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Conceitos da Administração e Ética Empresarial Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Coordenador de Conteúdo Fábio Augusto Gentilin e Crislaine Rodrigues Galan Designer Educacional Yasminn Tavares Zagonel Revisão Textual Erica Fernanda Ortega, Ivy Mariel Valsecchi e Silvia Caroline Gonçalves Editoração Isabela Belido, José Jhonny Coelho, Melina Belusse e Thayla Guimarães Cripaldi Ilustração Bruno Pardinho, Marta Kakitani e Marcelo Goto Realidade Aumentada Thiago Surmani e Leandro Naldei C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MENEGASSI, Cláudia Herrero Martins. Conceitos da Administração e Ética Empresarial. Cláudia Herrero Martins Menegassi Maringá-Pr.: Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2021. 304 p. “Graduação - EaD”. 1. Conceitos. 2. Administração . 3. Ética Empresarial 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0987-3 CDD - 22 ed. 658 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Bem-vindo a este livro, escrito pensando em você e em suas necessidades como pessoa, estudante, trabalhador, funcionário, empresário… sim, os con- ceitos aqui presentes podem ser aplicados em diversos âmbitos da vida. Sabe por quê? Porque estamos inseridos em uma sociedade composta por organiza- ções por todos os lados e cada uma delas requer gestão e requer ética também! Por isso, Conceitos da Administração e Ética Empresarial é um livro não só voltado àrealidade de empresas, mas também de organizações como um todo e como toda organização — seja ela uma empresa ou não — é um pequeno “pedaço de sociedade”, este livro também nos ajudará a com- preender a sociedade sob diversos aspectos e os indivíduos que a compõe. Na primeira unidade, são apresentados os conceitos e características das organizações bem como cada uma das funções administrativas — planejar, organizar, dirigir, coordenar e controlar. Na segunda unidade, são descritas algumas das mais relevantes teorias da administração, ou seja, as diferentes formas como a administração foi concebida com ênfases distintas — ora complementares, ora contraditórias — tais como o modelo burocrático, a administração científica, organização como sistema, teoria contingencial e administração por objetivos. Isso nos ajuda a compreender as diferentes concepções que há em termos de estilos de gestão no âmbito organizacional. Na Unidade 3, o destaque é dado ao principal elemento de toda organização: as pessoas. Nela são abordadas as teorias da administração voltadas principalmente às pessoas: a Escola das Relações Humanas e a Abordagem Comportamental. Além disso, a unidade traz um tópico especial sobre o papel do foco na vida pessoal e no trabalho, fundamental para termos êxito em tudo o que fazemos na vida, desde os propósitos pessoais até as metas no trabalho e a carreira que queremos trilhar. Considero esse tópico um presente do livro a você. A Unidade 4 trata das diversas áreas funcionais da administração. São aquelas presentes em todas ou na maioria das organizações e que precisam ser geridas, tais como administração de operações, logística, marketing, recursos huma- nos e financeira, ou seja, as áreas centrais que compõem uma organização. Na Unidade 5, o tema é a gestão estratégica; ali podemos compreender como as organizações se dividem em níveis estratégicos, o que significa a estratégia nesse âmbito, a análise SWOT e sua importância para o pla- nejamento estratégico e as duas principais teorias estratégicas: a teoria de análise da estrutura da indústria e a visão da empresa baseada em recursos. A Unidade 6 traz elementos fundamentais acerca da gestão de projetos, compreendendo suas características, suas etapas, o fator humano e a ge- rência nos projetos e a análise do ambiente e viabilidade. Na Unidade 7, por sua vez, são apresentados alguns temas que são tendências no campo da administração, como a Gestão do Conhecimento, a gestão da qualidade, reengenharia, inovação e sustentabilidade do negócio. A Unidade 8 transcende as abordagens de gestão tradicionais e traz temas que envolvem questões que vão muito além das fronteiras das organizações: responsabilidade social, Economia de Comunhão, Economia Solidária e gestão de organizações do Terceiro Setor. Esse conhecimento certamente é fundamental para que novos horizontes se abram ao nosso entendimento de mundo, a fim de que possamos compreender que nossas ações — tanto pessoais como em nível organizacional — podem impactar pessoas, co- munidades e a sociedade em geral. Por fim, mas não menos importante, a ética empresarial, tema da Unidade 9. A ética, na realidade, permeia todos os aspectos apresentados ao longo de todo o livro, mas devido à sua importância foi dedicada a ela uma unidade inteira, onde são trazidos conceitos de ética e de moral e a concepção de ética no âmbito organizacional, os diversos princípios éticos aplicáveis às atividades organizacionais e as ações que podem ser tomadas para insti- tucionalizar a ética como cultura da própria organização. Como você pode perceber, este livro foi escrito com uma visão holística da vida organizacional, considerando sempre esse microambiente como uma célula de sociedade na qual existem objetivos a serem alcançados, mas também pessoas envolvidas, comunidades, meio ambiente… e nesse sentido palavras como competência, metas, desenvolvimento, ética, respeito, solida- riedade, desempenho, inovação, justiça, competitividade, sustentabilidade e tantas outras que parecem ser distantes entre si, na realidade podem e devem ser concebidas de forma harmoniosa na busca de uma sociedade desenvolvida, ética e justa ao mesmo tempo. Tenha uma ótima leitura! CURRÍCULO DO PROFESSOR Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Doutora em Administração pela Universidade Positivo (UP/2013). Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2007). Possui Especialização em Administração Tributária pela Universidade Candido Mendes (UCAM/2009). Graduada em Administração pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2014). Graduada em Tecnologia em Processos Gerenciais pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2013). Graduada em Economia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2004). É membro do corpo docente do Mestrado em Gestão do Conhecimento nas Organizações na Unicesumar e professora de cursos de graduação e especialização na mesma instituição. Desenvolve pesquisas voltadas, principal- mente, aos temas: Gestão do Conhecimento, Economia de Comunhão, Economia Solidária, Estratégia (Resource-Based View), Modelo Burocrático e Educação a Distância. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: http://lattes.cnpq.br/4229317394755159 Organizações e Administração 13 Teorias da Administração 41 O Fator Humano nas Organizações 71 Áreas Funcionais da Administração Gestão Estratégica 101 137 Gestão de Projetos 171 Tendências no Campo da Administração Abordagens Alternativas de Gestão 239 Ética Empresarial 273 199 Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. 17 Tipos de organização 51 Estudo de movimentos e tempos (EMT) 81 Pirâmide de Maslow 106 O Timing na logística 139 A fábula “os cegos e o elefante” 177 Os principais stakeholders relacionados a projetos 210 Data server 249 Economia de comunhão 289 Modelo de ética corporativa PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi • Apresentar conceitos e características das organizações, bem como os diferentes tipos em que podem se apre- sentar. • Apresentar os conceitos de gestão, administração e seus princípios e elementos. • Descrever as funções da administração “planejar” e “or- ganizar”. • Descrever as funções da administração “dirigir”, “coorde- nar” e “controlar”. O que são organizações? Administração e gestão Dirigir, coordenar e controlar Planejar e Organizar Organizações e Administração O que são Organizações? Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Antes ainda da resposta a essa pergunta que é o título da nossa unidade, você deve estar se perguntando: por que estudar as organizações e não empresas? Empresas não são organizações? Organizações não são empresas? A resposta para a segunda pergunta é “sim” e para a terceira é “nem sempre”. E por isso vamos falar mais de organiza- ções do que de empresas. De modo geral, estarei me referindo sim às empresas, mas é importante termos claro que o conceito de organização é muito mais amplo do que o de empresa. Pode estar na forma de uma empresa, mas também na de uma organização do terceiro setor, de um órgão público, de uma igreja, de uma associação, de uma cooperativa e não acaba por aqui. Sendo assim, embora o foco seja no tipo de organização empresarial, temos que ter em mente que os mesmos conceitos que veremos ao longo de todo este livro podem ser pensados também para diversos outros tipos de organização. Bem, voltemos então à nossa pergunta inicial: o que são organizações? O que é uma organiza- ção? E agora a notícia (boa ou ruim?): não há uma definição única de organização. Tudo depende de 15UNIDADE I como você a concebe. Bem, não você ou eu exa- tamente, mas um bocado de gente que estudou a fundo as organizações ao longo de décadas e que nos mostraram algumas formas de concebê-las. Gareth Morgan(1996), em seu livro Imagens da Organização, faz uma brilhante apresentação das diversas formas de se conceber as organiza- ções a partir do uso de metáforas. Segundo essa autora, as organizações podem ser vistas como máquinas, organismos, cérebros, cultura, sistemas políticos, prisões psíquicas, fluxo e transforma- ção e instrumentos de dominação. Parece algo impensável, não é? Contudo, é exatamente assim: há muitas maneiras de se enxergar e conceber as organizações e é isso que faz que esse campo de estudo e também de prática seja tão instigante e desafiador. Sobral e Peci (2013, p. 5) definem organizações como “ grupos estruturados de pessoas que se juntam para alcançar objetivos comuns. Surgem como respostas à necessidade dos indivíduos de alcançar metas mais ambicio- sas, impossíveis de serem atingidas indivi- dualmente, em virtude da complexidade e da variedade das tarefas inerentes ao tra- balho a se efetuar. Podem ser organizações formais, como no caso de um exército ou de uma empresa, ou informais, como um grupo de amigos que se junta para jogar vôlei na praia. Organização Grupo estruturado de pessoas que se unem para alcançar objetivos comuns. Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 5). Jones (2010), por sua vez, define organização de uma forma até mesmo peculiar: “uma orga- nização é uma ferramenta que as pessoas usam para coordenar suas ações e obter alguma coisa que desejam ou valorizam - ou seja, para atingir seus objetivos” (JONES, 2010, p. 1). Eu mesma nunca tinha pensado na organização como sen- do uma “ferramenta”, mas é uma definição bas- tante verídica, pensando ferramenta como um meio para se fazer algo. As organizações são esse meio, esse ambiente propício a se atingir determinadas finalidades. Certamente todos nós estamos inseridos em organizações. Você está fazendo um curso supe- rior e não o faz passeando no parque. Está bem, você pode até fazer, se estiver com um tablet ou celular nas mãos, porque parte do seu curso é a distância e permite isso, mas você está matricu- lado em uma instituição de ensino superior para conseguir fazer esse curso, mesmo com a como- didade de poder até mesmo fazer suas leituras passeando no parque. Eu estou aqui, “falando” com você por meio desse material. Isso é possível, mais uma vez, por que estamos em um âmbito organizacional, se não, como eu teria chegado até você ou você até mim? As organizações são esse meio, essa ferramenta, onde você e eu atingimos nossos objetivos, que nesse caso são distintos e complementares. Terminando este curso, você vai abrir sua pró- pria empresa, seu próprio escritório? Ou preferirá trabalhar em uma organização já existente? Em ambos os casos, lá estará você novamente den- tro de uma organização - como dono ou como funcionário. Contudo, eu conheço gente que não trabalha fora de casa! Essas pessoas estão à margem do mundo organizacional? Não… essas pessoas fazem compras no supermercado, têm filhos nas escolas e se relacionam com a escola e os professores, talvez paguem aluguel ou condomí- nio… organizações, organizações, organizações... 16 Organizações e administração Figura 1 - Máquina de escrever Figura 2 - Fita de vídeo (VHS) Figura 3 - Fita K7 A essa altura você já entendeu que as organizações fazem necessariamente parte da nossa vida e que não temos que estar alheios a elas. Precisamos então conhecê-las o máximo pos- sível para compreender seu funcionamento, suas formas, suas nuances… Atingiremos todas elas? Não. Impossível. No entanto, podemos ter uma boa ideia daquilo que permeia grande parte delas. Podemos ter nossa mente mais preparada, aberta e atenta para alguns sinais que antes nos passariam despercebidos. O dicionário Aurélio define organização como “associação ou instituição com objetivos defini- dos” (DICIONÁRIO, 2010, p. 1518). Define tam- bém em outros sentidos, mas este é o que está dentro do nosso contexto. Os tipos de organização podem ser diversos, mas uma coisa todos têm em comum: objetivos definidos. Essa é a razão de ser de uma organização. Contudo, vamos ainda pensar um pouco mais sobre as organizações, por- que depois esse pensamento permeará também as diversas formas nas quais elas se apresentam. Bem, se há objetivos, é porque existem por trás deles necessidades. E concebendo a organização como uma ferramenta ou um meio, precisamos também pensar em recursos e processos. Arrisco aqui até a propor quatro pilares que caracterizam as organizações: necessidades, recursos, processos e objetivos, e tudo isso dentro de algo que chamarei de ambiente. As necessidades são o que motivam a criação de uma organização e estão diretamen- te relacionadas ao seu objetivo. Para que ele seja alcançado, todavia, são necessários recursos (tais como matérias-primas, mão de obra, informação, conhecimento, tecnologia, capital, estruturas…) e processos que coloquem todos esses recursos “para trabalhar” em prol do objetivo; e tudo isso em um contexto, um ambiente geográfico, econô- mico, cultural e social. Quando um ou mais sofre alterações, a configuração da organização deve se alterar para manter sua sobrevivência. 17UNIDADE I vivo, complexo e interligado, eu sempre digo: não não… corpos humanos geralmente são mui- to mais simples. O coração de uma pessoa geralmente faz exa- tamente a mesma coisa que o de outra pessoa. A “rota” do sangue no corpo também é a mesma e por aí vai. É de certo modo previsível o funcionamento do corpo humano, em situações de normalidade da saúde. Nas or- ganizações, é muito mais difícil encontrar esses pontos comuns. Elas são de difícil compreensão, porque são muito mais com- plexas e são diferentes mesmo aquelas que atuam no mesmo segmento e no mesmo quartei- rão, que dirá as de segmentos e portes completamente dife- rentes e localizadas em outros países ou regiões. As necessidades podem deixar de ser importantes a certo ponto ou se- rem substituídas por outras e isso impacta diretamente as organizações, que se transformam para se adaptarem ao novo cenário ou desaparecem (JONES, 2010). Vamos pensar em alguns exemplos muito práticos: apa- relhos de videocassete, fitas VHS e K7, máquinas de escrever… motivos para essas mudanças? Mudança tecnológica, por exemplo. As mudanças tecnológicas afetam diretamente os recursos dispo- níveis e os processos. Maquinário que substitui mão de obra, maqui- nário que facilita a mão de obra, softwares, internet… e continuamos a alterar as organizações a cada mudança dessa. Também as áreas de negócio se alteram com mudanças ambientais, que englobam todo o contexto no qual a organização está inserida, em termos econômicos, geográfico, social… A quebra do monopólio da telefonia fixa no Brasil, por exemplo. Se você tem mais de 30 anos, provavelmente se lembra da época em que uma linha telefônica custa- va o equivalente a um carro usado. Era muito dinheiro! E geralmente se ficava na fila para conseguir uma linha. Lembro-me de pessoas que ganhavam a vida alugando linhas telefônicas. As que estavam atentas às mudanças que estavam ocorrendo, conseguiram sair do negócio a tempo; outras perderam todo o capital investido. Hoje com R$ 10,00 você compra “uma linha” para o seu celular, que é o seu chip. Por essas e outras é que quando as organizações são compa- radas com o corpo humano para demonstrar que é um sistema Objetivos Necessidades Recursos Processos Ambiente Tipos de organização 18 Organizações e administração Contudo, voltando nossos pés para o chão: tentaremos sempre tratar ao menos os pontos comuns à maioria delas, afinal, algum tipo de or- ganização a organização deve ter, não é mesmo? E quais são suas formas? Como elas podem se apresentar? De muitas maneiras! Não esgotaremos todas elas aqui, com toda a certeza. Primeiramente porque focaremos propositalmente naquelas que mais se aproximarão da sua vida “lá fora” e também porque eu acredito que lá no Japão ou na Índia certamente há tipos de organizaçãoque eu nem imagino! O ser humano, de fato, cria organizações de muitos tipos diferentes para atingir seus propó- sitos também diferentes e pode apostar que muitos deles estão fora do nosso âmbito de conhecimento. Vamos começar, então, por aquele que talvez mais faça parte da nossa vida: as empresas. Segundo a de- finição do dicionário Aurélio, empresa é uma “orga- nização econômica destinada à produção ou venda de mercadorias ou serviços, tendo em geral como objetivo o lucro” (DICIONÁRIO, 2010, p. 779). Guerrini (2016) caracteriza empresa como “um conceito jurídico e um fenômeno econômico”. Enquanto o conceito de Organização pode ser discutido e idealizado por diversas áreas do co- nhecimento, o conceito de empresa é estrita- mente jurídico. É necessário formalizar um plano e declarar objetivos organizacionais para comu- nicar as intenções da empresa. Fonte: Guerrini (2016, p. 11). Em se tratando somente de empresas, já temos aí um mundo de diversidade. Podem ser micro, pe- quenas, médias ou grandes (definição que pode variar pelo número de funcionários ou faturamento), locais, nacionais, multinacionais ou transnacionais (de acordo com sua localização a abrangência), basicamente podem ser dos setores da indústria, comércio ou serviço e o que todas têm em comum é a natureza jurídica. Outros tipos de organização: igrejas, organi- zações do terceiro setor, cooperativas, os diversos tipos de empreendimentos econômicos solidários, associações… É importante salientar que cada um desses tipos de organização tem suas características próprias. Igrejas, por exemplo. Primeiramente, há vários tipos de igrejas, com crenças e valores específicos e também com formas de se organizar peculiares. Algumas delas são regionais, enquan- to outras fazem parte de uma instituição maior, presente em vários países e liderança única. Com muitos ou poucos seguidores... Isso porque esta- mos falando somente em igrejas. Se pensarmos nas grandes religiões, o conceito se expande ainda mais. No entanto, todas elas têm necessidades, objetivos, recursos, processos e estão inseridas em um ambiente ou contexto. Cooperativas também são organizações. Não são empresas, mas são atividades produtivas ou comerciais e que possuem um modo próprio de organização, baseado em princípios coope- rativistas: adesão livre e voluntária; gestão de- mocrática; participação econômica; autonomia e independência; educação, formação e infor- mação; cooperação entre cooperativas; interesse pela comunidade (ROCHA, 1999). Você pode imaginar que esses princípios e essa forma de organização que não prevê donos, mas coopera- dos, e condições equânimes entre eles requerem uma forma de gestão bastante diferente daquelas presentes nas empresas. As cooperativas podem também ser de Economia Solidária. Além desse tipo, há di- versos outros de empreendimentos econô- micos solidários que não são empresas, mas são organizações dentro desse nosso conceito. 19UNIDADE I Alguns deles apenas citados aqui e que serão me- lhor apresentados na Unidade 8 são: clubes de trocas, comércio justo, empresas autogestioná- rias (que apesar da natureza de empresa, tem seus princípios próprios), finança solidária e economia sem dinheiro. Para cada um, com suas especifici- dades, uma forma de gestão. As associações, por sua vez, também se apre- sentam de diversos tipos. Podem ser formais, com a presença de estatutos com definições e regras claras e podem também ser informais. Há asso- ciações de bairros, comerciais, industriais, de ben- feitores, criminosas e assim por diante. E, acredite, até mesmo as criminosas precisam de gestão! Bem, acredito que tenha ficado muito claro o que são as organizações e alguns de seus tipos. Você já está inserido neste contexto de modo prá- tico e, agora, também teórico. Agora vamos passar aos conceitos de administração e gestão e como eles estão relacionados às organizações. 20 Organizações e administração Estávamos falando sobre organizações. Bem, como disse Sobral e Peci (2013, p. 5): “com o apa- recimento das organizações, surge a necessidade de administrá-las”. Você certamente já ouviu muitas vezes os termos administração e gestão. Geralmente es- ses termos estão atrelados ao mundo dos negó- cios, das empresas, dos empreendimentos, onde sempre é necessário administrar e gerir. No en- tanto, já vimos também essas palavras voltadas a outros contextos, como a administração do tempo, da casa… gestão das finanças pessoais, do conhecimento… Será que administração e gestão são a mesma coisa? A definição do dicionário Aurélio para gestão é bastante simples: “ato de gerir; gerência; admi- nistração” (DICIONÁRIO, 2010, p. 1029). Para o termo administração as definições são mais am- plas. Reproduzindo aqui aquelas que de certa for- ma estão relacionadas ao nosso objetivo, tem-se: “ 1. ação de administrar. 2. Gestão de negó- cios públicos ou particulares. 3. Governo, re- gência. 4. Conjunto de princípios, normas e funções que têm por fim ordenar a estrutura e funcionamento de uma organização (em- Administração e Gestão 21UNIDADE I presa, órgão público etc.). 5. Prática desses princípios, normas e funções (DICIONÁ- RIO, 2010, p. 57). No idioma inglês, temos como tradução para ges- tão o termo management. Para administração, temos o mesmo termo - significando gestão, ge- rência e administração como no sentido 1, 2, 4 e 5 do Aurélio e também o termo administration sig- nificando gerência, governo, ou seja, mais similar ao ponto 3 do dicionário Aurélio há pouco citado. Sendo assim, tomaremos administração e ges- tão como sinônimos, no sentido de gerir, de orde- nar a estrutura e o funcionamento de organizações. Além desse conceito ao qual chegamos, porém, diversos autores conceituaram administração ou gestão segundo enfoques específicos e vamos tra- zer alguns aqui para nosso conhecimento. Lacombe (2009, p. 3), por exemplo, dá maior destaque às pessoas e aos objetivos pessoais e organizacionais. Em sua definição, “administrar é obter resultados por meio de pessoas, ou seja, é o ato de trabalhar com pessoas para realizar os objetivos da organização e de seus membros”. Certamente que esse destaque - nas pessoas - é fundamental, mas talvez faltem alguns outros elementos, pois há outros recursos também ne- cessários para se alcançar esses objetivos, como tecnologia, matérias-primas, capital… Segundo Maximiano (2004, p. 33), “adminis- tração é um processo dinâmico de tomar deci- sões sobre a utilização de recursos, para possi- bilitar a realização de objetivos”. Veja que nesse conceito alguns elementos se destacam: processo dinâmico (não é feito uma única vez), tomada de decisões (sempre e a cada momento), utilização de recursos (o meio para se alcançar os objetivos) e objetivo. Isso faz lembrar aquela tipologia que fizemos sobre as características das organizações, não faz? Não é coincidência. Se a organização tem essas características, a administração - ou gestão - tem que dar conta de colocar tudo isso para funcionar. Em 2011, Maximiano retorna com uma defini- ção um pouco mais estendida de administração, acrescentando alguns processos. Para ele, então, administrar é tomar decisões para cuidar adequadamen- te dos recursos e realizar objetivos. Esse processo de tomar e executar decisões compreende cinco processos principais in- terligados: planejamento, organização, lide- rança (e outros processos da gestão de pes- soas), execução e controle (MAXIMIANO, 2011, p. 8). O que o autor traz como processos principais da administração é equivalente ao que Henry Fayol há mais de um século chamou de funções admi- nistrativas, que veremos melhor nos próximos tópicos. O que Maximiano (2011) traz de novo às funções administrativas de Fayol é acrescentar a elas a liderança (e outros processos de adminis- tração de pessoas). Liderança é o processo de trabalhar com pessoas para possibilitar a realização de objetivos. Lide- rança é um processocomplexo, que compreende diversas atividades de administração de pessoas, como coordenação, direção, motivação, comuni- cação e participação no trabalho em grupo. Fonte: Maximiano (2011, p. 9). Sobral e Peci (2013) acrescentam à definição de administração os conceitos é de eficiência e eficá- cia. Segundo os autores, administração é “um pro- 22 Organizações e administração cesso de coordenação do trabalho dos membros da organização e de alocação dos recursos orga- nizacionais para alcançar objetivos estabelecidos de uma forma eficaz e eficiente” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 6). A eficiência diz respeito a processos e a eficácia, a resultados, ambos elementos fun- damentais do que se espera de uma organização. De modo geral, o que percebemos nos concei- tos é que a gestão ou a administração (que aqui trataremos como sinônimos) é algo inerente a todo o tipo de organização. Sem ela, seria caos e não organização. E isso se refere até mesmo a estruturas informais. Já imaginou sua família sem um pouco de (ou muita) administração? Não te- ria almoço na mesa, roupas passadas para o uso, logística de transporte à escola, trabalho ou fa- culdade e até mesmo seu lugarzinho certo para dormir a noite. É, a administração é fundamental para a nossa vida cotidiana. Ela está estruturada em alguns pontos principais. Esses pontos são chamados de funções administrativas, que foram propostas inicialmente por Henry Fayol, engenheiro francês, em seu livro Administração Industrial e Geral: previsão, organização, comando, coor- denação e controle, cujo título original é: Admi- nistration industrielle et générale: prévoyance, organisation, commandement, coordination, contrôle). A obra foi publicada em 1916 e reper- cutiu o mundo inteiro. Mesmo sendo sua obra original datada de tanto tempo atrás, suas ideias continuam muito atuais. Segundo Fayol (2007), há seis grupos de operações ou o que ele chama de funções essen- ciais que são comuns a todas as empresas, inde- pendentemente de seu porte ou nível de comple- xidade, descritas a seguir: “ o conjunto das operações de toda empresa pode ser dividido em seis grupos, a saber: 1) Operações técnicas: produção, fabricação, transformação. 2) Operações comerciais: compras, vendas, permutas. 3) Operações fi- nanceiras: procura e gerência de capitais. 4) Operações de segurança: proteção de bens e de pessoas. 5) Operações de contabilidade: inventários, balanços, preços de custo, es- tatística etc. 6) Operações administrativas: previsão, organização, direção, coordenação e controle (FAYOL, 2007, p. 23). Fayol (2007) dizia que os cinco primeiros grupos são bastante conhecidos nas rotinas organizacio- nais, mas o grupo administrativo necessitaria de maior aprofundamento. E aí ele parte de uma de- finição de administração que se tornou clássica: “Administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Prever é perscrutar o futuro e traçar o programa de ação. Organizar é constituir o duplo organismo, material e social, da empresa. Comandar é dirigir o pessoal. Coordenar é ligar, unir e harmonizar todos os atos e todos os esforços. Controlar é velar para que tudo ocorra de acordo com as regras estabe- lecidas e as ordens dadas” (FAYOL, 2007, p. 26). 23UNIDADE I Veremos melhor as especificidades desse con- ceito nos próximos tópicos, mas antes disso ainda falaremos um pouco mais aqui sobre Fayol. O autor empregou o termo princípios para al- gumas condições inerentes à administração, mas com uma ressalva importante: não há um número limitado deles e nem rigidez. Eles podem se alterar a todo o tempo, pois é sempre necessário observar as circunstâncias, as variáveis, as necessidades de adaptação… enfim, uma organização nunca será exatamente igual à qualquer outra e os princípios de administração têm que se adequar a essa miría- de de situações distintas que caracteriza o mundo organizacional. E mesmo que os princípios sejam os mesmos, Fayol salienta que se trata sempre de uma questão de medida, ou seja, dificilmente se aplicará o mesmo princípio mais de uma vez em condições idênticas (FAYOL, 2007). Perceba que, embora o autor tenha escrito isso originalmente em 1916, um século mais tarde esses princípios são ainda muito atuais! Talvez alguns deles não se apliquem ou se apliquem menos em determinados tipos de organização, ou outros ainda deveriam ser inseridos, mas isso o próprio autor já previu quando deu a abertura para outros princípios e para esses mesmos em vários graus distintos de acordo com as caracte- rísticas de cada organização a qual se pretende analisar. Poderíamos, por exemplo, inserir como um desses princípios o “ba”, que é o ambiente propí- cio ao compartilhamento do conhecimento, por exemplo. Para alguns tipos de empresa, isso é fun- damental! Entretanto, veremos mais sobre isso na Unidade VII, quando falaremos sobre Gestão do Conhecimento. O autor menciona, então, alguns princípios administrativos que ele afirma ter tido a oportunidade de aplicar com maior frequência — tendo clara essa res- salva apresentada anteriormente: 1) a divisão do trabalho; 2) a autoridade e a responsabilidade; 3) a disciplina; 4) a unidade de comando; 5) a unidade de direção; 6) a subordinação do interesse particular ao interesse geral; 7) a remuneração do pessoal; 8) a centralização; 9) a hierarquia; 10) a ordem; 11) a equidade; 12) a estabilidade do pessoal; 13) a iniciativa; 14) a união do pessoal. (FAYOL, 2007, p. 43-44) 24 Organizações e administração Bem, além desses princípios, uma das grandes contribuições de Fayol (2007) foi o que ficou co- nhecida como “funções da administração”, mas que em seu livro ele trata como “elementos de ad- ministração”. De qualquer forma, estaremos falan- do das mesmas coisas. Ele apresentou 5 elementos — previsão, organização, comando, coordenação e controle — que depois foram tratados também por outros autores, mais atuais, e também os ter- mos foram ajustados. O que o autor chamou de “previsão” foi tratado pela maioria dos autores que vieram depois como “planejamento” e o que ele chamou de “comando” foi tratado como “direção”, mas o conteúdo a que se refere é praticamente o mesmo, salvo alguns elementos adicionais mais típicos das décadas seguintes. Tendo visto os conceitos de gestão e adminis- tração, os princípios da administração e seus ele- mentos, é hora, então, de adentrarmos às funções administrativas — ou elementos de administra- ção, conforme nominou Fayol (2007) — que geral- mente dizem respeito às empresas, mas que você verá que poderão se estender a diversos outros tipos de organização. Planejar e Organizar 25UNIDADE I Planejar e organizar são as duas primeiras fun- ções da administração. Vamos começar com o primeiro: planejar. Fayol (2007) denominava essa função como “prever”, mas veja seu conceito para prever: “pre- ver, aqui, significa ao mesmo tempo calcular o futuro e prepará-lo; é, desde logo, agir” (FAYOL, 2007, p. 65). Certamente é a isso que nos referimos quando dizemos “planejar”, enquanto talvez para nós o termo prever dê um pouco a conotação de algo que necessitaria de uma bola de cristal. O autor ainda traz como um instrumento efi- caz para a previsão o programa de ação que é, segundo ele, “o resultado visado, a linha de con- duta a seguir, as etapas a vencer, os meios a em- pregar” (FAYOL, 2007, p. 65). Então, a previsão dele somado a esse programa de ação é o que nós costumamos mesmo chamar de planejamento. Vamos, então, aos autores mais atuais. Sobral e Peci (2013, p. 195) definem planejamento como “fun- ção da administração responsável pela definição dos objetivos da organização e pela concepção de planos que integram e coordenam suas atividades”. Nesse conceito temos dois elementos chave: objetivos e planos. “ Os objetivos são resultados, propósitos, intenções ou estados futuros que as organizações pretendem alcançar. Já os planos são guias que indicam o que deve ser feito, especificando os recursose as ações necessárias para alcançar os objetivos (SOBRAL; PECI, 2013, p. 195). Lacombe e Heilborn (2008) inserem alguns elemen- tos a esse conceito, mas sem perder o mesmo sentido: “ Planejamento pode ser visto como (a) a determinação da direção a ser seguida para se alcançar um resultado desejado ou como (b) a determinação consciente de cursos de 26 Organizações e administração ação, isto é, dos rumos. Ele engloba decisões, com base em objetivos, em fatos e na estimati- va do que ocorreria em cada alternativa. Plane- jar é, portanto, decidir antecipadamente o que fazer, de que maneira fa- zer, quando fazer e quem deve fazer (LACOMBE; HEILBORN, 2008, p. 162, grifo dos autores). Os autores salientam também a importância dos recursos quan- do se pensa em planejamento. Eles são de naturezas variadas, tais como recursos financeiros, humanos, insumos, tecnológi- cos, informação, conhecimento, entre tantos outros. Embora muitas vezes essa função da administração seja tratada com displicência pelas organizações, ela é considera- da a base de todas as outras. Podemos dizer que alguns dos diversos benefícios de um bom planejamento são: “proporcio- nar senso de direção, focalizar esforços, maximizar a eficiência, reduzir o impacto do ambiente, definir parâmetros de controle, atuar como fonte de motivação e comprometimento, potencia- lizar o autoconhecimento orga- nizacional e fornecer consistên- cia à ação gerencial” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 195). Uma característica muito interessante e que talvez não nos da- mos conta é que quando se fala em planejamento, estamos falando também em atitude. Maximiano (2011) confere à atitude a respon- sabilidade pela capacidade de sobrevivência de uma empresa, tanto a atitude proativa como a reativa. A ideia é que haja um equilíbrio entre essas duas, de modo que a atitude proativa cumpra seu pa- pel de promover crescimento e mudança e a reativa de manter a estabilidade e impedir mudanças desnecessárias e para as quais a empresa pode não estar ainda preparada. Levantamento de informações; Análise dessas informações; Preparação de um plano ou de planos. Figura 4 - Etapas do processo de planejamento Fonte: baseada em Maximiano (2011). Sobre os planos que compõem o planejamento, Sobral e Peci (2013) trazem alguns elementos que os caracterizam: 1) quanto à abran- gência (estratégicos, táticos ou operacionais); 2) quanto ao horizonte temporal (longo, médio ou curto prazo); 3) quanto à especificidade (gerais ou específicos); 4) quanto à permanência (permanentes ou temporários). No que tange à abrangência, esses três níveis serão melhor tra- tados na Unidade V, mas apenas para que se tenha clareza sobre a que se refere essa tipologia, o nível estratégico está relacionado às atividades que competem à alta administração de uma organização e diz respeito à visão da organização como um todo, seus objetivos de longo prazo e suas perspectivas frente à concorrência. O nível tático diz respeito às unidades ou departamentos de uma organi- zação, com o intuito de definir as principais ações que devem ser 27UNIDADE I feitas em cada unidade e a orientação geralmente é a médio prazo. O nível operacional, por fim, está relacionado às atividades rotineiras, à definição dos procedimentos e processos específicos e aos objetivos relacionados aos resultados esperados de indivíduos ou grupos (SOBRAL; PECI, 2013). Quando se pensa nos objetivos do planeja- mento, primeiramente deve-se ter em mente o que move a organização e onde ela quer chegar, ou seja, sua missão e visão. “Missão: declaração escrita que descreve a razão de ser da organização, seu propósito, valores, princípios e linhas orientadoras”. “Visão: declaração do que a organização deseja ser, ou seja, da posição que ela quer ocupar no futuro”. Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 200-201). Tendo considerado a missão e a visão, outros ele- mentos são importantes ao se pensar os objetivos. São características que, se atendidas, ajudarão os objetivos a serem mais eficazes: 1. específicos: transmitir com clareza qual é o resultado esperado; 2. mensuráveis: que seja possível definir for- mas de mensuração para facilitar o pro- cesso de avaliação; 3. desafiadores, porém alcançáveis: devem representar um desafio para motivar, mas devem ser realistas; 4. definidos no tempo: é necessário especi- ficar o prazo para sua realização, pois só assim poderá ser avaliado seu alcance; 5. coerentes: que os vários objetivos de uni- dades diferentes da organização não sejam contraditórios entre si, mas consistentes; 6. hierarquizáveis: que seja possível estabe- lecer uma ordem de prioridade entre os diversos objetivos (SOBRAL; PECI, 2013). Tendo claro de que retirar trata o planejamento e suas características, passamos agora para a próxi- ma função administrativa: organizar. Enquanto o planejamento se ocupa com a de- finição dos objetivos e das estratégias para alcan- çá-los, o objetivo principal da função de organizar é criar condições para que esses objetivos sejam alcançados (SOBRAL; PECI, 2013). Fayol (2007, p. 77) dizia que “organizar uma empresa é dotá-la de tudo o que é útil a seu fun- cionamento: matérias-primas, utensílios, capitais e pessoal”. Sobral e Peci (2013, p. 251) trazem al- guns outros elementos complementares a esse conceito: “organização: função da administração responsável pela distribuição de tarefas e recursos pelos membros e unidades da empresa, e esta- belecimento dos mecanismos de comunicação e coordenação entre estes”. Os mesmos autores compreendem a organização como um processo de tomada de decisões e definem dois processos específicos que caracterizam a função de organizar: a diferenciação e a integração. A dife- renciação consiste em dividir as diversas atividades e tarefas para serem executadas pelas pessoas ou departamentos especializados e competentes para a função. A integração, por sua vez, é o processo de coordenação dessas atividades de modo a obter uni- dade de esforços para o mesmo objetivo. Essa função da administração é também res- ponsável pela definição de diversos elementos, como qual é o grau desejável de especialização do trabalho, quem será responsável por qual atividade ou equipes de trabalho, qual o tama- nho dos grupos de trabalho, quais os critérios de divisão das tarefas por departamentos, qual o grau desejável de centralização das tomadas de decisão, qual o grau desejável de formalização 28 Organizações e administração das tarefas e funções, dentre tantas outras que envolvem esse processo de organização (SO- BRAL; PECI, 2013). O processo de organizar, segundo Maximiano (2011, p. 137): “ consiste em dividir o trabalho e atribuir res- ponsabilidades e autoridade a pessoas. As principais etapas (ou decisões) no processo de organizar são: 1) analisar os objetivos e o trabalho a realizar; 2) dividir o trabalho, de acordo com os critérios mais apropriados para a realização dos objetivos; 3) definir as responsabilidades pela realização do tra- balho; 4) definir os níveis de autoridade; 5) desenhar a estrutura organizacional. Sobre a divisão do trabalho, é fácil compreender- mos do que se trata. Nada mais é do que a divisão de uma determinada tarefa em partes e cada parte é atribuída a uma pessoa ou grupo de pessoas específicos. O economista escocês Adam Smith, em seu livro “A riqueza das nações”, teorizou pela primeira vez sobre a divisão do trabalho. Nessa obra ele apresentou o icônico exemplo da fábrica de alfi- netes. Se antes um trabalhador esticava o arame, media, cortava, fazia a pontinha do alfinete, depois a cabecinha, depois contava e colocava na caixa e produzia apenas uns 20 alfinetes por dia, quando a tarefa era dividida e uma pessoa somente esti- cava o arame, outra apenas media, outra apenas cortava e assim por diante, em um caso real, em dez trabalhadores, produziam em conjunto mais de 48.000 alfinetes em um dia! É a especialização dotrabalho que traz a destreza necessária para ser cada vez mais ágil e perfeito na execução de determinada tarefa. Além disso, somente o fato de não precisar trocar de ferramentas ou de lugar, já era uma boa economia de tempo. Taylor depois aprofundou esse conceito no estudo dos tempos e movimentos (SMITH, 2003). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Chiavenato (2014, p. 215) define a organização como: “dividir o trabalho, agrupar as atividades em uma estrutura lógica; designar pessoas para executar o trabalho; alocar os recursos necessá- rios; coordenar os esforços”. O que podemos perceber com clareza é que cabe a essa função da organização viabilizar aquilo que foi planejado e da forma mais or- gânica possível, considerando os recursos ne- cessários para isso. É na fase da organização que surgirá também a necessidade de ajustes no planejamento, com base nos recursos dis- poníveis — ou indisponíveis — na alocação das tarefas considerando as atribuições que já fazem parte do cotidiano da empresa e assim por diante. Fundamental também sobre essa função é definir os níveis de autoridade e a estrutura or- ganizacional, conforme descreveu Maximiano (2011). Isso porque, na divisão de tarefas é neces- sário ter presente quem são os responsáveis por cada setor e/ou equipe. Somente assim é possível, de fato, organizar as coisas. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/660 29UNIDADE I É claro que começamos sempre pelo pai da criança: nosso já conhecido Fayol. A função da administração dirigir foi concebida por ele com outro termo, ao menos a tradução inicial foi esta: comando. Esse termo para nós soa um pouco es- tranho, talvez por isso essa função tenha tido seu nome alterado. Contudo, vamos ver o que ele queria dizer com comando. Para ele, a missão do comando é fazer as coisas funcionarem, missão essa que se dilui entre as diversas pessoas com cargo de chefia, de acordo com seus encargos e responsabilidade de seus setores. A ideia é que cada uma dessas pessoas consiga extrair o melhor de suas equipes (FAYOL, 2007). Fayol (2007) entendia o comando como uma arte que engloba tanto certas características pes- soais quanto conhecimento dos princípios ge- rais da administração e se manifesta em todas as empresas, sejam elas de pequeno ou grande porte. Vou reproduzir aqui alguns preceitos que, segundo o autor, têm por objetivo facilitar o co- mando. São palavras dele, já logo me defendo, pois algumas delas podem parecer um pouco chocan- tes para nossos dias: Dirigir, Coordenar e Controlar 30 Organizações e administração “ O chefe encarregado de um comando deve: 1) ter conhecimento profundo do seu pes- soal; 2) excluir os incapazes; 3) conhecer bem os convênios que regem as relações entre a empresa e seus agentes; 4) dar bom exemplo; 5) fazer inspeções periódicas do corpo social, recorrendo nessas inspeções ao auxílio de quadros sinópticos; 6) reunir seus principais colaboradores em conferên- cias, onde se preparam a unidade de dire- ção e a convergência dos esforços; 7) não se deixar absorver pelos detalhes; 8) incentivar no pessoal a atividade, a iniciativa e o devo- tamento” (FAYOL, 2007, p. 120-121). Algumas coisas soam bastante estranhas, não é mesmo? No entanto, vamos nos lembrar que o texto original foi escrito há um século, portanto, em um contexto social e temporal muito dife- rente do nosso. Vamos então procurar as atua- lidades disso: ter conhecimento do seu pessoal, por exemplo. Esse é o primeiro passo, de fato, para conseguir fazer um bom ajuste de divisão do trabalho. Excluir os incapazes talvez esteja se referindo a não considerar como parte integrante de determinado projeto ou tarefa as pessoas que não tenham ainda as habilidades necessárias para fazê-lo e cuja possibilidade de treinamento não seja viável por alguma razão. O quadro sinóptico mencionado por ele se refere ao uso do recurso de resumos esquematizados de uma ideia, para facilitar o entendimento. Quanto a não se deixar absorver pelos deta- lhes, isso dependeria do caso, concordam? Há projetos em que os detalhes são fundamentais e talvez o que se espera dos chefes nesse caso é exatamente uma absoluta atenção sobre eles. Há outros casos em que a ideia é não se deixar distrair por questões menos importantes e concentrar os esforços nas coisas que de fato farão a diferença no trabalho da equipe. E quanto ao termo “devo- tamento”, ele se refere ao respeito pela autoridade, pela hierarquia, a fim de manter a equipe unida e não haver dualidade de comando. Bem, tendo compreendido os princípios do “pai da criança” a respeito dessa função adminis- trativa, vamos passar para os autores mais recen- tes. Segundo Sobral e Peci (2013, p. 10), “ A direção está relacionada com os processos de gestão de pessoas na organização. Diri- gir significa liderar, motivar, e coordenar os trabalhadores no desenvolvimento de suas tarefas e atividades. Dirigir também signi- fica selecionar os canais de comunicação mais adequados e resolver conflitos entre os subordinados. Aqui entrariam diversas questões que pode- ríamos acrescentar a respeito dessa função. O conhecimento de questões comportamentais, por exemplo, é de grande ajuda a um gestor que possui essa função de direção. Compreender os diferentes tipos de personalidade, ter sensibili- dade para perceber como estão as relações entre as pessoas que trabalham juntas, capacidade de motivação… Sobre vários desses temas vamos ainda tratar melhor ao longo do nosso livro, mas gostaria agora somente de expor duas tipologias que nos ajudarão a compreender melhor a ques- tão dos fatores de personalidade e dos traços de personalidade com relação ao comportamento dentro das organizações. Bom, primeiramente vamos definir personali- dade. Você já deve ter ouvido (e falado) um boca- do de vezes a expressão: “fulano tem personalida- de forte!”. O que isso quer dizer exatamente? No senso comum, talvez isso se refira mais às pessoas 31UNIDADE I “mandonas”, mas na realidade, pela definição, talvez não seria adequado usar essa expressão para tal finalidade, dado que todas as personalidades podem ser fortes, no sentido de acentuadas. Alguém extremamente tímido poderia, então, ser descrito como uma personalidade forte (em timidez), não é mesmo? Contudo, estou aqui falando da definição e nem apresentei ela ainda. Vamos lá: “a personalidade de um indivíduo refere-se ao conjunto de características psicológicas estáveis que o caracteriza e diferencia de outras pessoas, refletindo em seu comportamento” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 309). Considerando esse conceito, foi concebido um modelo que descreve a personalidade humana com base em 5 dimensões: extroversão, agradabilidade, senso de responsabilidade, estabilidade emocional e abertura a novas experiências. Vamos lembrar que se trata de uma tipologia, uma das tantas que há nesse campo. Abrange todos os seres humanos? Talvez. Abrange todas as características de personali- dade possíveis em uma pessoa? Certamente não! Além disso, essas dimensões podem ser combinadas em diferentes graus e de diferentes formas. Você deve estar pensando: “isso é óbvio, né? As pessoas são diferentes umas das outras; não são só 5 tipos de seres que há por aí” e você está completamente certo! Vamos às características de cada uma dessas dimensões: Você conseguiria pensar um pouco sobre si mesmo e tentar compreender a própria personalidade a partir dessas descrições? Até certo ponto sim, mas é difícil conseguirmos determinar, por exemplo, até que ponto sou entusiasta ou curiosa, não é verdade? Bem, há diversos testes baseados nesse modelo e que buscam adequar a personalidade de um candidato a um cargo. Além dele, outra tipologia relevante a ser considerada pelas organizações é com relação ao lócus de controle, o maquiavelismo e o automonitoramento (SOBRAL; PECI, 2013), apresentados no quadro a seguir: ExtroversãoDescreve até que ponto uma pessoa é sociável, comunicativa, assertiva e se sente confortável nas relações interpessoais. Agradabilidade Descreve até que ponto uma pessoa é de boa índole, tolerante, cooperativa e compreensiva. Senso de responsabilidade Descreve até que ponto uma pessoa é responsável, cuidadosa, organizada, de confiança, persistente e voltada para realizações. Estabilidade emocional Descreve até que ponto uma pessoa é calma, entusiasta, segura (positivos) ou tensa, nervosa e insegura (negativos). Abertura a novas experiências Descreve até que ponto uma pessoa é imaginativa, curiosa, ar-tisticamente sensível e aberta intelectualmente. Quadro 1 - O modelo dos cinco fatores de personalidade Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 310). 32 Organizações e administração Lócus de controle Percepção que os indivíduos têm sobre o controle dos acontecimentos de sua vida: algumas pessoas acreditam que seu sucesso ou fracasso é consequência de sua habili- dade e esforço (controle inter- no), outros creem que é fruto do acaso ou de forças externas (controle externo). Maquiave- lismo Tendência em direcionar o comportamento para a aqui- sição de poder e manipulação dos outros. Os indivíduos com cotações elevadas na escala de maquiavelismo tendem a comportar-se de forma egoísta e hostil em relação aos outros. Automoni- toramento Habilidade de um indivíduo para ajustar seus comporta- mentos aos fatores externos e situacionais. Indivíduos com alto automonitoramento são sensíveis à informação externa ou interpessoal, ao passo que indivíduos com baixo automo- nitoramento são sensíveis aos sentimentos e emoções. Quadro 2 - Principais traços de personalidade estudados em comportamento organizacional Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 310). E aqui, você consegue se autoanalisar a respeito de seu lócus de controle, do seu grau de maquia- velismo e de automonitoramento? E imagina o quanto é importante para o responsável por uma equipe identificar e compreender esses aspectos nas pessoas que a compõe. Alguém que tem sem- pre a tendência de culpar os outros ou as circuns- tâncias, por exemplo. Identificar que a pessoa tem tendência ao controle externo pode ser o primeiro passo para ajudá-la a assumir melhor suas res- ponsabilidades. Imagine as diferentes ocasiões em que esses traços de personalidade podem influen- ciar na vida organizacional e, melhor ainda, tente identificar esses comportamentos no local onde você trabalha. É importante esse treinamento para melhor poder conduzir equipes. Passamos agora para a coordenação. Para Fayol (2007, p. 126, grifos do autor), “coordenar é estabelecer a harmonia entre todos os atos de uma empresa de maneira a facilitar o seu funcio- namento e o seu sucesso”. Isso envolve promover o equilíbrio das despesas e recursos financeiros, envolve considerar as obrigações e consequências de toda e qualquer operação, estabelecer priori- dades e adaptar os meios ao fim (FAYOL, 2007). Coordenar é equilibrar, sincronizar e integrar as ações das pessoas e as atividades das unidades organizacionais, de acordo com certa ordem e método, para assegurar seu desenvolvimento harmônico. Fonte: Lacombe e Heilborn (2008, p. 206). Lacombe e Heilborn (2008) apresentam alguns esforços de coordenação necessários para que as atividades de uma organização aconteçam da melhor forma possível: a) o balanceamento, que se refere ao equilí- brio das quantidades; b) a sincronização, que se refere a coordenar as atividades de modo a tudo acontecer em seu tempo correto; c) a integração dos esforços, que se refere à orientação de todas as atividades para o propósito comum. Perceba que a divisão do trabalho, conforme já vimos, é fundamental para a produtividade, mas concomitante a ela há todo um trabalho de coordenação para que todas as atividades con- corram para o mesmo objetivo. Seria, de certa forma, “montar o quebra-cabeças”, sendo cada peça uma tarefa específica que foi designada a 33UNIDADE I alguém (ou grupo/equipe/setor) por meio da divisão do trabalho. Há alguns mecanismos de coordenação im- portantes para conduzir esse processo. Lacombe e Heilborn (2008) trazem como mecanismos o ajuste espontâneo (que pode ser tanto formal quanto informal), a supervisão direta, a definição da estrutura e dos padrões de trabalho e a padro- nização das habilidades. Como instrumento para poder se utilizar desses mecanismos, os autores sugerem como aspecto principal a comunica- ção e isso implica tanto o contato direto, quanto documento escritos ou comunicação por meios eletrônicos. A comunicação nesse processo, de fato, tem des- taque e importância singular. Sobre esse aspecto fundamental não trataremos profundamente aqui, pois você terá uma disciplina voltada especifica- mente a ele, tamanha sua importância para nossa formação, tanto humana quanto profissional. Por último, mas não menos importante, o controle. Começando sempre por aquele que carinho- samente estamos chamando de “pai da criança”: Fayol. Para ele, “ numa empresa, o controle consiste em ve- rificar se tudo corre de acordo com o pro- grama adotado, as ordens dadas e os princí- pios admitidos. Tem por objetivo assinalar as faltas e os erros, a fim de que se possa repará-los e evitar sua repetição (FAYOL, 2007, p. 130). O autor ainda salienta que diversos aspectos de- vem ser considerados, ou seja, o controle se aplica a tudo, às coisas, pessoas ou ações. Ele recomenda algumas ações pontuais segundo diversos pontos de vista: o comercial, o técnico, o financeiro, de segurança, da contabilidade e poderíamos ainda acrescentar diversos outros. Atualmente, por exemplo, é comum que em- presas tenham um controle tecnológico também, como o bloqueio de páginas da internet, e-mails corporativos a cujos conteúdos a empresa tem acesso ou a proibição do uso dos próprios smar- tphones dos funcionários. Essas são questões polêmicas, sem dúvida, que renderiam uma boa conversa, mas aqui vamos considerar os dois lados e, de repente, até mesmo pensar naquele ditado popular que já ouvimos tantas vezes “o combinado não sai caro”. Talvez com regras claras e estabele- cidas previamente, o que poderia parecer invasivo pode ser um acordo entre as partes baseado em algumas razões e aceito por todos. Ainda sobre o controle, Sobral e Peci (2013, p. 10) apresentam a seguinte definição: “ o controle é a função da administração que assegura que os objetivos estão sendo al- cançados. Consiste no monitoramento e na avaliação do desempenho da organização, na comparação deste com os objetivos pla- nejados e na correção dos possíveis desvios. A função de controle envolve: a definição de medidas de desempenho; a verificação siste- mática do desempenho efetivo; a compara- ção entre os padrões e objetivos planejados e o desempenho efetivamente observado; e, finalmente, o estabelecimento de medidas corretivas (no caso de se verificarem des- vios significativos). É por meio da função de controle que a organização se mantém no rumo pretendido ou planeja mudanças. Há diversos tipos de controle. Sobral e Peci (2013) trazem alguns deles: 1) o controle preventivo, que tem a função de antecipar possíveis problemas (ex.: inspecionar insumos e matérias-primas); 2) o controle simultâneo, que tem como característica corrigir os problemas à medida que ocorrem (ex: supervisão direta dos trabalhadores); 3) o controle 34 Organizações e administração posterior, que corrige os problemas depois que eles acontecem (ex: controle de qualidade dos produtos finais). Aqui podemos pensar que talvez o ideal mes- mo, em termos de excelência, fosse os três tipos, pois evitaria problemas com os insumos (que pelo efeito cascata acarretaria problemas aos produtos finais), com o andamento do trabalho (cujo efeito também afetaria os produtos finais) e com proble- mas de insatisfação dos clientes ou retrabalho ou recalls, fazendo o controle de qualidade. Estamos falando de produtosnesse exemplo, mas também para serviços isso se aplica: os insu- mos (conhecimento e demais recursos necessários para desempenhar o trabalho), o “durante”, que talvez necessite ainda de algum ajuste, e o “depois”, fazendo talvez uma pesquisa de opinião aos clientes sobre a qualidade do serviço. Em suma, a ideia do controle é que tudo o que foi planejado lá atrás dê certo! É garantir (ou tentar garantir) um bom resultado final. Sistemas de controle organizacional podem ser os mais variados. As características de sistemas de controle eficazes dependerão da natureza do negócio e de como se pretende administrar uma organização. Lacombe e Heilborn (2008, p. 173) estabelecem algumas etapas para o controle: “pa- drões de desempenho; medidas (aferição); inter- pretação e ação corretiva”. De fato, é fundamental para o controle que haja padrões de desempenho bem definidos e também medidas objetivas que possam ser aferidas. Do contrário, as pessoas não sabem o que nem quanto se espera delas, o que torna injusta uma avaliação e difícil o acerto den- tro de padrões que elas desconhecem. Mais uma vez, a importância de uma comuni- cação clara e objetiva. Há diversas formas de se estabelecer o controle em uma organização. Muitos autores trazem pro- postas nesse sentido, inclusive propõem algumas ferramentas, como auditoria, inspeções visuais, sistemas automatizados para contagem e medição ou até mesmo o cartão ponto. Enfim, existe uma infinidade de ferramentas, mas aquelas que de fato funcionarão serão as que fizerem sentido dentro da organização. Não adianta, por exemplo, con- tratar uma auditoria se o problema, já se sabe, está na qualidade das matérias-primas. O importante é procurar os mecanismos que ajudem a organi- zação a atingir seus objetivos, que sejam também éticos e não agridam as pessoas que ali trabalham; um sistema sensato e transparente, de modo que não se queira como objetivo “achar um culpado”, mas sim diminuir a probabilidade de problemas e aumentar as possibilidades de alcance do objetivo organizacional. Nessa unidade foram apresentados os concei- tos de organização, empresa, gestão, administra- ção, enfim, do que será fundamental para poder- mos caminhar pelos próximos assuntos. Vimos também as funções da administração: planejar, organizar, dirigir, coordenar e controlar e como elas podem ser aplicadas na prática. Isso nos dá a base para compreendermos o que envolve o mundo das organizações e de sua administração. Na próxima unidade, falaremos sobre algumas das principais teorias da adminis- tração. Obrigada pela companhia e até a próxima unidade! 35 1. Nossa vida é permeada de relações organizacionais. Há uma organização por trás de quase tudo que fazemos no nosso cotidiano. A respeito das organizações e de sua gestão, assinale a alternativa correta. a) Organizações e empresas são sinônimos. Sempre que se fala de organizações, estamos nos referindo especificamente a empresas. b) Organização é um grupo estruturado de pessoas que se unem para alcançar objetivos comuns. c) Todas as organizações têm as mesmas características, independentemente de sua natureza ou propósito. d) Administração e gestão são termos completamente distintos em significado, com funções diferentes que não se tangenciam. e) Dentre os princípios administrativos, a divisão do trabalho é o menos relevante deles, uma vez que não colabora para o aumento de produtividade. 2. Planejar e organizar são duas das funções da administração fundamentais para uma boa gestão. Com relação a essas funções, leia as afirmações abaixo: I) Quando se fala em planejamento, há alguns elementos basilares a serem considerados: os objetivos, os recursos e os planos. II) O processo de planejamento inclui também o levantamento de informações, para somente depois da análise delas poder preparar um plano de ação. III) Embora a missão e a visão da empresa sejam declarações importantes, não é necessário que os objetivos traçados no planejamento sejam coerentes com elas. IV) A organização é a função da administração responsável pela distribuição de tarefas e recursos pelos membros e unidades da empresa e pelo estabeleci- mento dos mecanismos de comunicação e coordenação entre estes. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 36 Assinale a alternativa correta. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I, II, e IV estão corretas. d) Todas as alternativas estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 3. Dirigir, coordenar e controlar são funções da administração que, combinadas com o prévio planejamento e a organização colaboram para uma boa gestão de organizações. A respeito dessas funções, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) : )( A direção está relacionada com os processos de gestão de pessoas na organi- zação, bem como com a escolha dos canais de comunicação mais adequados para resolver eventuais conflitos entre elas. )( Coordenar é equilibrar, sincronizar e integrar as ações das pessoas e as ativi- dades das unidades organizacionais, de acordo com certa ordem e método, para assegurar seu desenvolvimento harmônico. )( O controle pode estar presente em diversos momentos em uma organização. Pode ser preventivo, simultâneo ou posterior. Assinale a alternativa correta. a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 37 Administração industrial e geral Autor: Henri Fayol Editora: Atlas Sinopse: esta obra está dividida em duas partes. A primeira discorre sobre a possibilidade de um ensino administrativo, apresentando uma definição de administração, destacando a importância relativa das diversas capacidades que constituem o valor do pessoal das empresas e delineando métodos por meio dos quais esta necessidade seja identificada e o ensino administrativo seja idealizado. Na segunda parte, são estudados os princípios gerais da admi- nistração, sob o prisma de que todos os agentes de uma empresa participam, mais ou menos, dos processos administrativos. Por outro lado, estudam ainda os elementos da administração, a saber, a previsão, a organização, o comando, a coordenação e o controle. LIVRO 38 CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 5. ed. Barueri-SP: Manole, 2014. FAYOL, H. Administração industrial e geral: previsão, organização, comando, coordenação e controle. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Editora Positivo, 2010. GUERRINI, F. M. Administração para Engenheiros. São Paulo: Elsevier, 2016. JONES, G. R. Teoria das organizações. 6. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. LACOMBE, F. J. M. Teoria geral da administração. São Paulo: Saraiva, 2009. LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004. ______. Introdução à administração. Edição compacta. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ROCHA, E. E. R. B. O cooperativismo agrícola em transição: dilemas e perspectivas. 1999. Tese (Doutorado) - Instituto de Economia. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1999. SOBRAL, F.; PECI, A. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. 2. ed. São Paulo: Pearson Educa- tion do Brasil, 2013. 39 1. B. 2. C. 3. A. 40 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Descrever o modelo burocrático: seus princípios, dimen- sões e disfunções. • Descrever a Administração Científica e o Estudo de Movi- mentos e Tempos de Frederick W. Taylor e os princípios do Fordismo e Toyotismo. • Apresentar a visão sistêmica da organização e a Teoria da Contingência, bem como sua influência no modo de conceber a gestão. • Apresentar o sistema de gestão Administração por Ob- jetivos (APO). Modelo burocráticoAdministração científica Administração por objetivos Organização como sistema e Teoria contingencial Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Teorias da Administração Modelo Burocrático Prezado(a) aluno(a), bem-vindo(a) ao estudo de algumas das teorias das organizações. Aqui apresentaremos algumas das principais teorias da administração: o modelo burocrático, a admi- nistração científica, a teoria dos sistemas, a teoria contingencial e a escola de administração por ob- jetivos. Não estão todas elas aqui. Elegemos essas por serem as que talvez possuam os conceitos que mais poderão se aplicar ao seu dia a dia no traba- lho. A escola de relações humanas, também muito importante, terá um capítulo à parte: o próximo. Começaremos pelo modelo burocrático, por- que você verá que ele talvez explique praticamente todos os outros, ou pelo menos está inserido de certa forma em todos eles. O conheço bem. Minha dissertação de mestrado (MENEGASSI, 2007) foi sobre esse modelo e apresento aqui para você diversos aspectos presentes lá. Burocracia! Esse termo já caiu há muito tempo no senso comum e geralmente é em sentido pejo- rativo: “foi uma burocracia danada para conseguir todos os documentos!”, “é um processo muito bu- rocrático, a gente até desanima!”. Não é verdade? São mais ou menos nesses tipos de ocasiões que empregamos o termo e geralmente estamos bra- vos quando o fazemos. 43UNIDADE II de um aparelho impessoal hierarquicamente organizado, que deve agir segundo critérios impessoais e métodos racionais. Esse apa- relho dirigente, isto é, esse conjunto de bu- rocratas, é economicamente privilegiado e seus membros são recrutados de acordo com regras que o próprio grupo adota e aplica. O modelo burocrático de organizações não foi criado, mas foi teorizado e sistematizado por Max Weber (1963; 1978; 1998), que traça um tipo ideal da burocracia — ideal não no sentido de algo al- mejado, mas no sentido de um modelo puro, que serve como uma metodologia de análise. De fato, o tipo ideal na prática não existe, mas sim algo que se aproxima mais ou menos dele, ou seja, uma organização pode ter maior ou menor grau de burocratização, mas é muito difícil que ela chegue ao ponto de ser denominada do tipo ideal. A sugestão de alguns autores, portanto, é uma abordagem dimensional da burocracia, na qual cada dimensão reflita um aspecto específico e aponte o grau de burocratização de uma organiza- ção (SAMUEL; MANNHEIM, 1970).Dessa forma, foram eleitos por alguns autores, entre os quais nos baseamos, sobretudo, em Hall (1961), alguns as- pectos organizacionais que, quando presentes nas organizações, constituem a sua forma burocrática. Richard Hall (1961; 1962; 1963; 1967; 1968; 1978) desenvolveu importantes trabalhos sobre a burocracia, baseando-se em autores renomados que escreveram sobre esse tema e, a partir disso, caracterizou seis dimensões segundo as quais a burocracia pode ser compreendida, com foco no interior das organizações. São elas: 1) hierarquia de autoridade; 2) divisão do trabalho; 3) siste- ma de normas; 4) sistema de procedimentos; 5) impessoalidade; e 6) competência técnica. As características principais de cada uma dessas di- mensões encontra-se na citação do próprio autor (HALL, 1968, p. 95, tradução e grifos nossos): Bem, talvez aqui a gente possa entender o moti- vo pelo qual a expressão foi para esse lado, mas não é sobre essa burocracia de senso comum (no sentido de excesso de papéis e dificuldades em conseguir as coisas) que trataremos aqui, mas do modelo burocrático — ou também burocracia — que foi muito bem explicado por Max Weber, e depois também por outros autores, e que explica de forma muito clara a estrutura da maioria — eu arriscaria a dizer até todas — das organizações. E o que é a burocracia? Motta (1986, p. 7) de- fine de modo amplo a burocracia, o que remete, sobretudo, ao campo das organizações: “ Burocracia é uma estrutura social na qual a direção das atividades coletivas fica a cargo Maximillian Carl Emil Weber, ou Max Weber, como é conhecido, nasceu em 21 de abril de 1864, em Enfurt, Alemanha. Aos 19 anos, inicia o curso de Direito em Heidelberg, sendo ele inter- rompido algumas vezes devido ao serviço militar. Concluídos seus estudos, começou a trabalhar nos tribunais de Berlim. Além de atuar como ad- vogado, ensinava economia na Universidade de Friburgo, posteriormente assumiu também uma cátedra em Heidelberg. Em 1904, iniciou um ciclo de viagens aos Estados Unidos, onde se deparou com o tema da burocracia e seu papel em uma democracia. Durante a Primeira Guerra Mun- dial, como soldado reserva, Weber observou de dentro o que havia se tornado o centro de seus estudos sociológicos: a burocracia e sobre esse tema escreve, mais tarde, um denso material. Max Weber não teve filhos e morreu em 14 de junho de 1920 devido a uma pneumonia. Fonte: adaptado de Weber (1963). 44 Teorias da administração As dimensões das burocracias sistematizadas por Hall (1968) são o conjunto de atributos que de- termina o grau de burocratização de uma deter- minada organização (SAMUEL; MANNHEIM, 1970). Perceba que, seguindo essa perspectiva, as dimensões “podem não variar concomitante- mente” (HALL, 1961, p. 13, tradução nossa), ou seja, embora as dimensões burocráticas estejam estreitamente ligadas entre si, elas também podem se manifestar de forma independente uma da ou- tra. Além disso, haverá sempre variação desse grau de uma organização a outra, considerando que cada uma dessas dimensões dificilmente estará em grau exatamente igual a outras e, mais difícil ainda, todas ao mesmo tempo em mesmo grau. É claro que isso poderia gerar uma descaracte- rização do modelo, então é importante notar que quanto mais as dimensões burocráticas aparecem em graus elevados, mais a organização se aproxi- ma do tipo ideal de burocracia exposto por Weber: “ Na burocracia de tipo ideal todas essas di- mensões estariam presentes em alto grau, enquanto as organizações não-burocratiza- das ou simples apresentariam, idealmente, baixo grau de freqüência em todas as dimen- sões. Mais precisamente, uma organização altamente burocratizada seria caracterizada por uma complexa divisão do trabalho; uma estrutura hierárquica multigraduada e rigo- rosamente observada; normas extensivas de controle da atuação no trabalho; normas de trabalho bem desenvolvidas e sistematica- mente observadas; comportamento impes- soal – tanto entre os membros das organi- zações como entre estes e os não-membros – orientados por normas que enfatizam o cargo e não o seu ocupante como base da interação; e a importância do êxito no de- sempenho das tarefas – como base para a “ (1) Hierarquia de autoridade – o grau em que a tomada de decisão é pré-estruturada pela organização; (2) Divisão do trabalho – o grau em que as tarefas de trabalho são sub- divididas através de especialização funcional decidida pela organização; (3) Presença de regras – o grau em que o comportamento dos membros organizacionais está sujeito ao con- trole organizacional; (4) Especifi- cações de procedimentos – o grau em que membros das organizações devem seguir técnicas definidas pela organização para lidar com as situa- ções em que se encontram; (5) Im- pessoalidade – o grau em que, tanto membros organizacionais, quanto o público externo são tratados sem con- sideração às qualidades individuais; (6) Competência técnica – o grau em que padrões ‘universalizados’, de- finidos organizacionalmente são uti- lizados nos processos de seleção e de promoção de pessoal. 45UNIDADE II promoção e salário. A organização não-bu- rocrática, por outro lado, seria caracterizada por uma pirâmide hierárquica relativamente achatada [...] uma divisão do trabalho mais simples etc. (HALL, 1978, p. 33). O modelo burocrático é representado assim pelo seu tipo puro, mas há de se considerar que ele se aplica em praticamente todas as organiza- ções porque cada uma dessasdimensões pode ser analisada separadamente e com a ideia de gradação, ou seja, cada uma das dimensões pode aparecer nas organizações em maior ou menor grau. Essa infinidade de combinações possíveis faz que o modelo burocrático esteja sempre presente de algum modo nas organiza- ções e permaneça até hoje o modelo predomi- nante. E a burocracia, por sua vez, dentro desse aspecto dimensional, deve ser entendida como “uma condição que existe ao longo de um con- tínuo e não uma condição que esteja presente ou ausente’’ (HALL, 1978, p. 32). Muito ainda se teria a dizer sobre cada uma das dimensões burocráticas, seus detalhes, suas nuances… Na dissertação de mestrado intitu- lada As Dimensões do Modelo Burocrático nas Organizações: um estudo das empresas do Pólo Empresarial Spartaco orientadas pela abordagem da Economia de Comunhão (MENEGASSI, 2007), é possível encontrar um detalhamento aprofun- dado dessas e outras características do modelo burocrático. Vários trechos dela foram utilizados aqui, mas você encontra esse trabalho em: <www. ecodicom.net/tesi/Tesi07/070921CH.pdf> . 46 Teorias da administração Pensando em uma sistematização, podemos apre- sentar as seguintes características de cada dimensão do modelo burocrático — lembrando que não se esgotam aí, mas orientam para um melhor enten- dimento de cada uma delas, conforme o Quadro 1. Por que esse modelo é tão robusto a ponto de ser praticamente utilizado por todas as organi- zações, mesmo as que não sabem que o modelo existe na teoria? Você conhece uma organização que não tenha uma mínima hierarquia de autori- dade? Talvez você diga: as cooperativas. Já estudei profundamente cooperativas e digo a você: existe hierarquia, em alguns casos até bastante definidas, em outros menos, mas algum tipo existe. A mes- ma reflexão se aplica a cada uma de todas as seis dimensões. Não há organização que não tenha alguma delas. Pode ter em grau muito pequeno, mas ela está lá de alguma forma. Dimensões Características Hierarquia de autoridade • Estrutura hierárquica piramidal. • A autoridade é do cargo. • O poder das pessoas deriva do cargo que ocupam. • O mando também é decorrência do papel. • A estrutura organizacional prevê as responsabilidades, a delegação e o comando. • A coordenação e a responsabilidade final cabem às chefias. Divisão do trabalho • Os membros da organização são mantidos dentro da sua função e competência. • Divisão sistemática do trabalho, com especialização nas tarefas de acordo com o cargo. • Causa alienação no trabalho / impede a pessoa de perceber o trabalho como um todo. Sistema de normas • Regras e normas devem ser obedecidas por todos. • Atribuições de todos são de caráter formal. • Regulamentos formalizados, feitos por escrito. Sistema de procedimentos • Regras e procedimentos uniformes estabelecem o poder do comando e pa- dronizam as ações. • O comportamento do funcionário é previsível. • Atividades previstas por manuais, diretrizes de procedimentos, rotinas etc. Impessoalidade • A ordem que orienta a ação é impessoal. • As pessoas exercem papéis e o poder é impessoal. • Impessoalidade na comunicação. • Despersonalização dos relacionamentos interpessoais. • O funcionário é um profissional, prepara-se para seguir carreira e, se bem sucedido, pode atingir os níveis mais elevados da estrutura da pirâmide. Competência técnica • Necessidade dos critérios, exames, concursos, títulos para admissão e pro- moção dos funcionários. Quadro 1 - Dimensões da burocracia e suas características Fonte: adaptado de Silva (2004, p. 35). 47UNIDADE II Tendo compreendido o que é o modelo burocrá- tico e suas dimensões, vamos falar um pouco a respeito de suas disfunções, ou seja, dos “efeitos colaterais” desse modelo. Afinal, não é a toa que o termo burocracia foi parar no senso comum sempre com uma conotação tão negativa. Vamos fazer essa análise pensando no tipo puro, é claro, no modelo burocrático pensado ao máximo, em todas as suas dimensões ao grau má- ximo, porque provavelmente as mesmas críticas não se aplicariam aos casos em que os graus são moderados ou baixos (nesse último caso, talvez outras críticas diferentes surgiriam). Bem, vamos lá: um primeiro aspecto é sobre a disciplina e a rigidez da burocracia. A disciplina pode ser vista como algo que oprime o trabalha- dor. Com relação à rigidez, Perrow (1976) afirma que a burocracia é rígida, vagarosa e inóspita a mudanças e inovações. Sobre a extensiva cen- tralização de comando e supervisão, Blau (1978) destaca um problema do excesso de supervisão de todas as decisões por parte dos superiores: a tensão entre os funcionários, o que pode tornar a supervisão levada ao extremo ineficaz e nociva. Outro aspecto é apontado por Motta (1986), que compreende a burocracia como sendo um instrumento de recalcamento e alienante, por re- duzir cada pessoa somente ao papel que desen- volve segundo seu cargo ou atividade. Segundo o autor, “o trabalhador se defronta com o produto de seu trabalho como um objeto que lhe é estranho, com o qual não se identifica” (MOTTA, 1986, p. 71). Os sistemas rígidos de normas e procedimen- tos, segundo DeHart-Davis e Pandey (2005), tam- bém geram alienação do trabalhador. Alienação nesse caso é no sentido do trabalhador se sentir estranho ao fruto do seu próprio trabalho, é não reconhecer-se nele. Com relação à impessoalidade, as particula- ridades de cada caso não são consideradas com a devida importância, ou seja, o tratamento uni- formizado não se adapta a casos particulares. Isso para citar alguns exemplos, mas as disfunções ain- da vão muito além dessas. Considerando as diversas disfunções da buro- cracia, destaca-se uma questão que alguns autores trazem: “por que tal modelo persiste já que não é eficaz?” (CROZIER, 2004, p. 1409, tradução nos- sa). É evidente que trata-se de uma questão com- plexa e sem resposta única ou definitiva. Todavia, o que se percebe, tendo em vista não somente toda a teoria a respeito do modelo burocrático, como também sua prática no mundo organizacional, é que as características do modelo são consideradas ainda essenciais para se obter controle e previsi- bilidade daquilo que acontece nas organizações, o que de certo modo colabora para a produtividade e para a sustentabilidade das organizações em termos principalmente econômicos. Além disso, temos que lembrar sempre que, no mundo real, estamos falando de modelo bu- rocrático concebido dentro da ideia de inúmeras possibilidade de gradação em cada uma de suas dimensões, o que faz com que ele se adapte aos diferentes estilos de gestão, de formas de organi- zação e de ramos de atividade. Depois dessa leitura você nunca mais ouvirá o termo burocracia da mesma forma, não é verda- de? Vamos agora passar para o próximo tópico: a administração científica. 48 Teorias da administração Caro(a) aluno(a)! Tendo compreendido que es- tamos inseridos em um mundo de organizações burocráticas, vamos falar um pouco sobre a Teoria da Administração Científica ou a Escola Mecani- cista, como também é chamada. Você já deve ter ouvido falar de Frederick Tay- lor. Sim, o cara é famoso! Já ouvimos muito sobre ele; é considerado até mesmo o “pai” da admi- nistração. Bem, podemos já perceber então que suas contribuições certamente foram bastante im- portantes para o que hoje compreendemos como gestão ou administração. Então, vamos conhecer melhor essa escola. A teoria de administração de Taylor deu origem aos termos taylorismo e taylorista. Taylorismo é o sistema de produção baseado na organiza- ção racional do trabalho e na remuneração das pessoas pelo resultado obtido, para conseguir o máximo de produção, com alta qualidade e no tempo mínimo. Taylorista é o adepto desse sistema. Fonte: Lacombe (2009, p. 103). Administração Científica 49UNIDADE II Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Taylor era engenheiro mecânico e acreditavaque a produtividade e a eficiência dos trabalhadores era a chave para a prosperidade de uma organização. E esse eficiência, segundo ele, estava atrelada à di- visão do trabalho e à especialização, que tornaria o trabalhador mais hábil para realizar as tarefas para as quais eram designados (LACOMBE, 2009). Para Taylor, o objetivo da administração era o de assegurar o máximo de prosperidade tanto ao patrão quanto ao empregado. A prosperidade do patrão asseguraria a sustentabilidade do negó- cio e a do trabalhador tem a ver com o que hoje chamamos de gestão por competências, ou seja, pressupunha um sistema de remuneração que fosse diferenciado de acordo com a capacidade do trabalhador e sua produção, o que o motivaria também a desenvolver cada vez mais essas poten- cialidades e competências (LACOMBE, 2009). Outra característica marcante de Taylor é a divisão entre o plano estratégico e o operacional das empresas. Segundo ele, o administrador (aqui poderíamos pensar no dono, ou diretor, ou gerente, enfim, quem tenha o cargo de liderança geral da empresa) deveria ser o responsável pelas tarefas de administração e planejamento, o que envolve também a fixação de metas, a busca por melhorias nos processos, pelo desenvolvimento dos traba- lhadores, promoção da cooperação entre eles e de premiá-los pelos bons resultados. Ao trabalhador caberiam as tarefas relacionadas à execução do que foi planejado. Ele defendia a ideia de que planeja- mento e execução deveriam ser tarefas distintas e feitas por pessoas distintas (LACOMBE, 2009). São muitas as contribuições de Taylor para a administração. Vamos elencar algumas delas, segundo Ribeiro (2010): 1. A cada trabalhador deveria ser atribuída a tarefa mais elevada possível, de acordo com suas aptidões. 2. Estabelecer um padrão médio de pro- dução e solicitar a cada trabalhador que produza quantidades equivalentes ou su- periores a esse padrão. 3. Remuneração por produção, de modo que fosse satisfatória para quem cum- prisse o padrão e motivadora para quem o excedesse. 4. Introduzir a ideia de cientificidade no tra- balho (como o estudo de movimentos e tempos, que veremos a seguir). 5. Treinamento de trabalhadores para me- lhorar a quantidade e qualidade do que produziam. 6. Controle do trabalho para verificar se está sendo realizado de acordo com as normas estabelecidas cientificamente. 7. A separação entre planejamento (admi- nistradores) e execução (trabalhadores). E os próximos estão relacionados aos primeiros, mas têm a ver, sobretudo, com a questão da cien- tificidade que Taylor procurou atribuir à admi- nistração (por isso o nome da teoria), estudando cada tarefa em seus detalhes a fim de otimizar e maximizar a produção: “ 1. Estudar cuidadosamente cada trabalho, antes de lhe fixar o modo de ser executado. 2. Estudar o trabalho dos operários, decom- pô-lo nos seus movimentos elementares e cronometrar cada um deles, para eliminar os inúteis e aperfeiçoar os úteis. 3. Selecionar cientificamente os trabalhado- res (princípio que preparou terreno para o aparecimento da psicotécnica). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/661 50 Teorias da administração 4. Dar aos trabalhadores instruções técnicas sobre como trabalhar. 5. Separar as funções de preparação e as de execução, dando-lhes atribuições precisas. 6. Especializar e treinar os agentes nas res- pectivas atribuições, tanto na preparação e no controle do trabalho quanto na execução. 7. Preparar a produção, estabelecendo exce- lente remuneração para quando forem atingi- dos ou ultrapassados os padrões estabelecidos. 8. Padronizar os utensílios a serem usados. 9. Dividir entre a empresa, diretores, exe- cutantes e consumidores as vantagens que resultarem do aumento da produção. 10. Controlar a execução do trabalho para corrigi-lo, aperfeiçoá-lo e premiá-lo. 11. Classificar, de forma prática e mnemôni- ca, os equipamentos, os processos e os ma- teriais a serem empregados ou produzidos, de forma a facilitar sua produção (RIBEIRO, 2010, p. 17-18). Vimos nesses princípios algumas pistas sobre o es- tudo de movimentos e tempos (EMT). Taylor deu muita atenção a isso, a ponto de ser considerado o pioneiro nesse campo. O estudo consistia em estudar a tarefa, o local de trabalho, as ferramentas e máquinas, e procurar “racionalizar o trabalho e alcançar a otimização da relação tempo-esforço, procurando identificar os melhores movimentos e tempos na execução de uma tarefa” (RIBEIRO, 2010, p. 30). Pensem, isso é genial! E isso pode (e deve!) ser pensado em tudo na nossa vida: desde a disposição dos móveis e eletrodomésticos na nossa casa até a posição do nosso computador e dos nossos mate- riais na nossa mesa de trabalho. A ideia era poupar tanto tempo quanto esforço. Se o trabalhador precisava, então, de uma ferramen- ta específica e ele era canhoteiro, era melhor, então, que estivesse logo a seu alcance e próximo à mão esquerda, para que não tivesse que perder o tempo de trocar de mão para manuseá-la. Se servia a mais de um trabalhador, então deveria ficar posicionada de modo que ambos, sentados, conseguissem alcan- çá-la (poupa-se o tempo de se levantar). Esses são exemplos que nos dão a ideia básica desse estudo. Já percebeu quanto tempo você perde procuran- do as chaves de casa? Taylor aconselharia você a ter um porta-chaves em casa. Onde? Próximo à porta, pois é onde você precisará delas. Você que está aí estudando, que arrumou um cantinho bom para isso, mas que tem muita sede e tem que se levantar e ir até a cozinha para beber água (e talvez aproveitar para procrastinar um pouquinho…). Nesse caso, vamos otimizar esse estudo? Garrafinha de água bem aqui ao lado! Pensando agora em todos os trabalhos possíveis, desde um advogado que precisa de um computa- dor, caneta, papéis e de certos documentos e livros à mão, até um engenheiro ou arquiteto, que precisa não somente ter os seus próprios instrumentos de trabalho em mãos, como também a consciência de que o fruto de seu trabalho tem que ser algo que leve isso em consideração. Imagine uma cozinha projetada de modo que a pia fique longe do fogão, por exemplo. Sólidos e líquidos se espalhando pelo chão da cozinha ao transportar as panelas ou colhe- res de um lugar para outro. Conheço um apartamento em que entre a co- zinha e a sala de jantar está a sala de estar. Muito interessante ter que desviar as travessas com comida do sofá para poder chegar à mesa… não é prático fazer caminhadas pela casa com travessas de comi- da quente nas mãos… Então, esse estudo se aplica inclusive nessas profissões e muito mais do que você imagina! Taylor começou esse estudo de movimen- tos e tempos, mas depois novos elementos foram incorporados por Frank e Lillian Gil- breth, na primeira década do século XX, segui- dos por Barnes e Maynard (RIBEIRO, 2010). 51UNIDADE II Mnemônico é um conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de memorização. Consis- te na elaboração de suportes como os esquemas, gráficos, símbolos, palavras ou frases relaciona- das com o assunto que se pretende memorizar. Recorrer a esses suportes promove uma rápida associação e permite uma melhor assimilação do conteúdo. Fonte: Significados ([2017], on-line)1. Estudo de movimentos e tempos (EMT) 52 Teorias da administração Frank Gilbreth, engenheiro, analisou as tare- fas realizadas por um grupo de trabalhadores e identificou movimentos que eram desnecessários. Propôs, então, um sistema de simplificação das ta- refas de modo que os movimentos desnecessários fossem eliminados. Sua esposa, psicóloga, também contribuiu para esses estudos (CHIAVENATO, 2009). A sistemática do EMT consiste em: “ 1. Definição do campo de estudo. 2. Definição dos instrumentos a serem uti- lizados. 3. Observação do trabalho e sua decomposi- ção em movimentos ou micromovimentos. 4. Registro das observações. 5. Identificação dos movimentos inúteis e fases inúteis. 6. Identificação das deficiênciasnos equipa- mentos, ferramentas e bancadas de trabalho. 7. Definição do tempo-padrão da tarefa (ou cálculo do tempo normal). 8. Implantação (RIBEIRO, 2010, p. 32). Com essa sistemática, qualquer um pode replicar essa análise em seus ambientes até hoje, um século mais tarde! Diversas são as especificidades do EMT. Trago aqui algumas delas (RIBEIRO, 2010), que podem ajudar em nossas vidas tanto nas nossas casas quanto no trabalho: • A quantidade de movimentos a ser realiza- da deve ser a menor possível. Estou empre- gando esse princípio neste exato momento, enquanto digito este texto utilizando todos os meus dedos. Confesso que fico feliz em ver o quanto digito rápido! Sim, esse mé- todo de digitação que um dia aprendemos, em que há dedos específicos para letras es- pecíficas, um dia teve que ser aprendido, pensado etc., mas depois facilita muito as nossas vidas, não é verdade? Além de digitar rápido, posso digitar por horas sem cansar as minhas mãos. Isso também é EMT! • Ferramentas e materiais devem estar próxi- mos e ocupar lugar fixo e definido. Voltemos ao exemplo da nossa cozinha: quem tem dis- ponível 2 horas por dia para preparar o al- moço? Geralmente temos lá nossa meia ho- rinha e temos que fazer milagres com ela, não é? Não precisar andar para lá e para cá para pegar o que precisamos já economiza um bocado de tempo! Se você tem uma filha de 3 anos de quem tem que desviar sempre que precisa andar pela cozinha, então… melhor mesmo não precisar se movimentar muito. E sobre ocupar lugar fixo e definido… você já recebeu uma visita em casa que resolve gentilmente ajudar a guardar a louça e você passa meses depois procurando o descasca- dor de legumes? (Esse exemplo é uma singela homenagem à minha mãe). • O uso da gravidade para escoamento. Mui- to comum ver esse princípio sendo usado na construção civil, para escoamento de entulhos. O tempo e o esforço que poupa é algo extremamente considerável! • Iluminação adequada. Um dia um arqui- teto me disse: “no escuro, todas as cores são iguais”. Acho que a frase nem era de autoria dele, mas me marcou. Ela se aplica a muitas questões da vida, se analisada meta- foricamente, mas também pode ser literal! Uma boa iluminação é fundamental para a distinção tanto de cores, como materiais, texturas, enfim, tudo o que é necessário para se executar um bom trabalho. • As mãos devem ser desobrigadas de todo o trabalho que possa ser realizado vantajo- samente por dispositivo acionado pelo pé. Alguém considerou isso quando projetou as lixeiras, graças a Deus! 53UNIDADE II E a lista ainda seria enorme, mas você já entendeu a lógica da questão. Vamos passar agora para o Fordismo. Henry Ford (1863-1947) não foi um teórico, mas um em- presário que colocou em prática muitos desses princípios elaborados por Taylor e pelos demais teóricos e ficou famoso principalmente por ter criado a produção em larga escala. Ele fundou a Ford Motor Co. em 1903, com o objetivo de pro- duzir carros em grandes quantidades a fim de poder vendê-los a preços populares para que esse produto pudesse ser adquirido pelo maior número possível de pessoas (CHIAVENATO, 2009). Você já deve ter ouvido aquela célebre frase atribuída a Ford: “podemos produzir automóveis de qualquer cor, desde que sejam pretos”. A questão por trás da cor era muito simples: a tinta preta era a que secava mais rápido (além de não ter que trocar a tinta e os utensílios para mudar a cor - lembre-se do EMT) e como o foco era produção em massa, a coisa tinha que fluir da forma mais ágil possível. Uma das grandes novidades trazidas por Ford que influenciou o mundo da administração foi a introdu- ção de uma esteira com velocidade prefixada na linha de produção. Isso fazia que o Figura 2 - Modelo T Figura 3 - Modelo A O modelo inicial fabricado era o Modelo T. Mais tarde, por exigência dos consumidores, passou a produzir o Modelo A. trabalhador não produzisse nem acima da velocida- de da esteira, nem abaixo dela. Gerava também um sincronismo com as demais tarefas do processo de produção. Você já deve ter assistido o filme Tempos Mo- dernos de Charles Chaplin. A cena da esteira re- trata bem essa linha de produção e traz também algumas críticas veladas a ela, como a alienação do trabalhador (ele aperta parafusos compulsi- vamente a certo ponto, mesmo sem que isso faça sentido), o esgotamento por desempenhar sempre uma mesma função e assim por diante. Tivemos assim uma boa base do que é a escola da administração científica. Vamos passar agora para a teoria dos sistemas. 54 Teorias da administração Agora que você já conheceu um pouco mais a administração científica, vamos falar sobre ou- tra forma de se compreender as organizações: como sistemas. Essa concepção será a base para a próxima teoria abordada ainda neste tópico: a contingencial. A teoria de sistemas vê a organização “como parte de um sistema amplo e dinâmico, que a in- fluencia e por ela é influenciado” (RIBEIRO, 2010, p. 119). Essa teoria é decorrente da Teoria Geral de Sistemas desenvolvida pelo biólogo alemão Von Bertalanffy. Sistema é o complexo do todo organizado, um conjunto ou combinação de coisas ou partes, que compõem um valor unitário: se o assunto é astronomia, pensa-se em sistema solar; se é economia, pensa-se em sistemas monetários; se o assunto é fisiologia, pensa-se no sistema ner- voso, no sistema circulatório e assim por diante. Fonte: Ribeiro (2010, p. 120). Organização como Sistema e Teoria Contingencial 55UNIDADE II No âmbito da administração, a Teoria de Sistemas teve início em 1956. A empresa passou a ser con- siderada dentro de um contexto ambiental, tanto interno quanto externo e, segundo essa teoria, tanto o ambiente interno quanto externo podem ser fechados ou abertos. Segundo essa abordagem, a organização é como um organismo vivo e, sendo assim, considerá-la como um sistema fechado ou adotar um comportamento de inércia a conduz para o desaparecimento e a morte. A teoria então apregoa que a organização é um sistema aberto, que não pode ser concebida como um fim em si mesma, mas que interage com o ambiente externo, que faz parte de um ambiente dinâmico, constituí- do de outros sistemas (ABRANTES, 2012). Um conceito importante dentro da teoria dos sistemas é o de feedback ou retroalimentação. Tra- ta-se, nesse contexto, da capacidade da empresa de “utilizar os resultados de seu próprio desempenho como informação autorreguladora, ajustando a si mesmo como parte do processo em andamento.” Essa capacidade é extremamente necessária, uma vez que “um sistema mantém-se em funciona- mento enquanto é capaz de processar entradas, produzindo saídas” (ABRANTES, 2012, p.141). Daniel Katz e Robert Louis Kahn são os prin- cipais nomes da Teoria dos Sistemas aplicada à administração. “Seu modelo teórico para a com- preensão de organizações é um sistema de impor- tação e exportação de energia, no qual o retorno da energia exportada reativa o sistema” (ABRAN- TES, 2012, p. 141). As organizações, portanto, são sistemas aber- tos, que recebem influência do ambiente e tam- bém o influenciam. Garcia (2016) descreve al- gumas características que são peculiares a essa relação: 1) precisa lidar com grande quantidade de variáveis incontroláveis; 2) mudar uma parte do sistema implica em mudar outras concomitan- temente; 3) adaptabilidade e constância na dire- ção devem estar presentes; 4) deve considerar sua permeabilidade, ou seja, o quanto ela é vulnerável aos fatores ambientais; 5) é passível de modifica- ções necessárias e é resiliente. Poderíamos ainda elencar diversas outras, mas a ideia fundamental é esta: considerar que a empresa está inserida em um ambiente e precisa se relacionar com ele da melhor forma possível. A organização segundo a teoria dos sistemas Objetivos Processos de Transformação En tr ad as Sa íd as Recursos • Financeiro; • Humanos; • Informacionais; • Materiais; • Tecnológicos • Produtos;• Serviços. Retroalimentação AMBIENTE Figura 4 - A organização segundo a teoria dos sistemas Fonte: adaptada de Oliveira (2002). 56 Teorias da administração Primeiramente, é claro, vamos considerar o am- biente interno. Ele é composto pela estrutura interna da organização. Isso inclui os funcionários, os departamentos, os setores, a estrutura física, o maquinário, a tecnologia utilizada, enfim, tudo o que constitui a própria organização. Aqui dentro, os desafios são muitos. Entrariam diversas ques- tões, tais como: modo de organizar o trabalho, modelo de gestão, estilo de liderança, clima or- ganizacional, mão de obra especializada, comuni- cação interna, organização financeira e orçamen- tária, missão e visão da empresa… enfim, uma verdadeira infinidade de questões que influen- ciam o ambiente interno e que devem sempre ser consideradas. A grande questão da teoria de sistemas, no entanto, é que a organização não pode somente considerar seu ambiente interno, dado que tudo ali é influenciado também pelo ambiente externo. Sendo assim, deve-se considerar também o macroambiente — ou seja, aquele mais amplo mas que infuencia também a organização — e o ambiente de tarefa ou operacional, que é aquele composto por elementos mais próximos do dia a dia da empresa. Vamos começar falando do macroambiente em que a organização está inserida. Fatores tecno- lógicos fazem parte desse macroambiente. Aderir ou não a uma nova tecnologia disponível ou até mesmo desenvolvê-la de acordo com as necessi- dades da organização. Certamente são decisões que implicarão custos e resultados. Um amigo meu me disse outro dia que um quadro de avisos na empresa dele funciona melhor que e-mails. Então, aquele mito que a tecnologia é sempre algo que vem para facilitar pode nem sempre estar correto. Há casos em que o custo não vale a pena. Além disso, às vezes se paga por um pacote que se usa muito pouco. Você já teve um celular ou computador de última geração, mas só usava os mesmos programas e recursos do seu aparelho antigo? Em outros casos, aderir a uma nova tec- nologia pode ser fator vital para uma empresa, dependendo de seu ramo e de como suas con- correntes estão trabalhando. Fatores políticos legais também fazem parte desse macroambiente. De fato, “a atividade em- presarial é fortemente influenciada por leis, dire- trizes, padrões e decisões das diferentes instâncias governamentais que servem para regular os mer- cados nacional e internacional” (GARCIA, 2016, p. 109-110). Algumas instituições vinculadas aos governos, por exemplo, têm o papel de normatizar e fiscali- zar as operações das empresas. Alguns exemplos: Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), Agência Nacional de Vi- gilância Sanitária (Anvisa), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Banco Central do Bra- sil (Bacen), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e diversas outras (GARCIA, 2016). Fatores econômicos, demográficos, ecológicos, culturais e de tantas outras naturezas influenciam diariamente as organizações. Podemos perceber que haverá uma maior ou menor permeabilidade de acordo com o que aquele aspecto ambiental significa para a organi- zação. Vamos pensar um exemplo prático: devido a um escândalo político, há uma alta repentina no dólar. Uma empresa que depende de insu- mos importados terá graves problemas com essa mudança de cenário, enquanto as empresas que exportam comemorarão a nova conjuntura e em empresas cujas atividades pouco ou nada têm a ver com questões relacionadas ao câmbio, a vida continuará normalmente. Veja, é o mesmo acon- tecimento afetando diferentes organizações de diferentes formas. Além do ambiente interno e do macroambien- te, há também o ambiente de tarefa, ou operacio- nal. Trata-se dos elementos do ambiente externo 57UNIDADE II com os quais a organização interage em suas ações cotidianas. E aqui, é claro, não poderíamos deixar de falar deles: os stakeholders. Palavra bonita, né? Pega bem você usá-la por aí. No entanto, quem são eles? São todos os agentes de alguma forma relacionados à empresa (o termo também vale para outros contextos, como na área de desenvolvimento de software, por exemplo, são aqueles que usarão o sistema, mas o princípio é o mesmo). São aqueles que influenciam a organiza- ção ou são influenciados por ela de alguma forma. Então, você já pode imaginar quem e o que faz parte desse nome bonito, não é? Clientes, concor- rentes, fornecedores, bancos, governo, sindicatos, acionistas, funcionários e por aí vai. Contudo, não é suficiente somente saber quem são os stakeholders. É necessário reconhecer todos eles e analisá-los, a fim de identificar seus interesses e de que modo esses interesses podem afetar a organização. Identificar o impacto de cada um deles na organização e também aqueles considerados críticos, que merecem atenção especial. Para essa análise, Sobral e Peci (2013, p. 127) sugerem que sejam percorridas as seguintes etapas: • identificar os stakeholders da organização. • determinar a importância e o impacto de cada stakeholder para a organização; • identificar quais são os stakeholders críti- cos para a organização; • desenvolver uma abordagem diferenciada para cada um dos stakeholders de acordo com sua relevância e características específicas. Figura 5 - Stakeholders organizacionais Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 127). Stakeholders Clientes Associações de comércio e indústria Grupos de ação política e social Mídia Trabalhadores Órgãos do governo Bancos e seguradoras Fornecedores Concorrentes Acionistas Sindicatos 58 Teorias da administração Tendo seguido todas essas etapas, a ação dependerá de cada caso, podendo tomar diferentes formas, como a proposta de parcerias e alianças com forne- cedores, contato direto com clientes potenciais, ou fiéis, ou problemáticos, novas propostas de planos de carreira ou remuneração…. enfim, dependerá de qual stakeholder estamos falando e qual é o pon- to a ser trabalhado com ele ou com relação a ele. Pois é… não estamos isolados do mundo. Pelo contrário, quando se fala em organizações, a inter- dependência entre diversos elementos e agentes é algo implícito. O grande erro é esquecer-se disso. É considerar as atividades de uma organização como um fim em si mesmas e esquecer de que tudo faz parte de um ambiente maior, repleto de outros fatores que influenciam também a or- ganização. E não somente esta perspectiva, mas também sua via inversa: a influência que a or- ganização exerce sobre o ambiente, em todos os sentidos: desde o seu impacto ambiental, até sua importância para a comunidade local/nacional/ internacional, a oferta de determinados bens e serviços, inovações… enfim, a natureza dessa in- fluência pode se manifestar de diferentes formas. Tendo compreendido de que se trata a teoria de sistemas, daremos mais um passo adentrando às teorias da administração. Falaremos agora da teoria contingencial. Ela está intimamente ligada à teoria de sistemas (LACOMBE, 2009). Segundo a teoria da contingência, não há uma forma ideal de se administrar uma organização, uma vez que tudo depende do ambiente em que ela está inserida, do momento econômico, das tec- nologias disponíveis… (RIBEIRO, 2010). Sendo assim, a melhor forma de se administrar depen- derá de cada caso. A definição do dicionário para contingência é: “1) possibilidade de que algo se realize ou não; 2) Eventualidade; ação ou situação imprevista e que não se consegue controlar” (DICIONÁRIO, [2017], on-line). Uma das principais características da teoria da contingência, portanto, é a ideia da necessidade constante de adaptabilidade às mudanças am- bientais, identificando e analisando as principais contingências, que no âmbito organizacional pode significar “as características (internas e externas) que podem influenciar a estrutura de uma orga- nização” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 81).Há diversas discussões que são abarcadas pela teoria contingencial, mas o que nos importa aqui é o destaque a essa maneira de se conceber as or- ganizações, que extrapola a adoção de um modo de gestão estável e passa para uma ideia de dina- mismo, de modificação, de adaptabilidade. Parece tudo tão simples e óbvio, não é? Não, não é. Como você se sente quando tinha se programado para fazer algo importante e alguém o interrompe pedindo que você faça alguma outra tarefa? Geral- mente não gostamos disso, de sair da nossa rotina, da nossa agenda, da nossa programação, e, muito menos, do nosso modo de pensar, do nosso modelo mental. Agora vamos passar esse mesmo raciocí- nio para o nível organizacional: rever processos, repensar produtos, buscar inovações, adaptar-se a novas leis… talvez implique até mesmo a rever os próprios valores, a própria visão do negócio. Lembra lá na primeira unidade que falamos sobre as mudanças que acontecem e que são fun- damentais para um negócio e para quem produzia máquinas de escrever ou fitas K7, por exemplo? Pois é… ao ignorar as contingências, uma orga- nização pode simplesmente ir à falência! Tendo compreendido a teoria de sistemas e a contingencial, vamos passar no próximo tópico para a administração por objetivos. 59UNIDADE II Caro(a) aluno(a)! Vamos a mais uma viagem pelas teorias da ad- ministração. Agora vamos falar da Administração por Objetivos (APO). Acredito que essa teoria possa ter a ver com muitos aspectos da nossa vida pessoal. Você já fez alguma vez uma listinha no dia primeiro de janei- ro de algum ano com suas metas de ano novo? Confesse, pelo menos uma vez você fez… Uma vez (confissão minha agora) resolvi fazer isso na minha agenda nova (ainda de papel naquele tem- po) e comecei a escrever minhas metas, é claro, no dia primeiro de janeiro da agenda. Quando terminei, eu tinha ocupado todas as linhas (de uma agenda grande!) até o dia 13 de janeiro da agenda! Isto é, 13 páginas de metas para aquele ano. Tinha desde “reclamar menos” a “me empe- nhar para aprender a cozinhar melhor”, passando por “economizar uma quantia X por mês” até “te- lefonar mais para o meu irmão”. Pois é, foram 13 páginas repletas de boas in- tenções, mas…. faltou pensar nos planos de ação para cada uma delas. Ao final do ano, algumas foram alcançadas e outras eu nem me lembrava de um dia ter escrito! Podemos tirar daí alguns Administração por Objetivos 60 Teorias da administração elementos que já já veremos neste tópico: a ne- cessidade de planejamento, de elaborar planos de ação, de rever esses planos ao longo do perío- do, readaptá-los caso seja necessário e, por fim, avaliá-los. Pensando a Administração por Objetivos (APO), a coisa gira um pouco em torno dessa mesma ideia. O enfoque está nos resultados, nos objetivos a serem alcançados e, é claro, nos meios para isso: “ A APO é um sistema de gerência em que chefias e subordinados estabelecem objeti- vos e metas para suas respectivas áreas de responsabilidade, formulam planos para atingir às metas especificadas, definem pa- drões para medir o desempenho e fazem o acompanhamento periódico do progresso obtido (RIBEIRO, 2010, p. 130). Dentro desse contexto, você pode imaginar que alguns elementos têm papel imprescindível, tais como o planejamento, a coordenação dos proces- sos e atividades, a integração entre eles, a avaliação da eficácia, administração de recursos humanos, desenvolvimento de gerentes, entre diversos ou- tros (RIBEIRO, 2010). Algumas das características principais da APO são: • Estabelecimento conjunto de objetivos en- tre o gerente e seus subordinados. • Estabelecimento de objetivos para cada departamento ou setor. • Interligação dos objetivos departamentais. • Elaboração dos planos operacionais, com ênfase no controle. • Contínua avaliação, revisão e reciclagem dos planos. • Participação atuante da chefia na estimu- lação de envolvimento dos subordinados (SILVA, 2013, p. 405) Perceba que, segundo essa perspectiva, o estabe- lecimento de objetivos não cabe somente à alta administração, mas se trata de um processo rea- lizado em conjunto com os demais membros dos grupos dentro da organização. Isso é fundamental quando se fala em objetivos. Mais uma vez, ten- tando nos colocar “na pele do sujeito”: é muito mais fácil nos empenharmos no alcance de um objetivo quando participamos de sua concepção do que quando ele nos é simplesmente imposto, não é mesmo? E essa comunicação auxilia tam- bém na própria análise da viabilidade da meta, dado que na maioria das vezes os subordinados são aqueles que realmente conhecem os proces- sos, as maneiras e as condições para se realizar um trabalho. A interligação entre os departamentos é fun- damental na APO. Imagine que os departamentos não convirjam para o mesmo objetivo. Certamen- te haverá graves problemas de integração, para dizer o mínimo. Os planos operacionais são, por sua vez, as etapas para se chegar ao objetivo. Ne- les devem estar contidos os recursos necessários (de todas as naturezas: humanos, tecnológicos, materiais, financeiros, de conhecimento…), o cronograma que estipula o período em que as atividades devem ser desenvolvidas e por quem e assim por diante. O controle é fundamental para que os planos sigam para onde devem seguir: para o objetivo traçado. Nesse processo ainda dos planos, há a necessi- dade de que eles sempre sejam reavaliados. Lem- bra da teoria da contingência? Pois é, alguns de seus princípios se aplicam aqui também: olhos atentos ao ambiente! Planos talvez tenham que ser reformulados de acordo com conjunturas di- ferentes que possam surgir ao longo do caminho. A tudo isso soma-se a avaliação de desempenho. De nada adiantam essas ações anteriores se não se tem uma ideia clara do que foi ou não foi alcançado. 61UNIDADE II Ribeiro (2010) acrescenta alguns aspectos igualmente importantes a serem considerados na APO, por exemplo, a exposição do assunto à direção superior da empresa para obter o seu total apoio. Esse é um aspecto fundamental que não pode ser negligenciado. Sem esse apoio, os objetivos não se concretizam. Acrescenta ainda a necessidade de se subdividir o objetivo maior em metas para os setores, paras os grupos e até mesmo para cada indivíduo. Se voltamos ao nosso exemplo lá do começo, das metas de início de ano, essa divisão também faz sentido lá. A meta era “me empenhar para aprender a cozinhar melhor”. Como eu poderia subdividir essa meta de modo a, de fato, fazer coi- sas diárias ou semanais que me fizessem dar um passo a mais em direção a ela? Talvez comprar (e ler!!!) livros de receitas (ops, e fazer as recei- tas também, é claro), ou assistir semanalmente um programa de culinária e replicar a receita… sobre a meta de “reclamar menos”: essa é difícil para reclamões crônicos como eu (olha eu aqui reclamando já), mas uma coisa que fiz foi comprar um livro sobre isso, ler o livro e aprender algu- mas coisas práticas que ele me ensinou a respeito desse (mau) hábito; me ajudou a ter consciência das vezes que reclamo e me policiar para não fa- zê-lo (quer o nome do livro? Vou indicar lá no material complementar). Sobre ligar para o meu irmão com mais frequência: estabelecer um dia na semana ou a cada quinze dias e ligar para ele, e pronto! Perceba que a ideia é fragmentar para ações diárias ou semanais ou mensais aquela meta que pode parecer difícil. Veja que na APO o raciocínio é o mesmo: di- vidir por departamentos, por grupos e até mesmo por pessoas! Como cobrar o resultado de um de- partamento se dentro dele não ficou estipulado quem faz o que? Já ouviu o ditado que diz “cachor- ro que tem dois donos morre de fome”? Pois é, um pensa que o outro deu comida e ninguém deu. Um pensa no departamento que o outro está fazendo e ninguém faz! Por isso até as metas individuais têm que ser estabelecidas claramente. Para muitos tipos de organização, esse pode ser um modelo bastante interessante.Um escritório de engenharia ou arquitetura, por exemplo. Cada projeto pode ser encarado como um objetivo e, Na Figura 6, estão representados os processos da APO, que refletem isso que discutimos até aqui. Feedback Estabelecimento de metas e objetivos organizacionais Desenvolvimento do plano de ação, de maneira colaborativa Revisão dos objetivos/planos Reuniões Recursos Alteração dos planos Avaliação de desempenho Figura 6 - Os processos da APO Fonte: Silva (2013, p. 406). 62 Teorias da administração para além disso, também as próprias estratégias para crescimento da empresa ou para que seus serviços sejam mais conhecidos, por exemplo, podem entrar nesse sistema de APO. Visitas a fornecedores, contatos com mestres de obras, parcerias com construtoras, divulgação periódica dos trabalhos em revista especializada… enfim, vários são os planos de ação de acordo com os objetivos que se tem. O importante é ter claro o fim (objetivo), o meio (os planos), a necessidade de constante revisão desses meios e a avaliação final, para ver se todo o esforço, de fato, concorreu para o alcance do objetivo. Com esse tópico encerramos nossa unidade. Essa visão geral do pensamento administrativo nos ajuda a compreender os diversos tipos de or- ganização, as formas de conceber sua estrutura, sua relação com o ambiente (os diversos tipos de ambiente) e as maneiras de se considerar suas atividades meio e fim. Trouxemos aqui algumas das escolas da ad- ministração ou teorias da administração. Não há somente essas, mas os princípios dessas também estão presentes nas outras, como a estruturalista, a normativista (que se baseia principalmente em Fayol), a do desenvolvimento organizacional e outras sobre as quais ainda falaremos no nosso livro, como a de relações humanas e comporta- mental, que por terem um tema tão central para as organizações — as pessoas — dedicaremos a próxima unidade especialmente a elas. 63 1. O modelo burocrático está presente em praticamente todas as organizações. Foi descrito primeiramente por Max Weber e depois desenvolvido também por outros autores. A respeito do modelo burocrático – ou burocracia – assinale a alternativa correta. a) A burocracia está presente em praticamente todas as organizações, por ser constituída por grande número de documentos e formulários e ter como ca- racterística principal a morosidade nos processos. b) O modelo burocrático tem suas dimensões rígidas e definidas, sendo cada uma delas constante em todas as organizações. c) As dimensões do modelo burocrático são: hierarquia de autoridade, divisão do trabalho, sistema de pagamentos de taxas, sistema de arquivamento de documentos e formulários, impessoalidade e competência técnica. d) Cada uma das dimensões burocráticas pode ser analisada separadamente e com a ideia de gradação, ou seja, cada uma delas pode aparecer nas organi- zações em maior ou menor grau. e) O modelo burocrático é considerado o tipo ideal de modelo de gestão, não apresentando nenhum tipo de problema ou efeitos secundários que possam ser considerados negativos. 2. A administração científica ou escola mecanicista é uma das mais conhecidas escolas do pensamento administrativo. Seu principal representante foi o en- genheiro mecânico Frederick W. Taylor. A respeito da teoria da administração científica, leia as afirmações abaixo. I) A teoria da Administração Científica consiste em uma análise temporal das tarefas individuais que permitia melhorar o desempenho dos trabalhadores. II) Para Taylor, o objetivo da administração era o de assegurar o máximo de prosperidade para o patrão, mesmo que isso ocorresse em detrimento da prosperidade do empregado. III) O estudo de movimentos e tempos consistia em estudar a tarefa, o local de trabalho, as ferramentas e máquinas o procurar racionalizar o trabalho e alcançar a otimização da relação tempo-esforço, procurando identificar os melhores movimentos e tempos na execução de uma tarefa. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 64 IV) Para Taylor, as atribuições de planejamento e de execução caberiam a todos os trabalhadores da empresa que, em constantes reuniões, deveriam decidir juntos sobre os rumos da empresa e de como trabalhar para chegar aos objetivos coletivamente descritos. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e III estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I, II e IV estão corretas. d) Todas as alternativas anteriores estão corretas. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 3. A teoria de sistemas e teoria contingencial são duas teorias da administração cujos princípios estão interligados. A respeito dessas teorias, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): )( A teoria de sistemas vê a organização como parte de um sistema amplo e dinâmico, que a influencia e por ela é influenciado. )( Segundo a teoria de sistemas, a organização deve ser considerada um sistema fechado, protegido de ameaças externas. )( Os stakeholders compõem o ambiente operacional e são todos os agentes ou elementos que de alguma forma influenciam a organização ou são influencia- dos por ela. )( Segundo a teoria da contingência, não há uma forma ideal de se administrar uma organização, mas a melhor forma de se administrar dependerá de cada caso, considerando a necessidade de aptação às mudanças ambientais. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V-V. b) V-F-F-V. c) F-F-F-F. d) F-V-V-F. e) V-F-V-V. 65 Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas Autor: Will Bowen Editora: Sextante Sinopse: você seria capaz de passar um dia inteiro sem reclamar? Parece di- fícil? Então imagine ficar 21 dias sem se queixar de absolutamente nada nem de ninguém. ‘Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas’ foi escrito para mostrar que a vida pode ser muito melhor se mudarmos de atitude e pararmos de enxergar apenas o que há de errado. Comentário: nunca fui fã do estilo “autoajuda”, mas esse livro me conquistou pela sua utilidade. O método em si deve funcionar, mas eu não o apliquei. No entanto, para além dele, o livro traz questões valiosas para se pensar, como a frase que ainda quero gravar em um bracelete para sempre poder me lembrar dela: “nossos pensamentos criam nossa vida, e nossas palavras revelam o que pensamos”. Uma boa reflexão para reclamões. LIVRO Tempos modernos Ano: 1936 Sinopse: um trabalhador de uma fábrica sofre um colapso nervoso por trabalhar de forma quase escrava. Ao se recuperar, encontra a fábrica fechada e, confun- dido com o líder de uma greve, acaba preso. Saindo da prisão, encontra uma jovem em apuros e a ajuda, e é obrigado a enfrentar a Depressão Americana. Os dois se unem atrás de emprego e vivem uma série de aventuras. Comentário: as cenas da fábrica, do trabalho do personagem de Chaplin na esteira, revelam uma crítica ao sistema de produção em massa difundido pelo Fordismo e a alienação do trabalhador do seu próprio trabalho. FILME Na dissertação de mestrado intitulada AS DIMENSÕES DO MODELO BUROCRÁTI- CO NAS ORGANIZAÇÕES: um estudo das empresas do Pólo Empresarial Spartaco orientadas pela abordagem da Economia de Comunhão, o modelo burocrático é descrito de forma detalhada, com ênfase em cada uma de suas dimensões, nos seus pressupostos e suas disfunções. Recomendo a leitura. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/697 66 ABRANTES, J. Teoria geral da administração: antropologia empresarial e a problemática ambiental. Rio de Janeiro: Interciência, 2012. BLAU, P. M. O estudo comparativo das organizações. In: CAMPOS, Edmundo (Org.). Sociologia da burocracia. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. p. 125-153. CHIAVENATO, I. História da administração: entendendo a administração e sua poderosa influência no mundo moderno. São Paulo: Saraiva, 2009. CROZIER, M. Bureaucracy, sociology of. In: SMELSER. N. J.; BALTES, P. B (Eds.). Internacional Encyclopedia of the Social & BehavioralSciences. Elsevier, 2004. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/ referenceworks/9780080430768> Acesso em: 04 abr. 2007. DEHART-DAVIS, L.; PANDEY, S. K. Red tape and public employees: does perceived rule dysfunction alienate managers? Oxford Journals Social Sciences Jnl. Of Public Admin. Research and Theory, v. 15, n. 1, p. 133-148, 2005. DICIONÁRIO Online de Português. Contingência. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/contingencia/>. Acesso em: 08 jun. 2017. GARCIA, E. de O. P. 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E. 69 70 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Discutir sobre os diversos elementos presentes na Escola das Relações Humanas e decorrentes dela, com ênfa- se em temas como liderança, feedback, competências e coaching. • Apresentar a Escola do Comportamento Humano dentro da teoria das organizações e suas implicações, com ênfase à motivação, teorias X, Y e Z. • Discutir sobre a importância e o papel do foco, da atenção e da autoconsciência para a vida pessoal e para a vida no trabalho. Escola das Relações Humanas A abordagem comportamental O foco na vida pessoal e no trabalho Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi O Fator Humano nas Organizações Escola das Relações Humanas Prezado(a) aluno(a)! Bem-vindo(a) a mais essa unidade! Na unidade anterior, vimos algumas das teo- rias das organizações. Não falamos sobre aquelas que diziam respeito principalmente às pessoas nas organizações, justamente porque o assunto merece pelo menos uma unidade inteira. Aliás, você terá uma, ou melhor, duas disciplinas in- teiras do seu curso falando sobre pessoas, mas não podemos deixar de falar sobre esse assunto também dentro do campo organizacional, então aqui estamos nós. Nesta unidade, então, traremos um pouco de duas escolas específicas da administração: a escola de recursos humanos e a escola do comportamento humano. Focaremos um pouco naquilo que a escola fala em si sobre o tema, mas não nos limitaremos a isso. Traremos também esses temas para a atualidade, devido sua grande importância para a vida dentro das organizações. Começamos, então, pela escola das relações humanas. 73UNIDADE III Já conhecemos bem Taylor e Fayol, cujos pen- samentos vimos nas unidades anteriores e são os principais nomes da teoria da administração científica e da escola clássica e normativista. A visão deles a respeito da organização foi de grande contribuição, tanto para a teoria das organizações quanto para o dia a dia das empresas — princi- palmente indústrias — da época, e podemos, in- clusive, observar até os dias atuais grande parte dessa forma de pensar se concretizando no mun- do organizacional. A questão, porém, é que críticas surgiram a essas escolas, dado que a visão delas era um tanto quanto mecânica — tanto que também se fala em escola mecanicista para se referir aos pensamen- tos de Taylor. Bem, o filme de Charles Chaplin que recomendei na unidade anterior mostra um pou- co essa questão: produtividade e mecanismos para alcançá-la — como a esteira, divisão do trabalho etc. — e o trabalhador alienado de seu próprio trabalho, visto talvez também como uma parte de uma engrenagem maior que está a serviço de uma produção sempre mais eficaz. Desse modo, não tardou a aparecer gente ques- tionando esses e outros aspectos voltados ao tra- balhador e assim surgiu a Escola das Relações Hu- manas, cujo intuito era humanizar os princípios e a maneira de se administrar as organizações. O intuito dos autores dessa escola era destacar os pontos positivos das escolas anteriores, mas também corrigir seus excessos no tocante ao tra- balhador, principalmente (RIBEIRO, 2010). Quando se fala em Escola das Relações Huma- nas, o que vem logo em mente é a famosa expe- riência de Hawthorne. De fato, essa escola, assim como diversas outras, não se baseou apenas em teorias, mas, ao contrário, foi fruto de observações do que de fato acontecia nas empresas na época. Essa experiência, especificamente, foi realizada em uma fábrica de equipamentos telefônicos loca- lizada nessa cidade, perto de Chicago, nos Estados Unidos. Foram experiências relacionadas a mu- danças na iluminação e introdução de intervalos de descanso, aumento desses intervalos, horário de término da jornada de trabalho antecipado, mudanças no tipo de supervisão, entre outras (RIBEIRO, 2010). As conclusões dessasexperiências foram: i) o fator psicológico prevaleceu ao fisiológico, o que fez com que percebessem que as condições psicológicas dos trabalhadores — que jamais haviam sido consideradas — eram questões bas- tante relevantes nas organizações e que deveriam ser ponderadas; ii) um ambiente amistoso, com supervisão branda e espaço para convivência melhorou a produtividade; iii) o nível de pro- dução depende da integração social das pessoas; iv) é importante considerar fatores sociais, ex- pectativas individuais e a organização informal dos trabalhadores (RIBEIRO, 2010). Desse modo, um dos principais temas trata- dos por essa escola passou a ser a liderança, tema este nunca antes abordado pelas escolas que a precederam. Liderança é a característica que se espera do gerente, chefe ou supervisor, e que deve ser de- monstrada na condução do processo produtivo, por meio do envolvimento e do aproveitamento pleno da criatividade do grupo a ele subordinado, de modo a alcançar a satisfação de todos. Fonte: Ribeiro (2010, p. 68). 74 O fator humano nas organizações Bem, quando se fala em liderança, o assunto é longo e temos abordagens de todos os tipos. Desde aquelas mais romantizadas, como a que encontramos no livro O monge e o executivo, de James C. Hunter (2004), em que ele expõe a tese do líder servidor, até aquelas mais científicas, mas que acabam indo em direção à inevitável análise desta figura emblemática: o ser humano. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Cortella e Mussak (2013) têm um livro bastante interessante sobre liderança, em forma de bate papo, muito agradável de se ler, em que a certo ponto se questionam sobre a área a qual perten- ceria o estudo da liderança. Segundo os autores, a várias áreas, como a antropologia, sociologia, psicologia e humanismo em geral. Isso porque liderança não é cargo, mas uma atitude, uma con- dição, uma função a ser exercida, um comporta- mento humano. Você sabe que o Mário Sérgio Cortella é um filó- sofo, não é? Ele, inclusive, tem textos ótimos, livros ótimos, vídeos no youtube ótimos. Recomendo todos eles. Então, a sua abordagem sobre liderança tem alguns aspectos que não são tão convencionais como os que geralmente ouvimos por aí. Por exemplo, ele destaca a condição circunstancial da liderança. Segundo ele, a liderança “é algo que acontece em ocasiões específicas, em determinadas situações, mas nenhum de nós lidera o tempo todo e em todas as situações, dada a impossibilidade de que assim seja” e, por isso, é descabida a ideia de “vácuo de liderança”, ou seja, momentos em que ninguém esteja liderando o processo, exceto por intervalos muito pequenos. Achei fantástica essa observação. É muito in- teressante observar uma determinada questão sob uma ótica diferente da que tínhamos tido até então, inclusive para refletir sobre ela e dis- cordar até. Será mesmo que “sempre que se es- tabelece um agrupamento humano, formal ou informal, em qualquer área de atividade, alguém estará liderando o processo em cada momento” (CORTELLA; MUSSAK, 2013, p. 9)? Talvez. Essa ideia parece meio chocante, não é? No entanto, os autores complementam que a liderança pode ser, inclusive, compartilhada. Nesse caso, talvez a ideia possa mesmo se estender para diversos tipos de agrupamentos humanos, até mesmo a família. E sobre a boa e velha questão se liderança é algo inato ou não? O que esses autores diriam? Cortella, a partir de uma visão filosófica, consi- dera a liderança uma virtude e, segundo ele, o ser humano já nasce com ela, mas precisa desenvolver e praticar seu potencial de liderança ao longo da vida. Por outro lado, Mussak — cuja formação é medicina — fundamenta-se em parte na biologia e, sendo assim, considera a liderança como uma espécie de força interior que todos, sem exceção, possuem, mas que em alguns essa força é maior do que em outros e que precisa ser desenvolvida (CORTELLA; MUSSAK, 2013). Cortella acrescenta a essa ideia o pensamento de Aristóteles, que definia ato e potência: “ Pois eu penso a virtude como potência, isto é, como possibilidade, como força intrínse- ca. Nessa perspectiva, a pessoa nasce com a possibilidade e precisa realizá-la. Emprego o verbo realizar com o sentido do latim e do inglês, isto é, a pessoa precisa tornar real a sua possibilidade e dar-se conta, ter cons- ciência dela (a ideia do to realize). De nada adianta ter uma virtude que não se pratica, pois ela permanecerá apenas como potencial. O próprio Aristóteles dizia que a árvore está https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/662 75UNIDADE III virtualmente na semente, assim como a plan- ta está virtualmente no broto (CORTELLA; MUSSAK, 2013, p. 12, grifos do autor). Outro conceito muito bacana desses dois autores: a função do líder é “atribuir o caráter de viável ao inédito” (CORTELLA; MUSSAK, 2013, p. 54), em menção à expressão usada por Paulo Freire do “inédito viável”, ou seja, “aquilo que ainda não é, mas pode ser” (CORTELLA; MUSSAK, 2013, p. 54). É a ideia de factibilidade, de capacidade de fazer ou de dar condições para que algo aconteça. Jucá (2013) apresenta quatro comportamentos essenciais que, segundo o autor, definem a lide- rança — ele os chama de dimensões da liderança: engajar pessoas, desenvolver talentos, moldar o futuro e entregar resultados. São dimensões que abarcam os vetores “tarefas” e “relacionamentos”, tão tratados dentro do tema liderança. De fato, se pensamos que estamos falando de conduzir pessoas a determinado objetivo, estamos pres- supondo o relacionamento na condução dessas pessoas e as tarefas meio para atingir a tarefa fim, ou seja, o objetivo. E em meio a esses dois vetores há um mundo de variáveis que — por se tratar de pessoas — são, de fato, infinitamente variáveis! O que se procurou, todavia, em estudos sobre liderança é encontrar alguns padrões. Todos se en- quadrarão? Servirá para todos? Será sempre assim? Não, não e não. Entretanto, a busca por padrões nos ajuda muito a poder analisar minimamente algum tipo de fenômeno, mesmo sendo ele tão variável. Então, dentro desse mundo da liderança, algumas questões são imprescindíveis e a respeito delas bus- cou-se alguns padrões. Tipos de personalidade é uma dessas questões; tipos de líderes e de formas de se liderar também; tipos de liderados; ambiente de interação e assim por diante. Kurt Lewin (1890-1947), por exemplo, foi um psicólogo que, a partir de experiências realizadas, esboçou alguns modelos de liderança: a liderança autocrática, a democrática e a liberal. A liderança autocrática é aquela em que as diretrizes são esta- belecidas somente pelo líder, sem que este consul- te o grupo, o que inclui o modo de se realizar as tarefas, as pessoas que trabalharão juntas e assim por diante. A liderança democrática é aquela em que o líder debate com o grupo as diretrizes, que participa ativamente das decisões sobre os deta- lhes da tarefa e das parcerias para realizá-las. Por fim, temos a liderança liberal, ou laissez-faire, em que a figura do líder praticamente não aparece, ou seja, os grupos e indivíduos têm a liberdade de tomar as decisões relativas às tarefas que devem ser feitas e o papel do líder limita-se a fornecer os recursos necessários quando requisitados (RI- BEIRO, 2010). Outras tantas tipologias sobre estilos de lide- rança existem na literatura. Abra um livro sobre liderança e você as encontrará. Ribeiro (2010), por exemplo, traz alguns desses estilos de liderança: a liderança coercitiva, a controladora, a orientadora, a integradora e a situacional. Somente pelo nome de cada uma delas você já pode inferir de que se trata. Você verá detalhes sobre liderança em outra disciplina, então aqui não entrarei nesses assuntos a fundo. A ideia é trazer alguns elementos novos de discussão no que se refere a esse tema, ou seja, algo que talvez você não encontre facilmente por aí. Voltemos às dimensõespropostas por Jucá (2013). O autor começa destacando a importância dos propósitos e dos valores, sobretudo aqueles das empresas e que devem se refletir também, é claro, nas pessoas que ali trabalham. Isso signifi- ca que esses propósitos e valores precisam, pelo menos, não serem contrastantes com aqueles dos trabalhadores. Outro ponto que o autor levanta é relativo às habilidades de comunicação, com destaque à capacidade de ouvir o outro e prestar atenção — e sinalizar essa atenção — ao que o ou- tro fala, além da capacidade de clareza e foco e de uma coisa, talvez, inusitada: saber contar histórias! 76 O fator humano nas organizações É interessante como vários conceitos iguais na administração estão presentes em áreas dife- rentes, mas querem dizer exatamente a mesma coisa. Jucá (2013), dentro do tema liderança, fala sobre a importância de se saber contar histórias, por considerá-las uma forma envolvente das pes- soas aprenderem conceitos, ideias ou quaisquer outras coisas. Cita inclusive a definição de An- nette Simmons, segundo a qual história é “uma experiência narrada com detalhes e sentimentos suficientes para fazer que o ouvinte a vivencie como real” (apud JUCÁ, 2013, p. 33). No entanto, a narrativa de histórias ou o chamado storytelling não é somente um tema abordado pelo campo da liderança. Na área de Gestão do Conhecimento (GC), ela é considerada uma prática de GC e é muito recomendada dentro das organizações. É interessante perceber que estamos falando das mesmas coisas, dando a elas a mesma importância mesmo em campos distintos da gestão. Voltando ainda às dimensões propostas por Jucá (2013), o autor destaca a importância da cooperação, da reciprocidade, da confiança e da credibilidade — o que implica, nesse último caso, “apresentar resultados consistentes; sinceridade, abertura e franqueza; ser diariamente o exemplo de alguém que faz o que prega e cumpre o que promete. Esses são os segredos da credibilidade e os alicerces para a confiança” (JUCÁ, 2013, p. 44). Outra questão ainda abordada pelo autor é que o lí- der procure promover equipes de alta performance. Sobre desenvolver talentos, o autor traz algu- mas questões relacionadas ao incentivo ao sucesso — cuja definição é, segundo ele, “amar o que se faz, vivendo em ciclos de desenvolvimento continuado com outras pessoas” (JUCÁ, 2013, p. 61). Aconselha também a prática cotidiana do feedback, do reco- nhecimento por meio do elogio e da atuação do líder como um coaching. Também coaching é uma das práticas de Gestão do Conhecimento, que mencio- namos há pouco. Aqui teríamos muito o que refletir. Primeiramente, sobre feedback. Essa prática é uma das queridinhas da área de recursos huma- nos. Você irá encontrar autores que são enfáticos em dizer que a importância do feedback é tama- nha que sem ele as pessoas ficariam desorientadas dentro de uma organização, sem saber ao certo se o que estão fazendo está bom ou não. Essa linha de pensamento corresponde à maioria dos autores da área. Aí quando lemos Dale Carnegie (2012), ele é categórico em dizer que “críticas construti- vas” não existem e não devem ser feitas. Para ele, crítica é crítica, mesmo quando feita na melhor das intenções e as pessoas não gostam de receber críticas, seja qual for a circunstância. Na época em que ele escreveu esse livro — primeira edição em 1936 — ainda não existia a onda organizacional do feedback, então ele usou “crítica construtiva” para dizer a mesma coisa. Valeria a pena ler esse trecho de seu livro. É claro que a literatura sobre feedback já avan- çou bastante nas últimas décadas. Inicialmente, por exemplo, quando se usava esse termo, pensa- va-se imediatamente na expressão de um ponto negativo a ser melhorado. De uns anos para cá, fala-se também em feedback positivo. Goleman (2014) afirma que altos níveis de desempenho podem ser alcançados por qualquer pessoa que pratique de forma inteligente. Para ele, “uma prá- tica inteligente sempre inclui um esquema de fee- dback, que permite reconhecer erros e corrigi-los [...]. Idealmente, esse feedback vem de alguém com um olhar de especialista” (GOLEMAN, 2014, p. 159-160). Enfim, você certamente verá isso em outra dis- ciplina de modo mais aprofundado; o que quero aqui, somente, é despertar você para uma leitura crítica do que virá, lembrando que você não pre- cisa “beber” tudo aquilo que a área de recursos humanos diz como verdade absoluta e que nem mesmo os autores são unânimes acerca da valida- de de diversos assuntos — feedback é um exemplo. 77UNIDADE III Agora vamos falar um pouquinho sobre coaching. Você sabe o que é? Já ouviu falar? Até para achar uma definição imparcial é difícil, pois as definições de coaching que se encontra são dessas apaixona- das pelo tema, mas vamos lá para algumas delas: Por falar em Dale Carnegie, encontrei uma óti- ma síntese de seus princípios, feita por Lacombe (2009, p. 137): (a) fazer os outros se sentirem importantes, tornando-se genuinamente inte- ressados nas outras pessoas e sendo um bom ouvinte, incentivando os outros a falarem sobre eles mesmos e deixando-os falar durante a maior parte da conversa; (b) respeitar a opinião alheia, nunca dizer a uma pessoa, de forma direta, que ela está errada, fazer isso indiretamente e com habilidade; se você errar, reconheça o erro ime- diatamente e com ênfase; (c) começar sempre de modo amistoso, iniciando por um elogio e por uma apreciação sincera, criando um clima propí- cio à cooperação; (d) dar ordens sob a forma de perguntas, para que o outro pense que a ideia foi dele e estimulá-lo a achar que foi mesmo”. Fonte Conceito de coaching International Coaching Federation (ICF) Coaching é uma parceria continuada que estimula e apoia o cliente a pro- duzir resultados gratificantes em sua vida pessoal e profissional. Por meio do processo de coaching, o cliente expande e aprofunda a sua capacidade de aprender, aperfeiçoa seu desempenho e eleva sua qualidade de vida. Robert Hargrove (1995, p.15) Coaching é desafiar e apoiar as pessoas, oferecendo a elas o benefício da nossa parceria. Gallwey (1996) Coaching é liberar o potencial de uma pessoa para que ela maximize a própria performance. É mais ajudá-la a aprender do que ensiná-la. Krausz (2007) O processo de facilitar a aprendizagem e o desempenho de outra pessoa por meio da utilização ótima do seu potencial, com a finalidade de alcançar os resultados por ela almejados. Quadro 1 - Conceitos de coaching Fonte: baseado em Krausz (2007, p. 26-27). 78 O fator humano nas organizações Em suma, trata-se de uma técnica em que uma pessoa preparada e treinada para isso faz pergun- tas de modo a conduzir outra pessoa à reflexão. Não oferece respostas, mas ajuda a própria pessoa a encontrá-las. Vou expressar aqui minha visão pessoal sobre esse assunto e, mais uma vez, que sirva somente para estímulo à sua reflexão acerca dos conceitos com os quais você ainda terá con- tato. Bem, quando feito individualmente, acredito que seja algo bastante valioso. Talvez nem tanto pela técnica em si, mas por oportunizar algo raro nos dias de hoje: parar para pensar sobre a própria vida, os próprios sonhos, os próprios objetivos em vários aspectos da vida. Você para para pensar nisso uma hora por semana, sem nenhum tipo de interrupção, nem mesmo mental? Certamente não… a presença do coach ali, inclusive, serve para inibir qualquer tipo de interrupção acerca dessa reflexão, mesmo aquelas oriundas dos próprios pensamentos (comuns quando estamos sozinhos). Ter esse tempo para refletir acerca SOMENTE das nossas coisas e, ainda, alguém preparado para se dedicar a essa reflexão conosco, de modo total- mente presente e voltado a isso — o que difere de um papo com um bom amigo, em que provavel- mente a pessoa daria alguns conselhos ou contaria também coisas de sua vida — já é algo que por si só vale a experiência do coaching. No entanto, temos uma prática bastante co- mum nos ambientesorganizacionais — talvez por questões de custo — que é o coaching em grupos. Então… nesse caso eu diria que são “ou- tros quinhentos” (será nacional essa expressão? Quer dizer “é outra história”, “outra coisa”...). As dinâmicas que são usadas nesses casos costu- mam não agradar a todos, pois há pessoas que não gostam de se expôr e se sentem desconfor- táveis com isso. Há técnicas também de “gri- tos de guerra”, dentre outros que também nem sempre são o estilo de todos. Enquanto para alguns aquilo funciona como uma catarse, para outros chega a ser agressivo à sua personalida- de. Enfim, será sempre difícil (ou impossível) existir grupos homogêneos cujos integrantes encontrem sentido nas mesmas coisas ou se sintam confortáveis com elas. Outra questão ainda a se refletir sobre coa- ching é que há cursos — muitas vezes bastante caros — que vendem a ideia de que todos os par- ticipantes também podem vir a se tornarem coach. Essa parte realmente me preocupa, uma vez que se trata — ou deveria se tratar — de um trabalho a ser desempenhado por quem tem formação para ele, formação essa que passa por estudos apro- fundados do ser humano, o que deveria abarcar minimamente a sociologia, antropologia e psi- cologia. Como já disse antes, porém, trata-se de uma provocação que faço a você, incitando sua capacidade de reflexão crítica sobre as coisas que normalmente são vendidas por aí como a pana- ceia para todos os males. Voltando a Jucá (2013), o autor ainda fala sobre o papel do líder no treinamento e na seleção de pessoas e também sobre seu papel de delegar. So- bre o primeiro tema, destaca como novo conceito contemporâneo para “talento” o termo “competên- cia”. Competência pode ser definida como “con- juntos de conhecimentos, habilidades e atitudes interdependentes e necessárias à consecução de determinado propósito” (DURAND, 1998, p. 3). Das diversas definições que existem para o ter- mo competências, foi criado o famoso modelo CHA (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes), pois parece que esses três componentes sejam ade- quados para expressar o conceito. Além disso, são interdependentes: de fato, sem conhecimento, as habilidades poderão ser duvidosas e as atitudes, equivocadas. Sem habilidades, o conhecimento pode ficar apenas no âmbito tácito e não se trans- formar em atitudes eficazes. As atitudes, por fim, são aquilo que você de fato faz com seus conhe- cimentos e habilidades. 79UNIDADE III Aqui destacamos ainda o conceito de entrega, de Dutra (2001), segundo o qual entrega significa a contribuição que de fato a pessoa dá à empresa, por meio de seus conhecimentos, habilidades e atitudes. De fato, o que se espera é que as pessoas contri- buam efetivamente com a organização, pois são essas contribuições efetivas que são capazes de gerar os resultados esperados para empresas e gestores. Gestão por competências é a gestão baseada nessas premissas, que apresenta pressupostos pró- prios desde o momento de recrutamento e seleção até a remuneração por competências, passando pelos diversos níveis intermediários. Trata-se de uma opção de abordagem de gestão que algumas empresas adotam, outras não. Como você pode notar, ela baseia-se na meritocracia, outro termo polêmico na atualidade. Encontramos pessoas que defendem a meritocracia com unhas e dentes e quem a abomina como raiz de todos os males. Bom, mais uma pulguinha que coloco atrás de sua orelha para reflexão. Sobre delegação. Também aqui teríamos muito o que conversar. A princípio, “delegar não é se li- vrar de algo. Delegar é uma responsabilidade, que implica sempre algum grau de envolvimento e um ‘contrato’ bastante claro” (JUCÁ, 2013, p. 86). O conceito é ótimo, claro, objetivo. A realidade nem sempre é bem assim. E há vários fatores determi- nantes para que o movimento todo da delegação seja eficaz ou não: que o líder esteja próximo para dar o apoio quando necessário, que saiba dosar aquilo que delega — você já teve um chefe que é 100% delegação? Costuma gerar revolta a certo ponto. Enfim, a delegação é algo que exige bom senso de ambos os lados para que funcione. Por fim, bom, não dá para dizer “por fim” porque esse assunto não se esgotaria nunca. Mas quero finalizar este tópico enfatizando algumas questões: primeiro destacando que a Escola das Relações Humanas trouxe conceitos que para nós, na atualidade, parecem bastante óbvios; no en- tanto, foi algo revolucionário à época, dado que até então as pessoas nunca tinham sido foco do pensamento e da atividade organizacional. Outra questão é que, mesmo que os temas lançados nessa escola — principalmente o da liderança — tenham sido bastante desenvolvidos ao longo das décadas que se sucederam, continuam sendo desafiadores porque as teorias ou regras nunca se aplicam a todas as pessoas e os tempos também mudam. Por isso, requerem sempre uma visão analítica a respeito. Vamos passar para outro enfoque agora: a Escola do Comportamento Humano, que mui- tas vezes se confunde com a Escola das Relações Humanas, mas traz alguns elementos distintos. 80 O fator humano nas organizações Caro(a) aluno(a). Falaremos agora sobre a Escola do Compor- tamento Humano dentro da teoria das organi- zações, extrapolando os temas também para os dias atuais. A Escola do Comportamento Humano é, de certo modo, uma continuação ou um desenvol- vimento da Escola de Relações Humanas. Alguns autores têm dificuldade em distinguir uma da outra e em algumas literaturas as duas são tratadas conjuntamente como behavioristas, mas Ribeiro (2010, p. 79) tenta distingui-las da seguinte forma: “ enquanto a das Relações Humanas entende que o indivíduo é dotado de sentimentos e percepções, a do Comportamento Humano, além de reconhecer esses aspectos, situa o indivíduo como agente de seu próprio pro- gresso na medida em que o entende como participativo e não como mero espectador da realidade que o cerca. Alguns nomes de expressão nesta escola são Herbert Simon, Chester Barnard, Chris Argyris, Mary Parker Follet, Douglas McGregor e Abrah- am Maslow. A ênfase dessa escola é de como o A Abordagem Comportamental 81UNIDADE III comportamento pode influenciar os resultados (RIBEIRO, 2010; LACOMBE, 2009). Bem, dentro desse contexto, é claro, temos que começar pela famosa teoria das necessidades de Maslow, que muito provavelmente você já ouviu falar. O motivo ou motivação se refere a um estado ‘interno que pode resultar de uma necessidade’ (DAVIDOFF, 2001, p. 325) e que leva as pessoas a persistirem no comportamento em busca de sanar suas necessidades”. Fonte: Walger, Viapiana e Barboza (2014, p. 20). Abraham Maslow, no final da década de 1940, desenvolveu uma teoria sobre a hierarquia das necessidades, a partir da qual é possível inferir o que motiva cada indivíduo. Segundo ele, o que motiva as pessoas são as necessidades ainda não satisfeitas. Assim, quando uma necessidade é sa- tisfeita, surgem imediatamente outras almejáveis e elas nunca acabam… sim, segundo a teoria dele, seres humanos são o que costumamos chamar de eternamente insatisfeitos e o que os motiva (ou nos motiva) é exatamente a busca por satisfazer essa nova e nova e nova necessidade. Vamos pensar agora nisso de forma prática. Você é daquele tipo de pessoa que quando está com fome ou com sono fica irritado e só consegue pensar em comer ou dormir? É difícil se concen- trar em uma atividade quando isso acontece, não é? E pessoas que infelizmente convivem com a incerteza de conseguir ter o alimento para suas famílias… você pode imaginar que o foco delas está nessa necessidade específica e que tudo farão para poder saná-la. Tratam-se de necessidades básicas que precisam ser atendidas. Agora imagine a situação em que você tem certa tranquilidade com relação à alimentação de sua família, mas mora em um bairro cujo índice de criminalidade é alto e você não se sente seguro. Qualquer barulho a noite lhe causa sobressaltos. Bem, nesse caso, vocênão terá mais seu foco na questão da alimentação, mas na busca por segu- rança. Talvez irá trabalhar mais para conseguir recursos necessários para mudar de bairro. Supondo que você já conseguiu isso. Foi pro- movido no trabalho, tem um salário melhor, com- pra os alimentos de que precisa, mora em um local onde se sente seguro e tem plano de saúde que o deixa tranquilo para o caso de alguma emergência. A busca por essas coisas já não lhe motiva mais. Agora suas energias estão voltadas a estabelecer um bom relacionamento com a nova vizinhança, associar-se a grupos de interesses comuns em sua comunidade, fazer amigos, ter tempo para eles… e se dedicar a isso. Você já tem tudo isso e agora bate um novo comichãozinho: o desejo de ser reconhecido, de sobressair socialmente, de poder adquirir alguns itens de luxo que sempre sonhou… e a motivação agora versa sobre esses novos objetivos, oriundos das novas necessidades. Pirâmide de Maslow 82 O fator humano nas organizações E agora que já conseguiu tudo isso ainda ficou um vazio por dentro? É a necessidade de autor- realização. Essa é complexa. Quando falávamos das básicas, como dormir e se alimentar, ou a ne- cessidade de segurança, essas eram necessidades mais comuns a todos. Quando se fala em autorrea- lização, estamos falando aqui de cada indivíduo singular neste planeta. O que realiza uma pessoa, não realiza outra. Para alguns, a autorrealização pode vir quando a pessoa consegue contribuir para algo de bom no mundo, por meio de algu- ma instituição que cria, ou trabalho voluntário… para outros, ela significa o constante desafio em se fazer algo cada vez melhor — em algum espor- te, no trabalho… para outras pessoas pode ser desfrutar um tempo de qualidade com a família ou proporcionar aos filhos condições de acesso à educação ou cultura. Enfim, aqui cada um é cada um. Poderíamos colocar aqui também os hobbies, ou seja, aquilo a que a pessoa pode se dedicar sim- plesmente por prazer, porque gosta. Maslow esboçou essa ideia em forma de uma pirâmide de necessidades. Em que ponto desta escala será que você está? Ou em que degrau dessa pirâmide? É claro que, mais uma vez, estamos falando de pessoas e não existe padrão único e universal para todos. Essa teoria é uma representação do que seria comum a grande parte das pessoas. Gareth Morgan (1996), em seu excelente livro Imagens da organização, faz uma adap- tação dessas necessidades ao âmbito organi- zacional e sugere algumas medidas a serem usadas pelas organizações para proporcionar a motivação para os diversos degraus da pirâ- mide de Maslow. Figura 1 - Pirâmide de Maslow e desejos de cada necessidade Fonte: Lacombe (2009, p. 135). Necessidades básicas Necessidades de segurança Necessidade de associação Necessidade de Status Necessidade de autorrealização Necessidade de associação Necessidades de segurança Necessidades básicas 83UNIDADE III “ Autorrealização: estímulo ao completo comprometimento. O trabalho como di- mensão importante na vida do empregado. Autoestima: cargos que permitam realiza- ção, autonomia e responsabilidade. Traba- lho que valorize a identidade. Sociais: estímulo à interação com os colegas no trabalho. Possibilidade de atividades so- ciais e esportivas. Reuniões sociais fora da organização. Segurança: seguro-saúde e planos de apo- sentadoria. Segurança no emprego. Estabe- lecimento e divulgação de plano de carreira. Salário e benefícios: segurança e condições agradáveis de trabalho (MORGAN, 1996, p. 47). Bastante relevante essas ideias de motivação re- lacionadas ao trabalho, pois trata-se, em última instância, daquilo que possibilita o alcance das demais necessidades em grande parte. Há outras teorias, além da de Maslow, sobre motivação. A teoria ERC de Clayton Alderfer, por exemplo, diz que as necessidades dos seres humanos são: existência, relacionamento e cres- cimento. A primeira se refere às necessidades básicas do ser humano, como as fisiológicas e de segurança; a segunda refere-se ao desejo das pessoas em manterem relacionamentos umas com as outras; e a terceira corresponde ao dese- jo de desenvolvimento pessoal e autorrealização (RIBEIRO, 2010). Apesar de ser uma tipologia ligeiramente distinta, em muito se assemelha à teoria de Maslow. Frederick Herzberg, porém, desenvolveu a teo- ria dos fatores internos e externos, aplicável prin- cipalmente à questão da motivação no trabalho. Os fatores internos ou motivacionais são intrín- secos à pessoa e são aqueles diretamente ligados ao trabalho e à função exercida, o que caracteri- za uma posição de controle direto sobre eles. Os externos ou higiênicos são extrínsecos à pessoa, ou seja, os indivíduos não têm controle sobre eles. Exemplos desses fatores são as condições de trabalho, benefícios, salários, ambiente físico etc. O argumento da teoria é que os fatores externos, se forem bons, não aumentam a satisfação do funcionário, mas se estiverem ruins, causarão insatisfação. Por outro lado, as condições relacio- nadas aos fatores internos podem gerar motivação (RIBEIRO, 2010). McClelland, por sua vez, apregoa que as ne- cessidades mais importantes para gerar a moti- vação de uma pessoa são: a realização, o poder e a afiliação. A realização é a necessidade de obter sucesso em determinadas situações ou tarefas; o poder se refere à necessidade que algumas pes- soas têm de controlar e comandar outras pessoas; por fim, a afiliação, que se refere à necessidade de se sentir parte de um grupo (RIBEIRO, 2010). É interessante notar que alguns pontos convergem para o que Maslow dizia em sua pirâmide, mas outros elementos também característicos dos se- res humanos aparecem em outras teorias, como o poder, no caso dessa de McClelland. Isso faz que nos identifiquemos ou identifiquemos caracterís- ticas de pessoas que conhecemos dentro desses parâmetros. Conheci certa vez uma pessoa que dedicava todas as suas energias para manter uma posição de poder praticamente imaginária, mas isso provava o quanto para ela essa necessidade era importante. Passemos agora para a teoria da expectativa de Vroom. Segundo ela, “ a atitude do indivíduo depende da expecta- tiva que ele tem de ver seu esforço pessoal retribuído; a maior ou menor participação está intimamente ligada à possibilidade de promoção ou premiação, sem o que o seu desempenho será sofrível (RIBEIRO, 2010, p. 90). 84 O fator humano nas organizações Trata-se de uma teoria que indica uma forma de pensamento que pode ser nociva ou até mesmo cruel para a pessoa que a adota e certamente não se aplica a todos os âmbitos da vida. Quem precisa desempenhar tarefas domésticas, por exemplo, sabe bem que existe muito trabalho a ser feito e pouco reconhecimento. Talvez até como mães e pais essa retribuição nem sempre acontece, e o trabalho tem que ser feito da mesma forma. Aqui caberia bem aquela ideia de automotivação. Po- deria diminuir sofrimentos e frustrações no curto prazo. Uma das grandes polêmicas dentro do campo da motivação: é possível que alguém motive ou- tra pessoa ou a motivação só pode ser algo que vem do próprio indivíduo? Há linhas teóricas que afirmam que sim, outras não e um terceiro grupo é dos moderados. Talvez eu me enquadre nesse último. A questão é que ninguém tem o poder absoluto e supremo de motivar outra pessoa. O que se pode fazer é fornecer condições favoráveis para isso, mas a contrapartida precisa vir do in- divíduo que irá ou não se motivar, conforme for sua reação a isso. Então eu diria que há — ou pode haver — uma influência sim, mas não absoluta, sobre a motivação de outrem. Quando me deparo com um impasse, tento pensar no seu extremo, isso ajuda. Vamos pensar então pelo outro lado: um líder, chefe, gerente, coordenador, professor… pode desmotivar uma pessoa? Sim, certamente pode. Atitudes abusivas, injustas, ambiente insa- lubre ou monótono podem dificultar e muito a manutenção da motivação de alguém e talvez a faça despencar.Em ambos os casos, o sujeito é o agente de seu destino. A palavra — ou o sentimento — final é dele, mas vivemos em sociedade e as ações dos outros, principalmente aqueles próximos, inevitavelmente nos influenciam de alguma forma. Aqui teríamos dezenas de livros sobre motiva- ção que apregoariam a importância da automoti- vação, ou seja, da pessoa por si só se motivar. Cer- tamente é uma postura mental bastante favorável, pois blinda de certo modo a pessoa de ataques externos à sua motivação. Quem sabe um dia to- dos poderemos chegar a esse nível de maturidade ou equilíbrio mental. Até lá, é melhor cultivarmos um ambiente saudável e amistoso onde as pes- soas colaborem para a motivação umas das outras, principalmente na família, com os amigos e no trabalho ou na faculdade, ou seja, nos ambientes que mais fazem parte de nossas vidas. Ainda sobre motivação, de tempos em tempos seria bom analisarmos nossa própria pirâmide e identificar nossas necessidades com base, sobre- tudo, nos nossos valores de vida. Assim, talvez a pirâmide de cada um de nós seria algo mais sofisticado que o modelo geral; teria traços da nossa própria personalidade e dos nossos anseios mais profundos. Para ajudar nessa reflexão, Dalai Lama sugere alguns questionamentos para avaliar nossa motivação: “i) é apenas para mim, ou para outros?; ii) é para o benefício de poucos, ou de muitos?; iii) é para agora, ou para o futuro?” (GO- LEMAN, 2014, p. 248). Além desses, muitos outros questionamentos poderiam ajudar nessa reflexão, a fim de compreendermos as nossas reais neces- sidades, considerando também a vida e o mundo de forma mais ampla. Afinal de contas, vivemos em sociedade e construímos hoje o mundo em que nossos descendentes viverão. Além de questões relacionadas à motivação, a Escola do Comportamento Humano também tentou compreender a conduta dos administra- dores condicionada por suas suposições sobre o comportamento humano. Douglas McGregor foi o principal nome desse estudo, cujos princípios desenvolvidos encontram-se nas chamadas Teoria X e Teoria Y. Segundo a Teoria X, “o ser humano é avesso ao trabalho e o evitará sempre que possível. Por conta dessa característica, as pessoas precisam 85UNIDADE III ser guiadas com energia, sob pena de nada pro- duzirem” (RIBEIRO, 2010, p. 81). O princípio é de que o ser humano é preguiçoso por natureza, fará sempre o mínimo possível, e o faz visando recompensa. O controle e as punições fazem par- te dessa teoria e uma das formas mais eficientes de se fazer isso é por meio da remuneração, tanto como meio de recompensa como meio de puni- ção. O foco está no objetivo da empresa e não do funcionário. A Teoria Y, por sua vez, pressupõe que “o tra- balho é uma coisa tão natural quanto o lazer e o descanso. Punições e ameaças não são as únicas formas de obter a cooperação e a participação do indivíduo” (RIBEIRO, 2010, p. 81). Considera que as pessoas podem conceber o trabalho como fonte de satisfação e têm condições de assumir responsabilidades, ter autocontrole e autodiscipli- na para realizar suas tarefas sem a necessidade de supervisão constante (RIBEIRO, 2010). Para o autor, McGregor, “ a motivação, o potencial e a capacidade de assumir responsabilidades estão presentes em cada pessoa. A empresa, porém, precisa criar condições para que elas desenvolvam essas características. O procedimento para tanto consiste em criar oportunidades, dar vazão ao potencial e remover obstáculos (RIBEIRO, 2010, p. 82). 86 O fator humano nas organizações William Ouchi (1988) acrescentou a Teoria Z a esse contexto. Seu pressuposto principal é que a confiança e a produtividade são elementos forte- mente relacionados. Isso quer dizer que o ambien- te organizacional deve estar configurado de forma a promover a confiança entre as pessoas. Isso im- plica também em questões comportamentais e de relacionamento, pois é justamente a sensibilidade do gestor que promoverá a compreensão acerca da melhor maneira de se formar equipes de trabalho e de promover discussões pertinentes que gerem consenso. A ideia dessa teoria é a valorização do trabalho em grupo e da confiança entre as pessoas como propulsoras de um bom clima organizacio- nal e de produtividade. A pré-concepção das pessoas, nesse caso, é determinante para a abordagem de gestão que será adotada. É claro que mais tarde muitos outros temas foram incorporados a essa escola, ou desenvolvidos após ela. Essa é a parte em que a psicologia entra no âmbito organizacional e nos ajuda a compreender diversas questões relacionadas ao comportamento humano. De fato, a administração não é considerada uma ciência justamente porque é interdisciplinar e bebe em várias fontes — e assim deve ser, por sua natureza — como a antropologia, sociologia, economia e, sim, também a psicologia. No próximo tópico, abordaremos algumas questões importantes que chamei de desafios nas relações de trabalho. São questões típicas do nosso momento e que, é claro, também se relacionam com tudo o que vimos até agora sobre o fator hu- mano nas organizações. Entretanto, antes ainda de concluir este tó- pico, quero deixar uma questão para reflexão. Vimos que, segundo diversas teorias, a moti- vação está condicionada à busca por satisfazer necessidades que nunca acabam, pois, quando satisfeitas, novas surgem. Minha questão para se pensar é: onde fica a gratidão nessa história? Seria possível que a gratidão ou a alegria pelo que já temos também fosse um elemento de motivação? É claro que não são coisas exclu- dentes. Posso ser extremamente grata e feliz pelo que tenho — e isso me dá ânimo e motiva — e também almejar coisas novas — o que também me dá ânimo e motiva. A pergunta é: também a apreciação da vida que você tem, a gratidão pelas coisas boas pelas suas conquistas, tem espaço na sua vida? Permita que também isso seja uma poderosa motivação na sua vida! Não resisto e vou contar a você uma história pessoal: durante meu doutorado, fiz um crono- grama das coisas que ainda precisava fazer para concluí-lo. A lista era grande e confesso que me senti bastante desanimada pelo caminho longo ainda que tinha para percorrer. Resolvi então fazer também um “cronograma reverso”, ou seja, escrevi tudo o que eu já tinha feito. Quando vi que o que eu já tinha feito era no mínimo três vezes mais do que aquilo que ainda tinha para fazer, você não pode imaginar a alegria, o orgulho de mim mesma, a satisfação que senti de já ter feito tudo aquilo! E a lista do que eu ainda tinha a fazer me pareceu bastante plausível. O cansaço e desânimo deram lugar a uma forte motivação. Talvez não sejam só as necessidades que nos motivam. Nossas conquistas também podem ser fortes elementos motivacionais e a gratidão por elas e por tudo o que temos e somos também. 87UNIDADE III Caro(a) aluno(a). Depois de termos compreendido alguns prin- cípios das escolas das relações humanas e com- portamental, partimos agora para uma questão fundamental — tanto para o desenvolvimento das pessoas como indivíduos quanto para seu melhor desempenho no trabalho — e que representa uma das grandes dificuldades que há hoje em ambien- tes corporativos: foco. Distrações, interrupções, falta de clareza acer- ca dos objetivos da própria atividade e organi- zacionais, internet, redes sociais, smartphones… tudo isso colabora a tirar o foco no ambiente de trabalho. Consequências disso? Problemas com cumprimento de prazos, com o nível de compe- tência desempenhado, com a produtividade, com a motivação... enfim, com os objetivos pessoais e organizacionais como um todo. Você pode me dizer: mas eu sou uma pessoa focada, não tenho esses problemas. Então, responda às seguintes per- guntas propostas por Goleman (2014, p. 194-195): O Foco na Vida Pessoal e no Trabalho 88 O fator humano nas organizações • Você tem dificuldades de lembrar o que alguém acabou de lhe dizer durante uma conversa? • Não se lembra de nadado caminho para o trabalho de manhã? • Não sente o sabor da comida enquanto está comendo? • Presta mais atenção ao seu iPod do que à pessoa com quem está? • Está lendo este livro com pouca atenção? Se houve alguma resposta “sim”, é porque há algo que pode ser trabalhado aí. Daniel Goleman, renomado psicólogo ameri- cano e autor do best seller Inteligência Emocional (2012), lançou um livro há alguns anos especifi- camente sobre foco e também é esse seu título. Gosto demais das ideias desse autor. De fato, é um desses autores cuja trajetória acadêmica lhe confere legitimidade e então é possível ler seus livros considerando, de fato, o que ele diz, justa- mente por ter embasamento científico, diferente de diversos “livros de aeroporto”, como comumen- te chamamos alguns livros sem muita base teórica — é somente força de expressão; nada contra os livros de aeroportos. Trago, então, algumas ideias desse autor. Segun- do Goleman (2014, p. 10), “nossa capacidade de atenção determina o nível de competência com que realizamos determinada tarefa”. A compreensão, a memória, a aprendizagem, a percepção do que nós mesmos sentimos, a autoconsciência e autocontro- le, a empatia e até mesmo uma percepção mais oti- mista da vida são elementos que estão diretamente relacionados à atenção. A atenção é a base do foco. O foco pode ser interno, no outro, ou externo: • o foco interno nos põe em sintonia com nossas intuições, com nossos valores prin- cipais e nossas melhores decisões; • o foco no outro facilita nossas ligações com as pessoas das nossas vidas; • o foco externo nos ajuda a navegar pelo mundo que nos rodeia (GOLEMAN, 2014, p. 12). Segundo o autor, uma vida plena exige que do- minemos os três. No nosso dia a dia, parece que ondas de pen- samentos sobre inúmeras coisas querem entrar em nosso circuito mental e competir com aquela tarefa específica que estamos tentando cumprir. Quantos pensamentos sobre diversos assuntos já entraram em sua mente somente nos seus últimos dez minutos de estudo? É claro que o próprio cérebro faz armadilhas de modo que as interrupções ou os pensamentos não convidados pareçam ser legítimos, pareçam ter uma utilida- de. Goleman (2014) afirma que a linha divisória entre um pensamento infrutífero e uma reflexão produtiva está no fato de chegarmos a alguma solução experimental ou algum insight sobre a solução da questão que nos veio em mente. Do contrário, são só mesmo devaneios, “ruminações” e procrastinação. Por falar em procrastinação — um dos sintomas mais evidentes da falta de foco — os smartphones são poderosos objetos que propiciam esse com- portamento tão nocivo para o desenvolvimento pessoal e profissional. De fato, a procrastinação é algo que pode se tornar um vício e ela se apoia em tudo o que vê pela frente: cafezinhos, respostas rá- pidas ao whatsapp, aquela olhadela no Facebook e assim por diante. Sobre procrastinação, recomendo fortemente um texto excelente no material comple- mentar (web). É um texto didático e divertido que explica muito bem o mecanismo da mente procras- tinadora e também dá caminhos para vencer esse mal (leia até o final da terceira parte). 89UNIDADE III William James, um dos fundadores da psicologia moderna [...], definiu a atenção como ‘a repen- tina tomada de posse pela mente, de forma cla- ra e vívida, de um dos vários objetos ou linhas de pensamento que parecem simultaneamente possíveis’. Fonte: Goleman (2014, p. 22). 90 O fator humano nas organizações Além de ser um poderoso aliado da procras- tinação, o excesso dentro do mundo digital cau- sa outros tantos fatores nocivos à vida como um todo. “A vida imersa em distrações digitais cria uma quase constante sobrecarga cognitiva. E essa sobrecarga mina o autocontrole”, afirma Goleman (2014, p. 37). Trata-se, na atualidade, de algo que já foi para o campo do impulso, como passar horas olhando fixamente para algum tipo de tela digital (e quando vejo isso acontecendo com crianças de menos de três anos de idade fico triste, muito triste!) ou de não conseguir ir da sala de casa ao quarto sem levar o celular junto ou ver se chegou alguma mensagem no celular quando o semáforo está vermelho. É uma sobrecarga cognitiva que nos tira o simples prazer de olhar a paisagem e as pessoas entorno ou apreciar uma música - e cantar junto! O dia que minha filha com menos de três anos me disse: “mãe, deixa o celular no cantinho”, percebi que meu tempo com ela estava sendo to- mado por essas distrações. A partir daí, o celular parou de ir para o sofá ou da sala para o quarto e para a cozinha: passou a ficar estacionadinho em cima do balcão e, qualquer ligação importante, eu ouvirei, sem a necessidade de tê-lo pendurado atrás de mim. Meus braços ficaram livres para pegar minha filha no colo. Quando falamos em foco, em atenção, talvez não demos a devida importância a isso. Na reali- dade, as questões relacionadas a esses temas vão muito além de bons conselhos para a vida. Elas implicam outras muito importantes que talvez você jamais imaginaria! E por que? Porque para se conseguir estar focado, ou seja, ter sua atenção completa voltada a algo — a atenção plena — é necessário ter autoconsciência, e a autoconsciên- cia — ou auto-observação, como também já ouvi — é uma poderosa aliada de nós mesmos em nos- sas vidas. Ela nos ajuda a nos mantermos calmos durante momentos de crises e de sermos imunes a turbulências emocionais; ajuda-nos a nos man- termos conscientes de nossos atos não obstante as agitações emocionais da vida (GOLEMAN, 2014). No filme “Click”, quando o personagem de Adam Sandler questiona o que acontecia com ele quando ele acelerava o tempo pelo controle remoto, o inventor diz que eram momentos em que ele ficava “no piloto automático”, com a mente divagando. Ou seja: sem foco, sem atenção. Ele percebe que perdeu momentos importantíssimos de sua vida e da vida de sua esposa, filhos e pais estando nesse estado. É uma representação mais realística do que imaginamos! É esse “piloto automático” o responsável pelos “sequestros emocionais” ou “sequestros da mente” que Goleman (2012) fala em seu ou- tro livro — Inteligência Emocional. São aqueles momentos em que parece que primeiro agimos e depois pensamos — o que geralmente causa mágoas, arrependimentos, culpa ou demissões! São momentos em que uma pessoa pode dar um grito ou um tapa em seu filho por um motivo banal, apenas porque “a cabeça não estava no lugar” naquele momento. Talvez tanta dor no mundo seria evitada se as pessoas exercitassem sua autoconsciência. É aquela retomada de nós mesmos, é a respiração, o pensamento e a re- flexão antes da atitude ou da palavra. Quando temos essa autoconsciência, ou seja, quando es- tamos em um estado de atenção plena, de foco, conseguimos ter maior controle emocional e clareza na situação em si e nas inúmeras conse- quências que as nossas diversas possíveis reações podem causar. Quando chegamos nesse nível e reconhecemos o que realmente importa, ou seja, optamos por aquilo que será bom para todos, aí está a sabedoria. Sobre o foco no outro, “quanto mais distraí- dos estamos, menos podemos expressar empatia e compaixão” (GOLEMAN, 2014, p. 108). Isso porque, quando estamos distraídos sequer per- cebemos o outro. “A empatia exige um ato de 91UNIDADE III autoconsciência: lemos os outros ao nos conec- tarmos com nós mesmos” (GOLEMAN, 2014, p. 105). É o que permite que tenhamos sensibi- lidade com relação ao outro e ao contexto. E isso influencia também a percepção sobre o próprio comportamento nas diversas ocasiões a fim de que consigamos colocar em prática a etiqueta — não tanto no sentido de senso comum que conhecemos do termo, mas de “se comportar de uma maneira que deixa os outros à vontade (GOLEMAN, 2014, p. 119). Bem, mas e o caminho para tudo isso? O autor aponta para algumas direções que podem ajudar. Por exemplo, a de que “ não é a conversa das pessoas ao nosso redorque tem mais poder de nos distrair, mas a conversa da nossa própria mente. A con- centração absoluta exige que essas vozes internas se calem. Comece a subtrair setes sucessivamente de cem e, se mantiver o foco na tarefa, sua zona de conversa ficará em silêncio (GOLEMAN, 2014, p. 53) Parece um exercício engraçado, né? Contudo, fun- ciona. Aquela história de contar até 10 para ajudar a conter uma explosão de raiva também funciona, acredite! As questões são muito bem explicadas nos livros do Goleman (2012; 2014), mas vou deixar a parte da explicação biológica do funcionamento do cérebro para você pesquisar diretamente lá. Outra coisa que pode ajudar: a positividade. “Focar no que há de errado no que fizemos ativa os circuitos de emoções aflitivas. Lembre-se: as emoções dirigem a nossa atenção. E a atenção foge do que é desagradável” (GOLEMAN, 2014, p. 147). Segundo o autor, as emoções positivas ampliam nosso raio de atenção, o que nos deixa livres para observarmos o contexto maior. Outra questão refere-se à persistência em tra- zer a mente de volta, à autoconsciência: “ perceber quando nossa mente divaga e trazê-la de volta ao alvo [...]. Quando sua mente divagar - e você perceber que isso aconteceu -, traga-a de volta ao seu ponto focal e mantenha sua atenção lá. E quando a sua mente voltar a divagar, faça a mesma coisa. E de novo. E de novo. E de novo (GO- LEMAN, 2014, p. 163-164). Trata-se de decisões conscientes e voluntárias tan- to a respeito do que fazer como do que não fazer; do que pensar e do que não pensar. É, de fato, um exercício a ser feito constantemente, pois uma das coisas mais difíceis de se domar neste mundo são exatamente nossos próprios pensamentos. Mais uma forma de recuperar o foco, baseada nas experiências de meditação: ao perceber que a mente está divagando, transferir a atenção para a respiração e mantê-la lá. Ele explica isso biologica- mente, mas vamos ficar aqui só com a dica mesmo. É sempre um exercício de voltar à autocons- ciência ou à atenção plena, percebeu? Está aí a chave de tudo. E é ter consciência até mesmo de “não se ter consciência” em determinado momento. Maluco isso, né? No entanto, faz todo o sentido. “O antídoto para a divagação da mente é a metacons- ciência, a atenção à própria atenção, como na capa- cidade de perceber que você não está percebendo o que deveria estar percebendo e corrigir o foco” (GOLEMAN, 2014, p. 191, grifo do autor). Isso traz um importantíssimo benefício tanto à nossa vida pessoal quanto profissional: ajuda a manter “ uma distância mais ampla entre o impulso e a ação, em parte por produzir a metaconsciên- cia, a capacidade de observarmos nossos pro- cessos mentais em vez de apenas sermos do- minados por eles. Isso cria pontos de decisão que não tínhamos antes: podemos oprimir impulsos incômodos que normalmente nos levariam a agir (GOLEMAN, 2014, p. 192). 92 O fator humano nas organizações A atenção plena ajuda até mesmo a prestarmos mais atenção ao modo como gastamos nosso di- nheiro. Essa autoconsciência pode evitar compras por impulso ou desnecessárias. Em resumo, o foco ou a atenção é a “força de vontade em determinar o curso da vida” (GOLE- MAN, 2014, p. 81). É trabalhar conscientemente nós mesmos para conseguirmos o melhor de nós e para contribuirmos em nossos ambientes, tanto familiar quanto social e profissional. É aprovei- tar essa oportunidade que temos nas mãos agora que sabemos da importância do foco para nos desenvolvermos ainda mais como pessoas, pois “quaisquer que sejam nossos melhores talentos, a autoconsciência nos ajudará a utilizá-los ao má- ximo” (GOLEMAN, 2014, p. 87). São tantos os outros desafios que existem no ambiente de trabalho e nas relações interpessoais. Diversos deles serão tratados nas outras disci- plinas voltadas ao estudo de relações humanas e de comunicação. Todavia, muitos dos problemas nesses aspectos que acontecem nas organizações poderiam ser evitados se a autoconsciência e a atenção plena fossem exercitadas no nosso dia a dia. E isso se refletiria também na produtividade, certamente. Goleman (2014, p. 195) afirma que “a falta de atenção, na forma da divagação da men- te, pode ser a maior desperdiçadora de atenção no local de trabalho”. E você está aqui justamente porque quer se preparar para ser bom no mercado de trabalho, não é mesmo? Tenho certeza de que tudo isso que vimos aqui será útil a você, tanto em sua vida pessoal, como estudantil e profissional. Inteligência emocional também é outro tema que mereceria ser trabalhado à exaus- tão quando se fala em desafios nas relações de trabalho! Contudo, acredito que aqui os conceitos renderiam praticamente outro livro. Recomendo fortemente a leitura do livro Inteligência Emocio- nal, do Daniel Goleman (2012), e também outros livros do autor que falam sobre isso. No entanto, já adianto a você: a questão central é sempre essa sobre a qual já falamos bastante aqui: a autocons- ciência, que se consegue somente estando com a atenção plena no momento presente. Mesmo que você já tenha lido os livros que tra- balhamos aqui, acredito que rever esses conceitos possam ajudar você a conduzir melhor seus estu- dos, seu trabalho e até mesmo sua vida pessoal em família e com os amigos. Afinal, estamos falando de algo que nunca está acabado, mas é exercício contínuo, é esforço diário de desenvolvimento pessoal e profissional, é a busca cotidiana por ser- mos a melhor versão de nós mesmos! Concluímos essa unidade justamente com esse desejo: que você tenha elementos que lhe con- duzam à reflexão consciente de quais são seus valores, do que lhe motiva, de qual é seu foco e de como está sua atenção e seu nível de autocons- ciência para não somente chegar aos seus obje- tivos, como também para ser, dia após dia, essa melhor versão de você mesmo! 93 1. A Escola das Relações Humanas foi proposta com o intuito de humanizar os princípios e a maneira de se administrar as organizações. A respeito dessa escola, assinale a alternativa correta: a) A Escola das Relações Humanas foi eminentemente teórica, não se baseando em experiências reais. b) Lideran ça não foi um tema decorrente dessa escola, dado que é algo presente apenas na atualidade e não representava algo a ser considerado na época. c) Jucá (2013) apresenta quatro comportamentos essenciais que, segundo o au- tor, definem a liderança — ele os chama de dimensões da liderança: engajar pessoas, desenvolver talentos, moldar o futuro e entregar resultados. d) Apesar de ser exercida por pessoas diferentes, há somente um tipo de lideran- ça. Essa unidade de conceito é importante para que todos os funcionários de todas as empresas saibam o que esperar de seus líderes, de modo homogêneo. e) O feedback é algo sempre positivo e desejável, independentemente do modo como seja realizado. 2. A Escola do Comportamento Humano é de certo modo uma continuação ou um desenvolvimento da Escola de Relações Humanas. Ela situa o indivíduo como agente de seu próprio progresso na medida em que o entende como participativo e não como mero espectador da realidade que o cerca. A respeito da abordagem comportamental, leia as afirmações abaixo: I) Segundo a teoria de Maslow, as necessidades das pessoas começam em geral pelas básicas/fisiológicas, passando depois para as de segurança, em seguida para as sociais, de status e estima e, por fim, as de autorrealização. II) A única teoria sobre motivação considerada no âmbito organizacional é a de Maslow, por sua importância e abrangência. III) Para McClelland, as necessidades mais importantes para gerar a motivação de uma pessoa são: a realização, o poder e a afiliação. IV) As teorias X, Y e Z foram uma tentativa de compreender a conduta dos ad- ministradores condicionada por suas suposições sobre o comportamento humano. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 94 Assinale a alternativa correta. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e IIIestão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas I, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 3. Uma das questões fundamentais e que representa uma das grandes dificuldades que há hoje em ambientes corporativos é o foco. A respeito desse importante elemento, tanto para o desenvolvimento das pessoas como indivíduos quanto para seu melhor desempenho no trabalho, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): )( A falta de foco é algo facilmente administrável e não causa nenhum tipo de consequência pessoal ou profissional. )( Há pelo menos três tipos de foco: interno, no outro e externo. )( A autoconsciência e a atenção plena são elementos fundamentais para maior foco e controle das próprias emoções. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 95 Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente Autor: Daniel Goleman Editora: Objetiva Sinopse: inteligência é emoção. QI não é destino. O fascinante e convincente livro ‘Inteligência Emocional’, de Daniel Goleman, revela que a nossa visão sobre este assunto ainda é muita estreita. Ao contrário do saber científico que dominou o mundo ocidental nos últimos séculos, Daniel Goleman revoluciona conceitos mostrando que o QI de uma pessoa não é garantia de sucesso e felicidade. No Brasil, o livro de Goleman tornou-se um verdadeiro fenômeno editorial, com mais de 400 mil exemplares vendidos. Utilizando inovadoras pesquisas cerebrais e comportamentais, Goleman, PhD pela Universidade de Harvard, mostra porque pessoas de QI alto fracassam e outras, cujo quociente é mais modesto, apresentam uma trajetória de vida de sucesso. O livro de Goleman ainda derruba um outro tabu: o mito de que a inteligência seria determinada pela genética. Para o cientista, a inteligência está ligada à forma como nego- ciamos as nossas emoções. A inteligência emocional seria esta capacidade de autoconsciência, controle de impulsos , persistência, empatia e habilidade social. A tese de Goleman está baseada numa síntese original, feita a partir de pes- quisas e recentes descobertas sobre o funcionamento do cérebro. Ele mostra como a inteligência emocional pode ser alimentada e fortalecida em todos nós, principalmente na infância, período no qual toda a estrutura neurológica encontra-se em formação. LIVRO 96 Click Ano: 2006 Sinopse: um arquiteto, casado e com filhos, está cada vez mais frustrado por passar a maior parte de seu tempo trabalhando. Um dia, ele encontra um in- ventor excêntrico que lhe dá um controle remoto universal, com capacidade de acelerar o tempo. No início, ele usa o aparelho para acelerar qualquer momento tedioso, mas se dá conta de que está acelerando o tempo demais, deixando de viver preciosos momentos em família. Desesperado, ele procura o inventor para ajudá-lo a reverter o que fez. FILME Por que os procrastinadores procrastinam Este texto “Por que os procrastinadores procrastinam”, de Tim Urban, é fantás- tico! É um texto um pouco longo, mas vale (e muito!) a leitura. Você certamente conseguirá reconhecer quando o danado do Macaco da Gratificação Instantânea te leva para o Playground das Trevas enquanto você deveria estar focado em atividades que de fato precisa realizar e que vão conduzir você aos seus reais objetivos. O artigo traz valiosas dicas práticas também de como vencer a pro- crastinação. Fique atento: ele tem 3 partes. Ao final de cada uma você clica em um link para a parte seguinte. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/698 97 CARNEGIE, D. Como fazer amigos e influenciar pessoas. 52. ed. São Paulo: Editora Nacional, 2012. CORTELLA, M. S.; MUSSAK, E. Liderança em foco. Campinas-SP: Papirus 7 Mares, 2013. DAVIDOFF, L. L. Introdução à psicologia. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 2001. DURAND, T. Forms of Incompetence. Proceedings Fourth International Conference on Competence-Based Management. Oslo: Norwegian School of Management, 1998. DUTRA, J. S. Gestão por competências: Um modelo avançado para o gerenciamento de pessoas. São Paulo: Gente, 2001. GOLEMAN, D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. ______. Foco: a atenção e seu papel fundamental para o sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. HUNTER, J. C. O monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. JUCÁ, F. Academia de liderança: como desenvolver sua capacidade de liderar. Campinas-SP: Papirus 7 Mares, 2013. KRAUSZ, R. R. Coaching executivo: a conquista da liderança. São Paulo: Nobel, 2007. LACOMBE, F. J. M. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Saraiva. 2009. MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. OUCHI, William. Teoria Z: como as empresas podem enfrentar o desafio japonês. 10. ed. São Paulo: Nobel, 1988. RIBEIRO, Antonio de Lima. Teorias da administração. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. WALGER, C.; VIAPIANA, L.; BARBOZA, M. M. Motivação e satisfação no trabalho: em busca do bem-estar de indivíduos e organizações. Curitiba: Intersaberes, 2014. 98 1. C. 2. D. 3. D. 99 100 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Discutir sobre a área de administração de operações e logística no âmbito organizacional. • Discutir sobre a área de marketing no âmbito organiza- cional. • Discutir sobre a área de recursos humanos no âmbito organizacional. • Discutir sobre a área de administração financeira no âm- bito organizacional. Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Administração de operações e logística Administração de Marketing Administração Financeira Administração de Recursos Humanos Áreas Funcionais da Administração Administração de Operações e Logística Administração de operações é a área da adminis- tração responsável pelo planejamento, operação e controle do processo de transformação que converte insumos e recursos em produtos ou serviços. Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 409). Prezado(a) aluno(a), bem-vindo(a) a mais uma unidade! Trataremos aqui das diversas áreas funcionais da administração, ou seja, as áreas que compõem grande parte das organizações e que merecem atenção em seus diversos aspectos. Começare- mos pela área de administração de operações e logística. O sistema de operações é considerado o nú- cleo de uma organização, por ser ele o responsável pela transformação dos insumos em produtos ou serviços. Eficiência e produtividade são elementos intrínsecos a esse sistema e contribuem para o al- 103UNIDADE IV cance dos objetivos estratégicos da organização e para a consolidação de sua vantagem competitiva (SOBRAL; PECI, 2013). Essa área é de responsabilidade, geralmente, do gerente de operações (que pode ser um gerente administrativo, de loja, de produção, enfim, depen- derá da natureza do negócio da organização a qual se refere). E o que compete a esse gerente? Segundo Sobral e Peci (2013, p. 409), cabe ao gerente de operações:formular uma estratégia de operações coerente com os objetivos estratégicos da orga- nização; tomar decisões relativas à localização, à capacidade e ao layout das instalações; projetar os produtos, serviços e processos de produção; pla- nejar e controlar a produção; organizar o trabalho; administrar os estoques; entre outras atividades essenciais ao processo de transformação. Uma das questões de grande peso na adminis- tração de operações é a logística. De fato, essa área abarca diversos elementos voltados às operações de uma organização, desde o início do processo até a entrega do produto ou serviço ao consumidor. Logística é o processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a arma- zenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o ob- jetivo de atender aos requisitos do consumidor. Fonte: Novaes (2001, p. 36). Pela definição, podemos compreender porque existem empresas especializadassomente em lo- gística: porque ela abarca uma série de coisas que nem sempre uma empresa consegue fazer sozinha e precisa contratar serviços de terceiros. Às vezes, isso significa contratar os serviços de transporte rodoviário, ferroviário, marítimo ou aéreo; pode também ser o aluguel de galpões para estoque e escoamento de determinada produção… Lembro-me até hoje quando conheci o ter- mo. Eu ainda era adolescente e estava envolvida na organização de um evento. Uma das pessoas que conduzia os trabalhos e era mais experiente dizia com frequência esse termo e uma equipe foi montada justamente com esse nome: a equipe da logística. Essa equipe era responsável por diversas coisas práticas do evento, como o transporte das pessoas do local das palestras até o hotel em que estavam hospedadas, por ver se tudo estava fun- cionando bem, providenciar cadeiras suficientes para todos se sentarem no auditório e até mesmo providenciar as garrafas de café quentinho para os intervalos. Mesmo sem conhecer tecnicamente o termo, eu entendi na essência o que ele significava: cuidar de todas as questões práticas para que tudo ocorresse da melhor forma. É interessante que a logística entra um pouco naquela lógica que a gente já viu sobre o controle externo, ou seja, são coisas que, se funcionam, talvez ninguém note, mas se não funcionam, geram descontentamento imediato dos envolvidos. São essas coisas silenciosas da vida que não chamam tanto a atenção, mas devem ser feitas — e bem feitas — no nosso dia a dia. Em uma organização, são tantas as funções da logística. Esse conceito está intimamente re- lacionado à cadeia de abastecimento, ou seja, ao conjunto de processos necessários para se obter materiais, agregar valor a eles de acordo com a concepção dos consumidores e clientes e disponi- bilizar os produtos para o lugar e a data adequados (BERTAGLIA, 2009). Há diversos elementos presentes na concepção de cadeia de abastecimento integrada: a localiza- ção das organizações, a distribuição física, a admi- nistração dos estoques, o modo de transporte, o fluxo de informação, as estimativas (ou previsões) 104 Áreas funcionais da administração e até mesmo os relacionamentos! (BERTAGLIA, 2009). Interessante pensarmos por esse lado tam- bém, não é mesmo? Geralmente, quando se fala em logística, fala-se muito em processos práticos, mas a grande questão é que a maioria deles - senão todos - é feita por pessoas e o relacionamento é o fio condutor de tudo isso. De fato, o conceito de integração é fundamen- tal nesse processo e a comunicação pode ser um dos elementos mais relevantes para uma boa inte- gração. Aqui entrariam também outros aspectos, como a gestão da informação e as tecnologias de apoio, para que tudo possa ser o mais integrado e sincronizado possível. E por que essa preocupação? Porque tempo é dinheiro e espaço é dinheiro também. Mercadoria parada em estoque é prejuízo, ela tem um custo de armazenamento. Uma peça que não chega a tempo pode parar uma cadeia produtiva inteira, afetar o prazo de entrega do produto final e as- sim por diante. Não é a toa que o termo usado é cadeia. Justamente porque tudo está interligado e uma mudança em um dos processos gera, sim, uma reação em cadeia — nesse caso, literalmente. De fato, “o objetivo clássico da cadeia de abaste- cimento é possibilitar que os produtos certos, na quantidade certa, estejam nos pontos de venda no momento certo, considerando o menor custo possí- vel” (BERTAGLIA, 2009, p. 11). Isso, é claro, implica também que esse mesmo raciocínio se aplique às etapas intermediárias. Por falar em estoques, há diversos tipos deles: estoques de materiais, de produtos em proces- sos, de produtos acabados, estoques em trânsito e estoques em consignação. Em todos os casos há custos de estoque, que estão relacionados à armazenagem, manuseio, perdas, obsolescência, furtos e roubos. Há também diversas maneiras de se administrar os estoques. Um dos sistemas mais utilizados é o just-in-time. Trata-se de uma “técnica de adminis- tração de estoques que tem como objetivo reduzir ao mínimo os inventários da organização, por meio da coordenação da produção com entregas precisas de suprimentos” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 440). O sistema incentiva as entregas somente sob solicita- ção. O objetivo é manter estoques mínimos, sim- plificar os processos e promover fluxos adequados e simplificados de materiais. A logística está relacionada também a questões de movimentação dos produtos, dos serviços e das informações, está relacionada também a tempo e a custo. Os componentes do sistema logístico in- cluem: (a) a área comercial — que juntamente com a área de marketing é responsável por captar as necessidades ou desejos dos consumidores a fim de torná-los realidade por meio da atividade organiza- cional; (b) operação industrial — que implica a es- colha dos recursos tecnológicos mais apropriados, quando for o caso; (c) fornecedores — cujo papel dentro da logística é o de parceiros operacionais e com quem o relacionamento deve ser franco e de confiança, pois envolve questões como qualidade e prazos; (d) administração e finanças — é o suporte de toda a logística e em certo modo sua razão de ser, pois em última instância o que se busca é o melhor fluxo operacional ao menor custo possível; (e) distribuição física — questões que envolvem a localização da empresa em função do mercado a ser atendido e as formas de se fazer chegar aos clientes o produto ou serviço oferecido. Considerando todas essas questões relacionadas a movimentação dos produtos, serviços e informa- ções, um conceito que deve ser central é o de lead time, ou seja, o tempo decorrido desde o início até o fim de um processo e isso se aplica a qualquer tipo de processo, seja ele o de produção ou o de informação ou de prestação de um serviço. O es- forço é sempre em reduzir ou eliminar as esperas evitáveis, o que pode ser feito por meio de plane- jamento, análise de erros/atrasos e também nesse caso o benchmarking pode ajudar. 105UNIDADE IV Benchmarking é o processo contínuo de medir- mos os produtos, serviços e práticas com os mais fortes concorrentes ou com as companhias re- conhecidas como líderes da indústria. Fonte: Balm (1995, p. 34). A logística está muito mais presente na nos- sa vida do que imaginamos. Desde o cuida- do para se ter em casa todos os ingredientes necessários para fazer a receita do jantar que daremos até todos os tipos de trabalhos. Sim, todos. Um advogado precisa ter em mãos os documentos necessários para trabalhar, precisa cumprir prazos e tem mecanismos para isso. E na construção civil? Esse é um caso típico em que a logística é tão fundamental a ponto de se confundir com a própria atividade em si! Como trabalhar em uma obra se o cimento chegou hoje, mas a areia chegará só daqui 15 dias? Como armazenar em um espaço pequeno de obra todo o estoque de piso que foi enviado de uma só vez? As decisões logísticas em um canteiro de obras são como o funcionamento de uma orquestra: tudo no seu tempo em um compasso harmônico, nem a mais, nem a me- nos, nem sobrando, nem faltando. Há casos em que as operações logísticas podem ser responsáveis por grande parcela da satisfação ou insatisfação de um cliente com determinada em- presa. Fazer compras pela internet é um bom exem- plo disso. Você entra no site, escolhe seu produto e paga por ele. A partir daí, tudo logística. Talvez a empresa nem possua ainda esse produto, mas es- pere a demanda para solicitá-lo ao seu fornecedor. 106 Áreas funcionais da administração Depois há o envio do produto, que envolve tanto a questão do respeito ao prazo combinado como as condições de transpor- te para que o produto chegue em perfeito estado. Geralmente a in- satisfação não será pelo produto em si, pois a pessoa o escolheu, mas se demora para chegar, se quando chega está avariado e assim por diante. Por essa razão que a terceirização deve sersempre feita com moderação e supervisão. Ou seja, é importante que a empresa, na medida do possível, evite colocar sob a responsabilidade de uma empresa terceirizada algo que a caracterize ou atividades de grande relevância e, se for necessário — como muitas vezes é — que haja contratos claros e acompanhamento do que é realizado. Outro tema dentro da logística que impacta determinados ti- pos de empresas é a logística reversa. Segundo Leite (2002, p. 2), a logística reversa é “ a área da Logística Empresarial que planeja, opera e controla o fluxo, e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós - consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, através dos Canais de Distribuição Re- versos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. Em tempos de globalização — caminho sem volta, convenhamos —, os desafios da área de administração de operações e logística são vários, relacionados à extensão geográfica do mercado consumidor, à rapidez de informações — que requer gestão eficiente —, consu- midores informados e com grau de exigência elevado, ao cenário competitivo (que incentiva a busca por menores custos, maior qua- lidade, confiabilidade, flexibilidade e agilidade e por inovação) e às preocupações ambientais. A Figura 1 mostra duas grandes áreas de atuação da logística reversa: LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-CONSUMO • Reciclagem Industrial • Desmanche Industrial • Reuso • Consolidação • Coletas LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-VENDA • Reciclagem Industrial • Desmanche Industrial • Reuso • Consolidação • Coletas Cadeia de Distribuição Direta Cadeia Bens de Pós Venda Bens de Pós consumo Figura 1 - Logística reversa - área de atuação e etapas reversas Fonte: Leite (2002, p. 45). O Timing na logística 107UNIDADE IV A logística reversa vem sendo reconhecida como a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes ao retorno de bens ao seu ciclo pro- dutivo de origem ou à sua destinação, como matéria-prima, a outro ciclo produtivo. O bem pode retornar em forma próxima à original, como retorno pós vendas, ou em forma de resíduos, rejeitos ou refugos, como retorno pós-consumo. O retorno pós-vendas é devido, principalmente, a proble- mas de qualidade, tais como defeitos de fabricação ou erros de projeto, e a problemas comerciais, tais como erros de expedição, consignações não requisitadas, sobras de promoções, obsolescência tecnológica ou de moda e perda de validade. O retorno pós-consumo se dá, principalmente, pela incapacidade de quem consome o bem de dar destinação adequada às partes resultantes do con- sumo ou aos resíduos. Fonte: Adlmaier e Sellitto (2007, p. 396). 108 Áreas funcionais da administração Caro(a) aluno(a)! Bem-vindo(a) a mais um tópico relacionado às áreas funcionais da administração. Neste, de- dicaremo-nos ao marketing. Quando se fala em marketing o que lhe vem imediatamente à cabeça? Propagandas? Geral- mente sim e faz parte dele. Contudo, o marketing vai muito além disso. Há várias definições para esse termo, cuja origem é do latim e significa co- mércio. Satisfazer as necessidades das pessoas ou criar e manter clientes é talvez o objetivo principal do marketing, que engloba uma série de questões. Bem, minimamente, é clássico o modelo dos 4 Ps como base para o marketing: produto, preço, praça e promoção. Então pelo menos tudo isso ele abrange. Falaremos desse modelo aqui. Além disso, o marketing se aplica aos mais di- versos tipos de contexto; somente para citarmos alguns: marketing político e eleitoral, marketing de relacionamento, marketing pessoal, marketing digital, endomarketing, marketing industrial, mar- keting social, marketing de serviços, marketing de varejo, marketing para mercados de alta tecnolo- gia, marketing para inovações, marketing ambien- tal, marketing cultural, marketing internacional e a lista poderia ainda prosseguir. Administração de Marketing 109UNIDADE IV Bem, como você pode ver, o campo de abrangência do marketing é bastante amplo e até mesmo seu objetivo pode variar de acordo com o contexto. A geração de receita por meio da fidelização de clientes, por exemplo, pode ser o objetivo de uma empresa tradicional, enquanto a conscientização ambiental ou conseguir maior número de votos podem ser os objetivos do marketing ambiental e do político, por exemplo. São muitas as configurações possíveis. Vamos começar, então, pela ideia dos 4 Ps, que se aplica a todos esses contextos, é claro, de modo adaptado a cada um. Essa ideia foi proposta por Jerome McCarthy (1996) e depois também desenvolvida por outros autores ao longo dos anos. Trata-se dos diversos aspectos do marketing contemplados no produto, preço, praça (ou ponto de venda ou, ainda, distribuição) e promoção. Vamos começar pelo produto. Aqui, produto representa aquilo que pode ser com- prado para a solução de uma necessidade ou satisfação de um desejo do consumidor, o que inclui os serviços, ou seja, pode ser tanto algo tangível quanto intangível. Os benefícios dele podem ser reais ou percebidos. E ele pode variar de produto núcleo (aquele que representa o benefício do produto), básico (aquele que acumula o mínimo de benefícios de um produto), o esperado (a expectativa sobre o produto), ampliado (aos produtos são atribuídos itens de diferenciação) e potencial (as inovações de produto ainda não lançadas no mercado, em fase de testes, projetos ou protótipos). Lembrando que sempre quando falamos aqui de produto, estamos também nos referindo a serviços (REICHELT, 2013). Vamos agora ao preço. Tradicionalmente, a precificação é feita utilizando-se a se- guinte fórmula: Mix de marketing Produto Variedade Qualidade Design Características Nome da marca Embalagem Tamanhos Serviços Garantias Devoluções Praça Canais Cobertura Sortimentos Locais Estoque Transporte Preço Preço de lista Descontos Bonificações Prazo de pagamento Condições de financiamento Promoção Promoção de vendas Propaganda Força de vendas Relações públicas Marketing direto Figura 2 - Os 4 Ps do mix de marketing Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 24). 110 Áreas funcionais da administração Figura 3 - Método tradicional de formação de preços Fonte: Reichelt (2013, p. 88-89). Esse método de formação de preço é chamado de mark up, termo que designa o percentual de lucro que é acrescido sobre o produto. Todavia, ele tem sido considerado obsoleto, uma vez que há outros elementos a serem considerados na formação de preços, como a conjuntura do mercado, os clientes, a concorrência e, ainda, outros como valor da mar- ca e assim por diante. Na análise da formação de preço, recomenda-se, então, considerar ao menos os 3 Cs: custos, clientes e concorrentes. Os custos determinam o preço mínimo a ser cobrado para que não haja prejuízo; os clientes determinam o preço máximo que um produto pode ter com base na percepção de valor sobre ele; os concorrentes determinam os diversos níveis intermediários de preço possíveis (REICHELT, 2013). Falando agora em praça. Estranho o termo, né? Vem logo à minha mente uma pracinha cheia de bancos, crianças brincando e pessoas conversan- do. Contudo, esqueça essa imagem. Houve uma tentativa em se manter palavras com as mesmas iniciais do inglês para que continuassem sendo os “4 Ps”, mas talvez a palavra que melhor poderia se encaixar aqui é distribuição - e vários livros já “abandonaram a praça” e adotaram essa expressão. No entanto, em que consiste a tal praça? É o composto de marketing responsável por estabele- cer o contato entre empresa e cliente, ou seja, fazer os clientes chegarem à empresa ou os produtos chegarem aos clientes. Alguns dos agentes desse processo são: “equipe interna e externa de vendas, distribuidores, varejistas, atacadistas, agentes, re- presentantes, franqueados, concessionários, entre outros” (REICHELT, 2013,p. 91). Por fim, a promoção. Essa área é tão ela mes- ma, que conseguiu se autopromover a ponto de muita gente achar que marketing é só ela! Brin- cadeiras à parte, a promoção refere-se a todas as formas de comunicação da empresa com seu mercado. Propositalmente é o último “P”, pois so- mente após o produto ter sido realizado, o preço estipulado e a distribuição determinada é que a empresa poderá comunicar tudo isso ao mercado. “ As principais ferramentas de comunicação disponíveis para que as empresas se comu- niquem com os seus clientes fiéis ou em po- tencial são: propaganda, marketing direto, promoção de vendas, relações públicas (e publicidade), venda pessoal e merchandi- sing (REICHELT, 2013, p. 93). Philip Kotler, um dos principais nomes do mar- keting, e Kevin Keller, propuseram uma atualiza- ção dos 4 Ps. De acordo com os autores, devido à abrangência e complexidade do marketing, esse modelo já não é capaz de representar todo o ce- nário. Eles adotam, então, o conceito de marke- ting holístico e propõem como modelo: pessoas, processos, programas e performance. P = C + L Onde: P = Preço de venda do produto C = Custo de produto (fixos e variáveis) L = Margem de lucro desejada pela empresa 111UNIDADE IV Procurou-se manter na escolha dos termos utilizados em português as mesmas iniciais do modelo em inglês, para que se mantivesse sua caracterização internacional. Em inglês, os termos são: product, price, place e promotion. No Quadro 1, vamos ver o que significa exatamente isso. Realidades do marketing moderno Descrição Pessoas As pessoas refletem, em parte, o marketing interno e o fato de que os funcioná- rios são fundamentais para o sucesso do marketing. Este será tão bom quanto as pessoas dentro da organização. Também refletem o fato de que as empresas devem ver os consumidores como pessoas e compreender suas vidas em toda sua amplitude, e não apenas como alguém que compra e consome produtos. Processos Os processos refletem toda a criatividade, a disciplina e a estrutura incorporadas à administração de marketing. As empresas devem evitar planejamento e tomada de decisão ad hoc e assegurar que ideias e conceitos avançados de marketing desempenhem o devido papel em tudo o que fazem. Somente com a instau- ração do conjunto certo de processos a orientar atividades e programas, uma empresa pode se envolver em relacionamentos de longo prazo, mutuamente benéficos. Outro importante conjunto de processos leva a empresa a gerar de forma criativa insights e inovações em bens e atividades de marketing. Programas Os programas refletem todas as atividades da empresa direcionadas aos con- sumidores. Eles englobam os antigos 4 Ps e também uma gama de outras ativi- dades de marketing que podem não se encaixar perfeitamente à antiga visão de marketing. Independentemente de serem on-line ou off-line, tradicionais ou não, essas atividades devem ser integradas de tal forma que seu todo seja maior do que a soma de suas partes e que realizem múltiplos objetivos para a empresa. Performance Definimos que performance, assim como o desempenho no marketing holístico, captura o leque de possíveis indicadores de resultado que tenham implicações financeiras e não financeiras e implicações que transcendem a própria empresa. Quadro 1 - A atualização dos 4 Ps segundo Kotler e Keller Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 24). Quando se fala em compreender as vidas dos consumidores em toda sua amplitude, parece algo bastante pretensioso. No entanto, isso já é uma realidade bastante comum. Você digita no google algum termo e “milagrosamente” começam a aparecer propagandas para você justamente sobre aquele assunto. O mesmo vale para as propagandas patrocinadas nas redes sociais, de acordo com o que você mais “curte”. É um marketing silencioso e certeiro. 112 Áreas funcionais da administração Se pensarmos a fundo, a questão das pessoas é pressuposto em tudo o que se falam sobre marke- ting. É a base para os 4 Ps e para quaisquer outras tipologias que se queira criar, tanto que você en- contrará muitos livros por aí que fala de compor- tamento do consumidor, por exemplo. E o que é o comportamento senão a reação a determinados estímulos de acordo com o tipo de personalidade, grau de instrução, cultura, idade etc. de cada um? Sobre o planejamento e a tomada de decisão não serem ad hoc — de caráter temporário, que atende somente a determinado propósito especí- fico —, isso pode ser uma mudança de paradigma dentro do campo do marketing. Ele é caracteri- zado pela adaptabilidade e celeridade, e isso por vezes pode prejudicar a ideia de planejamentos de médio ou longo prazos. É evidente que essa adap- tabilidade e celeridade precisa continuar, mas um conjunto adequado de processos pré-definidos também podem ajudar. Os programas partem da ideia do todo que envolve o marketing e o pressuposto é que abar- que todas as áreas nele previstas. É semelhante à ideia de marketing holístico que veremos logo em seguida. Também a performance está ligada a essa ideia, focando nos resultados que se poderá obter. O conceito de marketing holístico se baseia em desenvolvimento, estruturação e implementação de programas, processos e atividades de marke- ting, com o reconhecimento da amplitude e das interdependências de seus efeitos. Ele reconhe- ce que em marketing ‘tudo é importante’ e que muitas vezes se faz necessária uma perspectiva abrangente e integrada. Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 17). Marketing holístico Marketing interno Departamento de marketing Ética Ambiente Legislação Comunidade Clientes Canal ParceirosBrand e customer equity Gerência sênior Outros departamentos Comunicações Canais Produtos e serviços Marketing integrado Marketing de desempenho Marketing de relacionamento Receita de vendas Figura 4 - Dimensões do marketing holístico Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 18). 113UNIDADE IV O termo holístico remete à busca pela compreen- são integral dos fenômenos, considerando todos os seus aspectos. O marketing holístico segue essa linha de raciocínio, reconhecendo a complexida- de das atividades de marketing e de seus compo- nentes. Para Kotler e Keller (2012, p. 18), estas representam as dimensões do marketing holístico. Apesar dessas dimensões já serem bastante abran- gentes, outras ainda poderiam ser inseridas de acordo com o contexto ao qual está sendo empre- gado. De fato, é importante dizer que os conceitos apresentados aqui são básicos e que depois cada contexto terá suas questões próprias relacionadas ao marketing. Como não teremos espaço suficiente para aden- trarmos em cada um — e seria também impossível abranger todos os contextos —, deixo aqui algu- mas indicações de material sobre temas específi- cos, todos presentes em nossa biblioteca virtual: marketing ambiental (ALVES, 2017), marketing de relacionamento (POSER, 2005; ALVES, BARBO- ZA; ROLON, 2014), marketing digital (FERREIRA JUNIOR; AZEVEDO, 2015), marketing pessoal (RITOSA, 2012), marketing político e eleitoral (FERREIRA JUNIOR, 2015), marketing industrial (CAMPOS, 2012), marketing de serviços (LOVE- LOCK, WIRTZ; 1986 HEMZO, 2011), marketing de varejo (GARCIA, 2015), marketing para merca- dos de alta tecnologia e de informações (MOHR, 2011), marketing internacional (PIGOSO, 2012), marketing turístico (DIAS; CASSAR, 2005), mar- keting social (RIBEIRO, 2005) e muito mais. Como você pode ver, o contexto importa e muito! Aliás, os conceitos básicos de marketing que apresentamos nesse tópico se adaptarão às diversas realidades e contextos aos quais se apli- carão. Entretanto, mesmo tendo clara essa ideia de adaptabilidade, é importante também procurar os materiais específicos, como esses que indiquei, dado que cada tipo de marketing terá suas parti- cularidades segundo a natureza da atividade e o escopo, e até mesmo por curiosidade e informa- ção, afinal, nós mesmos presenciamos a cada dois anos um espetáculo de marketing nas eleições, por exemplo.Importante saber que determinadas coisas foram propositalmente inseridas ali para ganhar o meu e o seu voto. Bem, seja para saber usar como para saber como foi usado para você, é fundamental ter pre- sente esses conceitos básicos de marketing que apresentamos aqui e, ainda, ir atrás de outros es- pecíficos sobre aquilo que lhe interessa, tanto em termos pessoais quanto de trabalho. 114 Áreas funcionais da administração Caro(a) aluno(a)! Entramos em mais um tópico referente às áreas funcionais da administração. Falaremos agora da administração de recursos humanos. Apesar de já ter falado bastante na Unidade 3 sobre o fator humano nas organizações, falare- mos agora da parte operacional da administra- ção de recursos humanos. São atividades que vão desde o recrutamento e seleção, até a avaliação e remuneração, passando por treinamento e administração de cargos e salários. É importante lembrar, todavia, que nem todas as organizações possuem essa área departamentalizada e bem definida. Muitas vezes as funções previstas nela são feitas pelo próprio dono ou por pessoas às quais essas tarefas são confiadas. Essa é uma área que é altamente influenciada pela abordagem de gestão adotada pela organiza- ção. Se, por exemplo, é adotado o sistema de gestão por competências, desde o processo de recruta- mento os conhecimentos, habilidades e atitudes dos candidatos já são avaliados de acordo com os cargos e funções que estão propensos a ocupar. Há casos em que a seleção é feita por indicação, outros por currículo, entrevista, processo seletivo, enfim, aquilo que for mais indicado para a empre- Administração de Recursos Humanos 115UNIDADE IV sa de acordo com suas necessidades. Seja qual for essa maneira de selecionar os candidatos à deter- minada vaga, o que de fato importa é a busca por admitir a pessoa certa para o cargo certo. No entanto, vamos dar um passo atrás ainda: o momento do recrutamento. Recrutamento é o “conjunto de práticas e processos usados para atrair candidatos para as vagas existentes ou po- tenciais” (LACOMBE; HEILBORN, 2008, p. 244). Alguns autores defendem a tese de que o recruta- mento deve ser algo realizado permanentemente e intensificado em momentos específicos, quan- do há a necessidade de se preencher uma vaga específica. Bem, o que isso quer dizer? A ideia é que o empresário ou gestor esteja sempre atento a possíveis talentos que quer em sua organização. Na prática, geralmente as empresas possuem um cadastro de candidatos conforme vão apare- cendo: pessoas que enviam seus currículos, pes- soas indicadas, pessoas que já participaram de um processo seletivo anterior em que uma vaga úni- ca tenha sido preenchida por outro candidato… enfim, as formas por meio das quais o candidato chegou até esse banco de dados podem ser as mais variadas. Todavia, um cadastro desses só faz sen- tido se for utilizado quando dele se necessita. Se cair no esquecimento, o esforço de organização e armazenamento desses dados terá sido em vão. Agora vamos ver pelo outro lado: o de quem procura emprego. Você já procurou emprego al- guma vez na vida? De que forma o fez? Foi eficien- te? Uma amiga minha se queixou uma vez comigo que enviava constantemente seu currículo para várias empresas e nunca era chamada nem mesmo para uma primeira entrevista. Eu perguntei como ela costumava entregar seus currículos. A resposta foi: por e-mail e nos setores de RH das empresas. Bem, há casos em que isso funciona, em que as empresas preferem, inclusive, que o contato seja feito dessa forma, mas esse não parecia ser o caso das empresas para as quais ela tinha mandado seu currículo. O que sempre me pergunto em ocasiões como essa é: quem, de fato, tem o poder de decidir so- bre uma contratação? Se a empresa delega essa função estritamente ao setor de RH e os gesto- res de outros setores não querem absolutamente se envolver nesse processo, então o caminho é o RH. No entanto, essa me parece uma prática bastante estranha — e talvez por isso tão pouco utilizada — dado que quem irá trabalhar de fato com a pessoa não são as pessoas do setor de RH, mas do setor específico que demandou um novo funcionário. E sobre e-mails? Bom, um e-mail pode ser apenas mais um e-mail na caixa de entrada abarrotada e concorrida do gestor. Pode ver, talvez até se interessar, mas logo em seguida irá ler os próximos e-mails e talvez aquela mensagem já lida caia no esquecimento. Enfim, mais uma vez compartilho com vocês uma experiência pes- soal que me fez pensar em algumas outras possibilidades. Ao final do primeiro ano do curso de Economia, tranquei a faculdade e fui morar um ano na Itália. Quando voltei, retomei o curso e tinha vontade de trabalhar, paralelamente, em duas atividades: queria dar aulas particu- lares de matemática em algum centro de aulas particulares e dar aulas de italiano em escola de idiomas. Na segunda-feira dediquei a tarde para atualizar meu currículo, destacando as habilidades que tinha para essas duas funções (formada no Kumon, com diversos prêmios recebidos e também trabalhei no Kumon diversos anos de minha adolescência — desde os 12 anos, a pedido meu) e meu ano na Itália, os cursos que fiz lá etc. (para ser atraente às escolas de idiomas). Isso foi em 2001, então os meios não eram lá os mais tecnológicos. Peguei a lista telefônica da cidade, procurei por centros de aulas particulares e por escolas de línguas, peguei um mapa da cidade e, a partir da terça-feira, fui a pé de uma a uma, inclusive naquelas escolas que não ofereciam italiano — quem sabe se interessariam em passar a oferecer? Resumo da história: na quinta-feira da mesma semana eu consegui o trabalho como professora de matemática em um centro de aulas particulares e na sexta-feira o trabalho de professora em uma escola de línguas. Toquei os dois trabalhos junto com a faculdade até as aulas de italiano tomarem uma proporção muito grande e eu ter que abrir mão das de matemática. Contudo, como foi isso? Foi de porta em porta, presencialmente e diretamente com os donos das empre- sas. Se o dono não estava na terça-feira, voltava na quarta-feira, mas era com eles que eu falava. Enfim, foi uma boa experiência. Os dois empregos que eu queria no intervalo de 5 dias. Eu mal sentia minhas pernas no final daquela semana. Caminhei quilômetros! Cada metro, porém, valeu a pena. A partir daí, sempre penso: quando possível, o melhor talvez seja procurar quem poderá, de fato, lhe dar o emprego que você quer, seja ele o dono da empresa ou o gestor da área na qual você almeja ingressar. Onde você quer trabalhar? Qual a melhor forma de conseguir esse emprego? Pense primeiro. Pense bem. Trace sua estratégia antes, para que elas lhe ajudem a chegar lá. Concluindo a questão do recrutamento, a descrição da função e a definição do perfil do candidato certamente são duas coisas que pre- 116 Áreas funcionais da administração 117UNIDADE IV cedem o próprio recrutamento. Alguns elementos podem ser considerados nesse sentido: a forma- ção profissional, a experiência necessária no ramo de atividade, as características de personalidade, os conhecimentos, as habilidades, a expressão e, ainda, a adequação da pessoa à cultura da empresa (esse último é bastante difícil de ser identificado em um primeiro momento, mas em alguns casos pode ficar claro desde o primeiro contato essa afinidade ou falta dela). O que se busca, em última instância, é que ambos estejam satisfeitos com a futura parceria (LACOMBE; HEILBORN, 2008). Há diversos métodos possíveis de recrutamen- to, tais como: anúncios na mídia, tabuletas na porta, informações em quadros de avisos, apresentações, indicações de empregados, apresentações espontâ- neas, agências de emprego, intercâmbio com outras empresas, anúncios em revistas técnicas, empre- sas de headhunting, instituições de formação de mão de obra especializada e de profissionais de alto nível e sites na internet de oferta e procura de emprego(LACOMBE; HEILBORN, 2008). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Uma variação do recrutamento é o recrutamento interno, ou seja, aquele em que uma vaga surge e primeiramente ela é oferecida para quem já tra- balha na organização. Em nossa instituição, isso acontece com frequência e é muito positivo, pois pessoas que já trabalham aqui e conhecem bem a organização têm a possibilidade de ascenderem na carreira e terem novos desafios e oportunidades. É extremamente gratificante ao funcionário quando ele sabe que tem esse espaço de crescimento e de- senvolvimento dentro da empresa em que trabalha. Concluída a fase de recrutamento, passa-se à se- leção. Trata-se do “conjunto de práticas e processos usados para escolher o candidato mais adequado para a vaga” (LACOMBE; HEILBORN, 2008, p. 251). Há diversos métodos que podem ser usados na seleção. Algumas empregam dinâmicas de grupos, outras fazem entrevistas, bancas de avaliação, testes psicológicos, buscam informações em empregos an- teriores da pessoa, entre vários outros possíveis. No caso de empresas públicas, lembrar que o sistema de admissão é diferente, geralmente por concurso público, cujas regras são descritas em edital. A admissão é o próximo passo. Há algumas providências de rotina que são amparadas por lei e devem ser observadas. Exames médicos ad- missionais, por exemplo, são obrigatórios, registro em carteira de trabalho também. A partir daí, o processo é de integração do novo funcionário na empresa, que geralmente passa por período de experiência antes de ser efetivado. Treinamentos também fazem parte dessa área funcional da administração. Aqui podemos men- cionar aqueles que são técnicos e específicos para determinadas funções e que podem ser muito úteis tanto para o funcionário quanto para a organiza- ção e há também os comportamentais, que podem ser ótimos como também podem ser desastrosos. Digo essa palavra de impacto — desastroso — por- que, de fato, há certos tipos de treinamento que são verdadeiras sessões de tortura social, nos quais as pessoas precisam participar de dinâmicas que as fazem se sentir pouco à vontade ou cujo resultado não justifica a forma como é feita. Lembro-me uma vez que participei de uma dessas dinâmicas com balões e frases dentro e mais uma série de coisas para que no final houvesse uma espécie de “moral da história” daquela experiência de estourar o balão etc. E eu só pensava: poxa vida, uma tarde inteira para isso? Se me dissessem com todas as letras a dita “moral da história”, eu teria compreen- https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/663 118 Áreas funcionais da administração dido e pronto; poderíamos ter dispensado toda a parte lúdica. Quando as dinâmicas pressupõem abraços e contato físico excessivo com quem está ao lado então…. tortura social! Enfim, trouxe aqui com uma pitada de humor a sensação que muitos funcionários têm em treinamentos. É importante — imprescindível, eu diria — que o treinamento tenha um objetivo específico, que seja de interesse tanto do funcionário quanto da empresa e que a forma como ele será feito seja respeitosa e ade- quada ao público envolvido, de modo que todo o investimento de ambos os lados — financeiro, emocional, de tempo, cognitivo — seja válido. Passamos agora à avaliação de recursos humanos. Quando se fala em avaliação de pessoas, há algumas questões básicas a serem consideradas: 1) a avaliação existe sempre: mesmo que não pareça existir, ou seja, mesmo que não haja algo estruturado, a entrega do funcionário e/ou sua conduta é sempre objeto de avaliação, mesmo aquela apenas reativa, ou seja, aquela que acon- tece somente quando alguma coisa não vai bem; 2) tem certo grau de subjetividade: isso quer dizer que, quando se trata de pessoas, não se conseguirá facilmente algo objetivo em termos de avaliação, entretanto, programas formais que deixem claro todos os critérios de avaliação para ambas as partes podem diminuir essa subjetividade; 3) contém alguma distorção: os programas formais de avaliação também diminuem essas distorções; algumas delas são a subjetividade, a unilateralidade, a supervalorização ou desvalorização da avaliação dentre diversas outras (LA- COMBE; HEILBORN, 2008). Então em que deveria consistir um bom sistema de avaliação? Algumas características são impor- tantes para isso, conforme apresentadas no Quadro 2: Características de modelos de avaliação Descrição das características confiável e válido baseado em resultados obtidos relacionado ao trabalho considerar o que é relevante para o trabalho padronizado permitir comparações entre as avaliações prático simples de ser executado claro deve ter parâmetros claros para todas as partes periódico algum tipo de periodicidade na avaliação deve haver Quadro 2 - Características de modelos de avaliação Fonte: adaptado de Lacombe e Heilborn (2008). Quanto ao método ou instrumento para avaliação, há muitos tipos diferentes. Isso porque estou falando dos métodos estruturados e divulgados em livros, cursos e manuais. Se falarmos na prática, teríamos talvez quase um método por empresa! Mas vamos a alguns deles:(a) método das escalas gráficas; (b) método da escolha forçada; (c) método da pesquisa de campo; (d) método dos incidentes críticos; (e) métodos mistos. Além desses, propostos por Chiavenato (2016), há ainda diversos outros, como a avaliação 360˚, tendência em muitas das organizações. 119UNIDADE IV Método de avaliação de desempenho Descrição Método das escalas gráficas “Avalia o desempenho das pessoas por meio de fatores de avaliação pre- viamente definidos e graduados. Para tanto, utiliza um formulário de dupla entrada, no qual as linhas horizontais representam os fatores de avaliação do desempenho, enquanto as colunas verticais representam os graus de variação daqueles fatores” (p. 120). Método da escolha forçada “Consiste em avaliar o desempenho das pessoas por intermédio de frases des- critivas de alternativas de tipos de desempenho individual. Em cada bloco, ou conjunto composto de duas, quatro ou mais frases, o avaliador deve escolher forçosamente pelo menos uma ou duas que mais se aplicam ao desempenho do empregado avaliado” (p. 128). Método de pesquisa de campo “É um método de avaliação do desempenho com base em entrevistas com o superior imediato, por meio das quais se avalia o desempenho dos subordi- nados, levantando-se as causas, origens e motivos de tal desempenho, por meio de análise de fatos e situações” (p. 132). Método dos inciden- tes críticos “Trata-se de uma técnica por meio da qual o gestor observa e registra os fatos excepcionalmente positivos e excepcionalmente negativos do desempenho de seus subordinados. Assim, o método dos incidentes críticos focaliza as exce- ções - tanto positivas, como negativas - no desempenho das pessoas” (p. 137). Método de compara- ção aos pares “É um método de avaliação do desempenho que compara duas pessoas de cada vez e anota-se na coluna da direita aquela cujo desempenho é consi- derado melhor. Nesse método de comparação pareada, podem-se também utilizar fatores de avaliação. Assim, cada folha do formulário é ocupada por um fator de avaliação de desempenho” (p. 139). Método de frases descritivas “Este método é diferente do método de escolha forçada apenas por não exigir obrigatoriedade na escolha de frases” (p. 140). Método da autoava- liação “É o método por meio do qual o próprio empregado faz uma análise de suas próprias características de desempenho” (p. 141). Método da avaliação por resultados “Baseia-se em uma comparação periódica entre os resultados fixados (ou esperados) para cada funcionário e os resultados efetivamente alcançados. As conclusões a respeito dos resultados permitem a identificação dos pontos fortes e fracos do funcionário, bem como as providências necessárias para o próximo período” (p. 142-143). Métodos mistos “Os métodos de avaliação do desempenhosão variados, tanto em sua apre- sentação e em aspectos relacionados com as prioridades envolvidas quanto em seu funcionamento [...]. Cada organização desenvolve e utiliza sistemas de avaliação de desempenho adequados às circunstâncias , à sua história e aos seus objetivos” (p. 145). Avaliação 360˚ “Cada pessoa é avaliada pelos diversos elementos que compõem seu entorno. Isso significa que todas as pessoas com as quais ela mantém alguma forma de interação ou intercâmbio participam da avaliação de seu desempenho” (p. 114). Quadro 3 - Métodos de avaliação de desempenho Fonte: Chiavenato (2016). 120 Áreas funcionais da administração Seja qual for o método escolhido, em geral, as eta- pas da avaliação de desempenho são compostas de: 1) definição dos objetivos de desempenho hu- mano; 2) montagem da sistemática de avaliação desse desempenho; 3) implantação do sistema; 4) manutenção do sistema e controle dos resultados” (CHIAVENATO, 2016, p. 146). É evidente que quando se fala em avaliação, sabe-se que existe um vínculo entre ela e a re- muneração e/ou plano de cargos e salários. Em algumas abordagens de gestão, isso fica muito evidente, como na Gestão por Competências. Rabaglio (2013, p. 12) define Gestão por Com- petências como: “ Um conjunto de ferramentas práticas, con- sistentes, objetivas e mensuráveis que torna possível às empresas instrumentalizar RH e Gestores para fazerem Gestão de Desen- volvimento de Pessoas com foco, critério e clareza. Isso é feito através de ferramentas mensuráveis, personalizadas e construídas com base nas atribuições dos cargos ou funções. De fato, a avaliação feita com base nas atribui- ções dos cargos ou funções e da entrega da pes- soa é uma das bases para a avaliação e gestão por competências como um todo, e a remuneração é consequência imediata dela dentro desse modelo. Hipólito (2001) aconselha que a prática re- muneratória seja estruturada, que reforce valores, crenças e comportamentos alinhados às deman- das atuais da organização e com sua orientação estratégica e, ainda, “ que estimule a busca de aquisição e estru- turação de conhecimento, bem como seu compartilhamento no contexto empresarial; que sirva de elemento interveniente na ca- pacidade da organização de atrair e reter ta- lentos; e, ao demonstrar coerência, que sus- tente o comprometimento e estimule ações que estejam de acordo com os objetivos da organização (HIPÓLITO, 2001, p. 75). De fato, se a prática remuneratória da organização tem essa estrutura que contempla tantos aspec- tos, isso gerará um sentimento de segurança por parte dos funcionários, que saberão claramente a política da empresa com relação a esse aspecto tão importante para suas vidas. É a contrapartida do comprometimento do funcionário e a certeza de que também a empresa está comprometida com ele. Dentro dessa perspectiva, há ainda outros objetivos que os sistemas remuneratórios devem buscar para que sejam, de fato, importantes para a alavancagem dos resultados organizacionais, conforme apresenta Hipólito (2001, p. 75): “ • Recompensar a contribuição real que o profissional presta à organização. • Estabelecer um equilíbrio salarial tanto do ponto de vista interno quanto em re- lação aos padrões vigentes no mercado. • Manter as decisões salariais perante funcionários, sindicatos ou Justiça do trabalho. • Possibilitar a delegação efetiva de de- cisões salariais sem perder a coerência no todo. • Permitir precisão e controle maiores na gestão da folha de pagamentos. • Reforçar a imagem da empresa diante dos profissionais que nela atuam, do mercado de trabalho e da sociedade. A remuneração por competências tem como pres- suposto a recompensa a partir do monitoramento da manifestação real e concreta das competências pelo trabalhador dentro da organização, ou seja, de suas entregas (HIPÓLITO, 2001). 121UNIDADE IV Há também, é claro, diversos outros tipos de parâmetros adotados pelas organizações para a remu- neração. Há casos de planos de carreira muito claros (as organizações públicas, por exemplo), outros que não são tão rígidos, mas são bem estruturados, e há também aqueles casos em que o salário é fruto de negociação entre patrão e empregado. Também nesse caso o que rege as decisões é a abordagem de gestão adotada pela empresa. Há diversas outras questões, ainda, relacionadas à área de recursos humanos de uma empresa. Até mesmo o desligamento do funcionário por iniciativa dele ou da empresa compete a essa área. É uma área bastante importante, pois é a que intermedeia a relação empregado-empresa, além de ter que tam- bém estar a par de leis trabalhistas, estar atenta a questões relacionadas a sindicatos e assim por diante. O profissional dessa área precisa de uma dose extra de ética. Afinal, ele representa o setor de apoio ao funcionário, mas ele trabalha é para a empresa! O que já vi acontecer é esse profissional dar toda a abertura para que o funcionário lhe conte questões pessoais e confidenciais e depois contá-las ao seu gerente sem sua autorização. Sim, ele trabalha para a empresa, mas a ética deve prevalecer — e muito — nesse tipo de profissional, para que não traia a confiança das pessoas e desempenhe bem seu papel. 122 Áreas funcionais da administração E chegamos então na administração financeira. Depois de falarmos de diversas áreas funcionais da organização, vamos falar agora de quem, de fato, paga a conta. É importante dizermos que esse tema não só exigiria vários livros inteiros como também diversos tipos de profissionais dentro da organização. É, não se trata de tarefa simples, pois envolve previsão orça- mentária, contabilidade, compreensão da economia como um todo — o que envolve o mercado financei- ro, inflação, juros, câmbio — e ainda decisões sobre capital de giro, precificação, financiamentos, análise de custos, administração de riscos e, dependendo da atividade da empresa, até mesmo conhecimento sobre finanças internacionais. Aqui, falaremos da administração financeira como um todo, destacando seu papel nas empresas. Administração financeira é a área responsável pelas atividades relacionadas com a gestão do fluxo de recursos financeiros na organização. Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 557). Administração Financeira 123UNIDADE IV Vamos começar lembrando o objetivo econômico de grande parte das empresas: maximizar seu valor de mercado, isto é, em termos financeiros, o que aumenta a riqueza daqueles que fizeram investimentos no empreendimento e auxilia em sua sustentabilidade. “ A administração financeira compreende o conjunto de atividades relacionadas com a gestão do fluxo de recursos financeiros na organização e tem a dupla responsabilidade de captar os recursos necessários às atividades da empresa e alocá-los de forma a alcançar os objetivos organizacionais (SOBRAL; PECI, 2013, p. 557). Como se chegar a isso? Bem, é um processo de dentro para fora, geralmente. É mantendo as finanças saudáveis, admitindo riscos calculados, investindo no que se deve e gastando menos do que lucra. Alguns pontos são básicos e se aplicam a todo o tipo de administração financeira, incluindo aquela sua, pessoal. Você pode imaginar que dentro desse contexto, é importante que haja em uma empresa um administrador financeiro. Mesmo se for uma microempresa ou até mesmo uma empresa individual, alguém tem que se responsabilizar por essa tarefa, que não é nada fácil. Exige um alto grau de organização e também de controle, para que as informações e os recursos não se percam pelo caminho. Os administradores financeiros são aqueles que centralizam e mantêm essas informações a fim de embasar suas decisões acerca de diversos aspectos ligados à gestão financeira. Algumas das funções típicas do administrador financeiro são apresentadas no Quadro 4: Função Descrição Análise, planejamento e controle financeiro Consiste em coordenar, monitorar e avaliar todas as atividades e fluxos financeiros da empresapor meio de orçamentos e relatórios financeiros, bem como em participar ativamente nas decisões estratégicas para esta- belecer uma rentabilidade satisfatória sobre os investimentos. Tomada de decisões de investimento Trata-se da tomada de decisões que definam a melhor estrutura de ativos da organização, considerando uma relação adequada entre o risco e o retorno dos capitais investidos. Tomada de decisões de financiamento Refere-se à tomada de decisões que definam a composição das fontes de recursos financeiros da organização, procurando estabelecer uma estru- tura adequada em termos de liquidez, custo e risco financeiro. Quadro 4 - Funções típicas do administrador financeiro Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 557). Você pode perceber que se tratam de tarefas de grande importância dentro de uma organização. É a administração financeira que permite que todas as outras áreas possam trabalhar. Em empresas pequenas, muitas vezes é o próprio dono quem assume essa função, mas também em grandes empresas, mesmo tendo profissionais especializados na área, com frequência a palavra final é a do dono. Há casos, é claro, de empresas de grande porte bastante departamentalizadas em que 124 Áreas funcionais da administração algum grau de autonomia é concedido aos diretores ou gerentes financeiros e nem tudo precisa passar pelo dono ou por um conselho deliberativo. O ciclo financeiro de uma empresa tem início quando há o primeiro pagamento e termina com o recebimento pela venda do produto ou serviço prestado (HOJI, 2014). Contudo, você pode imaginar que no meio disso tudo há uma série de operações que acontecem e que requerem decisões financeiras, desde a compra de matérias-primas, passando pela produção ou necessidades de treinamentos — tudo dependerá da ativida- de da organização — pelo marketing, logística, até o recebimento. Lembrando que, para cada tipo de produto ou serviço, há esse ciclo e que muitos ciclos, então, podem ocorrer simultaneamente, em etapas similares ou diferentes. E no meio de tudo isso pode aparecer a necessidade de financiamentos. Sobre as de- cisões de financiamento, trata-se de uma escolha voltada à captação de recursos para a organização, a fim de promover seu desenvolvimento. Há diversos tipos de recursos e a escolha por algum deles será condicionada a fatores como liquidez, custo e risco finan- ceiro. Podem ser classificados, basicamente, como: 1) recursos próprios ou de terceiros; 2) recursos permanentes ou temporários; 3) recursos onerosos ou não onerosos. No Quadro 5 consta a descrição de cada um deles: Tipo de recurso Descrição Recursos próprios ou de terceiros Os recursos próprios são aqueles investidos pelos sócios ou lucros retidos na empresa, ao passo que os recursos de terceiros correspondem a compromissos e dívidas contraídas perante terceiros. Recursos perma- nentes ou tempo- rários Os recursos permanentes são os recursos próprios ou exigí- veis no longo prazo, enquanto os recursos temporários são dívidas e compromissos de curto prazo. Recursos onerosos ou não onerosos Os recursos onerosos obrigam a empresa ao pagamento de encargos financeiros, e os recursos não onerosos, não. Quadro 5 - Tipos de recursos captáveis pela organização Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 577). A busca por recursos se dá geralmente para algum tipo de investimento específico que se torna necessário ou então para capital de giro. Sobre capital de giro, trata-se de um dos principais elementos financeiros de uma empresa, pois, “ são todos os recursos de que uma empresa precisa para funcionar, ou seja, para que se mantenha aberta, cumprindo todas as suas obrigações com fornecedores, funcio- nários e fisco. O capital de giro é todo o dinheiro que a empresa precisa pagar antes de receber suas vendas, ou seja, são todos os pagamentos que ela terá de realizar para manter-se em funcionamento até que receba todo o dinheiro das vendas que efetuou, sejam recebimentos à vista ou parcelados (NASCIMENTO, 2014, p. 3). 125UNIDADE IV E o que ocorre se uma empresa tem problemas com o capital de giro e não consegue pagar seus compromissos nas datas de vencimento? Bem, isso é um grande problema e nesse momento a empresa começa a se caracterizar como uma em- presa descapitalizada. Essa situação pode aconte- cer por várias razões, dentre elas: “ • não produzir corretamente seus produ- tos ou não prestar seus serviços de uma maneira eficiente; • ter de pagar seus fornecedores em um prazo bem menor que o prazo de recebi- mento que ela concede para seus clientes (ou seja, ela paga antes de receber); • não negociar com seus fornecedores, pa- gando a maioria de suas contas à vista ou em um prazo muito pequeno; • preços de vendas de seus produtos muito baixos, incapazes de gerar lucro para a empresa; • muitas despesas em suas operações em relação à receita, gerando um lucro muito pequeno, ou até mesmo prejuízo, fazendo que a empresa não consiga pagar suas con- tas em dia (NASCIMENTO, 2014, p. 3-4). 126 Áreas funcionais da administração Conheço muitas empresas que passam por difi- culdades devido a problemas justamente com o capital de giro. E outras que fecharam cedo por não entenderem que há um tempo entre a abertura da empresa e o retorno oriundo de um ciclo opera- cional já em funcionamento. Explico-me: para se abrir uma empresa, é necessário dinheiro. Ele pode ser próprio ou emprestado e deve ser suficien- te não só para abri-la, mas também para fazê-la funcionar por um tempo, pois em um primeiro momento será necessário investimento em espa- ço físico, equipamentos, contratação de pessoal, matérias-primas, materiais de escritório, sistemas de informação, divulgação… enfim, tudo aquilo que é necessário para fazer as primeiras levas de produtos ou serviços serem lançadas no mercado. Somente depois que a empresa estiver toda es- truturada é que ela começará a vender seus produ- tos ou serviços. E aí se a receita gerada é suficiente para pagar todas as contas, o que sobra pode ser reinvestido na empresa e isso completa o ciclo operacional da empresa, ou ciclo de conversão de caixa (NASCIMENTO, 2014). Diversas são as questões referentes à adminis- tração financeira de uma organização. Uma delas é compreender se o ciclo operacional da empresa é sustentável ou não. Já ouviu a expressão “dar murro em ponta de faca”? Pois é, às vezes é o que as pessoas fazem quando insistem em manter um negócio mesmo quando o ciclo operacional dele se mostra insustentável. Nunca me esqueço de uma colega da época da faculdade que me contou a história dos tios dela. Eles tinham uma distribuidora de gás em uma cidade pequena. A distribuidora ia muito bem, era antiga e uma das únicas da cidade, então tinha muitos clientes e isso lhes rendeu muito dinheiro. Moravam em uma casa que ocupava quase um quarteirão. Aí um dia a tia resolveu abrir uma loja de roupas e não sei maiores detalhes, mas a loja não emplacou. Só dava prejuízo, mas como eles tinham muito dinheiro e a distribuidora de gás estava indo bem, foram tirando dinheiro de lá e colocando na loja. Para encurtar a história: insistiram tanto em uma empresa que não se sustentava (a loja), que comprometeram as finanças da outra empre- sa (a distribuidora de gás) a ponto de quebrá-la. Perderam tudo o que tinham e se mudaram para a Inglaterra para trabalharem lá e conseguirem dinheiro para que o filho que estava na faculdade pudesse concluir os estudos. Parece conto de inter- net, mas não é. É uma história bastante real e que eu já vi acontecer diversas vezes, em proporções maiores ou menores que essa. A questão crucial nesse caso seria saber reconhecer quando o ciclo operacional de uma empresa não é sustentável e fechá-la enquanto é tempo! Veja, talvez seja uma questão de análise e de equilíbrio. Não se trata de desistir de um empreen- dimento quando na fase inicial de investimento e de não retorno e na qual o ciclo operacional ainda não está completo, e também,como vimos, não é o caso de insistir em empresas que não se sus- tentam. Sabemos, porém, que há outros elementos envolvidos, talvez muito mais subjetivos: o apego ao sonho, orgulho, teimosia, problemas em mudar de ramo ou atividade… é necessário estar atentos a esses sinais e refletir sobre eles e sobre a nossa própria conjuntura de trabalho e financeira, antes que a situação chegue ao ponto de interferir nas finanças pessoais e familiares. Por falar em finanças pessoais, talvez esse seja um ponto também muito importante a ser con- siderado por você. O controle das finanças — ou a falta dele —, sejam elas de uma empresa ou as próprias, é muitas vezes, uma questão de modelo mental. Dificilmente alguém desorganizado com as próprias finanças conseguirá ser um exímio ad- ministrador financeiro de uma organização. E o inverso também procede: um bom administrador financeiro de uma empresa provavelmente é bem organizado com suas próprias finanças. 127UNIDADE IV Lembrando que, além dessa questão de mo- delo mental, há também outra bastante prática: os recursos pessoais são muitas vezes os recursos a serem empregados no início de uma empresa. Há ainda outro cenário: aquele de empresas pe- quenas e familiares onde as finanças da empresa são misturadas com as da família, tanto em uma via quanto em outra — é claro que isso passa longe do que seria o ideal em termos de gestão financeira de uma empresa, mas acontece com bastante frequência. Então, é difícil falar em ad- ministração financeira sem falarmos também de finanças pessoais. De algum modo estão sempre relacionadas. Finanças pessoais é um tema que deveria ser obrigatório desde a alfabetização das crianças até o resto da vida acadêmica de uma pessoa — ou talvez antes ainda da alfabetização! Isso implicaria em consumo consciente, em uma mentalidade não consumista, em pensar no futuro, em pou- pança, em investimento, em doações também, em criação de ONGs…. enfim, até mesmo para ser altruísta e ajudar pessoas é importante ter capital (é claro que essa não é a única forma — nem de longe quero dar essa conotação — a ênfase nesse aspecto é porque o tema que estamos tratando aqui é justamente este: dinheiro, capital). Já que infelizmente nem todos tiveram em sua formação acadêmica esses conceitos ou tiveram a oportunidade de fazer algum curso ou ter algum tipo de orientação nesse sentido, recomendo a você que busque esse conteúdo em livros ou ou- tras fontes. Será importante para você e toda a sua família, presente ou futura. Acredite! Há diversos materiais e cursos sobre finanças pessoais aos quais você pode ter acesso. Um dos grandes nomes nacionais nesse tema é sem dú- vida Gustavo Cerbasi. Ele tem vários livros sobre finanças pessoais e familiar que podem ajudar a começar essa organização. Além de ser uma prá- tica consciente que lhe trará somente resultados positivos, pode também ser o início da constru- ção de um novo modelo mental, que poderá lhe ajudar tanto em sua vida pessoal quanto familiar e profissional. 128 Áreas funcionais da administração Vimos nesta unidade alguns conceitos de adminis- tração financeira. Propositalmente não entramos nos detalhes do que isso implica nas organizações, pois não é o propósito deste material e exigiria pelo menos mais de 500 páginas — que é o tamanho nor- mal de um bom livro de administração financeira. Indico um bom livro no material complementar e estimulo você a procurar esse conhecimento mais técnico e específico quando precisar dele. É importante dizer que, em muitas profissões que nada têm a ver com administração, o profissional se vê obrigado a tratar dessas questões. Um bom profissional ama o que faz e resolve abrir o próprio negócio: um chef de cozinha resolve ser proprietário de um restau- rante; um educador físico, de uma academia; um fotógrafo, de um estúdio; um arquiteto, engenhei- ro ou advogado, de um escritório. E sabe o que acontece? Ele não consegue mais fazer o que gosta. Passa a cozinhar pouco, a dar poucas instruções, a fotografar menos do que gostaria ou fazer menos projetos porque tem que administrar a própria empresa. Muitas vezes isso acaba em frustração. Em termos de administração financeira, o ideal é ter um profissional apto para exercer essa função. Também as demais podem ser bastante complexas dependendo da atividade da organiza- ção, mas essa, sem dúvida, é a que permite todas as outras acontecerem, é o que sinaliza a viabilidade de um negócio, então precisa de uma atenção es- pecial e profissionalizada. Bem, e assim concluímos nossa unidade. Nela você pôde ter as noções básicas das principais áreas funcionais da administração e ter uma ideia um pouco mais ampla do que significa gerir um negócio. Pôde perceber, também, que diversas questões relacionadas às organizações refletem ou são reflexos daquelas relacionadas também à sua vida pessoal. Sim, não poderia ser diferente. As organizações são feitas por pessoas e certas características são indissociáveis e refletem nos ambientes de trabalho. Espero que esse conhecimento tenha lhe aju- dado a compreender um pouco mais do que con- siste a vida organizacional em suas diversas áreas funcionais. 129 1. A administração de operações e logística são elementos fundamentais em uma organização. São os responsáveis pela transformação dos insumos em produtos ou serviços e por eles chegarem aos clientes. A respeito da administração de operações e logística, assinale a alternativa correta: a) O termo logística — como o próprio termo demonstra — se refere especifica- mente a todos os componentes que existem na organização de lojas de varejo. b) Administração de operações é a área da administração responsável pelo pla- nejamento, operação e controle do processo de transformação que converte insumos e recursos em produtos ou serviços. c) Não há como terceirizar atividades de logística, por se tratar de algo de foro interno da organização. d) Estoques grandes são boas opções nas empresas, dado que sempre que o cliente quiser comprar algo, ali haverá disponível. e) Benchmarking é a cópia exata de um bom produto ou uma boa prática de outra empresa. 2. O termo “Marketing” tem origem no latim e significa comércio. Satisfazer as necessidades das pessoas ou criar e manter clientes é talvez o objetivo prin- cipal do marketing. A respeito dessa área funcional da administração, leia as afirmativas abaixo: I) O marketing se aplica tanto a produtos quanto a serviços e aos mais diversos tipos de contexto. II) Os famosos 4 Ps do marketing são: produto, preço, propaganda e promoção. III) O conceito de marketing holístico pressupõe que ‘tudo é importante’ e que é necessária uma perspectiva abrangente e integrada. IV) Kotler e Keller propuseram a seguinte atualização dos 4 Ps: pessoas, proces- sos, programas e performance. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 130 Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas I, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 3. A administração de recursos humanos está relacionada a atividades que vão desde o recrutamento e seleção até a avaliação e remuneração, passando por treinamento e administração de cargos e salários. Sobre essa área da adminis- tração, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): )( A descrição da função e a definição do perfil do candidato são duas coisas que precedem o próprio recrutamento. )( Seleção é o conjunto de práticas e processos usados para escolher o candidato mais adequado para a vaga. )( Treinamentos são sempre úteis e apropriados quando oferecidos pela orga- nização. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-V-F. 131 Administração financeira na prática Autor: Masakazu Hoji Editora: Atlas Sinopse: este livro foi escrito utilizando os exemplos práticos docotidiano de empresas e famílias brasileiras, que podem ser aplicados em programa de educação financeira corporativa, para ‘educar financeiramente’ os profissionais de todas as áreas e todos os níveis hierárquicos, bem como os proprietários de pequenos negócios. A analogia das transações financeiras empresariais com as transações financeiras pessoais facilitará a compreensão de sua mecânica. Os exercícios propostos e solucionados servem para reforçar a aplicação prática dos conceitos sob diversos ângulos e fixar os conhecimentos financeiros fun- damentais para o sucesso financeiro pessoal e sucesso financeiro empresarial. Comentário: este livro tem uma proposta excelente de tratar conjuntamente a administração financeira de empresas e pessoal, o que vem ao encontro justamente do que discutimos nesta unidade, no tópico 4. Além desse livro, há também outros títulos do mesmo autor que tratam de administração financeira e orçamentária, voltada somente a organizações, de modo bastante amplo e aprofundado, para quem necessita de um conhecimento mais técnico nessa área. LIVRO 132 ADLMAIER, D.; SELLITTO, M. A. Embalagens retornáveis para transporte de bens manufaturados: um estudo de caso em logística reversa. Production, v. 17, n. 2, p. 395-406, 2007. ALVES, R. R. Marketing ambiental: sustentabilidade empresarial e mercado verde. Barueri-SP: Manole, 2017. ALVES, E. B.; BARBOZA, M. M.; ROLON, V. E. K. Marketing de relacionamento: como construir e manter relacionamentos lucrativos? Curitiba: Intersaberes, 2014. BALM, G. J. Benchmarking: um guia para o profissional tornar-se – e continuar sendo – o melhor dos melhores. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1995. BERTAGLIA, P. R. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. São Paulo: Saraiva, 2009. CAMPOS, L. M. F. Marketing industrial. Curitiba: Intersaberes, 2012. DIAS, R.; CASSAR, M. Fundamentos do Marketing Turístico. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. FERREIRA JUNIOR, A. B. Marketing político e eleitoral: uma analogia entre o mundo corporativo e a política. 2. ed. Curitiba: Intersaberes, 2015. FERREIRA JUNIOR, A. B.; AZEVEDO, N. Q. Marketing digital: uma análise do mercado 3.0. Curitiba: In- tersaberes, 2015. GARCIA, J. L. Marketing de serviços e de varejo. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. HIPÓLITO, J. A. M. Tendências no campo da remuneração para o novo milênio. In: DUTRA, J. S. (Org.). Gestão por Competências: um modelo avançado para o gerenciamento de pessoas. 6. ed. São Paulo: Editora Gente, 2001, p. 71-94. HOJI, M. Administração financeira na prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2014. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. 133 LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. LEITE, P. R. Logística reversa: nova área da logística empresarial. Revista Tecnologística, maio 2002; São Paulo: Editora Publicare, 2002. LOVELOCK, C.; WIRTZ, J.; HEMZO, M. A. Marketing de Serviços: pessoas, tecnologia e estratégia. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. MCCARTHY, E. J. Basic marketing: a global managerial approach. USA: McGraw-Hill, 1996. MOHR, J.; SENGUPTA, S.; SLATER, S.; LUCHT, R. Marketing para mercados de alta tecnologia e de in- formações. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011. NASCIMENTO, A. Gestão do capital de giro. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. NOVAES, Antônio G. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição: Estratégia, Operação e Ava- liação. Rio de Janeiro: Campus, 2001. PIGOSO, A. F. Marketing internacional. Curitiba: Intersaberes, 2012. POSER, D. V. Marketing de relacionamento: maior lucratividade para empresas vencedoras. Barueri-SP: Manole, 2005. RABAGLIO, M. O. Gestão por Competências: ferramentas para atração e captação de talentos humanos. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 2013. REICHELT, V. P. Fundamentos de marketing. Curitiba: Intersaberes, 2013. RIBEIRO, L. Marketing social e comportamento do consumidor. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. RITOSA, C. M. Marketing pessoal: quando o produto é você. Curitiba: Intersaberes, 2012. SOBRAL, F.; PECI, A. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. 2. ed. São Paulo: Pearson Educa- tion do Brasil, 2013. 134 1. B. 2. D. 3. E. 135 136 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Discutir sobre os níveis estratégico, tático e operacional das organizações e conceitos de estratégia. • Descrever a ferramenta estratégica de análise SWOT e sua importância no planejamento estratégico. • Descrever a Teoria de análise da estrutura da indústria e estratégias genéricas de Michael Porter e a Visão da Empresa Baseada em Recursos. Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Estratégia e níveis organizacionais Análise SWOT e planejamento estratégico O modelo de Porter e a Resource-Based View (RBV) Gestão Estratégica Estratégia e Níveis Organizacionais Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) a esta nova unidade! Nela nos dedicaremos à estratégia nas organiza- ções, considerando seus diferentes aspectos. Iniciaremos falando um pouco sobre os níveis hierárquicos que existem em uma organização, ou os chamados níveis organizacionais: estratégico, tático e operacional. Por que essa divisão? Em que consiste cada um deles? A ideia dessa divisão é classificar os adminis- tradores pelo nível que ocupam dentro de uma organização e do âmbito das atividades pelas quais são responsáveis (SOBRAL; PECI, 2013). O nível estratégico é o nível mais elevado em ter- mos hierárquicos em uma organização e é formado geralmente por poucas pessoas com grande poder de decisão. A atuação dessas pessoas é basicamente estratégica, ou seja, buscam ter uma visão da organi- zação como um todo e perceber o ambiente externo a fim de procurar traçar os melhores caminhos para a organização no médio e longo prazos. O nível tático é o próximo nessa hierarquia e diz respeito, sobretudo, às áreas funcionais da empresa, departamentos ou áreas de negócios. Os administradores desse nível organizacional são os responsáveis por trazerem aos níveis operacionais as políticas traçadas pelos administradores do ní- vel estratégico e coordenar os trabalhos referentes às suas áreas específicas. 139UNIDADE V estratégia de vantagem na guerra, ao fazer o inimigo acreditar que será feito um determinado mo- vimento, quando na realidade se fará outro para pegá-lo despre- venido. Outros escritos famosos são “O Príncipe”, de Maquiavel, do século XVI; “Da guerra”, de Clausewitz (século XIX) e tam- bém textos de Plutarco (VIZEU; GONÇALVES, 2010). Bem, é claro que houve uma extrapolação desses princípios em termos militares e políticos para o ambiente organizacio- nal. Sendo assim, entendemos a origem do termo e suas inspi- rações em outros campos, mas e sua definição específica para a realidade organizacional? Bem, como na maioria dos casos, não temos um conceito único para estratégia. Então vamos apresen- tar alguns aqui. Saiba mais sobre o campo da estratégia em Bulgacov et al. (2007, p. 4), no qual os autores apresentam um quadro bastante didáti- co sobre a evolução histórica do campo da estratégia, com seus pressupostos teóricos, referências, eventos, ferramentas e modelo. Por fim, o nível operacional é aquele mais baixo em termos de hierar- quia, mas não menos essencial. Representa, inclusive, a razão de ser da maioria das organizações, pois é composto por aqueles que de fato executam as atividades e tarefas cotidianas. Os administradores desse nível organizacional têm atuação operacional e de curto prazo e geral- mente conduzem pequenos grupos ou equipes (SOBRAL; PECI, 2013). Falaremos mais nesta unidade sobre o nível estratégico, entretan- to, é importante e fundamental conhecer também os níveis tático e operacional, pois sem eles e, sobretudo, a interação e a sinergia desses três níveis, não é possível que as políticasdefinidas pelo planejamento estratégico sejam concretizadas. No entanto, inicialmente, o que é estratégia? Não à toa nos vem em mente quando ouvimos essa palavra exércitos em guerra tentando vencer inimigos. De fato, a origem do termo se deu justamente na área militar. Estratégia vem do grego strategos, derivado de stratos, que significa exército, e agein, cujo significado é liderar. Então, o termo quer dizer liderar o exército, função essa do general ou, no nosso caso, do administrador. Tanto o general em seu contexto quanto o admi- nistrador em uma empresa, de fato, têm o papel de planejar as ações e objetivos, organizar seu pessoal e dirigir os esforços das pessoas rumo aos objetivos e, ainda, controlar todos os processos que isso pressupõe (VIZEU; GONÇALVES, 2010). Não é a toa que há alguns livros clássicos sobre estratégia que re- metem ao contexto de guerras, conquistas e modos de governar. Um dos mais notáveis deles é, certamente, “A arte da guerra”. Trata-se de um livro datado de 500 anos a.C., supostamente escrito pelo general chinês Sun Tzu, que trata tanto de questões objetivas, como a análise geográ- fica e o combate com armas de fogo, como de questões mais abran- gentes como a análise das variáveis em jogo na guerra — e apregoa a necessidade de conhecimento e controle sobre elas —, o equilíbrio das próprias emoções e a dissimulação — sim, a dissimulação — como A fábula “os cegos e o elefante” 140 Gestão estratégica Contudo, antes disso, vamos falar sobre a fábu- la “os cegos e o elefante”, de John Godfrey Saxe (1816-1887). Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) iniciaram seu livro Safári de Estratégia — uma das maiores obras primas da estratégia — com essa fábula, justamente para mostrar que em se tratando de estratégia — assim como em tantas outras instâncias da vida — há diversas formas de conceber um mesmo fenômeno, dependendo da percepção de quem o observa. A fábula conta a história de seis homens cegos do Hindustão que foram conhecer um elefante. Cada um deles tocava em uma parte do elefante e tinha uma percepção acerca do animal. Para o primeiro, que tocou o lado do elefante, o animal se assemelhava a um muro. O segundo tocou sua presa, então para ele o animal parecia uma lança. O terceiro tocou sua tromba e achou que se pa- recia mesmo era com uma cobra. O quarto tocou o áspero joelho do elefante a achou muito seme- Figura 1 – A fábula “os cegos e o elefante” 141UNIDADE V lhante a um tronco de árvore. O quinto tocou a orelha e teve a certeza de que o animal se parecia mesmo era com um leque. O sexto homem, por fim, tocou a cauda do elefante, o que o fez pensar que o animal se parecia, sem dúvidas, com uma corda. Todos discutiram por muito tempo, cada um com sua opinião bastante convicta e achando que os demais deveriam estar loucos por pen- sarem de forma diferente. A moral da história é bastante clara, não é? Dificilmente temos a visão do todo (na fábula, nenhum deles de fato viu o elefante, eram cegos) e nos apegamos àquela parte que compreendemos através das lentes da nossa percepção Lampel — influenciados por experiên- cias passadas, conhecimentos, crenças, ideologias, correntes teóricas — sem talvez nos darmos conta de que a percepção do outro pode apenas ser re- flexo de outras lentes, diferentes das nossas. Essa fábula nos serve de lição para muitos as- pectos da nossa vida, mas aqui a utilizaremos para entender o que acontece no campo da estratégia. Se- gundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 13), “ somos os cegos e a formulação de estraté- gia é nosso elefante. Como ninguém teve a visão para enxergar o animal inteiro, cada um tocou uma ou outra parte e ‘prosseguiu em total ignorância’ a respeito do restante. Somando as partes, certamente não teremos um elefante. Um elefante é mais que isso. Contudo, para compreender o todo também precisamos compreender as partes. Esses autores, então, trouxeram dez formas di- ferentes — que eles chamam de “escolas” — de se compreender a estratégia nas organizações. O Quadro 1 traz essas dez escolas e o adjetivo que melhor parece descrever a visão que cada uma tem do processo de estratégia: Quadro 1 - Escolas da estratégia e sua principal característica Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 13-14). Escola: Formulação de estraté-gia como um processo: Escola do Design de concepção Escola do Planejamento formal Escola do Posicionamento analítico Escola Empreendedora visionário Escola Cognitiva mental Escola de Aprendizado emergente Escola do Poder de negociação Escola Cultural coletivo Escola Ambiental reativo Escola de Configuração de transformação 142 Gestão estratégica Aqui não será nossa intenção falar sobre cada uma delas, pois entraríamos em uma discussão teórica bastante aprofundada que não é nosso objetivo. O importante é perceber que há diversas formas de se conceber a estratégia. Inclusive até mesmo o próprio conceito de estratégia muda de acordo com o pensamento adotado a respeito do tema. Vamos, então, para alguns deles. Segundo a definição do grupo de Harvard, es- tratégia é “um conjunto coerente de objetivos que, ao serem atingidos, promoveria o devido ajuste da organização ao seu ambiente” (VIZEU; GON- ÇALVES, 2010, p. 35). Nessa perspectiva, conside- ra-se o ambiente e os objetivos organizacionais. Para Sobral e Peci (2013, p. 206), estratégia é a “busca deliberada por um plano de ação que per- mita desenvolver, e continuamente ajustar, uma vantagem competitiva da empresa sobre seus con- correntes”. Esse conceito tem como base os planos de ação e a ideia de competitividade. Quando falamos em estratégia, de fato, na maioria das vezes estamos nos referindo àquilo que é deliberado, ou seja, intencional, planejado propositalmente. Contudo, sabe-se que até mes- mo estratégias não pretendidas são consideradas estratégias! Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) e Mintzberg (2004) as denominam estratégias emergentes. E o que são elas? São aquelas em que “um padrão realizado não foi expressamente pretendido. Foram tomadas providências, uma a uma, que convergiram com o tempo para algum tipo de consistência ou padrão” (MINTZBERG, 2004, p. 35). Essa concepção é oriunda da Escola de Aprendizado, que sugere que as organizações aprendem ao longo do tempo e que há um redi- mensionamento e redirecionamento estratégi- co importante que se origina não de um esforço formal de planejamento, nem do alto escalão decisório da organização, mas, em vez disso, as estratégias se devem “ a uma variedade de pequenas ações e decisões tomadas por todos os tipos de pessoas dife- rentes (algumas vezes de forma acidental ou por sorte, em nenhuma consideração quanto às suas consequências estratégicas). Tomadas em conjunto ao longo do tempo, essas peque- nas mudanças frequentemente produziam grandes mudanças de direção (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 135). Por vezes esse processo gera um outro talvez até mesmo inusitado: estratégias emergentes do pas- sado se convertem em estratégias deliberadas para o futuro. Isso se deve ao processo de aprendizagem que ocorre nas organizações, que faz que reco- nheçam seus padrões em seus próprios compor- tamentos, ou seja, aquilo que funciona para elas e como fazer isso (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). Gosto muito dessa forma de se conceber a estratégia por causa de seu enfoque nas carac- terísticas singulares de cada organização. Afinal, o aprendizado se dá de forma diferente em cada ambiente, dependendo de quem são as pessoas en- volvidas, do ramo de atividade ao qual se refere, no mercado e contexto no qual a organização está in- serida… enfim, é uma forma de se valorizar tudo isso, toda essa riqueza de experiência e aprendi- zado e agir da melhor forma para aquele contexto específico. E quantas vezes isso é ignorado por modelos estratégicos rígidos e pré-definidos! 143UNIDADE V [...] o processo da elaboração da estratégia pre- cisa serconsiderado tanto de cima para baixo quanto de baixo para cima. Valiosos insights para a formulação de estratégias podem partir tanto daqueles que as implementam quanto daque- les que as elaboram (ou assim acreditam). Além disso, a implementação e quaisquer defeitos ou novos insights que surjam podem constituir a base da estratégia do amanhã. Na verdade, a implementação vem a ser uma parte do processo de formulação de estratégia. Fonte: Carter, Clegg e Kornberger (2010, p. 112). Bem, mas é claro, nem sempre tudo funcio- na bem. A essa linha de pensamento são feitas também muitas críticas, tais como de ser uma organização sem objetivos definidos (inexistência de estratégia), deixar de lado estratégias que fun- cionam por se dar excessiva ênfase às novidades oriundas do aprendizado (estratégia perdida) e o perigo de se basear as ações em aprendizado incremental, que pode fazer que se chegue onde nunca ninguém quis (estratégia errada) (MINTZ- BERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). Enfim, como todas as demais abordagens, também essa requer uma boa dose de cuidado e bom senso. Voltemos agora para as tentativas de definição para estratégia. McKean (2012, p. 26) tem uma definição de estratégia bastante interessante e direta: estratégia é a “definição do melhor futuro para a sua equipe ou empresa, mapeamento da rota para alcançá-lo e sua clara comunicação”. O autor prossegue explicando aspectos importantes inerentes a esse conceito: “ 1. A estratégia esforça-se para definir o me- lhor futuro, não apenas o mais óbvio ou uma extrapolação do passado. 2. Esse futuro precisa ser algo que se possa alcançar. 3. Deve haver um roteiro lógico para al- cançá-lo. 4. Por fim, esse futuro deve ser comunica- do claramente à empresa para que se torne realidade (MCKEAN, 2012, p. 26). O primeiro ponto se refere àquela expressão “pensar fora da caixa”, para que não somente a extrapolação do passado seja considerada, mas também coisas completamente novas — mesmo que seja para co- locar tudo em uma balança e verificar que a melhor estratégia no momento seja mesmo somente extra- polar o passado, mas o exercício de pensar novas possibilidades deve sempre ser feito, pois é ali que podem estar oportunidades antes impensadas. O segundo ponto trata da viabilidade das coi- sas. Se não é possível alcançar, é insano considerar como estratégia, seria apenas perda de energia e frustração anunciada de todos os envolvidos. O terceiro ponto se refere ao caminho, aos planos de ação, à lógica das ações para se chegar naquilo que se almeja, considerando todos os recursos necessários para isso. Por fim, a estratégia e o que se almeja com ela deve ser de conhecimento de todos. É justo e inteligente que todos saibam para qual finalidade estão trabalhando; certamente aju- da em termos de motivação, de compartilhamento de conhecimentos, de esforços direcionados e de integração entre pessoas e setores. Tendo visto as diversas formas de se conceber a estratégia e também os níveis que fazem parte das organizações, passamos no próximo tópico para a operacionalização das coisas: o planejamento estratégico. 144 Gestão estratégica Tendo conhecido os níveis hierárquicos de uma organização e definições de estratégia, passamos agora para o planejamento estratégico, que une esses conceitos e esses níveis para o alcance de um objetivo específico. Planejamento estratégico é o “processo formal de determinação de objetivos e metas básicas de longo prazo de uma empresa e adoção de cursos de ação e alocação de recursos necessários para alcançar esses objetivos”. Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 207). Análise Swot e Planejamento Estratégico 145UNIDADE V Dentro dessa perspectiva, é claro que é necessário considerar — e realizar — a tão famosa análise SWOT. Você já deve ter ouvido falar sobre ela. O significado da sigla é: O processo de planejamento estratégico consiste em uma sequência de análises e decisões que com- preende: • Análise da situação estratégica presente da organização (onde estamos?). • Análise do ambiente (quais são as ameaças e oportunidades do ambiente?). • Análise interna (quais são os pontos fortes e fracos dos sistemas internos da organização?). • Elaboração do plano estratégico da organização (para onde devemos ir? O que devemos fazer para chegar até lá?) (MAXIMIANO, 2011, p. 103). Esse processo pode ser visualizado na Figura 1: Análise do ambiente externo Análise de pontos fortes e fracos Definição de objetivos e estratégias Estratégias funcionais e operacionais Execução e avaliação Análise da situação estratégica Figura 1 - Processo de planejamento estratégico Fonte: Maximiano (2011, p. 103). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Strenght = forças Opportunities = oportunidades Weaknesses = fraquezas Threats = ameaças https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/664 146 Gestão estratégica O modelo SWOT foi concebido por Kenneth An- drews e o chamado grupo de Harvard do qual ele fazia parte, e “ [...] corresponde ao ajuste interno através da observação das tendências em determinado setor. Ou seja, o papel da gerência geral de uma organização seria a ativação das forças e a eliminação das fraquezas, no sentido de aproveitar as oportunidades de mercado, mas também para se proteger das ameaças do am- biente (VIZEU; GONÇALVES, 2010, p. 34). Apesar da sigla SWOT ser a mais comumente usada mesmo em publicações em português, al- guns autores a traduziram como FOFA (forças, oportunidades, fraquezas e ameaças). Trata-se da análise tanto de dentro quanto de fora da organização, para assim se ter as infor- mações e a compreensão necessárias para poder começar a se pensar em planejamento estratégico. Forças e fraquezas é o olhar para dentro. Signifi- ca analisar quais são os pontos fortes e os fracos da organização. Isso envolve uma série de elementos a serem considerados, tais como localização, pessoal, estrutura, tecnologia utilizada, carteira de clientes, participação de mercado, poder de barganha, parcerias com fornecedores e tantos e tantos outros aspectos. Oportunidades e ameaças é o olhar para fora da organização, ou seja, para o ambiente externo. E qual ambiente deve ser esse? A região onde se encontra a empresa? Todo o planeta Terra? Nem uma coisa nem outra. Significa tudo aquilo que é exte- rior à organização e que de algum modo a influencia ou pode vir a influenciar, o que inclui: a conjuntura econômica e social, os concorrentes, as pers- pectivas de inserção no mercado de determinado produto ou serviço, as tecnologias disponíveis e as que podem ser desenvolvidas, análise de oferta e demanda, mudanças políticas e legais, relacio- namento com sindicatos e até mesmo condições de clima e temperatura, dependendo da natureza da atividade (agricultura ou comercialização de produtos agrícolas, por exemplo, ou o turismo em regiões procuradas por suas características climá- ticas). Bom, aqui os exemplos ocupariam o livro todo, porque afinal de contas cada organização terá seu próprio ambiente externo, ou seja, terá sua própria gama de elementos que a influenciam ou são influenciados por ela. A ideia dessa análise é conhecer a organização e seu ambiente do modo mais amplo e realista possível, para assim poder desenvolver um pla- nejamento estratégico com mais chances de êxito. Vamos falar um pouco mais de cada uma dessas quatro variáveis de análise. As forças são aquilo que a empresa faz de melhor ou tem de potencial. Aqui caberia identificar o que a organização como um todo e também cada um de seus membros e equipes fazem bem ou tem o potencial de fazer, de acor- do com suas características e conhecimentos. Também a análise de quais recursos possui ou tem acesso, quais deles representam diferencial ou algo que alavanca sua produção ou contribui para a oferta de bons serviços. E entraria até mes- mo a análise da imagem da organização,ou seja, 147UNIDADE V daquilo que o mercado ou a concorrência percebe de bom nela, que precisa ser mantido (reputação de boa qualidade, por exemplo) e que se bem tra- balhada pode ser ainda mais bem aproveitada e direcionada para os objetivos da organização. As fraquezas são os pontos fracos que precisam, primeiramente, serem reconhecidos, identificados. Ter consciência deles é o primeiro importante passo. As fraquezas podem representar, por exemplo, aquilo em que a organização deve dispender excessivo esforço ou uso de recursos, de modo não fluído e difi- cultoso. Também pode representar a falta dos recursos necessários — sejam eles tangíveis ou intangíveis — para se chegar ao objetivo preten- dido. O que os outros percebem como fraqueza também representam uma fraqueza, mesmo que seja somente de imagem da organização — o que não é nem de longe pouca coisa! Enfim, é aquilo que por alguma razão a empresa não faz bem ou precisa empregar demasiado esforço ou recurso na proporção mais de oneração do que de retorno desse esforço empregado. Aqui cabem duas perspectivas de análise da situação: i) a que compreende que esses pontos devem ser melhorados e que os problemas que fazem que de- terminada questão represente uma fraqueza sejam tra- balhados e resolvidos, que investimentos sejam feitos nesse sentido, enfim, que se procure trabalhar os pontos fracos para que deixem de ser considerados como tal; e ii) a que considera que não se deve empregar recursos e esforços excessivos naquilo em que não se é bom e sim focar nas forças da organização. É claro que isso dependerá muito da situação. Se a fraqueza, por exemplo, é acerca de algo fundamental para a organização, que pode comprometer sua ima- gem ou a qualidade dos produtos ou serviços que oferece ou ainda sua participação de mercado, talvez a primeira postura seja a mais indicada. Se, ao invés, trata-se de algo cujo esforço em me- lhorar não compensar perante o possível ganho a se obter, talvez seja melhor mesmo investir mais nas forças do que nas fraquezas. E, evidentemente, também não estamos falando de tudo ou nada. Cada fraqueza específica terá que ser analisada e a decisão sobre o que fazer poderá variar de uma para a outra. Sobre as oportunidades: Podemos dizer que oportunidade é aquilo que a organização ainda não é ou tem e que pode vir a ser ou ter e isso seria bom para ela. Aqui envolve uma série de questões a serem consideradas. Primeiramente, informa- ção. A forma de se conseguir entrever oportuni- dades é ter um bom grau de informação, tanto a respeito da própria organização (os recursos, as capacidades, os conhecimentos e as poten- cialidades que se tem) quanto do ambiente, do mundo de modo geral, das tendências… requer uma dose também de boa observa- ção e de feeling, ou seja, de sensibilidade e percepção apurada acerca daquilo que possa representar uma oportunidade. A respeito do papel da informação no proces- so estratégico das organizações, McGee e Prusak (1993) consideram a informação como elemento fundamental tanto do processo de definição da estratégia como de execução e integração dos processos de uma estratégia. Ela é a base para essas três dimensões e abarca todas elas, conforme representado na Figura 2: 148 Gestão estratégica Informação Integração Estratégia Definição Execução Figura 2 - Informação e estratégia competitiva Fonte: McGee e Prusak (1993, p. 10). Você já deve ter ouvido aquela famosa definição de sorte. Não tenho como colocar a fonte dela aqui porque já li e ouvi de um bocado de lados diferentes essa mesma máxima, então seu autor primeiro deve ter se perdido no tempo já... A má- xima é: “sorte é o encontro da oportunidade com o preparo”. Bem, há controvérsias em determinados aspectos. Algumas coisas podem ser apenas pura sorte mesmo, interpretadas como obras do acaso, ou presentes de Deus. Outras — a maioria esma- gadora — requer também nossa parte: o preparo. Receber uma ótima proposta de emprego nos Es- tados Unidos e não saber falar inglês, pode ser a falta de preparo em idiomas e os exemplos aqui seriam infinitos. Talvez você tenha tantas opor- tunidades e esteja tão preparado para elas que nem se dê conta mais disso. Nem vê mais como sorte, mas como coisas legais que acontecem na sua vida. Talvez o sentimento ainda seja de que faltam algumas coisas e que novas oportunida- des podem aparecer se você estiver preparado para coisas específicas: acho que você está aqui, fazendo este curso e lendo neste momento este material justamente por essa razão. Em termos pessoais, o planejamento estraté- gico ajuda muito também em termos de prepa- ro. Se quero daqui a dez anos morar na Itália e trabalhar com engenharia, é importante que eu faça o curso de engenharia, que me informe sobre o modo de validar meu diploma lá e comece desde agora a aprender italiano. “O tempo voa”, não é mesmo? Olha aí outra máxima popular — e muito verdadeira! Se o planejamento não incluir os pla- nos de ação, ou seja, aquilo que vou fazer de fato para atingir o meu objetivo, os dez anos chegam da mesma forma e a oportunidade poderá não es- tar lá — pela falta do meu preparo. Falta de sorte? Isso tudo se aplica também em termos organizacionais. Os recursos de uma empresa, os investimentos que devem ser realizados, os contatos a serem estabelecidos, as pessoas a serem contratadas — ou mantidas, ou desligadas —, tudo isso e muito mais são questões a serem pensadas diante do objetivo estratégico da orga- nização. Queremos chegar lá e o que fazer nesse meio tempo para estarmos preparados? As oportunidades também podem aparecer inesperadamente. Sendo assim, talvez não haja — pelo menos até o momento — preparo suficiente para aproveitá-las. Contudo, aí entra a análise de riscos e de retornos que a oportunidade ofere- ce. Para aproveitar essa oportunidade, a empresa precisaria comprar uma máquina específica ou contratar mais gente ou estabelecer uma parce- ria. Quais são os prós e os contras dessas ações? Caso as vantagens sejam maiores — tendo, é claro, uma visão holística e ética do termo “vantagens” —, pode se tratar mesmo de uma oportunidade para a qual valha a pena “ajustar o preparo”. Se as desvantagens forem maiores, talvez não se trate exatamente de uma verdadeira oportunidade e seja melhor não seguir por esse caminho. Análise de risco e de impacto dentro e fora da organização é fundamental nesse processo. 149UNIDADE V Por fim, as ameaças. Podemos considerar ameaças aquilo que poderia prejudicar de algum modo a empresa em um futuro próximo ou dis- tante. Apesar do nome soar um pouco estranho, trata-se de uma realidade bastante relevante a ser considerada. O que os concorrentes estão fazendo, por exemplo, pode caracterizar uma ameaça. Leis, regulamentos e convenções sindi- cais, por exemplo, podem também representar ameaças ao negócio (no sentido de requererem certas medidas ou adaptações que muitas ve- zes geram custos ou penalidades quando não realizadas). Outra questão fundamental a ser considerada é que as ameaças são algo sobre as quais a organização não tem controle, mas a respeito das quais precisa se precaver de algum modo. São tudo aquilo que cria um ambiente desfavorável ao negócio e que pode prejudicá-lo de algum modo. O importante de toda a análise SWOT é a utilização de todas as informações que ela aju- da a obter — muitas delas que se transformam em conhecimento e sobre isso falaremos mais na unidade em que trataremos sobre Gestão do Co- nhecimento — para tomar as melhores decisões estratégicas possíveis, usufruir das próprias forças e potencializá-las, saber perceber e aproveitar as oportunidades, lidar da melhor forma com as fra- quezas, procurando minimizá-las ou trabalhando para transformá-las em forças e utilizar-se de to- dos os recursos que possui para que a organização não seja prejudicada com as possíveis ameaças. A análise SWOT é parte fundamental do pla- nejamentoestratégico, pois ela dá justamente a base para se começar a pensar nele. Todavia, há outros elementos a serem considerados em um modelo de planejamento estratégico. Igor Ansoff, por exemplo, foi um dos autores que incorporou outros elementos à ideia de planejamento estra- tégico. A Figura 3 faz esse comparativo entre a concepção de planejamento estratégico do grupo de Harvard e da escola de Ansoff. Figura 3 - Diferentes concepções do processo estratégico, grupo de Harvard e a escola de Ansoff Fonte: Vizeu e Gonçalves (2010, p. 46). Modelo básico do grupo de Harvard Modelo insugurado por Ansoff Avaliação subjetiva e implementação estratégica Análise de oportunidades e ameaças Organização para execução de planos Avaliação e controle de desempenho Análise de forças e fraquezas Análise externa Natureza socioeconômica e valores Definição de objetivos de curto prazo Definição de objetivos de médio prazo Definição de objetivos estratégicos Análise interna Estratégia 150 Gestão estratégica O que Ansoff acrescentou à ideia do grupo de Harvard foram “as operações que cada setor da organização deverá desempenhar no curto e no médio prazo para concretizar estes objetivos de longo prazo” (VIZEU; GONÇALVES, 2010, p. 45). Bem, em se tratando de planejamento estraté- gico, é evidente que não somente a análise SWOT é importante. Há outros instrumentos, como a análise de portfólio proposta pelo Boston Con- sulting Group — a famosa matriz BCG — entre diversos outros. É importante lembrar que as fer- ramentas são fundamentais, mas não possuem um fim em si mesmas. Elas são a base para todo o planejamento estratégico que advém delas, con- siderando tempo, recursos, investimentos, formas de se realizar as ações e assim por diante. Há vários modelos de planejamento estraté- gico, muitos mesmo. A tese de Coral (2002) traz muitos desses modelos, inclusive sistematizando- -os em um extenso quadro. Alguns dão ênfase ao mix de produto ou mercado (modelos de Ansoff; Ackoff; e Gracioso, por exemplo), outros à van- tagem competitiva (como os de Cunha; Certo e Peter; Tavares; e Oliveira), valores da alta gestão e processo de planejamento (como Andrews) e até mesmo planejamento em ambientes turbulentos (Rasmussen). Veja que há modelos de planeja- mento estratégico para diversas finalidades e cada um deles propõe um caminho a ser seguido, al- guns dando ênfase ao controle (como os modelos de Cunha; e Certo e Peter), outros ao processo de implantação do planejamento estratégico (como Ackoff) e assim por diante (CORAL, 2002). Há até mesmo modelos de planejamento es- tratégico para organizações que não visam lucro. Inclui elementos como a concordância a respeito da realização do planejamento estratégico; a es- pecificação do responsável pelo processo; a con- sideração da missão, visão e valores da organiza- ção; a avaliação do ambiente interno e externo; a identificação de questões estratégicas relevantes à organização; e a formulação das estratégias em si (BRYSON, 1988). O que todos eles têm em comum? A análise SWOT, que serve de base para a qualquer planeja- mento estratégico e, a partir dela, o planejamento detalhado dos planos de ação específicos, con- tendo equipe executora, custos, prazos, recursos necessários e resultados esperados. O segredo é reservar um tempo para isso, e não somente uma vez, mas um espaço semanal na agenda do gestor e talvez também da equipe para se pensar sobre aonde a organização pretende chegar e os meios para isso, com metas viáveis, de curta, média e longa exequibilidade e mensuráveis. Talvez hoje o trabalho dos coaches tenha tan- to sucesso nem tanto pelo que acrescentam em termos de conteúdo ou insights, mas porque, de certo modo, “obrigam” as pessoas a pararem suas atividades e pensarem a respeito das metas e do planejamento para cumpri-las, tanto em termos organizacionais como pessoais. Desafio você a se organizar para reservar esse tempinho semanal (meia hora talvez já seja suficiente), sem inter- rupções e dedicado à profunda reflexão sobre o que você quer para sua vida e para sua carreira ou sua empresa, com base na análise das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, e traçando os planos de ação específicos para essa finalidade. Tendo compreendido a análise SWOT e alguns elementos básicos de planejamento estratégico, vamos conhecer agora duas das principais cor- rentes estratégicas existentes: o modelo de Porter e a Resource-Based View. 151UNIDADE V Como falar em estratégia sem falar no modelo de Michael Porter? Não há como… E também não há como deixar de fora outra teoria bastante relevante no campo da estratégia: a Resource-Ba- sed View. São duas abordagens diferentes e talvez até mesmo complementares em certo sentido e que têm uma mesma finalidade: que as empresas alcancem a vantagem competitiva sustentável. Dedicaremos este tópico a essas duas vertentes da estratégia. Começaremos pelo modelo porteriano. Quem é Michael Eugene Porter? Segundo sua apresentação em seu próprio livro seminal, Es- tratégia competitiva: técnicas para análise de in- dústrias e da conconcorrência, Porter é “uma das maiores autoridades em estratégia competitiva e competitividade internacional, é professor de Administração de Empresas na Harvard Business School. É consultor de chefes de estados, gover- nadores, prefeitos e CEOs em todo o mundo”. Fonte: orelha do livro de Porter (2004). O Modelo de Porter e a Resource-Based View (RBV) 152 Gestão estratégica O modelo de Porter tem como foco o ambiente no qual a empresa está inserida. Ambiente no sentido de espaço de competição e relacionar a empresa ao seu ambiente é a essência da formu- lação de uma estratégia competitiva, segundo Porter (2004). O grau de concorrência em uma determinada indústria depende de cinco forças competitivas básicas: i) a ameaça de novos entrantes; ii) o poder de negociação dos compradores; iii) a ameaça de produtos ou serviços substitutos; iv) o poder de negociação dos fornecedores; e v) a rivalidade entre as empresas existentes. Estas cinco forças estão representadas na Figura 4. Figura 4 - Forças que dirigem a concorrência na indústria Fonte: Porter (2004, p. 4). Poder de negociação dos fornecedores Poder de negociação dos compradores Ameaça de novos entrantes ENTRANTES POTENCIAIS COMPRADORES SUBSTITUTOS FORNECEDORES Ameaça de produtos ou serviços substitutos Rivalidade entre as empresas existentes CONCORRENTES NA INDÚSTRIA As cinco forças competitivas em conjunto deter- minam a intensidade da concorrência na indústria e, consequentemente, sua rentabilidade. E por que essa preocupação com a concorrência? Porque “a concorrência em uma indústria age continuamen- te no sentido de diminuir a taxa de retorno sobre o capital investido na direção da taxa competitiva básica de retorno” (PORTER, 2004, p. 5). Vamos falar sobre cada uma das cinco forças. É importante destacar que essa análise pode ser feita por ambos os interessados: as empresas que já estão na indústria e também aquelas que pre- tendem nela entrar. Ou seja, se estou na indústria, preciso analisar a nova configuração quando um novo concorrente entra ou, ainda, me prevenir para o caso disso acontecer (por meio de produtos Indústria na teoria de Porter significa: “o grupo de empresas fabricantes de produtos que são substitutos bastante próximos entre si” (PORTER, 2004, p. 5). E quando se fala em produto, é no sentido de produto final de uma indústria, que pode ser tanto um produto de fato quanto um serviço (PORTER, 2004). 153UNIDADE V ou atendimento diferenciados ou alguma outra estratégia); se pretendo entrar na indústria, pre- ciso analisar quais são as barreiras para os novos entrantes e que podem significar custos altos. A mesma lógica se aplica a todas as demais forças competitivas. Vamos começar, então, pela ameaça de entrada. Novas empresas que entram para uma indús- tria trazem consigo ameaças àquelas existentes,uma vez que sua finalidade geralmente é a mesma que as demais empresas ali existentes: ganhar a maior parcela possível de mercado. Considerar os impactos que possíveis entrantes irão gerar na configuração da indústria e, por consequência, na própria empresa, é fundamental para as decisões estratégicas. Imaginem que pode haver casos em que o fato de outra empresa entrar na indústria possa colocar as empresas que já fazem parte dela em situação problemática ou até levá-las à falên- cia. Essa análise, portanto, é fundamental para aquelas que fazem parte da indústria. Pela visão daquela que pensa em entrar, há di- versas barreiras de entrada em uma indústria e que deverão considerar, tais como: i) as economias de escala; ii) diferenciação do produto; iii) necessida- des de capital; iv) custos de mudança; v) acesso aos canais de distribuição; vi) desvantagens de custo independentes de escala; vii) política governamen- tal; e mais tantas outras. No Quadro 2, vemos essas barreiras de entrada e suas características. Quadro 2 - Barreiras de entrada e suas características Fonte: adaptado de Porter (2004, p. 7-14). Barreira de entrada Características Economias de escala Referem-se aos declínios nos custos unitários de um produto à medida que o volume absoluto por período aumenta. É uma barreira de entrada porque força a empresa entrante a ingressar em larga escala e arriscar-se a uma forte reação das empresas existentes ou a ingressar em pequena escala e sujeitar-se a uma desvantagem de custo. Diferenciação do produto Significa que as empresas estabelecidas têm sua marca identificada e de- senvolvem um sentimento de lealdade em seus clientes. A diferenciação cria uma barreira à entrada, forçando os entrantes a efetuarem pesados investimentos para superar os vínculos estabelecidos entre os clientes e as empresas já existentes. Necessidades de capital Trata-se da necessidade de investir muitos recursos financeiros para poder competir com as empresas existentes. Custos de mudança É o custo com que se depara o comprador quando muda de um fornecedor de produto para outro. Se esses custos são altos, os entrantes precisam oferecer algo que faça que o comprador deixe um produtor já estabelecido para optar pelo novo. Acesso aos canais de distribuição Os canais de distribuição lógicos provavelmente já são usados pelas em- presas existentes. É um desafio à entrante conseguir espaço nesses canais ou criar outros, se for o caso. Desvantagens de custo independentes de escala As empresas estabelecidas podem ter vantagens de custos impossíveis de serem igualadas pelas entrantes potenciais, tais como: tecnologia patenteada do produto, acesso favorável às matérias-primas, localizações favoráveis, subsídios oficiais, maior experiência e aprendizagem. Política governamental O governo pode limitar ou mesmo impedir a entrada em indústrias com con- troles como licenças de funcionamento e limites ao acesso a matérias-primas. 154 Gestão estratégica Você pode perceber que essa primeira análise da indústria é fundamental para quem pretende iniciar um novo negócio. Pode poupar muitos prejuízos! Vamos falar agora sobre o poder de negociação dos compradores. Segundo Porter (2004, p. 26), “ os compradores competem com a indústria forçando os preços para baixo, barganhando por melhor qualidade ou mais serviços e jogando os concorrentes uns contra os ou- tros - tudo à custa da rentabilidade da in- dústria. O poder de cada grupo importante de compradores da indústria depende de certas características quanto à sua situação no mercado e da importância relativa de suas compras da indústria em comparação com seus negócios totais. O grupo de compradores terá maior poder de in- fluência conforme algumas características estejam presentes, tais como: estar concentrado ou adqui- rir grandes volumes em relação às vendas do ven- dedor; impactar no orçamento do comprador; o comprador ter total informação; enfrentar poucos custos de mudança, entre outros (PORTER, 2004). Sobre a ameaça de produtos ou serviços subs- titutos: Aqui se trata da relação custo/benefício do substituto e da indústria analisada; o nível e o impacto da ação coletiva tanto do substituto quanto da indústria analisada e o lucro médio do substituto (VIZEU; GONÇALVES, 2010). Es- ses pontos compõem a análise mínima a ser feita acerca dos produtos ou serviços substitutos. A respeito do poder de negociação dos for- necedores, seu poder de barganha ou de nego- ciação também é bastante relevante na análise da indústria: “ os fornecedores podem exercer poder de negociação sobre os participantes de uma indústria ameaçando elevar preços ou re- duzir a qualidade dos bens e serviços for- necidos. Fornecedores poderosos podem consequentemente sugar a rentabilidade de uma indústria capaz de repassar os au- mentos de custos em seus próprios preços (PORTER, 2004, p. 28-29). Um grupo de fornecedores exerce demasiada influência sobre a empresa ou a indústria, quan- do: é dominado por poucas companhias e é mais concentrado do que a indústria para a qual vende, a indústria não é um cliente importante para o fornecedor, os produtos dos fornecedores são in- sumos fundamentais para o negócio do compra- dor, os produtos do fornecedor são diferenciados ou há custos elevados de mudança, entre outros (PORTER, 2004). Por fim, a rivalidade entre as empresas existen- tes. Porter (2004) compreende essa relação entre concorrentes como aquela que assume geralmente a forma de disputa por posição, com táticas rela- cionadas a preço, publicidade, garantias e imagem da empresa com relação aos clientes e assim por diante. Há vários fatores que influenciam essa relação. Porter (2004) elenca alguns deles, mas o que chama a atenção é esse pressuposto do autor de que a empresa quer sempre que a concorrente se dê mal. Esse pode ser o objetivo de muitas delas, mas há também tantas outras — talvez cuja gestão esteja influenciada por valores diferentes — em que os concorrentes não são vistos como inimigos, mas como parceiros de um mesmo segmento e que podem, inclusive, se ajudarem em caso de necessidade. Veremos alguns casos de gestão di- ferenciada pautada em valores na Unidade VIII. 155UNIDADE V Enfim, a partir da análise dessas cinco forças competitivas, Porter (2004) traçou três estratégias genéricas que as empresas podem adotar a fim de criarem uma posição defensável no longo prazo e superarem os concorrentes de sua indústria: i) lide- rança no custo total; ii) diferenciação; iii) enfoque. A liderança no custo total é uma estratégia que “consiste em atingir a liderança no custo total em uma indústria por meio de um conjunto de políti- cas funcionais orientadas para esse objetivo bási- co” (PORTER, 2004, p. 37). É evidente que existem inúmeras formas de se atingir esse objetivo, uma vez que isso dependerá das características de cada empresa e de cada indústria. A diferenciação, por sua vez, consiste em “diferen- ciar o produto ou o serviço oferecido pela empresa, criando algo que seja considerado único no âmbito de toda a indústria” (PORTER, 2004, p. 39). Isso pode estar relacionado à marca, tecnologia, peculiaridades, serviços sob encomenda, rede de fornecedores, entre muitas outras formas de se diferenciar um produto. Por fim, a estratégia genérica do enfoque. Essa consiste em focar em um grupo determinado de compradores ou um segmento da linha de pro- dutos ou mercado geográfico. A ideia é conseguir com isso baixo custo e maior diferenciação pe- rante seus compradores. As três estratégias estão ilustradas na Figura 5. Figura 5 - Três estratégias genéricas de Porter Fonte: Porter (2004, p. 41). A LV O E ST RA TÉ G IC O No âmbito de toda a indústria Unicidade observada pelo cliente VANTAGEM ESTRATÉGICA Posição de baixo custo Apenas um segmento particular DIFERENCIAÇÃO ENFOQUE LIDERANÇA NO CUSTO TOTAL Esse é o coração da visão estratégica Porteriana. É claro que sua análisese estende e se desenvolve para diversos contextos, inclusive para países, mas aqui focaremos no conhecimento desse núcleo básico da teoria de Porter, tão relevante para o estudo da estratégia. Passamos agora para a Resource-Based View (RBV). Você também poderá encontrar essa mesma teoria com outros nomes: Resource-Ba- sed Model (RBM), Resource-Based Perspective (RBP), e Resource-Based Theory (RBT). E, ainda, em português, como Visão da Empresa Baseada em Recursos (VBR). O termo mais utilizado na literatura, mesmo em publicações nacionais, é Re- source-Based View (RBV), por isso, usaremos aqui essa nomenclatura (MENEGASSI, 2013). 156 Gestão estratégica Você perceberá que a RBV não tem a clareza conceitual que tem a teoria de Porter. E por que isso? Porque Porter sozinho criou aquela teoria, então ela tem todo um sentido lógico das coisas, enquanto a RBV é uma teoria construída a partir de diversos autores que nem estavam exatamente ligados entre si, mas que se inspiraram no anterior para fornecerem um insight a mais. E nesse pro- cesso há, é claro, diferentes formas de interpreta- ção e de condução da trajetória da teoria. O início de tudo, dizem as boas línguas (arti- gos científicos), deu-se na obra de Edith Penrose, economista, em sua obra originalmente de 1959, que foi traduzida como “A teoria do crescimen- to da firma”, publicada no Brasil em 2006. Nessa obra, a autora — lembrando: economista — foi além daquilo que se caracterizava como análise econômica até a época, que pouco considerava o interior das “firmas” (entenderemos aqui firmas como empresas ou organizações) e procurou analisar “se havia algo inerente na natureza delas que tanto promovia o seu crescimento como limitava seu ritmo” (PENROSE, 2006, p. 12). Como muitos estudos já existiam a respeito da análise do ambiente externo, em termos econômi- cos, a perspectiva de Penrose (1959) foi de trazer a ideia de que para que a firma pudesse responder positivamente a uma oportunidade ou conjuntura externa, precisaria ter recursos internos disponíveis para isso, e aí lançou sua teoria a respeito do cresci- mento das firmas: “argumentamos que a expansão das firmas se baseia em boa parte nas oportunidades de usarem mais eficientemente os recursos produ- tivos de que dispõem” (PENROSE, 2006, p. 147). Como recursos internos das firmas, a autora com- preende os “serviços produtivos de que elas dispõem com base em seus próprios recursos” (PENROSE, 2006, p. 36). E esses recursos podem ser tanto os que fazem parte da própria empresa quanto os que possam ser adquiridos ou herdados, e podem ser tanto mate- riais quanto humanos, ou seja, tangíveis ou intangíveis. No entanto, a autora ainda traz algo bastante importante a respeito da análise dos recursos das firmas: os serviços prestados pelos recursos. Trago suas palavras para explicar melhor essa ideia: “ em termos estritos, nunca são os recursos em si que constituem os insumos do pro- cesso produtivo, mas apenas os serviços que eles podem prestar. Os serviços pro- porcionados pelos recursos são função do modo pelo qual eles são utilizados, com exatamente o mesmo recurso podendo ser usado para diversos fins ou de modos dife- rentes, e em combinação com vários tipos ou várias quantidades de outros, podendo proporcionar diferentes serviços ou conjun- tos de serviços. A importante distinção entre os recursos e os serviços não reside em suas durabilidades respectivas, mas no fato de que os recursos constituem um conjunto de serviços potenciais, podendo em sua maio- ria ser definidos independentemente do seu uso, enquanto a própria palavra “serviço” já implica uma função ou uma atividade específica (PENROSE, 2006, p. 62-63). Essa análise nos permite compreender uma pers- pectiva fundamental de análise para a teoria que dela adveio (a Resource-Based View), que: “ para a autora, portanto, os serviços são as contribuições que os recursos podem pro- porcionar às atividades produtivas da firma, o que faz com que todo recurso seja visto como um conjunto de possíveis serviços. Desse modo, não é a análise dos recursos em si que dá os resultados esperados, mas sim a análise dos serviços que são de fato presta- dos por cada recurso material ou humano, ou seja, daquilo que eles podem proporcio- nar às firmas (MENEGASSI, 2013, p. 40). 157UNIDADE V Dentro dessa perspectiva, outra característica es- sencial a ser analisada nos recursos é sua hetero- geneidade dos serviços contidos neles. Isso quer dizer o que? Que os mesmos recursos, quando usados de formas diferentes podem produzir ser- viços também diferentes. Desse modo, “os produ- tos finais representam apenas uma das diversas combinações possíveis de utilização dos recursos e dos serviços por eles oferecidos” (MENEGASSI, 2013, p. 41). Bem, por isso aí você já pode perceber que a análise acerca de recursos é bastante complexa. Não é só a análise do recurso em si e nem mesmo do serviço que ele presta, mas do conjunto de cada recurso e dos possíveis serviços que cada um deles pode vir a oferecer. É, o leque é grande! A teoria exposta por Penrose (1959; 2006) é bem mais ampla que isso, evidentemente, mas a ideia era trazer o ínicio da RBV e ainda há tanto chão pela frente, então vamos passar agora para aquele que primeiro usou o termo Resource-Ba- sed View — lembrando que Penrose (1959) foi a precursora na análise aprofundada dos recur- sos das firmas, mas não falou especificamente sobre RBV — e esse cara foi Birger Wernerfelt (1984). Lembra que Porter (2004) falava sobre posicionamento na indústria como estratégia de vantagem competitiva? Pois é, Wernerfelt (1984) traz outra perspectiva para o mesmo objetivo — a vantagem competitiva: que as empresas são caracterizadas por uma combinação de recursos e não pelo posicionamento de seus produtos no mercado e que, então, o foco da análise é o de relacionar recursos à rentabilidade e estabelecer assim “barreiras de recursos” para garantir a van- tagem competitiva da empresa (MENEGASSI, 2013). Desse modo, segundo Wernerfelt (1984, p. 173, tradução nossa), “o que uma firma quer é criar uma situação onde a sua própria posição de recursos torne essa posição mais difícil de ser alcançada por outras firmas, diretamente ou indiretamente”. 158 Gestão estratégica Sendo assim, a análise dos recursos precisa ser minuciosa, ou seja, deve-se considerar também como eles são adquiridos, o custo deles, a relação dos novos recursos com aqueles que já existem nas empresas, a combinação entre eles, quanti- dade, qualidade, defasagem, prazo de aquisição e disponibilidade de cada recurso (BRUSH; GREE- NE; HART, 2002). Uma análise fundamental quando se pensa em recursos é a combinação daqueles recursos que já existem na organização com os possíveis novos recursos. Você já comprou uma linda peça de roupa que depois não conseguiu usar com nada que você já tinha no guarda roupas? Pois é, aqui a lógica é semelhante. Não adianta parecer um óti- mo recurso a ser adquirido. Se ele não “combinar” com aqueles que a organização já possui, pode ser um investimento em vão. De fato, uma organização não é um amontoa- do de recursos, mas uma combinação de recur- sos complementares que fazem dela algo viável e sustentável. Além disso, quando se trata de vantagem competitiva e de análise dos recursos para esse fim, Wernerfelt (1995) chama a aten- ção para uma realidade: não dá para ganhar em todas as frentes: é necessário escolher “as lutas” em que a organização pretende se empenhar; assim, procurará investir nos recursos necessários para essas atividades específicas em que quer se destacar da concorrência. Nicolai Foss (1997) traz importantes conceitos sobre a Resource-Based View, por ele chamada de Resource-Based Perspective, ou RBP. O autor afir- ma que a RBP tem duas generalizações empíricas de base: “[1] há diferenças sistemáticas entre as firmas na medida em que elas controlam os recur- sos que são necessáriospara a implementação de estratégias; [2] essas diferenças são relativamen- te estáveis” (FOSS, 1997, p. 4, tradução nossa). E acrescenta a essas generalizações, duas suposições: “[1] diferenças nas alocações de recursos das fir- mas causam diferença de desempenho; [2] as fir- mas procuram aumentar (se não necessariamente maximizar) seu desempenho econômico” (FOSS, 1997, p. 4, tradução nossa). O que isso tudo quer dizer? Que cada organi- zação terá sua própria configuração de recursos mediante suas perspectivas estratégicas e que isso não muda muito com o tempo. Claro! Ima- gine que a cada ano a empresa quisesse focar em outra coisa e fazer tudo diferente — o que necessitaria de novos recursos. Isso não seria viável. Vamos lembrar: não se trata de renovar o guarda-roupas inteiro, mas de adquirir peças que combinem com aquelas que você já tem. Assim também nas organizações. Isso evita custos desnecessários. Sobre as suposições, é evidente que a maneira como uma organização alocará seus recursos influenciará diretamente no seu desempenho e que o que as organizações procuram é a melhor forma para aumentar esse desempenho econô- mico. Grant (1991) afirma que são os recursos das organizações que sustentam suas estratégias no longo prazo e isso ocorre porque “primeiramente, recursos internos e capacidades proporcionam a orientação básica para a estratégia de uma empre- sa; segundo, recursos e capacidades são a principal fonte de lucro para a empresa” (GRANT, 1991, p. 116, tradução nossa). Desse modo, o autor pro- põe um modelo de cinco etapas para a utilização da Resource-Based View para a formulação de estratégias: “ a análise dos recursos básicos da empresa, a avaliação das capacidades presentes nela, a análise do alcance da lucratividade poten- cial dos recursos e capacidades da empresa e a ampliação e modernização do conjunto de recursos e capacidades da empresa (ME- NEGASSI, 2013, p. 47). 159UNIDADE V E agora entramos em uma das maiores contri- buições à Resource-Based View: a de Barney (1991). Em seu artigo Firm Resources and Sus- tained Competitive Advantage, o autor procurou estabelecer a relação entre os recursos das or- ganizações e sua vantagem competitiva susten- tável. O que ele quis realmente saber era quais condições fariam de um determinado recurso uma fonte de vantagem competitiva sustentá- vel para uma organização. As características que ele concluiu serem fundamentais para esse fim foram: que os recursos fossem valiosos, raros, que não pudessem ser facilmente imitados pelos concorrentes e nem substituíveis. Nas palavras do próprio autor: “ (a) deve ser valioso, no sentido de que ele explora oportunidades e/ou neutraliza ameaças no ambiente da firma, (b) deve ser raro dentre os concorrentes atuais e poten- ciais da empresa, (c) devem ser imperfei- tos quando imitados, e (d) não pode haver substitutos estratégicos equivalentes para esse recurso que sejam valiosos nem raros ou imperfeitos quando imitados (BARNEY, 1991, p. 105-106, tradução nossa). Aqui abro um parênteses sobre meu fascínio por essa teoria. Primeiramente: os gestores de fato in- serem em suas atividades cotidianas uma análise sobre os recursos que já existem na organização e na forma como podem ser utilizados e, ainda, como podem ser combinados com novos recur- sos para gerar maior desempenho e vantagem competitiva sustentável? Esse é um primeiro e básico ponto. Segundo: é feita essa análise sobre o quão valioso é cada recurso, o quão raro ele é, o quão fácil ou difícil ele é de ser imitado pela concorrência, se existem substitutos a ele? Essas características são as que definem um recurso como um diferencial para a organização e, como consequência, como aquele que contribui para sua vantagem competitiva sustentável. A RBV traz, portanto, uma proposta de análise que, se feita com esmero, pode ser diferencial para as organizações além de conduzi-las às decisões corretas sobre investimentos em recursos. De fato, a respeito do investimento em recursos: “ Barney (1989) defende a importância da análise do custo de aquisição dos recursos, uma vez que o recurso se torna estratégico somente quando seu custo de oportunida- de é menor do que o retorno que ele pode trazer à empresa (MENEGASSI, 2013, p. 50). Collins e Montgomery (1995) seguem nessa mes- ma linha, propondo que se façam alguns “testes” além daquele de mercado (se no mercado o re- curso é considerado ou não como valioso) para compreender se um determinado recurso poderá ser a base para uma estratégia efetiva. Os autores sugerem que sejam feitos ao menos os seguintes testes a respeito do recurso: 160 Gestão estratégica “ “(1) o teste da não imitabilidade: o recurso é difícil de ser copiado? [...]; (2) O teste da du- rabilidade: quão rapidamente esse recurso se deprecia? [...]; (3) O teste da apropriação: quem detém o valor que o recurso cria? [...]; (4) O teste da substituibilidade: um recurso único pode ser superado por um recurso diferente? [...]; (5) O teste da superioridade competitiva: os recursos de quem são real- mente melhores? (COLLINS; MONTGO- MERY, 1995, p. 120-123, tradução nossa). 161UNIDADE V Sem dúvidas, cada um desses testes é fundamen- tal para a análise de um recurso. Essas questões podem ser a base de importantes decisões acerca de investimentos a serem feitos em recursos e de possíveis combinações entre eles. É claro que, como toda teoria, a Resource-Ba- sed View tem também suas fraquezas conceituais. Uma das maiores críticas referentes a ela é a am- biguidade causal. O que seria isso? Bem, “em algum nível, tudo na empresa se torna um recurso e, portanto, recursos perdem poder de explicação” (CONNER, 1991, p. 145), não é verdade? Diericks e Cool (1989 apud ME- NEGASSI, 2013, p. 55) explicam essa questão da ambiguidade causal da seguinte forma: “ A ambiguidade causal é tida na RBV como um problema de ordem gerencial, uma vez que, havendo um desempenho superior da empresa, esse desempenho é conseguido através da articulação de recursos, mas não se sabe ao certo em função de quais recursos. O conceito de ambiguidade cau- sal refere-se à impossibilidade dos próprios gestores e também dos concorrentes, em distinguir qual recurso ou qual combinação exata de recursos levaram determinada em- presa a obter vantagem competitiva, dada a complexidade da combinação dos recursos. Reed e DeFillippi (1990) trazem alguns elementos que, segundo eles, colaboram para o problema da ambiguidade causal: o conhecimento tácito, a complexidade dos recursos e suas especificidades. De fato, por serem elementos de difícil mensura- ção e análise, é difícil compreender objetivamente a relação causal deles com a vantagem competitiva sustentável de uma empresa. Outra crítica à RBV é que geralmente os recursos só são classificados como importantes para a vanta- gem competitiva ex post, ou seja, depois que já foram utilizados em uma certa configuração ou combi- nação com demais recursos e o resultado disso foi analisado. Então, é difícil também identificar com exatidão se um recurso será ou não fonte de van- tagem competitiva antes de adquiri-lo e utilizá-lo. Bem, conforme podemos notar, a Resource- -Based View se trata de uma teoria bastante rea- lística por um lado (todas as empresas possuem recursos e é legítimo analisá-los sob a ótica da vantagem competitiva, pois eles são parte fun- damental desse processo) e subjetiva por outro (difícil ter exatidão sobre as relações causais que os envolvem). O que podemos tirar de aprendizado dessas duas teorias principais da estratégia que abordamos aqui — a de Porter e a RBV — é que existe mais de uma maneira de se conceber a estratégia e que é possível e desejável que sejam feitas análises considerando ambas as perspectivas: a que analisa a indústria e as forças competitivas externas e os recursos de que uma empresa dispõe ou pode vir a dispor. O que se espera é justamente isto: visão estraté-gica. E o que isso significa? Um olhar mais amplo possível a respeito de todos os elementos relacio- nados à organização e sua atividade, bem como a conjuntura em que seu ambiente se encontra e os recursos disponíveis. Com essa visão, é possível pensar estrategica- mente todos os tipos de organização: um escritório de engenharia ou arquitetura, uma loja de atacado ou varejo, uma universidade, uma empresa de lo- gística, indústrias, organizações não governamen- tais…. enfim, todas elas. Até mesmo em termos pessoais se pode ter esta mesma perspectiva! Finalizamos, então, esta unidade sobre estra- tégia. Tenho certeza de que seu conhecimento sobre esse tema tão fascinante e tão importante para qualquer tipo de organização se elevou e sua visão sobre todos os elementos que fazem parte direta ou indiretamente de uma empresa nunca mais será a mesma. 162 1. Os níveis hierárquicos que existem em grande parte das organizações são os denominados níveis estratégico, tático e operacional. São importantes para que a estratégia de uma organização seja traçada, compreendida e executada. Sobre esses níveis hierárquicos, leia as alternativas abaixo e assinale a correta: a) O nível estratégico é o nível mais elevado em termos hierárquicos em uma organização e é formado geralmente por poucas pessoas com grande poder de decisão. b) O nível tático se refere às táticas que se usará para realizar a estratégia. c) Os níveis hierárquicos não são necessários tampouco importantes, pois cada empresa se organiza como melhor funciona dentro de sua realidade. d) O nível operacional se refere às operações financeiras necessárias para financiar o que foi decidido como estratégia da organização. e) Não há hierarquia entre os níveis organizacionais. 2. Planejamento estratégico é o “processo formal de determinação de objetivos e metas básicas de longo prazo de uma empresa e adoção de cursos de ação e alocação de recursos necessários para alcançar esses objetivos” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 207). A análise SWOT é um importante instrumento para o planejamento estratégico. A respeito dela, leia as assertivas abaixo: I) As fraquezas significam aquilo que a empresa não faz bem e que deve ser tomado como um fator limitante definitivo em uma organização. II) A sigla SWOT vem das palavras Strenghts (forças); Weaknesses (fraquezas); Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças). III) Trata-se da análise tanto de dentro quanto de fora da organização, para assim se ter as informações e a compreensão necessárias para poder começar a se pensar em planejamento estratégico. IV) As forças são aquilo que a empresa faz de melhor ou tem de potencial. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 163 Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 3. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): )( O modelo de Porter tem como foco o ambiente no qual a empresa está inse- rida. Ambiente no sentido de espaço de competição e relacionar a empresa ao seu ambiente é a essência da formulação de uma estratégia competitiva.. )( Segundo o modelo de Porter, o grau de concorrência em uma determinada indústria depende de cinco forças competitivas básicas: i) a ameaça de novos entrantes; ii) o poder de negociação dos compradores; iii) a ameaça de pro- dutos ou serviços substitutos; iv) o poder de negociação dos fornecedores; e v) a rivalidade entre as empresas existentes. )( Há duas generalizações empíricas de base na Resource-Based View ou Resour- ce-Based Perspective: [1] há diferenças sistemáticas entre as firmas na medida em que elas controlam os recursos que são necessários para a implementação de estratégias; [2] essas diferenças são relativamente estáveis. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 164 Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico Autor: Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel Editora: Bookman Sinopse: Henry Mintzberg, classificado por Tom Peters como o número 1 entre os estrategistas da Administração, trabalhou com Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel para criar o mais completo e profundo roteiro pelas diversas áreas do planejamento estratégico. Apesar da riqueza e do detalhamento da análise, que vai muito além de tudo o que já foi publicado sobre o assunto, este é um texto de leitura fácil e agradável. LIVRO Além da linha vermelha Ano: 1998 Sinopse: em plena Segunda Guerra Mundial, o resultado do combate de Gua- dalcanal influenciará fortemente o avanço dos japoneses no Pacífico. Então, um grupo de soldados americanos é enviado para lá para ajudar as unidades já em batalha. Contudo, os soldados conhecem o verdadeiro terror da guerra, mas no meio deste desespero surgem fortes laços de amizade. Comentário: é um ótimo filme para se analisar sob a perspectiva da estratégia. De quebra, o elenco traz grandes atores, como Sean Penn, George Clooney, John Cusack, John Travolta, Nick Nolte e Adrien Brody; alguns deles bem novinhos. FILME 165 Há dois artigos muito bons que recomendo para a compreensão do modelo de Porter de forma avançada e com alguns elementos novos à sua teoria: “Estratégia competitiva: uma ampliação do modelo de Porter”, de Wilson Rezende da Silva. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB E este que faz uma crítica à sua tipologia: “Porter revisitado: análise crítica da tipologia estratégica do mestre”, dos autores: Jorge Manoel Teixeira Carneiro; Maria Alice Ferreira Deschamps Cavalcanti; Jorge Ferreira da Silva. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/699 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/700 166 BARNEY, J. B. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, v. 17, n. 1, p. 99-120, 1991. BRUSH, C. G.; GREENE, P. G.; HART, M. M. Empreendedorismo e construção da base de recursos. Revista de Administração de Empresas – RAE, v. 42, n. 1, p. 20-35, 2002. BRYSON, J. M. Strategic planning for public and nonprofit organizations. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1988. BULGACOV, S.; SOUZA, Q. R.; PROHMANN, J. I. de P.; BARANIUK, C. C. J. Administração estratégica: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2007. CARTER, C.; CLEGG, S. R.; KORNBERGER, M. Um livro bom, pequeno e acessível sobre estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2010. COLLINS, D. J.; MONTGOMERY, C. A. Competing on resources: strategy in the 1990s. Harvard Business Review, v. 73, n. 4, p. 118-128, 1995. CONNER, K. R. 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A. 169 170 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Discutir sobre o que constitui um projeto e a gestão de projetos em suas diversas etapas. • Discutir sobre as questões referentes às pessoas envol- vidas no projeto, tanto com relação à equipe executora quanto à gerência do projeto. • Discutir sobre a análise ambiental e a viabilidade dos pro- jetos em suas diversas dimensões. Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Características de projetos O fator humano e a gerência nos projetos Análise do ambiente e viabilidade Gestão de Projetos Características de Projetos Caro(a) aluno(a)! Dedicaremo-nos a falar sobre gestão de pro- jetos nesta unidade. Compreenderemos projetos de um modo amplo, pois há diversos tipos deles, alguns bastante técnicos que, é claro, demanda- riam outros tipos de gestão. Outros, ainda, que envolvem equipes muito numerosas ou que não se encontram no mesmo espaço geográfico. En- fim, para cada projeto, uma gestão customizada e apropriada. Sendo assim, nesta unidade dedicaremo-nos aos aspectos gerais e comuns a todos os tipos de projetos — ou da maioria deles. Isso envolve ques- tões relacionadas às características comuns de um projeto, o fator humano nessa gestão, o papel da gerência de projetos e a importância da análise do ambiente e de viabilidade. Começamos a unidade, então, buscando dis- correr sobre o que constitui um projeto e a ges- tão de projetos em suas diversas etapas. Keeling e Branco (2014, p. 2) trazem uma definição de projeto do Project Management Institute (PMI), considerada a maior associação mundial de ge- renciamento de projetos: 173UNIDADE VI “ em poucas palavras: ‘um esforço temporário empreendido para criar um produto, ser- viço ou resultado único’. Isso implica um prazo limitado, uma data estipulada para conclusão e um resultado diferente daquele produzido no curso da rotina operacional. A ideia é antiquíssima! Aplica-se desde a constru- ção de qualquer coisa já feita pela humanidade até o projeto de um Estado ou nação dominar outro território. Para tudo foi necessário planejamento e gestão de todo o processo envolvido. Há projetos de curto, médio e longo prazos, que envolvem recursos financeiros, materiais e humanos e estrutura de gestão. Keeling e Branco (2014, p. 3) destacam algumas características co- muns aos projetos: • são empreendimentos independentes; • possuem propósito e objetivos específicos; • têm duração limitada (início e fim bem definidos); • entregam um resultado único; • recursos próprios (incluindo financeiros e humanos) e • administração e estrutura administrativa próprias. Quando vi essas características achei estranha a de “recursos próprios”, porque em uma primeira olhadela me parecia que o autor estava dizendo que os recursos teriam que ser de posse da empresa, por exemplo, que estava fazendo o projeto e não de terceiros (como um investidor ou então obti- dos por meio de empréstimos ou financiamentos) e isso me pareceu absurdo. Bem, talvez você não tenha “viajado” no pensamento como eu e tenha entendido logo de cara o que o autor quis dizer: re- cursos próprios no sentido de recursos reservados/ destinados especificamente para o projeto. Então, são “próprios” nesse sentido, sejam eles recursos de posse de quem está realizando o projeto ou não. E vamos lembrar que projeto é caracterizado como tal porque também tem um fim previsto. O encerramento de um projeto se dá quando: • as metas são alcançadas; • por decisão o projeto não é mais viável (ex: tecnicamente ou economicamente); e • as necessidades que o motivaram não exis- tem mais (KEELING; BRANCO, 2014, p. 3). A primeira razão, é claro, é a mais previsível de todas; é aquela que expressa o fim que se espera de um projeto: seu objetivo alcançado. As outras duas são igualmente importantes, mas mais difi- cilmente identificadas. Entretanto, repito: igual- mente importantes ou, ainda, talvez até MAIS importantes que a primeira. Por que digo isso? Porque a primeira é o curso normal das coisas e não é necessário tanto esforço para reconhecê-la. Por outro lado, a segunda e a terceira requerem atenção, sensibilidade, análise, reflexão e tudo o mais que se puder empregar para conseguir tomar a decisão correta a tempo. Tratam-se de situações muitas vezes que envol- vem frustrações. Quando um projeto é desenha- do, há envolvimento de pessoas que colocaram ali suas ideias, suas aspirações, seus conhecimentos, suas capacidades, seu tempo e seu dinheiro. En- tender que é hora de finalizar o projeto mesmo sem ter alcançado seu objetivo inicialmente tra- çado porque ele não é mais viável é um desafio muito grande, por ter todos esses elementos en- volvidos. Reconhecer que as necessidades que motiva- ram o projeto não existem mais também é um exercício desafiador. Em alguns casos, isso pode se apresentar de forma clara, como o cancelamen- to de um contrato que dava base ao projeto, por exemplo. Em outros casos, pode ser algo mais sutil e que requer análise aprofundada, como perspectivas de demanda, mudanças no cenário econômico etc. 174 Gestão de projetos O importante é saber que existe necessaria- mente um ciclo de vida para o projeto e que ele pode, inclusive, ser interrompido pelas várias ra- zões sobre as quais já discutimos. Em geral, po- rém, o ciclo compreende uma fase conceitual, de planejamento, de execução e de conclusão. A fase conceitual é aquela inicial, é a fase da ideia do projeto, do nascimento dele até a aprova- ção da primeira proposta. Algumas das atividades típicas desta fase são: • identificação de necessidades e/ou opor- tunidades; • tradução dessas necessidades e/ou opor- tunidades em um problema; • equacionamento e definição do problema; • determinação dos objetivos e metas a se- rem alcançados; • análise do ambiente do problema; • análise das potencialidades ou recursos disponíveis; • avaliação da viabilidade de atingimento dos objetivos; • estimativa dos recursos necessários; • elaboração da proposta e venda da ideia; • avaliação e seleção com base na proposta submetida; • decisão quanto à aprovação do projeto (MENEZES, 2009, p. 48). A segunda fase, que é a de planejamento, o foco é com a estruturação e viabilização operacional do projeto. Nesse momento, a proposta já está aprovada e cabe fazer o detalhamento de tudo o que envolve o projeto por meio de um plano de execução ope- racional. Algumas atividades comuns nessa fase são: • detalhamento das metas e objetivos a se- rem alcançados, com base naproposta aprovada; • definição do gerente do projeto; • detalhamento das atividades e estrutura- ção analítica do projeto; 175UNIDADE VI • programação dos resultados tangíveis a serem alcançados durante a execução do projeto; • programação da utilização e aprovisiona- mento dos recursos humanos e materiais necessários ao gerenciamento e à execução do projeto; • delineamento dos procedimentos de acompanhamento e controle a serem uti- lizados na implantação do projeto; • estabelecimento da estrutura orgânica for- mal a ser utilizada para o projeto; • estruturação do sistema de comunicação e de decisão a ser adotado; • designação e comprometimento dos téc- nicos que participarão do projeto; • treinamento dos envolvidos com o projeto (MENEZES, 2009, p. 48-49). A terceira fase é a da execução das atividades propriamente ditas que compõem o projeto. É muito importante destacar que quase sempre são necessários ajustes ao longo do desenvolvimento dessas atividades, pois temos que nos lembrar de que tudo no mundo está em constante mudança. Isso quer dizer que aquilo que era tido como certo quando do planejamento do projeto pode não ser mais dessa forma algum tempo depois. Embora, é claro, deva-se haver essa flexibilidade e abertura às mudanças necessárias, na medida do possível é importante tentar seguir o planejamento inicial. As atividades dessa fase são muito peculiares a cada projeto, mas vamos apontar aqui ao menos as principais ocorrências dessa fase: • ativar a comunicação entre os membros da equipe do projeto; • executar as etapas previstas e programadas; • utilizar os recursos humanos e materiais, sempre que possível, dentro do que foi programado (quantidades e períodos de utilização); • efetuar reprogramações no projeto segundo seu status quo e adotando os planos e pro- gramas iniciais como diretrizes, eventual- mente, mutáveis (MENEZES, 2009, p. 49). Por fim, a fase da conclusão (por fim? Talvez não, né? Talvez o projeto tenha já sido finalizado ou abortado em alguma outra fase antes desta, mas sobre isso já conversamos, então vamos aqui falar do ciclo padrão). Essa fase corresponde, é claro, ao término do projeto. Algumas características dela: • aceleração das atividades que, eventual- mente, não tenham sido concluídas; • realocação dos recursos humanos do pro- jeto para outras atividades ou projetos; • elaboração da memória técnica do projeto; • elaboração de relatórios e transferência dos resultados finais do projeto; • emissão das avaliações globais sobre o de- sempenho da equipe do projeto e os resul- tados alcançados; • acompanhamento ex-post (MENEZES, 2009, p. 49-50). A visão geral do ciclo de vida de um projeto é muito importante para que todos os agentes nele envolvidos possam avaliar as dimensões do pro- jeto pretendido. E quem são essas pessoas? Bem, as partes interessadas em um projeto são deno- minadas stakeholders. “Stakeholders são essencialmente as pessoas, áreas, organizações ou comunidades que po- dem ser afetadas de forma positiva ou negativa pela execução do projeto e/ou pelo produto do projeto”. Fonte: Lima (2009, p. 3-4). 176 Gestão de projetos Os stakeholders principais são estes definidos no Quadro 1: Gerente do projeto Pessoa responsável pelo gerenciamento do projeto. Pode também ser cha- mado de coordenador ou líder, dependendo da estrutura organizacional e do nível de autoridade. Patrocinador (sponsor) Pessoa ou grupo, dentro ou fora da organização executora, que fornece apoio institucional, político e/ou recursos financeiros para que o projeto possa acon- tecer. Sem patrocinador, um projeto é pouco mais que um sonho. Cliente Pessoa, área, organização ou comunidade que utilizará o produto ou serviço do projeto. Membros da equipe Pessoas que compõem a equipe do projeto. Não são apenas aquelas ligadas hierarquicamente ao gerente, são também os níveis hierárquicos superiores. Estes últimos possuem grande influência sobre a condução do projeto. Organização executora Empresa ou organização em que o projeto está sendo empreendido. Comunidade Grupo de pessoas externas ao projeto. Mais frequentes (e não restritos) aos projetos governamentais. Quadro 1 – Os principais stakeholders relacionados a projetos Fonte: Lima (2009, p. 4). Esses são os stakeholders mais comuns, mas considere como sta- keholder quaisquer outras pessoas, áreas ou organizações que de qualquer modo possam ser afetados pelo projeto que você está analisando. Agora vamos falar um pouco sobre metodologias de geren- ciamento de projetos. Há inúmeras! Há as mais simples, que con- sideram as entradas (que envolvem o nome do projeto, objetivos estratégicos, descrição do produto do projeto, metas, expectativas de prazo e custos, nome do gerente do projeto etc.), as técnicas e ferramentas (como as reuniões de planejamento entre outras) e os produtos ou saídas (aprovação de todos e assinatura do patrocina- dor do projeto) (LIMA, 2009). Há também aquelas mais elaboradas, como o PMBoK®, apesar de diversos autores insistirem que não se trata de uma metodologia, mas uma coletânea de melhores práticas que auxilia no gerenciamento de projetos. Enfim, é apenas um exem- plo para dizer que há instrumentos, metodologias e outros termos quaisquer que se queira utilizar que auxiliam na gestão de projetos. Quando for desenvolver a sua metodologia de gerenciamento de projetos, a forma mais eficiente para que ela saia do papel e vire algo útil e eficaz é por meio do envolvimento das áreas que a utilizarão. Ouça-as, peça que critiquem e tente ponderar as opi- niões favoráveis e contrárias. Essa oportunidade dada aos futuros usuários dos procedimentos da sua metodologia gera comprome- timento e é o que poderá garantir longa vida aos procedimentos e métodos desenvolvidos. Fonte: Lima (2009, p. 6-7). E é claro que um dos aspectos mais importantes em um projeto é o fator humano, ou seja, todas as pessoas nele envolvidas. Por ser um assunto de tamanha relevância, dedicaremos um tópico inteiro a ele. Veja a seguir. Os principais stakeholders relacionados a projetos 178 Gestão de projetos O Fator Humano e a Gerência nos Projetos Caro(a) aluno(a)! Iniciamos agora o segundo tópico da nossa unidade, destacando pontos fundamentais da ges- tão de projetos relacionados a um de seus princi- pais elementos: o fator humano. É claro que essa análise envolve também a pessoa responsável pela gerência do projeto, pois as decisões dela impactam tudo aquilo que diz respeito a um projeto e às pessoas a ele vinculadas. Primeiramente, só para alinharmos os termos, o que é um gestor de projetos? “ Um gestor de projetos é a pessoa que tem a responsabilidade de entregar todos os com- ponentes de um projeto. Essa pode ser uma função de tempo integral ou uma atribuição em determinada situação. O trabalho de um gestor de projetos varia de um projeto para outro, mas basicamente ele é responsável por estabelecer o escopo do trabalho, planejá-lo e determinar quais recursos são exigidos, obter os recursos a serem alocados e então gerenciar a conclusão das tarefas exigidas e garantir a resolução de riscos ou problemas antes que adiem ou interrompam qualquer atividade (NEWTON, 2011, p. 3). 179UNIDADE VI Bem, é possível ver que a missão de um(a) ges- tor(a) de projetos é bastante ampla e complexa. E todas as análises e decisões dessa pessoa está diretamente relacionada aos stakeholders do projeto. As pessoas envolvidas em um projeto geral- mente são aquelas que fazem parte da equipe exe- cutora do projeto em si, fornecedores e terceiros que sejam responsáveis por algum tipo de recurso necessário a ele, os clientes do projeto, e também outros stakeholders (NEWTON, 2011). Com relação à equipe do projeto, um dos pontos centrais, sem dúvida, é a comunicação. Questões como empatia, espírito de equipe, cla- reza na compreensão, motivação e tantas outras passam pela comunicação. Vejamos alguns as- pectos importantes quecabem ao gestor obser- var para um bom direcionamento do trabalho de equipes: • Explicar e continuamente atualizar a com- preensão do plano e do escopo, conforme eles mudam durante o ciclo do projeto. • Oferecer instruções específicas sobre quais tarefas devem ser realizadas e por quais membros da equipe. • Motivar a equipe e completar seu trabalho de maneira eficiente e eficaz. • Entender o progresso dos membros da equipe com relação ao plano. • Dar suporte à equipe para manter um pro- gresso contínuo. • Conhecer problemas e riscos à medida que eles surgirem. • Compreender a dinâmica da equipe e do pessoal, de modo que qualquer interven- ção gerencial necessária possa ser planeja- da e implementada. • Ouvir a equipe, pois ela é uma fonte de in- formação crítica, boas ideias e sugestões (NEWTON, 2011, p. 12-13). É evidente que aqui muitos outros aspectos estão envolvidos, como o caráter e a ética, por exemplo. O mérito de um bom resultado deve ser atribuí- do também a toda a equipe que o realizou e não somente ao gestor dele. 180 Gestão de projetos Temos aqui uma questão bastante polêmica, ainda mais nos dias atuais: reuniões! Para alguns profissionais de agenda cheia, que sabem o que precisam fazer e que passam o seu tempo, de fato, trabalhando, as reuniões podem ser encaradas como grandes pesadelos, onde se perde tempo e energia. Contudo, às vezes reuniões são necessárias. Bem, nesses casos — e somente nesses casos — elas se justificam e podem ser mais produtivas quando alguns pontos são observados: 1) forem agendadas com antecedência; 2) com horário para começar E para terminar; 3) terem pauta pré-defi- nida e pré-comunicada aos participantes, que te- rão a chance também com antecedência de propôr itens para a pauta que forem necessários; 4) terem os assuntos tratados com objetividade; 5) tentar estabelecer a cultura do ouvir o outro com atenção e até o fim, sem interrupções; 6) assuntos que dizem respeito somente a alguns membros da equipe de- vem ser tratados em momento separado, somente com a presença das partes interessadas; 7) ter uma pessoa responsável por registrar a ata da reunião — importante para membros ausentes saberem o que foi tratado e também para deixar documen- tadas as decisões tomadas; 8) que seja promovido o clima de respeito e empatia entre as pessoas; 9) que informações importantes sobre o projeto sejam repassadas a todos; e 10) que a próxima reunião seja ainda mais fiel a esses pontos estabelecidos, a fim de serem cada vez mais produtivas! E atualmente, com tantas ferramentas de co- municação que podem ser utilizadas dentro de uma organização — e-mail e grupos de whatsapp para citar apenas duas ferramentas extremamente simples e acessíveis a quase todas as organizações — é importante que se repense a real necessidade das reuniões. Talvez a ocorrência delas se reduza à metade ou menos que isso até, haja vista que mui- tas coisas podem ser resolvidas rapidamente por algum desses ou outros canais de comunicação. Muito tempo pode ser poupado com isso e também muito trabalho deixará de ser interrom- pido por reuniões quando diversas coisas forem resolvidas assim: rápida e eficazmente. Vamos nos lembrar, em meio a tudo o que en- volve pessoas, que estamos falando geralmente de relações com certo grau de complicação. Pessoas são diferentes, têm suas histórias de vida e expe- riências que as influencia em seu modo de pensar e de conviver com as demais pessoas; há também diferentes níveis de conhecimento técnico entre elas, de acordo com a formação de cada uma; há também traços de personalidade que certamente é uma das coisas que mais se destaca quando as pessoas convivem em grupos. Enfim, é claro que em grupos de pessoas adul- tas é importante que cada uma se comporte como tal e seja responsável por suas ações, por sua fala, seu comportamento e assim por diante. Que cada um seja também responsável por melhorar como pessoa e como parte de um grupo social (seja ele uma equipe, uma organização ou a própria família). Essa seria sem dúvida a situação ideal. Todavia, é também papel do(a) gestor(a) inter- vir e orientar as pessoas no ambiente de trabalho quando há problemas de conduta ou comunica- ção, com o propósito de garantir um ambiente propício ao bom andamento das atividades. E aqui entra a questão dos conflitos. Há vários tipos de possíveis conflitos que podem aconte- cer ao longo do desenvolvimento de um proje- to. Podem envolver o patrocinador, o gerente, os especialistas, a equipe em si… E para cada caso haverá uma forma diferente para solucionar a questão. Como há disciplinas no curso que tra- tam de comunicação e de relacionamentos entre membros de equipes, não nos aprofundaremos nessas questões, mas lembramos que são extre- mamente importantes. Trabalhar com pessoas será sempre um desa- fio, não é? Newton (2011) traz alguns estereótipos 181UNIDADE VI até engraçados em sua denominação, mas que expressam bem aqueles estilos a serem evitados e a serem encorajados. Vamos começar por aqueles a serem evitados. O autor traz como um dos estereótipos o do “garoto briguento”. Em seu livro, ele fala principal- mente dessa característica no gestor do projeto, que seria aquele líder que gerencia com base no medo, na coerção, perdendo a paciência e expon- do as pessoas ou constrangendo-as (NEWTON, 2011). Pode ser aplicado também a membros da equipe. Seria aquele que sempre é do contra ou apegado exclusivamente às suas ideias ou modo de pensar, que gosta de um conflito, de criar um clima ruim entre as pessoas e assim por diante. Outro estereótipo é o dos “malucos por pro- cesso, planejadores compulsivos e obcecados por detalhes” (NEWTON, 2011, p. 124). Aqui o autor levanta algumas questões muito interes- santes a respeito desse estereótipo em gestores de projetos. Uma delas são aqueles gestores que se preocupam mais com o processo de gestão do projeto do que com o próprio projeto em si e sa- bemos que é importante esse processo de gestão assim como também é importante certo grau de flexibilidade também para isso. Os planejadores compulsivos são aqueles que precisam atualizar o plano continuamente também em momentos em que a mudança não era tão relevante assim e o tempo poderia ter sido empregado apenas fazendo as atividades concretas do projeto. Os níveis excessivos de detalhes também podem atra- palhar o andamento de um projeto. É claro que tudo, sempre, requer análise e bom senso, pois dependendo do que se trata o projeto, os detalhes, mesmo mínimos, são fundamentais e devem ser observados sim. É por causa deles que prédios não caem e motores funcionam! “O homem Teflon” é outro estereótipo. Aquele em que nada “adere”, que não estava lá quando o problema aconteceu, que não é o responsável pela falha, que não tem nada a ver com isso etc. É claro que projetos são responsabilidades assumidas e um comportamento como esse deve ser extrema- mente desencorajado. Outro estereótipo é o do “gestor aterrorizado”, aquele que entra em pânico quando está sob pressão (NEWTON, 2011). É evidente que isso — usando uma expressão local — irá apenas “pilhar” a equipe em vez de colaborar para a solução de problemas. Vamos falar agora de estilos a serem encoraja- dos. Newton (2011, p. 128-129) propõe algumas características de personalidade e competências que são desejáveis em um gestor de projetos e muitas delas, é claro, se aplicam também aos de- mais membros de equipes: 1. Empatia com seu cliente. 2. Habilidade de gestão e liderança. 3. Capacidade de lidar com estresse. 4. Respeito pelas pessoas. 5. Dinamismo e positivismo. 6. Habilidade de formar redes de relaciona- mento (networking). 7. Sensibilidade política. 8. Presença. 9. Senso de humor. 10. Sensibilidade ao ambiente. 11. Adaptação de seu estilo à situação. E a lista ainda poderia ser muito mais longa, não é verdade? Darei apenas um exemplo do primeiro item: empatia com seu cliente. É um caso verídico,que aconteceu comigo e meu ma- rido. Estavamos à procura de um arquiteto para o projeto da nossa casa. Já tínhamos o terreno (de formato, inclusive, diferente da maioria dos terrenos), sabíamos a importância de investir em um bom projeto e então fomos primeiramente naquele que era tido como um dos melhores profissionais da cidade. Em apenas cinco mi- nutos de conversa, ele nos disse a seguinte frase: 182 Gestão de projetos “eu já tenho um projeto pronto para vocês” e nos deu nas mãos um projeto. Sentimo-nos pro- fundamente desrespeitados. E nossos sonhos? Nossos gostos? Nossa concepção de casa? Nada foi perguntado, nada foi considerado. Ele já “ti- nha nosso projeto pronto”. Sequer perguntou as dimensões do terreno! Para sermos educados, dissemos que se tratava de um excelente projeto, certamente, mas que tínhamos uma concepção de casa diferente e mais adequada ao nosso ter- reno e dei um exemplo do que eu não queria naquele projeto. Sua resposta: “ah, você vai querer sim! Porque assim fica muito melhor! Eu tenho experiência de muitos anos nisso!”. Empatia zero, não é? Nem todo mundo quer sobrados e pis- cinas e nem todos os terrenos são retangulares! E quem faz dois tipos de esporte precisa de um espaço para guardar os muitos apetrechos deles. Enfim, nem preciso contar o final da história: não foi ele o escolhido para ser o nosso arquiteto. O cliente de um projeto é alguém com expecta- tivas. Isso para dizer o mínimo. Dependendo de que tipo de projeto estamos falando, há também sonhos envolvidos, sentimentos, investimentos pesados frutos de sacrifícios… enfim, é necessária primeiramente uma posição de respeito frente a tudo isso e a empatia é o próximo passo. Além de todas essas características e compe- tências desejáveis elencadas, também pode ser de grande valia o conhecimento do gestor de projetos a respeito da metodologia utilizada ou até mesmo da concepção que se tem de projetos e que irá cer- tamente refletir na equipe, no modo de trabalhar e também nos resultados. Já falamos sobre o PMBOK® e ele propõe nove áreas de conhecimento do gerenciamento de pro- jeto que deveriam sempre ser observadas: escopo, tempo, custos, qualidade, recursos humanos, co- municações, riscos, aquisições e integração, con- forme expresso na Figura 1: Figura 1 - As áreas de conhecimento do gerenciamento de projetos Fonte: adaptada de Xavier (2009, p. 31). INTEGRAÇÃO RH RISCOS AQUISIÇÕES COMUNICAÇÕES CUSTOS ESCOPO QUALIDADE TEMPO 183UNIDADE VI Essa é uma das formas mais tradicionais de se pensar a gestão de projetos. Há, porém, diversas outras maneiras de concebê-los. Uma das formas de gestão de projetos, por exemplo, é a Gestão Ágil de Projetos (GAP). Trata-se de uma gestão mais focada no cliente e baseada em interatividade. A ideia é que haja equipes capacitadas para promo- ver entregas rápidas e de valor para o negócio por meio da interação e da consideração das necessi- dades dos seus clientes (AUGUSTINE, 2005). A flexibilidade que esta metodologia proporciona é bastante adequada quando há ambientes de in- certezas e possibilidades de mudanças, além de produtos ou serviços inovadores. Quando vemos alguma novidade ou tendência em qualquer coisa (gestão de projetos, gestão de pessoas, estratégia e assim por diante), temos que ter em mente que certamente ela trará novidades e novas formas de se fazer ou conceber determi- nada tarefa. Todavia, há abordagens tradicionais que para muitos casos ainda continuam sendo as mais adequadas. Kerzner (2006) traz seis elementos que com- põem, segundo ele, a excelência em gestão de projetos: processos integrados; cultura; suporte gerencial; treinamento e ensino; gestão informal de projetos; e excelência comportamental. Processos integrados se refere à integração com diversos processos complementares que podem ser importantes de acordo com as necessidades e escopo do projeto, tais como gestão da qualidade total, gestão de riscos, processos de planejamento de capacidade, entre outros (KERZNER, 2006). Quanto à cultura, esse é um ponto evidente. A cultura organizacional reflete geralmente os valores da alta administração e o modo de se fazer as coisas em uma organização, ou seja, aquilo que de certa forma já está institucionalizado ali e que é tomado como padrão de conduta e do modo de se trabalhar. Nesse aspecto, deve-se tomar cuida- do redobrado ao querer implementar metodolo- gias de gestão de projetos em uma organização, mesmo sendo elas consideradas de ponta. Isso porque ela pode não funcionar na organização em questão caso sua cultura não a absorva. Esse talvez seja um dos maiores problemas enfrenta- dos quando se contrata um gestor de projetos de fora da organização e ele traz consigo um modelo pronto a ser implantado. Muito se teria para dizer aqui, mas você já entendeu o raciocínio: cultura é a identidade de uma organização e gerência de projetos precisa considerá-la antes de qualquer coisa, para que de fato o trabalho de todos flua sem traumas ou empecilhos. Suporte gerencial. Aqui estamos falando em dois aspectos distintos: tanto da alta gerência — da qual se espera o suporte e o fornecimento de recursos necessários para a realização de todas as atividades necessárias para o projeto — quanto do gerente do próprio projeto — do qual se espe- ra completo envolvimento e apoio e não apenas delegação de funções. Treinamento e ensino. Esse pode ser um dos maiores desafios do gestor de projetos, uma vez que é necessário que se identifique claramente a necessidade do treinamento, a seleção das pessoas que precisam dele, bom planejamento e condução do treinamento e boa avaliação do investimento realizado no processo (CARNEIRO, 2015). Im- portante salientar essas questões de quem real- mente necessita de treinamento — e não dá-lo a todos indistintamente — e a forma como ele é concebido e executado — a fim de se aproveitar ao máximo o investimento feito. Treinamentos vagos ou destinados a públicos equivocados po- dem ser somente perda de tempo e de recursos (e de paciência de quem os faz!). Gestão informal de projetos. É a ideia de subs- tituir parte do processo formal — que envolve excesso de documentação, por exemplo — para ações mais fluidas, segundo as quais as equipes se comunicam de forma mais ágil e sem a necessi- 184 Gestão de projetos dade de documentar tudo. Certamente isso exige um grande senso de organização e de responsabi- lidade de todos e em casos de empresas maiores e/ou mais complexas, a tendência é que se volte à formalidade para não se perder ao longo dos diversos processos (CARNEIRO, 2015). Por fim, excelência comportamental. Aqui entram diversos fatores como motivação, boas relações interpessoais, comprometimento, ética, respeito, boa comunicação, entre tantos outros. Quando há excelência comportamental em uma equipe (será que isso existe no mundo real?) as coisas certamente fluem muito melhor, pois o foco passa a ser o projeto em si e não os problemas comportamentais. Essa excelência talvez seja a mais difícil de se conseguir, mas pode ser bus- cada e aprimorada, desde o processo de seleção dos funcionários de uma empresa — ou de quem fará parte do projeto específico — que já poderá considerar traços de personalidade ou habilida- des sociais desejáveis. Talvez seja também a mais difícil de ser gerida pelo gestor de projetos, pois exige muitas vezes intervenção desconfortável, mas necessária da parte dele. Quando se trata de pessoas, é sempre um desafio à parte. Você terá uma disciplina toda só sobre isso no seu curso, dada a importância do que representa. Em suma, o que precisamos destacar neste tó- pico é a importância do fator humano nos proje- tos — o que envolve a consideração sobre o cliente, as equipes, suas características e desafios e o papel do gestor de projetos. Quanto ao gestor de projetos, certamente seu trabalho é muito mais amplo do que se imagina, pois o foco está tanto nos stakeholders,conside- rando cada um deles, suas exigências e seu bem estar, quanto na equipe do projeto em si, consi- derando todas as suas nuances, necessidades e desafios e, ainda, a ponte com a alta gerência, para poder conseguir os recursos necessários e para quem precisa dar retorno ao final do projeto. Enfim, trata-se de um papel amplo, complexo e decisivo na carreira de um gestor. O estilo de liderança em casos como este em que o gestor está envolvido em todas as frentes é peculiar e exige dele preparo tanto técnico quanto relacional. No próximo tópico, falaremos sobre um tópi- co que está diretamente relacionado ao papel da gerência de projeto também, que é a análise do ambiente e viabilidade. 185UNIDADE VI Análise do Ambiente e Viabilidade Eu começo este tópico com uma pergunta de impacto: por que os projetos fracassam? Quais seriam os motivos para um projeto não ter o an- damento ou finalização desejados? Aqui estamos falando de viabilidade. E quando falamos essa palavra, imediatamente pensamos em questões financeiras, assim como na maioria das vezes em que falamos em sustentabilidade, pensamos logo em meio ambiente. Isso quer di- zer o quê em ambos os casos? Que viabilidade é também uma questão financeira, além de uma série de outras coisas, assim como sustentabilida- de é também a ambiental, além de diversos outros sentidos do termo. Então, viabilidade de um projeto pode ter a ver com questões financeiras como também com comunicação, com relações interpessoais, com planejamento, com gerenciamento, com conjun- tura econômica e política e uma série de outras questões. Voltemos, então, à nossa pergunta inicial: por que os projetos fracassam? Lima (2009, p. 7-8) elencou alguns fatores que podem conduzir ao fracasso um projeto e que podem estar presente de forma isolada ou conjuntamente: 186 Gestão de projetos • Problemas de comunicação. • Escopo mal definido. • Falta de apoio dos patrocinadores. • Patrocinadores fracos. • Definição insuficiente dos requisitos do produto do projeto. • Estimativas fracas de prazo e/ou custo. • Falhas de planejamento. • Falhas de projeto. • Despreparo da equipe. • Falhas de fiscalização/controle. • Inexistência de um sistema formal de con- trole de mudanças. • Administração inadequada das expectativas das partes interessadas. • Conflitos de interesse entre membros da equipe do projeto. • Conflitos com outros projetos da empresa. • Administração ineficiente de recursos críticos. • O não gerenciamento ou gerenciamento ineficaz dos riscos. E tantas outras coisas poderiam compor essa lista! Vamos falar um pouco mais sobre alguns pontos dela. Alguns aspectos já foram tratados no tópico sobre o fator humano e a gerência nos projetos, então vamos falar um pouco mais sobre outros aspectos. Problemas com o escopo do projeto. Sem dúvi- da é um dos primeiros pontos de viabilidade a ser analisado. Esse é o momento sonhador da coisa, certo? Em muitos casos sim, mas não deveria ser. É claro que uma boa dose de entusiasmo pode ser motivador para todos nessa definição, mas… pés no chão, por favor! Aqui entram diversas questões como o estabelecimento de um escopo/objetivo/ meta realista, que considere os recursos disponí- veis (recursos de todos os tipos, desde financeiros até tempo, pessoas e espaço físico). É muito baca- na “pensar alto”, mas é também muito frustrante não alcançar o que se pensou, então, escopos rea- listas! Além de realistas, bem definidos. Quando o objetivo é vago, será confuso traçar as ações necessárias para alcançá-lo e o projeto poderá cair no descrédito ou até no esquecimento. Sobre os patrocinadores. Aqui caberia uma re- flexão aprofundada sobre eles. Como também são pessoas (mesmo que às vezes por trás de organi- zações), também eles possuem diversos tipos de “personalidade” ou comportamento. Há aqueles que se colocam em posição de constante controle, ou seja, querem saber detalhadamente como seu dinheiro está sendo empregado. Outros são tão ausentes que perdem até mesmo o interesse pelo projeto — o que é o primeiro passo para cancelar o patrocínio. A relação com esse stakeholder especí- fico necessita de atenção. É gerenciar essa relação a fim de que sua presença não seja nem tão próxima a ponto de interferir em detalhes e na estabilidade e equilíbrio da equipe e nem tão distante a ponto de esquecer do projeto ou desinteressar-se dele. Sobre as falhas de planejamento ou de projeto, é evidente que elas podem existir, mas a ideia é que o planejamento seja feito de tal forma e abran- gente ao ponto de minimizá-las. Além disso, com mudanças no ambiente ou em qualquer elemento que se relacione com o projeto, o planejamento inicial pode precisar ser alterado e nesse ponto a flexibilidade e a abertura à mudança pode ser fundamental para a viabilidade do projeto. Bem, aqui podemos entrar no ponto de análise do ambiente. O que quer dizer isso exatamente? Bem, estamos falando de tudo o que influencia ou possa vir a influenciar de algum modo o projeto e aí vai depender muito de que projeto específico se trata. Quase todos os projetos passam de certo modo pela questão legal, normativa ou regimental. Por exemplo: um projeto para construção de casa em um condomínio segue tanto as normas estabele- cidas pela prefeitura quanto pelo próprio condo- mínio com relação a recuos, área permeável, até mesmo altura em algumas cidades e assim por 187UNIDADE VI diante. Ignorar essas normas é apenas procurar por problemas futuros. Conheci casos em que parte da casa precisou ser demolida (sim, demolida!) por- que não foi respeitado o recuo obrigatório. Mesmo outros tipos de projeto de áreas bastante diferentes precisa sempre buscar por informações a respeito de questões legais. É um projeto para um produto inovador? Depois de pronto ele será patenteado? Como se dá esse processo? Há ou haverá algum tipo de restrição à sua comercialização? Alguns projetos são diretamente relacionados a questões políticas (podem mudar com a troca de gestão de uma cidade, por exemplo), cambiais (que estão de algum modo relacionado ao co- mércio internacional), econômicas (sempre, essa questão abrange todos os projetos), ambientais (que podem causar algum tipo de impacto ao meio ambiente), tendências de moda e assim por diante. Há uma infinidade de questões que podem influenciar um projeto, ou seja, que fazem parte da análise do ambiente necessária e que impactará necessariamente sua viabilidade. Nesse ponto, também entra o gerenciamento dos riscos. O guia Project Management Body of Knowledge (PMBOK®) “define riscos como sendo eventos futuros e de ocorrência incerta e que, se ocorrerem, podem trazer impactos positivos ou negativos aos objetivos do projeto” (LIMA, 2009, p. 60). Sendo assim, a ideia é tomar alguns cuida- dos e seguir boas práticas a fim de estar da melhor forma preparados se os eventos de fato ocorrerem. Algumas dessas medidas: 1. Ter em mãos os objetivos e as metas do projeto. 2. Ter em mãos todo o planejamento existente. 3. Planejar como os riscos serão gerenciados. 4. Identificar os riscos. 5. Analisar os riscos identificados. 6. Planejar como responder aos riscos anali- sados e aos riscos não identificados. 7. Monitorar e controlar os riscos (LIMA, 2009, p. 60). Certamente essa se trata de uma lista mínima, mas as ações propostas por ela, se bem feitas, po- dem minimizar os impactos negativos de alguma eventualidade. Carvalho Júnior (2012) acrescenta ainda a questão dos recursos (financeiros, mate- riais e de mão de obra), capacidade técnica para desenvolver o produto ou serviço, estrutura ad- ministrativa adequada, análise da viabilidade do produto ou serviço no mercado consumidor. 188 Gestão de projetos Sobre planejar como responder aos riscos anali- sados e aos riscos não identificados, Lima (2009) traz um exemplo bastante prático e que pode ser estendido a vários outros tipos de projeto: a cons- trução da própria casa. Um possível risconeste caso seria: • Nome do risco: perda do controle finan- ceiro da construção da casa. • Descrição: a perda do controle financeiro pode gerar indisponibilidade de dinheiro para concluir a construção da casa. • Causas possíveis: • falta de uma linha de base de custos; • falta de um orçamento confiável e de- talhado; • falta de um método de controle eficiente; • falta de conhecimento sobre como con- trolar custos de um projeto; • indisciplina na aplicação de um método de controle; • desorganização do processo de compras; • desorganização da papelada do projeto; • orçamento não detalhado o suficiente para orientar a compra de materiais; • orçamento não detalhado o suficiente para orientar a contratação de serviços; • Probabilidade de ocorrência: alta. • Descrição dos impactos: a falta de recursos financeiros poderá gerar: • interrupção da construção; • atraso na conclusão da casa; • aumento dos custos fixos por conta do atraso na conclusão; • aumento dos custos variáveis por falta de verba para concentrar as compras em poucos fornecedores para buscar econo- mia de escala; • aumento do custo dos diversos materiais por conta de um eventual aquecimento de mercado; • aumento do custo total do projeto por conta do aumento dos custos fixos e va- riáveis; • diminuição do padrão de qualidade planejado por estar forçado a comprar materiais de qualidade abaixo da es- pecificada para fazer frente à falta de recursos. • Estimativa de impacto: • nos custos: muito alto; • no cronograma: muito alto; • no escopo: moderado; • na qualidade: alto. • Nome do responsável pelo risco. • Urgência: alta. As ações de respostas devem ser iniciadas dentro de no máximo duas semanas. • Ações de resposta: • obter um orçamento detalhado; • obter um cronograma físico detalhado; • obter uma linha de base de custos; • concentrar as compras em poucos forne- cedores para obter economia de escala; • comprar os materiais antecipadamente para evitar eventuais aumentos; • respeitar as especificações dos materiais orçados; • a cada relatório de acompanhamento, atualizar os custos do que falta ser fei- to e comparar com o saldo de dinheiro disponível. • Responsável por empreender as compras. • Prazo de implementação para cada ação (adaptado de LIMA, 2009, p. 71-73). 189UNIDADE VI Esse foi um exemplo bastante prático e que, é claro, precisaria ser adaptado de acordo com o projeto ao qual se refere. A ideia é reconhecer os possíveis riscos, suas possíveis causas, a probabilidade de ocorrência, os possíveis impactos caso ocorram, a pessoa responsável por ele, a urgência, as ações de resposta e os prazos de implementação. É importante ter presente que existe muita coisa a respeito de gestão de projetos e que aqui nesta unidade estamos apenas apresentando al- guns conceitos gerais, já que para se aprofundar no tema seria necessário pelo menos um livro inteiro somente sobre isso. Fazer, então, um cur- so específico de gestão de projetos pode ser útil quando se há essa necessidade recorrente na or- ganização ou então contratar um consultor, espe- cialista nesta área, lembrando da tão importante adaptação dele à cultura da organização, confor- me já conversamos. No entanto, no mundo real do dia a dia, talvez você, leigo no assunto, se verá na situação de ter um projeto para tocar. E aí, como faz? Há algu- mas reflexões que, se feitas com honestidade pela própria pessoa, farão com que ela minimize os problemas que possa vir a ter com o projeto em questão, como: • Tenho conhecimento sobre como admi- nistrar esse tipo de projeto? • Tenho conhecimento do produto final do projeto, para saber se ele está ficando bom ou ruim? • Tenho onde pedir ajuda ainda agora, bem no começo, para descobrir como evitar as armadilhas que virão? (LIMA, 2009, p. 100). Para um leigo em projetos, o volume de problemas poderá ser grande, então quanto mais ele tiver conhecimento sobre os possíveis problemas e consciência de sua própria ignorância a respei- to de diversas questões concernentes ao projeto, maiores as chances de viabilidade do projeto e de ser bem sucedido nessa empreitada. Algumas dicas, porém, podem ser importantes, segundo Lima (2009, p. 100-101): 190 Gestão de projetos • Escrever quais são os objetivos do projeto. • Buscar sempre ter acesso à ajuda especia- lizada. • Buscar aprender sobre o produto do projeto. • Gerar dúvidas ao se perguntar sobre o tra- balho que terá para administrar o projeto (compras, pagamentos, entregas, pessoas envolvidas, prazos a cumprir, reuniões etc.). • Buscar as respostas às dúvidas geradas. • Planejar a implementação e o acompanha- mento do projeto em um horizonte de tem- po não muito longo. • Ser detalhista. • Rever periodicamente o andamento do pro- jeto para avaliar se as metas estabelecidas estão sendo atingidas, e a qual custo finan- ceiro e pessoal. • Ter em mãos um orçamento e um crono- grama bem detalhados. E sabe uma coisa a qual talvez não seja dada a devida importância que se deveria? A gestão do tempo! Vamos pensar o seguinte: vimos já no início da nossa unidade que um projeto tem como ca- racterística ter início e fim, correto? Ele também é algo que não faz parte do cotidiano, ou seja, trata-se de uma empreitada à parte, diferente e paralela à rotina normal de atividades. Por isso, recursos e pessoas precisam ser alocadas para ele, lembrando, é claro, que a vida não parou e que há tantas outras coisas de rotina que ainda precisam ser feitas. E aí entra a questão tão importante da gestão do tempo. Um passo anterior a ela ainda seria a consciência temporal. Isso aprendi com um caro professor do meu doutorado, já falecido, que foi um grande intelectual do qual me orgulho de ter sido orientanda mesmo que por tão pouco tempo: o professor Clóvis Machado da Silva. Se você já estudou mais profundamente sobre organizações, certamente já se deparou com seus artigos. Bem, uma vez eu me propus a ler um bocado de coisas nas férias de julho e trazer a ele uma resposta a al- guns questionamentos que ele me fez. Eu era super bem intencionada, mas acontece que eram milhares de páginas e todas em inglês (o que tornava minha leitura um pouco mais lenta). Eu genuinamente acreditava que conseguiria ler tudo — eu iria me empenhar muito para isso! — mas foi aí que ele me olhou bem nos olhos e disse: “Cláudia, você precisa ter uma noção realista do seu tempo. É humana- mente impossível ler tudo isso em vinte dias. Im- possível! Reveja seu planejamento dentro de uma noção mais realista do tempo”. Aquilo foi impac- tante para mim! Quantas vezes eu mesma tinha me colocado em compromissos com prazos insanos porque achava que sempre daria conta, já que sou bastante comprometida, responsável e esforçada. Contudo, o tempo é o que é e o resto da vida não para quando temos um projeto ao qual temos que nos dedicar. E, ainda, o dia continua tendo 24 horas. Enfim, essa experiência me fez ter uma noção mais realista do meu tempo e do que é possível fazer, considerando também os diversos outros aspectos da minha vida e também as possíveis eventualidades, interrupções etc. (quantas vezes você já leu sobre gestão do tempo e se deparou com o conselho de não fazer sua agenda lotada de compromissos, pois qualquer eventualidade ou interrupção irá provocar uma reação em cadeia e você não conseguirá realizar tudo o que precisa- va? Horários livres são necessários e faz parte da gestão realista do tempo). Bem, aqui estou falando um pouco em termos pessoais, mas é claro que o elemento tempo e sua gestão também se aplica e muito na gestão de projetos. O PMBOK® também traz um checklist a respeito da gestão do tempo, contendo sete gran- des processos: 191UNIDADE VI 1. Planejar o gerenciamento do cronograma: promove o controle do cronograma por meio de atividades determinadas. 2. Definir as atividades: identifica as ações específicas necessárias para produzir o que o projeto deve entregar. 3. Sequenciar asatividades: identifica e do- cumenta o relacionamento entre as ativi- dades do projeto. 4. Estimar os recursos das atividades: esti- ma os tipos e a quantidade de material, pessoas, equipamentos e/ou suprimentos necessários para realizar as atividades pla- nejadas. 5. Estimar a duração das atividades: estima o tempo necessário para o cumprimento das atividades, bem como os recursos a serem utilizados. 6. Desenvolver o cronograma: cria o crono- grama com base na análise da sequência e dos tempos das atividades, dos recursos necessários e das restrições existentes. 7. Controlar o cronograma: monitora o an- damento das atividades, atualizando o seu progresso e gerenciando as mudanças fei- tas no decorrer do projeto (CARVALHO, 2015, p. 96). Muito importante todas essas ações com rela- ção ao projeto em si e também lembrando que é necessário considerar ainda as outras atividades das pessoas envolvidas com o projeto e lembrar que as pessoas não podem ser onipresentes, nem fisicamente, nem mentalmente. Vamos lembrar sempre de ter uma visão rea- lista de tempo tanto do projeto como das pessoas que o executam, considerando que são pessoas, que têm também outras prioridades, vida pessoal etc. E, é claro, isso se aplica também a você. Anda assumindo mais compromissos do que é capaz de cumprir, sobrecarregando sua agenda e seu nível de estresse? Melhor dizer não às vezes do que penalizar a si mesmo e outras pessoas pelas consequências da má gestão do próprio tempo. Bem, assim concluímos nossa unidade sobre ges- tão de projetos. Embora, conforme já disse, trata-se de uma abordagem apenas introdutória, acredito que diversos elementos poderão ser o início de um conhecimento maior sobre esse tema tão importante para sua vida pessoal — sim, quantos projetos pes- soais e familiares você tem? Até suas próximas férias ou a compra de um imóvel ou a decisão de fazer um curso superior é um projeto — e para sua vida pro- fissional, na qual certamente você irá se deparar com diversos projetos para serem planejados e realizados. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/665 192 1. Um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado único. A partir dessa definição, leia as afirmativas abaixo: I) Um projeto implica em algo com prazo limitado. II) Um projeto implica em algo com uma data estipulada para conclusão. III) Um projeto implica em um resultado diferente daquele produzido no curso da rotina operacional. IV) Um projeto implica em algo que apenas se anseia em fazer, sem que seja necessário fazer o planejamento para alcançar essa intenção. Assinale a alternativa correta: a) apenas I e II estão corretas. b) apenas II e III estão corretas. c) apenas IV está correta. d) apenas I, II e III estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 2. Há projetos de curto, médio e longo prazos que envolvem recursos financeiros, materiais e humanos e estrutura de gestão. Sobre as características comuns aos projetos, leia as afirmativas abaixo: I) São empreendimentos independentes. II) Possuem propósito e objetivos específicos. III) Têm duração limitada (início e fim bem definidos). IV) Entregam um resultado único. Assinale a alternativa correta: a) apenas I e II estão corretas. b) apenas II e III estão corretas. c) apenas I está correta. d) apenas II, III e IV estão corretas. e) Todas as alternativas estão corretas. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 193 3. O guia Project Management Body of Knowledge (PMBOK®) “define riscos como sendo eventos futuros e de ocorrência incerta e que, se ocorrerem, podem trazer impactos positivos ou negativos aos objetivos do projeto” (LIMA, 2009, p. 60). Sendo assim, a ideia é tomar alguns cuidados e seguir boas práticas a fim de estar da melhor forma preparados se os eventos de fato ocorrerem. Veri- ficando as alternativas que correspondem a alguns desses cuidados, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): )( Planejar como os riscos serão gerenciados. )( Ter em mãos os objetivos e as metas do projeto. )( Planejar como responder aos riscos analisados e aos riscos não identificados. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 194 Gerenciamento de projetos: como definir e controlar o escopo do projeto Autor: Carlos Magno da S. Xavier Editora: Saraiva Sinopse: nesta obra, o autor apresenta uma introdução sobre gerenciamento, abordando os processos de gerenciamento de escopo propostos pelo PMBOK® Guide. Traz, ainda, estudos de casos, exercícios e exemplos de ciclo de vida de projetos e procedimentos, com regras de validação. LIVRO 195 AUGUSTINE, S. Managing Agile Projects. Virginia: Prentice Hall PTR, 2005. CARNEIRO, R. A. Gerenciamento Ágil de Projetos. 1. ed. Maringá: Unicesumar, 2015. CARVALHO, F. C. A. Gestão de projetos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. CARVALHO JUNIOR, M. R. Gestão de projetos: da academia à sociedade. Curitiba: Intersaberes, 2012. KEELING, R.; BRANCO, R. H. F. Gestão de projetos: uma abordagem global. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. KERZNER, H. Gestão de Projetos: as melhores práticas. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. LIMA, G. P. Gestão de projetos: como estruturar logicamente as ações futuras. Rio de Janeiro: LTC, 2009. MENEZES, L. C. de M. Gestão de projetos 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. NEWTON, R. O gestor de projetos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. XAVIER, C. M. S. Gerenciamento de projetos: como definir e controlar o escopo do projeto. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 196 1. D. 2. E. 3. A. 197 198 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Discutir sobre os conceitos de Gestão do Conhecimento, bem como os seus modelos, ciclos, práticas e ferramentas. • Discutir sobre os conceitos e implicações da gestão da qualidade no campo organizacional. • Discutir sobre os conceitos e implicações da reengenharia nas organizações. • Discutir sobre inovação e a sustentabilidade das organi- zações em sentido amplo. Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Gestão do Conhecimento Gestão da qualidade Inovação e sustentabilidade do negócio Reengenharia Tendências no Campo da Administração Gestão do Conhecimento Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a mais esta unidade. Nela falaremos um pouco sobre alguns temas que abrangem o universo organizacional e que configuram tendências no campo da administra- ção, ao menos para grande parte das organizações. É importante lembrar que no campo da admi- nistração nem tudo serve para todas as empresas. Um professor amigo meu costuma dizer que o campo organizacional, apesar de ser comparado por vezes ao corpo humano em termos de fun- cionamento sistêmico, é na realidade muito mais complexo do que o corpo humano em termos de analogia, dado que, se no corpo humano um órgão tem a mesma função em todos os seres e o sistema é praticamente padrão também para todos os seres, nas organizações isso não se aplica. Você poderá encontrar uma infinidade de modus operandi no mundo organizacional e todos eles funcionam de algum modo. Bem, então aqui elegemos alguns temas que po- derão fazer parte talvez de grande parte das orga- nizações. Você perceberá que alguns tópicos desta unidade são maiores e outros menores. Foi uma des- proporção intencional e necessária para podermos tratar com mais detalhes os temas que abrangem a 201UNIDADE VII maior parte das organizações. Isso aconteceu, por exemplo, no tópico sobre Gestão do Conhecimento e é por esse tema que iremos começar. Quando se fala em Gestão do Conhecimento — e aqui a trataremos também pela sua sigla, GC — em linguagem comum esse termo é bastante utilizado para dizer pouca coisa. Talvez o que mui- tos não saibam é que já existe há décadas todo um arcabouço teórico que envolve modelos, práticas, ferramentase uma série de coisas que também — e principalmente, talvez — foi para o lado prático das organizações que dá suporte a essa gestão de forma sistemática. Todavia, trata-se de um campo que está em construção ainda, e quer saber de uma coisa? Talvez sempre estará. Porque estamos falando de conhecimento e de sua gestão que é algo prati- camente paradoxal, mas que na administração sempre se dá um jeito até para as relações mais estranhas. Por isso que encontramos não somente um conceito institucionalizado e um modelo ou um ciclo, ou um conjunto específico de práticas e ferramentas. Não: encontramos um monte de cada um deles. Isso bagunça de certa forma a teo- rização do tema, mas, por outro lado, expressa talvez a própria natureza das organizações, esta sobre a qual conversamos há pouco, que não segue um padrão tão rígido, que tem diversas formas e modus operandi e que por isso também tem mui- tas maneiras de se conceber e gerir conhecimento. Então, vamos começar pela origem e conceitos de Gestão do Conhecimento. Quando surgiu o conhecimento? Muito difícil responder a essa pergunta, não é? Talvez com o pri- meiro ser humano que surgiu sobre a Terra! E quan- do surgiu a gestão? A resposta provavelmente é a mesma. De alguma maneira o ser humano precisou descobrir as coisas — talvez primeiramente por ex- perimentação — aprender suas conexões, construir conhecimento a partir disso e fazer novas desco- bertas, novas conexões e incrementar seu conhe- cimento. A gestão também tinha seus traços desde então, ao ter que planejar de certo modo — mesmo se de forma espontânea — o que iria comer naquele dia, como iria buscar seu alimento, armazená-lo, se proteger do frio ou da chuva e assim por diante. A Gestão do Conhecimento pode ser que te- nha surgido empiricamente muito tempo depois e não vamos aqui ficar fazendo suposições a respei- to de quando isso poderia ter sido. Vamos passar já para essa fase mais atual, fase em que se falou de fato sobre GC e se teorizou a respeito dela. As primeiras vezes que o termo apareceu foi no final da década de 1970, mas tomou impulso a partir de meados da década de 1980. Há dezenas de definições para Gestão do Co- nhecimento, mas aqui adotaremos esta de Tara- panoff (2001, p. 312), segundo a qual a Gestão do Conhecimento constitui: “ processos sistemáticos, articulados e inten- cionais, apoiados na identificação, geração, compartilhamento e aplicação do conhe- cimento organizacional, com objetivo de maximizar a eficiência e o retorno sobre os ativos de conhecimento da organização. O esforço da GC é justamente esse: por meio de processos articulados (modelos, práticas e ferra- mentas) apoiados no ciclo de GC, buscar maxi- mizar o conhecimento existente na organização e torná-lo disponível, a fim de obter maior retorno sobre os ativos de conhecimento ali existentes. É claro que a GC também implica a busca pelo conhecimento necessário que ainda não existe dentro das organizações, sempre com o intuito de fazer do conhecimento um ativo. Sendo assim, surgiram ao longo das décadas certa sistematização desses aspectos menciona- dos, salvaguardando as características da própria área, conforme já falamos. Vamos começar pelos ciclos da Gestão do Conhecimento. 202 Tendências no campo da administração Há diversos autores que trazem etapas ou pro- cessos diferentes a respeito dos ciclos. Alguns são mais resumidos, outros trazem processos mais detalhados, então você poderá encontrar um ciclo que envolve somente a criação, o compartilha- mento e a aplicação do conhecimento e outros que incluem processos como: adquirir, organizar, especializar, estocar e acessar, recuperar, distribuir, conservar e disponibilizar, utilizar, reutilizar e até mesmo descartar. Aqui vamos falar mais daqueles processos co- muns a praticamente todas as tipologias de ciclos de GC propostas pelos diferentes autores: captu- ra e criação do conhecimento; armazenamento, compartilhamento e disseminação do conheci- mento; e aquisição e aplicação do conhecimento. Começamos com o primeiro bloco: captura e criação do conhecimento. Nestas etapas, o que se pretende é conseguir capturar o conhecimento existente nas pessoas ou criar conhecimento a partir dos diferentes tipos de interação entre elas. Quando se fala em criação do conhecimento, já logo pensamos em dois nomes muito impor- tantes no mundo da GC: Ikujiro Nonaka e Hiro- taka Takeuchi. Dentre muitos outros trabalhos publicados, esses autores escreveram dois livros que são considerados clássicos na área da GC: Criação de Conhecimento na Empresa (1997) e Gestão do Conhecimento (2008). No primeiro livro, sobretudo, os autores atribuem o sucesso das empresas japonesas à sua capacidade de gerar novos conhecimentos em nível organizacional, convertendo conhecimento tácito em explícito e empregando-os no desenvolvimento de produtos e tecnologias. Esses autores desenvolveram um modelo de criação do conhecimento que envolve conheci- mento tácito e explícito e, como esses são concei- tos fundamentais para entender tudo sobre GC, vamos primeiramente falar sobre eles. O quadro comparativo a seguir nos faz entender melhor esses dois tipos de conhecimento: 203UNIDADE VII Conhecimento tácito Conhecimento explícito Enraizado nas ações, experiências, emoções, valores e ideais do indivíduo. Ou codificado, é o conhecimento transmissível em linguagem formal e sistemática. É pessoal, de difícil formalização e comunica- ção. Dificilmente visível e exprimível. Pode ser facilmente processado e expresso em palavras ou números Sua natureza intuitiva e subjetiva dificulta o pro- cesso de transmissão do conhecimento por meios lógicos e sistematizados. Natureza objetiva, de fácil transmissão por meios lógicos e sistematizados. Pode ser compreendido segundo duas dimensões: Técnica – know-how concreto, técnicas e habilidades. Pode ser facilmente compreendido por meio de manuais, treinamentos. Cognitiva – reflete a imagem que o indiví- duo tem da realidade e sua visão do futu- ro, o que influencia diretamente na per- cepção da pessoa. São exemplos os “esquemas, modelos mentais, crenças e percepções tão ar- raigados que os to- mamos como certos.” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 7). Quadro 1 - Comparativo entre conhecimento tácito e conhecimento explícito Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997). Considerando que há nas organizações tanto o conhecimento tácito quanto explícito, os autores apresentam quatro modos de conversão do co- nhecimento a partir da interação entre conheci- mento tácito e explícito que, segundo eles, podem criar conhecimento: 1. Socialização: de conhecimento tácito em conhecimento tácito. É um processo de compartilhamento de experiências. Geral- mente o conhecimento é apreendido não por meio da linguagem, mas da observação, imitação e prática. Gera o conhecimento compartilhado. 2. Externalização: de conhecimento tácito em conhecimento explícito. O diálogo e a refle- xão coletiva auxiliam esse processo, além da dedução e da indução. Expresso na forma de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos. Gera conhecimento conceitual. 3. Combinação: de conhecimento explícito em conhecimento explícito. Trata-se de “um processo de sistematização de conceitos em um sistema de conhecimento” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 75). Pode ser feito por meio de documentos, reuniões e conversas. Gera o conhecimento sistêmico. 204 Tendências no campo da administração 4. Internalização: de conhecimento explícito em conhecimento tácito. Está relacionada ao aprender fazendo. Nesse processo, é im- portante a verbalização e a diagramação do conhecimento na forma de documentos, manuais ou histórias orais. O que vem des- ses meios é internalizado pelos indivíduos e torna-se modelos mentais que, quando compartilhados pela maioria dos membros da organização, passa a fazer parte da cul- tura organizacional. Gera conhecimento operacional. Esses quatro modos de