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1 COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA NA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A ESCOLAR 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................... 3 2 - O PAPEL DO PEDAGOGO E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.................... 5 3 - A AUTONOMIA DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO PROCESSO DE GESTÃO DO TRABALHO ESCOLAR ........................................................................ 9 4 - O COTIDIANO DOS COORDENADORES PEDAGÓGICOS ................... 16 5 - ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E OS FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO .................................................................................................... 29 5.1 - PLANEJAMENTO E AÇÃO PEDAGÓGICA: DIMENSÕES TÉCNICAS E POLÍTICAS DO PLANEJAMENTO .......................................................................... 32 5.2 - MOMENTOS OU ETAPAS DO PLANEJAMENTO ................................ 33 AS CATEGORIAS ESPAÇO/TEMPO NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO ......................................................................................................... 35 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 41 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 1 – INTRODUÇÃO O acompanhamento, pelos coordenadores, da proposta institucional expressa no Projeto Pedagógico, em consonância com as diretrizes educacionais, pressupõe, por sua vez, que este profissional esteja preparado para a orientação/formação dos docentes quanto aos aspectos metodológicos em relação ao planejamento, à gestão escolar e à avaliação, entre outros, e, também, em relação ao conhecimento das teorias pedagógicas, das diretrizes educacionais e do projeto institucional da unidade escolar. Assim, é papel do coordenador favorecer a construção de um ambiente democrático e participativo, que assume a função de auxiliar o aluno na formação de uma cidadania e a escola na organização e realização do projeto político- pedagógico. Apesar das inúmeras responsabilidades desse profissional, já elencadas, este enfrenta outros conflitos no espaço escolar, tais como tarefas de ordem burocrática, disciplinar e organizacional. Como destacamos, a função de coordenador pedagógico tem os atributos de articulador, formador e transformador. Quanto articulador, precisa de ação educativa planejada, como formador sua responsabilidade direcionada a formação continuada, como transformador estar atento a mudanças de atitudes da comunidade escolar, promovendo a reflexão e a vivência nas relações escolares. A função do coordenador pedagógico, suas atribuições e valorização, vai além de um método, mas sim a busca de ações de integração e articulação com os membros da comunidade escolar, mostrando que as diversas experiências é o caminho para a mudança e que passa pela coordenação pedagógica, que trabalha em prol da melhoria no processo ensino aprendizagem. O acompanhamento, pelos coordenadores, da proposta institucional expressa no Projeto Pedagógico, em consonância com as diretrizes educacionais, pressupõe, por sua vez, que este profissional esteja preparado para a orientação/formação dos docentes quanto aos aspectos metodológicos em relação ao planejamento, à gestão 4 escolar e à avaliação, entre outros, e, também, em relação ao conhecimento das teorias pedagógicas, das diretrizes educacionais e do projeto institucional da unidade escolar. Nesse contexto, “assim como o professor é responsável, na sala de aula, pela mediação aluno/conhecimento, a parceria entre coordenador pedagógico [...] e professor concretiza as mediações necessárias para o aperfeiçoamento do trabalho pedagógico na escola”. (PLACCO, 2002, p.95). Nogueira declara, Que, Educação de qualidade é uma busca constante das instituições de ensino, para que isso se torne realidades são necessárias ações que sustentem um trabalho em equipe e uma gestão que priorize a formação docente contribuído para um processo administrativo de qualidade. [...] Nessa perspectiva devemos identificar as necessidades dos professores e com eles encontrar soluções que priorizem um trabalho educacional de qualidade esse trabalho é desenvolvido pelo coordenador pedagógico. (NOGUEIRA, 2008, p.1). O pedagogo ocupa um amplo espaço na organização do trabalho pedagógico, sendo um articulador no processo de formação cultural que se dá no interior da escola. Sua presença, é fundamental na organização das práticas pedagógicas e consequentemente na efetivação das propostas. É o mediador no processo ensino - aprendizagem, de forma a garantir a consistência das ações pedagógicas e administrativas. 5 2 - O PAPEL DO PEDAGOGO E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Ao longo da história educacional brasileira, o pedagogo apresentasse como um profissional com características indefinidas. Com formação no curso de Pedagogia, que não apresenta uma identidade clara a respeito da atuação dos futuros profissionais, atravessa diversas mudanças, desde formação geral a habilitações específicas. As questões referentes ao campo de estudo da Pedagogia, da estrutura do conhecimento pedagógico, da identidade profissional do pedagogo, do sistema de formação de pedagogos e professores, frequentam o debate em todo o país há quase vinte anos nas várias organizações científicas e profissionais de educadores (LIBÂNEO, 2007, p. 25). Buscando suprir as necessidades educacionais vivenciadas em cada momento histórico, o pedagogo, tornou-se um profissional mencionado nas leis de diretrizes e bases da educação nacional, ora como especialista, ora como generalista. 6 Retomando a Lei n.º 4.024, de 20 de dezembro de 1961 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB), verifica-se a orientação educacional em destaque, quando estabelece normas para a formação do Orientador Educacional, diferenciando o ensino médio e o ensino primário e “apresenta implicitamente a Orientação Vocacional em vários artigos” [...] (GRINSPUN, 2006, p. 141). Isso pode ser detectado claramente no artigo 38, quando trata da organização do Ensino Médio, estabelece como norma no item V a “instituição da orientação educativa e vocacional em cooperação com a família (LDB n.º 4.024/61). A referida lei enfatiza a formação do orientador em seus artigos, conforme abaixo: Art. 62. A formação do orientador de educação será feita em cursos especiais que atendam as condições do grau do tipo de ensino e do meio social a que se destinam. Art. 63. Nas faculdades de filosofia será criado, para a formação de orientadores de educação do ensino médio, cursoespecial a que terão acesso os licenciados em pedagogia, filosofia, psicologia ou ciências sociais, bem como os diplomados em Educação Física pelas Escolas Superiores de Educação Física e os inspetores federais de ensino, todos com estágio mínimo de três anos no magistério. Art. 64. Os orientadores de educação em curso especial a que terão acesso os diplomados em escolas normais de grau colegial e em institutos de educação, com estágio mínimo de três anos no magistério (LDB n.º 4.024/61). Neste caso, mesmo com a lei garantindo a inclusão da orientação educacional, o pedagogo concorre com outros profissionais com formação em curso especial para atender à função. A Lei n.º 5.540, de 28 de novembro de 1968, que reforma o Ensino Superior, apregoa, no seu artigo 30, que “o preparo de especialistas destinadas ao trabalho de planejamento, supervisão, administração, inspeção e orientação no âmbito de escolas e sistemas escolares, far-se-á em nível superior”. No ano seguinte, a marca da Reforma Universitária fez-se sentir no curso de pedagogia através do parecer CFE n. 252/69. Já no enunciado de seu título, esse parecer não deixa dúvida quanto ao profissional, ou melhor, aos profissionais a que se refere ao ser apresentado como o instrumento legal que fixa os mínimos de currículo e duração para o curso de graduação em pedagogia, visando à formação de 7 professores para o ensino normal e de especialista para as atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção no âmbito de escolas e sistemas escolares (SILVA, 2006, p. 25-26). Logo após a promulgação da lei anterior, o orientador educacional ganha força por meio da homologação da Lei n.º 5.564, de 21 de dezembro de 1968, que provê o exercício da profissão de orientador educacional. Reza em seu artigo 1º, que a orientação educacional seja realizada de forma que integre os elementos que exercem influência na formação do indivíduo, preparando-o para o exercício das questões básicas. Segundo Grinspun (2006, p. 154), “o profissional da Orientação Educacional é o único – em termos das especializações – que tem características de profissão regulamentada pela Lei 5564/68 [...]”. Afirmando, a Lei n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971, que fixa as diretrizes e bases para o Ensino de 1º e 2º graus, no artigo 10 , institui a obrigatoriedade da “Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional, em cooperação com os professores, a família e a comunidade”. Na Lei 5692/71, a Orientação Educacional assume um papel fundamental, sendo a área da Orientação Vocacional mais privilegiada para atender aos objetivos de ensino da própria Lei emanados (GRINSPUN, 2006, p. 146). O artigo 33, da mesma lei, define a formação dos especialistas: A formação de administradores, planejadores, orientadores, inspetores, supervisores e demais especialistas da educação será feito em curso superior de graduação, com duração plena ou curta, ou de pós-graduação (art. 33, cap. V, LDB 5.692/71). Contrapondo à lei anterior, a “promulgação da LDB 9.394/96 na década de noventa, gerou impactos substanciais nos cursos de Pedagogia que, por sua vez, se articularam numa ampla movimentação” (SANTOS, 2008, p. 13). Homologada em 20 de dezembro de 1996, a atual legislação integra as habilitações dos especialistas, a partir da formação: Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de 8 pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional (LDB nº 9.394/96). Grinspun (2006, p. 11), analisa o seguinte: Aparentemente fácil a integração, torna-se muito difícil na prática esta efetivação uma vez que os saberes / fazeres desses profissionais foram esculpidos historicamente, em forma que se direcionassem para os alunos, no caso da Orientação e para os professores, no caso da Supervisão. A nova LDB, não especifica claramente a Orientação Educacional. Porém, gera interpretações a respeito em alguns de seus artigos. Conforme Grinspun (2006, p. 152), “A lei 9394/96 traz muitos pontos novos, tendo a flexibilização e a autonomia como aspectos principais. É uma Lei que une os diversos níveis de ensino e suas diferentes modalidades. No que tange à Orientação Educacional, [...] não se dará por uma obrigatoriedade explícita, mas pela própria exigência de seus artigos” [...]. Neste sentido, o pedagogo passa a ser um gestor que contribuirá para o cumprimento do estabelecido na Lei n.º 9.394/96, em seu artigo 14, quando define que: Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. De acordo com a atual LDB, a organização da escola concretiza-se pela gestão democrática, instituindo a participação de seus membros na tomada de decisões e realização das ações, que são sustentadas pelo projeto pedagógico construído pelo conjunto de profissionais, com a participação da comunidade escolar e local representadas através das instâncias colegiadas. 9 3 - A AUTONOMIA DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO PROCESSO DE GESTÃO DO TRABALHO ESCOLAR A amplitude e a dimensão das ações propostas para os coordenadores pedagógicos podem ser identificadas ao se analisar o conjunto de funções a serem exercidas por esse profissional, responsável pela organização dos processos escolares, ação materializada nas funções de articulação, formação e transformação do contexto escolar. O processo de formação continuada e elaboração do projeto político- pedagógico insere-se no cerne dessas funções do coordenador pedagógico, pois a reflexão teórica sobre a prática docente e a definição dos princípios pedagógicos a serem instituídos na escola formulam-se no debate e na reflexão coletiva com a comunidade (PLACCO; SOUZA; ALMEIDA, 2012) Essas atribuições do coordenador pedagógico contêm significativa potencialidade transformadora em relação ao pensar e ao fazer pedagógico. A formação continuada dos professores representa a possibilidade de aprofundar os debates concernentes aos dilemas e às potencialidades inerentes ao processo educativo, ação essencial a ser realizada no espaço escolar, em razão das particularidades formativas dos https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B13 10 educadores reunidos na escola e das práticas didático-metodológicas, permeadas por concepções de mundo e por relações subjetivas, que devem ser analisadas sob o parâmetro coletivo. Assim, o processo de formação continuada, em suas diversas experiências de intervenção, pode contribuir para a melhoria da articulação entre teoria e prática e garantir maior integração com o conjunto dos profissionais da escola. Evidentemente, a formação continuada desenvolvida no espaço escolar pelo coordenador pedagógico deve estar articulada a outras oportunidades de formação acadêmica para o conjunto desses profissionais, pois a transformação na visão de mundo do educador passa essencialmente por essa articulação entre a formação teórico-acadêmica e o (re) pensar da prática escolar cotidiana. Todavia, o trabalho interno nas escolas é essencial para a construção de significados coletivos para a prática pedagógica, ação capaz de agregar valores construídos em conjunto com os diversos agentes escolares e instituir outras dimensões para a realização do trabalho educativo. Nesse sentido, o exercício coletivo de discussão e elaboração do projeto político- pedagógico tem o potencialde contribuir para a formulação de caminhos alternativos para a superação de problemas pedagógicos encontrados nas escolas, ação que representa a capacidade de refletir sobre a prática e interferir na realidade escolar. Salienta-se que o processo de elaboração coletiva do projeto político-pedagógico contém um forte viés político, pois envolve o conjunto dos profissionais da educação, docentes e representantes da comunidade local no ato de repensar o papel pedagógico e social da escola. Ação que pode estimular o coordenador a desenvolver as suas atribuições relativas à articulação, formação e transformação da realidade escolar, bem como exercer significativamente a dimensão da autonomia na execução de seu trabalho (VEIGA, 2001; VEIGA; RESENDE, 1998). A autonomia do coordenador pedagógico no processo de gestão e organização do trabalho escolar ocorre nessa articulação entre a potencialidade agregada à formação continuada, capaz de constituir de forma coletiva a reflexão crítica concernente às conexões entre teoria e prática pedagógica e a efetivação dessas discussões por meio da construção de alternativas materializadas na elaboração do projeto político- pedagógico da escola. A autonomia relaciona-se a essa capacidade de refletir e analisar a própria prática profissional visando à superação do enquadramento https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B20 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B21 11 ideológico constituído pela estrutura de poder, bem como a construção de uma perspectiva emancipatória concernente à transformação política da realidade social. Barroso (2003) define o conceito de autonomia. Para o autor, O conceito de autonomia está etimologicamente ligado à ideia de autogoverno, isto é, à faculdade que os indivíduos (ou organizações) têm de se regerem por regras próprias. Contudo, se a autonomia pressupõe a liberdade (e capacidade) de decidir, ela não se confunde com a “independência”. A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de interdependências e num sistema de relações. A autonomia é também um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade: somos mais, ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio biológico e social, de acordo com suas próprias leis (p. 16). Barroso (2003) esclarece que a margem de autonomia individual se confronta e se equilibra com outras forças que também detém significativo poder. Para o autor, não há autonomia da escola sem o reconhecimento da autonomia relativa dos indivíduos que a exercem em confronto e equilíbrio com os diferentes atores que constituem o espaço escolar, ou seja, a autonomia efetiva-se no cerne de um processo de disputa e acordos pelo exercício do poder entre o indivíduo e os diversos agentes educativos, dentre eles, a estrutura burocrática governamental, a direção escolar, os professores, os pais, a comunidade, os alunos, etc. A autonomia das escolas deve se edificar na criação de condições que permitam, simultaneamente, desenvolver as autonomias relativas individuais e promover a associação desses interesses, direcionando-os para o alcance de objetivos comuns e coletivos. Esses objetivos coletivos devem estar articulados a oferta de um serviço público educacional de qualidade e a democratização do funcionamento da instituição escolar (BARROSO, 2003). Para Contreras (2002), a autonomia refere-se a uma busca permanente pelos fundamentos que orientam e determinam a prática. Isso significa aprofundamento https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B2 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B2 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B2 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B3 12 teórico em busca da essência e das razões que sustentam determinadas decisões e convicções sociais que podem limitar ou condicionar o exercício da autonomia. O exercício da autonomia passa pela superação dos limites que as circunstâncias da prática impõem para que o universo das decisões não se restrinja à experiência ou aos valores cristalizados, mas que possa ampliar os horizontes em relação ao que deveria ser, mas ainda não é. Assim, a autonomia pressupõe um profundo processo de reflexão crítica concernente à essência das práticas, dos valores e das instituições. O pressuposto fundamental para a constituição da autonomia é o diálogo e o entendimento social. Esses princípios devem orientar a constituição das decisões profissionais, ou seja, constituir-se como base para satisfazer as perspectivas e expectativas sociais. Assim, a autonomia não depende tanto da definição legal dos direitos e das competências vinculadas exclusivamente aos professores. Depende da possibilidade de se construí-la no diálogo social e no entendimento mútuo “e isto é algo que não se desvincula do desejo de autonomia social, ou seja, do desejo que a sociedade (os diversos grupos e setores sociais envolvidos) seja a protagonista em uma questão de interesse social e não só profissional” (CONTRERAS, 2002, p.201). Contreras (2002) esclarece que a autonomia ocorre em articulação com a comunidade. Segundo o autor, A transformação do ensino para torná-la mais justa e educativa deve ser realizada em conexão com os movimentos sociais (e não só profissionais) que aspiram à democratização da sociedade. Nesta perspectiva, a autonomia não estaria desligada desse último propósito político, porque a autonomia profissional dos professores, entendida como processo progressivo de emancipação, não estaria desconectada da autonomia social, ou seja, das aspirações das comunidades sociais por criar seus próprios processos de participação e decisão nos assuntos que afetam suas vidas (CONTRERAS, 2002, p. 186). Essa dimensão da autonomia atinge o trabalho do coordenador pedagógico, pois as ações propostas para esse profissional, em especial as relativas à formação continuada e à elaboração do projeto político-pedagógico, contêm uma forte conotação social ao promoverem a articulação, a formação e a transformação do contexto escolar. Todavia, no atual contexto de descentralização financeira e https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B3 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B3 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B3 13 regulação administrativa gerencial do processo de gestão e organização do trabalho escolar, o coordenador pedagógico sofre com a abdicação desse potencial transformador e autônomo, capaz de conduzir soluções próprias e coletivas para os problemas internos da instituição escolar com recursos públicos suficientes para realização dessa finalidade (FERNANDES, 2012). No campo da organização e gestão educacional prolifera, sobretudo em relação às políticas públicas, o paradigma administrativo gerencial, que busca transferir para a especificidade da cultura institucional da escola a lógica, os processos e o padrão administrativo empresarial, centrado na eficiência e na eficácia. Nos tempos atuais, em especial a partir da década de 1990, com a predominância da reforma gerencial do Estado tornam-se cada vez mais objetos centrais da gestão os princípios e os procedimentos administrativos, dentre eles a eficiência, a eficácia, odesempenho, a produtividade e o planejamento, burocratizando-se as relações, intensificando-se o trabalho e se produzindo uma cultura individualista e de desempenho performático (FONSECA; TOSCHI; OLIVEIRA, 2004; SILVA, 2006; MOREIRA, 2009; GAULEJAC, 2007). Esse novo contexto educacional, constituído na década de 1990, conseguiu sustentar-se por intermédio de estratégias políticas diversas, dentre elas a ressignificação de conceitos acadêmicos. Os educadores progressistas compreendiam autonomia pedagógica como a possibilidade de deslocamento do poder da esfera central do Estado para a dimensão escolar, acompanhada dos recursos públicos necessários para a realização integral do trabalho educativo e contavam, para esse processo, com a participação política da sociedade. Entretanto, o conceito de autonomia pedagógica foi ressignificado, compreendido, pós-reforma gerencial, como a capacidade de as escolas conseguirem maior independência administrativa e financeira em relação ao Estado, instituindo uma lógica gerencial na resolução de seus problemas cotidianos, visando ao cumprimento de determinadas metas previamente estabelecidas pelos órgãos centrais de educação (BARROSO, 2004; LIMA, 2001; PARO, 2001; SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2000). Segundo Barroso (2004), https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B5 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B17 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B11 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B7 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B7 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B1 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B1 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B10 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B12 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B15 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B1 14 A “autonomia da escola” é um conceito construído social e politicamente, pela interação dos diferentes atores organizacionais, numa determinada escola [...]. Contudo, não basta “regulamentar” a autonomia. É preciso criar condições para que ela seja “construída”, em cada escola, de acordo com as suas especificidades locais e no respeito pelos princípios e objetivos que formam o sistema público nacional de ensino (p. 71). O trecho citado esclarece que a autonomia deve ser construída pelos sujeitos da escola em um amplo processo de discussão e amadurecimento da comunidade escolar em torno de um projeto educativo. Nesse sentido, na autonomia têm que ser consideradas as especificidades locais, culturais e históricas da comunidade, sem se abdicar de cumprir as orientações e os parâmetros de um projeto nacional de formação educacional. Assim, a autonomia construída nas escolas não deve significar a ausência do Estado no cumprimento de suas responsabilidades financeiras e pedagógicas, bem como a consequente transferência de responsabilidades educativas para a sociedade civil, “mas o reconhecimento de que em determinadas situações e mediante certas condições, os órgãos representativos das escolas podem gerir melhor que a administração regional certos recursos” (BARROSO, 2004, p. 70). As atuais políticas educacionais, ao instituírem a descentralização financeira e os princípios administrativos gerenciais como parâmetro para a gestão do trabalho escolar, dificultam efetivas práticas coletivas de discussão e reivindicação do poder público relativo ao atendimento do direito constitucional de educação pública de qualidade para todos. Diante desse contexto, o papel dos coordenadores pedagógicos torna-se ainda mais complexo, sendo estes obrigados a adaptar-se a um processo de regulação administrativa gerencial definida pelos órgãos centrais da burocracia estatal nacional e estadual que compreendem como parâmetros de qualidade educacional a melhoria de desempenho individual dos alunos nos testes nacionais de aferição de competências e habilidades cognitivas em áreas específicas do conhecimento, em geral Português e Matemática. A lógica das atuais políticas públicas educacionais, cuja ênfase mantém-se no padrão de gestão gerencial e nos procedimentos avaliativos, induz a um contínuo processo de internalização, por parte dos coordenadores pedagógicos, dos referenciais administrativos como parâmetro para a resolução dos problemas escolares, induzindo https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B1 15 o conjunto dos professores a ampliar suas responsabilidades individuais para o alcance de resultados “educativos” (FERNANDES, 2010; FONSECA; TOSCHI; OLIVEIRA, 2004; SILVA, 2006). Essa é uma das principais transformações na cultura escolar, ou seja, a intensificação do controle em relação ao cumprimento de responsabilidades definidas por instâncias externas à escola e sem a legitimidade plena do coletivo escolar concernente às finalidades, aos objetivos e às ações empregadas para atingir os resultados definidos. Certamente, há contradições nesse processo de transformação cultural, pois algumas escolas públicas têm experiências educativas concernentes a sua organização como instituição dotada de relativa autonomia capaz de garantir práticas transformadoras, construídas em comum acordo com a comunidade escolar. Todavia, observa-se que as políticas públicas educacionais pautadas no padrão administrativo gerencial e nos procedimentos avaliativos tendem a disseminar seus valores e a impor seus princípios como projeto hegemônico na organização e gestão das escolas públicas (LIMA, 2001; SILVA et al., 2012). https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B4 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B17 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B10 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B10 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362015000400964&lng=pt&tlng=pt#B19 16 4 - O COTIDIANO DOS COORDENADORES PEDAGÓGICOS Quem é hoje o coordenador pedagógico dentro das instituições de ensino? A princípio a resposta nos parece clara, aquele profissional que trabalha com a parte pedagógica da escola. O que nos parece claro, não o é, não ao menos para aqueles que desempenham esta função. Franco (2008) realizou uma pesquisa com coordenadores da rede pública e constatou que os mesmos percebem-se aflitos, exaustos, angustiados, trabalham muito e tem pouco retorno no que concerne às mudanças na estrutura da escola, gastam grande parte do tempo com tarefas burocráticas, atendendo pais ou organizando eventos, festividades e/ou projetos solicitados pela secretaria de educação ou direção da escola, estão atordoados com a indisciplina dos alunos e a falta dos professores, onde precisam dar um “jeitinho” para que os alunos não fiquem sem aula. Desta forma, o espaço para o planejamento 17 é mínimo, e para a improvisação é máximo, ficando as atividades conduzidas por ações espontaneístas, emergenciais, superficiais, baseadas no bom senso. A pesquisa de Franco nos remete às palavras de Bartman (1998, apud LIMA; SANTOS, 2007, p. 82) [...] o coordenador não sabe quem é e que função deve cumprir na escola. Não sabe que objetivospersegue. Não tem claro quem é o seu grupo de professores e quais as suas necessidades. Não tem consciência do seu papel de orientador e diretivo. Sabe elogiar, mas não tem coragem de criticar. Ou só crítica, e não instrumentaliza. Ou só cobra, mas não orienta. O coordenador enfrenta o desafio de construir seu novo perfil profissional e delimitar seu espaço de atuação, porém precisa resgatar sua identidade e consolidar um trabalho que vai muito além da dimensão pedagógica, “possui caráter mediador junto aos demais educadores, atuando com todos os protagonistas da escola no resgate de uma ação mais efetiva e de uma educação de qualidade nas escolas” (GRINSPUN, 2006, p. 31). Franco (2008, p. 120) complementa que: Para trabalhar com a dinâmica dos processos de coordenação pedagógica na escola, um profissional precisa ter, antes de tudo, a convicção de que qualquer situação educativa é complexa, permeada por conflitos de valores e perspectivas, carregando um forte componente axiológico e ético, o que demanda um trabalho integrado, integrador, com clareza de objetivos e propósitos e com um espaço construído de autonomia profissional. Percebemos que o coordenador é um profissional dinâmico, que precisa conhecer a realidade e transformá-la. Vejamos então, quem é este profissional na visão de alguns autores. Iniciemos com Lomanico (2005, p. 105) O coordenador pedagógico é o elemento do quadro do magistério em que pertence a um sistema de supervisão de ensino estadual, de estrutura hierárquica definida legalmente, desempenha funções de assessoramento ao diretor da escola a quem está subordinada. Sua situação funcional é definida legalmente, para exercer suas atribuições dispõe de autoridade por delegação e pela competência. 18 Para Libâneo (2001), o coordenador pedagógico é aquele que responde pela viabilização, integração e articulação do trabalho pedagógico, estando diretamente relacionado com os professores, alunos e pais. Junto ao corpo docente o coordenador tem como principal atribuição a assistência didática pedagógica, refletindo sobre as práticas de ensino, auxiliando e construindo novas situações de aprendizagem, capazes de auxiliar os alunos ao longo da sua formação. Nas palavras de Franco (2008, p. 128). Essa tarefa de coordenar o pedagógico não é uma tarefa fácil. É muito complexa porque envolve clareza de posicionamentos políticos, pedagógicos, pessoais e administrativos. Como toda ação pedagógica, esta é uma ação política, ética e comprometida, que somente pode frutificar em um ambiente coletivamente engajado com os pressupostos pedagógicos assumidos. Observamos diante do exposto, é que há uma discrepância entre a teoria e a prática do coordenador, ou seja, no campo teórico houve grandes avanços e passamos do simples ato de fiscalizar para o ato de articular umas práxis pedagógica. É uma tarefa árdua a concretização deste trabalho tão complexo como o do coordenador pedagógico, é preciso criatividade, muito estudo, organização, ser leitor e ouvinte, 19 aberto aos conhecimentos e inovações e também, não podemos deixar de mencionar, o aspecto das relações interpessoais inerentes à convivência humana no cotidiano do universo escolar. Entretanto, fica claro que sua formação, tanto inicial como continuada, são vitais para o desenvolvimento de um trabalho eficaz, visto que, os problemas educacionais são vastos e se modificam constantemente. Acreditamos que um dos empecilhos ao trabalho eficaz do coordenador pedagógico esteja em sua formação ineficiente. Como já discutimos, muitos exercem a função e nem sequer sabem ao certo quais são suas atribuições. Alguns estão no cargo porque foram convidados por diretoras que mantinham com eles um laço de amizade, deixando a competência para segundo plano. A grande maioria dos coordenadores em exercício, não recebeu formação específica, visto que é comum coordenadores terem outra graduação à exigida pela LDB 9394/96, no referido caso, a graduação em Pedagogia; e muito menos participaram de um processo seletivo. Conforme a LDB 9394/96 (BRASIL, 2005, p. 37), no seu artigo 64 A formação de profissionais de educação para a administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. A formação requisitada para o exercício da função de coordenador não pode se resumir em um acúmulo de títulos, precisa ser um processo reflexivo e crítico sobre a prática pedagógica. Os cursos de Pedagogia precisam investir na formação do coordenador, pois se trata de uma função essencial e complexa no campo educativo e que não dá para aprender somente com a prática, é preciso desenvolver capacidades e habilidades múltiplas em consonância com a educação atual. A formação continuada do coordenador pedagógico faz-se necessária pela própria natureza do saber humano como prática que se transforma constantemente, principalmente quando se refere ao comportamento e seus efeitos na aprendizagem, porque: A realidade muda, o saber que construímos sobre ela precisa ser revisto e ampliado, sempre dessa forma um programa de educação continuada se faz necessário para atualizar nossos conhecimentos, principalmente para as mudanças que ocorre em 20 nossa prática, bem como para atribuirmos direção esperada a essa mudança (CHRISTOV, 2003, p. 9). Ainda nas palavras de Christov (2003), a formação do coordenador pedagógico, está sem dúvida relacionada aos seus docentes, essa busca constante de conhecimentos está direcionada sempre a serviço de ajudar e orientar seus professores numa prática satisfatória. Mais uma vez destacamos que somente por meio de um processo crítico- coletivo-reflexivo, poderemos ajudar na construção e na ressignificação da identidade dos coordenadores. São os conhecimentos adquiridos nos cursos de formação continuada que ajudarão o coordenador a entender e orientar seus professores de forma satisfatória, aproveitando a experiência anterior e fazendo uma nova prática a partir dos conhecimentos adquiridos. O coordenador pedagógico no ambiente escolar constitui a articulação das ideias e recursos que atendam às necessidades dos professores e dos alunos, pois, é um profissional que articula as atividades pedagógicas em todo ambiente escolar para garantir a qualidade do ensino; que atua com a crítica em momento exato, ampliando o horizonte para a conquista de participação (VASCONCELLOS, 2007). A educação continuada do coordenador pedagógico, para ter realmente sucesso dentro do contexto escolar, deve ter como objetivo central a reflexão sobre a prática, tendo em vista uma reconstrução da autonomia intelectual não só para si, mas para toda equipe escolar. Segundo Christov (2003, p. 10) . A atividade profissional dos educandos é algo que se refaz mediante processos educacionais formais e informais variados, amalgamado sem dicotomia entre vida e trabalho, entre trabalho e lazer. Com as contradições certamente, mas, afinal, mantendo as inter-relações múltiplas no mesmo homem, por isso, o termo educação continuada tem a significação fundamental do conceito de que a educação consiste em auxiliar profissionais a participar ativamente do mundo que os cerca, incorporando tal vivência no conjunto dos saberes de sua profissão. A ação efetiva do coordenador pedagógico com sua equipe escolar é de extrema importância para o bom trabalho, para a melhoria do fazer pedagógico da sala de aula. Além disso, o coordenador pedagógico busca integrar todos no processo 21 ensino-aprendizagem, mantendo as relações interpessoais de maneira saudável, valorizando a formação dos seus profissionais, ajudando-os efetivamente na construção dos saberes da sua profissão.Almeida (2003) ressalta que na formação docente é muito importante prestar atenção no outro, em seus saberes, dificuldades, sabendo reconhecer e conhecer essas necessidades, propiciando subsídios necessários; assim a relação entre professores e coordenadores à medida que se estreita, crescem em sentido prático e teórico. Lima e Santos (2007, p. 77-90) relatam que, no decorrer da prática de trabalho, os coordenadores devem desenvolver outras competências, quais sejam • É importante que transformem o seu olhar, ampliando a sua escuta e modificando a sua fala, quando a leitura da realidade assim o requerer. • É necessário que a consciência coletiva seja respeitada, a ponto de se flexibilizar mais os planejamentos e que os mesmos sejam sempre construídos do e a partir do olhar coletivo. • Ter a capacidade de olhar de maneira inusitada, de cada dia poder perceber o espaço da relação e, consequentemente, da troca e da aprendizagem. • Ser capaz de perceber o que está acontecendo a sua relação com o professor e deste com o seu grupo de alunos. • Poder perceber os pedidos que estão emergindo, quais os conhecimentos demandados e, consequentemente, necessários para o momento e poder auxiliar o professor. Reiteramos como é necessária a presença de um coordenador pedagógico consciente do seu papel e de suas atribuições dentro do ambiente escolar, pois, é esse profissional que na unidade escolar responde fundamentalmente no processo de formação de seus professores e pela relação e orientação da teoria e prática de cada profissional que atua na escola. Traçar caminhos para direcionar as ações pedagógicas, é uma das principais atribuições do coordenador pedagógico, que deve atuar de modo a transformar a escola em um local de formação em serviço dos professores, principalmente dos recém graduados, que chegam às escolas cheios de sonhos e, muitas vezes, são transformados em pesadelos, por inexperiência e pela falta de ação pedagógica de um bom coordenador. 22 É função do coordenador pedagógico, articular e mediar à formação continuada dos professores buscando alternativas para conciliar as atividades de apoio e formação dos professores, considerando todas as novas exigências educacionais (OLIVEIRA, 2009). O coordenador pedagógico deve mobilizar os diferentes saberes dos profissionais que atuam na escola para levar os alunos ao aprendizado. Freire (1982) defende essa ideia ao descrever que o coordenador pedagógico é, primeiramente, um educador e como tal deve estar atento ao caráter pedagógico das relações de aprendizagem no interior da escola. Ele leva os professores a resinificarem suas práticas, resgatando a autonomia docente sem se desconsiderar a importância do trabalho coletivo. O coordenador é, sem dúvida, um agente muito importante na formação dos docentes, por isso, é fundamental uma mudança na prática e no processo de apoio pedagógico aos professores. Nessa perspectiva de mudança de uma nova proposta de coordenação pedagógica, nota-se que as decisões não cabem apenas ao coordenador, mas a equipe escolar em geral, buscar de forma coletiva, entre todos os segmentos profissionais no ambiente escolar, a resolução dos problemas, os desafios diários, visando, assim, à participação e aperfeiçoamento permanente de todos os educadores (OLIVEIRA, 2009). Os estudos de Alarcão (2004, p. 28), com referência à concepção e à prática do coordenador pedagógico no processo de formação dos educadores, sugerem que: O acesso à formação é atingido pela verbalização do pensamento reflexivo e pelo construtivo entre os professores e os supervisores. Tal abordagem implica a análise do discurso dos professores em situação de ensino, reveladora de suas filosofias de ensino e do modo como a sua atuação é, ou não, congruente com a filosofia. O objetivo do coordenador pedagógico é oferecer subsídios para ajudar seus professores a entender melhor sua prática e dificuldades encontradas no dia a dia escolar, além de ser um forte articulador na educação continuada dos mesmos. Ao possibilitar a articulação dos conhecimentos, o coordenador pedagógico abrirá oportunidades para que seus professores façam uma reflexão das suas ações, além de conduzi-los a terem um olhar mais profundo sobre o contexto escolar onde atuam (OLIVEIRA, 2009). 23 A reflexão sobre a prática é o ponto inicial para os professores buscarem o aperfeiçoamento educacional juntamente com a contribuição do coordenador pedagógico, na busca de novos rumos pedagógicos. Entretanto, mesmo diante das teorias que afirmam a contribuição do coordenador pedagógico frente a seus professores, não podemos esquecer os problemas e as complexidades que esse profissional encontra por diversos motivos. Por não existir fórmulas prontas a serem reproduzidas, é que o coordenador pedagógico e demais profissionais da educação devem buscar, sistematicamente, uma formação continuada para tentarem solucionar de forma adequada os problemas que surgem no contexto escolar. Salientamos que para haver a mudança, a adequação pedagógica, e também o próprio professor deve reconhecer a deficiência em alguns atos educativos, fazer uma reflexão, e a partir desse momento buscar uma educação continuada que lhe forneça subsídios para melhorar sua prática profissional. O trabalho de formação continuada, realizado de forma coletiva, distribui a todos os envolvidos no processo, as responsabilidades tanto pelo sucesso como pelo fracasso. Oliveira (2009, p. 36) denota que: Nesse processo, a atuação desse educador escolar, não mais “o especialista’’, detentor de habilidades especiais de educação, que supervisiona e controla o fazer do professor, mas aquele que busca apoio e dinamiza as ações pedagógicas pensadas coletivamente, assume um papel de relevância no processo educacional atual, pois, como o coordenador das atividades pedagógicas, tem a função de desencadear, articular e dinamizar o processo educacional escolar sem, contudo, ser o único responsável pelo caminhar de tal processo, uma vez que toda a responsabilidade são divididas, assumidas, integralmente, por todos os participantes. Por trás dessa expectativa, encontramos a ideia de que uma nova escola só será mais eficiente se for capaz de ensinar, através da formação continuada de seus professores, uma prática educativa voltada para o sucesso do aluno e, consequentemente, de toda a escola, gerando eficiência e autonomia. É nesse contexto, que o coordenador pedagógico está inserido, pois uma das principais atribuições desse profissional está diretamente associada ao processo de formação continuada de seus professores. A formação continuada faz parte de uma 24 busca sistemática de conhecimentos, de capacidades de reflexões das práticas pedagógicas dos educadores envolvidos em um contexto educacional. Por isso, de nada adianta o coordenador pedagógico trabalhar em busca de uma qualidade profissional, se os demais não participarem dessa ação efetiva no resgate de uma educação de qualidade. Esta não é uma tarefa fácil, visto que a maioria dos professores tem jornada dupla ou tripla, devido à desvalorização salarial e não sobra muito tempo para as reflexões tão necessárias e significativas. Além da assistência ao grupo de professores, o coordenador pedagógico busca integrar a comunidade em geral em todos os aspectos relacionados à qualidade e melhoria do ambiente escolar. Seu papel e suas atribuições vão além do que muitos conhecem e dizem. O planejamento participativo, atualmente, é mais que importante para o contexto escolar, pois se fala tanto numa escola participativa, democrática e coletiva, e é na hora do mesmo, que percebemos que esse compromisso por parte de muitos profissionais fica a desejar. Ele é “[...] acima de tudo, uma intervenção na realidade, como processo de participação social e de construção de uma nova ordemsocial. [...] a partir e em função de uma ideia que quer atingir, vai, aos poucos, interferindo na transformação e reconstrução do micro sociedade” (DALMÁS, 1994, p. 36). As participações conscientes e ativas dos educadores tornam o processo educativo mais eficaz e democrático, dando a cada indivíduo a liberdade e responsabilidade das ações e atos perante o meio em que está participando, visto que: A participação do maior número, no máximo de responsabilidade, não é somente uma garantia de eficácia; ela é também uma condição de felicidade individual, uma tomada de poder cotidiano sobre a sociedade e sobre as coisas, uma forma de influir livremente sobre o destino. Não se trata mais para o cidadão delegar seus poderes, mas de exercê-los, em todos os níveis da vida social e em todas as etapas da vida (FAURE, 1997, Apud DALMÁS, 1994, p. 19). No planejamento, devemos ter um apoio pedagógico, que busque ajudar os demais profissionais a entenderem sua importância e relevância na elaboração do mesmo, pois, essa tarefa não cabe apenas ao gestor e ao coordenador da escola. Como salienta Gandin (2004), ao coordenador pedagógico compete à proposta da metodologia do planejamento, à apresentação de um esquema de trabalho que facilite 25 a mediação entre os indivíduos. Não cabe ao coordenador tomar as decisões, mas o grupo em si buscar os melhores caminhos quanto ao conteúdo a ao método de sua ação, isto é, de seus planos. Na construção de um planejamento na escola, Vianna (1986, p. 31) aponta dois riscos, a que esse tipo de planejamento está sujeito, e os quais se deve estar atento: “O primeiro refere-se à assessoria, que poderia, antes, durante e após o processo, agir em função da vivência pessoal, manipulando os interesses da maioria comunitária determinando o que fazer, como, quando, e por que decidir agir”. Já o segundo, que a coordenação utiliza, muitas vezes, a informação e comunicação para manipular os demais participantes, convencendo-os de aceitar seus projetos, criando assim uma falsa participação dos demais profissionais da escola (VIANNA, 1986). Infelizmente, essa realidade se faz presente no nosso contexto escolar. Muito se fala da participação de todos no planejamento, mas na hora da prática isso ainda não acontece, na maioria das vezes esse planejamento é feito apenas pelo coordenador pedagógico e gestor da escola, e só depois de pronto, é repassado para os professores. As atitudes vivenciadas nos contextos escolares devem ser mudadas, pois só assim teremos uma escola politicamente democrática e participativa, onde todos têm direito de falar, de expor suas ideias e necessidades para a construção desse planejamento pedagógico. Organização do Trabalho Escolar é compreendida como a racionalização de recursos humanos, físicos, materiais, financeiros, ou seja, os meios pelos quais se asseguram a efetividade dos processos de ensino e aprendizagem, criando e viabilizando as condições e modos para se realizar o que foi planejado. Para que seja realizado o que foi discutido e planejado é necessário que haja uma conscientização por parte dos membros envolvidos nos processos da escola e o Conselho escolar tem papel decisivo em tudo isso. O Conselho Escolar deve ser a garantia da democratização da escola, na medida em que deve reunir todos os segmentos da comunidade escolar para discutir, definir e 26 acompanhar o desenvolvimento do que foi planejado, bem como de todas as ações desenvolvidas dentro da escola, resumidamente pode-se dizer que dependerá desses princípios coletivos de participação na execução do processo de ensino ? aprendizagem, para que a escola desempenhe realmente sua função social que é o desenvolvimento pleno do aluno. Com o Conselho Escolar, a gestão passa a ser uma gestão colegiada, em que os diferentes segmentos escolares e a comunidade local se congregam para juntos construírem uma educação de qualidade e socialmente relevante. Para que o Conselho funcione é necessário que todos os segmentos se unam no propósito de fazer valer a voz coletiva da escola, no entanto o que é visto nas escolas são resquícios de uma política educacional Taylor-fordista que é baseada no modo de produção e que mantém o controle do trabalho através do controle das decisões que são tomadas durante a realização deste trabalho. Esse modelo de produção atende aos interesses do Capitalismo, visto que a produção e o lucro é o objetivo pré- estabelecido. Isso pode se instituir dentro das escolas, à medida que seja comum que os profissionais nem saibam exatamente por que estão fazendo ou que o objetivo maior de uma escola seja o desenvolvimento pleno do aluno, mas que precisam cumprir suas tarefas para darem somente uma satisfação ao gestor. Este fenômeno foi e ainda é identificado através de ações e intenções educativas que privilegiam a dualidade entre o fazer e o pensar. Onde o objetivo principal são números e não a real aprendizagem dos alunos. Essa aprendizagem deve estar ligada ao pleno desenvolvimento dos alunos cidadãos e também às profundas modificações que têm ocorrido no mundo do trabalho, pois trazem novos desafios para a educação. O capitalismo vive um novo padrão de acumulação decorrente da globalização da economia e da reestruturação produtiva. O que significa dizer que as ações e as intenções formativas são planejadas ou desativadas conforme as exigências da sociedade vigente. Os projetos, os programas, a organização curricular e a organização do trabalho escolar mantêm relação direta com a dinâmica sociocultural e com as suas representações legitimadas pelo Estado. Além dessas questões, as mudanças na organização escolar geram mudanças também na divisão do trabalho na escola, na extinção de algumas rotinas e criação de outras, na substituição de hierarquias, pelo menos aquelas que não põem em risco o sustentáculo ou os fins das mesmas. Tudo isso na tentativa de estabelecer novos 27 procedimentos profissionais coerentes com as demandas sociais dessa nova época, onde os gestores privilegiem mais o trabalho coletivo e menos as hierarquias. A própria legislação brasileira, desde a Constituição Federal de 1988 no seu artigo 206 e a LDB 9394/96 nos seus artigos 12, 13, 14 e 15 incumbem os estabelecimentos de ensino, juntamente com seus segmentos de elaborarem e executarem sua proposta pedagógica dentro de princípios de uma gestão democrática e ainda de articularem-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola. Para isto, a lei exige que os profissionais da escola participem da elaboração da proposta pedagógica (PPP) do estabelecimento de ensino. Então o que falta para que isso realmente seja cumprido pelos gestores e cobrado pelos outros segmentos da escola? Atitude de mudança e transformação, só assim teremos uma escola democrática e consciente de sua função, onde todos trabalham unidos e em prol de um único objetivo que a formação plena do aluno para que ocupe sua posição na sociedade. Quando se fala em proposta pedagógica se fala também em PLANEJAMENTO que é um processo contínuo de conhecimento e análise da realidade escolar em suas condições concretas, de busca de alternativas para a solução de problemas e de tomada de decisões possibilitando a revisão dos planos e projetos, a correção no rumo das ações certas. Por esse motivo auxilia de forma positiva na transformação da escola quando construído, conduzido e avaliado de forma democrática. A participação caracteriza-se pela atuação consciente das pessoas e pela expressão na qual os sujeitos se sentem valorizados e convidados a questionar ou exercer influências em determinadas situações, para resolver problemas ou para manter situações positivas na escola, só quando a participação realmente se instalar nas escolas é que acontecerá de fato a democratização da mesma.As leis ressaltados, ainda, elementos e instrumentos compatíveis ou necessários ao planejamento e implementação da gestão democrática. A ação colegiada, a autonomia, a descentralização das decisões e o trabalho coletivo são mecanismos e princípios comuns apresentados por estas leis. Segundo elas, estes mecanismos e princípios são meios de assegurar espaços democráticos e promover a qualidade das ações desenvolvidas nestes espaços. Assim cabe ao gestor e aos outros segmentos da escola conhecer a lei e executá-la de forma a transformar a escola em um ambiente participativo e dinâmico. A gestão democrática pressupõe a participação, o trabalho associado de pessoas 28 analisando situações, decidindo sobre seus encaminhamentos e agindo sobre elas, compartilhadamente. Essas devem ser características do encaminhamento de construção e avaliação do Projeto Político Pedagógico (PPP), se não for nesse ambiente de participação e coletividade ele não será caracterizado como democrático e emancipatório e terá um caráter regulador, o que não atende à gestão democrática. O conceito de gestão está associado à mobilização de talentos e esforços coletivos, à ação democrática da organização e de seus membros mediante a reciprocidade que cria um "todo" orientado por uma vontade coletiva. Por essa razão a postura assumida pelo gestor deve ser de abrir canais que viabilizem a responsabilização dos agentes internos e externos responsáveis pelo ensino-aprendizagem, pela construção do espaço e pela utilização de procedimentos legitimadores da ação coletiva. A construção de um projeto educativo coletivo constitui a identidade de cada Escola e é, sem dúvida, o instrumento primordial que permite uma gestão democrática. Como afirma Libâneo (2001, p.145). A participação da comunidade escolar deve ser encarada como verdadeira socialização do processo de decisão, em que seja garantida a participação de seus elementos constitutivos e de todos que, direta ou indiretamente contribuem para a efetivação do processo ensino-aprendizagem. A delegação e a descentralização do poder são fundamentais como instrumentos e pressupostos para o exercício da autonomia na escola, assim como a valorização do papel dos diferentes sujeitos e do contexto histórico-social de suas ações. Diante das colocações pode-se conceituar o Projeto Político-Pedagógico sob duas perspectivas uma regulatória e outra emancipatória e é a consciência crítica de seus elaboradores que definirá sua função na escola. A escola que pretende ser realmente democrática precisa definir uma organização do seu trabalho pautada nos pressupostos de docentes mais capacitados e comprometidos com a educação de qualidade no sentido sócio democrático; direção, supervisão ou coordenação democrática e atuante, como educadores da coletividade; composição de turmas, turnos e horários em consonância com critérios pedagógicos que favoreçam a aprendizagem e sucesso de alunos; criação de espaços para a formação continuada e em serviço; acompanhamento didático-pedagógico constante aos docentes e demais sujeitos responsáveis pela formação; proposições de ações para superação de problemas diagnosticados na escola, como por exemplo, a evasão, a repetência, o desinteresse, as dificuldades de aprendizagem, as 29 dificuldades de relacionamentos interpessoais e de condições infra estruturais e profissionais. Quando os que compõem a escola tiverem consciência de todos esses entraves competência e força de superação, parte do caminho estará trilhado e uma escola mais justa e democrática será uma possibilidade real. 5 - ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E OS FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO O planejamento é um processo de sistematização e organização das ações do professor. É um instrumento da racionalização do trabalho pedagógico que articula a atividade escolar com os conteúdos do contexto social (LIBÂNEO, 1991). O ato de planejar está presente em todos os momentos da vida humana. 30 A todo o momento as pessoas são obrigadas a planejar, a tomar decisões que, em alguns momentos, são definidas a partir de improvisações; em outros, são decididas partindo de ações previamente organizadas (KENSKI, 1995). • O significado do termo ‘planejamento’ é muito ambíguo, mas no seu uso trivial ele compreende a ideia de que sem um mínimo de conhecimento das condições existentes numa determinada situação e sem um esforço de previsões das alterações possíveis desta situação nenhuma ação de mudança será eficaz e eficiente, ainda que haja clareza dos objetivos dessa ação. Nesse sentido trivial, qualquer indivíduo razoavelmente equilibrado é um planejador [...]. Não há uma ‘ciência do planejamento’ nem mesmo há métodos de planejamentos gerais e abstratos que possam ser aplicados a tantas variedades de situações sociais e educacionais principalmente se considerarmos a natureza política, histórica, cultural, econômica etc. (AZANHA, 1993, p. 70-78). • Planejamento é um processo de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, na busca da melhoria do funcionamento do sistema educacional. Como processo o planejamento não corre em um momento do ano, mas a cada dia. A realidade educacional é dinâmica. Os problemas, as reivindicações não têm hora nem lugar para se manifestarem. Assim, decide-se a cada dia a cada hora (SOBRINHO, 1994, p.3). • Planejamento é um “processo de tomada de decisão sobre uma ação. Processo que num planejamento coletivo (que é nossa meta) envolve busca de informações, elaboração de propostas, encontro de discussões, reunião de decisão, avaliação permanente” (MST, 1995, p.5). • Planejamento é processo de reflexão, de tomada de decisão [...] enquanto processo, ele é permanente (VASCONCELOS, 1995, p.43). Em síntese, o planejamento é uma tomada de decisão sistematizada, racionalmente organizada sobre a educação, o educando, o ensino, o educador, as matérias, as disciplinas, os conteúdos, os métodos e técnicas de ensino, a organização administrativa da escola e sobre a comunidade escolar. O planejamento da educação é composto por diferentes níveis de organização. Assim, podemos pensar em nível macro no Planejamento do Sistema de Educação, 31 que corresponde ao planejamento da educação em âmbito nacional, estadual e municipal. Este planejamento elabora, incorpora e reflete as políticas educacionais. O planejamento global da escola corresponde às ações sobre o funcionamento administrativo e pedagógico da escola; para tanto, este planejamento necessita da participação em conjunto da comunidade escolar. Nos dias atuais, em que o trabalho pedagógico tem sido solicitado em forma de projeto, o planejamento escolar pode estar contido no Projeto Político Pedagógico – PPP, ou no Plano de Desenvolvimento Escolar – PDE. O planejamento curricular é a organização da dinâmica escolar. É um instrumento que sistematiza as ações escolares do espaço físico às avaliações da aprendizagem. O planejamento de ensino envolve a organização das ações dos educadores durante o processo de ensino, integrando professores, coordenadores e alunos na elaboração de uma proposta de ensino, que será projetada para o ano letivo e constantemente avaliada. O planejamento de aula organiza ações referentes ao trabalho na sala de aula. É o que o professor prepara para o desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos coerentemente articulado com o planejamento curricular, com o planejamento escolar e com o planejamento de ensino. 32 5.1 - PLANEJAMENTO E AÇÃO PEDAGÓGICA: DIMENSÕES TÉCNICAS E POLÍTICAS DO PLANEJAMENTO Todo planejamento deve retratar a prática pedagógica da escola e do professor. No entanto, a história da educação brasileira tem demonstrado que o planejamentoeducacional tem sido uma prática desvinculada da realidade social, marcada por uma ação mecânica, repetitiva e burocrática, contribuindo pouco para mudanças na qualidade da educação escolar. Por isso, caro(a) aluno(a), ao estudar esta unidade, reflita sobre a importância do planejamento como uma prática crítica e transformadora do pedagogo; por isso, faz-se necessário que você compreenda as duas dimensões que constituem o planejamento: Dimensão política – toda ação humana é eminentemente uma ação política. O planejamento não pode ser uma ação docente encarada como uma atividade neutra, 33 descompromissada e ingênua. Mesmo quando o docente “não” planeja, ele traduz uma escolha política. A ação de planejar é carregada de intencionalidades, por isso, o planejamento deve ser uma ação pedagógica comprometida e consciente. Dimensão técnica – o saber técnico é aquele que permite viabilizar a execução do ensino, é o saber fazer a atividade profissional. No caso da prática do planejamento educacional, o saber técnico determina a competência para organizar as ações que serão desenvolvidas com visando à aprendizagem dos alunos. Cabe ao professor saber fazer, elaborar, organizar a prática docente. Veja, na unidade , o que diz Morin (1999) sobre as quatro aprendizagens fundamentais para alicerçarem o conhecimento. Verifique que a dimensão técnica é a segunda aprendizagem: aprender a fazer - para poder agir sobre o meio envolvente. A dimensão técnica do conhecimento é o aprender do aluno a fazer fazendo. 5.2 - MOMENTOS OU ETAPAS DO PLANEJAMENTO Por ser uma atividade de natureza prática, o planejamento organiza-se em etapas sequenciais, que devem ser rigorosamente respeitadas no ato de planejar: 1.Diagnóstico sincero da realidade concreta dos alunos. Estudo real da escola e a sua relação com todo contexto social que está inserida. 2. Os alunos e os professores possuem uma experiência social e cultural que não pode ser ignorada pelo planejamento. 34 3.Organização do trabalho pedagógico. Nesta etapa os elementos da Didática são sistematizados através de escolhas intencionais. Definição de objetivos a serem alcançados, escolha de conteúdo a serem aprendidos pelos alunos e a seleção das atividades, técnicas de ensino, que serão desenvolvidas para que a aprendizagem dos alunos se efetive. Esse momento representa a organização da metodologia de ensino. 4. Sistematização do processo de avaliação da aprendizagem. Avaliação entendida como um meio, não um fim em si mesma, mas um meio que acompanha todo processo da metodologia de ensino. A avaliação deve diagnosticar, durante a aplicação da metodologia de ensino, como os alunos estão aprendendo e o que aprenderam, para que a tempo, se for necessário, a metodologia mude seus procedimentos didáticos, favorecendo a reelaboração do ensino, tendo em vista a efetiva aprendizagem. Requisitos para o planejamento do ensino Agora que estudamos que o planejamento necessita de um rigor de sistematização das atividades, apresentamos alguns requisitos essenciais para o professor realizar um planejamento justo e coerente com seus alunos. Lembre-se, estes requisitos são saberes adquiridos ao longo da formação de professor, por isso, aproveitem ao máximo cada disciplina, cada conteúdo e cada atividade. • Conhecer em profundidade os conceitos centrais e leis gerais da disciplina, conteúdos básicos, bem como dos seus procedimentos investigativos (e como surgiram historicamente na atividade científica). • Saber avançar das leis gerais para a realidade concreta, entender a complexidade do conhecimento para poder orientar a aprendizagem. • Escolher exemplos concretos e atividades práticas que demonstrem os conceitos e leis gerais, os conteúdos e os assuntos de maneira que todos os entendam. • Iniciar o ensino do assunto pela realidade concreta (objetos, fenômenos, visitas, filmes), para que os alunos formulem relações entre conceitos, ideias- chave, das leis particulares às leis gerais, para chegar aos conceitos científicos mais complexos. 35 • Saber criar problemas e saber orientá-los (situações de aprendizagem mais complexas, com maior grau de incerteza que propiciam em maior medida a iniciativa e a criatividade do aluno). AS CATEGORIAS ESPAÇO/TEMPO NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO A organização do trabalho pedagógico é entendida por Silva e Sordi (2006, p.5) como “o trabalho efetivo desenvolvido na escola, no interior da sala de aula e as ideias e ações que permeiam o projeto político-pedagógico”. Em um estudo crítico da organização do trabalho pedagógico e da didática, Freitas (1994) nos apresenta uma perspectiva de que esses termos estão inter-relacionados de modo que não se pode restringir a didática apenas ao que ocorre em sala de aula já que esta não é algo isolado dos demais espaços e processos que ocorrem no interior da instituição escolar. O referido autor trata a avaliação enquanto uma categoria de análise da OTP. 36 Para fins deste estudo, será realizada uma discussão acerca das diferentes formas de utilização do tempo/espaço na organização do trabalho pedagógico da escola contemporânea. São confrontadas as formas tradicionais de utilização do tempo/espaço no contexto escolar, a exemplo do sistema seriado, com outras propostas críticas e relacionadas a uma perspectiva emancipatória. Para isso, a princípio discorreremos de que modo as categorias espaço/tempo ganharam importância na escola; depois, descreveremos as diferentes perspectivas de utilização do espaço e do tempo na escola contemporânea, discutindo sua aproximação ou distanciamento de uma perspectiva emancipatória de educação. Baseado no materialismo histórico-dialético, neste trabalho o processo educacional é visto como mais que transmissão de conteúdos acadêmicos: envolve trabalho, estudo e atividades políticas e culturais e deve ter como finalidade uma formação integral ou omnilateral do ser humano. Antes, é importante definir o que entendemos por educação emancipatória. Este termo é utilizado por teóricos e pesquisadores de orientação marxista. Apesar de o termo emancipação ser polissêmico, concorda-se com Canielles (2009), que ao estudar seu emprego nas pesquisas em Educação, afirma ser Marx o teórico que o desenvolveu de forma mais consciente e sistematizada. Assim, pode-se encontrar em Marx (2002, p.30), “toda emancipação é uma restituição do mundo humano e das relações humanas ao próprio homem”. Dessa forma, para Marx, “o conceito de emancipação é um processo social, que está estreitamente ligado à liberdade, à luta de classes, e à instauração de um novo modelo social que supere aspectos do modelo vigente. ” (CANIELLES, 2009, p.4). Segundo Hoça (2007), até o início do século XV a escola não dispunha de salas, carteiras e quadros para o ato de ensino. Os mestres disputavam espaços com comerciantes em galerias ou se dispunham em frente às igrejas para passar as lições aos seus alunos. As situações mais privilegiadas eram salas alugadas pelos mestres e forradas com palha para abrigarem os alunos. 37 O conceito de classe surge ainda nesse século com a divisão dos alunos em grupos conforme a avaliação de suas capacidades pelo mestre. Posteriormente é atribuído um professor para cada grupo, porém, todos compartilham ainda o mesmo espaço. Esta nova reorganização originou a necessidade de um método único para atender à divisão do trabalho e dos alunos, que passaram a ser separados por idades. “Assim, o tempo/espaço na instituição escolar tomou forma nos métodos, nos procedimentos didáticos, na organização dos conteúdos, horários, calendários, na organização da classe, e do ambiente como um todo. ” (HOÇA, 2007, p.25). O surgimento da organização do processo educacional em um determinado lugar durantedeterminado tempo, nos moldes do que temos hoje, é produto da modernidade, orientado pelas concepções de espaço e de tempo que surgiram a partir do predomínio da ciência moderna sobre as concepções medievais. (GOERGEN, 2005) Segundo este autor, as transformações no campo das ciências naturais, que marcou a modernidade, também tiveram reflexo na Educação, principalmente por meio do trabalho de Comenius. A modernidade faz uma ruptura com a cosmovisão medieval que tinha caráter marcadamente teológico. Se na época medieval predominava o argumento de autoridade dos pais da igreja, da Bíblia e todo conhecimento era possível apenas pela iluminação divina, na modernidade isso começa a ser questionado. Começa-se a buscar uma ordem natural das coisas que poderia ser explicada mediante o uso da razão. Em relação às noções de espaço e tempo, o pensamento medieval considere espaços e tempos diferenciados: Por um lado, há um tempo e um espaço no qual ocorre a história vivida por seres mortais e pecadores, cuja existência encontra-se impregnada de agruras e dificuldades; nesse tempo de sofrimento e nesse lugar de pesar e dor, a graça se manifesta enquanto possibilidade de redenção e de conversão. Para estes escolhidos que se deixam tocar pela graça divina, a vida “durante a vida” passa a ter sentido como preparação para a “vida após a morte”. Essa “vida após a morte” ocorre num tempo novo e num novo espaço. (HANSEN, 2000, p.56). Ao deslocar para as leis da natureza a explicação dos fenômenos, o homem vai se distanciando dessa perspectiva teológica e vai construindo um conhecimento secularizado. 38 Isso tem consequências sobre as concepções de espaço e de tempo. A física newtoniana e de Galileu modificam o modo como se concebe o espaço e o tempo. Conforme escreve Goergen (2005, p.5): A preocupação central de Galilei estava voltada para o movimento, mas não para o porquê do movimento como muitos filósofos anteriores haviam feito, mas para a análise do como do movimento pelo método da matemática. Esta visão matemática de como acontece o movimento coloca inevitavelmente em evidência os conceitos de espaço e tempo. Esta ordem do mundo que pode ser conhecida pela razão e descrita pela matemática passa a ser o paradigma científico da época. O universo é visto como um grande relógio, com seus movimentos concatenados no espaço e no tempo. Segundo Goergen (2005), Comenius, mesmo estando na transição entre o pensamento medieval e o moderno, transferiu para o campo educacional o método das ciências naturais, considerando que “para realizar as tarefas educativas com mais eficiência e agilidade, era preciso seguir os passos da ciência, ou seja, conquistar e dominar o espaço e o tempo”. Isso se refletiu da seguinte forma: As críticas de Comenius à escola medieval se fundam, portanto, na nova e fundamental descoberta da ordem da natureza que a partir daquele momento passa a dominar tudo. Os conteúdos, os ritmos e os espaços, as divisões e as durações, tudo deve ser inspirado no modelo que a natureza oferece. Há momentos e lugares certos para tudo, pois não se pode abarrotar as mentes dos alunos com muitos conhecimentos ao mesmo tempo. Depois de longas considerações, e já na parte final de sua Didática Magna, Comenius chega à conclusão de que “será oportuno dividir o currículo desses seis anos em seis classes, quais sejam, começando-se pela primeira: gramática, física, matemática, ética, dialética, retórica” (DM: 345) e que “as quatro horas de escola previstas sejam assim repartidas: nas duas horas matutinas (...) deve ser ensinada a ciência ou a arte que dá nome à classe; à tarde, ocupe-se com história a primeira hora e com exercícios escritos, orais ou manuais a segunda, segundo a exigência de cada classe”. (GOERGEN, 2005, p.6). 39 Ao longo do tempo, pensadores como Rousseau, Dewey e muitos outros se preocuparam em pensar o processo educacional em que se enfatizava a importância de uma educação relacionada à vida dos educandos e não meramente reprodução de conteúdo decorados. (HOÇA,2007). A organização do trabalho pedagógico, especificamente relacionada aos usos do tempo e do espaço escolar, sofreu influência dessas perspectivas educacionais e também do contexto histórico, social e econômico mais amplo. Assim, a escola está inserida em determinado espaço social que sofre modificações de acordo com o tempo histórico. A partir do surgimento do capitalismo, o espaço e a divisão do tempo escolar passou a reproduzir os usos do espaço/tempo neste modo de produção. Modificam-se as concepções e finalidades de Educação e isso interfere diretamente na organização do trabalho pedagógico. Segundo Freitas (2004), o modo como a escolar se configura atualmente (a “forma escola”) é o resultado da concretização de uma visão de mundo e de educação predominantes. Se for analisado ingenuamente, pode ser tomado como um espaço projetado para receber as novas gerações e transmitir o conhecimento acumulado, um espaço neutro. Porém, segundo o referido autor, os espaços escolares “instituem relações entre aqueles que os habitam. São campos de poder assimetricamente constituídos no interior de uma sociedade de desiguais”. (FREITAS, 2004, p.1). Dessa forma, uma análise mais refinada e crítica nos permite constatar que o modo como são organizados o tempo e o espaço na escola contribui para a sua principal função na sociedade atual: a subordinação. Segundo Freitas (2010, p. 91), “A subordinação é uma das funções sociais que a escola tem para adequar os estudantes ao poder escolar, na forma como ele se institui na escola atual”. Além disso, o autor afirma que a forma escola atual produz conformidade com o sistema capitalista e não produz pensamento crítico sobre o mesmo. Isso ocorre mediante o isolamento da juventude no interior da escola, o descolamento entre escola e vida. 40 Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que a escola reproduz em seu interior as relações de subordinação e adequação, procura ocultar as contradições existentes em seu entorno. O tempo e espaço escolar são programados de modo a produzir tal ocultação, o que impede, na maioria das vezes, que os alunos se posicionem e assumam uma postura de luta pela superação das contradições. Isso se exemplifica com o fato de atualmente a escola ser vista como preparação para o ingresso no ensino superior e também no mercado de trabalho. Dessa forma, transmite-se aos estudantes a mentalidade de que se eles aproveitarem seu tempo de juventude estudando determinados conteúdos, durante o tempo que passarem na escola, terão condições de alcançar “um lugar ao sol” no competitivo mercado de trabalho. Vende-se a ilusão de que todos aqueles que se preparam terão a chance de obter um bom emprego e assim adquirir “poder de compra”. Para isso, basta ocupar seu tempo estudando todos os conteúdos. Dessa forma, a pressão pelo cumprimento dos conteúdos a serem dados no ano letivo, não deixa espaço para outras atividades que envolvam formação política e experiências de formação de pensamento crítico. O espaço fica limitado à sala de aula (e laboratórios em escolas de melhor estrutura), dentro do rígido tempo dos horários das diversas matérias. Assim, uma das formas de se realizar isso é submeter os estudantes a modos predefinidos de ocupação do espaço e utilização do tempo, sem que isso seja discutido com eles. Dessa forma, existem espaços que os alunos podem e não podem frequentar momentos programados para estudar, brincar, entre outros. A rotina da escola passa a reproduzir as relações sociais do contexto social mais amplo. Tudo passa a ser naturalizado e há pouco espaço para contestação. Freitas (2004, p.1) escreve que “nada é tão demarcado na forma escola atual como seus tempos. Instituí-los implicou em decisões igualmente orientadas por uma visão de mundo e por concepções
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