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DIREITO CONSTITUCIONAL QUESTÕES COMENTADAS FGV APROVADO PD 2023 4 MÓDULO 1. (2022 FGV SEFAZ-ES) A sociedade empresária XX, constituída sob as leis brasileiras e com sede no País, recebeu do Poder Executivo federal concessão do serviço de radiodifusão sonora. Os controladores da sociedade empresária debateram a respeito do melhor modelo a ser atribuído à gestão das atividades e ao estabelecimento do conteúdo da programação. Para tanto, consultaram um advogado a respeito da existência de alguma restrição quanto à nacionalidade da pessoa que será responsável por essas atividades, já que a sociedade empresária XX também contava com acionistas estrangeiros, que possuíam vinte por cento do capital votante. O advogado respondeu, corretamente, que o referido responsável a) deve ser obrigatoriamente brasileiro nato. b) deve ser obrigatoriamente brasileiro nato ou naturalizado há mais de dez anos. c) deve ser brasileiro nato ou mesmo estrangeiro, desde que o requerimento da naturalização já tenha sido apresentado. d) pode ser estrangeiro, no caso da gestão, mas brasileiro em relação ao estabelecimento do conteúdo da programação. e) pode ser brasileiro ou estrangeiro, desde que, neste último caso, resida há pelo menos cinco anos no território nacional. COMENTÁRIO: A Constituição Federal estabelece em seu artigo 222 que as concessões, permissões e autorizações para exploração de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens devem ser outorgadas a empresas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no país. Além disso, o mesmo artigo estabelece que pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas deve pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. Dessa forma, como a sociedade empresária XX tem acionistas estrangeiros que possuem 20% do capital votante, é necessário que o responsável pelas atividades de gestão e estabelecimento de conteúdo da programação seja brasileiro nato ou naturalizado há mais de dez anos para atender à exigência constitucional de que pelo menos setenta por cento do capital votante pertença a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. Portanto, a restrição de nacionalidade se justifica pela necessidade de atender à exigência constitucional de controle do capital estrangeiro em empresas de radiodifusão e não há a possibilidade de um estrangeiro assumir essa posição, mesmo que tenha residência de longa data no território nacional. RESPOSTA: b. 2. (2022 FGV SEFAZ-ES) Maria e João decidiram constituir uma associação civil com o objetivo de defender os interesses dos moradores da região em que residem. Ao conversarem informalmente com Pedro, foram informados: I. da necessidade de prévia autorização da secretaria competente do Município, considerando a área de atuação do futuro ente. II. de que todos os moradores da região, sem distinção, em observância ao princípio da isonomia, seriam automaticamente associados. III. de que, após ser criada, a associação poderia ter suas atividades suspensas por decisão administrativa, mas não ser extinta dessa forma, caso praticasse atos ilícitos. Em relação às informações de Pedro, à luz da sistemática constitucional, está incorreto o que se afirma em a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. COMENTÁRIO: Todas as afirmativas estão incorretas. I. Não é necessária prévia autorização da secretaria competente do Município para constituição de uma associação civil. A Lei nº 10.406/2002 (Código Civil) dispõe que as associações podem ser constituídas por no mínimo duas pessoas, independentemente de autorização prévia. II. A afirmação de que todos os moradores da região seriam automaticamente associados não é verdadeira. A filiação à associação civil deve ser voluntária, conforme previsto no art. 5º, XX da Constituição Federal e no art. 54 do Código Civil. III. A associação pode ser extinta por decisão administrativa em alguns casos, como quando praticar atividades contrárias à lei ou à ordem pública. Além disso, pode haver a dissolução judicial da associação civil em outras situações, como previsto no art. 61 do Código Civil. RESPOSTA: e. 3. (2022 FGV SEFAZ-ES) Com o objetivo de aumentar a arrecadação e possibilitar a implementação de diversos programas sociais de interesse da coletividade, o Estado Beta editou a Lei ordinária nº XX/2021, dispondo que a autorização para a expedição de nota fiscal, pelas sociedades empresárias que figuravam como contribuintes do ICMS, estava condicionada à apresentação de certidão negativa de débito com o Estado. Irresignado, o Sindicato das Sociedades Empresárias da Área de Circulação de Mercadorias, solicitou que o seu advogado analisasse a compatibilidade da Lei ordinária nº XX/2021 com a Constituição da República, sendo corretamente respondido que esse diploma normativo é a) constitucional, pois compete ao Estado legislar concorrentemente com a União sobre Direito Tributário, sendo a medida correta por zelar pelo patrimônio público. b) constitucional, pois compete ao Estado legislar sobre a matéria e a medida decorre da exigência de boa-fé nas relações jurídicas, inclusive as tributárias. c) inconstitucional, pois, apesar de o Estado poder legislar sobre Direito Tributário, veicula espécie de “sanção política”, com ofensa ao princípio da livre atividade econômica. d) inconstitucional, pois compete privativamente à União legislar sobre Direito Tributário, ainda que a determinação seja correta por aumentar a arrecadação. e) constitucional, desde que o comando normativo estadual seja mera reprodução de norma nacional editada pela União em matéria tributária. COMENTÁRIO: A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 146, a competência dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para legislar sobre Direito Tributário, desde que não contrariem as normas gerais editadas pela União. O artigo 150 da Constituição estabelece que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferenças tributárias entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, bem como a imposição de obrigações tributárias acessórias não previstas em lei. No caso em questão, a Lei ordinária nº XX/2021 do Estado Beta estabeleceu uma condição para a expedição de notas fiscais, qual seja, a apresentação de certidão negativa de débito com o Estado. Essa medida representa uma espécie de "sanção política", pois condiciona a atividade econômica das sociedades empresárias ao adimplemento de obrigações tributárias, o que viola o princípio da livre atividade econômica. Assim, mesmo que o Estado tenha competência para legislar sobre Direito Tributário, a medida adotada pela Lei ordinária nº XX/2021 é inconstitucional, pois contraria os princípios da livre atividade econômica e da não discriminação entre contribuintes em situação equivalente. RESPOSTA: c. 4. (2022 FGV SEFAZ-AM) Maria e Joana, estudiosas do Direito Constitucional, travaram intenso debate a respeito da força normativa das normas programáticas, concluindo corretamente, ao fim, que normas dessa natureza a) somente terão força normativa, produzindo algum efeito na realidade, após sua integração pela legislação infraconstitucional. b) somente adquirem eficácia após sua integração pela legislação infraconstitucional, não ostentando, até então, a natureza de verdadeiras normas. c) somente podem ser utilizadas, no controle de constitucionalidade, quando inexistir norma de eficácia plena que possa ser utilizada como paradigma de confronto. d) a exemplo de qualquer norma de eficácia contida, não ensejam o surgimentode posições jurídicas definitivas, já que seu alcance será delineado pela legislação infraconstitucional. e) possuem eficácia, mas de modo limitado, devendo direcionar a interpretação dos demais comandos da ordem jurídica, além de revogar as normas infraconstitucionais preexistentes que se mostrem incompatíveis com elas. COMENTÁRIO: As normas programáticas são previsões constitucionais que estabelecem objetivos a serem alcançados pelo Estado, sem, contudo, apresentarem uma solução pronta e acabada para o problema que se propõem a resolver. Elas possuem eficácia jurídica, mas de modo limitado, não sendo suscetíveis de aplicação imediata e direta, sendo necessária a sua integração por meio de legislação infraconstitucional. Dessa forma, a eficácia das normas programáticas não é absolutamente nula, uma vez que, mesmo sem apresentar soluções prontas e acabadas, elas possuem relevância para o ordenamento jurídico, devendo ser utilizadas como diretrizes interpretativas para o desenvolvimento da ordem jurídica. Além disso, as normas programáticas podem revogar normas infraconstitucionais preexistentes que se mostrem incompatíveis com elas, já que, por serem integrantes do texto constitucional, possuem um status normativo superior, devendo prevalecer sobre as demais normas que lhes sejam contrárias. Portanto, a letra E está correta ao afirmar que as normas programáticas possuem eficácia, mas de modo limitado, devendo direcionar a interpretação dos demais comandos da ordem jurídica, além de revogar as normas infraconstitucionais preexistentes que se mostrem incompatíveis com elas. RESPOSTA: e. 5. (2022 FGV SEFAZ-ES) Joana travou intenso debate, em um círculo de discussão, a respeito da disciplina constitucional afeta às causas de inelegibilidade. Na ocasião, ela defendeu que I. As causas de inelegibilidade, por restringirem a cidadania, estão previstas em rol taxativo na ordem constitucional. II. É exigido, do Chefe do Poder Executivo de qualquer nível de governo, que almeje concorrer a outro cargo eletivo, que renuncie ao respectivo mandato até seis meses antes do pleito. III. O cônjuge do Chefe do Poder Executivo é inelegível no território em que este último governa, salvo se titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. À luz da sistemática constitucional, está correto o que Joana afirmou em a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) I e III, apenas. e) II e III, apenas. COMENTÁRIO: A afirmação II está correta, pois a Constituição Federal prevê, em seu artigo 14, §6º, que o Chefe do Poder Executivo que desejar concorrer a outro cargo eletivo deverá renunciar ao mandato até seis meses antes do pleito. Essa é uma das causas de inelegibilidade previstas na Constituição. Já a afirmação III também está correta, pois a Constituição prevê, em seu artigo 14, §7º, que o cônjuge do Chefe do Poder Executivo é inelegível para o mesmo cargo no território onde o titular exerce o mandato, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Isso se deve ao fato de que a candidatura do cônjuge do Chefe do Poder Executivo poderia configurar uma forma de perpetuação do poder. A afirmação I está incorreta, pois as causas de inelegibilidade previstas na Constituição não se limitam a um rol taxativo, podendo ser ampliadas por lei complementar, desde que não contrariem os princípios fundamentais da Constituição. RESPOSTA: e. 6. (2022 FGV SEFAZ-AM) A Lei nº XX, do Estado Alfa, foi editada com o objetivo de disseminar responsabilidade no manejo dos recursos administrativos pela população em geral, o que se devia à alarmante estatística de que 90% das irresignações eram infundadas. Para tanto, exigiu que, nos processos administrativos em que ocorresse a aplicação de multa aos administrados, a admissibilidade do recurso estava condicionada ao depósito prévio de 50% do valor da penalidade. Irresignada com o teor da Lei nº XX, a Associação dos Comerciantes do Estado Alfa consultou um(a) advogado(a) a respeito da sua compatibilidade com a ordem constitucional, sendo-lhe respondido, corretamente, que o referido diploma normativo é a) inconstitucional, pois os processos administrativos são direcionados aos atos internos da Administração Pública, não podendo resultar em penalidades aos administrados. b) constitucional, caso o referido diploma normativo tenha assegurado a possibilidade de o depósito prévio ser substituído pelo arrolamento de bens. c) constitucional, pois compete aos Estados legislar sobre o processo administrativo estadual e a medida se ajusta ao princípio da proporcionalidade. d) inconstitucional, na medida em que o depósito prévio, nos recursos administrativos, afronta a gratuidade inerente ao direito de petição. e) constitucional, pois compete ao Estado instituir taxas e outras exações tributárias pelos serviços que presta. COMENTÁRIO: A exigência de depósito prévio de 50% do valor da penalidade para admissibilidade de recurso administrativo viola o princípio da ampla defesa e do contraditório, garantidos pela Constituição Federal. O direito de petição é assegurado a todos, independentemente do pagamento de taxas ou outras despesas, conforme o art. 5º, XXXIV, a, da CF/88. Além disso, a exigência de depósito prévio pode inviabilizar o acesso à justiça pelos mais necessitados, ferindo o princípio da isonomia. Portanto, a Lei nº XX é inconstitucional. RESPOSTA: d. 7. (2022 FGV SEFAZ-AM) Maria foi convidada para integrar a Administração Pública direta do Município Beta. Embora tenha ficado muito empolgada com o convite, já que, até então, não lograra êxito em ser aprovada em um concurso para ocupar um cargo de provimento efetivo, teve sérias dúvidas em relação ao respectivo regime previdenciário, caso viesse a desempenhar trabalho temporário ou a ocupar cargo em comissão. Ao se inteirar sobre a temática, Maria foi corretamente informada de que estaria sujeita ao a) regime próprio de previdência social, se viesse a desempenhar trabalho temporário e, ao regime geral de previdência social, caso viesse a ocupar cargo em comissão. b) regime próprio de previdência social, se viesse a ocupar cargo em comissão e, ao regime geral de previdência social, caso viesse a desempenhar trabalho temporário. c) regime próprio de previdência social, em ambos os casos, se o Município Beta o tivesse criado até a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 103/2019. d) regime próprio ou geral de previdência social, conforme a opção realizada por Maria no momento da nomeação. e) regime geral de previdência social, em ambos os casos, o que não poderia ser excepcionado pelo Município Beta. COMENTÁRIO: Segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 40, parágrafo 13, é obrigatório para todos os entes federativos a criação de um regime próprio de previdência social para seus servidores titulares de cargos efetivos. No entanto, não há previsão de regime próprio para servidores ocupantes de cargos em comissão ou temporários, que devem ser vinculados ao regime geral de previdência social (RGPS), conforme estabelecido na Lei nº 8.213/1991. Sendo assim, Maria estará sujeita ao regime geral de previdência social, tanto se desempenhar trabalho temporário quanto se ocupar cargo em comissão, uma vez que não há previsão legal de regime próprio para essas situações. O Município Beta não tem a faculdade de criar regime próprio de previdência social para essas categorias de servidores, pois essa possibilidade não é prevista pela Constituição Federal. RESPOSTA: e. 8. (2022 FGV SEFAZ-AM) João, Auditor Fiscal de Tributos Estaduais do Estado do Amazonas, casado com Maria, assistente administrativo da Fazenda Estadual do mesmo ente federativo, faleceu em marçode 2022 e Maria, que ainda está em atividade, pretende obter sua pensão. Em tema de regime jurídico dos servidores públicos civis do Estado do Amazonas, de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria, o teto constitucional remuneratório do funcionalismo público previsto no Art. 37, inciso XI, da Constituição Federal de 1988, incide a) sobre o somatório da remuneração de Maria com a pensão de seu falecido marido João. b) isoladamente sobre a remuneração de Maria e a pensão de seu falecido marido João. c) isoladamente sobre a remuneração de Maria e a pensão de seu falecido marido João, mas que Maria deve escolher apenas uma das fontes de renda. d) sobre o somatório da remuneração de Maria com a pensão de seu falecido marido João, apenas quando Maria se aposentar. e) isoladamente sobre a remuneração de Maria e a pensão de seu falecido marido João, enquanto Maria estiver na ativa, e após sua aposentadoria não poderá acumular os proventos. COMENTÁRIO: O teto constitucional remuneratório do funcionalismo público, previsto no art. 37, inciso XI, da Constituição Federal de 1988, é aplicável sobre o somatório da remuneração de Maria com a pensão de seu falecido marido João. Esse entendimento decorre do julgamento do Recurso Extraordinário nº 603.497/MG, em que o Supremo Tribunal Federal fixou a tese de que "o teto remuneratório deve incidir sobre a soma das remunerações pagas a agentes públicos ainda que decorrentes de dois ou mais vínculos jurídicos distintos". Assim, mesmo que a pensão de João seja proveniente de regime previdenciário diverso do que Maria esteja vinculada, o teto remuneratório deve incidir sobre o somatório da remuneração e da pensão. RESPOSTA: a.
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