fazedor de
Enigmas, devido à sua escrita de difícil compreensão e múltiplas interpretações. Defensor do
mobilismo, concepção que dirá que todas as coisas naturais estão em constante movimento, em
constante mudança, num constante devir ou fluir, tendo como sua engrenagem ou arché o fogo, é-
lhe atribuída a sentença Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio. O mobilismo está relacionado
ao termo criado por Heráclito, o logos (razão ou inteligência) presente na natureza, havendo assim
estabilidade na mudança, sendo o fogo o garantidor do fluxo dos contrários (Kirk; Raven; Schofield,
1994).
Parmênides e Zenão serão críticos da tese mobilista de Heráclito. Parmênides (515-460 a.C.) foi
um filósofo eleata, fundador da concepção de ontologia (conhecimento do ser e da essência última
dos seres), consequentemente da metafísica e da filosofia num sentido mais abstrato. Parmênides
conheceu e influenciou o então jovem Sócrates e estabeleceu a diferença entre essência (imutável e
verdadeira – alétheia) e aparência (que se transforma sempre, como a doxa – opinião, algo, portanto,
instável, falso e ilusório). O mobilismo de Heráclito não levaria, segundo Parmênides, ao
conhecimento verdadeiro, mas a opiniões variáveis sobre as coisas, o que tornaria não verdadeira a
concepção mobilista dos seres ou a tese do movimento de Heráclito. A verdade, para Parmênides, é
única, imóvel, eterna, imutável, sem princípio nem fim, contínua e indivisível. Por isso, Parmênides
afirma que o ser é (uma essência imutável e verdadeira, afinal a sentença o que é é o objeto do
pensamento). O que muda é o não ser (o que não é é que está em transformação e é capturado
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pelos sentidos, sendo, portanto, falso). O acesso à verdade do ser se dá com o uso da razão, do
pensamento, afastando-se da opinião formada pelos hábitos, impressões sensíveis, que são por si só
ilusórios, imprecisos e mutáveis (Kirk; Raven; Schofield, 1994).
Zenão (489-430 a.C.), por sua vez, foi discípulo de Parmênides e seu pensamento consiste na
defesa das teorias monistas (sobre o indivisível, o imutável e o verdadeiro) de seu mestre por meio de
paradoxos (em grego, paradoxo significa, literalmente, contraopinião ou opinião oposta). Os
paradoxos concluem que não existe movimento e mudança e que esses se tratam de uma confusão
dos sentidos. Entre os mais conhecidos paradoxos de Zenão, destacam-se o de Aquiles e a tartaruga
e o do arqueiro, com base nos quais ele conclui que cada movimento é constituído por infinitos
momentos imóveis. Dessa forma, o movimento é provido de momentos estáticos ou imóveis (Kirk;
Raven; Schofield, 1994).
A respeito de Pitágoras (Samos, 570-496 a.C.), pouco se sabe de sua vida, sendo o pitagorismo
possivelmente uma escola de pensamento e certamente uma seita religiosa secreta, que no futuro
exerceria influência sobre Platão. Pitágoras considera a arché como do âmbito dos números, das
formas geométricas e das suas proporções harmoniosas. A natureza, portanto, é matemática. Os
princípios pitagóricos influenciaram outro pensador eleático, Filolau de Crotona (século V a.C.), que
sugeriu a ideia de movimento da Terra (Kirk; Raven; Schofield, 1994).
Empédocles (Agrigento, 490-435 a.C.) foi político, poeta, médico e cosmólogo e não buscou um
único princípio das coisas. Ao contrário, defendeu que a arché é constituída pelos quatro elementos:
fogo, terra, água e ar. Esses quatro elementos são separados e unidos pelo ódio (que se forma pelas
diferenças) e pelo amor (que reúne as semelhanças). Há em seu pensamento a atribuição de valores
morais à natureza e o reconhecimento da presença de certa unicidade (uno-divino) entre os quatro
elementos (do uno ao múltiplo). Empédocles se aproxima de Parmênides (unidade) e Heráclito
(movimento) (Kirk; Raven; Schofield, 1994).
Anaxágoras (Clazômenas, cerca de 500-428 a.C.), de origem jônia, teria vivido em Atenas por
cerca de 30 anos e por lá fundado uma escola de filosofia. Considera a arché composta de uma
infinidade de pequenos elementos, as chamadas homeomerias (que, em grego, significam sementes).
Os objetos concretos e os elementos materiais dispostos na realidade têm origem de relações de
afinidades entre porções dessas sementes, com defesa do múltiplo, do infinito e do divisível e não do
uno e do limitado. A quantidade de coisas no mundo seria, assim, sempre a mesma, e tudo seria
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infinitamente divisível. Nessa visão, não existe o nada. Anaxágoras concebe a possibilidade de
existênciade mundos paralelos, de repetição de mundos ou da sucessão deles (Kirk; Raven; Schofield,
1994).
Leucipo (Mileto, séc. V a.C.) e Demócrito (Abdera, cerca de 460-370 a.C.) são conhecidos como
atomistas. Segundo esses pensadores, existem dois elementos primordiais para a formação de todas
as coisas: o átomo e o vazio. A arché é tomada com base nos átomos (que, em grego, significavam
partículas indivisíveis, individuais, finitas e invariáveis, eternas e em perpétuo movimento), que se
diferem entre si pela forma, tamanho, posição e ordem. Os átomos se diferenciam das homeomerias
de Anaxágoras por não serem mutáveis ou capazes de se transformar. Tudo quanto existe seria, com
isso, resultado de combinações tidas como espontâneas de átomos ardentes, leves e esféricos,
constituindo a pluralidade do mundo. O atomismo de Demócrito é avaliado como o pensamento
mais rigoroso entre os filósofos da natureza ou pré-socráticos. Para Demócrito, a lógica e a sabedoria
são o resultado do entendimento da natureza. A alma humana é também constituída por átomos,
sujeita à decomposição e à morte. A natureza deve ser explicada por si mesma e os acontecimentos
não têm uma causa primeira, contendo, sem exceção, tudo o que foi, é e será. Nessa direção, os
humores humanos, como a felicidade, devem ser compreendidos conforme a composição material da
realidade e de seus átomos (Kirk; Raven; Schofield, 1994).
TEMA 4 – A FILOSOFIA DE SÓCRATES E PLATÃO
Vamos investigar agora o principal pensador grego, Sócrates, suas ideias e críticas contra os
costumes e visões de mundo dos gregos, baseados na mitologia. Avaliaremos a relação do mestre
com o discípulo, Sócrates e Platão, e por quais motivos o pensamento socrático deu origem a novos
problemas e formas de se pensar a filosofia.
4.1 QUEM FOI SÓCRATES?
Sócrates (470-399 a.C.) nasceu em Atenas e era filho de uma parteira. Em grego, maiêutica é o
termo que significa dar à luz, parir. Sócrates compara o aprendizado filosófico ao nascimento ou
parto, de forma que o conhecimento seria, em sua visão, um processo doloroso, até que se consolide
o nascimento do pensamento filosófico nos indivíduos. Sócrates nunca escreveu nada, pois afirmava
que escrever seria uma forma de aprisionar o conhecimento. Sabemos da existência de Sócrates por
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meio do trabalho de dois de seus discípulos, Platão e Xenofonte. Platão (428-347 a.C.) foi
pertencente a uma família abastada e nobre de Atenas; Xenofonte (430-355 a.C.) foi um poeta e
jurista ateniense. Uma terceira visão sobre quem foi Sócrates foi dada por Aristófanes (447-385 a.C.),
um poeta crítico às ideias do filósofo por considerá-lo subversivo por atacar as tradições políticas e
religiosas dos atenienses (Jaeger, 2001).
Platão torna seu mestre, Sócrates, o principal personagem de suas obras, destacando-se, por
exemplo, o livro A república (Platão, 1988). Comentadores da obra de Platão tendem a demonstrar
dificuldades em separar as ideias do mestre e do discípulo, de modo que o pensamento desses dois
filósofos constitui uma continuidade e certa unidade que dá origem ao complexo de ideias socrático-
platônicas (Châtelet, 1994).
Xenofonte e Platão descrevem Sócrates como homem de mente rigorosa, racional e
questionadora, que produziu severas críticas às crenças nos mitos gregos e na política ateniense, a
democracia. Sócrates foi acusado e declarado culpado por corromper a juventude, atacar a
democracia ateniense e o politeísmo grego; opôs-se às duas principais figuras de sua cidade: os
poetas (responsáveis pela manutenção das tradições religiosas baseadas nos mitos) e os sofistas
(eloquentes educadores e demagogos que manipulavam as decisões políticas tomadas na cidade, em
proveito próprio) (Châtelet, 1994).
O pensamento socrático-platônico desejava substituir a democracia ateniense por um modelo
utópico e idealizado baseado numa monarquia governada por filósofos no lugar, respectivamente, da
democracia e dos sofistas. Sócrates atacou a escravidão nas cidades gregas; defendeu a participação
das mulheres na vida social e política, inclusive a formação de guardiões e guardiãs, com o fim do
casamento monogâmico entre esses guerreiros; propôs que todas as riquezas fossem confiscadas e
administradas pelos filósofos, com o objetivo de se gerar uma cidade justa. Devido às suas ideias,
consideradas radicais, Sócrates foi condenado à morte e envenenado por ingestão de cicuta. Embora
pudesse ter escolhido o exílio, a censura ou o pagamento de uma multa para se livrar da pena, optou
por ingerir o veneno e alcançar a morte, pois considerava a alma e a razão como eternas e o corpo,
os sentidos ou as sensações corporais como corruptíveis, mutáveis e perecíveis (Châtelet, 1994).
4.2 A DIALÉTICA SOCRÁTICO-PLATÔNICA
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Para se opor aos discursos convincentes, porém falsos, de poetas e sofistas, voltados a fazer
aflorarem as emoções, paixões, sensações e crenças equivocadas entre os gregos, Sócrates, e depois
Platão, desenvolveram o primeiro método racional e filosófico da cultura ocidental, a chamada
dialética. Esse método consiste num debate, discussão ou diálogo elaborado por meio de sucessivas
perguntas, sempre realizadas pelo filósofo, que têm como objetivo questionar e conduzir à
contradição as opiniões (doxa) das pessoas comuns, principalmente poetas e sofistas. Sócrates e
Platão opõem a dialética, relacionada à filosofia e à razão (logos), à opinião (doxa), considerada vaga,
ignorante e equivocada porque vinculada aos mitos, sensações e paixões humanas. Sócrates deseja
que sejamos guiados pela razão, esta sim capaz de conduzir à verdade e às virtudes, e não pelas
paixões ou emoções, fontes de todo erro e de vícios que corrompem o bem comum e levam a
sociedade à degeneração (Châtelet, 1994).
4.3 MUNDO SENSÍVEL E MUNDO INTELIGÍVEL
Sócrates e Platão foram responsáveis por proporem a diferenciação do real do falso, da verdade
da aparência, por meio da oposição entre o que denominaram mundo sensível e mundo inteligível (ou
mundo das ideias). O sensível corresponderia a tudo o que é concreto, físico, material e sensível (as
nossas sensações corporais), aos objetos sensíveis diante dos nossos olhos e demais sentidos. Tudo
que pertence a esse mundo, o mundo material, está em transformação, é transitório e muda. Quando
somos guiados pela sensibilidade (os sentidos), somos conduzidos, logo, ao erro, pois somos
influenciados pelas emoções (elementos presentes no mito e no discurso dos sofistas). O mundo
sensível, portanto, seria dominado pelas aparências, segundo essa linha de pensamento, posto que o
que é transitório e muda a todo instante, como os nossos sentimentos, não pode corresponder à
verdade. As aparências e os sentidos podem produzir os vícios, já que acomodam o corpo e a mente.
Os vícios seriam paixões produzidas pelos sentidos, fazendo do indivíduo escravo do prazer. O
mundo sensível deve ser, assim, relacionado à noção de simulacro (conjunto de sombras e
aparências) (Châtelet, 1994).
O mundo inteligível, por sua vez, só seria acessível por meio do uso da razão. Nesse mundo
estão as verdades, também chamadas de essências, formas ou ideias. A verdade seria eterna, imutável
e universal, não se transformando jamais, o que a diferiria das aparências presentes no mundo
sensível. A razão, por conduzir o homem à verdade, produziria as virtudes e guiaria a vida para o
bom caminho e não para os vícios. Segundo Marilena Chauí (1994, p. 269-270):
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Eis por que a ontologia platônica introduz uma divisão no mundo, afirmando a existência de dois
mundos inteiramente diferentes e separados: o mundo sensível da mudança, da aparência, do devir
dos contrários, e o mundo inteligível da identidade, da permanência, da verdade, conhecido pelo
intelecto puro, sem qualquerinterferência dos sentidos e das opiniões. O primeiro é o mundo das
coisas. O segundo, o mundo das ideias ou das essências verdadeiras. O mundo das ideias ou das
essências é o mundo do Ser; o mundo sensível das coisas ou aparências é o mundo do Não-Ser. O
mundo sensível é uma sombra, uma cópia deformada ou imperfeita do mundo inteligível das ideias
ou essências.
Platão concebia a noção de imortalidade da alma e uma doutrina de reencarnação das almas
pela qual indivíduos dedicados à razão, à filosofia e à virtude tenderiam a alcançar o mundo
inteligível após a sua morte, tomando conhecimento pleno do que seja a verdade, a justiça, o bem, o
belo e Deus. É importante ressaltar que Sócrates e Platão são os primeiros filósofos a defenderam o
monoteísmo. Eles são críticos do politeísmo porque os deuses exprimem comportamentos voláteis e
comparáveis aos sentimentos humanos, portanto são falsos. O monoteísmo é defendido pelos dois
filósofos porque Deus deve ser único, eterno, imutável e seus pensamentos são superiores e
inconcebíveis pelos sentimentos humanos (Châtelet, 1994).
Segundo Châtelet (1994), como a relação entre corpo e alma é acidental, quando nossa
existência é dada ainda no mundo sensível apenas é possível alcançar as ideias originais, essências ou
formas do mundo inteligível com o uso da razão, por exemplo, a essência ou o pensamento perfeito
da ideia de uma mesa, casa, ser humano, números ou formas geométricas. As ideias são perfeitas;
porém, no mundo sensível, não encontramos seus correspondentes, a não ser cópias malfeitas e
degeneradas das essências. Além disso, o mundo sensível apresenta dois patamares. O primeiro deles
corresponde ao dos objetos físicos, cópias distorcidas das ideias originais. O segundo patamar diz
respeito aos discursos dos poetas e sofistas, considerados do mais elevado patamar de mentira,
cópias das cópias, que revelam o que há mais falso, levando os indivíduos ao erro e à ignorância.
A Figura 1 permite compreender as distinções entre os dois mundos avaliados por Sócrates e
Platão.
Figura 1 – Mundo inteligível e mundo sensível
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Fonte: Elaborado com base em Platão, 1988.
Dessa forma, no mundo inteligível estariam nossas ideias originais. É o que se chama de logos
(razão, ciência, conhecimento, discurso racional que nos leva à verdade, ou seja, elementos da
atividade do filósofo). Já no mundo sensível (ou das aparências) apenas vemos as cópias das ideias,
ou seja, as suas sombras. Esse mundo corresponde ao mundo do mito (mythos).
TEMA 5 – A ALEGORIA DA CAVERNA
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Vamos estudar agora uma das narrativas mais conhecidas da história da filosofia. Platão e
Sócrates comparam o mundo sensível a uma prisão por meio da chamada alegoria da caverna,
presente no Livro VII da obra A república (Platão, 1988). A alegoria trata de indivíduos que viveram
toda a sua existência acorrentados no interior de uma caverna, ou seja, aprisionados pelas paixões e
sensações, e que apenas poderiam olhar para frente, onde eram projetadas sombras, na parede da
caverna que habitavam. Assim, essas pessoas tomavam as sombras e aparências como se fossem
verdadeiras, sem saber que atrás deles havia outros indivíduos (leiam-se, sofistas e poetas)
manipulando, na frente de uma fogueira, objetos que davam origem às sombras projetadas na
parede, como em um teatro de sombras de fantoches ou um simulacro.
No entanto, um dos prisioneiros, o filósofo, consegue se desacorrentar, pois seus instrumentos
de libertação são a razão, o estranhamento e os questionamentos. O filósofo percebe então que
havia sido sempre enganado, tomando as aparências como se fossem a realidade. Decide, depois
disso, sair da caverna, para encontrar as ideias, as formas, isto é, a realidade fora da prisão, e enfim
observa a luz do Sol, que representa a verdade, o belo, o bem e a justiça. O filósofo toma a difícil
decisão de retornar à caverna para advertir seus antigos companheiros a respeito do fato de que
estavam sendo enganados, acreditando que as sombras eram verdadeiras. Ao retornar, esses
companheiros não acreditam em suas palavras: acabam por desmenti-lo e agredi-lo, até matá-lo
(Platão, 1988).
Crédito: Matiasdelcarmine/Adobe Stock.
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Dessa forma, a alegoria da caverna representa tanto a teoria do conhecimento de Platão e
Sócrates, ou seja, a oposição entre os mundos sensível (a caverna) e inteligível (fora da caverna, onde
há a luz do Sol). Além disso, a mesma alegoria expressa como se deu a morte de Sócrates, que, por
utilizar a razão e contestar poetas e sofistas, foi condenado ao envenenamento por cicuta, em Atenas.
NA PRÁTICA
No ano de 2016, o Dicionário Oxford de filosofia cunhou o termo pós-verdade em seus verbetes,
relacionando-o da seguinte maneira ao fenômeno das fake news: “Post-truth (pós-verdade): relativo
ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do
que as emoções e as crenças pessoais” (Word, 2016, tradução nossa). A noção de pós-verdade diz
respeito ao processo de deslegitimação das ciências, de certezas racionais em nome de opiniões
falsas, passionais e geradoras de notícias falsas (as fake news). Seria possível relacionar a noção de
pós-verdade com os problemas identificados por Sócrates em relação às opiniões dos sofistas?
Investigue uma fake news que tenha sido abordada criticamente por meios de comunicação ( jornais,
revistas, sites de notícias e afins) e, em seguida, faça uma comparação com concepções platônicas a
respeito da distinção entre os mundos sensível e inteligível.
FINALIZANDO
Nesta aula, estudamos o surgimento da filosofia ocidental, com base nos pensadores gregos.
Avaliamos que o discurso filosófico na Grécia apareceu com os filósofos conhecidos como pré-
socráticos, que foram responsáveis por produzir reflexões de teor racional, sobre a natureza, em
oposição às intepretações de cunho fantástico e sobrenatural presentes nos mitos. Investigamos a
originalidade do pensamento socrático-platônico, que trouxe novos questionamentos ao
pensamento filosófico. Enquanto os pré-socráticos se perguntavam essencialmente pela arché,
Sócrates inova sobretudo com os seguintes elementos:
a. construção de uma teoria do conhecimento que supõe uma rígida separação entre corpo
(mythos) e alma (logos);
b. crítica da democracia e proposição de um regime político fundado na razão e não mais nos
mitos, modelo que subverteu as tradições gregas ao elaborar sistemática oposição aos mitos,
aos sofistas e à democracia ateniense;
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c. Sócrates e Platão produziram e promoveram, pela primeira vez, um método filosófico, a
dialética, para combater os mitos.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores).
CHÂTELET, F. Uma história da razão: entrevistas com Émile Noël. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1994.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1994.
DELEUZE, G.; GUATARI, F. O que é filosofia? São Paulo: Editora 34, 1991.
HESÍODO. Os trabalhos e os dias. São Paulo: Editora Iluminuras, 2002.
_____. Teogonia. Tradução e estudo: Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2003.
HOMERO. Ilíada. São Paulo: Penguin, 2013.
_____. Odisseia. São Paulo: Cosac & Naify, 2014.
JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1994.
PLATÃO. A república. Belém: Edufpa, 1988.
_____. Diálogos I: Teeteto, Sofista, Protágoras. São Paulo: Edipro, 2007.
VERNANT, J. P. Entre mito e política. São Paulo: Edusp, 2001.
_____. O Universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
WORD of the Year 2016.Oxford Languages, 2016. Disponível em:
<https://languages.oup.com/word-of-the-year/2016/>. Acesso em: 2 fev. 2022.
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FILOSOFIA
AULA 2
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Paulo Niccoli Ramirez
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CONVERSA INICIAL
PARADIGMAS CIENTÍFICOS
O objetivo da aula é compreender o processo de surgimento e transformação da ciência na
cultura ocidental, desde seus primórdios com o pensamento aristotélico na Grécia Antiga e passando
pela sua influência na ciência medieval, a denominada Escolástica, até as rupturas com o pensamento
medieval com a ascensão da Ciência Moderna, de modo que se procura refletir sobre quais os
impactos causados por novos métodos científicos criados nos séculos XVI e XVII, entre eles a
matematização do Universo produzida por Copérnico e Descartes, e a experimentação científica,
elaborada por Galileu Galilei e Newton. Por último, investigaremos o cientificismo positivista do
século XIX e teorias sobre as dinâmicas das ciências desenvolvidas durante o século XX por
pensadores como Popper, Kuhn e Feyerabend, preocupados com questões em torno das condições
que tornam possível uma teoria se tornar mais hegemônica que outras ou mesmo o que permite a
superação de teses que passam a ser consideradas obsoletas no interior dos debates científicos.
TEMA 1 – ARISTÓTELES E A ORIGEM DA CIÊNCIA
Veremos no primeiro tema a importância de Aristóteles (384-322 a.C.), pois este é considerado o
primeiro entre os cientistas na cultura ocidental. Isto se deve ao fato de que o pensador grego foi o
primeiro a elaborar um método científico, o chamado silogismo, que possuía como pano de fundo a
crítica ao seu mestre Platão. Aristóteles deixará profundas marcas na história da ciência, até ser
questionado pelos cientistas modernos, a partir dos séculos XVI e XVII, conforme veremos nos
próximos temas da aula.
1.1 MATERIALISMO ARISTOTÉLICO VERSUS IDEALISMO PLATÔNICO
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Aristóteles é de origem macedônica, império localizado ao norte das cidades gregas durante a
Antiguidade. Foi discípulo de Platão, porém veio a se tornar o seu maior crítico. Aos 17 anos, após a
morte do pai, foi estudar em Atenas, onde ingressou na Academia de Platão. Durantes duas décadas
permaneceu na condição de aluno e depois se tornou professor da Academia. Desentendimentos
teóricos com seu mestre, Platão, levaram Aristóteles de regresso à Macedônia e tornou-se tutor de
Alexandre Magno. Quando Alexandre se tornou imperador da Macedônia e invadiu a Grécia, dando
origem ao período denominado como “Helênico”, Aristóteles fundou a sua própria escola em Atenas,
num local chamado Liceu, por volta de 334 a.C. A escola de Aristóteles rivalizava com a Academia de
Platão.
A crítica de Aristóteles ao seu mestre Platão deveu-se ao fato de considerar as teorias platônicas
demasiadas abstratas à medida que promovia a separação entre os Mundos Inteligível e Sensível, a
cisão entre corpo e alma, além de buscar a verdade apenas no mundo das ideias. Em oposição a
estas posturas platônicas, Aristóteles acreditava que a filosofia se devia basear naquilo que nos é
dado a conhecer por meio observação, de modo que o conhecimento verdadeiro não estaria
presente no mundo das ideias, como queria Platão, senão na própria natureza e nos seus fenômenos.
Por este motivo, isto é, buscar verdades na própria natureza, o projeto aristotélico consistia numa
investigação sistemática e rigorosa dos fenômenos dispostos na realidade concreta, portanto,
promoveu uma abordagem científica. Foi dessa forma que Aristóteles deu origem à biologia e
fortaleceu em sua época outras ciências, como a astronomia, meteorologia, geologia, física, ética,
linguagem e política.
Platão é considerado um filósofo idealista ou espiritualista por julgar que as verdades se
encontram no Mundo Inteligível. Aristóteles, por sua vez, é considerado filósofo e cientista
materialista, pois julga que as verdades estão presentes na própria natureza, ou seja, no mundo
material, negando inclusive as dualidades platônicas, como a oposição entre o inteligível e o sensível,
alma e corpo, matéria e forma. Para Aristóteles, os sentidos e corpo contribuem ao lado da razão
para a compreensão e observação da natureza, de modo que devem estar em equilíbrio.
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Créditos: rook76/Adobe Stock.
O pintor Renascentista Rafael (1483-1520) foi capaz de traduzir a oposição entre o materialismo
aristotélico e o idealismo platônico por meio da obra A Escola de Atenas (1510), presente no Museu
do Vaticano. A obra revela a concepção idealista de Platão quando aponta um dos dedos para os
céus, metaforizando a noção de que as verdades se encontram no Mundo das Ideias e apenas
podem ser alcançadas com o uso da razão, jamais com os sentidos ou o corpo. Já Aristóteles
apresenta sua mão indicada para baixo, revelando postura materialista ao considerar que as verdades
são encontradas na natureza e devem ser observadas com a razão e os sentidos.
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1.2 O SILOGISMO ARISTOTÉLICO
Aristóteles, na obra Organon (2010), que poderia ser traduzido como instrumento ou ferramenta
escrita no século III a.C., elabora princípios da lógica e, por isso, é considerado pioneiro na ciência,
pois pertence a ele o primeiro método científico que se tem conhecimento, o silogismo. Aristóteles,
em certa medida, se opôs aos procedimentos dialéticos de Platão (método de perguntas e respostas,
cujas conclusões eram um tanto subjetivas e idealistas). O pensamento aristotélico se propôs a
promover procedimentos de investigação científica por meio de observações qualitativas, comuns e
cotidianas, a partir da correlação entre sensibilidade e racionalidade, para capturar a verdade na
natureza. Por ser qualitativo, o método Aristotélico era apenas observacional, sem contar com
experimentos ou procedimentos matemáticos.
Segundo Marilena Chaui (1994, p. 200), “o silogismo é um conjunto de três juízos ou proposições
que permite obter uma conclusão verdadeira. Trata-se de um método dedutivo no qual, de duas
premissas, deduz-se uma conclusão”. Antes de analisarmos o que é exatamente um método dedutivo
e proposições, é importante observar os dois exemplos a seguir para um melhor entendimento a
respeito desse primeiro método científico:
Na sua forma padronizada, o silogismo é constituído por três proposições (expressões verbais
que resultam em afirmações). As duas primeiras são chamadas de premissas e a terceira conclusão. O
silogismo é considerado uma forma de raciocínio dedutiva. Mas o que é dedução e o que a
diferencia da indução? Aristóteles preocupou-se com esta distinção na obra Organon (2010).
Toda dedução inicia seu raciocínio a partir de elementos mais gerais, amplos ou universais em
direção aos elementos particulares, até que se alcance alguma conclusão muito específica. Vê-se que
o silogismo é uma dedução porque sua primeira e segunda proposições são mais amplas e genéricas
do que a conclusão. A dedução pode partir de uma hipótese abstrata ou de caráter geral para
relacioná-los com situações e argumentos factíveis e particulares. Toda dedução é um encadeamento
de raciocínios em que o conhecimento sobre algo é dado a posteriori.
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A indução, por sua vez, promove procedimentos inversos ao da dedução. Parte da observação
de elementos particulares, com o objetivo de atingir uma conclusão sobre um ponto de vista ou ideia
geral, de acesso a todos. Tem-se um conhecimento dado a priori, por exemplo, percebemos que
“João morreu” ou “tenho fome” ou “édia”.
1.3 AS CIÊNCIAS E O PENSAMENTO ARISTOTÉLICO
Aristóteles desenvolveu inúmeros estudos para a compreensão da physis (natureza), promoveu
estudos cosmológicos, físicos, geológicos e biológicos, entre outros. Entre suas principais ideias está
a noção da geração espontânea, que concebia a origem espontânea dos seres vivos a partir da
natureza. Aristóteles também julgava ser a Terra o centro do universo (este último finito), sendo que
os demais corpos celestes (Lua, Sol e o firmamento) girariam em torno da Terra devido a um Deus
materialista, designado como Primeiro Motor ou Moto Imóvel. Suponha que apenas a Terra seria
constituída dos elementos água, terra, fogo e ar e os corpos celestes seriam constituídos por éter,
havendo rigorosa distinção entre o céu e a Terra. Concebia que os objetos físicos e as posições sociais
(como senhores e escravos) eram determinados pela natureza.
Além de empregar o silogismo (método apenas observacional, e não matemático ou
experimental), Aristóteles trabalhava com quatros aspectos fundamentados em quatro causas, a
saber: causa material (do que a coisa é feita? Por exemplo, a casa é de tijolos); causa eficiente (o que
fez a coisa? A construção); causa formal (o que lhe dá a forma? A própria casa); e causa final (o que
lhe deu a forma?).
TEMA 2 – A ESCOLÁSTICA E A CIÊNCIA MEDIEVAL
Investigaremos no Tema 2 a ciência medieval. Será possível observar as influências do
pensamento aristotélico, que foi associado pela Igreja Católica às sagradas escrituras.
A Escolástica expressa a ciência medieval cristã, ou seja, baseada na tentativa de conciliação
entre um ideal de racionalidade, tradição grega do  platonismo  e  aristotelismo, relacionados com a
verdade revelada pela fé cristã e os textos sagrados. Segundo Aranha, “Escolástica. Designa os
filósofos e teólogos medievais que ministravam cursos nas escolas eclesiásticas e nas universidades
entre os séculos IX e XV” (2009, p. 113).
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O principal pensador do período foi São Tomás de Aquino (1225-1274), responsável por
aristotelizar o cristianismo. A Escolástica também possuía apreço por Ptolomeu (90-168 d.C.),
pensador grego, astrônomo e geômetra que buscou geometrizar o movimento dos corpos celestes
em torno da Terra, a partir da premissa geocêntrica (a Terra no centro do universo) desenvolvida por
Aristóteles na Antiguidade.
Além da tese geocêntrica, a Escolástica reafirmava outras concepções aristotélicas, entre elas a
distinção da composição da Terra (água, terra, fogo e ar) e dos corpos celestes (Sol, Lua e demais
estrelas) constituídos por éter. A Terra era tomada como imóvel, estática e o universo gira a sua volta,
movida pelo Primeiro Motor do Universo, no caso, Deus. Apenas as sagradas escrituras eram vistas
como instrumentos suficientes para se compreender a astronomia e o movimento dos corpos
celestes, não sendo relacionada à física ou matemática. Dessa forma, os corpos celestes eram
movimentados segundo a vontade divina, cabendo recorrer às sagradas escrituras, segundo
Aristóteles e Ptolomeu, para fornecer qualquer justificativa a respeito. Empregava-se método
silogístico (ou silogismo), de caráter qualitativo e não quantitativo (ou seja, não matematiza a
natureza).
Veremos no próximo tema que, a partir dos séculos XVI e XVII, com ascensão da ciência
moderna, os paradigmas aristotélicos e escolásticos serão criticados pela nova ciência.
TEMA 3 – A CIÊNCIA MODERNA
A partir de agora vamos compreender as rupturas causadas pela Ciência Moderna em relação à
tradição aristotélica e escolástica. Pensadores como Copérnico (1473-1543), Galileu (1564-1642),
Francis Bacon (1561-1626), Descartes (1596 – 1650), Newton (1643-1727), entre outros produziram
novas concepções científicas que deram origem a novos métodos e descobertas científicas.
3.1 A REVOLUÇÃO COPERNICANA
A obra astronômica de Nicolau Copérnico, As Revoluções dos orbes celestes (1984), pode ser
considerada o marco inicial da ciência moderna. Publicada em 1543, pouco antes da morte de
Copérnico, as ideias da referida obra demonstram o movimento da Terra em torno do Sol (tese
heliocêntrica), apresentadas pelo pensador como meras hipóteses matemáticas. Afirmar esta
descoberta como hipótese revelava o temor e cautela da exposição de novas ideias diante da
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Inquisição da Igreja, que encontrava no modelo científico aristotélico-ptolomaico o sistema de
interpretação do universo condizente com as sagradas escrituras. Copérnico, portanto, põe em xeque
o sistema cosmológico tradicional, dando origem a novos fundamentos científicos. Por ter publicado
a obra na semana de sua morte, Copérnico nunca soube dos impactos de seu pensamento para a
cultura ocidental.
Com a Revolução Copernicana, ocorre a dessacralização da Terra e, principalmente, do céu, pois
este passa a ser objeto de estudo passível de matematização. Copérnico foi o primeiro a combinar
astronomia, matemática e física e tornou possível a compreensão do movimento da Terra em torno
Sol. A obra de Copérnico representa uma profunda transformação científica, e será o ponto de
partida, o alicerce primordial e difusor, principalmente no século XVII, do que veio a ser a chamada
ciência moderna. Seu pensamento será o aporte teórico no desenvolvimento das teorias de Galileu,
Kepler, Descartes, Pascal, Newton, entre tantos outros.
Na nova ciência, não há lugar para explicações que recorram à causalidade divina, mas, pelo
contrário, a ciência é secularizada, laicizada, o que significa abandonar a dimensão religiosa que
permeava todo o conhecimento medieval. Resulta disso um problema moral e ético, pois a
humanidade observa que é uma pequena parte da criação divina, e mais do que isto, as sagradas
escrituras da Bíblia, fundamentadas no pensamento aristotélico com a Escolástica, não bastam mais
como forma legítima de compreensão da ordem do mundo. De um lado, surge a concepção de que
Deus está muito mais distante dos indivíduos do que se pensava; do outro, a humanidade fortalece-
se enquanto ator do conhecimento e, por isto, exime-se como mero objeto da criação.
Em homenagem a Copérnico, até hoje são nomeadas com o termo “Revolução Copernicana”
todas as grandes descobertas científicas relevantes, ainda que não tenham relação com o movimento
da Terra em torno do Sol. Assim, por exemplo, quando Darwin (1809-1882) publicou sua Origem das
Espécies, em 1859, sua tese foi afirmada pela comunidade científica como uma “Revolução
Copernicana”. Freud (1956-1939), quando publicou o livro A interpretação dos sonhos, em 1900, e deu
ênfase ao papel do inconsciente sobre a vida mental, sua obra também foi classificada como uma
“Revolução Copernicana”. O mesmo correu com Einstein quando elaborou, em 1905, sua teoria da
relatividade ou recentemente com o experimento do acelerador de partículas que identificou a
chamada “partícula Deus”.
3.2 GALILEU GALILEI E A CIÊNCIA EXPERIMENTAL
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Galileu Galilei ao tomar conhecimento dos estudos de Copérnico, "converteu-se" por volta de
1610 ao pensamento de seu antecessor. A partir da leitura de Copérnico, Galileu produziu duas
importantes obras, Acerca da opinião copernicana, publicada em 1615, e Diálogo sobre os dois
sistemas de mundo ptolomaico e copernicano, publicada em 1632, levando Galileu a abandonar
definitivamente o modelo aristotélico-ptolomaico. Auxiliado com a utilização da recente descoberta
do telescópio, Galileu aperfeiçoa-o, e irá progressivamente desenvolver sua mecânica, tendo como
aporte teórico a já condenada obra de Copérnico, censurada pela Inquisição.
Galileu também é considerado o pai da ciência experimental. Trata-se da noção de que para
alcançar as leis naturais e encontrar as verdades presentes na natureza seria necessário manipular
artificialmente os fenômenos naturais,o que consolidou a partir de então pesquisas feitas em
“laboratórios” ou ao menos a possibilidade de realizar experimentos científicos. A utilização de
telescópios por Galileu permitiu-o descobrir as quatro luas de Júpiter em 1610, onde viu que giram
em torno deste planeta. Galileu observa que o mesmo se daria com o movimento da Lua em relação
à Terra.
Pode-se dizer que Galileu "radicaliza" os argumentos de Copérnico, tornando-os mais realistas,
pois abandona a questão de os raciocínios matemáticos, sobre o movimento da Terra, apresentarem-
se apenas como meras hipóteses, portanto, não condizentes com a realidade. Na verdade, afirma ser
"loucura" negar um procedimento matemático como irreal. Galileu impôs uma universalidade da
razão natural (entendida como sentidos, discurso e intelecto), em que é o sujeito que determina o
objeto de análise, combinando observação, observação e matematização. É importante que nem
Copérnico ou Galileu utilizavam fórmulas matemáticas, o que veio a ser desenvolvido apenas no
século XVII com o pensador francês Descartes, conforme veremos no próximo item.
Galileu promove uma grande ruptura entre ciência e teologia, a qual representa um marco da
modernidade. Põe-se em questão a compatibilidade entre o pensamento desenvolvido a parir da
"revolução copernicana" e as "sagradas escrituras". Galileu sofreu dois processos de Inquisição, sendo
perdoado no primeiro. Com o segundo processo, esteve em prisão domiciliar até sua morte.
3.3 A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO E A CIÊNCIA DE NEWTON
O filósofo francês Descartes será o responsável por conduzir a matemática a um patamar mais
elevado para a Ciência Moderna. Foi o responsável por desenvolver equações, polinômios e
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introduzir as incógnitas matemáticas. A partir de sua ciência foi possível traduzir a natureza por meio
de equações. Duas de suas obras representam a inauguração da matemática moderna: Regras para a
orientação do espírito (2012), inacabada e publicada postumamente em 1684, e Discurso do método
(1996), publicada em 1637.
O método de Descartes foi proceder de forma matemática, ou seja, de modo quantitativo. É o
que define como Mathesis Universalis (matemática universal). Trata-se do projeto de matematização
do mundo. Verifica-se que o método cartesiano tem como fontes a geometria e a aritmética. Dessa
forma, utilizando o método rigoroso do raciocínio matemático, ele esperava construir, sobre bases
firmes e sólidas, um edifício filosófico que ficasse imune às controvérsias presentes no método
silogístico de Aristóteles, fundamentado em apenas observações qualitativas.
O método cartesiano matemático está fundamentado em quatro princípios:
1. Verificar – investigar e problematizar se o objeto a ser estudado realmente pode ou não ser
conhecido, por exemplo, um fenômeno natural, e não especulações abstratas;
2. Analisar – dividir o objeto a ser conhecido em quantas partes forem necessárias (por este
motivo, dividimos uma equação em incógnitas, parênteses, chaves e colchetes);
3. Sintetizar – solucionar os problemas iniciando das partes mais simples às mais complexas; e
4. Enumerar (controle) - trata-se da elaboração de rigorosas revisões, a fim de observar se o
valor das incógnitas é compatível com a equação.
Descartes foi o primeiro pensador a empregar os termos máquinas ou autômatos em textos
filosóficos e científicos. Concebia que as máquinas seriam o resultado da tradução operada pela
matemática dos fenômenos da natureza. Além disso, Descartes pressupunha que com seu método a
humanidade passaria a ter o poder de dominar a natureza por meio de suas ações. Não está mais sob
o jugo da natureza, mas, ao contrário, encontra-se na condição de seu senhor. De escravo da
natureza, com o pensamento cartesiano a humanidade passa, agora, a ser seu mestre e possuidor.
Descartes afirma que a ciência e as máquinas poderiam trazer bem-estar e conforto.
Na Inglaterra do século XVI, Francis Bacon foi o responsável por introduzir o método
experimental e criará corrente filosófica denominado empirismo, ou seja, noção de que todos os
conhecimentos são obtidos por meio de experiências sensoriais e científicas, tema este que será
estudado no próximo capítulo. Bacon escreveu duas importantes obras. A primeira delas, o Novum
Organum, publicada em 1620, em que critica o silogismo aristotélico e propõe como método de
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pesquisa a observação empírica da natureza; o processamento racional dos dados obtidos; a
elaboração de hipóteses fundadas nesses dados; e a verificação das hipóteses mediante experimento
replicável. Outro livro importante foi Nova Atlântida, publicado em 1627, em que afirma que saber é
poder e defende que as tecnologias poderiam conduzir ao domínio humano sobre a natureza.
Estas perspectivas influenciaram a física de Newton, o qual desenvolveu a descoberta de leis
naturais baseadas nos princípios de ação e reação, além do aprimoramento da matemática para o
estudo do universo. Newton, na sua obra Princípia, publicada no ano de 1687, afirmava ter se
apoiado nas costas de gigantes, ou seja, de seus antecessores que constituíram a Ciência Moderna.
Newton foi condecorado pela coroa inglesa e foi o primeiro grande cientista a ser admirado e
protegido contra a perseguição religiosa. Em sua lápide presente na Abadia de Westminster, em
Londres, consta a seguinte frase em latim: “A natureza e as leis da natureza estavam imersas em
trevas; Deus disse ‘Haja Newton’ e tudo se iluminou”.
A ciência moderna foi determinante para a consolidação futura da Revolução Industrial a partir
do século XVIII e também influenciou o movimento Iluminista na França.
TEMA 4 – O POSITIVISMO DE COMTE
No século XIX o positivismo de Comte constitui-se como grande síntese dos métodos e avanços
científicos e industriais europeus. Vamos estudar no que consiste esta doutrina e quais as polêmicas
causadas por ela, sobretudo por ter sido considerada uma teoria designada como eurocêntrica.
4.1 A CIÊNCIA, SEGUNDO COMTE
Augusto Comte (1798-1857) é fundador do “positivismo” e inventor do termo “sociologia”.
Afirma a necessidade de uma nova ciência que fosse responsável por estudar a morfologia social, ou
seja, o processo de transformação das sociedades. Duas de suas obras se destacam: Curso de filosofia
positiva, publicada entre 1830-1842, e Catecismo positivista, que foi publicada em 1852.
Entre as características do positivismo destacam-se a confiança na razão, ciência e
industrialização; a tendência experimental de sua ciência; a defesa do evolucionismo social e do
progresso da humanidade; além da rejeição do pensamento mítico. Comte foi influenciado pela
filosofia de Descartes (a ideia de que a razão e a ciência dominam a natureza e produzem bem-estar)
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e pela ciência experimental. Nessa direção, as revoluções científica e Francesa contribuíram para que
a humanidade alcançasse o mais elevado patamar de desenvolvimento da humanidade. Comte
relaciona estes eventos à ideia de ordem e progresso. Segundo Aranha (2009, p. 32),
ao criticar o mito e exaltar a ciência, contraditoriamente o positivismo fez nascer o mito do
cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como única forma de saber possível. Desse modo, o
positivismo mostra-se reducionista, já que, bem sabemos, a ciência não é a única interpretação
válida do real.
As concepções de Comte estão baseadas na observação e exatidão, de modo que abandona as
teorias e especulações da teologia e metafísica, ou filosofias de teor mais abstrato. As ciências que
são positivistas são a matemática, biologia, astronomia, física, química e a recém-criada sociologia,
que se baseia em dados estatísticos. Os positivistas afirmam que a ciência é cumulativa (progresso) e
transcultural (não interessa em qual cultura surgiu, servepara toda a humanidade). O positivismo
influenciou as correntes que defendiam o darwinismo social no século XIX. A frase na bandeira
brasileira é baseada no lema de Comte sobre o positivismo. Comte afirmava o amor como princípio e
ordem como base; progresso como objetivo.
4.2 A LEI DOS TRÊS ESTADOS
Para Comte, a humanidade passa por três estágios de evolução: estado teológico, estado
metafísico e estado positivo, constituindo o que denominou com a lei dos três estados.
No estado teológico ou fictício, a explicação dos fatos é resultado de leituras religiosas
animistas da natureza, ou seja, as forças naturais são vistas como divinas. Trata-se do estágio de
sociedades vistas pelos europeus como atrasadas e primitivas. Este estado evolui do fetichismo ao
politeísmo e, em seguida, ao monoteísmo.
No estado metafísico, a humanidade projeta sua própria psicologia e racionalidade sobre a
natureza, dando origem a explicações teológicas e filosóficas e filosóficas mais abstratas, como as
platônicas e medievais sobre a origem de Deus e do universo.
O estado positivo descreve fatos com base em métodos científicos modernos, como a
matematização e experimentação científica. Abandona-se as explicações subjetivas filosóficas. O
estado positivo ou científico se baseia nas leis da natureza, que permitem obter previsibilidade sobre
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a natureza e seus fenômenos. Este terceiro estágio está relacionado ao processo de industrialização,
fortalecimento da ciência moderna e dos modelos políticos republicanos.
Para Comte, a lei dos três estados é tanto reflexo da história da humanidade quanto do
desenvolvimento de cada indivíduo. A criança fornece explicações fictícias ao mundo; o jovem é
metafísico e tem especulações mais filosoficamente abstratas; o adulto possui uma concepção
positivista e científica da realidade.
Comte propôs uma nova religião à humanidade em seu Catecismo Positivista. A ideia era
substituir os santos e os templos religiosos cristãos por filósofos, cientistas e templos da
racionalidade. O positivismo foi empregado como álibi pelos europeus durante o século XIX e XX
para exercer o Imperialismo e Neocolonialismo na Ásia, África e Américas do Sul e Central. A ideia era
levar ordem e progresso às sociedades ditas primitivas, ou seja, que se encontravam no suposto
estado teológico ou fictício. O positivismo é visto hoje como uma teoria eurocêntrica que flerta com
o racismo.
TEMA 5 – DINÂMICA DO DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS
O Tema 5 é dedicado ao estudo das dinâmicas do desenvolvimento da ciência. Trata-se de
investigar diferentes abordagens a respeito do que exatamente condiciona uma teoria a se tornar
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hegemônica ou mesmo destronar teses científicas que passam a ser consideradas obsoletas. Quando
tratamos de uma teoria sobre a ciência, utilizamos o termo epistemologia (do grego episteme,
"ciência", e logos, "teoria").
Karl Popper (1902-1994), na obra A lógica da pesquisa científica, publicada em 1934, desenvolve
premissas positivistas e evolucionistas, pois toma a ciência como sendo cumulativa, ou seja, progride
ou se aprimora conduzindo a conhecimentos superiores em relação aos anteriores desenvolvidos. A
ciência se situa a partir da imaginação e na crítica como principais aspectos da racionalidade humana.
Segundo Popper, a ciência é uma atividade que se caracteriza pela ousadia imaginativa das suas
hipóteses. Estas formulações estão fundamentadas em experiências científicas, que podem abolir,
criticar e falsear doutrinas científicas vigentes.
Popper parte do pressuposto de que não podemos atingir a verdade de uma teoria, ou seja não
podemos abarcar todos os casos a que a ciência se propõe. Dessa forma, o filósofo estabelece como
método mais correto para as ciências o método da refutação e o critério de falseabilidade. Este critério
está relacionado à necessidade de submeter uma teoria à prova, buscando demonstrar ou provar sua
falsidade ou refutá-la amparada com base em métodos científicos, a ponto de descartar sua validade.
Este método de pesquisa científica consiste em formular hipóteses e, depois, por meio de rigorosos
exames e avaliações experimentais, procurar refutá-las. Se determinadas teorias permitem ser
testadas, criticadas e resistirem ao princípio da falseabilidade, então elas poderão ser consideradas
teorias científicas aceitas.
Thomas Kuhn (1914-1996), no livro A estrutura das Revoluções Científicas, publicado em 1962,
apresentará uma abordagem diferente a respeito do desenvolvimento das ciências. Kuhn procurou
demonstrar de que forma ocorrem as transições e rupturas do pensamento científico predominante.
Avalia a existência de fases denominadas "normais" da ciência com o estabelecimento de paradigmas,
que contribuem com os demais cientistas para a solução de problemas, promovendo o progresso por
meio de acumulação de descobertas.
  Paradigma  é um modelo ou padrão a seguir.  Etimologicamente, a palavra vem do grego
paradeigma (modelo ou padrão), de modo que corresponde a algo que servirá de exemplo ou
modelo a ser seguido.
No entanto, há “situações de crise”, que ocorrem quando os paradigmas já não são mais
suficientes e não resolvem uma série de questões, dando origem à transição a novos modelos
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científicos que se contrapõem ao predominante. Foi o que ocorreu com a ciência de Aristóteles e a
Escolásticas, que perderam sua hegemonia com ascensão da Ciência Moderna. Isso significa dizer
que toda ciência passa por momentos de apogeu e crise, até se tornar obsoleta.
Para Kuhn, a superação dos paradigmas poderá dificultar a continuidade de certos esforços
científicos realizados para solucionar problemas quando emerge um novo paradigma, estabelecendo
crises nas ciências. Os paradigmas são superados quando há uma ruptura radical capaz de modificar
de modo significativo as condições dominantes e hegemônicas. Cria-se dessa forma um novo
paradigma que provoca disputas com a ciência, antes predominante.
Feyerabend (1924-1994) foi um polêmico estudioso das ciências. No ano de 1975 publicou o
livro Contra o método. É considerado um teórico anarquista porque observa a não existência de
verdade absoluta nas ciências. Opõe-se a Popper, que afirma a ciência como racional e cumulativa, e
igualmente critica Kuhn, que argumentou, conforme vimos, que uma teoria é dotada de paradigma.
Abandonou o empirismo e as correntes positivistas. Feyerabend considera que as abordagens
metodológicas não são instrumentos de descoberta definitivas e defende o pluralismo metodológico.
Afirma que no ponto de vista metodológico tudo vale. Considera que uma teoria se torna dominante
devido ao seu caráter mais persuasivo em relação a outras teorias, isto é, depende de que forma foi
escrita, por quem e quais recursos retóricos e propagandísticos foram utilizados a fim de convencer a
comunidade científica.
NA PRÁTICA
Diferentes campos da ciência como a medicina, a psicologia, a engenharia, a química e física
promovem sucessivos avanços científicos e progressos tecnológicos. Temos como exemplo o avanço
de diversos métodos voltados ao combate a doenças entre outras pestes e pandemias. São
desenvolvidos computadores, máquinas, robôs ou mesmo remédios que permitem fornecer melhor
qualidade de vida e saúde aos indivíduos. Faça uma pesquisa e debata com seus colegas e
professores a respeito de algum avanço científico que tenha contribuído com a humanidade e tenha
modificado a forma como vivemos ou entendemos o mundo.
FINALIZANDO
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Estudamos com o primeiro tema o surgimento da ciência na cultura ocidental por meio do
pensador grego da Antiguidade, Aristóteles. Observamos que seu método silogístico teve
fundamento em observações apenas qualitativas.Porém influenciou a ciência medieval, denominada
Escolástica, conforme vimos no segundo tema. Em seguida, avaliamos a Ciência Moderna e a ruptura
promovida por ela em relação à tradição escolástica-aristotélico com Copérnico, Galileu, Descartes,
Bacon e Newton entre os séculos XVI e XVII. Estudamos também o positivismo de Comte
desenvolvido durante o século XIX como reflexo otimista dos avanços da industrialização e da Ciência
Moderna. Por fim, investigamos compreensões do desenvolvimento das ciências a partir das
abordagens epistemológicas no século XX desenvolvidas por Popper, Kuhn e Feyerabend.
REFERÊNCIAS
ARANHA, M. L. de A. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna. 2009.
ARISTÓTELES. Órganon: categorias, da interpretação, analíticos anteriores, analíticos posteriores,
tópicos, refutações sofísticas. Bauru: Edipro, 2010.
BACON, F. Nova Atlântida. São Paulo: Nova Cultural, 1999a. (Col. Os Pensadores).
BACON, F. Novum Organum ou Verdadeiras interpretações acerca da natureza. São Paulo:
Nova Cultural, 1999.
COMTE, A. Catecismo positivista. Rio de Janeiro: Apostolado Positivista do Brasil, 1934.
COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
COPÉRNICO, N. As revoluções dos orbes celestes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984
CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1994.
DESCARTES, R. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
DARWIN, C. A origem das espécies. Rio de Janeiro: Hemus Editora, 1987.
FREUD. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1987.
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GALILEU. Diálogo sobre los dos Máximos Sistemas del Mundo Ptolemaico y Copernicano.
Madrid: Alianza Editorial, 1994.
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2000.
NEWTON. Principia. São Paulo: Edusp, 2002.
POPPER, K. R. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Ed. Cultrix, 1993.
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FILOSOFIA
AULA 3
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Paulo Niccoli Ramirez
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CONVERSA INICIAL
TEORIAS DO CONHECIMENTO
O objetivo da aula é compreender teorias do conhecimento que despertaram a partir do
pensamento moderno. Quando falamos de teoria do conhecimento, estamos preocupados com a
questão que envolve quais são os elementos e condições necessárias para que existam ideias e
pensamentos em nossa mente. Veremos no primeiro tema dessa aula que o pensador francês do
século XVII, René Descartes e pai da corrente chamada “racionalismo”, afirma que as ideias
verdadeiras têm origem na própria mente e estão conosco desde o nosso nascimento. O chamado
empirismo inglês, que será abordado no Tema 2, teve origem com Bacon ainda no século XVI, mas
obteve seu maior desenvolvimento no século seguinte com Locke e Hume. Esta corrente promoveu
críticas à concepção cartesiana ao considerar que a origem das ideias são as experiências sensíveis ou
corporais, isto é, as sensações formam as ideias.
Estudaremos no Tema 3 como Kant foi o grande responsável na solução da disputa entre
empiristas e racionalistas com a obra Crítica da Razão Pura no final do século XVIII. Além disso, Kant
fez contundente crítica ao pensamento metafísico, impondo limites à razão e consequentemente
afastou da filosofia qualquer possibilidade de especulação sobre a existência de Deus, do Ser ou da
natureza humana.
No Tema 4, abordaremos o modo como o pensador alemão Hegel (1770- 1831) elaborou a
concepção dialética a partir de bases idealistas para conceber sua teoria do conhecimento. No Tema
5, veremos a oposição de Marx (1818-1883) ao idealismo de Hegel com a elaboração do que
designou como materialismo histórico-dialético. Com a oposição entre a dialética idealista de Hegel e
a dialética materialista de Marx, identificaremos que para a primeira das teorias, a origem do
pensamento humano é meramente subjetiva, ou seja, emana de concepções metafísicas. Para o
materialismo de Marx, a origem de nossas ideias e comportamentos são as relações econômicas ou
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materiais, portanto, a forma como a economia e o trabalho estão organizados a partir das relações
sociais concretas, jamais a partir de concepções meramente ideais.
TEMA 1 – O RACIONALISMO DE DESCARTES
Créditos: Pict Rider/Adobe Stock.
Legenda: Descartes (1596-1650) é o mais importante filósofo francês do século XVII. É
considerado o fundador do racionalismo na modernidade.
Veremos no primeiro tema a relevância de Descartes (1596–1650) para a construção de novos
alicerces no que diz respeito à teoria do conhecimento. Isto porque na Antiguidade e Idade Média,
tanto os pensadores gregos quanto os clérigos da Igreja Católica, indicavam que a origem do
pensamento, das ideias e da ordem do mundo derivavam necessariamente de Deus ou de alguma
entidade divina, que era o caso de Platão, que tomava o Mundo Inteligível como dotado de todas as
verdades. Deus era tomado como criador do mundo e da natureza ou Primeiro Motor do Universo,
conforme indicava Aristóteles, e era reafirmado por muitos teólogos medievais. Nessa estrutura de
pensamento, a humanidade era tomada como passiva em relação a Deus ou à própria natureza. A
novidade trazida por Descartes no século XVII foi a afirmação de que a origem das ideias e dos
pensamentos não seria Deus, senão o próprio indivíduo, fundando aquilo que o pesquisador Franklin
Leopoldo Silva (2001) designa como a “metafísica da modernidade”.
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Descartes estabelece uma nova teoria do conhecimento à medida que afirma a mente ou a razão
humana como protagonista principal do conhecimento, sendo Deus e as leis da natureza secundárias
diante das verdades e saberes produzidos de forma inata pela consciência. Vamos investigar de forma
mais detalhada estes elementos a partir de agora.
1.1 O QUE É O RACIONALISMO?
Antes de compreender o significado do que vem a ser o “racionalismo”, é preciso distinguir esse
termo de outras duas palavras que se parecem, mas possuem significados diferentes. Estamos nos
referindo aos termos “racionalidade” e “racionalização”. Embora os termos se assemelhem, os
sentidos são bem diferentes. O “racionalismo” é uma teoria filosófica criada no século XVII por René
Descartes, cuja principal característica é afirmação da existência de ideias inatas, ou seja, ideias com
as quais já nascemos e que não dependem do aparelho sensorial ou dos sentidos (paladar, tato,
olfato, audição ou visão) para se constituírem em nossa mente. O racionalismo, portanto, estabelece
que a razão humana é a origem de todas as verdades existentes na própria mente, não derivando de
Deus ou do corpo. O racionalismo, por isso, é também conhecido como uma teoria “inatista”.
Já o termo “racionalidade” é genérico e designa qualquer emprego ou modalidade de uso da
razão. Dessa forma, o racionalismo de Descartes seria uma variação do uso da racionalidade, tal
como o pensamento de Platão ou Aristóteles, que empregam cada um ao seu modo da racionalidade
para a compreensão do mundo e da própria subjetividade humana. Mesmo a teologia medieval,
responsável por promover a argumentação racional sobre a existência de Deus seria também uma
variação do uso da “racionalidade”. Por fim, o termo “racionalização” passou a ser empregado com
maior vigor no século XIX na cultura ocidental. Seu significado está relacionado a um processo de
modernização ou aperfeiçoamento, seja do Estado ou mesmo de instituições privadas. Nesse sentido,
utilizar a palavra racionalização expressa um movimento de melhoria que implica no
desenvolvimento de uma determinada organização ou sistema de mundo.
1.2

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