Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

1 
 
 
ÉTICA E JORNALISMO POLÍTICO 
1 
 
 
Sumário 
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 
Democracia, ética e opinião pública ................................................................ 6 
Ética como morada do jornalismo.................................................................... 9 
Mais que uma ética do cidadão ..................................................................... 19 
O JORNALISMO E O COMPORTAMENTO ÉTICO DO FUTURO ................ 25 
Rumo Cultura Da Transparência ................................................................ 26 
O Jornalismo Depende Da Ética ................................................................ 28 
Papel social da ética .................................................................................. 30 
OS CONFLITOS DIANTE DAS NORMAS ..................................................... 33 
As Crises Éticas do Jornalismo .................................................................. 37 
CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS ............................ 44 
DEONTOLOGIA E O CONTEXTO POLÍTICO ............................................... 47 
Deontologia: tratado dos deveres jornalísticos........................................... 47 
Ética e Deontologia Jornalísticas ............................................................... 47 
Os postulados da doutrina estratégica profissional .................................... 52 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 61 
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 63 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, 
em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
3 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A preocupação com a ética sempre esteve presente no pensamento humano, 
confunde-se, pois, com sua própria história. Os filósofos gregos, os pensadores 
cristãos, modernos e os contemporâneos estudaram, falaram, ensinaram ou 
escreveram, e ainda o fazem, a respeito do tema. 
Graças aos incontáveis debates sobre o assunto, a última década do século 
passado foi considerada a década da ética, principalmente pelos profissionais ligados 
aos meios de comunicação de massa. Nos últimos quinze anos, sobretudo, os 
jornalistas buscaram descobrir a verdade, denunciar o lado opaco, a corrupção 
política, econômica; os desvios financeiros e os escândalos envolvendo os agentes 
públicos (Mattos, 2009, p. 245-246). 
Faz-se necessário dissertar, de início, um pouco sobre o uso das 
denominações ética e moral, ainda hoje empregadas, muitas vezes, como sinônimos. 
Etimologicamente ética (ethike), a partir de Aristóteles, qualifica um tipo de saber. O 
termo grego, segundo Lima Vaz (1999), vem do grego ethos com duas grafias 
distintas (ethos e éthos) para explicar o mesmo sentido: “modo de ser”, “caráter”, “uso” 
ou “forma de conduzir-se”. Ethos (eta inicial) significa os usos e costumes de um 
grupo. Éthos (com épsilon) pode ser entendido como a constância do comportamento, 
“a realidade histórico-social dos costumes” (Lima Vaz, 1999, p. 13). 
Prevaleceu o significado original do grego que denota a moradia, a morada 
habitual de alguém ou abrigo dos animais, que passou a designar a maneira de ser 
habitual, o caráter, a disposição da alma. Praticamente com o mesmo significado, em 
latim, “costume” corresponde a mos, mores, moralis originando a palavra moral e que 
corresponde ao grego ethos. Tanto para ethos ou mos, (caráter e costume) designam 
4 
 
 
o mesmo objeto – costume – seja social ou hábito individual legitimado pela sociedade 
(Lima Vaz, 1999, p. 13-14). 
Em verdade, na contemporaneidade, as palavras são usadas 
indiscriminadamente, mas elas têm definições diferentes. 
Moral conjunto de regras de conduta, ou hábitos julgados válidos para uma 
sociedade num determinado momento histórico. Ética é o produto do acordo 
entre a consciência e os preceitos morais consagrados. Moral se associa a 
regras que nos são impostas de fora para dentro, valores que aceitamos por 
terem sido padronizados pela sociedade a que pertencemos. Ao contrário, 
ética significa reflexão sobre esses valores o que nos leva à possibilidade de 
estabelecermos juízos e opções pessoais. Percorre, portanto, um caminho 
inverso, ou seja, de dentro para fora. Se a moral apresenta valores acabados, 
a ética convive com uma permanente elaboração subjetiva (Siqueira; Eisele, 
2000 apud Garcia, 2008, p. 27, grifos do autor). 
 
A ética influencia a moral no estudo do comportamento humano. O direito à 
informação e à liberdade de expressão, preceitos constitucionais, “são princípios 
éticos que devem nortear todas as leis reguladoras dos costumes na informação” 
(Chaparro, 2007, p. 36). A moral individual está aí representada, no caso dos 
jornalistas, conforme o autor acima, exemplificada pelo Código de Ética, mais que um 
código moral comportamental, do que de ética. 
Através dos meios de comunicação a população brasileira tem tomado 
conhecimento de desvios éticos, descomposturas ou improbidades políticas e 
administrativas na vida pública. O desvelamento de transgressões ocorridas no 
proscênio do Congresso Nacional, graças às ações vigilantes dos media, tem 
ocupado as páginas, telas ou microfones do jornalismo político brasileiro 
transformando tais explosões em escândalos nacionais. 
Situar a atuação do jornalismo em uma reflexão ética é colocar o foco de 
algumas questões elementares da prática profissional em discussões sobre o papel 
da profissão na sociedade hoje em dia. 
É uma iniciativa que pode ter por referência um documento, um código de ética 
ou deontológico, mas que pode transcender a análise dos códigos, princípios e 
declarações já estabelecidas, e colocar-se na busca de um sentido mais amplo para 
a profissão e o entendimento do que ela pode estar fazendo. Os estudos sobre a 
ética, ou seu exercício e aplicação no Jornalismo possuem uma trajetória, que pode 
5 
 
 
ser percebida, e recontada, a partir da produção acadêmica na área, foco desses 
estudos. 
 A reflexão sobre o jornalismo, partindo de parâmetros éticos de análise, 
sempre levanta uma tensão entre o potencial do seu “dever” e seus modos da rotina 
de produção. 
Aspecto sempre ressaltado em torno dessas problematizações éticas da 
prática jornalística sempre surge em função dos papéis de espaço público de poder 
e estabelecimento de áreas de discussão, desempenhados pelo jornalismo. 
Em razão da defesa da função social da prática jornalística, dos deveres morais 
e éticos envolvidos na prática profissional, diversos organismos internacionais 
passaram a elaborar códigos de ética para os jornalistas.Karam em seus trabalhos 
recupera o código de ética para a profissão criado em 1910, em Kansas (EUA) e cita 
também o Código de ética dos Jornalistas Franceses, datado de 1918.No contexto 
brasileiro, o autor lembra o Código de ética dos jornalistas brasileiros, editado pela 
primeira vez em 1985 e o código de ética da Associação Nacional de Jornais, de 
1991. 
A tarefa de tornar o mundo menos complexo, organizá-lo não é simples e nem 
fácil. Tem técnica, tem ideologia, tem moral, tem interesses e pressões, tem o próprio 
olhar sobre o mundo; fé e descrença. Mas ao escolher produzir este conhecimento é 
estar ciente das dores das escolhas, das batalhas inevitáveis e das pragas que 
estarão sempre ao redor de quem carrega os princípios éticos como anticorpos. São 
os princípios os geradores de credibilidade. 
 Uma credibilidade que é elemento fundamental no jornalismo sério- não 
sensacionalista- que, na era da pós-verdade, está dando passos e se aproximando 
da emotividade. Movimento que debilita o contrato fiduciário e produz alterações 
significativas levando ao aparecimento de um contrato de adesão. Com o contrato 
fiduciário, o relato jornalístico tinha que ganhar e justificar sua credibilidade. Com o 
contrato de adesão, fatores emocionais deixam de ser coadjuvantes para assumir o 
protagonismo na construção do mundo possível, realizado pela autoridade 
enunciadora: o meio de comunicação. 
6 
 
 
 O grande problema da emotividade é superar os fatos na interpretação da 
construção da realidade é que nós, integrantes da sociedade, corremos o risco de 
perder o sentido autocrítico. Normalmente, para ser autocrítico, as pessoas devem 
começar a desconfiar de suas próprias percepções. Quando começamos a perceber 
que esse sentido alto crítico vai diminuindo por causa da emotividade, pode ter a 
tentação de ser injusto, perde a distância, posicionam-se, aderindo a um discurso, a 
uma única forma de ver a realidade. 
 A grande questão é que a realidade é poliédrica. Aí se pode produzir a 
incompreensão do outro. É uma espécie de cegueira, porque, por causa da 
proximidade emotiva, não entende o olhar do outro e o outro não entende seu olhar. 
O perigo, então, está mais próximo com a explosão informativa, aderida pela 
emotividade e não pelos fatos. Por isso exige profissionalismo dos enunciadores e 
uma educação para comunicação focada nessa audiência bombardeada por 
hiperinformação e exige cada vez mais compromisso com a sociedade. 
 
 
Democracia, ética e opinião pública 
 
O respeito à liberdade de imprensa, de expressão, respeito à alteridade, à 
verdade; a autonomia e a transparência das ações governamentais fazem parte do 
contexto democrático e jornalístico. Com a prerrogativa que a mídia tem de fiscalizar 
as atividades do poder governamental e seus representantes, os jornalistas podem 
apontar e responsabilizá-los pelos desvios, cumprindo os princípios éticos, se 
auxiliadas por outras instâncias que compõem o aparelho do Estado, partidos de 
oposição, conselhos de ética, comissões parlamentares de inquérito, Ministério 
Público, Defensoria Pública, o Poder Judiciário, a Polícia Federal, tribunais de contas 
e as corregedorias (SILVA, 2008). 
Apesar da vantagem da imprensa de vigiar o poder, a missão não é franqueada 
a todos os profissionais. Medina (1988) defende alguns traços fundamentais para o 
perfil de um produtor de informação na democracia, entre eles a ética profissional, 
7 
 
 
capacidades técnicas para investigar a realidade presente e imediata, capacidade de 
relação com a realidade social, capacidade técnica e artística no domínio da 
linguagem, acúmulo de informações e vivências a serviço do enriquecimento 
profissional. 
O produtor de informações, como qualquer cidadão ator político, também está 
submetido ao pensamento aristotélico de que a ética está subordinada à política, o 
bem individual condicionado ao bem geral. Aristóteles pensava a política em duas 
esferas: a ética como ação individual; a política, uma ação em sociedade. Para o 
filósofo, assegurar o bem de uma nação ou estado é uma realização maior que cuidar 
do indivíduo. Seu pensar aponta que o bem absoluto é autossuficiente: 
Por autossuficiente não entendemos aquilo que é suficiente para um homem 
isolado, para alguém que vive uma vida solitária, mas também aos pais, os 
filhos, a esposa e em geral para os seus amigos e concidadãos, já que o 
homem é um animal político (ARISTOTELES, 2007, p. 26). 
 
Centralizar a questão da política e da ética no bem comum também foi a ideia 
de Jean-Jacques Rousseau (2006), quando explicou a democracia no seu Contrato 
Social, escrito em 1757, ainda atual. Alerta sobre o perigo da influência dos interesses 
privados nos negócios públicos, pondera que é um mal menor o abuso das leis pelo 
governo do que a corrupção do legislador, resultado infalível dos alvos particulares. 
Adepto da democracia direta, Rousseau (2006, p. 67) não acreditava na 
verdadeira democracia. Afirma que nunca existiu e talvez nunca existirá. “É contra a 
ordem natural que um grande número governe e seja o pequeno governado”. Pensa 
dessa maneira visto a reunião de condições, instituídas por ele mesmo, para 
concretizar tal governo, principalmente pela dificuldade de agrupá-las. Em suma, para 
o suíço, o sonho democrático passa longe da imperfeição humana, disse ele que se 
houvesse “um povo de deuses”, seria governado democraticamente, mas aos 
homens não convém tão perfeito governo (ROUSSEAU, 2006, p. 68). 
Na democracia direta o termo democracia significa o poder (krátos) do povo 
(démos), porque o povo decide suas próprias questões. Hoje, o poder é dado aos 
representantes dodémos, na chamada democracia representativa. Démosé um 
radical grego entendido como “comunidade dos cidadãos”. Conforme descrição de 
Bobbio (2000a), a democracia como poder dos mais, dos muitos, do povo, da massa, 
8 
 
 
dos pobres, dos ricos é definida de várias maneiras. O ponto nuclear, no entanto, é a 
igualdade de natureza baseada na ética cristã que dita serem todos filhos de Deus; 
trata-se da isogonia, que considera todos os indivíduos dignos de governar, portanto, 
o fundamento ideal da democracia. 
A ideia da irmandade humana leva à corrente ética do Consequencialíssimo e 
sua versão mais familiar, o Utilitarismo. Fundado por Jeremy Bentham (1748-1832), 
a doutrina prega que uma ação só pode ser julgada boa ou má se forem consideradas 
suas consequências, boas ou más, para a felicidade de todos os envolvidos. 
Há um traço prescritivista no utilitarismo no sentido que pede uma 
universalização da máxima individual. Para Bentham, a ação moralmente justificada 
é aquela cujas consequências devem produzir a maior felicidade para o maior número 
de indivíduos (BENTHAM apud CANTO-SPERBER, 2003, p. 738). Ou seja, quer 
atingir metas, reduzir danos, quer um benefício imediato e causar felicidade, mas não 
inclui todos. Bentham estabeleceu a distinção entre “o princípio da felicidade maior” 
para uma maioria como o único fim universalmente desejável e “a felicidade de cada 
homem” que é seu único fim verdadeiro (atual) (CANTO-SPERBER, 2003, p. 740). 
Immanuel Kant, quem primeiro defendeu a ética deontológica, afirma que o 
bom é expresso na boa vontade, assim a felicidade não será plena se não corrigida 
pela boa vontade. O princípio kantiano põe de lado o que é contrário ou conforme o 
dever. Quando se age apenas por dever, não por inclinação ou medo, sua máxima 
tem um conteúdo ou tem autêntico valor moral. Ao contrário do utilitarismo, aqui as 
regras morais são válidas pelo seu caráter universal sem admitir exceções. Kant 
expressa através do seu imperativo categórico: “Age apenas segundo uma máxima 
tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT, 2008, 
p. 62). O que transforma, portanto, uma lei em lei moral é o desejo que ela se torne 
universal, que seja boa paratodos, não para a maioria. 
O deontologismo processual ou moderado é representado por nomes como 
John Rawls e Jurgen Habermas, cujas teses contrariam o utilitarismo. A Teoria da 
Justiça moderna de Rawls traz os princípios da igualdade e da desigualdade. O 
primeiro defende os direitos humanos de participação política, de opinião, de 
consciência, religião etc.; o segundo refere-se à distribuição de bens, à repartição dos 
encargos públicos, dos deveres e vantagens sociais. As desigualdades são aceitas 
9 
 
 
desde que beneficiem os mais desfavorecidos socialmente ou que tenham iguais 
oportunidades de acesso aos cargos públicos. Os critérios de ingresso são os da 
aptidão, formação e competência comprovadas por concurso público (RAWLS apud 
PEGORARO, 2008, p. 126). 
A ideia de consenso também foi contemplada por Habermas (2003) 
apresentando o Princípio de Universalização (U) como regra de argumentação moral. 
Afirma que as normas somente serão válidas enquanto aceitas por todos os 
concernidos. Defende um princípio que força “cada um”, a adotar, na ponderação dos 
interesses, a perspectiva de “todos os outros”. Prenuncia que, 
Toda norma válida deve satisfazer a condição que as consequências e 
efeitos colaterais, que (previsivelmente) resultarem para a satisfação dos 
interesses de cada um dos indivíduos do fato de ser ela universalmente 
seguida, possam ser aceitos por todos os concernidos (e preferidos a todas 
as consequências das possibilidades alternativas e conhecidas de regragem) 
(HABERMAS, 2003, p. 86, grifos do autor). 
 
O filósofo introduz, através da ética do Discurso (D), o princípio validador das 
normas: “São válidas as normas de ação às quais todos os possíveis atingidos 
poderiam dar o seu assentimento, na qualidade de participantes de discursos 
racionais” (HABERMAS 1997, p. 142). Admite em particular, que a validade de uma 
regra existe apenas, quando todos os participantes do discurso prático chegam a um 
acordo, portanto, a elaboração dos princípios morais, no entender de Canto-Sperber 
(2003), é o resultado de um processo de discussão. 
Habermas entende a formação da opinião pública pela comunicação crítica 
enquanto condição para a opinião rigorosamente pública, o que só se dá com a 
participação de pessoas privadas nos processos formais de comunicação 
(HABERMAS, 2003, p. 287). Ou seja, para ser admitida como pública são necessárias 
vozes de diferentes públicos ou não concentrará “o juízo de valor formulado pelo 
povo” a respeito de um determinado fato (MELO, 1971, p. 51). 
 
Ética como morada do jornalismo 
 
10 
 
 
As duas principais categorizações da eticidade, a ética pessoal ou privada e a 
ética social ou pública, são contempladas enquanto classificam o mundo da política 
como a razão do Estado; e do outro lado, a moral como razão do indivíduo. 
A política compõe o universo da ética pública, desde quando abarca tudo aquilo 
que diz respeito a polis e ao bem estar comum, também estendida ao que acata o 
nome de “razão do Estado”, a qual, para Bobbio (2000b, p. 176-177), acolhe ações 
justificadas ou exaltadas por aquele que detém o poder. 
São duas razões que quase nunca se encontram [...] O que talvez seja 
necessário ainda acrescentar é que a razão de Estado nada mais é que um 
aspecto da ética de grupo, ainda que o mais clamoroso, sendo o Estado a 
coletividade no seu mais alto grau de expressão e potência. 
 
Pode-se ainda considerar, no mesmo cômputo classificatório, além da ética 
pública e privada, os tipos éticos de autoria de Weber (2008): a ética da convicção, 
dos princípios ou dos últimos fins e a ética da responsabilidade ou dos resultados. A 
primeira não se preocupa com o que vem depois, não questiona os resultados. A 
segunda categoria de normatividade prima pelas consequências previsíveis das 
ações, sempre imputáveis ao autor. As duas máximas diferentes e opostas 
subordinam “[...] qualquer atividade orientada segundo a ética”. Sem dúvida, 
convenientes e adaptáveis ao campo jornalístico” (WEBER, 2008, p. 114). 
Com denominações semelhantes, também se qualifica nesse horizonte a ética 
social e pessoal, entretanto, há de sopesar que a ética em si mesma, na sua origem, 
é pessoal. Isso porque, cada ser humano escolhe, por sua consciência pura e 
simples, o que fazer. As “normas” ou “modelos” de condutas pelos quais se opta na 
vida seguem o livre-arbítrio de cada um conforme seus desejos, visão de mundo, 
necessidades e a noção de responsabilidade individual (ARANGUREN, 1967). 
No que se refere à pessoa, ao indivíduo jornalista, aquele considerado sujeito 
emissor do espaço midiático de visibilidade, como qualquer outro receptor de 
mensagens, decifra os produtos dos media a partir de um conhecimento interpretativo 
anterior que o guiará na escolha do que é relevante a ser utilizado em suas próprias 
comunidades ou contextos culturais e políticos específicos (MAIA, 2008, p. 174). 
Explicita-se, com merecida ênfase, o esteio ético nas práticas jornalísticas. São 
acentuados os valores pertinentes a essa profissão como características de uma 
11 
 
 
função social e do direito à informação. Chaparro (2007, p. 16) lembra os novos 
papéis que o mundo solicita dos jornalistas: papéis de [...] narrador crítico, confiável, 
independente, radicalmente honesto e “comprometido com projeto ético da 
sociedade”. Contudo, o papel ético não é devido só ao jornalista, mas às empresas, 
aos receptores e à própria sociedade, daí a necessidade de debater o tema em 
conjunto. 
Parodiando Martin Heidegger (2008, p. 326), ao dizer que “a linguagem é a 
morada do ser”, pode-se afirmar também que a ética é a morada do jornalismo. Sabe-
se de antemão que o cidadão tem direito pleno à informação, o imperativo está 
disposto, além da Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Constituição 
Brasileira e no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. 
O direito fundamental à informação gera a ética que deve reger os jornalistas, 
as empresas de comunicação e seus vínculos com as fontes, o público e o poder. 
Quando o poder subtrai do cidadão a informação devida, corrói as bases do exercício 
do jornalismo ético e corrompe a sociedade. As faltas éticas que vitimam a sociedade 
são causadas em maior número pelas empresas; são, portanto, institucionais e não 
desvios pessoais. (BUCCI, 2000, p. 32). 
A ética na imprensa, conforme a visão de Bucci (2000), é um demarcador de 
limites para o pragmatismo ilimitado concernente ao mundo empresarial. Ele alerta 
que enfrentar a discussão ética é aceitar a possibilidade, ainda que numa perspectiva 
mais ou menos utópica, de buscar mecanismos que protejam valores coletivamente 
eleitos contra um regime do não-valor moral. 
O contrário dessa proposta seria o vale-tudo generalizado, o que, aliás, ajuda 
a esconder o fato de que o ambiente de ausência de parâmetros éticos que orientem 
as empresas de comunicação é uma situação social – não restrita, portanto, a um 
segmento profissional. Seguindo, o estudioso afirma que [...] o problema ético é um 
problema estrutural e sistêmico. (BUCCI, 2000, p. 32- 35) Diante dessa situação, o 
excluído e interessado na discussão ética é o cidadão beneficiado ou vítima do 
jornalismo. 
Bucci (2000, p. 38) declara que os profissionais da imprensa não apreciam 
debater o assunto da ética: compreende que para eles, significa discutir 
generalidades, pode ser uma armadilha do inimigo da liberdade de expressão ou 
12 
 
 
motivo para melindrar o chefe. Explica-se, na corrida diária pelas notícias os preceitos 
são atropelados; apesar da discussão sobre o assunto, tudo continua no mesmo, por 
isso a conclusão de que o tema se torna improdutivo. O inimigo referido, conforme 
Bucci, é o “[...] inimigo da liberdade de expressão” aquele que usa a bandeira da ética 
para posar de vítima [...] de campanhas difamatórias e [...] invasão de privacidade, 
com o intuito de se beneficiar daimpunidade. O incômodo de discutir o tema nas 
redações, interpretado pelo autor como um traço atávico, pode ser compreendido 
pelos caracteres nacionais. A atitude é coerente com a tradição da cultura política 
brasileira: 
Esta não prima por valores universais como os direitos humanos nem cultiva 
critérios impessoais e objetivos na vida profissional e na vida política. Entre 
nós, os direitos humanos ainda são novidade, o clientelismo ainda é 
corriqueiro, e a palavra ética, quando aparece, surge mais na condição de 
adjetivo do que em sua dimensão substantiva. (BUCCI, 2000, p. 39) 
 
O gosto morno de discutir a ética no mundo midiático, fato refletido nos 
manuais de algumas publicações, provoca a dúvida se não seria procedente afinal, 
os desvios que podem causar algum constrangimento no meio acadêmico, não no 
mercado. A julgar por Chaparro (2007, p. 124-125), existem dois discursos: o da 
fisionomia institucional, configurado nos manuais e na metalinguagem de cada 
veículo; e o discurso produto que resulta da prática desenvolvida no contexto 
complexo das relações sociais, culturais, políticas e econômicas, “de múltiplos 
intervenientes e conflitantes interesses”, e do quais jornalistas e editores fazem parte. 
Daí, o autor entender que [...] o jornalismo brasileiro atravessa uma grave “crise 
moral” que se reflete nas ações jornalísticas. 
Lins da Silva entra nesse debate através de Chaparro (2007) para explicar a 
relativa ausência das discussões sobre ética na imprensa brasileira. Lins atribui o 
desprezo a uma arrogância histórica, exacerbada durante a Ditadura Militar (1964-
1984), que leva os jornalistas a rechaçar observações críticas sobre seu desempenho 
sob a alegação de censura e repressão. 
Após as considerações em favor da eticidade na seara jornalística surge um 
sentimento misto de curiosidade e reflexão que questiona um caminho sugestivo de 
como atuaria um profissional das notícias. Restrepo (2010) apresenta não como 
receituário, apenas sugere um decálogo com importantes características que devem 
13 
 
 
ter o jornalista ético na sua atividade laboral, orientado pelo interesse e bem-estar 
públicos: 
Decálogo sobre a Ética e o Periodismo: 
 Não trabalhar sem receber o devido salário; 
 Não ser idiotas úteis; 
 Que se imponha a lógica do serviço; 
 Fazer uso correto da linguagem; 
 Não permitir o sequestro da linguagem; 
 Não alimentar o medo; 
 Trabalhar unidos; 
 Conter a fome de escândalo; 
 Ter agenda própria; 
 O jornalismo tem que passar pelo intelecto (SALAZAR, 2010). 
 
O papel do jornalismo e do jornalista diante do Estado e da democracia, seus 
deveres enquanto cidadão, os quais devem refletir-se na profissão, é o papel de 
qualquer cidadão. Assim pensa Cláudio Abramo (1988), quando discorda de que o 
jornalista deva ter uma ética específica. 
Abramo (1988) retoma certos valores morais básicos, como a estima da 
palavra dada, o respeito ao próximo, não roubar ou mentir, itens mandatários que 
permeiam a honra cidadã, por isso argumentos gerais balizadores da conduta 
humana. De maneira direta, iguala os cidadãos de qualquer profissão no que diz 
respeito aos preceitos éticos. Vaticina que a ética do jornalista é a mesma do cidadão; 
em oposição, compreende que em relação às empresas de comunicação, existe, sim, 
a ética do dono. 
Jornalista que é não vê diferença entre sua conduta e a de um marceneiro. 
Trata a ética jornalística como um mito que precisa ser desfeito: o jornalista não tem 
ética própria “[...] o que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista” (ABRAMO, 
1988, p. 109). 
Tal afirmação encontra eco entre os patrões e de forma institucional, por 
exemplo, citado por Karam (2004) na decisão, já mencionada no capítulo 2, da juíza 
14 
 
 
federal, Carla Rister, que em 2002, deliberou pela não obrigatoriedade da formação 
universitária para exercício do jornalismo, sentença depois derrubada. A juíza alega 
que os requisitos de ordem ética ou moral, argumentados no processo, são 
pressupostos em qualquer profissão, portanto, não são legitimadores da exigência de 
diploma. 
Tal qual Abramo (1988), Rister aplicou o princípio da generalização, quando 
declara, não sem razão em certo sentido, que tanto a honestidade quanto a ética são 
atributos adquiridos não apenas durante um curso universitário, mas “[...] compõem 
o núcleo de personalidade e de caráter do indivíduo”, formado durante toda a vida, 
pelo exercício da atividade acadêmica, profissional propriamente dito, pela 
convivência familiar e até mesmo pelas demais formas de convivência em sociedade 
(CONJUR, 2004, p. 7). 
A sentença corrobora aspectos individuais em formação desde a infância, 
convívio na comunidade e o aprendizado acadêmico os quais formarão o caráter, 
esse indissociável dos atos sociais e históricos como o exercício de uma profissão. 
Menciona uma ética privada, que não pode ser descartada por qualquer trabalhador 
no seu agir diário, porém o que estava em jogo era uma decisão de ordem pública no 
âmbito profissional. 
A generalização deontológica em favor de uma ética única do cidadão 
advogada por Abramo, assim como os argumentos da juíza têm provocado 
manifestações de desagrado e contendas entre estudiosos que analisam a natureza 
ética na prática jornalística. 
Gentille (2001, p. 2), por exemplo, discorda da igualdade imposta. A ética do 
cidadão, para ele, é a mesma para todos, mas no que pertence às profissões do 
tronco das comunicações, cada uma tem sua própria deontologia voltada às funções 
e/ou os papéis profissionais. Por sua vez, o pesquisador Francisco Karam (2004) 
considera as observações descontextualizadas, auxiliam menos e prestam mais um 
desserviço ao jornalismo. 
Ressalta o autor que toda referência sobre ética, comunicação e jornalismo é, 
sempre, humana, o que situa os temas no âmbito da história. Mattos (2009) em 
contrapartida fica mais ao lado do pensamento de Abramo, acredita na igualdade 
ética para todos apesar das particularidades de cada ofício. 
15 
 
 
Quando se defende caminhos ou condutas humanas exercita-se o debate de 
valores. Como é do conhecimento geral, o papel ético, repetindo, é devido não ao 
jornalista isolado, mas às categorias sociais diversas, cada um com sua ética e 
demandas próprias. Torna-se difícil a compreensão de se reivindicar uma ética única, 
considerando-se que a sociedade é multifacetada, complexa, com vários grupos e 
interesses. Cada segmento, pois, tem sua moral e exerce sua política de forma 
diferente e divergente. 
Naturalmente que esses valores morais e éticos mudam através dos tempos, 
tais princípios de conduta, ligados a uma determinada sociedade, vivem certo 
momento histórico e atendem às necessidades de um grupo social naquele período. 
Atos que foram considerados imorais ou antiéticos no passado hoje são normalmente 
valorados, o que se constitui numa diacronia, num processo histórico. Habermas 
(2003, p. 135) destaca a propósito da universalização de normas aceitas por todos, 
afirma que um sociólogo ou historiador descreve as regras morais como “específicas 
de cada época e cultura” que valham como tais aos olhos de quem pertence à época 
e cultura em questão. Entretanto, considera que há normas morais que são 
certamente universalizáveis, que não variam segundo os espaços sociais e os tempos 
históricos. 
Os valores éticos, principalmente aqueles voltados às profissões, despertam 
algumas curiosidades como indagar quem os constrói, afirma e define; seriam os 
sujeitos que fazem a vida, a história, e onde estão eles? questiona Karam (2004). “No 
indivíduo, no governo, no Estado, nas culturas, nas religiões, nas etnias, no 
intercâmbio entre tudo isso?” (KARAM, 2004, p. 124). Poderiam ser valores/ 
procedimentos transformados em patrimônio da humanidade, responde aqueles que 
constituem a história de cada atividade laboral ou comunidade. E não de algumgrupo 
específico ou alguém. 
O campo da política e do jornalismo é enaltecido. Para o autor, as profissões 
são construções históricas humanas e uma luta política de afirmação de valores 
morais específicos a cada profissão. O debate é imperativo para o convencimento 
pessoal e incorporação desses valores que vão aparecer configurados em palavras 
e procedimentos. Sempre em defesa da existência de uma ética jornalística e 
considerando que sua reflexão clarifica o comportamento prático diário, o autor 
acredita que 
16 
 
 
O exercício ético das profissões está vinculado às situações morais que 
enfrenta e às escolhas que necessita fazer a partir da relevância social da 
área; a partir de uma teoria de determinada atividade; a partir da história de 
tal área – para afirmá-la, negá-la ou redimensioná-la. A especificidade é 
fundamental. (KARAM, 2004, p. 128). 
 
A existência de um código de ética na área faz com que o processo de 
informação jornalística, complementa o autor, se aproxime do processo da ação 
política - com P maiúsculo, do gesto cotidiano à representação parlamentar e ao 
interior do exercício das profissões. Compreende a luta ética também como uma luta 
política em virtude, para o autor, do [...] esforço de superar as fronteiras de ordem 
política, econômica, financeira e mercadológica a serem removidos, e não a ética que 
os tenciona (KARAM, 2004, p. 129). 
Essas fronteiras de ordem econômica, sobretudo, são apreciadas pela 
Economia Política da Comunicação (EPC). A propósito do assunto, Serra (2007) 
atenta para tais estudos associados ao Jornalismo, trata-se de uma linha de análise 
ou orientação metodológica para pesquisas em Jornalismo. Conforme Serra, (2007, 
p. 68) a opção caracteriza-se por focalizar fatores estruturais e processos de trabalho 
na produção, distribuição e consumo da comunicação. 
McChesney (2000 apud SERRA, 2007) resume a corrente em duas 
dimensões, uma delas volta-se para o estudo da relação entre a mídia e os sistemas 
de comunicação; a outra analisa como a propriedade, as formas de financiamento e 
as políticas governamentais podem influenciar o comportamento e o conteúdo da 
mídia. A produção de notícias é explicada pela EPC pela sua relação com a estrutura 
de poder na sociedade capitalista. Daí a importância da audiência. 
Tais estudos consideram que nos meios de comunicação estão contidas as 
extensões políticas, culturais e a lógica econômica. Essa lógica considera livros, 
discos, cinema, TV ou publicações jornalísticas etc. como “indústrias culturais” com 
foco no lucro. Serra (2007, p. 69) apresenta o canadense Smythe, o pioneiro que, na 
década de 1950, já acreditava que “[...] o principal produto dos meios de comunicação 
de massa comerciais era o poder da audiência”. 
A vertente da economia política crítica é detalhada por Serra (2007) através 
das pesquisas de Golding e Murdock (2000). Eles assinalam que os sistemas de 
comunicação públicos também são “indústrias culturais” e como sua organização 
17 
 
 
econômica gera efeitos na produção e circulação de sentidos (GOLDING; 
MURDOCK, 2000 apud SERRA, 2007, p. 72). Os mesmos estudiosos desta vertente 
reconhecem que a produção midiática também depende dos profissionais que [...] 
trabalham em um contexto influenciados por “códigos e ideologias profissionais” 
(SERRA, 2007, p. 74). Daí pergunta, até que ponto os jornalistas podem exercer a 
autonomia profissional diante dos condicionamentos da estrutura econômica? 
Como resposta, os autores ingleses deduzem a necessidade de examinar o 
direcionamento das verbas publicitárias e estudar o trabalho dos jornalista, das fontes 
e o contexto do mercado para avaliar as consequências desses padrões na [...] 
atividade de coleta e processamento das notícias, “recrutamento dos jornalistas e 
ideologia profissional” (SERRA, 2007, p. 74). 
A economia política instrumentalista é outro modelo da EPC, este moldado pela 
propaganda. Para Noam Chomsky e Edward Herman (1979), os pesquisadores que 
propuseram o modelo de análise da mídia, as notícias (“propaganda” que sustenta o 
sistema capitalista) passam por cinco filtros principais: a propriedade privada que visa 
o lucro, o poder dos anunciantes, as fontes de elite, a pressão do Estado e o 
anticomunismo como ideologia dominante. A perspectiva permitiria, ainda segundo 
Serra (2007), que discute os autores americanos, aos interesses dominantes passar 
suas mensagens ao público, através da mídia, marginalizando as visões diferentes. 
A teoria instrumentalista ou teoria da ação política jornalística apresenta as 
versões de direita e esquerda que serão mais bem explicadas posteriormente, nas 
teorias do jornalismo. Para Traquina (2005, p. 164), segundo a opção da esquerda, 
existe um “diretório dirigente” da classe capitalista que dita aos diretores e jornalistas 
o que sai nos jornais. O autor português critica a visão determinista do campo 
jornalístico, no modelo proposto por Chomsky e Herman, em que os profissionais ou 
colaboram na utilização instrumentalista dos media noticiosos ou são totalmente 
“submissos aos desígnios dos interesses dos proprietários” (TRAQUINA, 2005, p. 
167). Eles foram considerados teóricos da conspiração. 
Mais constrangimentos a que são submetidos os profissionais nas redações 
são analisados por Javier Restrepo, como elementos impedidores à concretização de 
uma ética jornalística, considerando-a função idealizadora. Presente no Congresso 
Extraordinário para atualização do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (2007), 
18 
 
 
o jornalista colombiano pautou sua apresentação sobre o jornalismo e a utopia ética. 
Sabedor do problema em toda a América Latina reconhece que um jornalista com 
baixos salários encontra-se à beira do suborno para sobreviver, e obrigado ao 
heroísmo diário. E mais, quando o meio é conduzido por políticos, por candidatos em 
campanha ou por ativistas políticos que transformam a informação em propaganda 
ou então quando o jornalista se propõe a fiscalizar os atos de um governo que 
sustenta financeiramente seu meio através da publicidade oficial, em ambos os casos 
não há escolha possível, a ética aparece como uma utopia (RESTREPO, 2007). 
O especialista em ética na mídia disseca certas dificuldades na produção de 
notícias ao ponderar que a ética se distancia mais ainda quando o dever da verdade 
para com os leitores expõe e põe em questão a publicidade comercial que mantém 
os veículos: 
A publicidade é o reino das meias verdades onde as bondades de produtos, 
instituições ou pessoas se magnificam, e suas fraquezas ou defeitos se 
disfarçam. O jornalismo, ao contrário, é ou deve ser o reino das verdades 
completas. Quando em nome dessa verdade e dos direitos do leitor, o meio 
ou o jornalista devem optar pela verdade serviço ou pela meia verdade 
publicitária que paga ao meio, o mandato ético que privilegia como dever à 
verdade completa soa como utopia (RESTREPO, 2007, p. 2). 
 
São apresentadas outras tantas dificuldades da batalha entre a fantasia e a 
realidade no cotidiano das redações, que o autor esboça sempre com o mesmo mote 
final. O deadline não permite muitas vezes confrontar várias fontes. A “cara amável e 
dignificada da ética” nas conferências e manuais difere brutalmente daquela vista na 
resposta dos envolvidos após a publicação de atos corruptos. A voz delicada da ética 
é abafada pelo tom imperativo da ameaça: ou se cala ou morre. Aí se descobre que 
a ética é uma utopia (RESTREPO, 2007). 
Seguem outros exemplos reais, que de acordo com o jornalista, são situações 
adversas para quem quer exercer um jornalismo ético: as fontes que mentem, os 
editores-ditadores que não enxergam além de suas ordens, colegas de trabalho que 
ruminam suas inseguranças e frustrações, instrumentos de trabalho desestimulantes 
e um ambiente rotineiro e adverso a qualquer iniciativa de mudança ou de superação. 
Colocadas algumas dasverdades conclui-se, angustiadamente, que, no entender de 
Restrepo, o constante chamado à excelência pela via da autocrítica e do melhor 
19 
 
 
serviço ao leitor, ecoa como uma voz estranha e exótica, nesse ambiente onde a ética 
aparece como uma utopia (RESTREPO, 2007). 
As teorias jornalísticas vão corroborar o discurso de Restrepo, diagnosticando 
o ambiente organizacional, onde as condições de produção das notícias acontecem 
e podem determinar ou influenciar os profissionais midiáticos na demarcação dos 
limites, no uso da liberdade de expressão e no atendimento aos ditames 
deontológicos da área jornalística. 
Mais que uma ética do cidadão 
 
Abramo (1988) retoma certos valores morais básicos como a estima da palavra 
dada, o respeito ao próximo, não roubar ou mentir, itens mandatários que permeiam 
a honra cidadã, por isso argumentos gerais balizadores da conduta humana. De 
maneira direta, iguala os cidadãos de qualquer profissão no que diz respeito aos 
preceitos éticos. Vaticina que a ética do jornalista é a mesma do cidadão; em 
oposição, compreende que, em relação às empresas de comunicação, existe, sim, a 
ética do dono. 
Jornalista que é, não vê diferença entre sua conduta e a de um marceneiro. 
Trata a ética jornalística como um mito que precisa ser desfeito: o jornalista não tem 
ética própria “[...] o que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista” (Abramo, 1988, 
p. 109). 
Tal afirmação encontra eco entre os patrões e de forma institucional, por 
exemplo, citado por Karam (2004), na decisão da juíza federal, Carla Rister, que em 
2002,12 deliberou pela não obrigatoriedade da formação universitária para exercício 
do jornalismo, sentença depois derrubada. A juíza alega que os requisitos de ordem 
ética ou moral, argumentados no processo, são pressupostos em qualquer profissão, 
portanto, não são legitimadores da exigência de diploma. 
Tal qual Abramo (1988), Rister aplicou o princípio da generalização, quando 
declara, não sem razão em certo sentido, que tanto a honestidade quanto a ética são 
atributos adquiridos não apenas durante um curso universitário, mas “[...] compõem 
o núcleo de personalidade e de caráter do indivíduo”, formado durante toda a vida, 
pelo exercício da atividade acadêmica, profissional propriamente dito, pela 
20 
 
 
convivência familiar e até mesmo pelas demais formas de convivência em sociedade 
(Conjur13, 2003, p. 7). 
A sentença corrobora aspectos individuais em formação desde a infância, 
convívio na comunidade e o aprendizado acadêmico os quais formarão o caráter, 
esse indissociável dos atos sociais e históricos como o exercício de uma profissão. 
Menciona uma ética privada, que não pode ser descartada por qualquer trabalhador 
no seu agir diário, porém o que estava em jogo era uma decisão de ordem pública no 
âmbito profissional. 
A generalização deontológica em favor de uma ética única do cidadão 
advogada por Abramo, assim como os argumentos da juíza, têm provocado 
manifestações de desagrado e contendas entre estudiosos que analisam a natureza 
ética na prática jornalística. 
Gentille (2001, p. 2), por exemplo, discorda da igualdade imposta, entendendo 
que se trata de desconhecimento ou ignorância citar Abramo, já que “a Publicidade e 
as Relações Públicas – ao contrário do Jornalismo – se incorporam à ética do 
cidadão”. Essa certamente é a mesma para todos, mas no que pertence às profissões 
do tronco das comunicações, cada uma tem sua própria deontologia voltada para as 
funções e/ou os papéis profissionais. 
Por sua vez, o pesquisador Francisco Karam (2004) considera as observações 
descontextualizadas, as quais auxiliam menos e prestam mais um desserviço ao 
jornalismo. Ressalta o autor que toda referência sobre ética, comunicação e 
jornalismo é, sempre, humana; sendo assim, a perspectiva possível será situar os 
temas no próprio âmbito da história. Mattos (2009), em contrapartida, fica mais ao 
lado do pensamento de Abramo, acredita na igualdade ética para todos apesar das 
particularidades de cada ofício. Admite que a integridade seja a base fundamental da 
credibilidade de todo profissional independente do campo de atuação. 
Quando se defendem caminhos ou condutas humanas, exercita-se o debate 
de valores. Como é do conhecimento geral, o papel ético, repetindo, é devido não ao 
jornalista isolado, mas às categorias sociais diversas, cada uma com sua ética e 
demandas próprias. Torna-se difícil a compreensão de se reivindicar uma ética única, 
considerando-se que a sociedade é multifacetada, complexa, com vários grupos e 
21 
 
 
interesses. Cada segmento, pois, tem sua moral e exerce sua política de forma 
diferente e divergente. 
Naturalmente que esses valores morais e éticos mudam através dos tempos, 
tais princípios de conduta ligados a uma determinada sociedade vivem certo momento 
histórico e atendem às necessidades de um grupo social naquele período. Atos que 
foram considerados imorais ou antiéticos, no passado, hoje são normalmente 
valorados, o que se constitui numa diacronia, num processo histórico. Habermas 
(2003, p. 135) destaca a propósito da universalização de normas aceitas por todos e 
afirma que um sociólogo ou historiador descreve as regras morais como “específicas 
de cada época e cultura que valham como tais aos olhos de quem pertence à época 
e cultura em questão”. Entretanto, considera que há normas morais que são 
certamente universalizáveis, que não variam segundo os espaços sociais e os tempos 
históricos. 
Os valores éticos, principalmente aqueles voltados às profissões, despertam 
algumas curiosidades como indagar quem os constrói, afirma e define; seriam os 
sujeitos que fazem a vida, a história, e onde estão eles? questiona Karam (2004). “No 
indivíduo, no governo, no Estado, nas culturas, nas religiões, nas etnias, no 
intercâmbio entre tudo isso?” (Karam, 2004, p. 124). Poderiam ser 
valores/procedimentos transformados em patrimônio da humanidade, responde, 
aqueles que constituem a história de cada atividade laboral ou comunidade, e não de 
algum grupo específico ou alguém. 
Para o autor, as profissões são construções históricas humanas e uma luta 
política de afirmação de valores morais específicos a cada uma delas. Sempre em 
defesa da existência de uma ética jornalística e considerando que sua reflexão 
clarifica o comportamento prático diário, o autor acredita que: 
O exercício ético das profissões está vinculado às situações morais que 
enfrenta e às escolhas que necessita fazer a partir da relevância social da 
área; a partir de uma teoria de determinada atividade; a partir da história de 
tal área – para afirmá-la, negá-la ou redimensioná-la. A especificidade é 
fundamental (Karam, 2004, p. 128). 
 
A existência de um código de ética na área faz com que o processo de 
informação jornalística, complementa o autor, se aproxime do processo da ação 
política - com P maiúsculo, do gesto cotidiano à representação parlamentar e ao 
22 
 
 
interior do exercício das profissões. Compreende a luta ética também como uma luta 
política em virtude do “[...] esforço de superar as fronteiras de ordem política, 
econômica, financeira e mercadológica a serem removidos, e não a ética que os 
tensiona” (Karam, 2004, p. 129). 
Essas fronteiras de ordem econômica, sobretudo, são apreciadas pela 
Economia Política da Comunicação (EPC). A propósito do assunto, Serra (2007) 
atenta para tais estudos associados ao Jornalismo, trata-se de uma linha de análise 
ou orientação metodológica para pesquisas nesse campo. Conforme Serra (2007, p. 
68) a opção de pesquisa “caracteriza-se por focalizar fatores estruturais e processos 
de trabalho na produção, distribuição e consumo da comunicação”. 
McChesney (2000 apud Serra, 2007) resume a corrente em duas dimensões, 
uma delas volta-se para o estudo da relação entre a mídia e os sistemas de 
comunicação; a outra analisa como a propriedade, asformas de financiamento e as 
políticas governamentais podem influenciar o comportamento e o conteúdo da mídia. 
A produção de notícias é explicada pela EPC pela sua relação com a estrutura de 
poder na sociedade capitalista. Daí a importância da audiência. 
Tais estudos consideram que nos meios de comunicação estão contidos as 
extensões políticas, culturais e a lógica econômica. Essa lógica considera livros, 
discos, cinema, TV ou publicações jornalísticas etc. como “indústrias culturais” com 
foco no lucro. Serra (2007, p. 69) apresenta o canadense Smythe, o pioneiro que, na 
década de 1950, já acreditava que “[...] o principal produto dos meios de comunicação 
de massa comerciais era o poder da audiência”. 
A vertente da economia política crítica é detalhada por Serra (2007) através 
das pesquisas de Golding e Murdock (2000). Eles assinalam que os sistemas de 
comunicação públicos também são “indústrias culturais” e como “sua organização 
econômica gera efeitos na produção e circulação de sentidos” (Golding; Murdock, 
2000 apud Serra, 2007, p. 72). Os mesmos estudiosos desta vertente reconhecem 
que a produção midiática também depende dos profissionais que “[...] trabalham em 
um contexto influenciados por códigos e ideologias profissionais” (Serra, 2007, p. 74). 
Daí pergunta: até que ponto os jornalistas podem exercer a autonomia profissional 
diante dos condicionamentos da estrutura econômica? 
23 
 
 
Como resposta, os autores ingleses deduzem a necessidade de examinar o 
direcionamento das verbas publicitárias e estudar o trabalho dos jornalistas, das 
fontes no contexto do mercado para avaliar as consequências desses padrões na “[...] 
atividade de coleta e processamento das notícias, recrutamento dos jornalistas e 
ideologia profissional” (Serra, 2007, p. 74). 
A economia política instrumentalista é outro modelo da EPC, este moldado pela 
propaganda. Para Noam Chomsky e Edward Herman (1979), os pesquisadores que 
propuseram o modelo de análise da mídia, as notícias (“propaganda” que sustenta o 
sistema capitalista) passam por cinco filtros principais: a propriedade privada que visa 
o lucro, o poder dos anunciantes, as fontes de elite, a pressão do Estado e o 
anticomunismo como ideologia dominante. A perspectiva permitiria, ainda segundo 
Serra (2007), que discute os autores americanos, aos interesses dominantes passar 
suas mensagens ao público, através da mídia, marginalizando as visões diferentes. 
A versão de esquerda da teoria instrumentalista ou teoria da ação política 
jornalística é descrita por Traquina (2005, p. 164), a partir da existência de um 
“diretório dirigente da classe capitalista que dita aos diretores e jornalistas o que sai 
nos jornais”. O autor português critica a visão determinista do campo jornalístico, no 
modelo proposto por Chomsky e Herman, em que os profissionais ou “colaboram na 
utilização instrumentalista dos media noticiosos ou são totalmente submissos aos 
desígnios dos interesses dos proprietários” (Traquina, 2005, p. 167). Eles foram 
considerados teóricos da conspiração. 
Mais constrangimentos a que são submetidos os profissionais nas redações 
são analisados por Javier Restrepo como elementos impedidores à concretização de 
uma ética jornalística, considerando-a função idealizadora. Presente no Congresso 
Extraordinário para atualização do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (2007), 
o jornalista colombiano pautou sua apresentação sobre o jornalismo e a utopia ética. 
Sabedor do problema em toda a América Latina reconhece que um jornalista com 
baixos salários encontra-se à beira do suborno para sobreviver, e obrigado ao 
heroísmo diário. E mais, quando o meio é conduzido por políticos, por candidatos em 
campanha ou por ativistas políticos que transformam a informação em propaganda 
ou então quando o jornalista se propõe a fiscalizar os atos de um governo que 
sustenta financeiramente seu meio através da publicidade oficial, em ambos os casos 
não há escolha possível, a ética aparece como uma utopia (Restrepo, 2007). 
24 
 
 
O especialista em ética na mídia disseca certas dificuldades na produção de 
notícias ao ponderar que a ética se distancia mais ainda quando o dever da verdade 
para com os leitores expõe e põe em questão a publicidade comercial que mantém 
os veículos: 
A publicidade é o reino das meias verdades onde as bondades de produtos, 
instituições ou pessoas se magnificam, e suas fraquezas ou defeitos se 
disfarçam. O jornalismo, ao contrário, é ou deve ser o reino das verdades 
completas. Quando em nome dessa verdade e dos direitos do leitor, o meio 
ou o jornalista devem optar pela verdade-serviço ou pela meia verdade 
publicitária que paga ao meio, o mandato ético que privilegia como dever à 
verdade completa soa como utopia (Restrepo, 2007, p. 2). 
 
São apresentadas outras tantas dificuldades na batalha entre a fantasia e a 
realidade no cotidiano das redações que o autor esboça sempre com o mesmo mote 
final. O deadline não permite muitas vezes confrontar várias fontes. A “cara amável e 
dignificada da ética” nas conferências e manuais difere brutalmente daquela vista na 
resposta dos envolvidos após a publicação de atos corruptos. A voz delicada da ética 
é abafada pelo tom imperativo da ameaça: ou se cala ou morre. Aí se descobre que 
a ética é uma utopia (Restrepo, 2007). 
Seguem outros exemplos reais, que de acordo com o jornalista, são situações 
adversas para quem quer exercer um jornalismo ético: as fontes que mentem, os 
editores-ditadores que não enxergam além de suas ordens, colegas de trabalho que 
ruminam suas inseguranças e frustrações, instrumentos de trabalho desestimulantes 
e um ambiente rotineiro e adverso a qualquer iniciativa de mudança ou de superação. 
Colocadas algumas das verdades, conclui-se angustiadamente, que o “constante 
chamado à excelência pela via da autocrítica e do melhor serviço ao leitor”, ecoa 
como uma voz estranha, e exótica, nesse ambiente onde a ética aparece como uma 
utopia (Restrepo, 2007). 
As teorias jornalísticas vão corroborar o discurso de Restrepo, diagnosticando 
o ambiente organizacional onde as condições de produção das notícias acontecem e 
podem determinar ou influenciar os profissionais midiáticos na demarcação dos 
limites no uso da liberdade de expressão e no atendimento aos ditames deontológicos 
da área jornalística. 
 
25 
 
 
O JORNALISMO E O COMPORTAMENTO ÉTICO DO 
FUTURO 
 
Sempre é importante lembrar que ao observarmos o comportamento ético em 
relação às práticas jornalísticas estamos tratando de algo essencial e central para o 
jornalismo. A partir do alicerce ético as ações jornalísticas ganham legitimidade e 
conservam o que tem de mais importante: 
A credibilidade. A sensação permanente de mudança gerada especialmente 
pelos avanços tecnológicos provocam reflexões fundamentais relacionadas ao 
comportamento ético do futuro. Diante da velocidade extraordinária das formas de 
produção e disseminação do conteúdo jornalístico, particularmente nas mídias 
sociais, novos dilemas evidenciam um conjunto de novas preocupações e desafios 
ligados à ética jornalística. Atualmente a ética jornalística não é mais um assunto 
restrito aos jornalistas ou aos veículos de comunicação. 
 
Figura 1 - Ética Na Pesquisa 
 
Fonte:https://academiadojornalista.com.br/jornalismo-de-dados/conceitos-do-jornalismo-de-
dados/ 
 
 A participação cada vez mais ativa dos públicos nos processos de 
comunicação dentro do espaço público tornou-se um elemento decisivo para 
distinguir o que é ou não é aceitável, o que é ou não é correto, o que é ou não é 
respeitador da dignidade humana (Christofoletti & Fidalgo, 2014). Esses fatores 
apontam um caminho onde os jornalistas terão que balizar as suas ações por critérios 
que demonstrem transparência. 
26 
 
 
Sem dúvida esse é um desafio para profissionais, que até pouco tempo atrás, 
detinham o acessoa uma “área restrita” de disseminação de informação em larga 
escala. Diante desse contexto nos deparamos com a necessidade de revisitar as 
normas fundadoras da ocupação em um sentido crítico, repensando valores e as 
razões para preservá-los, reavaliando o papel do jornalista na sociedade e a sua 
relevância. Períodos de transição de uma forma geral e as transições 
contemporâneas em especifico, não tornam a ética menos importante para os 
jornalistas. 
O compromisso com uma prática eticamente exigente é mais importante do 
que nunca em um tempo onde estamos imersos em informações de todos os tipos e 
de todos os níveis de qualidade. Algumas ameaças éticas que permeiam o jornalismo 
nesse novo contexto dizem respeito às pressões que advêm da falta de dinheiro e da 
redução de efetivos. “Não surpreende que esta seja uma receita propícia ao 
surgimento de erros, ao gerenciamento das práticas de verificação e à transferência, 
para os utilizadores, da produção de notícias que os jornalistas já não têm tempo ou 
meios para garantir” (Singer 2014, p.62). 
 As diretrizes éticas perpassam várias etapas e filtros relacionados a 
convenções estabelecidas pelo segmento, porém, cabe ressaltar que os parâmetros 
pessoais de cada profissional tem relação direta com a sua postura ética diante da 
sociedade. Como boa parte das interações entre os indivíduos é permeada pelo 
jornalismo, o ambiente social acaba imerso em relações que envolvem conflitos de 
poder, disputas por hegemonia e disputas entre representações sociais e políticas 
opostas. Esses fatores exigem a adaptação dos parâmetros éticos diante das novas 
situações que se apresentam. 
 
Rumo Cultura Da Transparência 
 
O professor Derrick de Kerckhove, da Universidade de Toronto, esteve 
recentemente em um importante congresso de comunicação no Brasil (XIV 
Congresso Ibero-Americano de Comunicação – Ibercom 2015 – 29/03/2015 a 
02/04/2015) e afirmou que estamos rumando para uma cultura de transparência. 
Ele destacou a relevância do Big Data (informações armazenadas nas mídias 
sociais e em meios eletrônicos) como um grande fator de mudança da civilização, 
27 
 
 
pois define uma nova configuração social, destacando a potencialidade que estas 
informações possuem em relação à liberdade individual das pessoas e na obtenção 
de vantagens econômicas, sociais e políticas. Outro aspecto observado é a inversão 
entre os âmbitos públicos e privados que impulsionam o retorno de uma “cultura da 
vergonha” onde a reputação adquire um valor ainda mais importante. 
 
Figura 2 – Princípios éticos Na Pesquisa 
 
Fonte: http://tutano.trampos.com/jornalista-de-dados/ 
 
“Transparência traz o problema de que, enquanto nós somos investigados 
pelas informações, ocorre uma descontextualizarão espacial, social e temporal. Há 
uma completa descentralização da informação relacionada as pessoas. Não há 
contexto” (Kerckhove, 2015). Kerckhove é conhecido por seu trabalho de assistência 
e coautoria com Marshall McLuhan, autor que desenvolveu o conceito de aldeia global 
na década de 60 para explicar os efeitos da comunicação de massa sobre a 
sociedade. 
 Os apontamentos do discípulo de McLuhan ratificam que a transparência vai 
definir o comportamento ético do futuro dos jornalistas e da sociedade de uma forma 
geral. Nessa realidade em que é permitido o acesso a uma escala global, as feições 
envolvendo a transparência geram a necessidade de ações construtivas que 
possibilitem o aprendizado e a exploração das consequências desse contexto. 
“Modificaram-se radicalmente a educação e a sociabilidade, a comunicação e os 
cenários ao nosso redor. 
“Se a tecnologia modifica as relações interpessoais, também muda os valores 
morais e as éticos” (Christofoletti, 2008, p.94). Essa mutação na comunicação está 
atrelada a processos midiáticos que não se enquadram mais na denominação de 
“mídias de massa”. 
28 
 
 
A propósito: É possível pensar o jornalismo sem ética? A expressão “jornalismo 
antiético” é uma maneira de dizer que se contou uma história, registrou-se um fato, 
criou-se um acontecimento com linguagem (técnica) jornalística, e se divulgou, sem 
“respeitar” o público, a audiência, incluídos os que têm relação direta com o relato. 
 O resultado, em tese, é ruim para o cidadão e a sociedade. Há quem prefira 
dizer que não se levou em conta os princípios normatizados em códigos profissionais 
que regem a atividade, produzidos e propagados para estabelecer limites e manter o 
jornalismo e seus profissionais numa direção do “bem social”, e com o fortalecimento 
das liberdades democráticas. Mas ao abandonar a ética, o resultado da atividade 
jornalística não fica comprometido? O jornalismo não deixa de cumprir sua função 
informativa? É uma pouco da nossa reflexão. 
 Sem ética, o jornalismo é uma mera técnica narrativa, oca, sem a presença de 
seu motivo de existir: ser a construção de uma realidade (BERGER & LUCKMANN, 
1985) preocupada com a interpretação correta do mundo, próxima da “verdade” dos 
fatos e atenta aos efeitos nocivos que seu produto simbólico pode trazer à sociedade, 
como a reprodução de preconceitos, incentivo à intolerância, fortalecimento do 
inverídico ou ao ato “desumano”. O ato antiético subentende-se falta do bom, algo 
mau, injusto e, se a essência do jornalismo é a justiça, o bem estar social, relata 
Guareschi (2000, p. 50-55), há de se ressaltar que antiética e jornalismo não podem 
caminhar juntos. Ao contrário, do ponto de vista de quem produz informação 
responsável para sociedade, ética e jornalismo, sim, são indissociáveis. São 
“sinônimos” de responsabilidade com o outro, com as relações sociais e com a 
organização do mundo. O jornalismo, por sua vez, tem uma relação de dependência 
total. A ética é sua base de sustentação, o seu motor. Sem ela, perde sua imunidade 
social, perde o elo com seu público, firmado por meio de um contrato fiduciário 
(RODRIGO-ALSINA, 2009), por meio de uma relação de confiança (VIZEU, 2009), de 
onde nasce credibilidade. 
 
O Jornalismo Depende Da Ética 
 
O jornalismo se sustenta no interesse e na confiança de seu público. Depende 
da lealdade e da crença das pessoas (BILBENY, 2012, p.16-17). E a melhor maneira 
29 
 
 
de encontrá-las, tê-las, é realizando trabalho responsável. Mas o que significa isso? 
Grosso modo, ofertando um produto compreensível, por meio do compartilhamento 
efetivo de signos e seus significados, no qual seja possível enxergar verdade no seu 
referencial, seja baseado em testemunho pessoal, em documentos ou no relato de 
fontes; com uma interpretação de dados e fatos mais próxima do fato e por meio uma 
preocupação extra com os efeitos dessa interpretação na vida das pessoas. Espera-
se ainda que para obter o produto jornalístico, o percurso também tenha sido o mais 
correto, com métodos lícitos de apuração, sem que princípios éticos de obtenção da 
informação tenham sido atropelados por um sempre questionável interesse do público 
e não interesse público. 
 
Figura 3 – Ética 
 
Fonte: http://blog.saude.mg.gov -ética-jornalística-e-a-empatia-na-cobertura 
 
 De maneira geral, ao ler, ouvir ou assistir um relato jornalístico, o consumidor 
de notícias acredita que, por trás da ação profissional, há uma preocupação com 
regras, normas que dão espaço e respaldo à liberdade de imprensa, mas que impõem 
limites à liberdade de expressão, visto que esta última tem uma barreira maior: o 
respeito à pessoa. A sociedade acredita que o produto jornalístico não é uma criação 
aleatória, ficção, que as vozes são reais, que o relato é um fragmento preciso e correto 
da realidade; e que o jornalista usa sua capacidade técnica para reconstruir uma 
história da maneira mais fiel e responsável. 
O faz primeiro no processo de apuração do fato, em seguida, na seleção daquilo 
que considera que é mais importante, na utilização dos recursos simbólicos para 
30permitir o entendimento e, por fim na maneira de divulgar e fazer circular. Há uma 
relação de confiança (VIZEU, 2009), um contrato fiduciário (RODRIGO-ALSINA, 
2009) regido por um comportamento responsável do jornalista, gerador de 
credibilidade e propulsor de audiência. É um pacto que não deve se romper é a ética, 
em todas as suas dimensões, que rege este processo. É a responsabilidade ética que 
permite a união permanente entre a mídia e seu público e faz com que o jornalismo, 
como forma de conhecimento (PARK, 1966), um conhecimento singular (GENRO 
FILHO, 1987), cumpra sua função. 
 Justamente porque a informação que oferece não deve (ou deveria) ser captada 
e adaptada somente para se enquadrar nos limites espaciais e temporais dos meios. 
Ou, ainda motivada somente por interesses de grupos políticos, econômicos, apesar 
de ser essa uma realidade dura, passível de debate e resistência. E a ética do 
jornalismo permite uma luta constante contra essas pressões que usam a 
credibilidade e o contrato fiduciário do jornalismo para favorecimento de grupos na da 
sociedade. Um luta entre os seus limites e sua realização, destaca Karam: 
Os limites cotidianos, no jornalismo, vivem a tensão entre a possibilidade de 
realização da ética e as dificuldade teórico operacionais para execução dos princípios, 
o que equivale dizer que o movimento moral é sempre presente. 
 Mas é nesse momento que a abstração e a generalização precisam de uma 
ponte com as situações e circunstâncias concretas do trabalho específico do 
jornalista, que enfrenta dilemas, dúvidas e precisa escolher o caminho mais correto à 
luz da dimensão pública de sua atividade” (KARAM, 2014, p.52). 
Papel social da ética 
 
Ao destacar o papel social da ética, Guareschi (2000, p. 52-55) estabelece a 
relação dela com a justiça. Para ele, as duas são mediadoras das relações entre as 
pessoas. E a justiça é a virtude central da ética porque ela comanda os atos de todas 
as virtudes que regem atitudes dos homens entre si. 
 Refere-se aos princípios fundamentais de justiça, igualdade e solidariedade e 
está permanentemente em busca de uma sociedade mais justa e fraterna e dos 
estabelecimentos de normas que sejam mais e mais construtoras de seres humanos 
31 
 
 
livres e solidários. “A ética busca a libertação pessoa e social das pessoas e das 
situações de injustiça “(GUARESCHI, 2000, p. 55). 
 O “outro e as relações humanas” dão sentido as falas sobre direito e ética, 
segundo Karam (2014, p.28), porque estão vinculadas ao compromisso coletivo, com 
as relações humanas que, produzidas socialmente, resultam no reconhecimento da 
autonomia e no compromisso com a autonomia de todos os demais. Em um reflexão 
conceitual, Vásquez (2008) destaca que a ética é a ciência da moral. 
 Ela é teórica e, segundo o autor, uma explicação, investigação de um tipo de 
experiência e forma de comportamento humano moral considerado, porém, em sua 
totalidade e diversidade. Sua missão é explicar a moral efetiva, esses 
comportamentos do homem e suas práticas de um determinado tempo e espaço. “O 
valor da ética como teoria está naquilo que explica e não de prescrever ou 
recomendar com vistas à ação em situações concretas” (VÁSQUEZ, 2008, p. 20-21). 
 Não pode, segundo ele, ser reduzida ao conjunto de normas e prescrições 
apesar de sê-lo em uma dimensão teórica (VÁSQUEZ, 2008, p. 24). Para Cornu 
(1994, p.37) A moral cumpre uma tarefa de regulação publicitada pela própria 
sociedade e a ética cumpre uma função de legitimação quando interroga as próprias 
normas. Na mesma linha, Karam (2014) afirma que, enquanto a moral se envolve com 
o conjunto de normas refletida em comportamentos, na cultura e período, a ética, para 
autores como ele, é a reflexão sobre o mundo moral dos homens. 
Nos casos das profissões, como a de jornalista, as questões éticas e morais 
se cristalizam nos códigos deontológicos. Nas palavras de Karam (2014, p.34) a 
deontologia é “cristalização provisória do mundo moral, validado pela reflexão ética, 
em normas sociais concretas, em princípios formais e, em alguns casos, normas 
jurídicas”. Cornu (1994, p. 42) lembra que no fim da Primeira Guerra Mundial ganhou 
corpo e se fortaleceu na Europa a consciência da necessidade de codificar melhor as 
condições de emprego e as regras do exercício da profissão de jornalista. 
 A indústria da informação se consolidava e as empresas tentavam se proteger 
do Estado. Sindicatos, mais preocupados os direitos dos profissionais da área e de 
organizações nacionais e internacionais, preocupados com deveres, perceberam o 
papel central do jornalismo, e debruçaram-se na tarefa de estabelecer fronteiras. 
32 
 
 
Adiante, em anos posteriores, com o crescimento de sua importância na esfera 
pública era a sociedade que precisava ser protegida da ação da imprensa. 
 
Figura 4 – Liberdade de Informação 
 
https://www.uva.br/content/ -teorias-do-jornalismo 
 
 As normas passaram então a englobar os deveres dos profissionais e 
empresas para com seu público. As críticas incidem sobre a subordinação dos meios 
de informação aos negócios, a influência crescentes dos anunciantes sobre as 
políticas editoriais, a resistência dos jornais à mudança social, a exploração dos fait 
divers e do sensacionalismo, os atentados à moralidade pública e à vida privada 
(CORNU, 1994, p. 42). 
No Brasil, destaca estudo Christofoletti (2007), é no início do século XX, 
quando começa a se organizar como categoria, que os jornalistas passam a se 
preocupar com iniciativas para preservação de valores. Códigos vigentes em outros 
países estavam em fase de discussão, sem ainda a elaboração concreta. 
 “O primeiro código de ética brasileiro vai surgir em fevereiro de 1949, motivado 
pela Federação Nacional dos Jornalistas, FENAJ- Fundada em 1946 – e aprovado no 
terceiro Congresso Nacional da categoria em Salvador” (CHRISTOFOLETTI,2007, 
p.220). Ao longo dos anos, o código foi modificado, outras normas em instituições que 
representam os profissionais surgiram e, segundo o autor, em 1987 sindicatos se 
ajustam para seguir as novas orientações do Código de Ética Brasileiro. 
 O documento se afina com os textos de outras normas de organismos 
internacionais, como a UNESCO e a Federação Internacional dos Jornalistas. A partir 
33 
 
 
de uma análise dos conteúdos de códigos deontológicos e normas propostos à 
atuação de jornalistas, Cornu (1994, p.57) apontou quatro eixos que desenham a 
orientação da ética jornalística e que entendemos contemplar as questões sobre a 
relação entre ética e jornalismo. São: a missão da empresa, a liberdade de 
informação, a verdade como dever fundamental e o respeito a pessoa como limite. 
 
OS CONFLITOS DIANTE DAS NORMAS 
 
Empresas de comunicação públicas e privadas, profissionais liberais ou 
jornalistas contratados trabalham sob a proteção das leis que na maioria dos países 
ocidentais entendem o direito à informação como algo fundamental. Em paralelo está 
a liberdade de expressão. Mas em conflito, muitas vezes, está a dignidade humana. 
Já dá para perceber, por exemplo, que não é tão simples quanto parece. Cornu (1994, 
p. 82-83) aponta para uma direção que nos acostamos. 
 A sensatez prevalece sobre a vontade. Para ele, entre a reivindicação de um 
direito à informação e a renúncia aos métodos que ofendem ao mesmo tempo a 
deontologia como regulação e o respeito pela pessoa como objeto ético, deve 
privilegiar claramente a segunda. Isso porque “a liberdade de imprensa e o dever de 
informação não autorizam tudo” (CORNU, 1994, p. 83). Por isso, não é tão simples e 
é onde, em geral, moram alguns conflitos da ética jornalística. De fato, conflitos da 
práxis, dilemas presentes e que definem a produção de notícias no jornalismo 
profissional perpassam por esses eixos. Ultrapassar suas linhas, muitas vezes 
sensíveis, em nome da sociedade pode significar ferir a relação de confiança,o 
contrato com ela mesmo. Com direito à informação garantido pelas constituições 
nacionais, tratados, declarações e resoluções internacionais (KARAM, 2014 p.21-22), 
o produto jornalístico traz consigo a marca do compromisso com o bem comum, com 
o entendimento de que o que acontece em países, cidades, bairros afeta ou vão 
afetar, em curto ou em longo prazo, a vida cotidiana. 
A informação atual da informação jornalística e do direito social à informação 
precisa ser tratada na contemporaneidade, na dimensão que possui a conexão 
internacionalizada da economia, da cultura, da política, enfim, da sociedade humana 
34 
 
 
em sua complexidade ontológica, epistemológica e tecnológica no século XXI. Falar 
em direito, em moral e em ética não é, portanto, somente nos rendermos às evidencia 
dos limites da prática social e da prática jornalística. Implica, ao contrário, a 
potencialidade de intervir no futuro social da humanidade. (KARAM, 2014, p.31). 
 
Figura 5- Interesses Políticos E Econômicos 
 
Fonte:https://www.brasildefatopr.com.br/2017/06/16/especialistas-em-etica-jornalistica 
 
O autor lembra que esse direito (à informação) não pode estar apenas 
submetido aos interesses mercadológicos, políticos ou individuais, mas à pluralidade 
e diversidade de vozes, fontes, de propriedade dos meios. Também não podem 
sobreviver sem o compromisso profissional com o comportamento ético, sob todos os 
cenários, pressões e realidades. Talvez, a afirmação soe utópica. Mas esse é 
horizonte que o jornalismo profissional não pode abrir para não correr o risco de cair 
de vez na descrença. 
 O duelo e a resistência serão eternos, por isso não há bom momento para 
“relaxar” no ensino, na pratica nem na pesquisa. Vale ressaltar que quando falamos 
em direito a informação é a informação verdadeira, como alerta Cornu (1994, p.75). 
Caso contrário é mentira e não poderá servir a nenhum projeto de justiça. Como 
primeiro passo para evitar esse caminho, Aznar Gómez (2004, p. 2- 10) defende que 
35 
 
 
jornalistas precisam conhecer os valores e normas da atividade e ter sensibilidade 
acerca dos efeitos dos atos. 
 Ao fazê-lo, a partir desse conhecimento, terão condições de fazer frente, 
individualmente ou em grupo, às exigências impostas pelas questões 
econômicas/empresarias, tecnológicas e terão o reconhecimento que merece para 
isso. Segundo ele, o profissional deve conhecer o conteúdo e o espírito de seus 
códigos, mas também exercer a capacidade de juízo para aplicá-los e, se necessário, 
adaptá-los as circunstâncias particulares de uma situação dada. Ao falar sobre as 
fragilidades da deontologia jornalística, Cornu (1994, p.116) aponta vários problemas 
que acabam de alguma forma enfraquecendo os códigos como guias das práticas. E, 
por sua vez, fragilizando a atividade. 
De acordo com o autor, apesar das convergências, como a defesa da verdade 
e liberdade, a diversidade de normas é muito grande, adaptados aos regimes de 
informação de cada país. Ele lembra ainda que na maioria dos lugares não há órgãos 
de controle ou qualquer tipo de sanção atribuída ao profissional com bases nos 
códigos, que não tem valor jurídico. Tem “peso” apenas nos votos de censura pública 
cartas de repúdio. Ou seja, não é sob suas normas que está o controle. 
Para Karam (2014), os códigos deontológicos são apenas referências que não 
se esgotam à constante criação de uma pratica profissional, como os novos 
problemas e posturas que sugere. “É mais um eixo que norteia a ação profissional, 
tanto para cumprir, quanto para negar um princípio¨ (KARAM, 2014, p.60). Por outro 
lado, o que seria a atividade sem as normas, mesmo sem poder de sansão? Não é 
um corrimão necessário? Os códigos têm papel fundamental para assegurar a melhor 
informação possível e de alguma forma cobrá-la do profissional. 
 Ao impor o dever de seguir princípios, salva a liberdade de expressão, de 
alguma forma, protege o jornalista de pressões que se não são irreversíveis podem 
chegar com menos força às decisões que precisam ser tomadas cotidianamente. É 
uma linha, uma direção que, respeitada, evita desvio irreversíveis no trabalho 
profissional do jornalista, que tem como causa a verdade, a liberdade e o respeito 
pela pessoa humana, questões que preparam ao campo da ética e da justiça. 
 A afirmação nos leva a uma reflexão importante sobre a polêmica “busca da 
verdade” no jornalismo, presente unanimemente (CORNU, 1994, p.116) nos códigos 
36 
 
 
e consagrado como princípio da ética jornalística. Códigos deontológicos falam em 
“respeitar” a verdade, “procurar” a verdade, “lutar” pela verdade. Mas que verdade? 
Uma verdade que é plural e relativa, aponta CORNU (1994). Formada por pontos de 
vistas e interpretações que se aproximam e se afastam, que em oposição ou sincronia 
podem formar a verdade das referências e testemunhos. É próprio da verdade se 
aproximar da realidade e se corresponder com os mais amplos aspectos de um fato. 
A verdade pode ser para alguns uma ideia irrealizável, para outros um guia, mas é 
em no seu possível que o jornalismo se configura. Porque é dever central do 
jornalismo. 
Cornu (1994, p.100) lembra que jornalismo (informação), assim como a 
ciência, não pode pretender por si mesmo atingir uma verdade absoluta, o que 
corresponderia a uma visão dogmática e autoritária. Segundo ele, toda pretensão à 
verdade jornalística está sujeita a crítica por causa de uma condição natural: Todas 
as fontes de conhecimento do jornalismo: 
A tradição, a razão, a observação ou qualquer outra fonte, como testemunho, 
seriam referências, aceitáveis, concebíveis, mas nenhuma tem autoridade 
indiscutível. A falta dessa verdade está, então, na “desnaturalização” e 
“descontextualizarão” de fotos e imagens, citações e entrevistas truncadas, confusão 
produzida por comentário desrespeitoso. Segundo ele, “é certo que a verdade 
pertence à própria natureza da informação que, sem ela, seria mentira ou 
propaganda, que é seu primeiro critério. 
 No entanto, nunca é absoluta na sua expressão jornalística” (CORNU, 1994, 
p. 116). Ele registra que a atitude do jornalista é decisiva nessa busca, seja com a 
objetividade colocada como horizonte, com autêntica busca pela veracidade do relato, 
pois a verdade se impõe como instância normativa e crítica sob a precisão dos fatos, 
da justeza dos juízos feitos pelos profissionais no processo de interpretação e 
veracidade dos textos. Isso significa, resistência pessoal dos jornalistas às pressões 
e constrangimentos. 
 “Pressão do meio social, pelo efeito da conivência, pressão do sistema 
midiático, pela imposição de uma ordem informativa constrangedora e pela aplicação 
de critérios comerciais, pressão da velocidade” (CORNU, 1994, p. 432). 
37 
 
 
Na reflexão, Bilbeny aponta que a verdade jornalística sempre é mais ampla 
que o fato a que se refere porque é inevitavelmente fruto do imediatismo, para uma 
compreensão geral e com uma destacada margem de interpretação e tudo isso faz 
com que a tarefa da busca seja difícil, mas imprescindível. Destaca: 
 E é busca pela compreensão dessa verdade dos fatos que coloca a ética da 
comunicação jornalística diante de dilemas. Um deles é tensão entre o rigor 
jornalístico e a compreensão dos fatos e relatos. Os jornalistas têm se fazer 
compreensíveis para sua audiência, mas, por outro lado, para fazer com que história 
seja entendida pelo público não deve comprometer o rigor na explicação do 
acontecimento. O rigor extremo (só compreensível por especialistas), por sua vez, 
pode fazer perder compreensibilidade do texto. Mas a ausência de total de rigor, para 
que o texto seja compreensível para o leitor, pode tergiversar o acontecimento. 
Porém, em algumas ocasiões, os próprios jornalistas podem renunciar 
voluntariamente a verdade. 
 O que acontece quando o periodista tem que escolher entre dois valores 
contrapostos? O que sucede quandoo jornalista o dilema é defender a verdade ou a 
sua pátria? Se o a defesa dos interesses da pátria se impõe, os critérios éticos ficam 
em suspenso. Como se diz: a primeira vítima das guerras é a liberdade de expressão. 
As Guerras do Golfo são um bom exemplo disso. Isso causa crise na ética jornalística. 
 
 As Crises Éticas do Jornalismo 
 
A desconfiança de alguns setores da sociedade de que há algo errado na 
cobertura da mídia, seja por excesso ou silêncio, atos unilaterais, descompromisso 
com o horizonte-verdade, falta de transparência, leva o público colocar em xeque a 
ética do jornalismo, ou melhor, dos jornalistas e das empresas produtoras de 
conteúdo informativo. Os códigos estariam sendo descumpridos. Jornalistas, por sua 
vez, em muitos momentos, tendem a tentar fugir do debate, criar justificativas, apontar 
o dedo para os fins obtidos, como justificativa para os meios. 
 Mas é sobre os meios, onde nasce atos, carentes de reflexão e mudanças de 
rumo, que devemos falar. Karam (2014) registra que só um processo dialético de 
38 
 
 
constituição de um movimento ético de profissionais, com reconhecimento da 
importância social do jornalismo, “pode criar as condições para a realização técnica, 
política, moral e ética da profissão” (KARAM, 2014, p.12). Para o autor, o direito social 
à informação inclui a diversidade de significação do mundo e dele fazem parte a 
palavra e a imagem, o jornalismo escrito e a imagem jornalística. 
 
 
Figura 6 –Ética 
 
Fonte:http://www.sjsp.org.br/noticias/a-etica-jornalistica-em-tempos 
 
 Esse direito passa pela revelação diversa e contraditória do movimento e 
ações humanas. Isso não surge de algo arbitrário, mas de um conhecimento 
acumulado e fortalecido por opiniões divergentes e plurais. O jornalismo constrói um 
mundo possível, a partir de um mundo real e por meio de um mundo de referência 
(RODRIGO-ALSINA, 2009). É uma representação da realidade, institucionalizada, na 
qual várias forças atuam cada uma com seus interesses na luta pelo sentidos. Alguns 
são mais libertadores e 
39 
 
 
Acreditam na pluralidade de fontes, meios e versões. Outros, voltados ao poder 
pessoal e com evidente desejo de manutenção de um status quo. O fazem sobre e 
sob o discurso de que tudo é produzido como missão, para que o direito do público 
de conhecer fatos seja garantido. Uma interpretação dos efeitos de um fato muito 
relativa. Por divergências rotineiras entre o discurso e o fato fica difícil crer que 
teremos plena pureza na atividade jornalística ou tranquilidade nas decisões sobre 
procedimentos éticos. 
 Ao contrário, o “conflito” em busca do domínio da informação emerge todos os 
dias. Em alguns períodos com frequência quase ininterrupta. Em jogo, o poder 
simbólico da informação. Segundo Karam (2014, p.30), a luta pela liberdade de 
acesso à informação e liberdade de expressão se defronta milenarmente com o 
problema do domínio. Afinal, a informação é requisito indispensável para que o sujeito 
que não deseja ser um axioma dependente, busque ser sujeito determinante. Por 
isso, ela é tão valorizada como expressão de poder, de controle de ideias e opiniões, 
como fonte de lucro, afirma Karam (2014, p.30). 
 Os problemas éticos na cobertura jornalística estão fixados em vários 
aspectos, entre eles, os de interesses empresariais e políticos, presentes nos grandes 
conglomerados de mídia privados ou em grupos públicos, com interferência político-
partidária. Nessa perspectiva, busca-se os espaços para impor ideias, conceitos e 
histórias. Elas precisam gerar audiência, público, que num ciclo, aumentam a 
capacidade de influenciar e dilatam o espaço de poder. 
 A preocupação ética nesse ambiente está sob forte pressão e fragilidade. 
Garantir o direito à informação é preciso pensar passa por esse eixo, pela 
reestruturação dessa lógica (KARAM, 2014). O alerta é para a necessidade de 
democratização dos meios de comunicação, com mais pluralidade e diversidade de 
fontes, de propriedade e regionalização. Horizonte distante, mas, felizmente, claro. O 
autor registra, ainda, a força de um outro eixo que se configura a partir da necessidade 
de uma mudança na noção atual de ética da profissional (KARAM, 2014, p.11-13) 
porque, para ele, ao lado do que chama de mesquinharia e miséria cotidianas do 
jornalismo, está a sua grande capacidade de reconstruir o cotidiano de maneira plural. 
Com possibilidade de apropriação do movimento diário da humanidade” (KARAM, 
2014, p. 41): O jornalismo não é moralmente defensável. Ele é moralmente 
imprescindível. 
40 
 
 
 Ou seja, em sua potencialidade, o jornalismo é forma pela qual as pessoas 
vão se apropriando cotidianamente de seu movimento no interior da humanidade e, 
desta, em sua auto produção diária. O problema, a rigor, não é do jornalismo como 
gênero e consecução. É mais da forma, do conceito de fato jornalístico, da pauta, da 
seleção e hierarquização dos fatos e das suas fontes, das distintas visões sociais e 
ideológicas e da concentração da propriedade dos meios, que impede a pluralidade 
capaz de refletir a complexidade e diversidade dos acontecimentos do dia a dia 
(KARAM, 2014, p. 43-44). 
 A informação implica ser mediada por uma ética, que deve ir além de se 
apegar apenas a uma norma de conduta, mas refletir uma própria teoria moral, com 
força para romper com a moralidade conservadora, a legalidade e com dominação 
vigentes. Assim pode construir bases em valores como liberdade e humanidade 
porque alguns princípios permitem isso, mas outros, levam ao desgaste da 
contradição entre conhecimento legal e impossibilidade da prática (KARAM, 2014 
p.28). A prática, a propósito, com surgimento e implementação de novas técnicas e 
tecnologias de informação e comunicação provocaram mudanças significativas na 
interface do jornalismo com o mundo, com vista a sua reconstrução. 
 Mas o seu objeto é o mesmo, realidade em múltiplas manifestações, agora 
redistribuída em multiplataformas. Doravante, questões conceituais mantém-se ainda 
mais firmes, como interesse público, relevância social, rigor na apuração e cuidado 
na divulgação. Na sociedade da informação e com a convergência tecnológica que 
abrange o jornalismo, redobra-se, ao meu ver, a importância do fazer jornalístico, 
resultado de uma teoria e de uma ética aplicadas ao exercício profissional, com seus 
valores métodos e técnicas, exige a disseminação de mensagens precisas, claras, 
contextualizadas por quaisquer suportes tecnológicos. E requerem movimento com 
as novas rotinas profissionais decorrentes do volume de informação, do ritmo social 
(KARAM, 2014, 157). 
 O próprio autor, no entanto, faz um alerta importante, não é possível trafegar 
no mundo, no cotidiano e na atividade jornalística de reconstrução diária simbólica da 
realidade sem que escolhamos, preliminarmente, valores. Estes podem ser 
expressos pela adesão espontânea à reprodução da educação, ao conhecimento 
acumulado a partir das particularidades pessoais, grupais e sociais ou pela 
experiência histórica (KARAM, 2014, p. 157). A complexidade das questões 
41 
 
 
relacionadas a ética jornalística é tão ampla que parece não caber em uma única 
legislação ou norma profissional. Leis, códigos deontológicos e estatutos (como o 
ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente, por exemplo) precisam dialogar para que 
a práxis se construa o tratamento que será dado “a essa ou a aquela” informação, 
esse ou aquele fato. 
 As multiformes dos episódios cotidianos exigem olhar singular sobre questões 
como os limites da liberdade de expressão e de imprensa diante da dignidade 
humano. Ou ainda, quando em jogo está a busca por informações de interesse 
público, aparece na arena das argumentações a discussão sobre a licitude na 
obtenção de documentos, falas e imagens que nunca seriam conseguidos se 
jornalistas não cometessem infrações, de acordo com alguma legislação.Em jogo, o 
direito à propriedade, direito a imagem, invasão de privacidade, falsidade ideológica. 
 
Figura 7- Limite de liberdade de expressão 
 
Fonte: https://segundoanoadivina.wixsite.com/deostartemudeomundo/ 
 
Lembra que é muito complexo lidar como regras para construção da 
informação, visto que, “a complexidade do movimentos dos conceitos e da reflexão 
ética não cabe na cristalização da norma. Os casos precisam ser examinados de 
42 
 
 
acordo com as circunstâncias” (2014, p.148). Nos casos, por exemplo, que o “fim”, 
com reconhecido interesse público, justifica os “meios”, manchado por infrações e 
atos fora da margem da moral social, jornalistas têm mais chance de ganhar a batalha. 
 Os mecanismos considerados ilegais e questionáveis ganham uma espécie 
de “salvo-conduto” em nome do interesse da sociedade. Mas questões como essa 
não saem e não irão sair da agenda que pauta o debate ético da profissional. Estarão 
nos furos, nas grandes reportagens de repercussão social, política e/ou econômica. 
Serão motivos de questionamento nas universidades. Na lista de questões que 
colocam a ética jornalística na corda bamba destacamos ainda: 
 O respeito aos valores particulares de determinadas culturas, a cláusula de 
consciência, segredo das fontes, a intervenção de jornalistas no diálogo com 
criminosos, a transmissão ao vivo de crimes como sequestros e perseguições. Mas, 
arriscamos afirmar que, nada produz um terreno mais fértil à crítica à ética jornalística 
que as escolhas de enquadramentos, as tentativas de imprimir uma verdade 
particular, o olhar unilateral, ideológico, maquiado por falsa imparcialidade e 
neutralidade. Ferrés (1996) é muito crítico neste ponto e destaca que nas 
democracias modernas a liberdade de expressão está condicionada à possibilidade 
de expressão. 
Diz: A censura política costuma ser substituída pela censura econômica e pela 
autocensura exercida no interior de cada meio em função dos seus próprios 
interesses. Inclusive nas democracias formais existem filtros de censura derivados da 
concentração da propriedade dos meios, dos sistemas de seleção dos profissionais, 
das exigências da publicidade que ajuda a sustentar esses meios, a da dependência 
das informações geradas pelo próprio governo ou pelas instituições. Em todos caso, 
são filtros tão assumidos que até mesmo os profissionais acreditam honestamente na 
objetividade de suas informações (FERRÉS, 1996, p. 67). 
Diferentemente de alguns exemplos dados acima, que são episódicos, o 
processo de construção simbólica imposto pela imprensa, motivados por interesses 
comerciais e políticos, que imprimem posições ideológicas a determinados temas, 
coloca (mais do que nunca) na berlinda a credibilidade de algumas empresas. A 
questão parece mais evidente agora por causa da internet e das multiplataformas 
sociais para obtenção de informações. 
43 
 
 
 O processo vertical histórico de divulgação de informações jornalísticas, 
imposto pelos grandes grupos de comunicação, detentores dos meios de produção e 
divulgação, das fonte e das “verdades absolutas e únicas” de um tempo, perde força 
quando o público tem acesso a outras geradoras de informação jornalística que dão 
versões diferentes, que trazem outros pontos de vista, que colocam o consumidor de 
jornalismo diante de outras verdades. 
 Hoje, ainda com menos força de inserção e alcance, mas com capacidade de 
gerar conflitos informacionais impensáveis em outros tempos. Os novos canais e 
fontes de informação não só ampliaram a oferta da produção do conhecimento 
produzido pelo jornalismo. Eles permitiram que o leitor e a audiência tenham acesso 
às versões diferentes de fato, aos olhares diferentes e façam invitáveis comparações 
de cobertura e enquadramentos. Caballero, Masip e Micó (2007) destacam um ponto 
importante sobre os desvios atuais: 
O monitoramento coletivo de derrapagens e a possibilidade de mais real de 
detectar os erros, visto que o jornalismo “tradicional” da atualidade não dispõe mais 
do acesso exclusivo às fontes e o monopólio da difusão da informação; o que amplia 
as possibilidades de interpretação do mundo. 
 Interpretação que, se for profissional, será baseada em fatos. Mas com as 
várias possibilidades de versões distribuídas, por vários meios, o jornalista tem um 
desafio maior na geração de um conteúdo compreensível, com indícios de 
aproximação máxima da veracidade, geradora de confiança e credibilidade. Pisa em 
um terreno, segundo Karam (2014, p.141), movediço; porque pode ser engolido por 
determinas morais particulares e ainda submeter os fatos à sua particularizada moral, 
o que se desdobra em uma ética individualizada. 
 A falta de equilíbrio e a unilateralidade ficam mais claros porque novas fontes 
de informação também se tornaram potenciais fontes de comparação de coberturas, 
de abordagens e enquadramentos jornalísticos. Ficou mais fácil identificar distorções 
e desvios éticos. A rede, as versões, os vídeos que circulam mais facilmente podem 
ser a conta prova, o cruzamento de dados que só se fazia dentro das redações. Ficou 
mais fácil perder a credibilidade e colocar na linha de tiro o contrato de confiança com 
o público. 
44 
 
 
CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS 
 
O Congresso Nacional dos Jornalistas Profissionais aprova o presente 
CÓDIGO DE ÉTICA: 
O Código de Ética dos Jornalistas que fixa as normas a que deverá subordinar-
se a atuação do profissional nas suas relações com a comunidade, com as fontes de 
informação e entre jornalistas. Do Direito à informação. 
Art. 1° – O acesso à informação pública é um direito inerente à condição de vida 
em sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo de interesse. 
Art. 2° – A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de 
divulgação pública, independente da natureza de sua propriedade. 
Art. 3° – A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará 
pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo. 
Art. 4° – A apresentação de informações pelas instituições públicas, privadas e 
particulares, cujas atividades produzam efeito na vida em sociedade, é uma obrigação 
social. 
Art. 5° – A obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação e a 
aplicação de censura ou autocensura são um delito contra a sociedade. 
Da Conduta Profissional do Jornalista 
Art. 6° – O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social 
e de finalidade pública, subordinado ao presente Código de Ética. 
Art. 7° – O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e 
seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta 
divulgação. 
Art. 8° – Sempre que considerar correto e necessário, o jornalista resguardará a 
origem e a identidade de suas fontes de informação. 
Art. 9° – É dever do jornalista: 
– Divulgar todos os fatos que sejam de interesse público; 
– Lutar pela liberdade de pensamento e expressão; 
– Defender o livre exercício da profissão; 
– Valorizar, honrar e dignificar a profissão; 
– Opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os 
princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos do Homem; 
45 
 
 
– Combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando 
exercida com o objetivo de controlar a informação; 
– Respeitar o direito à privacidade do cidadão; – Prestigiar as entidades 
representativas e democráticas da categoria; 
Art. 10 – O jornalista não pode: 
– Aceitar oferta de trabalho remunerado em desacordo com o piso salarial da 
categoria ou com tabela fixada pela sua entidade de classe; 
– Submeter-se a diretrizes contrárias à divulgação correta da informação; 
– Frustrar a manifestação de opiniões divergentes ou impedir o livre debate; 
– Concordar com a prática de perseguição ou discriminação por motivos 
sociais, políticos, religiosos,raciais, de sexo e de orientação sexual; 
– Exercer cobertura jornalística, pelo órgão em que trabalha, em instituições 
públicas e privadas onde seja funcionário, assessor ou empregado. Da 
Responsabilidade Profissional do Jornalista 
Art. 11 – O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde 
que seu trabalho não tenha sido alterado por terceiros. 
Art. 12 – Em todos os seus direitos e responsabilidades, o jornalista terá apoio 
e respaldo das entidades representativas da categoria. 
Art. 13 – O jornalista deve evitar a divulgação dos fatos: – Com interesse de 
favorecimento pessoal ou vantagens econômicas; – De caráter mórbido e contrários 
aos valores humanos. 
Art. 14 – O jornalista deve: – Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas 
as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por terceiros e não 
suficientemente demonstradas ou verificadas; – Tratar com respeito todas as pessoas 
mencionadas nas informações que divulgar. 
Art. 15 – O Jornalista deve permitir o direito de resposta às pessoas envolvidas 
ou mencionadas em sua matéria, quando ficar demonstrada a existência de 
equívocos ou incorreções. 
Art. 16 – O jornalista deve pugnar pelo exercício da soberania nacional, em 
seus aspectos político, econômico e social, e pela prevalência da vontade da maioria 
da sociedade, respeitados os direitos das minorias. 
Art. 17 – O jornalista deve preservar a língua e a cultura nacionais. Aplicação 
do Código de Ética 
46 
 
 
Art. 18 – As transgressões ao presente Código de Ética serão apuradas e 
apreciadas pela Comissão de Ética. 
1° – A Comissão de Ética será eleita em Assembleia Geral da categoria, por 
voto secreto, especialmente convocada para este fim. 
2° – A Comissão de Ética terá cinco membros com mandato coincidente com 
o da diretoria do Sindicato. 
Art. 19 – Os jornalistas que descumprirem o presente Código de Ética ficam 
sujeitos gradativamente às seguintes penalidades, a serem aplicadas pela Comissão 
de Ética: 
– Aos associados do Sindicato, de observação, advertência, suspensão e 
exclusão do quadro social do sindicato; – Aos não associados, de observação pública, 
impedimento temporário e impedimento definitivo de ingresso no quadro social do 
Sindicato. 
Parágrafo Único – As penas máximas (exclusão do quadro social, para os 
sindicalizados, e impedimento definitivo de ingresso no quadro social para os não 
sindicalizados), só poderão ser aplicadas após referendo da Assembleia Geral 
especialmente convocada para este fim. 
Art. 20 – Por iniciativa de qualquer cidadão, jornalista ou não, ou instituição 
atingida, poderá ser dirigida representação escrita e identificada à Comissão de Ética, 
para que seja apurada a existência de transgressão cometida por jornalista. 
Art. 21 – Recebida a representação, a Comissão de Ética decidirá sua 
aceitação fundamentada ou, se notadamente incabível, determinará seu 
arquivamento, tornando pública sua decisão, se necessário. 
Art. 22 – A aplicação da penalidade deve ser precedida de prévia audiência do 
jornalista, objeto de representação, sob pena de nulidade. 
1° – A audiência deve ser convocada por escrito, pela Comissão de Ética, 
mediante sistema que comprove o recebimento da respectiva notificação, e realizar-
se-á no prazo de dez dias a contar da data de vencimento do mesmo. 
2 ° – O jornalista poderá apresentar resposta escrita no prazo do parágrafo 
anterior ou apresentar suas razões oralmente, no ato da audiência. 
3° – A não observância, pelo jornalista, dos prazos neste artigo, implicará a 
aceitação dos termos da representação. 
47 
 
 
Art. 23 – Havendo ou não resposta, a Comissão de Ética encaminhará sua 
decisão às partes envolvidas, no prazo mínimo de dez dias, contados da data 
marcada para a audiência. 
Art. 24 – Os jornalistas atingidos pelas penas de advertência e suspensão 
podem recorrer à Assembleia Geral, no prazo máximo de dez dias corridos, a contar 
do recebimento da notificação. Parágrafo Único – fica assegurado ao autor da 
representação o direito de recorrer à Assembleia Geral, no prazo de dez dias, a contar 
do recebimento da notificação, caso não concorde com a decisão da Comissão de 
Ética. 
Art. 25 – A notória intenção de prejudicar o jornalista, manifesta no caso de 
representação sem o necessário fundamento, será objeto de censura pública contra 
o seu autor. 
Art. 26 – O presente Código de Ética entrará em vigor após homologação em 
Assembleia Geral de jornalistas, especialmente convocada para este fim. 
Art. 27 – Qualquer modificação deste Código somente poderá ser feita em 
Congresso Nacional de Jornalista, mediante proposição subscrita no mínimo por 10 
delegações representantes de Sindicatos de Jornalistas. 
 
DEONTOLOGIA E O CONTEXTO POLÍTICO 
Deontologia: tratado dos deveres jornalísticos 
 
Ética e Deontologia Jornalísticas 
 
No ensino da profissão É inegável, hoje, a importância das novas tecnologias 
da comunicação e da multimídia no acesso ao conhecimento produzido em diferentes 
campos do Saber, em distintas regiões geográficas. Este acesso é importante, 
também, para que se conheça as decisões, versões e opiniões em diferenciados 
campos do Poder e de sua produção. 
 Embora a produção de Saber envolva, em diversas áreas, uma linguagem até 
certo ponto hermética, e mesmo que esta produção seja em ritmo mais lento, a 
quantidade e distinção de conhecimento, seja na Medicina, na Física Nuclear ou na 
48 
 
 
História permitem que, com critérios de seletividade e a utilização das redes 
telemáticas, as pessoas tenham potencialmente acesso a esta produção. 
 Isto é importante? Parece que sim, porque as descobertas científicas, as 
interpretações históricas, os eventos que isso suscita e as opiniões sobre eles, num 
mundo também potencialmente globalizado em seus aspectos econômicos, políticos, 
culturais e midiáticos, interessam às pessoas, que deles receberão efeitos. Ao mesmo 
tempo, as decisões políticas próximas ou distantes, públicas ou secretas, terão efeito 
na vida do mais remoto e pacato cidadão de distantes regiões, de diferentes mundos 
culturais e sociais. Se há relevância na circulação de informação sobre os eventos e 
as decisões contemporâneas, em todos os campos do Poder e do Saber, são 
inegáveis, também, que esta informação tem um caráter de interesse público geral. 
 E se esta informação interessa a todos e, ao mesmo tempo, circula em meios 
sofisticados desde a perspectiva tecnológica, com uma rapidez quase instantânea à 
sua produção -em redes de, teoricamente, fácil acesso público-, é relevante que haja 
estudos para detectar alguns postos-chave na produção de tal conhecimento e 
informação. É importante que, dentro deste contexto, sejam aprofundados estudos 
sobre os limites para o exercício ético da atividade profissional no Jornalismo, 
diagnosticando os principais problemas existentes hoje e situando, simultaneamente, 
as suas possibilidades. 
 
Figura 10- multimídia e as novas tecnologias 
 
49 
 
 
http://www.sjsp.org.br/noticias/a-etica-jornalistica-em-tempos-modernos-tecnologicos 
 
 É preciso situar a potencialidade e os limites do exercício profissional mas, ao 
mesmo tempo, mostrar as mudanças que a multimídia e as novas tecnologias em 
geral apontam para a área, para a nova mediação social da realidade que os 
profissionais terão como desafio fazer e os limites que se avizinham e aumentam. Isto 
já daria "pano pra manga" em quatro anos de jornalismo. Além das disciplinas técnico-
laboratoriais, em que pode ser objeto de embasamento para o aluno ir à rua, deve a 
meu ver, existir disciplina ou disciplinas específicas de Ética e Deontologia de 
Jornalismo, de preferência autônomas em relação à que trata da Legislação da área. 
Há muitas coisas a se discutir. 
 Um modelo de disciplina envolve não apenas o tratamento de cada 
caso/problema ético deontológico, mas de refletir porque está maisadequado ou 
correto de uma maneira e não de outra. Isto envolve valores que, partindo da Filosofia 
e da Teoria do Jornalismo, chega aos valores profissionais, onde será necessário 
inscrever a profissão na história e na contemporaneidade. 
 Acho que é a melhor maneira de fugir do arbítrio, do autoritarismo e dos 
achismos e chutes em geral. O debate sobre a ética jornalística e sobre as temáticas 
e procedimentos profissionais deontológicos em jornalismo vêm crescendo nos 
últimos anos. Ao mesmo tempo em que é ampliado o número de códigos, subscritos 
por categorias profissionais e empresariais no campo da Comunicação e do 
Jornalismo, cresce também a análise sobre a eficácia e a utilidade das referências 
deontológicas na área. 
 O jornalista e escritor Serge Halimi mostra-se cético quanto à existência de 
códigos deontológicos (1998:130). Enquanto isso, Aznar considera que os códigos 
deontológicos no jornalismo contribuem "de maneira fundamental para criar e afirmar 
uma consciência moral coletiva dentro da profissão" (1997:128). Assim como eles, 
diversos pesquisadores e profissionais têm contribuído para o debate sobre a 
profissão jornalística e sua deontologia específica. Com a divisão social do trabalho, 
a complexidade e a especificidade do trabalho jornalístico, o século XX viu nascerem 
e crescerem, em diferentes instâncias, regiões geográficas e atividades, os códigos 
deontológicos profissionais. 
50 
 
 
A tecnologia acelerou este processo e os debates sobre o tema foram 
ampliados. Hoje, inúmeras empresas de comunicação e federações/associações de 
jornalistas subscrevem algum código de conduta, expressando limites e obrigações 
profissionais no campo ético. Embora não tenham expressão jurídica, tais princípios 
prescrevem normas morais para a atividade jornalística. 
 No Brasil, por exemplo, a década de 90 viu o tema ser ampliado, 
especialmente com a participação dos empresários de comunicação na discussão do 
tema ética. Se antes já havia o Código de Ética dos Jornalistas, proposto e aprovado 
no âmbito da Federação Nacional dos Jornalistas (1986), os princípios deontológicos 
explicitaram-se por meio de novos documentos, desta vez elaborados e aprovados 
pelos empresários da área de mídia eletrônica e de mídia impressa. Surgiram, a partir 
da intensificação do debate sobre ética no jornalismo e na comunicação, o Código de 
Ética da Associação Nacional dos Jornais (1991) e o Código de Ética da Associação 
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (1991). Mais que isso, em março de 
1994, em Chapultepec, no México, empresários da mídia jornal de toda a América, 
associados à Sociedade Interamericana de Imprensa, subscreveram uma Declaração 
de Princípios sobre a atividade jornalística. 
 Os manuais de redação, adotados por jornais, revistas, emissoras de rádio e 
televisão, no Brasil, em geral também tratam de comportamento profissional, com 
desdobramento na esfera dos procedimentos éticos em relação ao trabalho cotidiano. 
Em tais códigos, princípios ou manuais propostos pelo setor empresarial da mídia, os 
procedimentos ou princípios gerais para o jornalismo têm muita coisa em comum com 
os códigos produzidos pela categoria profissional da área. Hoje, a ampliação das 
novas tecnologias, com a estrutura combinada de comunicação (mídia cruzada) e 
sociedade de empresas de comunicação com outros ramos da produção, como o 
financeiro, agropecuário e construção civil (Frattini y Colías: 1996), tornou ainda mais 
complexa a forma de produção da informação jornalística em todo o mundo. 
Sucessiva e simultaneamente a este fenômeno, ampliam-se os fóruns de discussão 
sobre padrões éticos a serem adotados no âmbito da produção jornalística. 
 
 
Figura 11 – Jornalismo e Política 
51 
 
 
 
Fonte: https://portal.unit.br/jornalismo/sem-categoria/jornalismo-politico/ 
 
 Embora existam limites operacionais vinculados a interesses políticos, 
ideológicos, econômicos, sociais ou mercadológicos, reafirmam-se princípios 
deontológicos a cada nova reunião, a cada nova solenidade, a cada novo congresso 
da área (ver, por exemplo, Bonete Peales: 1995; Villanova: 1996). Por isso, os 
códigos de ética subscritos por entidades profissionais e empresariais, assim como 
os documentos sobre o tema aprovados por organizações supranacionais, são 
importantes de serem analisados. Mas, paradoxalmente, no Brasil há ainda poucos 
estudos espichos sobre os códigos deontológicos. 
 Neste aspecto, é fundamental entender a importância dos estudos teóricos e 
analisar os discursos dos códigos éticos na informação jornalística, seus limites, sua 
ambiguidade. Será possível, com estes textos, examinar, também, os limites dos 
princípios, artigos, incisos escritos e as possibilidades reais de cumprimento. Uma 
aproximação com os estudos específicos sobre ética e deontologia no jornalismo 
poderiam envolver núcleos de pesquisa, desde a graduação, para se chegar a 
objetivos e debates, alguns dos quais estamos estudando e desenvolvendo como: 
 Identificar princípios em comum nos códigos deontológicos formulados 
no âmbito profissional e empresarial jornalístico e governamental e 
supranacional que trate do tema, no Brasil e Exterior. 
 Identificar as diferenças substanciais entre tais códigos deontológicos. 
52 
 
 
 Aproximar as convergências e diferenças deontológicas com o quadro 
operativo profissional e empresarial, buscando a identidade jornalística 
comum e possíveis pontos de divergência. 
 Propor, subsidiar e formular estudos sobre os princípios deontológicos 
diante do quadro operacional jornalístico, contribuindo para a 
constituição, ampliação e debate sobre a atividade profissional do ponto 
de vista teórico, ético, técnico, estético e tecnológico. 
 Analisar as contradições estabelecidas nos diferentes códigos 
investigados, incluindo tergiversações, ambiguidades e interpretação 
subjetivas que podem apontar para práticas contrárias com base nos 
mesmos textos e discursos. 
 Analisar as tendências da informação contemporânea, de seu fluxo, 
utilização e controle, incluindo os aspectos éticos emergentes na 
utilização das novas tecnologias, como a confecção da informação 
jornalística por meio da Internet. 
 Analisar a tendência da profissão jornalística diante das novas 
tecnologias de comunicação e da multimídia e de sua integração, à luz 
de um mundo potencialmente globalizado. 
 Analisar a aplicabilidade dos princípios deontológicos diante dos limites 
operacionais do profissional no cotidiano e das megafusões midiáticas 
que gradativamente ocorrem nos planos nacional e internacional. 
 
Os postulados da doutrina estratégica profissional 
 
A grande utopia jornalística é dizer a verdade, independente de todos os 
empecilhos, 
Sabemos que as verdades obtidas com trabalho árduo, crescem como 
frágeis plantas e cercadas de inimigos. Todos querem destruir ou 
menosprezar as verdades dos jornalistas que são, geralmente, classificadas 
como inconvenientes, ou prematuras, ou perversas, por aqueles que 
preferem o alucinógeno da mentira. Entretanto persistimos na utopia da 
verdade (RESTREPO, 2007). 
 
53 
 
 
Definição deontológica central na atividade jornalística, a verdade é um 
conceito que compõe visões ideológicas e culturais, transita com época e diferentes 
morais sociais. A exatidão em apurar a informação ou a objetividade no relato está 
envolvida na busca da verdade, entretanto, na interpretação de Karam (1997), essa 
operação não deve esconder da humanidade os valores aí inseridos. Em outros 
termos, fatos não surgem do acaso, são resultados de pressupostos anteriores, de 
conflitos e desequilíbrios pessoais, cujas razões originam-se de perdas emocionais 
ou financeiras. Em resumo, o relato verdadeiro deve expressar “o mundo moral que 
o cerca, com os desdobramentos culturais, políticos, sociais” (KARAM, 1997, p. 107-
108). 
A respeito do tema provocadorde contendas, Wilson Gomes (1993) raciocina 
filosoficamente em relação ao fato jornalístico. Até porque crê na importância do 
fenômeno do jornalismo como elemento definidor da cultura e da sociabilidade 
contemporâneas, o autor recusa a desqualificação de toda e qualquer possibilidade 
de verdade e objetividade do fato no jornalismo. 
Baseado em Aristóteles, Gomes (1993, p. 72) explica que [...] a verdade é a 
adequação entre a coisa mesma e a nossa representação ou nossa enunciação a seu 
respeito; a mentira ou falsidade então seria a inadequação entre esta, a 
representação e os nossos discursos. 
Interpreta-se que a citada representação, como o entendimento sobre um 
determinado tema, objeto, texto, ou situação, é formada a partir da maneira como 
vemos as coisas, a qual “é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos” 
(BERGER, 1999, p. 10). Também, como diria Gomes (1993), o conhecimento que 
temos das coisas não é puro, pois as percebemos já submetidas a uma intervenção 
do sujeito. Um estado de perspectiva leva o autor mencionado a admitir, baseado em 
Nietzsche, que diante da pluralidade de formas de vida, não há verdade, mas 
verdades. 
Situando a verdade contida nas coberturas jornalísticas, Gomes discorre uma 
posição relativista, admite-se bem razoável, quando sustenta sobre uma notícia que 
a sua verdade ou falsidade são relativas, enquanto serão sempre “verdade-para-
alguém ou falsidade-para-alguém”, visto que o parâmetro para a sua avaliação exige 
54 
 
 
um olhar em perspectiva e é dado dentro do horizonte da perspectiva onde o avaliador 
se situa (GOMES, 1993, p. 80). 
O Código Brasileiro dos Jornalistas preconiza que “o compromisso 
fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu 
trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação”. Há 
de se entender que a verdade jornalística está mais voltada para a veracidade, uma 
vez que não se pode estabelecer uma verdade universal. O profissional deve narrar 
os fatos verazes; a verdade é inerente a cada um. 
Gomes (1991, p. 25) também teoriza sobre o entendimento entre verdade e 
veracidade. Afirma que o princípio da veracidade é uma norma ética da comunicação, 
e aquele que defende uma argumentação a faz com pretensão de verdade. Elucida o 
raciocínio afirmando que enquanto o princípio pragmático exige do enunciante que 
ele pretenda ser veraz, a pretensão do meio é de que aquilo que aí se enuncia seja 
verdadeiro. E mais, distingue dois tempos na “verdade da notícia”: primeiro, 
apreender uma notícia significa entendê-la, interpretá-la; segundo, apreender o que 
é noticiado, desvelar o que se fala ou o sentido verdadeiro do texto (GOMES, 1993). 
Naquilo que concerne aos limites do perspectivismo, ou seja, o verdadeiro ou 
falso no enunciado dos fatos, desponta a perda da dimensão crítica, 
Não temos mais critérios para distinguir entre interpretação e uso de 
mensagens, entre bom e mau jornalismo, entre a má-fé tornada notícia e a 
tentativa honesta de narrar os fatos, entre uma boa e uma má interpretação 
de eventos. Porque evidentemente não se trata apenas da impossibilidade 
de detectar-se a verdade, como também, reciprocamente, de identificar a 
mentira como mentira (GOMES, 1993, p. 81). 
 
Num mundo em que Restrepo (2007, p. 7) acredita que a mentira é instrumento 
de poder herdado do século XX, o jornalista quer encontrar a verdade dos 
acontecimentos. Movido por grandes ideais e orgulho profissional, em atuação há 50 
anos, exalta a utopia como uma voz interior que convence a todos da necessidade de 
corrigir o presente e de construir uma realidade melhor, aquela que recorda “os 
códigos éticos insubornáveis”. 
O colombiano expressa que quando os lemos, a sensação é de entrar num 
“território de máximos, de requerimentos que superam o real de cada dia”. A ética se 
situa em níveis mais altos que o real, como expressão, não de outra realidade, mas 
55 
 
 
“elevada à sua mais alta potencialidade” (RESTREPO, 2007, p. 13). Reafirma que 
adotar um código é assumir um compromisso com o melhor de si e com as mais altas 
expectativas da sociedade. 
A ética é, efetivamente, uma segunda natureza. A primeira nos é dada com 
todas as suas chaves e possibilidades; a segunda é de nossa autoria, 
ninguém a impõe a nós, ninguém nos substitui nessa tarefa; tem como 
matéria prima a primeira natureza com suas possibilidades. Ao convertê-las 
em algo real é como se nascêssemos de novo. A ética é uma forma de 
renascer, mas não de qualquer maneira, mas sim de encontrar a excelência 
para a qual todo homem nasce. É a razão de ser das utopias (RESTREPO, 
2007, p. 13). 
 
A possibilidade existente em cumprir os preceitos éticos pode ser explicada 
pela ideia aristotélica de que as virtudes não nos são dadas pela natureza. Ela nos 
dá a capacidade de recebê-las, as quais são aperfeiçoadas pelo hábito. Primeiro, 
chega-nos a potência, o pré requisito para exteriorizar a atividade; a partir daí, há 
possibilidades de desenvolver a segunda natureza, ou seja, de fomentar as próprias 
utopias positivas, onde tem lugar a ética jornalística. 
Em suas observações sobre manuais jornalísticos, Chaparro (2007) compara 
os nossos com alguns estrangeiros, e questiona sobre o significado de nenhum dos 
brasileiros, nos textos introdutórios, trazerem qualquer termo ou mesmo ideia relativa 
ao dever da busca da verdade. Na sua interpretação, isso combina com o fato de que, 
na prática, o interesse do leitor não tem “poder de interferência,” nem nas intenções 
nem nos conteúdos (CHAPARRO, 2007, p. 130). Chama a atenção, 
Os próprios jornais, que deviam exigir dos seus profissionais 
comportamentos morais rigorosos, no que diz respeito à veracidade dos 
relatos jornalísticos, dão frequentemente demonstrações de que os 
discursos éticos dos editoriais, sempre exaltadores dos compromissos com 
a verdade, não passam de retórica hipócrita (CHAPARRO, 2007, p. 132). 
 
A verdade ou veracidade no jornalismo significa objetividade, fidelidade do 
repórter ao relatar o fato ocorrido a ser noticiado. Na compreensão de Gomes (1991), 
não só um princípio ético, mas também uma teoria do conhecimento e uma ontologia. 
O texto jornalístico compartilha com o contrato de valor fiduciário entre 
sociedade e jornalismo para que este cumpra a promessa deontológica e democrática 
de divulgar a veracidade das notícias às audiências. Igualmente, discute-se a 
possibilidade ou não da objetividade no trabalho dos jornalistas, considerando as 
56 
 
 
condições das práticas diárias nas redações e a própria natureza das produções 
individuais. Produções estas, naturalmente, carregadas de elementos históricos, 
socioculturais e políticos, impregnados desde a formação do ser até a assimilação de 
comportamentos socioambientais e profissionais transmitidos à escritura pessoal. 
Assunto provocador e complexo, ser objetivo e verdadeiro na transmissão dos 
fatos é uma exigência presente em 100% dos códigos de deontologia jornalística. 
 A história do jornalismo aponta alguns tipos de procedimentos chamados de 
éticos, que se transformam, conforme Karam (2004), em condutas da profissão 
presentes nos princípios e códigos. Entre os 24 itens da lista apresentada pelo autor, 
escolheu-se discorrer sobre a objetividade – verdade, precisão, verossimilhança ou 
exatidão –, por tratar-se justamente do que se considera primordial neste livro. 
Guerra (1998) evidencia o que ele assimilou como “imperativo ético fundante 
do jornalismo”: a premissa de que o jornalista deve ater-se aos reais acontecimentos 
dos fatos, até por conta do pensamento subjacente do crédito de confiança 
depositado pela audiência, o que não poderia deixar de ser dessa maneira, visto que 
o fato noticiado não é vivido diretamente pelo público. 
O crédito firmado na crença e no reconhecimento, componentes do poder 
simbólico tratado por Bourdieu (1989), é conferidopelos agentes a uma pessoa ou 
objeto. O exemplo é abordado no campo político, mas pode ser adaptado ao campo 
jornalístico na relação entre jornal e leitor, espectador ou internauta. A notícia é 
recepcionada, em geral, pelo leitor como verdade, afinal o poder simbólico, nesse 
sentido considerado de valor fiduciário, é um crédito que “aquele que lhe está sujeito 
confere aquele que o exerce” (BOURDIEU, 1989, p. 188). Dizendo de outra forma, 
assim como o homem político retira sua força política da confiança que o grupo lhe 
deposita, o leitor confia nos jornalistas, mediante um “acordo de cavalheiros”, na 
expressão de Traquina (1993), estabelecido para garantir a fronteira entre o real e a 
ficção. 
Seu objetivo no fazer jornalístico corresponde a ser o mais fiel possível na 
transmissão do fato ocorrido, na sua representação pelo verbo, evitando-se a 
influência direta e consciente do profissional, o sujeito que detém o conhecimento no 
jornalismo. São três as determinações metodológicas, de acordo com Guerra (1998), 
57 
 
 
para alcançar a objetividade: a intenção do repórter, rigor na apuração dos fatos e a 
redação das notícias. 
A neutralidade representa a isenção do repórter diante dos inúmeros 
interesses que circundam o fato, diga-se, de méritos políticos, financeiros ou 
diretamente pessoais; denota, pois, a não tendenciosidade e sugere evitar a 
partidarização prejudicial a um dos lados envolvidos. A indistinção é fator de avaliação 
da credibilidade jornalística e está prescrita no Código de Ética dos Jornalistas 
Brasileiros. 
Emerge nos anos de 1970, os estudos da parcialidade (news bias studies) e 
fazem parte da Teoria da Ação Política Jornalística. Conforme Robert Hackett (1993), 
a parcialidade, ou o que geralmente se aceita como seu oposto, a objetividade, são 
conceitos que a maioria dos cidadãos associa tanto ao papel político quanto ao 
ideológico dos media noticiosos. A intrusão da “opinião” subjetiva do repórter ou da 
organização em um relato “factual” é a parcialidade. Para Hackett, o fenômeno tem 
dois momentos tensos enquanto critérios da objetividade: a falta de “equilíbrio” entre 
pontos de vista concorrentes e a “distorção” tendenciosa e partidária da “realidade” 
(HACKETT, 1993, p. 103). 
A objetividade é motivo de muitas contendas. Para se transmitir a “verdade” 
pura teria que haver um consenso em volta de um único ponto de vista para interpretar 
os fatos, já que há propósitos diversos oriundos de culturas ou origens sociais 
variadas. Quando observa interpretações diversas dos acontecimentos, Molotch e 
Lester (1993, p. 36), dizem que como os indivíduos ou as coletividades têm propósitos 
diferentes, “enraizados em diversas biografias, estatutos, culturas, origens sociais e 
situações diferentes”, eles terão utilizações diferentes e opostas para as ocorrências. 
Os estudiosos norte-americanos citados ressaltam que os profissionais da 
mídia conseguem produzir um produto que favorece as necessidades de 
acontecimentos de certos grupos sociais e desfavorece as de outros. Para eles, o 
abafamento de tal multiplicidade facilita o processo de hegemonia de quem detém o 
poder (MOLOTCH; LESTER, 1993, p. 41). Essa “verdade” que se revela hegemônica, 
na opinião de Guerra (1998), abala o compromisso ético fundante do jornalismo que 
se baseia sobre uma teoria do conhecimento equivocada: 
58 
 
 
O jornalismo não é o espelho do real, a objetividade é inatingível. Mas, 
apesar disso, toda a instituição jornalística insiste nela. Tem-se um impasse 
quanto à validade do imperativo ético: é sustentado pela perspectiva 
hegemônica, que se pretende consensual, mas é colocado em causa pelos 
setores divergentes, que não se veem contemplados por ele. Os indivíduos 
que compõem tais setores não se sentem membros em igualdade de 
condições com outros pares que defendem os valores morais vinculantes 
dessa comunidade (GUERRA, 1998, p. 53). 
 
Guerra (1998) complementa que toda pretensão de “verdade”, logo, 
esconderia uma pretensão, na teoria nietzschiana, da “vontade de poder”, no anseio 
de uns dominarem outros. 
A propósito de descrever a objetividade como marca do jornalismo americano, 
Jay Rosen (2000) elenca cinco formas de compreendê-la: 
 Como um contrato laboral; 
 Uma teoria para chegar à verdade; 
 Um conjunto de rotinas e procedimentos profissionais; 
 Uma técnica de persuasão e; 
 Um ideal democrático. Na sua avaliação por nenhum desses itens a 
objetividade tem alcançado apoio público suficiente para o jornalismo 
escrito. 
Especificamente, sobre a busca da verdade, chamada de epistemologia ou até 
“ideologia”, o artifício está esgotado em razão do infeliz efeito de alienar o jornalista 
do debate intelectual, já que pretende seguir a “teoria da separação”: “fatos de 
valores, informação da opinião ou notícias dos pontos de vista” para chegar à 
verdade. O pensamento nas ciências humanas no século XX, ao contrário, procurou 
historicamente, desfazer essas separações (ROSEN, 2000, p. 141). Melhor que 
aplicar a objetividade concorda-se com a sugestão de que o jornalista aplique a 
equidade como forma de procurar a justiça e encontrar a linha ética. 
Quanto ao ritual de procedimentos, Rosen (2000) considera que a busca de 
equilíbrio traduz-se menos numa direção e mais numa fuga à verdade. Evidencia que 
para alguns estudiosos, a objetividade é uma forma de fugir à responsabilidade pela 
verdade de seus relatos. Acredita que ela tem a astuciosa habilidade de desvalorizar 
e de desviar qualquer crítica pela simples pretensão de colocar-se no meio, 
59 
 
 
principalmente, nas contendas políticas, “no terreno intermédio e autoritário entre 
extremos” (ROSEN, 2000, p. 142). 
O plano sugerido para obter a objetividade é analisado igualmente por Gaye 
Tuchman (1993), que a observa do ponto de vista dos profissionais. É vista como um 
ritual estratégico usado para proteção contra os riscos profissionais ou para 
neutralizar potenciais críticas internas – os prazos impostos para entrega de material 
e reprimendas dos superiores – e as externas – processos difamatórios ou problemas 
com fontes. O ritual é uma tática defensiva em favor de jornalistas, contra críticos, 
público, fontes ou autoridades envolvidas. 
Dessa forma, o foco da objetividade é transferido da notícia para a conduta dos 
profissionais, portanto, para a questão ética. “A objetividade não reside nas próprias 
notícias, reside mais no comportamento dos jornalistas” (ROSCHO, 1975 apud 
SOLOSKY, 1993, p. 96). Opina Solosky (1993), que para os jornalistas, a objetividade 
não significa que eles são observadores imparciais de acontecimentos, como os 
cientistas sociais, mas que procuram e relatam os fatos do modo mais imparcial e 
equilibrado possível. 
Conforme Tuchman, mesmo seguindo os procedimentos noticiosos, tidos 
como atributos formais utilizados como estratégias dos jornalistas para atingirem a 
meta objetiva, não se pode dizer que conseguem alcançar a objetividade. Os 
procedimentos sugerem que: 
 Constituem um convite à percepção seletiva; 
 Insistem erradamente na ideia de que “os fatos falam por si”; 
 São um instrumento de descrédito e um meio do jornalista fazer passar 
a sua opinião; 
 São limitados pela política editorial de uma determinada organização 
jornalística, e; 
 Iludem o leitor ao sugerir que a “análise” é convincente, ponderada ou 
definitiva (TUCHMAN, 1993, p. 89 
Os métodos citados, além de transparecer falta de clareza ética, mostram a 
discrepância entre os objetivos procurados, os alcançados e os meios utilizados. O 
jornalismo recebe a aquiescência pública para assumir o encargo de ser o discurso 
60 
 
 
da realidade. A objetividade, um instrumento que tenta divulgar um discurso fiel ao 
fato, logo, um caminho para realizar a missão, torna-se impossível (GUERRA, 1998). 
Entre o fato e a versão, existe a mediação do jornalista quecarrega toda uma 
formação cultural, é o que argumenta Rossi (2000). Apesar de defender a 
possibilidade de um jornalismo objetivo, admite que o exercício da objetividade com 
relação aos fatos de grande incidência política e/ou social não é mais do que “um 
mito” (ROSSI, 2000, p. 10). Em crítica ao livro de Rossi, Adelmo Genro Filho (1987) 
assegura que o texto está baseado em pressupostos falsos, tal qual o argumento de 
que os fatos jornalísticos são em si mesmos objetivos. Afirma que o que Rossi não 
percebe – porque teoriza a partir do “‘senso comum” da ideologia burguesa e da sua 
relação pragmática com as técnicas jornalísticas – é que os próprios fatos, “por 
pertencerem à dimensão histórico-social, não são puramente objetivos” (GENRO 
FILHO, 1987, p. 49, grifos do autor). 
Percebe-se que a questão da objetividade, no âmbito jornalístico, é bifacial: 
seu lado positivo prima pela verdade no relato noticioso; a face negativa, por assim 
dizer, usa-a como estratégia para fugir da responsabilidade política peculiar da 
profissão. O que, naturalmente, não é aceitável, afinal, o papel político que caberia à 
imprensa desempenhar nos termos de um “Quarto Poder” é explicado por alguns 
modelos. Entre eles, o Fourth Estate que descreve a imprensa como um contra poder, 
cujo papel é promover um controle externo do governo, em nome do interesse dos 
cidadãos. 
A objetividade vive uma crise pelo seu descrédito, por ser um mito falível e de 
baixa inspiração, assim pensa Rosen (2000). Sua proposta de revitalização requer 
maior implicação pessoal e profissional nos fatos e persegue uma verdade 
desinteressada como ideal democrático. Na explanação de motivos que combatem o 
instrumento metodológico e ético, o autor sugere maior envolvimento do profissional 
nas causas civis, 
Chamo ‘jornalismo público’ a uma teoria e a uma prática que reconhece a 
suprema importância que tem o melhorar a vida pública. Em poucos anos 
será crítico para as pessoas no jornalismo declararem um fim a sua 
neutralidade em certas questões. Por exemplo, se as pessoas participam ou 
não, se temos debate genuíno neste país, se o sistema político funciona, se 
a vida pública atrai os seus cidadãos, seus líderes políticos merecem o nosso 
respeito. À medida que estes comecem a compreender que não podem dar-
se ao luxo de ser neutros nestas questões, começarão talvez, a lutar pela 
sua própria filosofia, uma filosofia que consiga substituir a objetividade por 
61 
 
 
algo mais forte e, se posso expor as coisas assim, mais inspirador (ROSEN, 
2000, p. 150). 
A atitude seria um antídoto em vista do que o estudioso citado encara como 
objetividade: “uma filosofia muito má e impraticável para a tarefa de reaproximar os 
cidadãos da política e da vida pública” (ROSEN, 2000, p. 148). O alvo então é a nova 
“teoria da credibilidade”, onde o crédito é alcançado porque o profissional, segundo o 
autor, envolve-se, preocupa-se, importasse com a comunidade. Pela teoria anterior, 
a objetividade advém da imparcialidade e da distância. Desacreditado o mito, 
perguntasse no texto qual a filosofia pública mais forte para o jornalismo. Reconhecer 
o seu papel na construção da democracia, responde. Ela deve ser criada, 
reinventada, reimaginada; com tal assunção, surgirá uma nova abordagem 
profissional. Podemos dizer, sentencia o autor, que o jornalismo é uma das mais 
“importantes artes da democracia, e que o seu objetivo final não é fazer notícias ou 
reputações, ou manchetes, mas simplesmente fazer a democracia funcionar” 
(ROSEN, 2000, p. 150). 
Há de se acreditar em tudo isso, há de se concordar com a imprescindibilidade 
da ética na imprensa, todavia, não é consciente desconhecer o contexto diário da 
produção de notícias. Assim, não se pode esquecer das palavras de Restrepo (2007), 
sobre as interveniências que dificultam muitas vezes o cumprimento dos ditames 
éticos jornalísticos, transformando-os em utopia. As teorias jornalísticas vêm explicar 
esses processos que lidam com a realidade da profissão. O Conselho de 
Comunicação Social é um outro lugar construído de onde se pode falar do exercício 
ético jornalístico. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A ética é uma constante na contemporaneidade, seu tema permeia várias 
frentes e assuntos como a ética pessoal, profissional, a ética social, política, privada, 
dos direitos humanos, a ética ambiental, médica; aquela voltada ao mundo 
acadêmico, a ética da comunicação, incluindo a mídia e o jornalismo. Ainda discute-
se a ética do futuro, pela qual temos responsabilidade geracional. Há muitas 
variantes, por conseguinte, não se acaba nesta simples lista. 
62 
 
 
Há outra questão a considerar: a globalização e o desejo de progresso de 
qualquer modo, com o fito de melhorar a vida da população, têm perdido o fascínio 
em virtude do efeito contrário, um gap cada vez maior das diferenças entre os 
cidadãos dos países politicamente fortes, centrais e ricos e os outros frágeis e 
periféricos. Com isso, a ética deixou de ser vista como uma “questão abstrata e 
passou a constar da lista das mais caras exigências públicas contemporâneas” 
(GARRAFA, 2006, p. 32). 
Apesar de tão propalada nos dias de hoje, pode traduzir, ao contrário, a sua 
ausência, a deformação de valores espirituais e sociais, a descrença absoluta nas 
sociedades contemporâneas. A discussão está presente nas academias, entretanto, 
não com tanto vigor. Benetti (2003, p. 1) confessa que o valor da ética jornalística é 
ensinado aos alunos, a credibilidade é repassada como o maior bem de um veículo 
(e de um profissional). No entanto, em algum lugar do caminho, “a ética e a 
credibilidade tornaram-se velhinhas simpáticas, mas ultrapassadas – para alguns, 
inclusive um estorvo”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ABRAMO, Cláudio. A regra do jogo: o jornalismo e a ética do marceneiro. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1988. 
ALBERTI,Verena. O riso, as paixões e as faculdades da alma. In: ENCONTRO 
ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM 
CIÊNCIAS SOCIAIS, 18, 1994, Caxambu-MG. Anais... Caxambu: ANPOCS, 1994. 
ALBUQUERQUE, Afonso de. A três faces do Quarto Poder. In: MIGUEL, Luis 
Felipe; BIROLI, Fávia (Org). Mídia, representação e democracia. [S.I.] Editora 
Hucitec, 2011.ISBN: 9788579700316. 
ALMEIDA, Jorge. Marketing político, hegemonia e contra hegemonia. São 
Paulo: Xamã, 2002. p. 26-50. 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2. ed. Tradução de Edson Bibi. Bauru, SP: 
Edipro, 2007. 
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto 
de François Rabelais. Tradução de Iara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec; Brasília: 
Editora da Universidade de Brasília, 1999. 
BARBOSA, Gustavo; RABAÇA, Carlos Alberto. Dicionário de Comunicação. 
2.ed. Ver. e atualizada. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 
BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros. 
Rio de Janeiro: Campus, 1992. 
BARROS FILHO, Clóvis de. Ética na Comunicação: da informação ao receptor. 
São Paulo: Moderna, 1995. 
BAUER, Martin W.; GASKELL, Georges. Pesquisa qualitativa com texto, 
imagem e som. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 
17-36. 
BAUER, Martin. W. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, 
Martin. W.; GASKELL, Georges. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um 
64 
 
 
manual prático. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. 7.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 
2008. p. 189-217. 
BLÁZQUEZ, Niceto. Ética y Medios de Comunicación. Madrid: Biblioteca de 
Autores Cristianos, 1994. p. 111-113. Publicado por Javier Darío Restrepo em jul. 
2010. Disponível em http://www. fnpi.org/consultorio-
etico/consultorio/?tx_wecdiscussion[show_ cat]=101. Acesso em: jan. 2012. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
28.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 
CABRAL, Otávio; ESCOSTEGUY, Diego. À sombrada constituição. Veja, São 
Paulo, 24 jun. 2009, n. 2118, p. 59-65. 
CABRAL, Otávio; OLTRAMARI, Alexandre; ECOSTEGUY, Diego. A farra é 
deles. A conta é nossa. Veja, São Paulo, 01 de abril de 2009, n. 2106. 
CANTO-SPERBER, Monique. Dicionário de Ética e Filosofia Moral. 2.ed. São 
Leopoldo, RS: Unisinos, 2003. 
CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmática do jornalismo: buscas práticas para 
uma teoria da ação jornalística. 3.ed. Ver. São Paulo: Summus, 2007. (Novas buscas 
em comunicação, v. 44). 
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci. Porto Alegre: L & PM, 1981 (Fontes do 
Pensamento, v. 2). 
DENCKER, Ada de Freitas Maneti; VIÁ, Sarah Chucid da. Pesquisa empírica 
em Ciências Humanas (com ênfase em comunicação). São Paulo: Futura, 2001. 
DIAS, Mauricio. Próprios da mãe-joana. Carta Capital, São Paulo, 01 abr. 2009. 
Coluna Rosa dos Ventos, p. 38. n. 539. 
EDY, Jill A.; MEIRICK, Patrick C. Wanted, Dead or Alive: Media Frames, Frame 
Adoption, and Support for the War in Afghanistan. Journal of Communication, Norman, 
OK, v. 57, n. 1, p. 119-141, mar. 2007. ISSN 0021- 9916. 
ENTMAN, Robert M. Framing: Toward Clarification of a Fractured Paradigm. 
Journal of Communication, v. 43, n. 4, p. 51-58. Dec. 1993. 
65 
 
 
FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de 
interpretação sociológica. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. 
FOLHA DE SÃO PAULO. Manual de redação: São Paulo: Publifolha, 2001. 
FONSECA, Joaquim da. Caricatura: a imagem gráfica do humor. Porto Alegre: 
Artes & Ofícios, 1999. 
 FORTES, Leandro. De olho em Liliput. Carta Capital, 13 maio 2009, n.545, 
p.26. 
GARRAFA, Volnei. Ética aplicada, exclusão social e educação no contexto dos 
países do hemisfério sul. In: SEGRE Marco. A questão ética e a saúde humana. São 
Paulo: Atheneu, 2006. p. 31-37. 
GASPARIAN, Taís. Herança da ditadura: um entulho a menos. Entrevistador: 
Mino Carta, São Paulo, n. 545, seção A Semana, maio 2009. 
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: 
Atlas, 2006. 
GODOY, Arilda Schmidt. Introdução à pesquisa qualitativa e suas 
possibilidades. Revista de Administração de Empresas - RAE, v. 35, n. 2, mar./abr. p. 
57-63, 1995. 
GOMES, Wilson. Audiosfera política e visibilidade pública: os atores políticos 
no Jornal Nacional. In: GOMES, Itania Maria Mota (Org.). Televisão e realidade. 
Salvador: Edufba, 2009. p. 175-222. 
HACKETT, Robert. Declínio de um paradigma? A parcialidade e a 
objectividade nos estudos dos media noticiosos. In: TRAQUINA, Nelson (Org.). 
Jornalismo: qestões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1993. p.101-133. 
HALL, Stuart et al. A produção social das notícias: o mugging nos mídia. In: 
TRAQUINA, Nelson (Org). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 
1993. p.224-248. 
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2001. 
66 
 
 
HUBBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 
1981. Traduzido da 3ª edição publicada em 1959 pela Monthly Review Press, Nova 
York, EUA. 
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de 
Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2008. 
KINDER, Donald. Curmudgeonly Advice. Journal of Communication, v. 57, n. 
1, Mar. 2007. 
LIMA VAZ. Henrique C. de.Escritos de Filosofia IV. Introdução Ética Filosófica 
1. São Paulo: Edições Loyola, 1999. 
LOPES, Maria Immacolata Vassalo. Pesquisa em comunicação: formulação de 
um modelo metodológico. São Paulo: Loyola, 1990. 
MAIA, Rousiley. Debates públicos na mídia: enquadramentos e troca pública 
de razões. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 2, p. 303-340, jul./dez. 
2009. 
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da 
metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2010. 
NASH, Laura. Ética nas Empresas: guia prático para soluções de problemas 
éticos nas empresas. São Paulo: Makron Books, 2001. 
NUZZI, Erasmo de Freitas. História da Faculdade de Comunicação Social 
Cásper Líbero: edição comemorativa do cinqüentenário. 2.ed.São Paulo: Agil Gráfica 
2000 
PEGORARO, Olinto. Ética dos Maiores Mestres através da História. 3 ed. 
Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. 
QUALIDADE sem diploma. Veja. São Paulo, 24 jun. 2009. n. 2118, p. 12. 
QUINTERO, Alejandro Pizarroso. História da imprensa. Lisboa: Planeta, 1996. 
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. São Paulo: Loyola, 1994. 2v. 
SAINT-Pierre, Héctor. Max Weber: entre a paixão e a razão. 2.ed. Campinas, 
SP: Editora da Unicamp, 1994. 
67 
 
 
SCHLESINGER, Philip. Os jornalistas e a sua máquina do tempo. In: 
TRAQUINA, Nelson (Org). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Veja, 
1993. p. 177-190. 
THOMPSON, John B. O escândalo político: poder e visibilidade na era da 
mídia. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. 
VAZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Tradução de João Dell’Anna. 30.ed. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. 
WEBER, Luiz Alberto. Na cozinha da CPI. Carta Capital, São Paulo, n. 352, 27 
jul. 2005. p. 18-24. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 
Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2004. (Coleção A obra-prima 
de cada autor) 
WORLD BANK. Governance and Development. Washington, D.C., 1992.