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1 ÉTICA E JORNALISMO POLÍTICO 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 Democracia, ética e opinião pública ................................................................ 6 Ética como morada do jornalismo.................................................................... 9 Mais que uma ética do cidadão ..................................................................... 19 O JORNALISMO E O COMPORTAMENTO ÉTICO DO FUTURO ................ 25 Rumo Cultura Da Transparência ................................................................ 26 O Jornalismo Depende Da Ética ................................................................ 28 Papel social da ética .................................................................................. 30 OS CONFLITOS DIANTE DAS NORMAS ..................................................... 33 As Crises Éticas do Jornalismo .................................................................. 37 CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS ............................ 44 DEONTOLOGIA E O CONTEXTO POLÍTICO ............................................... 47 Deontologia: tratado dos deveres jornalísticos........................................... 47 Ética e Deontologia Jornalísticas ............................................................... 47 Os postulados da doutrina estratégica profissional .................................... 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 61 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 63 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO A preocupação com a ética sempre esteve presente no pensamento humano, confunde-se, pois, com sua própria história. Os filósofos gregos, os pensadores cristãos, modernos e os contemporâneos estudaram, falaram, ensinaram ou escreveram, e ainda o fazem, a respeito do tema. Graças aos incontáveis debates sobre o assunto, a última década do século passado foi considerada a década da ética, principalmente pelos profissionais ligados aos meios de comunicação de massa. Nos últimos quinze anos, sobretudo, os jornalistas buscaram descobrir a verdade, denunciar o lado opaco, a corrupção política, econômica; os desvios financeiros e os escândalos envolvendo os agentes públicos (Mattos, 2009, p. 245-246). Faz-se necessário dissertar, de início, um pouco sobre o uso das denominações ética e moral, ainda hoje empregadas, muitas vezes, como sinônimos. Etimologicamente ética (ethike), a partir de Aristóteles, qualifica um tipo de saber. O termo grego, segundo Lima Vaz (1999), vem do grego ethos com duas grafias distintas (ethos e éthos) para explicar o mesmo sentido: “modo de ser”, “caráter”, “uso” ou “forma de conduzir-se”. Ethos (eta inicial) significa os usos e costumes de um grupo. Éthos (com épsilon) pode ser entendido como a constância do comportamento, “a realidade histórico-social dos costumes” (Lima Vaz, 1999, p. 13). Prevaleceu o significado original do grego que denota a moradia, a morada habitual de alguém ou abrigo dos animais, que passou a designar a maneira de ser habitual, o caráter, a disposição da alma. Praticamente com o mesmo significado, em latim, “costume” corresponde a mos, mores, moralis originando a palavra moral e que corresponde ao grego ethos. Tanto para ethos ou mos, (caráter e costume) designam 4 o mesmo objeto – costume – seja social ou hábito individual legitimado pela sociedade (Lima Vaz, 1999, p. 13-14). Em verdade, na contemporaneidade, as palavras são usadas indiscriminadamente, mas elas têm definições diferentes. Moral conjunto de regras de conduta, ou hábitos julgados válidos para uma sociedade num determinado momento histórico. Ética é o produto do acordo entre a consciência e os preceitos morais consagrados. Moral se associa a regras que nos são impostas de fora para dentro, valores que aceitamos por terem sido padronizados pela sociedade a que pertencemos. Ao contrário, ética significa reflexão sobre esses valores o que nos leva à possibilidade de estabelecermos juízos e opções pessoais. Percorre, portanto, um caminho inverso, ou seja, de dentro para fora. Se a moral apresenta valores acabados, a ética convive com uma permanente elaboração subjetiva (Siqueira; Eisele, 2000 apud Garcia, 2008, p. 27, grifos do autor). A ética influencia a moral no estudo do comportamento humano. O direito à informação e à liberdade de expressão, preceitos constitucionais, “são princípios éticos que devem nortear todas as leis reguladoras dos costumes na informação” (Chaparro, 2007, p. 36). A moral individual está aí representada, no caso dos jornalistas, conforme o autor acima, exemplificada pelo Código de Ética, mais que um código moral comportamental, do que de ética. Através dos meios de comunicação a população brasileira tem tomado conhecimento de desvios éticos, descomposturas ou improbidades políticas e administrativas na vida pública. O desvelamento de transgressões ocorridas no proscênio do Congresso Nacional, graças às ações vigilantes dos media, tem ocupado as páginas, telas ou microfones do jornalismo político brasileiro transformando tais explosões em escândalos nacionais. Situar a atuação do jornalismo em uma reflexão ética é colocar o foco de algumas questões elementares da prática profissional em discussões sobre o papel da profissão na sociedade hoje em dia. É uma iniciativa que pode ter por referência um documento, um código de ética ou deontológico, mas que pode transcender a análise dos códigos, princípios e declarações já estabelecidas, e colocar-se na busca de um sentido mais amplo para a profissão e o entendimento do que ela pode estar fazendo. Os estudos sobre a ética, ou seu exercício e aplicação no Jornalismo possuem uma trajetória, que pode 5 ser percebida, e recontada, a partir da produção acadêmica na área, foco desses estudos. A reflexão sobre o jornalismo, partindo de parâmetros éticos de análise, sempre levanta uma tensão entre o potencial do seu “dever” e seus modos da rotina de produção. Aspecto sempre ressaltado em torno dessas problematizações éticas da prática jornalística sempre surge em função dos papéis de espaço público de poder e estabelecimento de áreas de discussão, desempenhados pelo jornalismo. Em razão da defesa da função social da prática jornalística, dos deveres morais e éticos envolvidos na prática profissional, diversos organismos internacionais passaram a elaborar códigos de ética para os jornalistas.Karam em seus trabalhos recupera o código de ética para a profissão criado em 1910, em Kansas (EUA) e cita também o Código de ética dos Jornalistas Franceses, datado de 1918.No contexto brasileiro, o autor lembra o Código de ética dos jornalistas brasileiros, editado pela primeira vez em 1985 e o código de ética da Associação Nacional de Jornais, de 1991. A tarefa de tornar o mundo menos complexo, organizá-lo não é simples e nem fácil. Tem técnica, tem ideologia, tem moral, tem interesses e pressões, tem o próprio olhar sobre o mundo; fé e descrença. Mas ao escolher produzir este conhecimento é estar ciente das dores das escolhas, das batalhas inevitáveis e das pragas que estarão sempre ao redor de quem carrega os princípios éticos como anticorpos. São os princípios os geradores de credibilidade. Uma credibilidade que é elemento fundamental no jornalismo sério- não sensacionalista- que, na era da pós-verdade, está dando passos e se aproximando da emotividade. Movimento que debilita o contrato fiduciário e produz alterações significativas levando ao aparecimento de um contrato de adesão. Com o contrato fiduciário, o relato jornalístico tinha que ganhar e justificar sua credibilidade. Com o contrato de adesão, fatores emocionais deixam de ser coadjuvantes para assumir o protagonismo na construção do mundo possível, realizado pela autoridade enunciadora: o meio de comunicação. 6 O grande problema da emotividade é superar os fatos na interpretação da construção da realidade é que nós, integrantes da sociedade, corremos o risco de perder o sentido autocrítico. Normalmente, para ser autocrítico, as pessoas devem começar a desconfiar de suas próprias percepções. Quando começamos a perceber que esse sentido alto crítico vai diminuindo por causa da emotividade, pode ter a tentação de ser injusto, perde a distância, posicionam-se, aderindo a um discurso, a uma única forma de ver a realidade. A grande questão é que a realidade é poliédrica. Aí se pode produzir a incompreensão do outro. É uma espécie de cegueira, porque, por causa da proximidade emotiva, não entende o olhar do outro e o outro não entende seu olhar. O perigo, então, está mais próximo com a explosão informativa, aderida pela emotividade e não pelos fatos. Por isso exige profissionalismo dos enunciadores e uma educação para comunicação focada nessa audiência bombardeada por hiperinformação e exige cada vez mais compromisso com a sociedade. Democracia, ética e opinião pública O respeito à liberdade de imprensa, de expressão, respeito à alteridade, à verdade; a autonomia e a transparência das ações governamentais fazem parte do contexto democrático e jornalístico. Com a prerrogativa que a mídia tem de fiscalizar as atividades do poder governamental e seus representantes, os jornalistas podem apontar e responsabilizá-los pelos desvios, cumprindo os princípios éticos, se auxiliadas por outras instâncias que compõem o aparelho do Estado, partidos de oposição, conselhos de ética, comissões parlamentares de inquérito, Ministério Público, Defensoria Pública, o Poder Judiciário, a Polícia Federal, tribunais de contas e as corregedorias (SILVA, 2008). Apesar da vantagem da imprensa de vigiar o poder, a missão não é franqueada a todos os profissionais. Medina (1988) defende alguns traços fundamentais para o perfil de um produtor de informação na democracia, entre eles a ética profissional, 7 capacidades técnicas para investigar a realidade presente e imediata, capacidade de relação com a realidade social, capacidade técnica e artística no domínio da linguagem, acúmulo de informações e vivências a serviço do enriquecimento profissional. O produtor de informações, como qualquer cidadão ator político, também está submetido ao pensamento aristotélico de que a ética está subordinada à política, o bem individual condicionado ao bem geral. Aristóteles pensava a política em duas esferas: a ética como ação individual; a política, uma ação em sociedade. Para o filósofo, assegurar o bem de uma nação ou estado é uma realização maior que cuidar do indivíduo. Seu pensar aponta que o bem absoluto é autossuficiente: Por autossuficiente não entendemos aquilo que é suficiente para um homem isolado, para alguém que vive uma vida solitária, mas também aos pais, os filhos, a esposa e em geral para os seus amigos e concidadãos, já que o homem é um animal político (ARISTOTELES, 2007, p. 26). Centralizar a questão da política e da ética no bem comum também foi a ideia de Jean-Jacques Rousseau (2006), quando explicou a democracia no seu Contrato Social, escrito em 1757, ainda atual. Alerta sobre o perigo da influência dos interesses privados nos negócios públicos, pondera que é um mal menor o abuso das leis pelo governo do que a corrupção do legislador, resultado infalível dos alvos particulares. Adepto da democracia direta, Rousseau (2006, p. 67) não acreditava na verdadeira democracia. Afirma que nunca existiu e talvez nunca existirá. “É contra a ordem natural que um grande número governe e seja o pequeno governado”. Pensa dessa maneira visto a reunião de condições, instituídas por ele mesmo, para concretizar tal governo, principalmente pela dificuldade de agrupá-las. Em suma, para o suíço, o sonho democrático passa longe da imperfeição humana, disse ele que se houvesse “um povo de deuses”, seria governado democraticamente, mas aos homens não convém tão perfeito governo (ROUSSEAU, 2006, p. 68). Na democracia direta o termo democracia significa o poder (krátos) do povo (démos), porque o povo decide suas próprias questões. Hoje, o poder é dado aos representantes dodémos, na chamada democracia representativa. Démosé um radical grego entendido como “comunidade dos cidadãos”. Conforme descrição de Bobbio (2000a), a democracia como poder dos mais, dos muitos, do povo, da massa, 8 dos pobres, dos ricos é definida de várias maneiras. O ponto nuclear, no entanto, é a igualdade de natureza baseada na ética cristã que dita serem todos filhos de Deus; trata-se da isogonia, que considera todos os indivíduos dignos de governar, portanto, o fundamento ideal da democracia. A ideia da irmandade humana leva à corrente ética do Consequencialíssimo e sua versão mais familiar, o Utilitarismo. Fundado por Jeremy Bentham (1748-1832), a doutrina prega que uma ação só pode ser julgada boa ou má se forem consideradas suas consequências, boas ou más, para a felicidade de todos os envolvidos. Há um traço prescritivista no utilitarismo no sentido que pede uma universalização da máxima individual. Para Bentham, a ação moralmente justificada é aquela cujas consequências devem produzir a maior felicidade para o maior número de indivíduos (BENTHAM apud CANTO-SPERBER, 2003, p. 738). Ou seja, quer atingir metas, reduzir danos, quer um benefício imediato e causar felicidade, mas não inclui todos. Bentham estabeleceu a distinção entre “o princípio da felicidade maior” para uma maioria como o único fim universalmente desejável e “a felicidade de cada homem” que é seu único fim verdadeiro (atual) (CANTO-SPERBER, 2003, p. 740). Immanuel Kant, quem primeiro defendeu a ética deontológica, afirma que o bom é expresso na boa vontade, assim a felicidade não será plena se não corrigida pela boa vontade. O princípio kantiano põe de lado o que é contrário ou conforme o dever. Quando se age apenas por dever, não por inclinação ou medo, sua máxima tem um conteúdo ou tem autêntico valor moral. Ao contrário do utilitarismo, aqui as regras morais são válidas pelo seu caráter universal sem admitir exceções. Kant expressa através do seu imperativo categórico: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT, 2008, p. 62). O que transforma, portanto, uma lei em lei moral é o desejo que ela se torne universal, que seja boa paratodos, não para a maioria. O deontologismo processual ou moderado é representado por nomes como John Rawls e Jurgen Habermas, cujas teses contrariam o utilitarismo. A Teoria da Justiça moderna de Rawls traz os princípios da igualdade e da desigualdade. O primeiro defende os direitos humanos de participação política, de opinião, de consciência, religião etc.; o segundo refere-se à distribuição de bens, à repartição dos encargos públicos, dos deveres e vantagens sociais. As desigualdades são aceitas 9 desde que beneficiem os mais desfavorecidos socialmente ou que tenham iguais oportunidades de acesso aos cargos públicos. Os critérios de ingresso são os da aptidão, formação e competência comprovadas por concurso público (RAWLS apud PEGORARO, 2008, p. 126). A ideia de consenso também foi contemplada por Habermas (2003) apresentando o Princípio de Universalização (U) como regra de argumentação moral. Afirma que as normas somente serão válidas enquanto aceitas por todos os concernidos. Defende um princípio que força “cada um”, a adotar, na ponderação dos interesses, a perspectiva de “todos os outros”. Prenuncia que, Toda norma válida deve satisfazer a condição que as consequências e efeitos colaterais, que (previsivelmente) resultarem para a satisfação dos interesses de cada um dos indivíduos do fato de ser ela universalmente seguida, possam ser aceitos por todos os concernidos (e preferidos a todas as consequências das possibilidades alternativas e conhecidas de regragem) (HABERMAS, 2003, p. 86, grifos do autor). O filósofo introduz, através da ética do Discurso (D), o princípio validador das normas: “São válidas as normas de ação às quais todos os possíveis atingidos poderiam dar o seu assentimento, na qualidade de participantes de discursos racionais” (HABERMAS 1997, p. 142). Admite em particular, que a validade de uma regra existe apenas, quando todos os participantes do discurso prático chegam a um acordo, portanto, a elaboração dos princípios morais, no entender de Canto-Sperber (2003), é o resultado de um processo de discussão. Habermas entende a formação da opinião pública pela comunicação crítica enquanto condição para a opinião rigorosamente pública, o que só se dá com a participação de pessoas privadas nos processos formais de comunicação (HABERMAS, 2003, p. 287). Ou seja, para ser admitida como pública são necessárias vozes de diferentes públicos ou não concentrará “o juízo de valor formulado pelo povo” a respeito de um determinado fato (MELO, 1971, p. 51). Ética como morada do jornalismo 10 As duas principais categorizações da eticidade, a ética pessoal ou privada e a ética social ou pública, são contempladas enquanto classificam o mundo da política como a razão do Estado; e do outro lado, a moral como razão do indivíduo. A política compõe o universo da ética pública, desde quando abarca tudo aquilo que diz respeito a polis e ao bem estar comum, também estendida ao que acata o nome de “razão do Estado”, a qual, para Bobbio (2000b, p. 176-177), acolhe ações justificadas ou exaltadas por aquele que detém o poder. São duas razões que quase nunca se encontram [...] O que talvez seja necessário ainda acrescentar é que a razão de Estado nada mais é que um aspecto da ética de grupo, ainda que o mais clamoroso, sendo o Estado a coletividade no seu mais alto grau de expressão e potência. Pode-se ainda considerar, no mesmo cômputo classificatório, além da ética pública e privada, os tipos éticos de autoria de Weber (2008): a ética da convicção, dos princípios ou dos últimos fins e a ética da responsabilidade ou dos resultados. A primeira não se preocupa com o que vem depois, não questiona os resultados. A segunda categoria de normatividade prima pelas consequências previsíveis das ações, sempre imputáveis ao autor. As duas máximas diferentes e opostas subordinam “[...] qualquer atividade orientada segundo a ética”. Sem dúvida, convenientes e adaptáveis ao campo jornalístico” (WEBER, 2008, p. 114). Com denominações semelhantes, também se qualifica nesse horizonte a ética social e pessoal, entretanto, há de sopesar que a ética em si mesma, na sua origem, é pessoal. Isso porque, cada ser humano escolhe, por sua consciência pura e simples, o que fazer. As “normas” ou “modelos” de condutas pelos quais se opta na vida seguem o livre-arbítrio de cada um conforme seus desejos, visão de mundo, necessidades e a noção de responsabilidade individual (ARANGUREN, 1967). No que se refere à pessoa, ao indivíduo jornalista, aquele considerado sujeito emissor do espaço midiático de visibilidade, como qualquer outro receptor de mensagens, decifra os produtos dos media a partir de um conhecimento interpretativo anterior que o guiará na escolha do que é relevante a ser utilizado em suas próprias comunidades ou contextos culturais e políticos específicos (MAIA, 2008, p. 174). Explicita-se, com merecida ênfase, o esteio ético nas práticas jornalísticas. São acentuados os valores pertinentes a essa profissão como características de uma 11 função social e do direito à informação. Chaparro (2007, p. 16) lembra os novos papéis que o mundo solicita dos jornalistas: papéis de [...] narrador crítico, confiável, independente, radicalmente honesto e “comprometido com projeto ético da sociedade”. Contudo, o papel ético não é devido só ao jornalista, mas às empresas, aos receptores e à própria sociedade, daí a necessidade de debater o tema em conjunto. Parodiando Martin Heidegger (2008, p. 326), ao dizer que “a linguagem é a morada do ser”, pode-se afirmar também que a ética é a morada do jornalismo. Sabe- se de antemão que o cidadão tem direito pleno à informação, o imperativo está disposto, além da Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Constituição Brasileira e no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. O direito fundamental à informação gera a ética que deve reger os jornalistas, as empresas de comunicação e seus vínculos com as fontes, o público e o poder. Quando o poder subtrai do cidadão a informação devida, corrói as bases do exercício do jornalismo ético e corrompe a sociedade. As faltas éticas que vitimam a sociedade são causadas em maior número pelas empresas; são, portanto, institucionais e não desvios pessoais. (BUCCI, 2000, p. 32). A ética na imprensa, conforme a visão de Bucci (2000), é um demarcador de limites para o pragmatismo ilimitado concernente ao mundo empresarial. Ele alerta que enfrentar a discussão ética é aceitar a possibilidade, ainda que numa perspectiva mais ou menos utópica, de buscar mecanismos que protejam valores coletivamente eleitos contra um regime do não-valor moral. O contrário dessa proposta seria o vale-tudo generalizado, o que, aliás, ajuda a esconder o fato de que o ambiente de ausência de parâmetros éticos que orientem as empresas de comunicação é uma situação social – não restrita, portanto, a um segmento profissional. Seguindo, o estudioso afirma que [...] o problema ético é um problema estrutural e sistêmico. (BUCCI, 2000, p. 32- 35) Diante dessa situação, o excluído e interessado na discussão ética é o cidadão beneficiado ou vítima do jornalismo. Bucci (2000, p. 38) declara que os profissionais da imprensa não apreciam debater o assunto da ética: compreende que para eles, significa discutir generalidades, pode ser uma armadilha do inimigo da liberdade de expressão ou 12 motivo para melindrar o chefe. Explica-se, na corrida diária pelas notícias os preceitos são atropelados; apesar da discussão sobre o assunto, tudo continua no mesmo, por isso a conclusão de que o tema se torna improdutivo. O inimigo referido, conforme Bucci, é o “[...] inimigo da liberdade de expressão” aquele que usa a bandeira da ética para posar de vítima [...] de campanhas difamatórias e [...] invasão de privacidade, com o intuito de se beneficiar daimpunidade. O incômodo de discutir o tema nas redações, interpretado pelo autor como um traço atávico, pode ser compreendido pelos caracteres nacionais. A atitude é coerente com a tradição da cultura política brasileira: Esta não prima por valores universais como os direitos humanos nem cultiva critérios impessoais e objetivos na vida profissional e na vida política. Entre nós, os direitos humanos ainda são novidade, o clientelismo ainda é corriqueiro, e a palavra ética, quando aparece, surge mais na condição de adjetivo do que em sua dimensão substantiva. (BUCCI, 2000, p. 39) O gosto morno de discutir a ética no mundo midiático, fato refletido nos manuais de algumas publicações, provoca a dúvida se não seria procedente afinal, os desvios que podem causar algum constrangimento no meio acadêmico, não no mercado. A julgar por Chaparro (2007, p. 124-125), existem dois discursos: o da fisionomia institucional, configurado nos manuais e na metalinguagem de cada veículo; e o discurso produto que resulta da prática desenvolvida no contexto complexo das relações sociais, culturais, políticas e econômicas, “de múltiplos intervenientes e conflitantes interesses”, e do quais jornalistas e editores fazem parte. Daí, o autor entender que [...] o jornalismo brasileiro atravessa uma grave “crise moral” que se reflete nas ações jornalísticas. Lins da Silva entra nesse debate através de Chaparro (2007) para explicar a relativa ausência das discussões sobre ética na imprensa brasileira. Lins atribui o desprezo a uma arrogância histórica, exacerbada durante a Ditadura Militar (1964- 1984), que leva os jornalistas a rechaçar observações críticas sobre seu desempenho sob a alegação de censura e repressão. Após as considerações em favor da eticidade na seara jornalística surge um sentimento misto de curiosidade e reflexão que questiona um caminho sugestivo de como atuaria um profissional das notícias. Restrepo (2010) apresenta não como receituário, apenas sugere um decálogo com importantes características que devem 13 ter o jornalista ético na sua atividade laboral, orientado pelo interesse e bem-estar públicos: Decálogo sobre a Ética e o Periodismo: Não trabalhar sem receber o devido salário; Não ser idiotas úteis; Que se imponha a lógica do serviço; Fazer uso correto da linguagem; Não permitir o sequestro da linguagem; Não alimentar o medo; Trabalhar unidos; Conter a fome de escândalo; Ter agenda própria; O jornalismo tem que passar pelo intelecto (SALAZAR, 2010). O papel do jornalismo e do jornalista diante do Estado e da democracia, seus deveres enquanto cidadão, os quais devem refletir-se na profissão, é o papel de qualquer cidadão. Assim pensa Cláudio Abramo (1988), quando discorda de que o jornalista deva ter uma ética específica. Abramo (1988) retoma certos valores morais básicos, como a estima da palavra dada, o respeito ao próximo, não roubar ou mentir, itens mandatários que permeiam a honra cidadã, por isso argumentos gerais balizadores da conduta humana. De maneira direta, iguala os cidadãos de qualquer profissão no que diz respeito aos preceitos éticos. Vaticina que a ética do jornalista é a mesma do cidadão; em oposição, compreende que em relação às empresas de comunicação, existe, sim, a ética do dono. Jornalista que é não vê diferença entre sua conduta e a de um marceneiro. Trata a ética jornalística como um mito que precisa ser desfeito: o jornalista não tem ética própria “[...] o que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista” (ABRAMO, 1988, p. 109). Tal afirmação encontra eco entre os patrões e de forma institucional, por exemplo, citado por Karam (2004) na decisão, já mencionada no capítulo 2, da juíza 14 federal, Carla Rister, que em 2002, deliberou pela não obrigatoriedade da formação universitária para exercício do jornalismo, sentença depois derrubada. A juíza alega que os requisitos de ordem ética ou moral, argumentados no processo, são pressupostos em qualquer profissão, portanto, não são legitimadores da exigência de diploma. Tal qual Abramo (1988), Rister aplicou o princípio da generalização, quando declara, não sem razão em certo sentido, que tanto a honestidade quanto a ética são atributos adquiridos não apenas durante um curso universitário, mas “[...] compõem o núcleo de personalidade e de caráter do indivíduo”, formado durante toda a vida, pelo exercício da atividade acadêmica, profissional propriamente dito, pela convivência familiar e até mesmo pelas demais formas de convivência em sociedade (CONJUR, 2004, p. 7). A sentença corrobora aspectos individuais em formação desde a infância, convívio na comunidade e o aprendizado acadêmico os quais formarão o caráter, esse indissociável dos atos sociais e históricos como o exercício de uma profissão. Menciona uma ética privada, que não pode ser descartada por qualquer trabalhador no seu agir diário, porém o que estava em jogo era uma decisão de ordem pública no âmbito profissional. A generalização deontológica em favor de uma ética única do cidadão advogada por Abramo, assim como os argumentos da juíza têm provocado manifestações de desagrado e contendas entre estudiosos que analisam a natureza ética na prática jornalística. Gentille (2001, p. 2), por exemplo, discorda da igualdade imposta. A ética do cidadão, para ele, é a mesma para todos, mas no que pertence às profissões do tronco das comunicações, cada uma tem sua própria deontologia voltada às funções e/ou os papéis profissionais. Por sua vez, o pesquisador Francisco Karam (2004) considera as observações descontextualizadas, auxiliam menos e prestam mais um desserviço ao jornalismo. Ressalta o autor que toda referência sobre ética, comunicação e jornalismo é, sempre, humana, o que situa os temas no âmbito da história. Mattos (2009) em contrapartida fica mais ao lado do pensamento de Abramo, acredita na igualdade ética para todos apesar das particularidades de cada ofício. 15 Quando se defende caminhos ou condutas humanas exercita-se o debate de valores. Como é do conhecimento geral, o papel ético, repetindo, é devido não ao jornalista isolado, mas às categorias sociais diversas, cada um com sua ética e demandas próprias. Torna-se difícil a compreensão de se reivindicar uma ética única, considerando-se que a sociedade é multifacetada, complexa, com vários grupos e interesses. Cada segmento, pois, tem sua moral e exerce sua política de forma diferente e divergente. Naturalmente que esses valores morais e éticos mudam através dos tempos, tais princípios de conduta, ligados a uma determinada sociedade, vivem certo momento histórico e atendem às necessidades de um grupo social naquele período. Atos que foram considerados imorais ou antiéticos no passado hoje são normalmente valorados, o que se constitui numa diacronia, num processo histórico. Habermas (2003, p. 135) destaca a propósito da universalização de normas aceitas por todos, afirma que um sociólogo ou historiador descreve as regras morais como “específicas de cada época e cultura” que valham como tais aos olhos de quem pertence à época e cultura em questão. Entretanto, considera que há normas morais que são certamente universalizáveis, que não variam segundo os espaços sociais e os tempos históricos. Os valores éticos, principalmente aqueles voltados às profissões, despertam algumas curiosidades como indagar quem os constrói, afirma e define; seriam os sujeitos que fazem a vida, a história, e onde estão eles? questiona Karam (2004). “No indivíduo, no governo, no Estado, nas culturas, nas religiões, nas etnias, no intercâmbio entre tudo isso?” (KARAM, 2004, p. 124). Poderiam ser valores/ procedimentos transformados em patrimônio da humanidade, responde aqueles que constituem a história de cada atividade laboral ou comunidade. E não de algumgrupo específico ou alguém. O campo da política e do jornalismo é enaltecido. Para o autor, as profissões são construções históricas humanas e uma luta política de afirmação de valores morais específicos a cada profissão. O debate é imperativo para o convencimento pessoal e incorporação desses valores que vão aparecer configurados em palavras e procedimentos. Sempre em defesa da existência de uma ética jornalística e considerando que sua reflexão clarifica o comportamento prático diário, o autor acredita que 16 O exercício ético das profissões está vinculado às situações morais que enfrenta e às escolhas que necessita fazer a partir da relevância social da área; a partir de uma teoria de determinada atividade; a partir da história de tal área – para afirmá-la, negá-la ou redimensioná-la. A especificidade é fundamental. (KARAM, 2004, p. 128). A existência de um código de ética na área faz com que o processo de informação jornalística, complementa o autor, se aproxime do processo da ação política - com P maiúsculo, do gesto cotidiano à representação parlamentar e ao interior do exercício das profissões. Compreende a luta ética também como uma luta política em virtude, para o autor, do [...] esforço de superar as fronteiras de ordem política, econômica, financeira e mercadológica a serem removidos, e não a ética que os tenciona (KARAM, 2004, p. 129). Essas fronteiras de ordem econômica, sobretudo, são apreciadas pela Economia Política da Comunicação (EPC). A propósito do assunto, Serra (2007) atenta para tais estudos associados ao Jornalismo, trata-se de uma linha de análise ou orientação metodológica para pesquisas em Jornalismo. Conforme Serra, (2007, p. 68) a opção caracteriza-se por focalizar fatores estruturais e processos de trabalho na produção, distribuição e consumo da comunicação. McChesney (2000 apud SERRA, 2007) resume a corrente em duas dimensões, uma delas volta-se para o estudo da relação entre a mídia e os sistemas de comunicação; a outra analisa como a propriedade, as formas de financiamento e as políticas governamentais podem influenciar o comportamento e o conteúdo da mídia. A produção de notícias é explicada pela EPC pela sua relação com a estrutura de poder na sociedade capitalista. Daí a importância da audiência. Tais estudos consideram que nos meios de comunicação estão contidas as extensões políticas, culturais e a lógica econômica. Essa lógica considera livros, discos, cinema, TV ou publicações jornalísticas etc. como “indústrias culturais” com foco no lucro. Serra (2007, p. 69) apresenta o canadense Smythe, o pioneiro que, na década de 1950, já acreditava que “[...] o principal produto dos meios de comunicação de massa comerciais era o poder da audiência”. A vertente da economia política crítica é detalhada por Serra (2007) através das pesquisas de Golding e Murdock (2000). Eles assinalam que os sistemas de comunicação públicos também são “indústrias culturais” e como sua organização 17 econômica gera efeitos na produção e circulação de sentidos (GOLDING; MURDOCK, 2000 apud SERRA, 2007, p. 72). Os mesmos estudiosos desta vertente reconhecem que a produção midiática também depende dos profissionais que [...] trabalham em um contexto influenciados por “códigos e ideologias profissionais” (SERRA, 2007, p. 74). Daí pergunta, até que ponto os jornalistas podem exercer a autonomia profissional diante dos condicionamentos da estrutura econômica? Como resposta, os autores ingleses deduzem a necessidade de examinar o direcionamento das verbas publicitárias e estudar o trabalho dos jornalista, das fontes e o contexto do mercado para avaliar as consequências desses padrões na [...] atividade de coleta e processamento das notícias, “recrutamento dos jornalistas e ideologia profissional” (SERRA, 2007, p. 74). A economia política instrumentalista é outro modelo da EPC, este moldado pela propaganda. Para Noam Chomsky e Edward Herman (1979), os pesquisadores que propuseram o modelo de análise da mídia, as notícias (“propaganda” que sustenta o sistema capitalista) passam por cinco filtros principais: a propriedade privada que visa o lucro, o poder dos anunciantes, as fontes de elite, a pressão do Estado e o anticomunismo como ideologia dominante. A perspectiva permitiria, ainda segundo Serra (2007), que discute os autores americanos, aos interesses dominantes passar suas mensagens ao público, através da mídia, marginalizando as visões diferentes. A teoria instrumentalista ou teoria da ação política jornalística apresenta as versões de direita e esquerda que serão mais bem explicadas posteriormente, nas teorias do jornalismo. Para Traquina (2005, p. 164), segundo a opção da esquerda, existe um “diretório dirigente” da classe capitalista que dita aos diretores e jornalistas o que sai nos jornais. O autor português critica a visão determinista do campo jornalístico, no modelo proposto por Chomsky e Herman, em que os profissionais ou colaboram na utilização instrumentalista dos media noticiosos ou são totalmente “submissos aos desígnios dos interesses dos proprietários” (TRAQUINA, 2005, p. 167). Eles foram considerados teóricos da conspiração. Mais constrangimentos a que são submetidos os profissionais nas redações são analisados por Javier Restrepo, como elementos impedidores à concretização de uma ética jornalística, considerando-a função idealizadora. Presente no Congresso Extraordinário para atualização do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (2007), 18 o jornalista colombiano pautou sua apresentação sobre o jornalismo e a utopia ética. Sabedor do problema em toda a América Latina reconhece que um jornalista com baixos salários encontra-se à beira do suborno para sobreviver, e obrigado ao heroísmo diário. E mais, quando o meio é conduzido por políticos, por candidatos em campanha ou por ativistas políticos que transformam a informação em propaganda ou então quando o jornalista se propõe a fiscalizar os atos de um governo que sustenta financeiramente seu meio através da publicidade oficial, em ambos os casos não há escolha possível, a ética aparece como uma utopia (RESTREPO, 2007). O especialista em ética na mídia disseca certas dificuldades na produção de notícias ao ponderar que a ética se distancia mais ainda quando o dever da verdade para com os leitores expõe e põe em questão a publicidade comercial que mantém os veículos: A publicidade é o reino das meias verdades onde as bondades de produtos, instituições ou pessoas se magnificam, e suas fraquezas ou defeitos se disfarçam. O jornalismo, ao contrário, é ou deve ser o reino das verdades completas. Quando em nome dessa verdade e dos direitos do leitor, o meio ou o jornalista devem optar pela verdade serviço ou pela meia verdade publicitária que paga ao meio, o mandato ético que privilegia como dever à verdade completa soa como utopia (RESTREPO, 2007, p. 2). São apresentadas outras tantas dificuldades da batalha entre a fantasia e a realidade no cotidiano das redações, que o autor esboça sempre com o mesmo mote final. O deadline não permite muitas vezes confrontar várias fontes. A “cara amável e dignificada da ética” nas conferências e manuais difere brutalmente daquela vista na resposta dos envolvidos após a publicação de atos corruptos. A voz delicada da ética é abafada pelo tom imperativo da ameaça: ou se cala ou morre. Aí se descobre que a ética é uma utopia (RESTREPO, 2007). Seguem outros exemplos reais, que de acordo com o jornalista, são situações adversas para quem quer exercer um jornalismo ético: as fontes que mentem, os editores-ditadores que não enxergam além de suas ordens, colegas de trabalho que ruminam suas inseguranças e frustrações, instrumentos de trabalho desestimulantes e um ambiente rotineiro e adverso a qualquer iniciativa de mudança ou de superação. Colocadas algumas dasverdades conclui-se, angustiadamente, que, no entender de Restrepo, o constante chamado à excelência pela via da autocrítica e do melhor 19 serviço ao leitor, ecoa como uma voz estranha e exótica, nesse ambiente onde a ética aparece como uma utopia (RESTREPO, 2007). As teorias jornalísticas vão corroborar o discurso de Restrepo, diagnosticando o ambiente organizacional, onde as condições de produção das notícias acontecem e podem determinar ou influenciar os profissionais midiáticos na demarcação dos limites, no uso da liberdade de expressão e no atendimento aos ditames deontológicos da área jornalística. Mais que uma ética do cidadão Abramo (1988) retoma certos valores morais básicos como a estima da palavra dada, o respeito ao próximo, não roubar ou mentir, itens mandatários que permeiam a honra cidadã, por isso argumentos gerais balizadores da conduta humana. De maneira direta, iguala os cidadãos de qualquer profissão no que diz respeito aos preceitos éticos. Vaticina que a ética do jornalista é a mesma do cidadão; em oposição, compreende que, em relação às empresas de comunicação, existe, sim, a ética do dono. Jornalista que é, não vê diferença entre sua conduta e a de um marceneiro. Trata a ética jornalística como um mito que precisa ser desfeito: o jornalista não tem ética própria “[...] o que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista” (Abramo, 1988, p. 109). Tal afirmação encontra eco entre os patrões e de forma institucional, por exemplo, citado por Karam (2004), na decisão da juíza federal, Carla Rister, que em 2002,12 deliberou pela não obrigatoriedade da formação universitária para exercício do jornalismo, sentença depois derrubada. A juíza alega que os requisitos de ordem ética ou moral, argumentados no processo, são pressupostos em qualquer profissão, portanto, não são legitimadores da exigência de diploma. Tal qual Abramo (1988), Rister aplicou o princípio da generalização, quando declara, não sem razão em certo sentido, que tanto a honestidade quanto a ética são atributos adquiridos não apenas durante um curso universitário, mas “[...] compõem o núcleo de personalidade e de caráter do indivíduo”, formado durante toda a vida, pelo exercício da atividade acadêmica, profissional propriamente dito, pela 20 convivência familiar e até mesmo pelas demais formas de convivência em sociedade (Conjur13, 2003, p. 7). A sentença corrobora aspectos individuais em formação desde a infância, convívio na comunidade e o aprendizado acadêmico os quais formarão o caráter, esse indissociável dos atos sociais e históricos como o exercício de uma profissão. Menciona uma ética privada, que não pode ser descartada por qualquer trabalhador no seu agir diário, porém o que estava em jogo era uma decisão de ordem pública no âmbito profissional. A generalização deontológica em favor de uma ética única do cidadão advogada por Abramo, assim como os argumentos da juíza, têm provocado manifestações de desagrado e contendas entre estudiosos que analisam a natureza ética na prática jornalística. Gentille (2001, p. 2), por exemplo, discorda da igualdade imposta, entendendo que se trata de desconhecimento ou ignorância citar Abramo, já que “a Publicidade e as Relações Públicas – ao contrário do Jornalismo – se incorporam à ética do cidadão”. Essa certamente é a mesma para todos, mas no que pertence às profissões do tronco das comunicações, cada uma tem sua própria deontologia voltada para as funções e/ou os papéis profissionais. Por sua vez, o pesquisador Francisco Karam (2004) considera as observações descontextualizadas, as quais auxiliam menos e prestam mais um desserviço ao jornalismo. Ressalta o autor que toda referência sobre ética, comunicação e jornalismo é, sempre, humana; sendo assim, a perspectiva possível será situar os temas no próprio âmbito da história. Mattos (2009), em contrapartida, fica mais ao lado do pensamento de Abramo, acredita na igualdade ética para todos apesar das particularidades de cada ofício. Admite que a integridade seja a base fundamental da credibilidade de todo profissional independente do campo de atuação. Quando se defendem caminhos ou condutas humanas, exercita-se o debate de valores. Como é do conhecimento geral, o papel ético, repetindo, é devido não ao jornalista isolado, mas às categorias sociais diversas, cada uma com sua ética e demandas próprias. Torna-se difícil a compreensão de se reivindicar uma ética única, considerando-se que a sociedade é multifacetada, complexa, com vários grupos e 21 interesses. Cada segmento, pois, tem sua moral e exerce sua política de forma diferente e divergente. Naturalmente que esses valores morais e éticos mudam através dos tempos, tais princípios de conduta ligados a uma determinada sociedade vivem certo momento histórico e atendem às necessidades de um grupo social naquele período. Atos que foram considerados imorais ou antiéticos, no passado, hoje são normalmente valorados, o que se constitui numa diacronia, num processo histórico. Habermas (2003, p. 135) destaca a propósito da universalização de normas aceitas por todos e afirma que um sociólogo ou historiador descreve as regras morais como “específicas de cada época e cultura que valham como tais aos olhos de quem pertence à época e cultura em questão”. Entretanto, considera que há normas morais que são certamente universalizáveis, que não variam segundo os espaços sociais e os tempos históricos. Os valores éticos, principalmente aqueles voltados às profissões, despertam algumas curiosidades como indagar quem os constrói, afirma e define; seriam os sujeitos que fazem a vida, a história, e onde estão eles? questiona Karam (2004). “No indivíduo, no governo, no Estado, nas culturas, nas religiões, nas etnias, no intercâmbio entre tudo isso?” (Karam, 2004, p. 124). Poderiam ser valores/procedimentos transformados em patrimônio da humanidade, responde, aqueles que constituem a história de cada atividade laboral ou comunidade, e não de algum grupo específico ou alguém. Para o autor, as profissões são construções históricas humanas e uma luta política de afirmação de valores morais específicos a cada uma delas. Sempre em defesa da existência de uma ética jornalística e considerando que sua reflexão clarifica o comportamento prático diário, o autor acredita que: O exercício ético das profissões está vinculado às situações morais que enfrenta e às escolhas que necessita fazer a partir da relevância social da área; a partir de uma teoria de determinada atividade; a partir da história de tal área – para afirmá-la, negá-la ou redimensioná-la. A especificidade é fundamental (Karam, 2004, p. 128). A existência de um código de ética na área faz com que o processo de informação jornalística, complementa o autor, se aproxime do processo da ação política - com P maiúsculo, do gesto cotidiano à representação parlamentar e ao 22 interior do exercício das profissões. Compreende a luta ética também como uma luta política em virtude do “[...] esforço de superar as fronteiras de ordem política, econômica, financeira e mercadológica a serem removidos, e não a ética que os tensiona” (Karam, 2004, p. 129). Essas fronteiras de ordem econômica, sobretudo, são apreciadas pela Economia Política da Comunicação (EPC). A propósito do assunto, Serra (2007) atenta para tais estudos associados ao Jornalismo, trata-se de uma linha de análise ou orientação metodológica para pesquisas nesse campo. Conforme Serra (2007, p. 68) a opção de pesquisa “caracteriza-se por focalizar fatores estruturais e processos de trabalho na produção, distribuição e consumo da comunicação”. McChesney (2000 apud Serra, 2007) resume a corrente em duas dimensões, uma delas volta-se para o estudo da relação entre a mídia e os sistemas de comunicação; a outra analisa como a propriedade, asformas de financiamento e as políticas governamentais podem influenciar o comportamento e o conteúdo da mídia. A produção de notícias é explicada pela EPC pela sua relação com a estrutura de poder na sociedade capitalista. Daí a importância da audiência. Tais estudos consideram que nos meios de comunicação estão contidos as extensões políticas, culturais e a lógica econômica. Essa lógica considera livros, discos, cinema, TV ou publicações jornalísticas etc. como “indústrias culturais” com foco no lucro. Serra (2007, p. 69) apresenta o canadense Smythe, o pioneiro que, na década de 1950, já acreditava que “[...] o principal produto dos meios de comunicação de massa comerciais era o poder da audiência”. A vertente da economia política crítica é detalhada por Serra (2007) através das pesquisas de Golding e Murdock (2000). Eles assinalam que os sistemas de comunicação públicos também são “indústrias culturais” e como “sua organização econômica gera efeitos na produção e circulação de sentidos” (Golding; Murdock, 2000 apud Serra, 2007, p. 72). Os mesmos estudiosos desta vertente reconhecem que a produção midiática também depende dos profissionais que “[...] trabalham em um contexto influenciados por códigos e ideologias profissionais” (Serra, 2007, p. 74). Daí pergunta: até que ponto os jornalistas podem exercer a autonomia profissional diante dos condicionamentos da estrutura econômica? 23 Como resposta, os autores ingleses deduzem a necessidade de examinar o direcionamento das verbas publicitárias e estudar o trabalho dos jornalistas, das fontes no contexto do mercado para avaliar as consequências desses padrões na “[...] atividade de coleta e processamento das notícias, recrutamento dos jornalistas e ideologia profissional” (Serra, 2007, p. 74). A economia política instrumentalista é outro modelo da EPC, este moldado pela propaganda. Para Noam Chomsky e Edward Herman (1979), os pesquisadores que propuseram o modelo de análise da mídia, as notícias (“propaganda” que sustenta o sistema capitalista) passam por cinco filtros principais: a propriedade privada que visa o lucro, o poder dos anunciantes, as fontes de elite, a pressão do Estado e o anticomunismo como ideologia dominante. A perspectiva permitiria, ainda segundo Serra (2007), que discute os autores americanos, aos interesses dominantes passar suas mensagens ao público, através da mídia, marginalizando as visões diferentes. A versão de esquerda da teoria instrumentalista ou teoria da ação política jornalística é descrita por Traquina (2005, p. 164), a partir da existência de um “diretório dirigente da classe capitalista que dita aos diretores e jornalistas o que sai nos jornais”. O autor português critica a visão determinista do campo jornalístico, no modelo proposto por Chomsky e Herman, em que os profissionais ou “colaboram na utilização instrumentalista dos media noticiosos ou são totalmente submissos aos desígnios dos interesses dos proprietários” (Traquina, 2005, p. 167). Eles foram considerados teóricos da conspiração. Mais constrangimentos a que são submetidos os profissionais nas redações são analisados por Javier Restrepo como elementos impedidores à concretização de uma ética jornalística, considerando-a função idealizadora. Presente no Congresso Extraordinário para atualização do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (2007), o jornalista colombiano pautou sua apresentação sobre o jornalismo e a utopia ética. Sabedor do problema em toda a América Latina reconhece que um jornalista com baixos salários encontra-se à beira do suborno para sobreviver, e obrigado ao heroísmo diário. E mais, quando o meio é conduzido por políticos, por candidatos em campanha ou por ativistas políticos que transformam a informação em propaganda ou então quando o jornalista se propõe a fiscalizar os atos de um governo que sustenta financeiramente seu meio através da publicidade oficial, em ambos os casos não há escolha possível, a ética aparece como uma utopia (Restrepo, 2007). 24 O especialista em ética na mídia disseca certas dificuldades na produção de notícias ao ponderar que a ética se distancia mais ainda quando o dever da verdade para com os leitores expõe e põe em questão a publicidade comercial que mantém os veículos: A publicidade é o reino das meias verdades onde as bondades de produtos, instituições ou pessoas se magnificam, e suas fraquezas ou defeitos se disfarçam. O jornalismo, ao contrário, é ou deve ser o reino das verdades completas. Quando em nome dessa verdade e dos direitos do leitor, o meio ou o jornalista devem optar pela verdade-serviço ou pela meia verdade publicitária que paga ao meio, o mandato ético que privilegia como dever à verdade completa soa como utopia (Restrepo, 2007, p. 2). São apresentadas outras tantas dificuldades na batalha entre a fantasia e a realidade no cotidiano das redações que o autor esboça sempre com o mesmo mote final. O deadline não permite muitas vezes confrontar várias fontes. A “cara amável e dignificada da ética” nas conferências e manuais difere brutalmente daquela vista na resposta dos envolvidos após a publicação de atos corruptos. A voz delicada da ética é abafada pelo tom imperativo da ameaça: ou se cala ou morre. Aí se descobre que a ética é uma utopia (Restrepo, 2007). Seguem outros exemplos reais, que de acordo com o jornalista, são situações adversas para quem quer exercer um jornalismo ético: as fontes que mentem, os editores-ditadores que não enxergam além de suas ordens, colegas de trabalho que ruminam suas inseguranças e frustrações, instrumentos de trabalho desestimulantes e um ambiente rotineiro e adverso a qualquer iniciativa de mudança ou de superação. Colocadas algumas das verdades, conclui-se angustiadamente, que o “constante chamado à excelência pela via da autocrítica e do melhor serviço ao leitor”, ecoa como uma voz estranha, e exótica, nesse ambiente onde a ética aparece como uma utopia (Restrepo, 2007). As teorias jornalísticas vão corroborar o discurso de Restrepo, diagnosticando o ambiente organizacional onde as condições de produção das notícias acontecem e podem determinar ou influenciar os profissionais midiáticos na demarcação dos limites no uso da liberdade de expressão e no atendimento aos ditames deontológicos da área jornalística. 25 O JORNALISMO E O COMPORTAMENTO ÉTICO DO FUTURO Sempre é importante lembrar que ao observarmos o comportamento ético em relação às práticas jornalísticas estamos tratando de algo essencial e central para o jornalismo. A partir do alicerce ético as ações jornalísticas ganham legitimidade e conservam o que tem de mais importante: A credibilidade. A sensação permanente de mudança gerada especialmente pelos avanços tecnológicos provocam reflexões fundamentais relacionadas ao comportamento ético do futuro. Diante da velocidade extraordinária das formas de produção e disseminação do conteúdo jornalístico, particularmente nas mídias sociais, novos dilemas evidenciam um conjunto de novas preocupações e desafios ligados à ética jornalística. Atualmente a ética jornalística não é mais um assunto restrito aos jornalistas ou aos veículos de comunicação. Figura 1 - Ética Na Pesquisa Fonte:https://academiadojornalista.com.br/jornalismo-de-dados/conceitos-do-jornalismo-de- dados/ A participação cada vez mais ativa dos públicos nos processos de comunicação dentro do espaço público tornou-se um elemento decisivo para distinguir o que é ou não é aceitável, o que é ou não é correto, o que é ou não é respeitador da dignidade humana (Christofoletti & Fidalgo, 2014). Esses fatores apontam um caminho onde os jornalistas terão que balizar as suas ações por critérios que demonstrem transparência. 26 Sem dúvida esse é um desafio para profissionais, que até pouco tempo atrás, detinham o acessoa uma “área restrita” de disseminação de informação em larga escala. Diante desse contexto nos deparamos com a necessidade de revisitar as normas fundadoras da ocupação em um sentido crítico, repensando valores e as razões para preservá-los, reavaliando o papel do jornalista na sociedade e a sua relevância. Períodos de transição de uma forma geral e as transições contemporâneas em especifico, não tornam a ética menos importante para os jornalistas. O compromisso com uma prática eticamente exigente é mais importante do que nunca em um tempo onde estamos imersos em informações de todos os tipos e de todos os níveis de qualidade. Algumas ameaças éticas que permeiam o jornalismo nesse novo contexto dizem respeito às pressões que advêm da falta de dinheiro e da redução de efetivos. “Não surpreende que esta seja uma receita propícia ao surgimento de erros, ao gerenciamento das práticas de verificação e à transferência, para os utilizadores, da produção de notícias que os jornalistas já não têm tempo ou meios para garantir” (Singer 2014, p.62). As diretrizes éticas perpassam várias etapas e filtros relacionados a convenções estabelecidas pelo segmento, porém, cabe ressaltar que os parâmetros pessoais de cada profissional tem relação direta com a sua postura ética diante da sociedade. Como boa parte das interações entre os indivíduos é permeada pelo jornalismo, o ambiente social acaba imerso em relações que envolvem conflitos de poder, disputas por hegemonia e disputas entre representações sociais e políticas opostas. Esses fatores exigem a adaptação dos parâmetros éticos diante das novas situações que se apresentam. Rumo Cultura Da Transparência O professor Derrick de Kerckhove, da Universidade de Toronto, esteve recentemente em um importante congresso de comunicação no Brasil (XIV Congresso Ibero-Americano de Comunicação – Ibercom 2015 – 29/03/2015 a 02/04/2015) e afirmou que estamos rumando para uma cultura de transparência. Ele destacou a relevância do Big Data (informações armazenadas nas mídias sociais e em meios eletrônicos) como um grande fator de mudança da civilização, 27 pois define uma nova configuração social, destacando a potencialidade que estas informações possuem em relação à liberdade individual das pessoas e na obtenção de vantagens econômicas, sociais e políticas. Outro aspecto observado é a inversão entre os âmbitos públicos e privados que impulsionam o retorno de uma “cultura da vergonha” onde a reputação adquire um valor ainda mais importante. Figura 2 – Princípios éticos Na Pesquisa Fonte: http://tutano.trampos.com/jornalista-de-dados/ “Transparência traz o problema de que, enquanto nós somos investigados pelas informações, ocorre uma descontextualizarão espacial, social e temporal. Há uma completa descentralização da informação relacionada as pessoas. Não há contexto” (Kerckhove, 2015). Kerckhove é conhecido por seu trabalho de assistência e coautoria com Marshall McLuhan, autor que desenvolveu o conceito de aldeia global na década de 60 para explicar os efeitos da comunicação de massa sobre a sociedade. Os apontamentos do discípulo de McLuhan ratificam que a transparência vai definir o comportamento ético do futuro dos jornalistas e da sociedade de uma forma geral. Nessa realidade em que é permitido o acesso a uma escala global, as feições envolvendo a transparência geram a necessidade de ações construtivas que possibilitem o aprendizado e a exploração das consequências desse contexto. “Modificaram-se radicalmente a educação e a sociabilidade, a comunicação e os cenários ao nosso redor. “Se a tecnologia modifica as relações interpessoais, também muda os valores morais e as éticos” (Christofoletti, 2008, p.94). Essa mutação na comunicação está atrelada a processos midiáticos que não se enquadram mais na denominação de “mídias de massa”. 28 A propósito: É possível pensar o jornalismo sem ética? A expressão “jornalismo antiético” é uma maneira de dizer que se contou uma história, registrou-se um fato, criou-se um acontecimento com linguagem (técnica) jornalística, e se divulgou, sem “respeitar” o público, a audiência, incluídos os que têm relação direta com o relato. O resultado, em tese, é ruim para o cidadão e a sociedade. Há quem prefira dizer que não se levou em conta os princípios normatizados em códigos profissionais que regem a atividade, produzidos e propagados para estabelecer limites e manter o jornalismo e seus profissionais numa direção do “bem social”, e com o fortalecimento das liberdades democráticas. Mas ao abandonar a ética, o resultado da atividade jornalística não fica comprometido? O jornalismo não deixa de cumprir sua função informativa? É uma pouco da nossa reflexão. Sem ética, o jornalismo é uma mera técnica narrativa, oca, sem a presença de seu motivo de existir: ser a construção de uma realidade (BERGER & LUCKMANN, 1985) preocupada com a interpretação correta do mundo, próxima da “verdade” dos fatos e atenta aos efeitos nocivos que seu produto simbólico pode trazer à sociedade, como a reprodução de preconceitos, incentivo à intolerância, fortalecimento do inverídico ou ao ato “desumano”. O ato antiético subentende-se falta do bom, algo mau, injusto e, se a essência do jornalismo é a justiça, o bem estar social, relata Guareschi (2000, p. 50-55), há de se ressaltar que antiética e jornalismo não podem caminhar juntos. Ao contrário, do ponto de vista de quem produz informação responsável para sociedade, ética e jornalismo, sim, são indissociáveis. São “sinônimos” de responsabilidade com o outro, com as relações sociais e com a organização do mundo. O jornalismo, por sua vez, tem uma relação de dependência total. A ética é sua base de sustentação, o seu motor. Sem ela, perde sua imunidade social, perde o elo com seu público, firmado por meio de um contrato fiduciário (RODRIGO-ALSINA, 2009), por meio de uma relação de confiança (VIZEU, 2009), de onde nasce credibilidade. O Jornalismo Depende Da Ética O jornalismo se sustenta no interesse e na confiança de seu público. Depende da lealdade e da crença das pessoas (BILBENY, 2012, p.16-17). E a melhor maneira 29 de encontrá-las, tê-las, é realizando trabalho responsável. Mas o que significa isso? Grosso modo, ofertando um produto compreensível, por meio do compartilhamento efetivo de signos e seus significados, no qual seja possível enxergar verdade no seu referencial, seja baseado em testemunho pessoal, em documentos ou no relato de fontes; com uma interpretação de dados e fatos mais próxima do fato e por meio uma preocupação extra com os efeitos dessa interpretação na vida das pessoas. Espera- se ainda que para obter o produto jornalístico, o percurso também tenha sido o mais correto, com métodos lícitos de apuração, sem que princípios éticos de obtenção da informação tenham sido atropelados por um sempre questionável interesse do público e não interesse público. Figura 3 – Ética Fonte: http://blog.saude.mg.gov -ética-jornalística-e-a-empatia-na-cobertura De maneira geral, ao ler, ouvir ou assistir um relato jornalístico, o consumidor de notícias acredita que, por trás da ação profissional, há uma preocupação com regras, normas que dão espaço e respaldo à liberdade de imprensa, mas que impõem limites à liberdade de expressão, visto que esta última tem uma barreira maior: o respeito à pessoa. A sociedade acredita que o produto jornalístico não é uma criação aleatória, ficção, que as vozes são reais, que o relato é um fragmento preciso e correto da realidade; e que o jornalista usa sua capacidade técnica para reconstruir uma história da maneira mais fiel e responsável. O faz primeiro no processo de apuração do fato, em seguida, na seleção daquilo que considera que é mais importante, na utilização dos recursos simbólicos para 30permitir o entendimento e, por fim na maneira de divulgar e fazer circular. Há uma relação de confiança (VIZEU, 2009), um contrato fiduciário (RODRIGO-ALSINA, 2009) regido por um comportamento responsável do jornalista, gerador de credibilidade e propulsor de audiência. É um pacto que não deve se romper é a ética, em todas as suas dimensões, que rege este processo. É a responsabilidade ética que permite a união permanente entre a mídia e seu público e faz com que o jornalismo, como forma de conhecimento (PARK, 1966), um conhecimento singular (GENRO FILHO, 1987), cumpra sua função. Justamente porque a informação que oferece não deve (ou deveria) ser captada e adaptada somente para se enquadrar nos limites espaciais e temporais dos meios. Ou, ainda motivada somente por interesses de grupos políticos, econômicos, apesar de ser essa uma realidade dura, passível de debate e resistência. E a ética do jornalismo permite uma luta constante contra essas pressões que usam a credibilidade e o contrato fiduciário do jornalismo para favorecimento de grupos na da sociedade. Um luta entre os seus limites e sua realização, destaca Karam: Os limites cotidianos, no jornalismo, vivem a tensão entre a possibilidade de realização da ética e as dificuldade teórico operacionais para execução dos princípios, o que equivale dizer que o movimento moral é sempre presente. Mas é nesse momento que a abstração e a generalização precisam de uma ponte com as situações e circunstâncias concretas do trabalho específico do jornalista, que enfrenta dilemas, dúvidas e precisa escolher o caminho mais correto à luz da dimensão pública de sua atividade” (KARAM, 2014, p.52). Papel social da ética Ao destacar o papel social da ética, Guareschi (2000, p. 52-55) estabelece a relação dela com a justiça. Para ele, as duas são mediadoras das relações entre as pessoas. E a justiça é a virtude central da ética porque ela comanda os atos de todas as virtudes que regem atitudes dos homens entre si. Refere-se aos princípios fundamentais de justiça, igualdade e solidariedade e está permanentemente em busca de uma sociedade mais justa e fraterna e dos estabelecimentos de normas que sejam mais e mais construtoras de seres humanos 31 livres e solidários. “A ética busca a libertação pessoa e social das pessoas e das situações de injustiça “(GUARESCHI, 2000, p. 55). O “outro e as relações humanas” dão sentido as falas sobre direito e ética, segundo Karam (2014, p.28), porque estão vinculadas ao compromisso coletivo, com as relações humanas que, produzidas socialmente, resultam no reconhecimento da autonomia e no compromisso com a autonomia de todos os demais. Em um reflexão conceitual, Vásquez (2008) destaca que a ética é a ciência da moral. Ela é teórica e, segundo o autor, uma explicação, investigação de um tipo de experiência e forma de comportamento humano moral considerado, porém, em sua totalidade e diversidade. Sua missão é explicar a moral efetiva, esses comportamentos do homem e suas práticas de um determinado tempo e espaço. “O valor da ética como teoria está naquilo que explica e não de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas” (VÁSQUEZ, 2008, p. 20-21). Não pode, segundo ele, ser reduzida ao conjunto de normas e prescrições apesar de sê-lo em uma dimensão teórica (VÁSQUEZ, 2008, p. 24). Para Cornu (1994, p.37) A moral cumpre uma tarefa de regulação publicitada pela própria sociedade e a ética cumpre uma função de legitimação quando interroga as próprias normas. Na mesma linha, Karam (2014) afirma que, enquanto a moral se envolve com o conjunto de normas refletida em comportamentos, na cultura e período, a ética, para autores como ele, é a reflexão sobre o mundo moral dos homens. Nos casos das profissões, como a de jornalista, as questões éticas e morais se cristalizam nos códigos deontológicos. Nas palavras de Karam (2014, p.34) a deontologia é “cristalização provisória do mundo moral, validado pela reflexão ética, em normas sociais concretas, em princípios formais e, em alguns casos, normas jurídicas”. Cornu (1994, p. 42) lembra que no fim da Primeira Guerra Mundial ganhou corpo e se fortaleceu na Europa a consciência da necessidade de codificar melhor as condições de emprego e as regras do exercício da profissão de jornalista. A indústria da informação se consolidava e as empresas tentavam se proteger do Estado. Sindicatos, mais preocupados os direitos dos profissionais da área e de organizações nacionais e internacionais, preocupados com deveres, perceberam o papel central do jornalismo, e debruçaram-se na tarefa de estabelecer fronteiras. 32 Adiante, em anos posteriores, com o crescimento de sua importância na esfera pública era a sociedade que precisava ser protegida da ação da imprensa. Figura 4 – Liberdade de Informação https://www.uva.br/content/ -teorias-do-jornalismo As normas passaram então a englobar os deveres dos profissionais e empresas para com seu público. As críticas incidem sobre a subordinação dos meios de informação aos negócios, a influência crescentes dos anunciantes sobre as políticas editoriais, a resistência dos jornais à mudança social, a exploração dos fait divers e do sensacionalismo, os atentados à moralidade pública e à vida privada (CORNU, 1994, p. 42). No Brasil, destaca estudo Christofoletti (2007), é no início do século XX, quando começa a se organizar como categoria, que os jornalistas passam a se preocupar com iniciativas para preservação de valores. Códigos vigentes em outros países estavam em fase de discussão, sem ainda a elaboração concreta. “O primeiro código de ética brasileiro vai surgir em fevereiro de 1949, motivado pela Federação Nacional dos Jornalistas, FENAJ- Fundada em 1946 – e aprovado no terceiro Congresso Nacional da categoria em Salvador” (CHRISTOFOLETTI,2007, p.220). Ao longo dos anos, o código foi modificado, outras normas em instituições que representam os profissionais surgiram e, segundo o autor, em 1987 sindicatos se ajustam para seguir as novas orientações do Código de Ética Brasileiro. O documento se afina com os textos de outras normas de organismos internacionais, como a UNESCO e a Federação Internacional dos Jornalistas. A partir 33 de uma análise dos conteúdos de códigos deontológicos e normas propostos à atuação de jornalistas, Cornu (1994, p.57) apontou quatro eixos que desenham a orientação da ética jornalística e que entendemos contemplar as questões sobre a relação entre ética e jornalismo. São: a missão da empresa, a liberdade de informação, a verdade como dever fundamental e o respeito a pessoa como limite. OS CONFLITOS DIANTE DAS NORMAS Empresas de comunicação públicas e privadas, profissionais liberais ou jornalistas contratados trabalham sob a proteção das leis que na maioria dos países ocidentais entendem o direito à informação como algo fundamental. Em paralelo está a liberdade de expressão. Mas em conflito, muitas vezes, está a dignidade humana. Já dá para perceber, por exemplo, que não é tão simples quanto parece. Cornu (1994, p. 82-83) aponta para uma direção que nos acostamos. A sensatez prevalece sobre a vontade. Para ele, entre a reivindicação de um direito à informação e a renúncia aos métodos que ofendem ao mesmo tempo a deontologia como regulação e o respeito pela pessoa como objeto ético, deve privilegiar claramente a segunda. Isso porque “a liberdade de imprensa e o dever de informação não autorizam tudo” (CORNU, 1994, p. 83). Por isso, não é tão simples e é onde, em geral, moram alguns conflitos da ética jornalística. De fato, conflitos da práxis, dilemas presentes e que definem a produção de notícias no jornalismo profissional perpassam por esses eixos. Ultrapassar suas linhas, muitas vezes sensíveis, em nome da sociedade pode significar ferir a relação de confiança,o contrato com ela mesmo. Com direito à informação garantido pelas constituições nacionais, tratados, declarações e resoluções internacionais (KARAM, 2014 p.21-22), o produto jornalístico traz consigo a marca do compromisso com o bem comum, com o entendimento de que o que acontece em países, cidades, bairros afeta ou vão afetar, em curto ou em longo prazo, a vida cotidiana. A informação atual da informação jornalística e do direito social à informação precisa ser tratada na contemporaneidade, na dimensão que possui a conexão internacionalizada da economia, da cultura, da política, enfim, da sociedade humana 34 em sua complexidade ontológica, epistemológica e tecnológica no século XXI. Falar em direito, em moral e em ética não é, portanto, somente nos rendermos às evidencia dos limites da prática social e da prática jornalística. Implica, ao contrário, a potencialidade de intervir no futuro social da humanidade. (KARAM, 2014, p.31). Figura 5- Interesses Políticos E Econômicos Fonte:https://www.brasildefatopr.com.br/2017/06/16/especialistas-em-etica-jornalistica O autor lembra que esse direito (à informação) não pode estar apenas submetido aos interesses mercadológicos, políticos ou individuais, mas à pluralidade e diversidade de vozes, fontes, de propriedade dos meios. Também não podem sobreviver sem o compromisso profissional com o comportamento ético, sob todos os cenários, pressões e realidades. Talvez, a afirmação soe utópica. Mas esse é horizonte que o jornalismo profissional não pode abrir para não correr o risco de cair de vez na descrença. O duelo e a resistência serão eternos, por isso não há bom momento para “relaxar” no ensino, na pratica nem na pesquisa. Vale ressaltar que quando falamos em direito a informação é a informação verdadeira, como alerta Cornu (1994, p.75). Caso contrário é mentira e não poderá servir a nenhum projeto de justiça. Como primeiro passo para evitar esse caminho, Aznar Gómez (2004, p. 2- 10) defende que 35 jornalistas precisam conhecer os valores e normas da atividade e ter sensibilidade acerca dos efeitos dos atos. Ao fazê-lo, a partir desse conhecimento, terão condições de fazer frente, individualmente ou em grupo, às exigências impostas pelas questões econômicas/empresarias, tecnológicas e terão o reconhecimento que merece para isso. Segundo ele, o profissional deve conhecer o conteúdo e o espírito de seus códigos, mas também exercer a capacidade de juízo para aplicá-los e, se necessário, adaptá-los as circunstâncias particulares de uma situação dada. Ao falar sobre as fragilidades da deontologia jornalística, Cornu (1994, p.116) aponta vários problemas que acabam de alguma forma enfraquecendo os códigos como guias das práticas. E, por sua vez, fragilizando a atividade. De acordo com o autor, apesar das convergências, como a defesa da verdade e liberdade, a diversidade de normas é muito grande, adaptados aos regimes de informação de cada país. Ele lembra ainda que na maioria dos lugares não há órgãos de controle ou qualquer tipo de sanção atribuída ao profissional com bases nos códigos, que não tem valor jurídico. Tem “peso” apenas nos votos de censura pública cartas de repúdio. Ou seja, não é sob suas normas que está o controle. Para Karam (2014), os códigos deontológicos são apenas referências que não se esgotam à constante criação de uma pratica profissional, como os novos problemas e posturas que sugere. “É mais um eixo que norteia a ação profissional, tanto para cumprir, quanto para negar um princípio¨ (KARAM, 2014, p.60). Por outro lado, o que seria a atividade sem as normas, mesmo sem poder de sansão? Não é um corrimão necessário? Os códigos têm papel fundamental para assegurar a melhor informação possível e de alguma forma cobrá-la do profissional. Ao impor o dever de seguir princípios, salva a liberdade de expressão, de alguma forma, protege o jornalista de pressões que se não são irreversíveis podem chegar com menos força às decisões que precisam ser tomadas cotidianamente. É uma linha, uma direção que, respeitada, evita desvio irreversíveis no trabalho profissional do jornalista, que tem como causa a verdade, a liberdade e o respeito pela pessoa humana, questões que preparam ao campo da ética e da justiça. A afirmação nos leva a uma reflexão importante sobre a polêmica “busca da verdade” no jornalismo, presente unanimemente (CORNU, 1994, p.116) nos códigos 36 e consagrado como princípio da ética jornalística. Códigos deontológicos falam em “respeitar” a verdade, “procurar” a verdade, “lutar” pela verdade. Mas que verdade? Uma verdade que é plural e relativa, aponta CORNU (1994). Formada por pontos de vistas e interpretações que se aproximam e se afastam, que em oposição ou sincronia podem formar a verdade das referências e testemunhos. É próprio da verdade se aproximar da realidade e se corresponder com os mais amplos aspectos de um fato. A verdade pode ser para alguns uma ideia irrealizável, para outros um guia, mas é em no seu possível que o jornalismo se configura. Porque é dever central do jornalismo. Cornu (1994, p.100) lembra que jornalismo (informação), assim como a ciência, não pode pretender por si mesmo atingir uma verdade absoluta, o que corresponderia a uma visão dogmática e autoritária. Segundo ele, toda pretensão à verdade jornalística está sujeita a crítica por causa de uma condição natural: Todas as fontes de conhecimento do jornalismo: A tradição, a razão, a observação ou qualquer outra fonte, como testemunho, seriam referências, aceitáveis, concebíveis, mas nenhuma tem autoridade indiscutível. A falta dessa verdade está, então, na “desnaturalização” e “descontextualizarão” de fotos e imagens, citações e entrevistas truncadas, confusão produzida por comentário desrespeitoso. Segundo ele, “é certo que a verdade pertence à própria natureza da informação que, sem ela, seria mentira ou propaganda, que é seu primeiro critério. No entanto, nunca é absoluta na sua expressão jornalística” (CORNU, 1994, p. 116). Ele registra que a atitude do jornalista é decisiva nessa busca, seja com a objetividade colocada como horizonte, com autêntica busca pela veracidade do relato, pois a verdade se impõe como instância normativa e crítica sob a precisão dos fatos, da justeza dos juízos feitos pelos profissionais no processo de interpretação e veracidade dos textos. Isso significa, resistência pessoal dos jornalistas às pressões e constrangimentos. “Pressão do meio social, pelo efeito da conivência, pressão do sistema midiático, pela imposição de uma ordem informativa constrangedora e pela aplicação de critérios comerciais, pressão da velocidade” (CORNU, 1994, p. 432). 37 Na reflexão, Bilbeny aponta que a verdade jornalística sempre é mais ampla que o fato a que se refere porque é inevitavelmente fruto do imediatismo, para uma compreensão geral e com uma destacada margem de interpretação e tudo isso faz com que a tarefa da busca seja difícil, mas imprescindível. Destaca: E é busca pela compreensão dessa verdade dos fatos que coloca a ética da comunicação jornalística diante de dilemas. Um deles é tensão entre o rigor jornalístico e a compreensão dos fatos e relatos. Os jornalistas têm se fazer compreensíveis para sua audiência, mas, por outro lado, para fazer com que história seja entendida pelo público não deve comprometer o rigor na explicação do acontecimento. O rigor extremo (só compreensível por especialistas), por sua vez, pode fazer perder compreensibilidade do texto. Mas a ausência de total de rigor, para que o texto seja compreensível para o leitor, pode tergiversar o acontecimento. Porém, em algumas ocasiões, os próprios jornalistas podem renunciar voluntariamente a verdade. O que acontece quando o periodista tem que escolher entre dois valores contrapostos? O que sucede quandoo jornalista o dilema é defender a verdade ou a sua pátria? Se o a defesa dos interesses da pátria se impõe, os critérios éticos ficam em suspenso. Como se diz: a primeira vítima das guerras é a liberdade de expressão. As Guerras do Golfo são um bom exemplo disso. Isso causa crise na ética jornalística. As Crises Éticas do Jornalismo A desconfiança de alguns setores da sociedade de que há algo errado na cobertura da mídia, seja por excesso ou silêncio, atos unilaterais, descompromisso com o horizonte-verdade, falta de transparência, leva o público colocar em xeque a ética do jornalismo, ou melhor, dos jornalistas e das empresas produtoras de conteúdo informativo. Os códigos estariam sendo descumpridos. Jornalistas, por sua vez, em muitos momentos, tendem a tentar fugir do debate, criar justificativas, apontar o dedo para os fins obtidos, como justificativa para os meios. Mas é sobre os meios, onde nasce atos, carentes de reflexão e mudanças de rumo, que devemos falar. Karam (2014) registra que só um processo dialético de 38 constituição de um movimento ético de profissionais, com reconhecimento da importância social do jornalismo, “pode criar as condições para a realização técnica, política, moral e ética da profissão” (KARAM, 2014, p.12). Para o autor, o direito social à informação inclui a diversidade de significação do mundo e dele fazem parte a palavra e a imagem, o jornalismo escrito e a imagem jornalística. Figura 6 –Ética Fonte:http://www.sjsp.org.br/noticias/a-etica-jornalistica-em-tempos Esse direito passa pela revelação diversa e contraditória do movimento e ações humanas. Isso não surge de algo arbitrário, mas de um conhecimento acumulado e fortalecido por opiniões divergentes e plurais. O jornalismo constrói um mundo possível, a partir de um mundo real e por meio de um mundo de referência (RODRIGO-ALSINA, 2009). É uma representação da realidade, institucionalizada, na qual várias forças atuam cada uma com seus interesses na luta pelo sentidos. Alguns são mais libertadores e 39 Acreditam na pluralidade de fontes, meios e versões. Outros, voltados ao poder pessoal e com evidente desejo de manutenção de um status quo. O fazem sobre e sob o discurso de que tudo é produzido como missão, para que o direito do público de conhecer fatos seja garantido. Uma interpretação dos efeitos de um fato muito relativa. Por divergências rotineiras entre o discurso e o fato fica difícil crer que teremos plena pureza na atividade jornalística ou tranquilidade nas decisões sobre procedimentos éticos. Ao contrário, o “conflito” em busca do domínio da informação emerge todos os dias. Em alguns períodos com frequência quase ininterrupta. Em jogo, o poder simbólico da informação. Segundo Karam (2014, p.30), a luta pela liberdade de acesso à informação e liberdade de expressão se defronta milenarmente com o problema do domínio. Afinal, a informação é requisito indispensável para que o sujeito que não deseja ser um axioma dependente, busque ser sujeito determinante. Por isso, ela é tão valorizada como expressão de poder, de controle de ideias e opiniões, como fonte de lucro, afirma Karam (2014, p.30). Os problemas éticos na cobertura jornalística estão fixados em vários aspectos, entre eles, os de interesses empresariais e políticos, presentes nos grandes conglomerados de mídia privados ou em grupos públicos, com interferência político- partidária. Nessa perspectiva, busca-se os espaços para impor ideias, conceitos e histórias. Elas precisam gerar audiência, público, que num ciclo, aumentam a capacidade de influenciar e dilatam o espaço de poder. A preocupação ética nesse ambiente está sob forte pressão e fragilidade. Garantir o direito à informação é preciso pensar passa por esse eixo, pela reestruturação dessa lógica (KARAM, 2014). O alerta é para a necessidade de democratização dos meios de comunicação, com mais pluralidade e diversidade de fontes, de propriedade e regionalização. Horizonte distante, mas, felizmente, claro. O autor registra, ainda, a força de um outro eixo que se configura a partir da necessidade de uma mudança na noção atual de ética da profissional (KARAM, 2014, p.11-13) porque, para ele, ao lado do que chama de mesquinharia e miséria cotidianas do jornalismo, está a sua grande capacidade de reconstruir o cotidiano de maneira plural. Com possibilidade de apropriação do movimento diário da humanidade” (KARAM, 2014, p. 41): O jornalismo não é moralmente defensável. Ele é moralmente imprescindível. 40 Ou seja, em sua potencialidade, o jornalismo é forma pela qual as pessoas vão se apropriando cotidianamente de seu movimento no interior da humanidade e, desta, em sua auto produção diária. O problema, a rigor, não é do jornalismo como gênero e consecução. É mais da forma, do conceito de fato jornalístico, da pauta, da seleção e hierarquização dos fatos e das suas fontes, das distintas visões sociais e ideológicas e da concentração da propriedade dos meios, que impede a pluralidade capaz de refletir a complexidade e diversidade dos acontecimentos do dia a dia (KARAM, 2014, p. 43-44). A informação implica ser mediada por uma ética, que deve ir além de se apegar apenas a uma norma de conduta, mas refletir uma própria teoria moral, com força para romper com a moralidade conservadora, a legalidade e com dominação vigentes. Assim pode construir bases em valores como liberdade e humanidade porque alguns princípios permitem isso, mas outros, levam ao desgaste da contradição entre conhecimento legal e impossibilidade da prática (KARAM, 2014 p.28). A prática, a propósito, com surgimento e implementação de novas técnicas e tecnologias de informação e comunicação provocaram mudanças significativas na interface do jornalismo com o mundo, com vista a sua reconstrução. Mas o seu objeto é o mesmo, realidade em múltiplas manifestações, agora redistribuída em multiplataformas. Doravante, questões conceituais mantém-se ainda mais firmes, como interesse público, relevância social, rigor na apuração e cuidado na divulgação. Na sociedade da informação e com a convergência tecnológica que abrange o jornalismo, redobra-se, ao meu ver, a importância do fazer jornalístico, resultado de uma teoria e de uma ética aplicadas ao exercício profissional, com seus valores métodos e técnicas, exige a disseminação de mensagens precisas, claras, contextualizadas por quaisquer suportes tecnológicos. E requerem movimento com as novas rotinas profissionais decorrentes do volume de informação, do ritmo social (KARAM, 2014, 157). O próprio autor, no entanto, faz um alerta importante, não é possível trafegar no mundo, no cotidiano e na atividade jornalística de reconstrução diária simbólica da realidade sem que escolhamos, preliminarmente, valores. Estes podem ser expressos pela adesão espontânea à reprodução da educação, ao conhecimento acumulado a partir das particularidades pessoais, grupais e sociais ou pela experiência histórica (KARAM, 2014, p. 157). A complexidade das questões 41 relacionadas a ética jornalística é tão ampla que parece não caber em uma única legislação ou norma profissional. Leis, códigos deontológicos e estatutos (como o ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente, por exemplo) precisam dialogar para que a práxis se construa o tratamento que será dado “a essa ou a aquela” informação, esse ou aquele fato. As multiformes dos episódios cotidianos exigem olhar singular sobre questões como os limites da liberdade de expressão e de imprensa diante da dignidade humano. Ou ainda, quando em jogo está a busca por informações de interesse público, aparece na arena das argumentações a discussão sobre a licitude na obtenção de documentos, falas e imagens que nunca seriam conseguidos se jornalistas não cometessem infrações, de acordo com alguma legislação.Em jogo, o direito à propriedade, direito a imagem, invasão de privacidade, falsidade ideológica. Figura 7- Limite de liberdade de expressão Fonte: https://segundoanoadivina.wixsite.com/deostartemudeomundo/ Lembra que é muito complexo lidar como regras para construção da informação, visto que, “a complexidade do movimentos dos conceitos e da reflexão ética não cabe na cristalização da norma. Os casos precisam ser examinados de 42 acordo com as circunstâncias” (2014, p.148). Nos casos, por exemplo, que o “fim”, com reconhecido interesse público, justifica os “meios”, manchado por infrações e atos fora da margem da moral social, jornalistas têm mais chance de ganhar a batalha. Os mecanismos considerados ilegais e questionáveis ganham uma espécie de “salvo-conduto” em nome do interesse da sociedade. Mas questões como essa não saem e não irão sair da agenda que pauta o debate ético da profissional. Estarão nos furos, nas grandes reportagens de repercussão social, política e/ou econômica. Serão motivos de questionamento nas universidades. Na lista de questões que colocam a ética jornalística na corda bamba destacamos ainda: O respeito aos valores particulares de determinadas culturas, a cláusula de consciência, segredo das fontes, a intervenção de jornalistas no diálogo com criminosos, a transmissão ao vivo de crimes como sequestros e perseguições. Mas, arriscamos afirmar que, nada produz um terreno mais fértil à crítica à ética jornalística que as escolhas de enquadramentos, as tentativas de imprimir uma verdade particular, o olhar unilateral, ideológico, maquiado por falsa imparcialidade e neutralidade. Ferrés (1996) é muito crítico neste ponto e destaca que nas democracias modernas a liberdade de expressão está condicionada à possibilidade de expressão. Diz: A censura política costuma ser substituída pela censura econômica e pela autocensura exercida no interior de cada meio em função dos seus próprios interesses. Inclusive nas democracias formais existem filtros de censura derivados da concentração da propriedade dos meios, dos sistemas de seleção dos profissionais, das exigências da publicidade que ajuda a sustentar esses meios, a da dependência das informações geradas pelo próprio governo ou pelas instituições. Em todos caso, são filtros tão assumidos que até mesmo os profissionais acreditam honestamente na objetividade de suas informações (FERRÉS, 1996, p. 67). Diferentemente de alguns exemplos dados acima, que são episódicos, o processo de construção simbólica imposto pela imprensa, motivados por interesses comerciais e políticos, que imprimem posições ideológicas a determinados temas, coloca (mais do que nunca) na berlinda a credibilidade de algumas empresas. A questão parece mais evidente agora por causa da internet e das multiplataformas sociais para obtenção de informações. 43 O processo vertical histórico de divulgação de informações jornalísticas, imposto pelos grandes grupos de comunicação, detentores dos meios de produção e divulgação, das fonte e das “verdades absolutas e únicas” de um tempo, perde força quando o público tem acesso a outras geradoras de informação jornalística que dão versões diferentes, que trazem outros pontos de vista, que colocam o consumidor de jornalismo diante de outras verdades. Hoje, ainda com menos força de inserção e alcance, mas com capacidade de gerar conflitos informacionais impensáveis em outros tempos. Os novos canais e fontes de informação não só ampliaram a oferta da produção do conhecimento produzido pelo jornalismo. Eles permitiram que o leitor e a audiência tenham acesso às versões diferentes de fato, aos olhares diferentes e façam invitáveis comparações de cobertura e enquadramentos. Caballero, Masip e Micó (2007) destacam um ponto importante sobre os desvios atuais: O monitoramento coletivo de derrapagens e a possibilidade de mais real de detectar os erros, visto que o jornalismo “tradicional” da atualidade não dispõe mais do acesso exclusivo às fontes e o monopólio da difusão da informação; o que amplia as possibilidades de interpretação do mundo. Interpretação que, se for profissional, será baseada em fatos. Mas com as várias possibilidades de versões distribuídas, por vários meios, o jornalista tem um desafio maior na geração de um conteúdo compreensível, com indícios de aproximação máxima da veracidade, geradora de confiança e credibilidade. Pisa em um terreno, segundo Karam (2014, p.141), movediço; porque pode ser engolido por determinas morais particulares e ainda submeter os fatos à sua particularizada moral, o que se desdobra em uma ética individualizada. A falta de equilíbrio e a unilateralidade ficam mais claros porque novas fontes de informação também se tornaram potenciais fontes de comparação de coberturas, de abordagens e enquadramentos jornalísticos. Ficou mais fácil identificar distorções e desvios éticos. A rede, as versões, os vídeos que circulam mais facilmente podem ser a conta prova, o cruzamento de dados que só se fazia dentro das redações. Ficou mais fácil perder a credibilidade e colocar na linha de tiro o contrato de confiança com o público. 44 CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS O Congresso Nacional dos Jornalistas Profissionais aprova o presente CÓDIGO DE ÉTICA: O Código de Ética dos Jornalistas que fixa as normas a que deverá subordinar- se a atuação do profissional nas suas relações com a comunidade, com as fontes de informação e entre jornalistas. Do Direito à informação. Art. 1° – O acesso à informação pública é um direito inerente à condição de vida em sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo de interesse. Art. 2° – A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de divulgação pública, independente da natureza de sua propriedade. Art. 3° – A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo. Art. 4° – A apresentação de informações pelas instituições públicas, privadas e particulares, cujas atividades produzam efeito na vida em sociedade, é uma obrigação social. Art. 5° – A obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação e a aplicação de censura ou autocensura são um delito contra a sociedade. Da Conduta Profissional do Jornalista Art. 6° – O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social e de finalidade pública, subordinado ao presente Código de Ética. Art. 7° – O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação. Art. 8° – Sempre que considerar correto e necessário, o jornalista resguardará a origem e a identidade de suas fontes de informação. Art. 9° – É dever do jornalista: – Divulgar todos os fatos que sejam de interesse público; – Lutar pela liberdade de pensamento e expressão; – Defender o livre exercício da profissão; – Valorizar, honrar e dignificar a profissão; – Opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos do Homem; 45 – Combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercida com o objetivo de controlar a informação; – Respeitar o direito à privacidade do cidadão; – Prestigiar as entidades representativas e democráticas da categoria; Art. 10 – O jornalista não pode: – Aceitar oferta de trabalho remunerado em desacordo com o piso salarial da categoria ou com tabela fixada pela sua entidade de classe; – Submeter-se a diretrizes contrárias à divulgação correta da informação; – Frustrar a manifestação de opiniões divergentes ou impedir o livre debate; – Concordar com a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, políticos, religiosos,raciais, de sexo e de orientação sexual; – Exercer cobertura jornalística, pelo órgão em que trabalha, em instituições públicas e privadas onde seja funcionário, assessor ou empregado. Da Responsabilidade Profissional do Jornalista Art. 11 – O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu trabalho não tenha sido alterado por terceiros. Art. 12 – Em todos os seus direitos e responsabilidades, o jornalista terá apoio e respaldo das entidades representativas da categoria. Art. 13 – O jornalista deve evitar a divulgação dos fatos: – Com interesse de favorecimento pessoal ou vantagens econômicas; – De caráter mórbido e contrários aos valores humanos. Art. 14 – O jornalista deve: – Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por terceiros e não suficientemente demonstradas ou verificadas; – Tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar. Art. 15 – O Jornalista deve permitir o direito de resposta às pessoas envolvidas ou mencionadas em sua matéria, quando ficar demonstrada a existência de equívocos ou incorreções. Art. 16 – O jornalista deve pugnar pelo exercício da soberania nacional, em seus aspectos político, econômico e social, e pela prevalência da vontade da maioria da sociedade, respeitados os direitos das minorias. Art. 17 – O jornalista deve preservar a língua e a cultura nacionais. Aplicação do Código de Ética 46 Art. 18 – As transgressões ao presente Código de Ética serão apuradas e apreciadas pela Comissão de Ética. 1° – A Comissão de Ética será eleita em Assembleia Geral da categoria, por voto secreto, especialmente convocada para este fim. 2° – A Comissão de Ética terá cinco membros com mandato coincidente com o da diretoria do Sindicato. Art. 19 – Os jornalistas que descumprirem o presente Código de Ética ficam sujeitos gradativamente às seguintes penalidades, a serem aplicadas pela Comissão de Ética: – Aos associados do Sindicato, de observação, advertência, suspensão e exclusão do quadro social do sindicato; – Aos não associados, de observação pública, impedimento temporário e impedimento definitivo de ingresso no quadro social do Sindicato. Parágrafo Único – As penas máximas (exclusão do quadro social, para os sindicalizados, e impedimento definitivo de ingresso no quadro social para os não sindicalizados), só poderão ser aplicadas após referendo da Assembleia Geral especialmente convocada para este fim. Art. 20 – Por iniciativa de qualquer cidadão, jornalista ou não, ou instituição atingida, poderá ser dirigida representação escrita e identificada à Comissão de Ética, para que seja apurada a existência de transgressão cometida por jornalista. Art. 21 – Recebida a representação, a Comissão de Ética decidirá sua aceitação fundamentada ou, se notadamente incabível, determinará seu arquivamento, tornando pública sua decisão, se necessário. Art. 22 – A aplicação da penalidade deve ser precedida de prévia audiência do jornalista, objeto de representação, sob pena de nulidade. 1° – A audiência deve ser convocada por escrito, pela Comissão de Ética, mediante sistema que comprove o recebimento da respectiva notificação, e realizar- se-á no prazo de dez dias a contar da data de vencimento do mesmo. 2 ° – O jornalista poderá apresentar resposta escrita no prazo do parágrafo anterior ou apresentar suas razões oralmente, no ato da audiência. 3° – A não observância, pelo jornalista, dos prazos neste artigo, implicará a aceitação dos termos da representação. 47 Art. 23 – Havendo ou não resposta, a Comissão de Ética encaminhará sua decisão às partes envolvidas, no prazo mínimo de dez dias, contados da data marcada para a audiência. Art. 24 – Os jornalistas atingidos pelas penas de advertência e suspensão podem recorrer à Assembleia Geral, no prazo máximo de dez dias corridos, a contar do recebimento da notificação. Parágrafo Único – fica assegurado ao autor da representação o direito de recorrer à Assembleia Geral, no prazo de dez dias, a contar do recebimento da notificação, caso não concorde com a decisão da Comissão de Ética. Art. 25 – A notória intenção de prejudicar o jornalista, manifesta no caso de representação sem o necessário fundamento, será objeto de censura pública contra o seu autor. Art. 26 – O presente Código de Ética entrará em vigor após homologação em Assembleia Geral de jornalistas, especialmente convocada para este fim. Art. 27 – Qualquer modificação deste Código somente poderá ser feita em Congresso Nacional de Jornalista, mediante proposição subscrita no mínimo por 10 delegações representantes de Sindicatos de Jornalistas. DEONTOLOGIA E O CONTEXTO POLÍTICO Deontologia: tratado dos deveres jornalísticos Ética e Deontologia Jornalísticas No ensino da profissão É inegável, hoje, a importância das novas tecnologias da comunicação e da multimídia no acesso ao conhecimento produzido em diferentes campos do Saber, em distintas regiões geográficas. Este acesso é importante, também, para que se conheça as decisões, versões e opiniões em diferenciados campos do Poder e de sua produção. Embora a produção de Saber envolva, em diversas áreas, uma linguagem até certo ponto hermética, e mesmo que esta produção seja em ritmo mais lento, a quantidade e distinção de conhecimento, seja na Medicina, na Física Nuclear ou na 48 História permitem que, com critérios de seletividade e a utilização das redes telemáticas, as pessoas tenham potencialmente acesso a esta produção. Isto é importante? Parece que sim, porque as descobertas científicas, as interpretações históricas, os eventos que isso suscita e as opiniões sobre eles, num mundo também potencialmente globalizado em seus aspectos econômicos, políticos, culturais e midiáticos, interessam às pessoas, que deles receberão efeitos. Ao mesmo tempo, as decisões políticas próximas ou distantes, públicas ou secretas, terão efeito na vida do mais remoto e pacato cidadão de distantes regiões, de diferentes mundos culturais e sociais. Se há relevância na circulação de informação sobre os eventos e as decisões contemporâneas, em todos os campos do Poder e do Saber, são inegáveis, também, que esta informação tem um caráter de interesse público geral. E se esta informação interessa a todos e, ao mesmo tempo, circula em meios sofisticados desde a perspectiva tecnológica, com uma rapidez quase instantânea à sua produção -em redes de, teoricamente, fácil acesso público-, é relevante que haja estudos para detectar alguns postos-chave na produção de tal conhecimento e informação. É importante que, dentro deste contexto, sejam aprofundados estudos sobre os limites para o exercício ético da atividade profissional no Jornalismo, diagnosticando os principais problemas existentes hoje e situando, simultaneamente, as suas possibilidades. Figura 10- multimídia e as novas tecnologias 49 http://www.sjsp.org.br/noticias/a-etica-jornalistica-em-tempos-modernos-tecnologicos É preciso situar a potencialidade e os limites do exercício profissional mas, ao mesmo tempo, mostrar as mudanças que a multimídia e as novas tecnologias em geral apontam para a área, para a nova mediação social da realidade que os profissionais terão como desafio fazer e os limites que se avizinham e aumentam. Isto já daria "pano pra manga" em quatro anos de jornalismo. Além das disciplinas técnico- laboratoriais, em que pode ser objeto de embasamento para o aluno ir à rua, deve a meu ver, existir disciplina ou disciplinas específicas de Ética e Deontologia de Jornalismo, de preferência autônomas em relação à que trata da Legislação da área. Há muitas coisas a se discutir. Um modelo de disciplina envolve não apenas o tratamento de cada caso/problema ético deontológico, mas de refletir porque está maisadequado ou correto de uma maneira e não de outra. Isto envolve valores que, partindo da Filosofia e da Teoria do Jornalismo, chega aos valores profissionais, onde será necessário inscrever a profissão na história e na contemporaneidade. Acho que é a melhor maneira de fugir do arbítrio, do autoritarismo e dos achismos e chutes em geral. O debate sobre a ética jornalística e sobre as temáticas e procedimentos profissionais deontológicos em jornalismo vêm crescendo nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que é ampliado o número de códigos, subscritos por categorias profissionais e empresariais no campo da Comunicação e do Jornalismo, cresce também a análise sobre a eficácia e a utilidade das referências deontológicas na área. O jornalista e escritor Serge Halimi mostra-se cético quanto à existência de códigos deontológicos (1998:130). Enquanto isso, Aznar considera que os códigos deontológicos no jornalismo contribuem "de maneira fundamental para criar e afirmar uma consciência moral coletiva dentro da profissão" (1997:128). Assim como eles, diversos pesquisadores e profissionais têm contribuído para o debate sobre a profissão jornalística e sua deontologia específica. Com a divisão social do trabalho, a complexidade e a especificidade do trabalho jornalístico, o século XX viu nascerem e crescerem, em diferentes instâncias, regiões geográficas e atividades, os códigos deontológicos profissionais. 50 A tecnologia acelerou este processo e os debates sobre o tema foram ampliados. Hoje, inúmeras empresas de comunicação e federações/associações de jornalistas subscrevem algum código de conduta, expressando limites e obrigações profissionais no campo ético. Embora não tenham expressão jurídica, tais princípios prescrevem normas morais para a atividade jornalística. No Brasil, por exemplo, a década de 90 viu o tema ser ampliado, especialmente com a participação dos empresários de comunicação na discussão do tema ética. Se antes já havia o Código de Ética dos Jornalistas, proposto e aprovado no âmbito da Federação Nacional dos Jornalistas (1986), os princípios deontológicos explicitaram-se por meio de novos documentos, desta vez elaborados e aprovados pelos empresários da área de mídia eletrônica e de mídia impressa. Surgiram, a partir da intensificação do debate sobre ética no jornalismo e na comunicação, o Código de Ética da Associação Nacional dos Jornais (1991) e o Código de Ética da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (1991). Mais que isso, em março de 1994, em Chapultepec, no México, empresários da mídia jornal de toda a América, associados à Sociedade Interamericana de Imprensa, subscreveram uma Declaração de Princípios sobre a atividade jornalística. Os manuais de redação, adotados por jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, no Brasil, em geral também tratam de comportamento profissional, com desdobramento na esfera dos procedimentos éticos em relação ao trabalho cotidiano. Em tais códigos, princípios ou manuais propostos pelo setor empresarial da mídia, os procedimentos ou princípios gerais para o jornalismo têm muita coisa em comum com os códigos produzidos pela categoria profissional da área. Hoje, a ampliação das novas tecnologias, com a estrutura combinada de comunicação (mídia cruzada) e sociedade de empresas de comunicação com outros ramos da produção, como o financeiro, agropecuário e construção civil (Frattini y Colías: 1996), tornou ainda mais complexa a forma de produção da informação jornalística em todo o mundo. Sucessiva e simultaneamente a este fenômeno, ampliam-se os fóruns de discussão sobre padrões éticos a serem adotados no âmbito da produção jornalística. Figura 11 – Jornalismo e Política 51 Fonte: https://portal.unit.br/jornalismo/sem-categoria/jornalismo-politico/ Embora existam limites operacionais vinculados a interesses políticos, ideológicos, econômicos, sociais ou mercadológicos, reafirmam-se princípios deontológicos a cada nova reunião, a cada nova solenidade, a cada novo congresso da área (ver, por exemplo, Bonete Peales: 1995; Villanova: 1996). Por isso, os códigos de ética subscritos por entidades profissionais e empresariais, assim como os documentos sobre o tema aprovados por organizações supranacionais, são importantes de serem analisados. Mas, paradoxalmente, no Brasil há ainda poucos estudos espichos sobre os códigos deontológicos. Neste aspecto, é fundamental entender a importância dos estudos teóricos e analisar os discursos dos códigos éticos na informação jornalística, seus limites, sua ambiguidade. Será possível, com estes textos, examinar, também, os limites dos princípios, artigos, incisos escritos e as possibilidades reais de cumprimento. Uma aproximação com os estudos específicos sobre ética e deontologia no jornalismo poderiam envolver núcleos de pesquisa, desde a graduação, para se chegar a objetivos e debates, alguns dos quais estamos estudando e desenvolvendo como: Identificar princípios em comum nos códigos deontológicos formulados no âmbito profissional e empresarial jornalístico e governamental e supranacional que trate do tema, no Brasil e Exterior. Identificar as diferenças substanciais entre tais códigos deontológicos. 52 Aproximar as convergências e diferenças deontológicas com o quadro operativo profissional e empresarial, buscando a identidade jornalística comum e possíveis pontos de divergência. Propor, subsidiar e formular estudos sobre os princípios deontológicos diante do quadro operacional jornalístico, contribuindo para a constituição, ampliação e debate sobre a atividade profissional do ponto de vista teórico, ético, técnico, estético e tecnológico. Analisar as contradições estabelecidas nos diferentes códigos investigados, incluindo tergiversações, ambiguidades e interpretação subjetivas que podem apontar para práticas contrárias com base nos mesmos textos e discursos. Analisar as tendências da informação contemporânea, de seu fluxo, utilização e controle, incluindo os aspectos éticos emergentes na utilização das novas tecnologias, como a confecção da informação jornalística por meio da Internet. Analisar a tendência da profissão jornalística diante das novas tecnologias de comunicação e da multimídia e de sua integração, à luz de um mundo potencialmente globalizado. Analisar a aplicabilidade dos princípios deontológicos diante dos limites operacionais do profissional no cotidiano e das megafusões midiáticas que gradativamente ocorrem nos planos nacional e internacional. Os postulados da doutrina estratégica profissional A grande utopia jornalística é dizer a verdade, independente de todos os empecilhos, Sabemos que as verdades obtidas com trabalho árduo, crescem como frágeis plantas e cercadas de inimigos. Todos querem destruir ou menosprezar as verdades dos jornalistas que são, geralmente, classificadas como inconvenientes, ou prematuras, ou perversas, por aqueles que preferem o alucinógeno da mentira. Entretanto persistimos na utopia da verdade (RESTREPO, 2007). 53 Definição deontológica central na atividade jornalística, a verdade é um conceito que compõe visões ideológicas e culturais, transita com época e diferentes morais sociais. A exatidão em apurar a informação ou a objetividade no relato está envolvida na busca da verdade, entretanto, na interpretação de Karam (1997), essa operação não deve esconder da humanidade os valores aí inseridos. Em outros termos, fatos não surgem do acaso, são resultados de pressupostos anteriores, de conflitos e desequilíbrios pessoais, cujas razões originam-se de perdas emocionais ou financeiras. Em resumo, o relato verdadeiro deve expressar “o mundo moral que o cerca, com os desdobramentos culturais, políticos, sociais” (KARAM, 1997, p. 107- 108). A respeito do tema provocadorde contendas, Wilson Gomes (1993) raciocina filosoficamente em relação ao fato jornalístico. Até porque crê na importância do fenômeno do jornalismo como elemento definidor da cultura e da sociabilidade contemporâneas, o autor recusa a desqualificação de toda e qualquer possibilidade de verdade e objetividade do fato no jornalismo. Baseado em Aristóteles, Gomes (1993, p. 72) explica que [...] a verdade é a adequação entre a coisa mesma e a nossa representação ou nossa enunciação a seu respeito; a mentira ou falsidade então seria a inadequação entre esta, a representação e os nossos discursos. Interpreta-se que a citada representação, como o entendimento sobre um determinado tema, objeto, texto, ou situação, é formada a partir da maneira como vemos as coisas, a qual “é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos” (BERGER, 1999, p. 10). Também, como diria Gomes (1993), o conhecimento que temos das coisas não é puro, pois as percebemos já submetidas a uma intervenção do sujeito. Um estado de perspectiva leva o autor mencionado a admitir, baseado em Nietzsche, que diante da pluralidade de formas de vida, não há verdade, mas verdades. Situando a verdade contida nas coberturas jornalísticas, Gomes discorre uma posição relativista, admite-se bem razoável, quando sustenta sobre uma notícia que a sua verdade ou falsidade são relativas, enquanto serão sempre “verdade-para- alguém ou falsidade-para-alguém”, visto que o parâmetro para a sua avaliação exige 54 um olhar em perspectiva e é dado dentro do horizonte da perspectiva onde o avaliador se situa (GOMES, 1993, p. 80). O Código Brasileiro dos Jornalistas preconiza que “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação”. Há de se entender que a verdade jornalística está mais voltada para a veracidade, uma vez que não se pode estabelecer uma verdade universal. O profissional deve narrar os fatos verazes; a verdade é inerente a cada um. Gomes (1991, p. 25) também teoriza sobre o entendimento entre verdade e veracidade. Afirma que o princípio da veracidade é uma norma ética da comunicação, e aquele que defende uma argumentação a faz com pretensão de verdade. Elucida o raciocínio afirmando que enquanto o princípio pragmático exige do enunciante que ele pretenda ser veraz, a pretensão do meio é de que aquilo que aí se enuncia seja verdadeiro. E mais, distingue dois tempos na “verdade da notícia”: primeiro, apreender uma notícia significa entendê-la, interpretá-la; segundo, apreender o que é noticiado, desvelar o que se fala ou o sentido verdadeiro do texto (GOMES, 1993). Naquilo que concerne aos limites do perspectivismo, ou seja, o verdadeiro ou falso no enunciado dos fatos, desponta a perda da dimensão crítica, Não temos mais critérios para distinguir entre interpretação e uso de mensagens, entre bom e mau jornalismo, entre a má-fé tornada notícia e a tentativa honesta de narrar os fatos, entre uma boa e uma má interpretação de eventos. Porque evidentemente não se trata apenas da impossibilidade de detectar-se a verdade, como também, reciprocamente, de identificar a mentira como mentira (GOMES, 1993, p. 81). Num mundo em que Restrepo (2007, p. 7) acredita que a mentira é instrumento de poder herdado do século XX, o jornalista quer encontrar a verdade dos acontecimentos. Movido por grandes ideais e orgulho profissional, em atuação há 50 anos, exalta a utopia como uma voz interior que convence a todos da necessidade de corrigir o presente e de construir uma realidade melhor, aquela que recorda “os códigos éticos insubornáveis”. O colombiano expressa que quando os lemos, a sensação é de entrar num “território de máximos, de requerimentos que superam o real de cada dia”. A ética se situa em níveis mais altos que o real, como expressão, não de outra realidade, mas 55 “elevada à sua mais alta potencialidade” (RESTREPO, 2007, p. 13). Reafirma que adotar um código é assumir um compromisso com o melhor de si e com as mais altas expectativas da sociedade. A ética é, efetivamente, uma segunda natureza. A primeira nos é dada com todas as suas chaves e possibilidades; a segunda é de nossa autoria, ninguém a impõe a nós, ninguém nos substitui nessa tarefa; tem como matéria prima a primeira natureza com suas possibilidades. Ao convertê-las em algo real é como se nascêssemos de novo. A ética é uma forma de renascer, mas não de qualquer maneira, mas sim de encontrar a excelência para a qual todo homem nasce. É a razão de ser das utopias (RESTREPO, 2007, p. 13). A possibilidade existente em cumprir os preceitos éticos pode ser explicada pela ideia aristotélica de que as virtudes não nos são dadas pela natureza. Ela nos dá a capacidade de recebê-las, as quais são aperfeiçoadas pelo hábito. Primeiro, chega-nos a potência, o pré requisito para exteriorizar a atividade; a partir daí, há possibilidades de desenvolver a segunda natureza, ou seja, de fomentar as próprias utopias positivas, onde tem lugar a ética jornalística. Em suas observações sobre manuais jornalísticos, Chaparro (2007) compara os nossos com alguns estrangeiros, e questiona sobre o significado de nenhum dos brasileiros, nos textos introdutórios, trazerem qualquer termo ou mesmo ideia relativa ao dever da busca da verdade. Na sua interpretação, isso combina com o fato de que, na prática, o interesse do leitor não tem “poder de interferência,” nem nas intenções nem nos conteúdos (CHAPARRO, 2007, p. 130). Chama a atenção, Os próprios jornais, que deviam exigir dos seus profissionais comportamentos morais rigorosos, no que diz respeito à veracidade dos relatos jornalísticos, dão frequentemente demonstrações de que os discursos éticos dos editoriais, sempre exaltadores dos compromissos com a verdade, não passam de retórica hipócrita (CHAPARRO, 2007, p. 132). A verdade ou veracidade no jornalismo significa objetividade, fidelidade do repórter ao relatar o fato ocorrido a ser noticiado. Na compreensão de Gomes (1991), não só um princípio ético, mas também uma teoria do conhecimento e uma ontologia. O texto jornalístico compartilha com o contrato de valor fiduciário entre sociedade e jornalismo para que este cumpra a promessa deontológica e democrática de divulgar a veracidade das notícias às audiências. Igualmente, discute-se a possibilidade ou não da objetividade no trabalho dos jornalistas, considerando as 56 condições das práticas diárias nas redações e a própria natureza das produções individuais. Produções estas, naturalmente, carregadas de elementos históricos, socioculturais e políticos, impregnados desde a formação do ser até a assimilação de comportamentos socioambientais e profissionais transmitidos à escritura pessoal. Assunto provocador e complexo, ser objetivo e verdadeiro na transmissão dos fatos é uma exigência presente em 100% dos códigos de deontologia jornalística. A história do jornalismo aponta alguns tipos de procedimentos chamados de éticos, que se transformam, conforme Karam (2004), em condutas da profissão presentes nos princípios e códigos. Entre os 24 itens da lista apresentada pelo autor, escolheu-se discorrer sobre a objetividade – verdade, precisão, verossimilhança ou exatidão –, por tratar-se justamente do que se considera primordial neste livro. Guerra (1998) evidencia o que ele assimilou como “imperativo ético fundante do jornalismo”: a premissa de que o jornalista deve ater-se aos reais acontecimentos dos fatos, até por conta do pensamento subjacente do crédito de confiança depositado pela audiência, o que não poderia deixar de ser dessa maneira, visto que o fato noticiado não é vivido diretamente pelo público. O crédito firmado na crença e no reconhecimento, componentes do poder simbólico tratado por Bourdieu (1989), é conferidopelos agentes a uma pessoa ou objeto. O exemplo é abordado no campo político, mas pode ser adaptado ao campo jornalístico na relação entre jornal e leitor, espectador ou internauta. A notícia é recepcionada, em geral, pelo leitor como verdade, afinal o poder simbólico, nesse sentido considerado de valor fiduciário, é um crédito que “aquele que lhe está sujeito confere aquele que o exerce” (BOURDIEU, 1989, p. 188). Dizendo de outra forma, assim como o homem político retira sua força política da confiança que o grupo lhe deposita, o leitor confia nos jornalistas, mediante um “acordo de cavalheiros”, na expressão de Traquina (1993), estabelecido para garantir a fronteira entre o real e a ficção. Seu objetivo no fazer jornalístico corresponde a ser o mais fiel possível na transmissão do fato ocorrido, na sua representação pelo verbo, evitando-se a influência direta e consciente do profissional, o sujeito que detém o conhecimento no jornalismo. São três as determinações metodológicas, de acordo com Guerra (1998), 57 para alcançar a objetividade: a intenção do repórter, rigor na apuração dos fatos e a redação das notícias. A neutralidade representa a isenção do repórter diante dos inúmeros interesses que circundam o fato, diga-se, de méritos políticos, financeiros ou diretamente pessoais; denota, pois, a não tendenciosidade e sugere evitar a partidarização prejudicial a um dos lados envolvidos. A indistinção é fator de avaliação da credibilidade jornalística e está prescrita no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Emerge nos anos de 1970, os estudos da parcialidade (news bias studies) e fazem parte da Teoria da Ação Política Jornalística. Conforme Robert Hackett (1993), a parcialidade, ou o que geralmente se aceita como seu oposto, a objetividade, são conceitos que a maioria dos cidadãos associa tanto ao papel político quanto ao ideológico dos media noticiosos. A intrusão da “opinião” subjetiva do repórter ou da organização em um relato “factual” é a parcialidade. Para Hackett, o fenômeno tem dois momentos tensos enquanto critérios da objetividade: a falta de “equilíbrio” entre pontos de vista concorrentes e a “distorção” tendenciosa e partidária da “realidade” (HACKETT, 1993, p. 103). A objetividade é motivo de muitas contendas. Para se transmitir a “verdade” pura teria que haver um consenso em volta de um único ponto de vista para interpretar os fatos, já que há propósitos diversos oriundos de culturas ou origens sociais variadas. Quando observa interpretações diversas dos acontecimentos, Molotch e Lester (1993, p. 36), dizem que como os indivíduos ou as coletividades têm propósitos diferentes, “enraizados em diversas biografias, estatutos, culturas, origens sociais e situações diferentes”, eles terão utilizações diferentes e opostas para as ocorrências. Os estudiosos norte-americanos citados ressaltam que os profissionais da mídia conseguem produzir um produto que favorece as necessidades de acontecimentos de certos grupos sociais e desfavorece as de outros. Para eles, o abafamento de tal multiplicidade facilita o processo de hegemonia de quem detém o poder (MOLOTCH; LESTER, 1993, p. 41). Essa “verdade” que se revela hegemônica, na opinião de Guerra (1998), abala o compromisso ético fundante do jornalismo que se baseia sobre uma teoria do conhecimento equivocada: 58 O jornalismo não é o espelho do real, a objetividade é inatingível. Mas, apesar disso, toda a instituição jornalística insiste nela. Tem-se um impasse quanto à validade do imperativo ético: é sustentado pela perspectiva hegemônica, que se pretende consensual, mas é colocado em causa pelos setores divergentes, que não se veem contemplados por ele. Os indivíduos que compõem tais setores não se sentem membros em igualdade de condições com outros pares que defendem os valores morais vinculantes dessa comunidade (GUERRA, 1998, p. 53). Guerra (1998) complementa que toda pretensão de “verdade”, logo, esconderia uma pretensão, na teoria nietzschiana, da “vontade de poder”, no anseio de uns dominarem outros. A propósito de descrever a objetividade como marca do jornalismo americano, Jay Rosen (2000) elenca cinco formas de compreendê-la: Como um contrato laboral; Uma teoria para chegar à verdade; Um conjunto de rotinas e procedimentos profissionais; Uma técnica de persuasão e; Um ideal democrático. Na sua avaliação por nenhum desses itens a objetividade tem alcançado apoio público suficiente para o jornalismo escrito. Especificamente, sobre a busca da verdade, chamada de epistemologia ou até “ideologia”, o artifício está esgotado em razão do infeliz efeito de alienar o jornalista do debate intelectual, já que pretende seguir a “teoria da separação”: “fatos de valores, informação da opinião ou notícias dos pontos de vista” para chegar à verdade. O pensamento nas ciências humanas no século XX, ao contrário, procurou historicamente, desfazer essas separações (ROSEN, 2000, p. 141). Melhor que aplicar a objetividade concorda-se com a sugestão de que o jornalista aplique a equidade como forma de procurar a justiça e encontrar a linha ética. Quanto ao ritual de procedimentos, Rosen (2000) considera que a busca de equilíbrio traduz-se menos numa direção e mais numa fuga à verdade. Evidencia que para alguns estudiosos, a objetividade é uma forma de fugir à responsabilidade pela verdade de seus relatos. Acredita que ela tem a astuciosa habilidade de desvalorizar e de desviar qualquer crítica pela simples pretensão de colocar-se no meio, 59 principalmente, nas contendas políticas, “no terreno intermédio e autoritário entre extremos” (ROSEN, 2000, p. 142). O plano sugerido para obter a objetividade é analisado igualmente por Gaye Tuchman (1993), que a observa do ponto de vista dos profissionais. É vista como um ritual estratégico usado para proteção contra os riscos profissionais ou para neutralizar potenciais críticas internas – os prazos impostos para entrega de material e reprimendas dos superiores – e as externas – processos difamatórios ou problemas com fontes. O ritual é uma tática defensiva em favor de jornalistas, contra críticos, público, fontes ou autoridades envolvidas. Dessa forma, o foco da objetividade é transferido da notícia para a conduta dos profissionais, portanto, para a questão ética. “A objetividade não reside nas próprias notícias, reside mais no comportamento dos jornalistas” (ROSCHO, 1975 apud SOLOSKY, 1993, p. 96). Opina Solosky (1993), que para os jornalistas, a objetividade não significa que eles são observadores imparciais de acontecimentos, como os cientistas sociais, mas que procuram e relatam os fatos do modo mais imparcial e equilibrado possível. Conforme Tuchman, mesmo seguindo os procedimentos noticiosos, tidos como atributos formais utilizados como estratégias dos jornalistas para atingirem a meta objetiva, não se pode dizer que conseguem alcançar a objetividade. Os procedimentos sugerem que: Constituem um convite à percepção seletiva; Insistem erradamente na ideia de que “os fatos falam por si”; São um instrumento de descrédito e um meio do jornalista fazer passar a sua opinião; São limitados pela política editorial de uma determinada organização jornalística, e; Iludem o leitor ao sugerir que a “análise” é convincente, ponderada ou definitiva (TUCHMAN, 1993, p. 89 Os métodos citados, além de transparecer falta de clareza ética, mostram a discrepância entre os objetivos procurados, os alcançados e os meios utilizados. O jornalismo recebe a aquiescência pública para assumir o encargo de ser o discurso 60 da realidade. A objetividade, um instrumento que tenta divulgar um discurso fiel ao fato, logo, um caminho para realizar a missão, torna-se impossível (GUERRA, 1998). Entre o fato e a versão, existe a mediação do jornalista quecarrega toda uma formação cultural, é o que argumenta Rossi (2000). Apesar de defender a possibilidade de um jornalismo objetivo, admite que o exercício da objetividade com relação aos fatos de grande incidência política e/ou social não é mais do que “um mito” (ROSSI, 2000, p. 10). Em crítica ao livro de Rossi, Adelmo Genro Filho (1987) assegura que o texto está baseado em pressupostos falsos, tal qual o argumento de que os fatos jornalísticos são em si mesmos objetivos. Afirma que o que Rossi não percebe – porque teoriza a partir do “‘senso comum” da ideologia burguesa e da sua relação pragmática com as técnicas jornalísticas – é que os próprios fatos, “por pertencerem à dimensão histórico-social, não são puramente objetivos” (GENRO FILHO, 1987, p. 49, grifos do autor). Percebe-se que a questão da objetividade, no âmbito jornalístico, é bifacial: seu lado positivo prima pela verdade no relato noticioso; a face negativa, por assim dizer, usa-a como estratégia para fugir da responsabilidade política peculiar da profissão. O que, naturalmente, não é aceitável, afinal, o papel político que caberia à imprensa desempenhar nos termos de um “Quarto Poder” é explicado por alguns modelos. Entre eles, o Fourth Estate que descreve a imprensa como um contra poder, cujo papel é promover um controle externo do governo, em nome do interesse dos cidadãos. A objetividade vive uma crise pelo seu descrédito, por ser um mito falível e de baixa inspiração, assim pensa Rosen (2000). Sua proposta de revitalização requer maior implicação pessoal e profissional nos fatos e persegue uma verdade desinteressada como ideal democrático. Na explanação de motivos que combatem o instrumento metodológico e ético, o autor sugere maior envolvimento do profissional nas causas civis, Chamo ‘jornalismo público’ a uma teoria e a uma prática que reconhece a suprema importância que tem o melhorar a vida pública. Em poucos anos será crítico para as pessoas no jornalismo declararem um fim a sua neutralidade em certas questões. Por exemplo, se as pessoas participam ou não, se temos debate genuíno neste país, se o sistema político funciona, se a vida pública atrai os seus cidadãos, seus líderes políticos merecem o nosso respeito. À medida que estes comecem a compreender que não podem dar- se ao luxo de ser neutros nestas questões, começarão talvez, a lutar pela sua própria filosofia, uma filosofia que consiga substituir a objetividade por 61 algo mais forte e, se posso expor as coisas assim, mais inspirador (ROSEN, 2000, p. 150). A atitude seria um antídoto em vista do que o estudioso citado encara como objetividade: “uma filosofia muito má e impraticável para a tarefa de reaproximar os cidadãos da política e da vida pública” (ROSEN, 2000, p. 148). O alvo então é a nova “teoria da credibilidade”, onde o crédito é alcançado porque o profissional, segundo o autor, envolve-se, preocupa-se, importasse com a comunidade. Pela teoria anterior, a objetividade advém da imparcialidade e da distância. Desacreditado o mito, perguntasse no texto qual a filosofia pública mais forte para o jornalismo. Reconhecer o seu papel na construção da democracia, responde. Ela deve ser criada, reinventada, reimaginada; com tal assunção, surgirá uma nova abordagem profissional. Podemos dizer, sentencia o autor, que o jornalismo é uma das mais “importantes artes da democracia, e que o seu objetivo final não é fazer notícias ou reputações, ou manchetes, mas simplesmente fazer a democracia funcionar” (ROSEN, 2000, p. 150). Há de se acreditar em tudo isso, há de se concordar com a imprescindibilidade da ética na imprensa, todavia, não é consciente desconhecer o contexto diário da produção de notícias. Assim, não se pode esquecer das palavras de Restrepo (2007), sobre as interveniências que dificultam muitas vezes o cumprimento dos ditames éticos jornalísticos, transformando-os em utopia. As teorias jornalísticas vêm explicar esses processos que lidam com a realidade da profissão. O Conselho de Comunicação Social é um outro lugar construído de onde se pode falar do exercício ético jornalístico. CONSIDERAÇÕES FINAIS A ética é uma constante na contemporaneidade, seu tema permeia várias frentes e assuntos como a ética pessoal, profissional, a ética social, política, privada, dos direitos humanos, a ética ambiental, médica; aquela voltada ao mundo acadêmico, a ética da comunicação, incluindo a mídia e o jornalismo. Ainda discute- se a ética do futuro, pela qual temos responsabilidade geracional. Há muitas variantes, por conseguinte, não se acaba nesta simples lista. 62 Há outra questão a considerar: a globalização e o desejo de progresso de qualquer modo, com o fito de melhorar a vida da população, têm perdido o fascínio em virtude do efeito contrário, um gap cada vez maior das diferenças entre os cidadãos dos países politicamente fortes, centrais e ricos e os outros frágeis e periféricos. Com isso, a ética deixou de ser vista como uma “questão abstrata e passou a constar da lista das mais caras exigências públicas contemporâneas” (GARRAFA, 2006, p. 32). Apesar de tão propalada nos dias de hoje, pode traduzir, ao contrário, a sua ausência, a deformação de valores espirituais e sociais, a descrença absoluta nas sociedades contemporâneas. A discussão está presente nas academias, entretanto, não com tanto vigor. Benetti (2003, p. 1) confessa que o valor da ética jornalística é ensinado aos alunos, a credibilidade é repassada como o maior bem de um veículo (e de um profissional). No entanto, em algum lugar do caminho, “a ética e a credibilidade tornaram-se velhinhas simpáticas, mas ultrapassadas – para alguns, inclusive um estorvo”. 63 REFERÊNCIAS ABRAMO, Cláudio. A regra do jogo: o jornalismo e a ética do marceneiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. ALBERTI,Verena. O riso, as paixões e as faculdades da alma. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS, 18, 1994, Caxambu-MG. Anais... Caxambu: ANPOCS, 1994. ALBUQUERQUE, Afonso de. A três faces do Quarto Poder. In: MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Fávia (Org). Mídia, representação e democracia. [S.I.] Editora Hucitec, 2011.ISBN: 9788579700316. ALMEIDA, Jorge. Marketing político, hegemonia e contra hegemonia. São Paulo: Xamã, 2002. p. 26-50. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2. ed. Tradução de Edson Bibi. Bauru, SP: Edipro, 2007. BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Iara Frateschi Vieira. 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