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(santo) Agostinho de Hipona

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Agostinho de Hipona
Objetivo do resumo: analisar Agostinho de Hipona a partir do livro Corpo e Sociedade de Peter Brown, de 1990, expondo e relacionando a visão do bispo sobre corpo, sexualidade, casamento e celibato, a sua própria vida, contexto social e histórico, assim, buscando entender os pensamentos agostinianos a respeito desses temas – que foram debatidos em aula – e como isso reflete nas suas obras, nas temáticas que ele aborda, vivência e, por fim, na sua relação com a Igreja.
Vida
Agostinho nasceu no ano de 354 d.C. na África, sua mãe, Mônica, era cristã convicta e seu pai, Patrício, era pagão. Agostinho foi um importante teólogo do cristianismo primitivo, e sua relação com corpo, espiritualidade e sexualidade é amplamente estudada, principalmente devido ao fato que é o único dos membros da Igreja Primitiva que tem sua atividade sexual documentada e que resultou nas suas Confissões de 397. Aos dezessete anos ele vai para Cartago, continuar sua educação e é onde se interessa em filosofia por meio de obras de Cícero.
Sua imagem em relação à sexualidade de forma geral, mas principalmente a sua própria, foi marcada por um profundo ressentimento e desejo de ter se mantido afastado do amor sexual, desejando ter sido casto desde moço. É dessa maneira que posteriormente ele vai ver até o casamento sob uma ótica pesarosa.
Seu único relacionamento duradouro se iniciou em 372, quando tinha dezoito anos e era recém-chegado em Cartago. Ele conheceu uma mulher com a qual viveu treze anos, sendo ela sua concubina e que resultou em um filho. Agostinho foi fiel ao relacionamento enquanto eles estiveram juntos. Apesar de sua mãe o advertir contra o contato sexual, não havia uma intenção inicial de que ele se casasse, porque era o único da família a receber educação intensiva e seu talento não podia ficar refém de um casamento arranjado com uma mulher de seu grupo. Dessa forma, ele era profundamente ligado a um circulo de jovens carreiristas. Porém, ao contrário de seus amigos, Agostinho gostava de dormir com mulheres e então optou pela segunda opção que possibilitava essa interação, o concubinato – que era um tipo de relação comum a jovens intelectuais e aceita como válida até mesmo para os cristãos. A intenção desse tipo de contato era inteiramente sexual, sendo que não havia a intenção de gerar filhos, ou seja, Agostino dormia com sua concubina porque gostava – e provavelmente fazia uso de métodos contraceptivos já que em treze anos teve apenas um filho.
Mesmo tendo sido criado numa doutrina cristã, Agostinho torna-se auditor da igreja de Mani, ou seja, ele era ouvinte e tratava com reverência os Eleitos maniqueístas (membros que praticavam uma rigorosa doutrina ascética), inclinando-se para receber suas bênçãos e levando alimentos a eles. Apesar de nunca ter se tornado parte do círculo de Eleitos, ele presenciava as doutrinas de uma seita radical, e como auditor maniqueísta, o sexo era visto como algo antiético, assim como a sociedade, já que gerar prole colaborava com o crescimento do Reino das Trevas, sendo que apenas com os Eleitos, seria possível encontrar harmonia e liberdade da matéria.
Para os maniqueístas o sexo não podia ser sem culpa, toda atividade sexual que resultava numa gestação contribuía para as Trevas. E a relação que Agostinho possuía com sua concubina não era mais julgada por eles que um casamento comum, porque na visão maniqueísta, o resultado era o mesmo que o de um casamento. O maniqueísmo considerava Agostinho escravizado pelo mundo a sua carne e não se podia esperar que ele conseguisse abandonar o sexo como mero auditor, apesar de sua relação ser aceita, já que na religião, apenas o círculo de Eleitos segue a doutrina de se privar do sexo, os ouvintes, praticavam atos sexuais, desde que eles não resultassem em procriação.
Em 384 ele quase aceita proposta de escolher uma aliança feita pelo casamento legítimo, com uma família católica milanesa, que vai lhe oferecer acesso a classe governante do Império Ocidental e que era íntima de Ambrósio. A esposa oferecida tinha apenas dez anos no período da proposta, e ele tem dois anos de espera para que ela estivesse numa idade considerada apropriada para o casamento. Essa aliança entre as famílias, poderia trazer a ele acesso ao governo das províncias, ou seja, ao grupo governante imperial e a uma fortuna.
No entanto, Agostinho começa a entrar em maior contato com os sermões sobrenaturais de Ambrósio e de leituras neoplatônicas (obras de Plotino e Porfírio), tendo assim, uma ligação direta com as alegrias do espírito de forma que os prazeres físicos lhe pareciam repugnantes e sombrios. Agostinho já mostrava por volta dos seus vinte anos esse início de desprendimento ao carnal e valorização do espírito.
Logo, em 386, ele recebe esse toque de espiritualidade que leva Agostinho a se distanciar desse futuro convencional de homem casado, rejeitando a proposta de casamento. Durante esse período, ele já havia se afastado do maniqueísmo, porque a religião não havia se mostrado satisfatória ao responder as perguntas as quais Agostinho possuía. Para sua conversão ao cristianismo, ele teve contato com Ambrósio, os dois se tornando íntimos, e com a história de Santo Antônio e as histórias dos povoados desérticos do Egito, através dos seus amigos. Concluindo seu processo de conversão, Agostinho relata ter ouvido uma voz infantil que o pedia para ler a bíblia. Sendo assim, Ambrósio o batiza e ele retorna a África no mesmo ano.
Sua conversão foi uma experiência grupal, de acordo com Peter Brown, sendo que um grupo de seus amigos também se tornaram convertidos.
A partir de então, sua relação com o corpo, casamento e sexualidade constrói-se com um discurso amplamente marcado pela perspectiva de bem e mal e com o pesar do seu passado. Sendo que até o casamento católico começou a parecer repugnante a ele, e sua vida foi marcada com esse pesar de não ter se mantido casto desde moço.
Em seu retorno para a África, Agostinho tinha a intenção de ser monge, tendo diversos sermões associados a ele, e combatendo abertamente o maniqueísmo, a religião da qual ele previamente fazia parte. No entanto, em 95 ele se torna assessor do bispo de Hipona, e foi eleito bispo pela comunidade pouco tempo depois.
Era bastante comparado a Jerônimo e Ambrósio, porém, ao contrário desses, seu universo era majoritariamente masculino, sempre acompanhado de outros homens ao falar com mulheres, não permitia mulheres que eram suas parentas no palácio bispal e era rigoroso consigo e seus clero em relação à abstinência sexual. No entanto, apesar do seu rigor consigo mesmo, não era alarmista, e não se preocupava de forma generalizada com o celibato. Isso ocorria porque as igrejas na África se diferenciavam muito das na Itália, em especial em Milão. No caso africano, qualquer um que pudesse se disponibilizar a ser monge, era aceito – mesmo que fosse casado, porque o contingente de voluntários era pequeno para um amplo território. Assim, Agostinho aceitava o homem e pregava que se fosse mesmo seu destino, ele seria tocado e viraria celibatário.
Como as prioridades da África e de Milão eram diferentes, para Agostinho, o martírio sempre foi mais importante que a virgindade, sendo o cume mais alto da devoção humana a superação do medo da morte, recebendo a maior graça divina. Na região de Agostinho, o martírio era extremamente valorizado, dessa maneira, sua visão foi influenciada. Muitas mártires africanas haviam sido casadas e mães, por isso ele escreve as freiras africanas para não desdenharem das mulheres casadas, diferente de Jerônimo que acreditava que o sangue do martírio mal conseguia varrer a imundice do casamento.
Em 400 ele já não era mais tão áspero quanto nos primeiros anos de sua conversão em relação às coisas materiais, e à medida que os anos vão se passando, Agostinho vai adaptando alguns aspectos de seu pensamento.
Ele inicia escrevendo em Comentário Literal sobre o Gênesis (produzido de 401 a 416) que o casamento e a criação da família só acontecer porque houve um declíniode Adão e Eva do Paraíso, ou seja, foi um deslize, que resultou nessa natureza física, que era marcada pela morte e muito mais carnal. A família, o casamento e, dentro dele a relação sexual, não eram naturais a condição inicial humana, surgiram posteriormente e por consequência, estavam fadas a desaparecer. Ambrósio e Jerônimo também tinham uma abordagem similar à de Agostinho. Aproximadamente a partir de 400 para frente, ele escreveu sobre Adão e Eva como seres humanos físicos, que tinham as mesmas características e desejos sexuais que nós, e que deus concedeu a amizade entre eles, por isso eram harmônicos. Sua função no paraíso era formar o populus, o que exigia contato entre eles, ou seja, relações físicas, parto e criação dos filhos. Acreditava que isso exigia hierarquia entre eles, onde a mulher era submetida ao homem, e também defendia a autoridade parental.
Também é próximo a esse período que Agostinho vai tentar se distanciar da narrativa de Jerônimo sobre o casamento porque a população africana não aceitava muito bem a ideia de virgindade e que o casamento não era bem visto. Lá as representações dos sarcófagos de Adão e Eva apareciam com as mãos direitas entrelaçadas, o que representava um casamento bom e harmonioso na concepção romana, ou seja, o casamento e a reprodução era vista sob uma ótica positiva. Agostinho achava que os adeptos ao celibato só conseguiam pregar sua visão, falando mal do casamento – o que podia gerar um certo afastamento da religião e dificuldade de conversão, por exemplo: colocar o celibato como um dogma generalizado da Igreja, além de afastar a população que já era casada, interrompia alguns arranjos políticos locais e talvez ainda afastasse jovens que tinham interesse na religião. Então era preciso dizer aos cristãos católicos que o casamento cristão não era apenas algo a se lamentar.
Em sua obra Do Bem Conjugal e Da Santa Virgindade, ele aceita o desafio de defender o casamento e a virgindade os tornando sociais, sendo as duas apenas etapas que eram sucessivas a harmonia humana. Para englobar essa visão, propôs que o casamento podia assumir duas formas: deveria se tratar de uma amizade entre o casal, que se pudesse, se mantivesse com uma relação de afeto, sem o amor relacionado ao sexual, sendo assim casto, como a relação de Paulino de Nola e sua esposa Terasia. Mas que se não fosse para manter a castidade, que as relações físicas fossem usadas para procriação apenas. A relação sexual era secundária a amizade. Ele repreende Ecdícia, uma mulher da aristocracia por ter vestido trajes de viúva já que ela e seu marido não tinham mais contato íntimo, ele estava morto para ela. Essa ação alarmou Agostinho, que a escreveu alertando que a harmonia do lar era a essência do casamento cristão e não o vinculo sexual, o companheirismo é que valia mais a pena.
Essa relação marcada pelo companheirismo e não pelo carnal, foi apresentada por ele como sendo a de Adão e Eva, porque eles apesar das relações sexuais (para povoamento do mundo) e do contato físico e íntimo, tinha essa amizade como o elemento marcante entre os dois. Era rígido ao dizer que Eva não havia usado da sedução para fazer com que Adão comesse do fruto e que ele comera por ser benevolente, pela vontade de compartilhar um momento com sua companheira. Apesar dos dois terem essa relação amigável, Agostinho ressalta que a presença feminina leva o homem a querer ter contato íntimo, ter filhos, ou seja, que era uma presença estimulante.
A amizade foi um ponto importante para Agostinho, de forma que ele considerava muito o grupo de amigos que tinha – antes mesmo da conversão – principalmente um companheiro de estudo e conhecido de infância, em que ele dizia que trocar gentilezas, rir e conversar, fazer brincadeiras triviais ou participar de diálogos profundos, era realmente seu prazer e felicidade, podendo ele discordar sem brigas e rancor e ser afetuoso um com o outro, dizia Agostinho, fundia suas almas em apenas uma. Claro que amizade nesse caso tratava-se apenas da masculina, que ele considerava uma conversa entre iguais, que podiam dialogar de forma aberta.
Em relação a castidade, não a considerava um grande marco na humanidade (como faziam João Crisóstomo e Metódio Olimpo), mas ainda achava que a caridade, a moral e os bons costumes eram muito mais valorizados e melhor performados por aqueles que eram castos, já que, a relação sexual provinha de uma vontade de ser humano decaído, ou seja, mais fraco e depravado, além de complicar as relações sociais com outros indivíduos, bloqueando a real amizade e o real prazer espiritual. No entanto, o casamento não era considerado por ele uma instituição sem valor e obsoleta, apenas associada ao Velho Testamento, ao contrário, a relação adequada entre marido e mulher era uma unidade final da Cidade de Deus.
Porém, Agostinho nunca chegou a um estado de paz em relação ao desejo sexual e o sexo apenas para o prazer. O impulso sexual sempre era algo a ser controlado, por vezes combatido e que não deveria ser aceito com naturalidade de forma abrangente, assim como qualquer um de seus contemporâneos cristãos vão acreditar, a sexualidade continua sendo alvo de estigmatização. Ser celibatário era ser melhor visto aos olhos da Igreja, apenas com uma ressalva; como a expansão cristã dependia amplamente da influência dos patriarcas, quando uma união a beneficiava de alguma maneira, os bispos tendiam a não incentivarem as moças a jurarem castidade cedo (os votos geralmente eram por volta de seus 13 anos), exatamente porque aquela junção podia favorecer a Igreja e nesse caso o casamento era incentivado.
Para Agostinho de meia idade, era a morte que representava muito mais a fragilidade humana, e interrompia a natureza, que era a de viver em paz com o seu amado real, o corpo. Como ele havia desenvolvido o pensamento de que não acreditava que Adão e Eva tinham apenas caído de uma posição espiritual para a física, e sim que eles tinham uma harmonia entre corpo e alma no Paraíso, ele acreditava que seus corpos viviam em uma concórdia amorosa e familiar entre si, assim como eles seguiam a Deus, ou seja, a miséria e a desarmonia da humanidade agora eram estabelecidas por essa falta de equilíbrio. É por isso que a morte desempenhava esse papel de expor a fragilidade humana e frustrar o desejo da alma. Isso significava para Agostinho, um evento não natural. Era por isso que para ele, o martírio era o maior atoe de coragem.
Como ele considerava o desejo sexual como um sintoma da queda de Adão do paraíso, reflexo do erro dele, Agostinho agora achava a sexualidade mais um detalhe irritante e incomodo do que como um perigo latente. Foi em suas Confissões que ele destacou o desejo sexual, em sua vida posterior, não que as fantasias sexuais houvessem desaparecido, elas agora apontavam uma contradição entre sua vontade – o que ele de fato queria e acreditava, com a resposta de seu corpo. Mas isso agora não tinha um destaque tão grande em suas obras e talvez não fosse visto com tanta repulsão (lembrando: ainda era algo que ele desprezava, mas não tanto quanto nos seus primeiros anos como convertido).
É dentro dessa relação de descontrole entre vontade e corpo que ele trabalha em cima da sua visão de Maria e a virgindade. Para Agostinho, Maria não havia sentido nada durante o momento em que concebeu Cristo. Que no caso dela, o ato sexual foi desimpedido de sua vontade, simbolizando um ato de ampla obediência – resgatando sua concórdia entre corpo e alma, ao contrário do que achava Ambrósio, que tinha para si que a virgindade de Maria era concebida devido ao fato dela não ter recebido nenhum sêmen no corpo.
Para Agostinho, sua sociedade ideal girava em torno da alma, corpo e relações que fossem humanas, mas não manchadas pela distorção promovida pelas vontades decaídas a partir da saída do Paraíso.

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