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0 0 - A Mitologia

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1 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
1 O QUE É MITOLOGIA ....................................................................... 4 
1.1 Significado filosófico de mitologia ................................................ 5 
1.2 Mitologia grega ............................................................................ 5 
1.3 Mitologia romana ......................................................................... 6 
1.4 Mitologia egípcia ......................................................................... 7 
1.5 Mitologia nórdica ......................................................................... 8 
1.6 Mitologia celta ............................................................................. 9 
2 DEUSES DA MITOLOGIA GREGA ................................................. 10 
2.1 Os Reis: Zeus, Hades e Poseidon ............................................ 11 
2.2 Zeus .......................................................................................... 11 
2.3 Poseidon ................................................................................... 12 
2.4 Hades ........................................................................................ 12 
2.5 Os Deuses do Olimpo ............................................................... 13 
2.6 Práticas religiosas ..................................................................... 14 
2.7 Presença nas Artes ................................................................... 15 
2.8 O “fim” da mitologia ................................................................... 15 
3 O MITO, A RELIGIÃO E SUA RELAÇÃO COM A PSICANÁLISE ... 16 
3.1 O mito em Freud: os complexos ................................................ 16 
3.2 O mito em Lévi-Strauss: estrutura fundadora da cura ............... 17 
3.3 Os mitos religiosos e a castração como punição ...................... 18 
3.4 Lacan e o Mito Individual do Neurótico: Um Artifício ................. 21 
3.5 Miller e o Mito da Libido: Uma Variante do Mito do Pai ............. 22 
4 A TRAGÉDIA DE ÉDIPO E A INVENÇÃO DA PSICANÁLISE ........ 25 
4.1 Da tragédia cotidiana à miséria banal: como a metáfora de Édipo Rei, 
uma das mais famosas peças do antigo teatro grego, pode nos ajudar a melhor 
compreender a psicanálise. .......................................................................... 25 
 
3 
4.2 O Édipo e a invenção da psicanálise ........................................ 26 
4.3 A tragédia antiga e a psicanálise ............................................... 28 
5 O MITO, A PSICANÁLISE E A BOLA .............................................. 30 
6 MITOLOGIA & PSICOLOGIA: A IMPORTÂNCIA DOS MITOS ....... 35 
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 O QUE É MITOLOGIA 
 
Fonte: pt.quizur.com 
Mitologia é a história de personagens sobrenaturais, cercados de simbologia e 
venerados sob a forma de deuses, semideuses e heróis, que regiam as forças da 
natureza, comandavam raios, ventos, rios, céus e terras, sol e lua. É o conjunto de 
fábulas que explicam a origem dos mitos, das divindades mitológicas, que tinham nas 
mãos o destino dos homens e regiam o mundo. 
Mito, do grego, significa narrar, contar. No sentido figurado significa coisa 
inacreditável. Mito significa também personagem divinizado. Logia, do grego lógos, 
significa estudo, palavra, ciência. 
Mitologia é o estudo das lendas, mitos, narrativas e rituais, com que os povos 
antigos reverenciavam os deuses e heróis. 
Mitologia é a ciência que procura a explicação dos mitos, que têm um caráter 
social desde sua origem, e só são compreensíveis dentro do contexto geral da cultura 
em que foram criados. 
 
5 
 Significado filosófico de mitologia 
As culturas antigas, na tentativa de enfrentar os problemas relacionados à 
existência da vida e de entender o mundo, encontraram um meio de se defender dos 
perigos reais e imaginários, criando seus deuses, semideuses e heróis, envolvidos em 
histórias de magia e rituais fabulosos, diante das forças misteriosas que acreditavam 
tudo governava. 
Os atos mágicos significavam um esforço do homem em entender e resolver 
seus problemas, que eram enormes diante do seu desconhecimento do mundo. 
 Mitologia grega 
Mitologia grega é a história dos inúmeros deuses imortais, criaturas semidivinas 
e musas, criadas na Grécia antiga, e que atravessaram os séculos. A mitologia grega 
surgiu como tentativa para as explicações dos fenômenos naturais, ou como garantia 
de vitória nas guerras, de boa colheita, de sorte no amor etc. As divindades gregas 
eram dispostas numa hierarquia e seus deuses eram muito semelhantes ao homem. 
As atitudes de ciúme, inveja, despeito e amor, eram comuns, pois os deuses 
do Olimpo comportavam-se como criaturas humanas. Só que eram dotados de 
maiores poderes, de mais beleza e perfeição e imunes ao tempo. 
Zeus era o senhor dos homens e supremo mandatário dos deuses que 
habitavam o monte Olimpo. 
Para obter as boas graças, os gregos homenageavam as poderosas criaturas 
com ritos, festas e oferendas. 
Cada entidade representava forças da natureza ou sentimentos humanos: 
Afrodite representava (a beleza e o amor); Atena (a sabedoria); Artêmis (a lua); 
Dionísio (a festa, o vinho e o prazer); Deméter (a terra fértil); Febo (o sol); Hermes (o 
vento); Posseidon (os mares) etc. 
Os principais heróis gregos, quase deuses, eram capazes de vencer monstros, 
combater inimigos e realizar feitos impossíveis aos mortais. Entre eles estão: Perseu 
(matou a Medusa, terrível criatura com cabeleira formada por serpentes, cujos olhos 
transformavam em estátuas de pedra todos aqueles que a encarassem); Teseu 
(participou da viagem dos argonautas e matou o Minotauro); Héracles (Hércules, para 
os romanos), (filho de Zeus e Alcmena, tinha como principal qualidade a força física); 
 
6 
Agamenon (foi o comandante da Guerra de Troia); Aquiles (participou do cerco a 
cidade de Troia); Édipo (decifrou o enígma da esfinge); Atlanta (heroína que participou 
da caça ao javali de Caridon). 
 Mitologia romana 
 
Fonte: www.recantodasletras.com.br 
A mitologia romana é a história de vários deuses e heróis, que foram admirados 
durante o Império Romano, oriundos de divindades etruscas, celtas, egípcias, itálicas 
e principalmente gregas, quando a Grécia passou a fazer parte do Império Romano. 
Nos primórdios do Império, os deuses existiam apenas para servir ao homem 
e como o povo era normalmente camponês, os romanos cultuavam os patronos dos 
rebanhos e dos campos. Ofereciam-lhes animais, vinho e incenso antes das colheitas 
e os deuses eram invocadas para proteger os trabalhos do campo. 
Entre os deuses conquistados por Roma, os gregos foram os mais importantes, 
e ao serem incorporados na Assembleia Divina de Roma, fizeram os romanos 
reformularem sua concepção das forças sobrenaturais. Eles perderam seu aspecto 
utilitário e assumiram características humanas. Alguns deuses desapareceram e 
outros mudaram de nome e receberam várias atribuições. Assim, Júpiter (era o deus 
supremo, o deus da cidade, do raio e do trovão); Vênus (deusa da beleza e do amor); 
 
7 
Minerva (a sabedoria); Diana (deusa da lua e da caça); Baco (deus do vinho e dos 
bacanais); Ceres (a terra fértil); Apolo (o sol); Mercúrio (o vento); Netuno (os mares) 
etc. 
Hércules, que na mitologia grega era chamado de Héracles, passou a ter maior 
importância no Império Romano. Famoso por sua força, enfrentou difíceis tarefas para 
matar monstros e animais ferozes. 
 Mitologia egípcia 
A mitologia egípcia é o conjunto de fábulas que reuniu uma considerável 
variedade de deuses, imersos na força da religião, que servia para justificar 
teoricamente a organização geral da sociedade, que vivia em função dos deuses, 
seguindo os princípios por eles estabelecidos. 
Centenas de deuses protegiam a agricultura,outros a linguagem, o ensino e a 
literatura. Cada cidade ou distrito tinha seus próprios deuses. Osíris era o deus da 
morte, pois os egípcios acreditavam que o homem ao morrer, passavam a viver de 
outro modo, no mundo dos mortos, daí a prática de se mumificar os mais ilustres 
mortos. Amon, ou Amon-Ra, era o deus do sol, elevado a deus nacional na XI dinastia. 
Foi a maior divindade egípcia. Isis era a deusa do amor e da magia, era filha de Geb, 
deus da terra e de Nut deusa do firmamento. 
Por motivos políticos, para que um deus simbolizasse um monarca, 
aproximavam-se do monoteísmo. Na verdade, dizia-se apenas que uns poucos 
deuses eram mais importantes. 
O faraó Amemofis IV, abandonou o politeísmo e impôs o culto excessivo ao 
deus Atom, o próprio Sol, e nomeou-se o representante de Aton na terra. No reinado 
de Ptolomeu, Serápis era o deus oficial, que resultou da fusão dos deuses Osíris e 
Ápis. 
 
8 
 Mitologia nórdica 
 
Fonte: www.todamateria.com.br 
A mitologia nórdica teve sua origem através das sagas, contos que louvavam 
os heróis. Surgiram por volta do século X, na Islândia, onde as principais famílias 
islandesas, desejosas de imortalidade, encarregavam os sgnamen, homens de 
extraordinária memória e talento narrativo, de contar os feitos de suas origens. Os reis 
noruegueses adotaram o mesmo feito. A essas histórias acresciam-se elementos 
fantásticos e míticos, e os heróis misturavam-se com os deuses. 
Os povos nórdicos eram os habitantes dos países hoje conhecidos como 
Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia. Para esses povos, o centro do mundo era 
Midgard, o lar dos homens. 
A casa dos deuses era Asgard, e em torno das duas moradas estava o mar, a 
terra de gigantes e a grande serpente. Odin, governava os deuses e os homens e 
conhecia todo o passado, presente e futuro. Seu filho Thor comandava o trovão, que 
era criado a golpes de martelo. Loki, deus do fogo, era o conselheiro e inimigo dos 
trapaceiros. 
Em Asgard ficava o Valhala, paraíso, onde as valquírias, mulheres guerreiras, 
levavam os heróis mortos em combate. Ali viveriam eternamente jovens, em lutas 
caçadas e banquetes, à espera da ressurreição do mundo. Teriam que enfrentar os 
gigantes, os monstros, a serpente e o filho de Loki. Os heróis seriam vencidos e a 
 
9 
terra ficaria toda escura e fria, até a vida recomeçar. Quem não morresse em combate, 
iria para o reino de Hell, eternamente gelado e em trevas. 
 Mitologia celta 
A mitologia celta é o resultado da mistura de várias civilizações. Os celtas eram 
povos bárbaros que se espalharam por quase toda a Europa e foram raiz de muitas 
culturas. Os celtas eram formados por diversas tribos rivais, lideradas por um chefe 
guerreiro e, cada tribo cultuava suas diferentes divindades. 
Os celtas não chegaram a constituir um império com unidade política, mas a 
unidade cultural era assegurada pelos sacerdotes, chamados druidas, que cuidavam 
da manutenção das normas. Eram também responsáveis pela prática das magias e 
rituais religiosos. Para adorar seus deuses, os celtas, inicialmente construíam seus 
altares ao ar livre, em meio a bosques, onde realizavam seus rituais. 
A mitologia celta está dividida em três grupos: a mitologia irlandesa, a britânica 
e a continental. Entre os principais deuses cultuados pelos celtas estão: Sucellus, o 
rei dos deuses, que representava a fertilidade; Dagda, deus da magia e da sabedoria; 
Taranis, deus do trovão que surgia no céu em uma carruagem; Lugh, deus do sol e 
da luz; Tailtiu e Macha, deusas da natureza; Cernunnos, deus dos animais, com olhos 
e chifres de cervo, podendo tomar a forma de vários animais; Morrigan, deusa da 
guerra; Dea Matrona, era a deusa mãe, representada por três mulheres; Epona, deusa 
dos cavalos. Cuchulain, era filho de Lugh, o herói guerreiro que matava seus inimigos 
com uma lança cheia de espinhos.1 
 
1 Texto extraído do link: https://www.significados.com.br/mitologia/ 
 
10 
 DEUSES DA MITOLOGIA GREGA 
 
Fonte: mitologiagrega.net.br 
Os deuses da mitologia grega são as divindades da religião praticada na Grécia 
Antiga. Sendo uma religião politeísta, os gregos acreditavam na existência de diversos 
deuses e deusas. Cada um com poderes de influenciar um diferente aspecto da 
natureza. 
Os principais deuses da mitologia grega são Zeus (Rei dos Deuses), Hera, 
Poseidon, Hades, Apolo, Ártemis, Afrodite, Ares, Dioniso, Hefesto, Atena, Hermes, 
Deméter e Héstia. 
Apesar de serem imortais, os deuses não eram onipotentes, sendo obrigados 
a obedecerem às forças do destino. Eles também apresentam vícios e sentimentos 
humanos, sendo muito comum que andassem entre os mortais e até desenvolvessem 
relacionamentos com eles. 
https://www.hipercultura.com/a-historia-de-zeus/
https://www.hipercultura.com/mitos-deusa-grega-afrodite/
 
11 
 Os Reis: Zeus, Hades e Poseidon 
Antes da Era dos Deuses ter início na Mitologia Grega, houveram duas 
gerações que reinaram no mundo. Primeiro foram as Divindades Primordiais, que 
surgiram no momento da criação. Na sequência foram os seus filhos, os Titãs. 
O Rei dos Titãs era Cronos. Com a esposa Reia teve 6 filhos: Héstia, Deméter, 
Hera, Hades, Poseidon e Zeus. Devido a uma profecia, Cronos tinha medo de ser 
destronado por um de seus filhos e, por isso, engolia-os assim que nasciam. 
Reia conseguiu salvar o filho mais novo Zeus e, quando este cresceu, libertou 
os irmãos da barriga do pai. Assim teve início a guerra entre os Titãs e os 
Deuses. Após 10 anos de luta, os Deuses foram vitoriosos e Zeus se tornou o Rei dos 
Deuses, enquanto Poseidon se tornou o Rei dos Mares e Hades, o Rei do Mundo 
Inferior. 
 Zeus 
Também chamado o Pai dos Deuses, Zeus é a autoridade suprema entre os 
deuses, definia as regras e era quem mantinha a ordem e a justiça no mundo. Zeus 
era casado com Hera, porém era conhecido pelas aventuras amorosas que lhe 
renderam muitos filhos. Entre seus filhos deuses estão os gêmeos Apolo e Ártemis e, 
entre seus filhos semi- deuses está o herói Hércules. 
O deus do raio e do trovão tem ainda a águia, o touro e o carvalho como 
símbolo. Entre os seus poderes está o controle do tempo, alterar a sua aparência 
como de outras pessoas ou de animais e também a própria voz. 
 
12 
 Poseidon 
 
Fonte: mitologiagrega.net.br 
O Deus dos Mares, Poseidon detém poder sobre as águas, suas ondas, 
correntes marítimas, tempestades e terremotos. Cultuado pelos navegantes, o deus é 
conhecido pelo temperamento difícil e vingativo. Casado com Anfitrite, tiveram um filho 
chamado Tritão. 
Poseidon teve outros filhos fora do casamento, mas seus filhos sempre 
desenvolveram o gosto pelo terror e ficaram conhecidos pela crueldade. O deus 
utilizava um tridente como arma e tem ainda como símbolo o golfinho. 
 Hades 
Hades é o deus do Mundo Inferior e dos mortos, o único de seus irmãos que 
não vive no Monte Olimpo. Como é o deus da morte, Hades é infértil e não teve filhos. 
Entretanto, casou com a deusa Perséfone, após raptá-la e levá-la para o submundo. 
Era o deus mais temido pelos humanos, sendo costume durante os rituais fúnebres 
ser posta uma moeda de oferenda na boca do morto para pagamento do barqueiro à 
 
13 
entrada do Mundo Inferior. Hades costuma ser representado junto ao cão de três 
cabeças Cérbero. 
Segundo alguns autores, os três irmãos deuses representam, na verdade, a 
trindade de um deus único. Para René Menard, Hades e Poseidon são apenas 
desdobramentos da personalidade de Zeus. Ele afirma que nas obras de artistas 
antigos, os três são sempre representados com o mesmo rosto, podendo ser 
distinguidos apenas pelos símbolos que carregam: o raio para Zeus, o Tridente para 
Poseidon e o cão Cérbero para Hades. 
 Os Deuses do Olimpo 
Os principais deuses da mitologia grega viviam reunidos no Monte Olimpo em 
um grandioso palácio, onde se alimentavam de néctar e ambrósiae passavam os dias 
a ouvir os cantos das musas. 
Além de Zeus e Poseidon, os outros deuses do Olimpo eram: 
Afrodite – Deusa do Amor, da Beleza e da fecundidade. Casada com Hefesto. 
Apolo - Deus do Sol, da Profecia e símbolo de inspiração artística. Filho de 
Zeus e Leto. 
Ártemis – Deusa da Lua, irmã gêmea de Apolo, deusa da caça, da pureza e 
da virgindade. 
Ares – Deus da Guerra. Filho de Zeus e Hera. 
Atena – Deusa da Sabedoria, da Guerra estratégica e da Justiça. Filha de 
Zeus. 
Deméter – Deusa da Agricultura, irmã de Zeus, Poseidon e Hades. 
Dioniso – Deus do Vinho e das Festas. Filho de Zeus e da mortal Sémele. 
Hefesto – Deus dos Ferreiros, Escultores e da Tecnologia. Filho de Zeus e 
Hera. 
Hermes – o mensageiro dos Deuses, deus do comércio e protetor das viagens. 
Filho de Zeus e da ninfa Maia. 
Hera – Deusa da Maternidade e Protetora das Esposas. Irmã e esposa de 
Zeus. 
Héstia- Deusa do Lar, da Vida Doméstica e da Arquitetura. Irmã de Zeus, 
Poseidon e Hades. 
 
14 
 Práticas religiosas 
 
Fonte: pt.acampamentomeiosangue.wikia.com 
O culto aos deuses teve grande força entre os gregos antigos, tendo sido 
criados templos e nomeadas cidades em sua homenagem, como no caso de Atenas, 
uma reverência à deusa Atena. Apolo e Afrodite foram dos deuses mais cultuados. Os 
dois maiores santuários em nome de Apolo foram erguidos em Delos e em Delfos, 
onde eram praticadas procissões, celebrações musicais e rituais de sacrifício e 
purificação. 
Em homenagem a Afrodite existia um festival chamado Afrodisia que decorria 
durante um mês inteiro em toda a Grécia, sendo bastante intenso em Corinto e Atenas. 
Para cada deus, havia uma forma diferente de culto, sendo possível que uma 
mesma pessoa adorasse mais de uma divindade. Em nome de Poseidon, eram 
afogados cavalos no mar como forma de sacrífico, havia um festival de 12 dias em 
fevereiro em honra a Hades e realizavam-se jogos e festividades de atletismo em 
homenagem a Hermes. 
 
15 
 Presença nas Artes 
A mitologia grega inspirou diferentes artistas. Na Antiguidade, foram esculpidas 
estátuas e escritas inúmeras poesias. Os textos mais influentes foram as epopeias 
líada e Odisseia, escritas por Homero retratando os acontecimentos decorrentes 
da Guerra de Troia. 
Na Ilíada pode-se perceber como os deuses estiveram bastante envolvidos na 
guerra, que teve origem quando os gregos atacaram Troia com o intuito de vingar o 
rapto de Helena, esposa do Rei de Esparta. Helena havia se apaixonado e fugido com 
o príncipe de Troia, Páris. 
Apoiando os gregos estavam Hera, Atena, Poseidon, Hefesto e Tétis; já ao lado 
dos troianos ficaram Apolo, Afrodite, Ártemis, Ares e Leto. 
As personagens e fatos descritos nos mitos gregos também estão retratados 
em vários quadros de artistas famosos, principalmente do período Renascentista, 
como Botticelli, Michelangelo e Leonardo da Vinci. 
 O “fim” da mitologia 
O grego antigo acreditava que a mitologia era parte de sua história e o culto 
aos deuses fazia parte do seu cotidiano. Porém com a evolução da sociedade e dos 
conhecimentos sobre a natureza, os próprios gregos passaram a questionar a 
veracidade dos mitos. Por exemplo, com a criação do calendário, puderam perceber 
que o clima não mudava conforme a vontade dos deuses e, sim, devido às estações 
do ano. Ao se questionarem sobre estes assuntos, os gregos criaram a filosofia, 
surgindo justamente em oposição à crença dos mitos. 
Com a chegada do domínio Romano após a Batalha de Corinto (146 a.C.) em 
que a Grécia foi derrotada, adotou-se uma forma de sincretismo religioso, tendo os 
deuses assumido versões romanas. Zeus passa a ser também Júpiter, Hera a ser 
Juno, Poseidon a ser Netuno e os demais deuses também receberam uma outra 
versão romana. 
Mais tarde em 476 d.C., o Império Romano tem o seu fim e o cristianismo passa 
a ser a religião adotada pelo povo grego. 
Nos dias atuais, apesar de já não ser vista como religião, a Mitologia Grega 
continua a provocar a curiosidade das pessoas. Os deuses gregos e suas histórias 
https://www.hipercultura.com/cavalo-de-troia/
https://www.hipercultura.com/afrodite-guerra-de-troia/
 
16 
inspiram obras literárias, como a série de livros juvenis Percy Jackson, filmes e 
desenhos animados, como Troia, Mulher Maravilha e A Pequena Sereia.2 
 O MITO, A RELIGIÃO E SUA RELAÇÃO COM A PSICANÁLISE 
 
Fonte: www.esdc.com.br 
 O mito em Freud: os complexos 
Freud observa desde o início do tratamento da histeria, que o mito tem um 
papel central na cura, pois como ele mesmo escreve em 1895: “A linguagem serve de 
substituto para o ato, com sua ajuda, um afeto pode ser ab- reagido quase com a 
mesma eficácia”(Freud (1893),1989, p.47). Ab-reação seria “uma descarga emocional 
pela qual um indivíduo se liberta do afeto ligado à recordação de um acontecimento 
traumático, permitindo-lhe assim não mais se tornar ou não mais continuar 
patogênico” (Laplanche et Pontalis, 1971, p.01). Mas o fato é que Freud, partindo de 
suas observações, pôde perceber que os neuróticos construíam inconscientemente 
“romances familiares”, nos quais “uma família inventada ou adotada pelo sujeito é 
adornada de todos os elementos de prestígio fornecidos pela lembrança dos pais 
idealizados na infância” (Roudinesco, et Plon, 1998). Otto Rank, em seu livro “O mito 
do nascimento do herói” nos assinala que quase todas as nações civilizadas 
 
2 Texto extraído do link: https://www.hipercultura.com/deuses-mitologia-grega/ 
 
17 
proeminentes começaram por glorificar a seus heróis e atribuir traços fantásticos a 
seus nascimentos. Aproximou a lenda típica do herói ao mecanismo descrito por 
Freud, mostrando que os relatos míticos podem ser lidos como fantasias em que as 
situações reais 
Se invertem. No romance familiar comum à maioria dos indivíduos, neuróticos 
ou não, é a criança, de fato, quem se livra da família de origem para adotar outra mais 
conforme a seu desejo, ao passo que, no mito, o pai é o que abandona o herói, que é 
então acolhido por uma família adotiva, em geral – salvo algumas exceções – menos 
prestigiosa. (Roudinesco, et Plon, 1998) 
Portanto, Freud com essa ideia, abre caminho para um amplo debate entre 
psicanálise e religião, psicanálise e antropologia, psicanálise e literatura, na medida 
em que “evidenciou uma analogia entre os mitos fundadores, os relatos romanceados 
modernos, os sistemas delirantes ou religiosos e um mecanismo fantasístico de 
natureza subjetiva” (Roudinesco, et Plon, 1998). 
 O mito em Lévi-Strauss: estrutura fundadora da cura 
Lévi-Strauss, aproximando as análises produzidas pelos outros campos do 
saber à antropologia, foi o primeiro antropólogo de língua francesa a ler e comentar a 
obra de Freud. Partindo de uma abordagem estrutural da antropologia, considera as 
teorias antropológicas como mitologias comparáveis aos mitos elaborados pelo 
pensamento selvagem. Dentro desta orientação, estabelece uma analogia entre a 
técnica de cura xamanista e o tratamento analítico. Ele compara em seu texto “A 
eficácia simbólica” (Lévi-Strauss, 1949), a figura do xaman à figura do psicanalista. 
Ele nos diz que no caso da psicanálise, trata-se de um mito que o sujeito deve 
construir a partir de elementos fornecidos pela sua história pessoal, portanto trata-se 
de um “mito individual”. No caso do xamanismo, um mito social seria narrado pelo 
xaman ao paciente, e este iria reviver os acontecimentos de uma forma mítica, através 
da fala do xaman. Neste caso o paciente só escutaria. Ou seja, no xamanismo “o 
feiticeiro fala e provoca a ab-reação, isto é, a liberação dos afetos do enfermo, ao 
passo que na psicanálise esse papel cabe ao médico que escuta, no bojo de uma 
relação na qual é o doente quem fala”. 
 
 
18 
 
Fonte: fredywander.blogspot.com 
Lévi-Strauss mostrou que nas sociedades ocidentais, havia uma tendência a 
construir-seuma “mitologia psicanalítica”, que fizesse as vezes de sistema de 
interpretação coletivo: ‘Assim, vemos despontar um perigo considerável: o de que o 
tratamento, longe de levar à resolução de um distúrbio preciso, sempre respeitando o 
contexto, reduza-se à reorganização do universo do paciente em função das 
interpretações psicanalíticas’. Se a cura, portanto sobrevém através da adesão a um 
mito, agindo este como uma organização estrutural, isto significa que esse sistema é 
dominado por uma eficácia simbólica (Roudinesco, et Plon, 1998). 
Podemos perceber que este autor dá a sua devida relevância à função do mito, 
pois nos diz que o mito tem um papel central na cura e que se trata em ambos os 
exemplos citados de um “ mito fundador da cura”. Lévi-Strauss com isso, faz uma 
aproximação entre a estrutura da psicanálise e a estrutura da “religião”. Portanto, até 
aqui, parece que a psicanálise e a religião têm mitos fundadores em comum, que por 
sua vez são mitos do pai. 
 Os mitos religiosos e a castração como punição 
Fazendo uma analogia do mito cristão da “Torre de Babel” poderemos 
comparar as diferenças entre os mitos religiosos do pai e o mito freudiano do pai – 
Totem e tabu. 
 
19 
Os mitos religiosos cristãos, são metáforas sobre o pai e estão dispostos como 
ensinamentos, como leis de Deus, do “Deus-pai”. É o que poderemos perceber na 
Bíblia, através da leitura do mito da Torre de Babel: 
“Em toda a terra, havia somente uma língua, e empregavam-se as mesmas 
palavras. Emigrando do Oriente, os homens encontraram uma planície na terra de 
Senaar e nela se fixaram. Disseram uns para os outros: “ vamos fazer tijolos e 
cosamo-los ao fogo” Utilizaram o tijolo em vez de pedra, e o betume serviu-lhes de 
argamassa. Depois disseram: “ vamos construir uma cidade e uma torre cuja 
extremidade atinja os céus. Assim nos tornaremos famosos para evitar que nos 
dispersemos por toda a face da terra” O Senhor, porém, desceu, a fim de ver a cidade 
e a torre que os filhos dos homens estavam edificando. E o Senhor disse: “Eles 
constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, 
coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projetos. Vamos, 
pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não se compreendam uns 
aos outros. E o Senhor dispersou-os dali para toda a face da terra, e suspenderam a 
construção da cidade. Por isso, lhe foi dado o nome de Babel, visto ter sido lá que o 
senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra, e foi também ali que o 
Senhor os dispersou por toda a terra. ” (Gn 10-11) (1) 
Neste mito, podemos perceber que a diversidade das línguas é uma forma de 
punição ao homem pela infração à lei divina. Na verdade, podemos supor que foi ali 
também que “Deus”, salvou o homem de seu delírio! E apesar de tudo, o hagiógrafo 
vê esta “diversidade das línguas” como um mal, colocando-lhe na base um pecado. 
De acordo com Isaías Pessotti (1995), na antiguidade clássica, os deuses eram 
sentimentais como os homens, eram deuses caprichosos, pois, se irritavam, se 
zangavam quando os homens queriam se assemelhar a eles, tentando superar seus 
próprios limites. Uma das formas de punição, ou, de demonstração de sua irritação 
com o homem por sua pretensão, era a retirada da razão, do seu entendimento. A 
punição era a loucura. 
Podemos perceber aqui, uma aproximação entre a figura do Deus-pai que os 
mitos religiosos nos trazem e a concepção de divindade da antiguidade clássica. No 
mito de Babel, quando Deus vem à terra e confunde os homens, multiplicando suas 
línguas, este Deus apresenta-se também como um Deus sentimental, que não suporta 
a pretensão dos homens e por isso os castiga. E de acordo com os ensinamentos da 
 
20 
“Bíblia Sagrada” (1986): quem cometer um pecado, será castigado pelo Deus-pai, 
quem infringir a lei de Deus, contidas na bíblia, será condenado. 
 
 
Fonte: pt.wikipedia.org 
Assim, tanto nos mitos religiosos – e aqui chamo de mito às as transmissões 
orais que, no caso da Bíblia, foram registradas por terceiros – quanto no mito 
freudiano, uma interdição é operada pelo pai. Esta proibição funda uma lei, que por 
sua vez, é garantida através de uma ameaça ou castigo. Entretanto, será que 
poderíamos pensar, na psicanálise, que o que operaria a castração seria uma ameaça 
de punição ou um castigo? Parece que não, e que é isso o que Lacan vai tentar nos 
transmitir, ou seja, como é veiculada a castração através do registro simbólico, isto é, 
da palavra. 
O problema com relação a isso nos mitos religiosos é que eles transmitem a 
castração como uma forma de punição. Ora, punir resolve o problema da culpa, mas 
não resolve o problema do gozo que também está implícito nos pecados. Os pecados, 
são marcados por um excesso, um exagero do investimento ou desinvestimento 
libidinal em determinados “objetos”. É o que podemos perceber através dos sete 
pecados capitais: Inveja, Ira, Gula, Luxúria, Soberba, Avareza e Preguiça. Todos eles 
são marcas do real da pulsão, do gozo, poderíamos dizer. Ainda com relação aos 
mitos freudianos e religiosos, percebemos que neles está implícito que a castração é 
operada pelo pai através do recurso à punição. E que esse pai em ambos os casos é 
assassinado e a princípio sua mensagem é rejeitada. Esta figura do pai nos mitos é 
 
21 
uma figura que goza de privilégios, é um “pai gozador”, portanto gera ódio, inveja e 
discordâncias entre os filhos que desejam ocupar esse mesmo lugar. É só depois que 
este pai está morto, que sua lei é resgatada e transmitida por algum sucessor ou filho. 
 Lacan e o Mito Individual do Neurótico: Um Artifício 
Para Lacan, “existe no seio da experiência analítica algo que é propriamente 
falando um mito”, e que 
O mito é o que confere uma fórmula discursiva a alguma coisa que não pode 
ser transmitida na definição da verdade, pois a definição da verdade não pode apoiar-
se senão sobre si mesma, e que é na medida em que a fala progride que ela a 
constitui. A fala não pode apreender-se a si mesma nem apreender o movimento de 
acesso à verdade como uma verdade objetiva. Ela pode exprimi-la – e isto de uma 
maneira mítica. (Lacan, 1987) 
Lacan, vai tratar o mito como um “artifício” (1998) para se transmitir uma 
verdade, verdade esta, que não pode ser “toda” dita. Assim, ele vai resgatar a 
importância do simbólico concebendo o inconsciente estruturado como linguagem 
através do recurso à linguística e ao estruturalismo, retomando a castração no registro 
do simbólico, através de sua releitura dos textos freudianos. Porém, partindo dos fatos 
clínicos, de sua prática, conseguiu perceber que o que estava em questão na lógica 
da castração era algo que estava mais além do simbólico e do imaginário, ou seja, 
que incluída também o real. É daí que ele vai partir para o mais além do simbólico e 
do imaginário, verificou, portanto, que precisaria ir mais além do mito para articular as 
questões colocadas pelo gozo na dimensão do real na direção da cura. 
 
22 
 Miller e o Mito da Libido: Uma Variante do Mito do Pai 
 
Fonte: circolovegetarianotreia.wordpress.com 
Para Miller “Seria necessário que o psicanalista ao menos não acredite”, nesta 
história de parricídio, ou seja, na morte de gozo, como assim o enuncia o mito 
freudiano, “e coloque esta história romanceada no rang das ficções que o impasse 
sexual esconde para racionalizar o impossível de onde elas provêm ”– a palavra é de 
Lacan, citada por Miller. Assim, poderíamos dizer juntamente com Lacan e Miller que 
os mitos são “histórias romanceadas”, são metáforas que nos facilitariam a 
compreensão do impasse sexual, mas que, por outro lado, não levam em conta as 
questões da libido, ou seja, a questão do menos de gozo gerado aí no registro 
simbólico. É no momento da assunção de seu sexo, pelo sujeito, que ele se depara 
com este problema. Com isso, um enigma se constitui.É o enigma dos destinos da 
pulsão, já que uma catexia que estava investida antes em um determinado objeto, tem 
que se deslocar devido à interdição deste objeto para um Outro. Mas onde vai se 
localizar a catexia, o investimento libidinal, que teve que ser deslocado? Ele se 
desvia? Se desvia-se, para onde vai? Estas são questões que Lacan vai tentar 
resolver. Mas, como o percurso de Lacan é complexo e nos permite muitos equívocos, 
Miller, em elucidando Lacan, vai tentar nos ajudar. 
 
23 
Miller nos diz em seu texto “Petite introduction à l’au delà de l’oedipe”iii que o 
mito pulsional, na psicanálise, conta uma outra história diferente da do mito do pai. Ou 
seja, “que o mito pulsional é como que uma variante do mito paterno, que não nos 
conta somente o roubo – em francês: “vol” – da libido, de como ela fora roubada – em 
francês: “ravie”– transportada, de um corpo que desde então fica condenado ao 
deserto do gozo: o mito pulsional fala das migrações da libido. ” Então existem como 
que duas histórias dentro de uma nos mitos? 
Parece que sim, e que foi aí que Freud deixou questões a serem elaboradas. 
Portanto, foi preciso que Lacan assim localizasse este problema e voltasse a ele, para 
conseguir discernir as coisas, para localizar e poder privilegiar o real que estava em 
jogo na experiência analítica, no campo da sua prática. Neste mesmo texto, Miller nos 
faz a seguinte alegoria para tentar nos contar o problema: 
“Libido, uma vez roubada, transportada, não morrera enfim na prisão onde a 
mantinha o Pai (podemos imaginar essa prisão em Pompéia, sob o emblema do falo). 
Libido não morrera, mas se fizera nuvem, água, riacho, inundação. Eu a derramei, a 
depositei, diz o Pai, no tonel que eu possuo das Danaides, e ela está aí protegida. 
Mas nós sabemos, nós, aquilo que ele não sabia – que aquele não era um tonel que 
poderia contê-la. Não vês tu, Pai, que eu escapo, vazo, escôo, que eu acendo o 
incêndio? Não, Pai não via que libido se ia, e que no deserto mil oásis floresciam. Pai 
acreditou ter sido enterrado junto com libido. E, o sujeito também acreditara – 
acreditara que o pai a possuía, a segurava contendo-a na morte. Durante esse tempo, 
libido se metabolizara alegremente sem que ninguém a reconhecesse. E o sujeito 
estava feliz, e não sabia. 
Esta bela alegoria pode nos mostrar os problemas suscitados pelo mito e qual 
foi a necessidade deles para a psicanálise e porque eles ainda deixam questões a 
serem resolvidas. O recurso ao mito, o recurso ao simbólico e ao imaginário, ao falo, 
não foi suficiente para resolver os tais problemas acima referidos. O falo, enquanto 
significante do desejo – tal como nos articula a fórmula lacaniana da metáfora paterna 
(que por sua vez é uma tentativa de unir os mitos de Édipo, totem e tabu e o Complexo 
de Castração) – o conceito de falo, enquanto objeto, enquanto primeiro representante 
da libido freudiana, não veicula a dimensão do real da libido, portanto, não é suficiente 
para lidar com menos de gozo em jogo na castração. E é a partir daí que Lacan vai 
construir o conceito de “objeto a”, para tentar dar conta desta questão veiculada pela 
libido freudiana, e que o conceito de falo não resolve. Então, falo e o Objeto a, são 
 
24 
duas modalidades da libido, uma freudiana, e outra lacaniana, com a diferença de que 
uma é significante – falo – e a outra modalidade é não- toda significante – objeto. 
Talvez seja por isso que Miller em seu seminário “lógicas de la vida Amorosa” 
(1991), nos diz que “o objeto a é o segredo do mito de Babel”. Poderíamos pensar 
que, se o objeto a veicula o real do gozo implícito na castração, na lei simbólica, 
portanto, se o objeto a se constitui como causa do desejo, ele é também a causa da 
pluralidade das línguas, é o que permite aos homens desejar, mesmo que este desejo 
seja algo tão imaginariamente perfeito, algo que não exista. 
Assim, podemos supor que o menos de gozo introduzido pela multiplicidade 
das línguas é o ponto que marca a castração operada por “Deus” no mito de Babel, 
que Deus seria, aqui, um dos nomes do real no mundo dos homens. É como se o 
“Deus-Pai”, o real, surgisse para mostrar que não existe o Uno, o absoluto neste 
mundo. 
Mas se os mitos são metáforas, quem é Deus? O pai morto? Um mito? Seria 
esse pai imaginário capaz de operar a castração? Os mitos cristãos, buscam fazer 
existir o pai do registro imaginário, sem falta, O pai universal, O nome-do-pai. Porém, 
O pai, aquele que teria o suposto saber absoluto, que seria o pai universal, uno, não 
existe. O nome-do-pai, para Lacan é o “exercício de uma nomeação que permite ao 
sujeito adquirir uma identidade”, é apenas uma função, um lugar, uma posição, um 
“significante mudo, uma letra que nada sabe nem pode pronunciar”. 
Não foi à toa que Lacan interrompeu seu seminário “Os Nomes do Pai”, que ele 
havia iniciado em janeiro de 1964, como relata Miller em seu texto “Comentário do 
Seminário Inexistente” (1992), pois, Lacan o interpretava como uma modalidade do 
impossível, “Não há O nome-do-pai, este é o segredo que Lacan pôde decifrar, “O 
segredo de que o nome, como: 
O Nome, no singular, o nome como único, o nome como absoluto, que este 
nome, não existe. Assim, o segredo seria que o túmulo do Pai – do pai no singular – 
está vazio”. 
Se no texto freudiano nos restringíssemos somente a uma leitura dos mitos, 
estaríamos então nos aproximando de um delírio, como o da religião. Contudo, como 
a religião não leva em conta o inconsciente, o pulsional, o que há de real no simbólico, 
nos mitos, neste ponto ela se distancia da psicanálise. 
Portanto, a psicanálise precisou com Lacan, passar dos conceitos aos 
matemas, para apontar o furo, o limite do simbólico. Ir mais além do pai significou ter 
 
25 
que passar do Uno ao múltiplo, o que implicou entrar em uma série. Passar do singular 
ao plural, passar da religião à ciência, à uma “ciência do Real”. É por isso que o 
recurso ao mito não bastou para a psicanálise. Foi seguindo esta mesma lógica que 
Lacan chegou aos grafos e aos nós, ao nó borromeano, para tentar solucionar estas 
questões. Ele assim, buscava privilegiar na direção da cura, o que há de real no 
simbólico, o que há de gozo, em cada mito, em cada caso clínico. E isto, por sua vez 
não foi possível sem referência ao corpo e ao objeto a, ao que há de pulsional na 
constituição dos sintomas, das histórias, ou dos mitos individuais de cada sujeito.3 
 A TRAGÉDIA DE ÉDIPO E A INVENÇÃO DA PSICANÁLISE 
 
Fonte: picbear.xyz 
 Da tragédia cotidiana à miséria banal: como a metáfora de Édipo Rei, uma 
das mais famosas peças do antigo teatro grego, pode nos ajudar a melhor 
compreender a psicanálise. 
Em Escritores Criativos e devaneio, publicado em 1908, Sigmund Freud 
escreve: “Os escritores, como os antigos poetas épicos e trágicos utilizam temas 
preexistentes à própria criação. O escritor criativo faz o mesmo que a criança que 
 
3 Texto extraído do link: http://www.ebp.org.br/textos-online/o-mito-a-religiao-e-sua-relacao-
com-a-psicanalise-i/ 
 
26 
brinca: cria um mundo de fantasia. (…) a obra literária, como o devaneio, é uma 
condição ou um substituto do que foi o brincar infantil”. 
Em seu estudo, Freud pretende que a psicanálise acolha a “tragédia cotidiana 
de vida” de um sujeito para, com seu método terapêutico, transformá-la em uma 
“miséria banal”. O Édipo é o eixo fundamental da psicanálise. O trágico destino de 
Édipo Rei, escrito por Sófocles por volta do ano 427 a. C., relata a travessia de uma 
vida em busca da revelação de sua origem e, repetindo a trágica saga dos Labdácias, 
se questiona sobre quem seria o assassino de seu pai Laio. Édipo não sabia, mas é 
surpreendido ao descobrir sendo ele mesmo o assassino que procurava encontrar. 
A psicanálise se efetiva baseada em uma operação de verdade. As verdades 
recônditas, apagadas da memória sóaparecem veladas pelos equívocos da 
linguagem e da fala. A verdade apenas se desvela ao irromper como meio-dizer. 
Essas verdades esquecidas, capítulo censurado de nossa história de desejo, 
remetem-nos ao conceito de inconsciente, que, por sua vez, reverte nossa relação 
com o saber. 
A descoberta do Édipo traduz esta subversão: há um saber inconsciente que 
nos leva a invocar verdades negligenciadas que, como ocorre com Édipo, podem 
desvelar o âmago do ser e então mudar radicalmente a orientação de uma vida. 
 O Édipo e a invenção da psicanálise 
O Édipo é uma descoberta e um conceito estreitamente ligado à invenção da 
psicanálise. A reflexão sobre o inconsciente depende do Édipo em seus três aspectos: 
o mito, o complexo e o conceito. O mito é o que dá estrutura lógica ao que advém da 
realidade psíquica. As psicoterapias (sugestão e hipnose), que Freud utilizou e 
abandonou por causa de seus limites, tentaram reduzir o Édipo a um instrumento de 
adaptação ao socius, a uma doutrina de conformidades. Contudo, Freud recorreu ao 
Édipo do Grego Sófocles utilizando-o como metáfora do inconsciente que fala de 
desejos e proibições. 
Como consequência, o complexo de Édipo evoca a formação de sintomas 
como substituições do proibido e do esquecido, do recalcado. 
O sintoma tem uma causa e uma economia libidinal. Logo, há uma organização 
lógica na constituição e na decifração dos sintomas. 
 
27 
A psicanálise os trata mudando sua economia libidinal. Por considerar o 
sintoma uma patologia que afeta o sujeito –pathos, as psicoterapias visariam a 
supressão de sintomas para obter a restauração de um estado anterior, “normal”. Para 
a psicanálise, o sintoma não é apenas uma “doença”. Embora cause sofrimento, ele 
aí está para dizer algo sobre um sujeito. 
Adotado como conceito, o Édipo traz um destaque especial. O que é um 
conceito? “É o tempo da Coisa”, nos ensina Heidegger. O tempo da Coisa é outra 
forma de se referir àquilo que causa o dizer de um sujeito e que está sempre em 
defasagem com o que ele quer dizer. Há uma defasagem entre o enunciado e a 
enunciação, entre o dito e o dizer. Podemos até afirmar que o sujeito padece da 
linguagem, pois é comum surpreender-se com os equívocos da linguagem. 
Então é preciso o tempo para não banalizar o Édipo. Lacan nos ensina que há 
três tempos para que se dê a apreensão da realidade inconsciente, da realidade 
psíquica: o instante de ver, o tempo de compreender e o momento de concluir. Esses 
três tempos são exigidos para acompanhar o futuro anterior que predomina em uma 
descoberta do inconsciente e que expressa o âmago da constituição do sujeito. 
 
Fonte: sbprp.blogspot.com 
 
28 
Para a psicanálise, um sintoma, por mais paradoxal que seja a satisfação que 
um sujeito encontra nele – sofrimento, mas também prazer -, é ali que está a sua 
verdade mais íntima. 
 O sintoma para a psicanálise é um meio de revelação de uma subjetividade e 
de uma singularidade. A psicanálise trata o sintoma transformando, alterando essa 
economia libidinal através da palavra e do ato que retornam ao sujeito fazendo-o falar 
mais. 
A psicanálise se propõe a despertar no sujeito o desejo de saber sobre o que 
significam seus sintomas e esclarecer as causas de seu mal-estar. Ela visa esclarecer 
a que esses sintomas se atêm, para que servem e como substituí-los. No descaminho 
do nosso gozo, da nossa satisfação pulsional paradoxal, mesmo que seja no pior, só 
há a linguagem e seus mal-entendidos para situá-los. 
 A tragédia antiga e a psicanálise 
A tragédia antiga expõe a “céu aberto” o que o inconsciente reluta em dizer. 
Para além de sua origem mítica, a essência da tragédia consiste na até, na fatalidade. 
Até é um termo grego de difícil tradução. Denota, ao mesmo tempo, uma espécie de 
“iluminação” violenta assim como é a expressão do inexorável. 
Apesar da progressiva humanização da tragédia grega, o homem nunca deixou 
de se haver com a fatalidade, com a até. A até trágica desvela, assim, a ultrapassagem 
de uma fronteira. O herói trágico avança em seu destino até que, em um instante 
inesperado, ele próprio é surpreendido por algo que faz e a partir daí não mais será o 
mesmo que era antes. Nesse instante fugaz, o herói “padece” de uma reviravolta. 
No limiar de uma decisão pela qual é forçado a se responsabilizar, o herói 
trágico se constata ultrapassado por algo imprevisível e até então desconhecido. Sua 
decisão, sua escolha é um desafio ao futuro, ao destino e a si mesmo. É o que nos 
ensina o transcurso da tragédia de Édipo Rei ao Édipo em Colona, de Sófocles. Não 
sendo pleno senhor e agente de seus atos e de suas decisões, o herói corre o risco 
de cair na armadilha de suas próprias escolhas, esperando que os deuses e o oráculo 
(de Delfos) estejam ao seu favor. 
Onde estará a responsabilidade por seus atos? Em que podemos aproximar o 
ato trágico àquilo que a psicanálise trabalha em relação à ética? Lembrando que a 
ética é a casa onde habita o homem. 
 
29 
Freud nos ensina que o artista antecipa o psicanalista. Optamos por recorrer à 
tragédia grega por ser uma criação literária que melhor exemplifica a encenação, a 
colocação em ato daquilo que impulsiona um sujeito a agir e que, com Lacan, 
nomeamos de insistência em buscar satisfação pulsional, o que também pode se 
apresentar como satisfação tanto no prazer como no desprazer, ou no gozo paradoxal. 
 
Fonte: www.revistavortice.com.br 
Constatamos então que os heróis, sem terror nem piedade, são movidos por 
algo distinto da angústia neurótica. Esta antecipa signos para prevenir o “herói do 
cotidiano” de um perigo que se aproxima e o ameaça. Enquanto o neurótico é 
precavido ou posterga seu ato, os heróis, seja o antigo ou o herói moderno, destemido, 
mergulha nos seus ditames, sejam respectivamente os dos oráculos ou os do seu 
próprio desejo! 
Considerando-a efeito da divisão subjetiva, a angústia é um índice da 
“amarração” do sujeito desejante a um objeto que é ansiado para satisfazer a um 
desejo. Paradoxalmente, é um “nada” que antecipa um “futuro anterior”. Dizemos que 
esse “nada” funciona em função da causa do desejo. 
Seu estado é de “existência”, termo usado para abordar a “existência” imaterial 
e sua insistência – cifra de uma constância – na busca de satisfação que se dá tanto 
no interior e, ao mesmo tempo, no exterior do aparelho psíquico. Melhor dizendo, trata-
se de um objeto, que segundo Freud, foi miticamente perdido e que todo sujeito 
 
30 
“sonha” reencontrá-lo! Contudo, como ele é inefável, só podemos experimentar a 
manifestação de sua insistência. Essa, sim, é o que causa o curso do desejo. 
O mito do Édipo nos ensina que o sujeito deve simbolizar o que miticamente se 
desvelou como perda de satisfação e de gozo, acreditando poder recuperá-los em 
objetos substitutivos. Se o gozo é o que o sujeito perde ao falar – o sujeito padece do 
significante que vela e desvela esta busca insistente – é porque do gozo está separado 
e por ele dividido. 
A lógica e a estrutura que regem a insistência do desejo e sua “existência” são 
organizadas como e pela linguagem: com suas metáforas, metonímias, parábolas, 
interrupções, exclamações etc. 
Para escapar ao esquecimento e ao recalque peculiar à linguagem 
inconsciente, o teatro grego expõe a olhos nus, através de seus heróis trágicos, a 
imagem das “paixões do ser” – ódio, amor e ignorância. Essas paixões margeiam o 
profano e o sublime da fatalidade estrangeira ao sujeito. Estas também dividem o 
sujeito do desejo, ou seja, deixam-no ser permeado por uma zona de ignorância sobre 
o que causa e determina o destino da sua realidade psíquica. É com essa realidade 
que a psicanálise trabalha. Assim é que podemos equiparar um sujeito qualquer do 
cotidiano a um herói moderno que não cede de seu desejo, levando-o às últimas 
consequências. Ambos são responsáveis pelos seus atos governados pelos desígnios 
deseu desejo inconsciente!4 
 O MITO, A PSICANÁLISE E A BOLA 
De algum tempo para cá, o futebol, esporte definido por muitos como uma 
religião no país, tem chamado a atenção de teóricos das ciências humanas. Os dois 
exemplos mais recentes são as obras “A Dança dos Deuses” (2007), de Hilário Franco 
Júnior, e “Veneno Remédio – O Futebol e o Brasil”, de José Miguel Wisnik (2008), 
editados pela Companhia das Letras. No primeiro, o autor traça um paralelo entre a 
evolução do esporte e os perfis históricos da Europa e do Brasil no último século; no 
segundo, Wisnik repensa o esporte com olhar histórico e filosófico. O livro recém-
lançado por David Azoubel Neto — “O Futebol como Linguagem – da Mitologia à 
 
4 Texto extraído do link: www.cafehistoria.com.br/a-tragedia-de-edipo-e-a-invencao-da-
psicanalise/ 
 
31 
Psicanálise” — constitui-se um “fecho de ouro para a trilogia sobre futebol”, na 
definição de Juca Kfouri, responsável pelo prefácio da obra. 
Com o mesmo olhar antropofágico que a Semana da Arte Moderna dirigiu às 
expressões artísticas da época, Azoubel analisa o futebol, tentando absorver e digerir 
em sua análise o que passa na cabeça de um jogador nos momentos decisivos de 
uma partida. “O livro é um ensaio, o escrevi tentando me colocar dentro da cabeça do 
jogador, ou seja, é uma leitura de dentro para fora”, argumenta. 
 
Fonte: papelarrozkantinhodobolo.com.br 
Por convicção, um apaixonado, que aprendeu com as “peladas” a substituir o 
egocentrismo, a rebeldia às regras, o medo do fracasso, sentimentos comuns na 
infância, pelo senso de grupo, de solidariedade, de humanismo, pela disciplina e pelo 
espírito de luta, que fez com que percebesse que um jogo sempre pode ser virado, 
mesmo quando a derrota pareça consumada. 
Enquanto teórico, Azoubel aventura-se pelo tema buscando compreender a 
importância desse esporte que lota estádios por todo o mundo e que se originou com 
nuanças de barbárie, tendo como fonte de inspiração os campos de batalha, na 
Dinastia Huang-Ti, por volta 2197 a.C., quando os crânios dos inimigos de guerra eram 
utilizados pelos chineses como bola, em um esporte que pode ser considerado o 
 
32 
ancestral do futebol. O jogo era utilizado com o intuito de treinamento militar, tendo, 
entre outras finalidades, atiçar nos soldados a ira contra o inimigo. 
Foi quando chegou à Inglaterra, vindo da Itália do século XVII, que o futebol 
adquiriu um perfil mais civilizado. 
 Hoje, o esporte é totalmente revestido de seu potencial simbólico e desponta 
em várias competições como um instrumento de conscientização sem, entretanto, 
deixar de ser palco de rivalidade e de violência entre as torcidas, o que, 
analiticamente, pode ser explicado pela rivalidade, inveja e disputa que desde tempos 
imemoriais permeiam a relação entre irmãos. O futebol abandonou o concreto das 
concepções violentas e começou a fazer abstrações e simbolizações. “No período de 
900 a 200 a.C, os Maias praticavam um jogo semelhante, na Península de Yucatan, 
em que o capitão do time que perdia a partida era decapitado. A decapitação 
permanece, mas no âmbito simbólico: o sujeito derrotado realmente perde a cabeça, 
tanto que podemos dizer que ‘cortaram a cabeça do Dunga’, depois da Copa da África 
do Sul. 
O simbolismo continua, e enquanto o homem puder utilizá-lo, preserva sua 
capacidade de expressão e de realização por meio de canais que resultam em uma 
atividade produtiva”, explica Azoubel. 
Por ser um esporte de multidões, que expressa todos os fenômenos da 
psicologia de massa, o psicanalista vislumbra no futebol uma grande ferramenta de 
transformação social. “Serão fundadas várias escolas de futebol. Por onde passa, 
esse esporte deixa rastros, ele tem um poder tão grande que é capaz de enfrentar 
guerras. Pelé interrompeu duas vezes a Guerra da Nigéria para se apresentar, 
primeiro de um lado e depois de outro. Um esporte capaz de parar guerras tem uma 
força muito grande, que precisa ser aplicada em movimentos sociais”, ressalta 
Azoubel. 
Tanto o autor acredita nessa perspectiva que destaca que o futebol é um 
elemento mais apaziguador do que a política e a religião, apesar de envolver os 
mesmos ingredientes contidos em ambas — a paixão e a fé. Segundo ele, o esporte 
se mostra mais eficaz porque a fé é usada no futebol de forma mais intensa. 
 
 
33 
 
Fonte: jornal.usp.br 
Era isso que Nelson Rodrigues queria dizer quando afirmou que o primeiro 
esporte praticado no Brasil é o voleibol, o futebol é religião. “Não é um esporte porque 
ele compete em nível de gênero e número com uma grande manifestação religiosa”, 
Azoubel explica. “A religião não tem a mesma força porque, apesar do paralelismo 
entre as vertentes, no esporte, há um desprendimento natural. “ 
O torcedor incorporado à Fiel tem o mesmo pensamento, a mesma fé no time 
que, para ele, é como se fosse um profeta. 
Os religiosos também podem mergulhar de corpo e alma, mas nem todos fazem 
isso”, acrescenta. 
Quanto às regressões civilizatórias, comuns em grandes clássicos sob forma 
de rivalidade, o psicanalista afirma que tais movimentos regressivos ocorrem porque 
o futebol precisa permanecer fiel à sua própria história, que é agressiva inicialmente, 
mas que preserva uma parte que permite o processo civilizatório. 
 “A civilização se efetua por avanços e recuos, mas um movimento desses é 
muito pequeno frente a massacres como o holocausto ou os aniquilamentos que 
testemunhamos no século XX. 
O futebol matou muito menos do que guerrilhas, torturas e assassinatos em 
massa”, assegura o autor. 
Com o pensamento essencialmente mitológico, Azoubel compara as torcidas 
ao coro do teatro grego das acrópoles, que pré dizia o que ia acontecer nas tragédias. 
 
34 
“O coro participa aconselhando, estimulando, indiciando, sempre com uma grande 
paixão. A torcida é parte do ego do jogador colocado fora dele: o jogador olha na 
multidão e identifica como se fosse uma parte dele. Não é à toa que se diz que torcida 
ganha jogo”, avalia. 
O problema é que no meio desse processo civilizatório está o homem, com 
todas as suas limitações. 
A indústria de heróis, associada à paixão e à fé que transformam os jogadores 
em verdadeiros mitos, não supre suas deficiências em lidar com a glória e o deslumbre 
que acompanham essa ilusória e frágil transformação. Na mitologia, o status de mito 
abriga duas condições fundamentais: a dor e a imortalidade. 
A história do titã Prometeu ilustra bem essa questão: o semideus que muniu o 
homem das ferramentas necessárias ao desenvolvimento da humanidade, roubou o 
fogo, um elemento exclusivo dos deuses, e entregou-o ao homem. Como castigo de 
Zeus, por proporcionar aos humanos a condição que permitiria a eles dominar os 
demais habitantes do mundo, o titã foi acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu 
fígado dilacerado por uma águia, diariamente, órgão que se regenerava durante a 
noite, devido à sua condição de semideus. 
Essa condição, conforme Azoubel, faz toda diferença entre o homem e o Deus 
e torna tão difícil para o ser humano lidar com a fama. No mundo moderno, ídolos são 
fabricados em todos os segmentos e não é diferente no futebol. Não são poucas as 
histórias de meninos de procedência humilde, como o goleiro Bruno, do Flamengo, 
que por meio do esforço e da dedicação se destacam no esporte. De desportistas, 
repentinamente transformam-se em mitos para as torcidas. 
O psicanalista destaca que, tanto na mitologia quanto na psicanálise, o galgar 
súbito de posições para as quais não estão efetivamente preparados é chamado de 
Mito do Herói, personagens que geralmente conseguiram reafirmar essa condição 
após se submeterem aos infortúnios do inferno. “Essa garotada não está, 
absolutamente, preparada para essa relação do herói com o mito. 
A grande maioria perde a fortuna que ganha porque fica embriagada com ela.O sujeito perde a noção do limite e começa a pensar que é Deus, que é imortal. 
Esse é o predomínio do instinto de morte”, afirma o autor. 
Tanto no caso do goleiro Bruno quanto de outros expoentes que se envolvem com 
marginais, como o cantor Belo, a grande lição é a humildade, segundo o psicanalista. 
 
35 
A diferença entre o êxito e a derrota está em saber administrar o limite entre a 
humildade e a arrogância. “Ao contrário dos deuses e dos semideuses, o homem é 
mortal e finito”, conclui.5 
 MITOLOGIA & PSICOLOGIA: A IMPORTÂNCIA DOS MITOS 
 
Fonte: www.nerdmaldito.com 
Sugere-se que os mitos tenham se originado em épocas remotas em que as 
pessoas se mantinham unidas em famílias e comunidades maiores em que eram 
transmitidos oralmente de geração para geração. Eram contados como histórias 
memoráveis e através dos tempos foram adaptando-se de acordo com as 
necessidades sociais, sem, contudo, perder o núcleo da história. 
“Dullahan, cavaleiro sem cabeça, monta um cavalo com olhos flamejantes. Carrega a 
cabeça embaixo do braço e quando para de cavalgar, um ser humano morre” 
(Mitologia Celta). 
 
“Existiam dezoito infernos distribuídos por dez tribunais de justiça. O chefe do inferno 
era Yen-Lo Wang, justo e bondoso. Ele registrava os bons e maus atos dos humanos 
na Terra, dando-lhe sentenças justas para os maus e recompensando os bons e os 
arrependidos” (Mitologia Chinesa). 
 
5 Texto extraído do link: https://www.revide.com.br/editorias/capa/o-mito-psicanalise-e-bola/ 
 
36 
 
“A Yggdrasil é a árvore que simboliza o eixo do mundo e fica localizada no centro do 
universo. Em suas frutas estão guardadas todas as respostas para as grandes 
questões da humanidade, e por isto, ela é sempre protegida e somente os deuses tem 
permissão para tocá-las. Suas folhas tem o poder de trazer os mortos à vida e seus 
frutos podem curar qualquer doença” (Mitologia Nórdica). 
 
A mitologia se constitui como um conjunto de mitos. A palavra mito vem do 
grego e significa ‘narrativa contada’. Os mesmos procuram explicar os acontecimentos 
da vida através do sobrenatural, representando explicações sobre a origem do mundo 
e do homem, possuindo também símbolos com diversos significados de como 
determinadas civilizações entendem e interpretam a existência. 
Para ser caracterizado como um mito, a narração deve envolver 
acontecimentos supostos e relativos a épocas primordiais que ocorreram antes do 
surgimento dos homens (deuses) ou dos primeiros homens (ancestrais). Contudo, seu 
foco está na mediação daquilo que é profano e daquilo que é sagrado apresentando 
acontecimentos fabulosos que deem sentido para o mundo. Eles podem tentar 
explicar a origem do universo, o desenvolvimento de instituições políticas ou as razões 
dos rituais. Muitas vezes descrevem façanhas de deuses, seres sobrenaturais ou 
heróis que podem executar proezas extraordinárias. 
O mito está sempre se referindo à realidade, desta forma é considerado como 
uma história sagrada e verdadeira. 
Em seus relatos sobrenaturais, a manifestação dos poderes sagrados desses 
seres mitológicos acaba se tornando modelo de todas as atividades humanas 
significativas. Quando rejeitado ou questionado, o mito se converte em fábula ou 
ficção. 
Considera-se que em sociedades tribais os mitos são vivos, pois cumprem sua 
função de dar sentido ao mundo. 
 
 
37 
 
Fonte: demonstre.com 
O mito tem função importante e essencial na forma de organização do cotidiano 
dessas culturas, em que todas as atividades, tais como nascimento, casamento, 
guerra, comércio e morte, são ritualizadas e mitologizadas para que ganhem sentido. 
Dentre os aspectos culturais associados aos mitos estão as tradições de um 
povo. 
É possível encontrar em meio aos processos interacionais de um grupo social 
organizado vivências de fundo coletivo que transmite seu modo de organização 
subjetiva, seus padrões de interação, os processos de vinculação intersubjetiva e a 
forma como cada indivíduo poderá ser visto dentro de cada formação social. 
Na constituição da cultura, o mito contribui para o desenvolvimento individual e 
coletivo. 
As ações estruturantes existentes nestas narrativas possuem a capacidade de 
gerarem padrões de comportamento que garantam a evolução psicossocial, 
infundindo socialmente referências de um padrão mais adequado de comportamento, 
como por exemplo, um herói mitológico, que possui a função de reportar o indivíduo 
para o comportamento adequado, introduzindo ou corrigindo o indivíduo na 
perspectiva de sua totalidade. Considera-se, assim, o mito como um modelo, 
possibilitando ao indivíduo rever seus comportamentos, de certa forma não 
apropriados, e remodelar suas posturas. 
 
38 
Vários antropólogos se dedicaram ao estudo dos mitos, buscando diferenciar 
mitos de histórias. Contudo, a história pode exercer as mesmas funções do mito e, 
algumas vezes, esses dois tipos de narrativas podem se confundir. Há diversos 
olhares acerca dos mitos. 
Para Frazer são formas de antigos pensamentos científicos ou religiosos. 
Malinowski considerava o mito como uma explicação para a ordem social. Segundo 
Mircea Eliade, são fenômenos religiosos que buscam retornar o homem ao ato original 
da criação. Por sua vez, Lévi-Strauss coloca a importância do mito em sua estrutura, 
não ao seu conteúdo, já que através dessa estrutura é possível observar os processos 
mentais universais. 
Os mitos perpassam por toda a Psicanálise. Desde Freud, a mitologia grega 
representa o grande repositório em que se podem buscar modelos para organizar 
descrições teóricas ou mesmo modelos que sustentem imagisticamente hipóteses que 
permitam articulações com fenômenos clínicos, assegurando, ao mesmo tempo, 
constructos para investigações metapsicológicas. 
 Pode-se dizer que Freud reorientou a interpretação dos mitos. Mais do que 
uma recordação ancestral de situações culturais e históricas ou elaborações 
fantasiosas sobre fatos reais, dentro das ideiais psicanalíticas freudianas, os mitos 
configuram-se como uma expressão simbólica dos sentimentos e das atitudes 
inconscientes de um povo, correspondendo aos sonhos na vida do indivíduo. 
Na perspectiva junguiana, a mitologia é fundamental para olhar mais 
profundamente o ser humano, uma vez que, o mito expressa estórias simbólicas que 
transmitem imagens significativas em que é possível identificar as verdades dos 
homens de todos os tempos. 
 Na Psicologia Analítica de Jung vislumbra-se uma conexão universal entre os 
homens que se constrói como uma herança psicológica (inconsciente coletivo) ao 
longo da evolução humana. Ou seja, o inconsciente coletivo permite compreender a 
universalidade de símbolos e mitos, pois estes se revelam em todas as culturas e 
épocas de modo idêntico. 
 
 
39 
 
Fonte: pt.quizur.com 
 Dessa forma, consegue-se afirmar que aquilo que é comum à humanidade 
está revelado nos mitos. 
Em conclusão, quando analisamos a riqueza simbólica do mito quando o 
mesmo corresponde a um comportamento pode-se ampliar conteúdos afetivos, bem 
como repertórios comportamentais. 
A simbologia e os personagens mitológicos facilitam o envolvimento do 
indivíduo em outros parâmetros de comportamento em que o mesmo é capaz de 
reformular suas ações numa perspectiva mais adequada e aceita socialmente. 
Além disso, antropologicamente percebe-se que muitos mitos da sociedade 
moderna e contemporânea encontram raízes paralelas com as sociedades antigas, 
como por exemplo, os heróis contemporâneos da indústria cinematográfica (Super-
Homem, Mulher Maravilha, Thor, etc) que se assemelham aos heróis das mitologias 
arcaicas ao passarem por provações para alcançar um objetivo heroico. 
Em suma, o mito é o nada que representa tudo.6 
 
6 Texto extraído do link: http://mundodapsi.com/mitologia-psicologia-importancia-dos-mitos/40 
 
 
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