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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Etiologias ....................................................................... 7 3. Quadro laboratorial..................................................10 4. Quadro clínico ............................................................12 5. Diagnóstico ................................................................13 6. Tratamento .................................................................23 Referências Bibliográficas .........................................28 3HIPERALDOSTERONISMO 1. INTRODUÇÃO O hiperaldosteronismo primário (HAP) ou síndrome de Conn é uma síndrome que inclui uma gama de de- sordens caracterizadas pela produção excessiva e autônoma de aldosterona (independente do sistema renina-an- giotensina), com supressão da ativi- dade de renina plasmática, presen- ça de hipertensão arterial sistêmica e, em 50% dos casos, hipocalemia e alcalose. Já o hiperaldosteronismo secundário ocorre devido à produ- ção aumentada de aldosterona pelas glândulas adrenais em resposta a es- tímulos extra-adrenais, não relacio- nados com a glândula hipófise, como a hipoperfusão renal e outras condi- ções que a causam. Hiperaldosteronismo primário Aldosterona alta, renina baixa Hiperaldosteronismo secundário Aldosterona baixa, reni- na alta SAIBA MAIS! O hiperaldosteronismo primário é a causa mais comum de hipertensão arterial sistêmica secundária. HORA DA REVISÃO! É interessante revisar alguns aspectos da glândula suprarrenal antes do estudo do hipe- raldosteronismo propriamente dito. Em relação à anatomia, temos que esta glândula é composta por cápsula, córtex e medula. Figura 1. adaptada e retirada da seção de Endocrinologia – Hiperaldosteronismo da plataforma Sanarlix. ► 4HIPERALDOSTERONISMO Em relação à histologia e respectiva produção hormonal, temos: Figura 2. Adaptada e retirada da seção de Endocrinologia – Hiperaldosteronismo da plataforma Sanarlix. A zona glomerulosa (1) é responsável pela produção de hormônios mineralocorticoides. Já a zona fasciculada/fascicular (2) é responsável pela produção de hormônios glicocorti- coides, enquanto a zona reticular (3) é responsável pela produção de esteroides anaboli- zantes e androgênios. O sistema renina-angiotensina-al- dosterona se trata de uma série de reações concebidas para ajudar na regulação da pressão arterial. Quando a pressão arterial cai, as células jus- taglomerulares da mácula densa dos rins detectam uma queda dos níveis de sódio em seus receptores, produ- zindo a enzima renina e liberando-a na corrente sanguínea. Isso, associa- do à diminuição da carga de sódio no túbulo contorcido distal dos néfrons e à ativação do sistema nervoso autô- nomo simpático em resposta à dimi- nuição da pressão arterial, favorece a produção de renina. A renina, então, cliva o angiotensino- gênio produzido pelo fígado, gerando angiotensina I. A enzima conversora de angiotensina (ECA), produzida so- bretudo pelo endotélio capilar pulmo- nar, cliva a angiotensina I, formando angiotensina II. Esta atua por meio de dois receptores principais: AT1, indu- zindo vasoconstrição das arteríolas e arteríola eferente, antinatriurese, anti- diurese, liberação de aldosterona pela adrenal e vasopressina pela glândula hipófise, fibrose e proliferação celular; já o receptor AT2 contrabalança todos esses efeitos. 5HIPERALDOSTERONISMO A aldosterona e vasopressina fazem com que os rins retenham sódio. A aldosterona também faz com que os rins excretem potássio. O aumento de sódio, então, faz com que a água seja retida, aumentando, assim, o volume de sangue e a pressão arterial. + FUNCIONAMENTO DO SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA (SRAA) ↓ Na+ no TCD Ativação do SNASAngiotensinogênio ↓ PA Renina Angiotensina I ECA Angiotensina II Aldosterona Retenção de sódio + água Aumento da PA A aldosterona exerce três ações prin- cipais sobre a porção terminal do tú- bulo distal e sobre os ductos coletores do rim: aumenta a reabsorção de Na+, a secreção de K+ e a secreção de H+. Seus efeitos sobre a reabsorção de Na+ e a secreção de K+ ocorrem nas células principais, e seu efeito sobre a secreção de H+ ocorre nas célu- las intercaladas α. Assim, quando os níveis de aldosterona estão elevados, a reabsorção de Na+ e a secreção de K+ e H+ estão aumentadas. Essas al- terações no transporte renal, então, resultam em expansão do volume do líquido extracelular, hipertensão, hi- pocalemia e alcalose metabólica. 6HIPERALDOSTERONISMO FLUXOGRAMA SOBRE A SÍNTESE DOS HORMÔNIOS ADRENAIS SÍNTESE DE ALDOSTERONA Aldosterona sintase Colesterol Pregnenolona Progesterona 11-desoxicorticosterona Corticosterona Aldosterona 17-hidroxipregnenolona Desidroepiandrosterona 17-hidroxiprogesterona Androstenediona 11-desoxicortisol Cortisol Antes considerada uma causa rara de hipertensão, o hiperaldosteronismo primário (HAP) pode estar presen- te em a 5% a 10% da população de hipertensos. É ainda mais prevalen- te em portadores de hipertensão de difícil controle. Somente uma mino- ria dos pacientes com HAP (9-37%) manifestará hipocalemia, sendo essa condição presente provavelmente nos casos de diagnóstico mais tardio. Outro fator significante é a maior mor- bidade e mortalidade cardiovascular encontrada em pacientes com HAP quando comparados pacientes de mesma idade e sexo, além do mesmo nível de elevação da pressão arterial, com pacientes hipertensos primários. 7HIPERALDOSTERONISMO É também mais prevalente em mu- lheres (2:1) e negros, com idade de maior prevalência entre 30-50 anos. SE LIGA! Um em cada cinco pacientes com hipertensão resistente, definida como aquela refratária ao tratamento com três classes de anti-hipertensivos, devendo ser uma delas obrigatoriamen- te um diurético, tem hiperaldosteronis- mo primário. 2. ETIOLOGIAS Há pelo menos seis subtipos de HAP conhecidos e a distinção entre eles é fundamental para um tratamento adequado. As duas principais etiolo- gias são: adenoma produtor de aldos- terona (APA) e a hiperplasia adrenal bilateral ou hiperaldosteronismo idio- pático, sendo o APA mais frequente. SUBTIPOS FREQUÊNCIA RELATIVA (%) TRATAMENTO DE ESCOLHA Tumores adrenocorticais produto- res de aldosterona 60 1) Adenoma (APA) 49 Cirurgia 2) Adenoma responsivo à angiotensina 8 Cirurgia 3) Carcinoma 3 Cirurgia Hiperplasia adrenocortical bilateral 40 1) Hiperaldosteronismo idiopático (HAI) 32 Espironolactona 2) Hiperplasia adrenal primária uni- lateral (HAPr) 6 Cirurgia 3) Hiperaldosteronismo remediável por glicocorticoides (HASD) 2 Dexametasona Tabela 1. Adaptada e criada para representação dos principais subtipos e etiologias do hiperaldosteronismo primário. • Adenoma produtor de aldosterona → quase sempre unilateral e com usualmente menos de 3 cm de di- âmetro. Responde pobremente ao SRAA, no entanto, o faz de forma exuberante ao ACTH, liberando grande quantidade de aldostero- na. Entretanto, alguns adenomas são apenas parcialmente autôno- mos e exibem uma resposta evi- dente aos estímulos pelo SRAA, já que preservam receptores para angiotensina nas células tumo- rais. Esse subgrupo é denominado APA- responsivo à angiotensina. • Hiperaldosteronismo idiopático bilateral (HAI) → atualmente cor- responde a cerca de 40-80% dos casos. O HAI é associado à hiper- plasia bilateral da zona glomerulo- sa. Caracteriza-se por um estado 8HIPERALDOSTERONISMO de renina baixa e hipopotassemia, mas, em contraste com o APA, a atividade da renina plasmática não é severamente suprimida, as- sim como há menor produção de aldosterona. • Embora as adrenais possam ter aparência normal nos exames de imagem, microscopicamente as glândulas mostram hiperpla- sia da zona glomerulosa acom- panhada de nódulos, uma apa- rência classicamente observada em casos de doença de Cushing ACTH-dependente. • Hiperplasia adrenal primária uni- lateral (HAPr)→ é considerada, juntamente com o APA responsivo à angiotensina, uma variante não clássica do HAP. Caracteriza-se por uma adrenal hiperplásica que, morfologicamente, é semelhante à encontrada no HAI, mas exibe comportamento bioquímico au- tônomo, independente da angio- tensina. Consequentemente, as respostas hormonais às manobras diagnósticas e ao teste terapêutico com espironolactona são similares às dos APA e opostas às do HAI clássico. • Carcinomas adrenais produto- res de aldosterona → são raros, respondendo por até 3% dos ca- sos de HAP. Diferentemente dos APA, geralmente são tumores muito grandes (>6 cm) à época do diagnóstico. Frequentemente, se- cretam também outros esteroides adrenais, resultando em quadros clínicos mistos. Podem ocasio- nar invasão local ou metástases à distância. • Causas genéticas: devem ser SEMPRE pesquisadas em indiví- duos hipertensos jovens, com his- tória familiar positiva para hiper- tensão arterial sistêmica precoce e em qualquer família com mais de um indivíduo portador de hiperal- dosteronismo primário. ◊ Hiperaldosteronismo familiar tipo I ou “supressível” por de- xametasona (HASD) → com prevalência de aproximada- mente 1%, é uma causa rara de hiperaldosteronismo, de herança autossômica domi- nante, primeiramente descri- ta em 1966, mas cujo meca- nismo molecular foi elucidado recentemente. Nessa condi- ção, a hipertensão tem iní- cio precoce e, usualmente, é muito severa, sem resposta à medicação convencional. Há uma alta incidência de mor- te por hemorragia cerebral. A produção de mineralocorticoi- des passa a ser regulada pelo ACTH em vez da angiotensi- na II, e a secreção anormal de ACTH leva à produção exces- siva de aldosterona e glicocor- ticoides que, por sua vez, pode 9HIPERALDOSTERONISMO ser inibida pela administração de glicocorticoides que su- primem a secreção de ACTH pela adenohipófise. ◊ Hiperaldosteronismo familiar tipo II → com prevalência de aproximadamente 5%, é pra- ticamente indiferenciável das formas mais comuns, como o APA ou HAI e não melhora com o uso de glicocorticoides. Possui padrão de herança au- tossômica dominante. Deve ser pesquisado nos casos de mais de 2 familiares de 1º grau com aldosteronoma ou HAI e sem etiologia genética definida. ◊ Hiperaldosteronismo familiar tipo III → com prevalência me- nor que 1%, apresenta quadro mais grave, com hipertensão que se inicia ainda na infân- cia e com lesão de órgãos-al- vo. Possui padrão de herança autossômica dominante, sen- do causado por mutação ger- minativa do gene KCNJ5, que codifica o canal de K+ do tipo GIRK4. As principais etiologias do hiperal- dosteronismo secundário são: insu- ficiência cardíaca congestiva, cirrose, ascite, síndrome nefrótica, estados hipovolêmicos e estenose de artéria renal. 10HIPERALDOSTERONISMO MAPA MENTAL: PRINCIPAIS ETIOLOGIAS DE HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO Hiperaldosteronismo EtiologiasPrimário Secundário Adenoma produtor de aldosterona Hiperaldosteronismo idiopático bilateral Hiperplasia adrenal primária unilateral Hiperaldosteronismo familiar tipos I, II e III ICC Cirrose Síndrome nefrótica Hipovolemia Estenose de artéria renal 3. QUADRO LABORATORIAL Hipocalemia → embora a hipocale- mia seja historicamente considerada um dos principais achados clínicos e laboratoriais no HAP, estima-se que atualmente somente 9-37% dos pa- cientes com hiperaldosteronismo primário são hipocalêmicos. Isso está provavelmente relacionado tanto ao diagnóstico precoce, quanto ao fato de mais pacientes hipertensos esta- rem sendo rastreados com a taxa de aldosterona/renina plasmáticas como teste de detecção de hiperaldostero- nismo primário. 11HIPERALDOSTERONISMO A hipocalemia está presente mais fre- quentemente em pacientes com HAP que realizam ingestão inadequada de sódio pela dieta. Dois fatores contri- buem para a eliminação urinária de potássio: hipersecreção de aldoste- rona e adequada entrega de sódio e água para o túbulo contorcido distal dos rins. Assim, uma ingesta diária de sódio aumentada e, portanto, maior entrega de sódio ao túbulo contorcido distal, acabará exacerbando o quadro de hipocalemia, haja vista que a se- creção de aldosterona não será apro- priadamente suprimida pela expan- são de volume. Alcalose metabólica: a queda na con- centração de potássio plasmático no hiperaldosteronismo primário é acompanhada de alcalose metabó- lica. Esse distúrbio está largamente associado à excreção urinária de íons H+ mediada tanto pela hipocalemia quanto pelo efeito estimulador direto da aldosterona na acidificação distal. A alcalose metabólica está presen- te principalmente nos pacientes que apresentam hipocalemia severa. As- sim, nem todo paciente hipocalêmico cursará com alcalose metabólica. Hipertensão: é o principal achado clínico encontrado no hiperaldos- teronismo primário. A elevação da pressão arterial é dependente da ele- vação de volume intravascular, sendo prevenida e tratada pela redução da ingestão de sódio pela dieta. A hiper- volemia persistente também leva a um aumento na resistência vascular periférica que perpetua o quadro de hipertensão. A pressão arterial no hiperaldostero- nismo primário é substancialmente elevada de forma frequente. Apesar dos níveis pressóricos elevados, hi- pertensão maligna é uma ocorrência rara. Raramente, a hipertensão está au- sente em pacientes com hiperaldos- teronismo primário. Neste cenário, a pressão arterial pode se tornar muito baixa com o alívio do excesso de al- dosterona, sugerindo que o excesso de aldosterona produziu o aumento esperado da PA acima dos valores li- mítrofes (valores de base. Leia-se → PA <140/90 mmHg). 12HIPERALDOSTERONISMO SE LIGA! Por que não existe hiperna- tremia importante no hiperaldosteronis- mo primário? O persistente aumento do volume intravascular, de forma branda, regula a secreção do hormônio antidiu- rético pela hipófise e o centro da sede do hipotálamo como consequência do aumento da osmolaridade plasmática, regulando o termostato osmolar hipo- talâmico para cima. Como resultado, pacientes com hiperaldosteronismo pri- mário apresentam uma concentração de sódio plasmática estável entre 143 e 147 mEq/L, configurando um quadro de hipernatremia leve. É importante salientar que tal mecanis- mo de adaptação não faz com que os pacientes com HAP tenham que inge- rir volumes aumentados de água como forma de compensação desse quadro. Além disso, a principal causa de hiper- natremia é a redução do volume corporal de água, sobretudo daquele presente no volume intravascular. 4. QUADRO CLÍNICO A maioria dos pacientes com hipe- raldosteronismo primário é assinto- mática, embora alguns apresentem sintomas relacionados à hipertensão (cefaleia, palpitações), à hipocalemia (poliúria, nictúria, cãibras, tetania, pa- restesias, fraqueza muscular) ou am- bas. Nos casos de hipocalemia grave, fibrilação ventricular, quadriparesia ou rabdomiólise podem surgir inclusive como manifestações iniciais do HAP. A fraqueza muscular pode ser vista na hipocalemia grave. Alguns doen- tes apresentam episódios de paralisia muscular. A deficiência de potássio também provoca lesões nos túbulos renais (proximal = nefropatia hipocalê- mica vacuolar/distal → diabetes insípi- dus nefrogênico), resultando em poli- úria e polidipsia, além de tendência ao agravamento da própria hipocalemia. A despeito da produção elevada e contínua de aldosterona, caracteristi- camente os pacientes com HAP não têm edema, exceto se houver nefro- patia ou insuficiência renal associada. Isso provavelmente se deve a um “es- cape” em que os efeitos retentores de sódio do excesso crônico de minera- locorticoides são contrabalanceados pelo aumento da produção do hor- mônio natriurético atrial (ANP). A hipertensão arterial no HAP ge- ralmente é de moderada a grave. Os níveis pressóricos tendem a ser mais elevados em indivíduos com APA do que naqueles com HAI. Complicaçõescardiovasculares (ICC, AVE, DRC) são mais frequentes no hi- peraldosteronismo primário do que na HAS idiopática, mesmo para um nível idêntico de pressão arterial. O moti- vo principal para a ocorrência de tais complicações é o efeito tóxico direto da própria aldosterona nos tecidos. Intolerância à glicose ou diabetes mellitus são encontrados em até 25% dos casos, consequentes à re- dução da secreção e ação da insulina induzida pela depleção intracelular de potássio. 13HIPERALDOSTERONISMO PATOLOGIA RISCO RELATIVO (IC: 95%) Fibrilação atrial 3,52 (2,06-5,99) Doença arterial coronariana 1,77 (1,10-2,83) ICC 2,05 (1,11-3,78) AVE 2,58 (1,93-3,45) Tabela 2. Adaptada da seção de Endocrinologia – Hiperaldosteronismo da plataforma Sanarflix, evidenciando o au- mento do risco de complicações cardiovasculares associadas ao hiperaldosteronismo primário. 5. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de hiperaldosteronis- mo primário deve ser feito median- te abordagem sistemática, devendo seguir alguns passos: indicação de rastreio, screening laboratorial, testes confirmatórios, avaliação radiológica e cateterismo de adrenal. Principais indicações de rastreio • Hipopotassemia espontânea ou induzida pelo uso de diuréticos; • Incidentaloma adrenal; • História familiar de HAS ou de do- ença cerebrovascular antes dos quarenta anos; • Parentes de primeiro grau com HAP; • HAS estágios II e III; • HAS resistente. Hipopotassemia espontânea ou in- duzida por diurético está presente na maioria dos pacientes, embora normo- potassemia tenha sido registrada em até 30% dos casos, provavelmente em consequência de uma baixa in- gesta de sal e consequente perda de potássio tubular distal diminuída em associação a uma menor concentra- ção de sódio tubular. A maioria dos pacientes desenvolve hipopotasse- mia com carga de sal, e isso tem-se constituído em parte do procedimen- to de rastreamento. Screening laboratorial Deve ser feita a dosagem da con- centração de aldosterona plasmáti- ca (CAP) e a atividade plasmática da renina (APR). O padrão laboratorial mais comumente encontrado consis- te em níveis elevados de aldosterona com atividade da renina suprimida. A atividade da renina plasmática é baixa na maioria dos pacientes e não aumenta com a restrição de sal, pos- tura ereta ou administração de furo- semida, entretanto uma baixa APR por si só pode ser encontrada em uma variante de hipertensão essen- cial. Os níveis de aldosterona podem ser normais ou aumentados e, assim, suas dosagens não têm utilidade na 14HIPERALDOSTERONISMO diferenciação de hipertensão essen- cial e hiperaldosteronismo. Uma relação aldosterona/renina ele- vada pode ser mais útil e, se exceder a 50, é quase diagnóstica (APR ex- pressa em ng/ml/h e aldosterona em ng/dL). Em condições ideais, o paciente deve estar sem medicação anti-hiperten- siva convencional por um período de duas a quatro semanas para avalia- ção do SRAA e de seis semanas no caso do uso de espironolactona. Na avaliação inicial, não há necessidade da suspensão de outras drogas hi- pertensivas. A substituição das me- dicações deve ser feita por outros anti-hipertensivos como prasozina, terasozina, doxasozina, metildopa, hidralazina e verapamil, pois essas drogas têm poucos efeitos no SRAA. Porém, muitas vezes o paciente não pode suspender as medicações que poderiam interferir no eixo SRAA, como antagonistas da angiotensina II, beta-bloqueadores, inibidores da ECA, haja vista que a HAS é grave. Nesses casos, mantém-se as drogas e suspende-se apenas aquelas que interferem mais significativamente no eixo, como diuréticos espoliadores e poupadores de potássio (espirono- lactona, amilorida e triantereno). Em virtude da hipopotassemia depri- mir a secreção de aldosterona, os pa- cientes devem ser examinados reple- tos de potássio e depois de 2 horas de postura ereta, uma vez que este exa- me é mais acurado do que na posição supina. Daí surge a importância de se corrigir a hipocalemia antes da avalia- ção inicial por exames laboratoriais. RELAÇÃO CAP (NG/DL) ARP (NG/ML/H) SUSPEITA <30 >12 >1 Descartar diagnóstico >50 >20 <0,1 Confirmar diagnóstico 30-50 Necessidade de testes adicionais Tabela 3. Interpretação dos resultados laboratoriais após screening para investigação de hiperaldosteronismo primário. SAIBA MAIS! Os valores de referência para a atividade de renina plasmática variam conforme o laboratório, mas situam-se na faixa de 0,3 a 0,8 ng/ml/h (deitado e em repouso); 0,5 a 2,5 (em pé e em atividade) e 3,0 a 7,0 (após 5 dias em dieta hipossódica). 15HIPERALDOSTERONISMO FLUXOGRAMA SOBRE DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DE HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO APÓS SCREENING LABORATORIAL APR ↑, CAP ↑ e RAR ≤ 30 INDICAÇÃO DE SCREENING Dosar aldosterona plasmática (CAP) + Atividade plasmática de renina (APR) APR ↓, aldosterona ≥12 (15) e RAR ≥ 30 PROVÁVEL Hiperaldosteronismo primário APR ↓ e RAR ↓ INVESTIGAR • Causas de aldosteronismo secundário; • Hipertensão renovasculares; • Tumor secretor de renina; • Coarctação da aorta INVESTIGAR • Síndrome de Cushing; • Hiperplasia adrenal congênita; • Ingestão de derivados da raiz de alcaçuz; • Uso de mineralocorticoides Testes confirmatórios A autonomia da secreção de aldos- terona nos casos suspeitos de HAP, especialmente nos casos subclíni- cos (normocalêmicos e até mesmo normotensos), deve necessariamen- te ser comprovada pela ausência de resposta aos testes de supressão. Os testes confirmatórios podem oca- sionar aumento dos níveis pressóricos e piora da hipocalemia, sendo indica- da a correção prévia da hipocalemia com manutenção da reposição de K+ durante o teste de sobrecarga salina. Pacientes com relação CAP/ARP ≥ 100 e com renina suprimida não ne- cessitam de testes confirmatórios, 16HIPERALDOSTERONISMO passando-se diretamente para a ava- liação por imagem. Desde que a re- nina esteja suprimida, os testes con- firmatórios podem ser realizados na vigência de qualquer medicação. Deve-se, preferencialmente, suspen- der todas as medicações que inter- firam na relação CAP/ARP. Portanto, preferir a utilização de outras drogas anti-hipertensivas, como: verapamil, hidralazina e alfa-bloqueadores. • Teste da sobrecarga oral de sódio: realizado pelo acréscimo de 3 g de NaCl em cada uma das três refei- ções diárias, por três dias conse- cutivos. No terceiro dia, coleta-se urina de 24 h para dosagem de aldosterona, sódio e creatinina. Al- dosterona urinária > 12 mcg/24 h na presença de excreção urinária de sódio compatível com “sobre- carga salina” (Na+ urinário > 200- 250 mEq) é compatível com HAP. Durante a realização do teste, é preciso monitorar a PA e a calemia, medindo-os com frequência. Este teste discrimina com grande pre- cisão entre HAP e HAS essencial (sensibilidade de 96% e especifici- dade de 93%). • Sua realização está contraindicada em pacientes com HAS grave de difícil controle, hipocalemia grave, AVE ou IAM; • Teste da sobrecarga intravenosa de sódio/infusão salina: realizado através da infusão de 2L de SF 0,9%, IV, em quatro horas, com o paciente deitado. A concentração de aldosterona plasmática deve ser obtida antes e depois da ex- pansão intravascular. Em indivídu- os normais, a expansão volêmica promove queda na produção de al- dosterona (CAP<5 ng/dl). Por outro lado, nos portadores de HAP, a al- dosterona plasmática não se altera ou cai muito pouco, permanecendo com a CAP>10 ng/dl. Apresenta sensibilidade de 90%, especifici- dade de 84%, VPP de 92% e VPN de 79%. • Está contraindicado em pacien- te com ICC ou HAS grave e mal controlada; • Teste da fludrocortisona: adminis- tra-se 0,1 mg de fludrocortisona (Florinefe®) a cada 6 horas, por três dias, com dosagens da aldostero- na plasmática e/ou urinária antes e ao final do período de adminis- tração da droga. Suplementos de potássio também devem ser ad- ministrados para manter os níveis de K+ próximos de 4 mEq/L, assim como administração de suplemen-tos de Na+ 30 mEq, 3 vezes ao dia junto às refeições e ingestão die- tética liberal, mantendo a excre- ção urinária de sódio ≥ 3 mEq/kg. A dosagem de renina e do cortisol plasmático às 07 h e 10 h também é útil para a interpretação dos re- sultados. CAP em amostra de 24 17HIPERALDOSTERONISMO h maior que 14 µg/dia confirma o diagnóstico de HAP. Outros dados também podem ser considerados para o diagnóstico: CAP > 6 mcg no quarto dia, APR<1,0 e cortisol às 10 h < 7 h; • Teste do captopril: em pacientes com hipertensão essencial a ad- ministração oral de 25-50 mg de captopril está associada a uma su- pressão da produção de aldoste- rona mediada pela diminuição de angiotensina II, uma resposta não observada no hiperaldosteronis- mo primário, no qual a atividade da renina plasmática é cronicamente suprimida e a produção de aldoste- rona é autônoma. Captopril é dado com o paciente em decúbito, em dieta normo ou hiperssódica e com níveis normais de potássio antes do teste. Os níveis de aldosterona, renina e cortisol são medidos nos tempos 0, 60 e 120 min, e um va- lor para aldosterona menor que 15 ng/dl, após o captopril, é conside- rado normal. A relação aldostero- na/renina pode ser mais sensível, com níveis acima de 50 fortemen- te sugestivos de HAP. O teste é considerado positivo se não hou- ver queda >30% da aldosterona sérica ou se a aldosterona sérica for >12 ng/dL. É importante avaliar se houve incremento nos níveis de cortisol e subtrair o incremento % da variação da aldosterona, já que aldosteronomas possuem receptor para o ACTH. Pode haver falsos positivos e negativos; • Teste da furosemida: após o pa- ciente permanecer deitado por, no mínimo, 30 min, administrar furo- semida 40 mg por via endoveno- sa e colher renina após 2 h de de- ambulação. O teste é considerado positivo se a ARP for < 2 ng/ml/h. Existe risco de hipocalemia e arrit- mias associadas. Avaliação radiológica em busca da etiologia Após confirmação laboratorial do hi- peraldosteronismo, o próximo passo é estabelecer a etiologia. Para isso é necessária avaliação radiológica. Tomografia computadorizada (TC) → a TC apresenta acurácia diagnóstica de até 90% e representa o exame de imagem de escolha. Com seu apri- moramento técnico, tornou-se pos- sível detectar adenomas com 1 cm e até mesmo 0,5 cm. A TC só deve ser feita, contudo, após diagnóstico bio- químico de HAP, para evitar que um incidentaloma adrenal seja confundi- do com um aldosteronoma. Deve ser solicitada a tomografia computado- rizada de alta resolução do abdome superior. Apresenta sensibilidade de 40-100%. 18HIPERALDOSTERONISMO Figura 3. Tomografia computadorizada de abdome superior indicando, pela seta, adenoma da glândula suprarrenal esquerda. Retirada do Radiology Masterclass. Ressonância magnética → é um pro- cedimento mais caro, com resolução espacial um pouco menor e ofere- ce pouca ou nenhuma vantagem adicional sobre a TC. Apresenta, ain- da, sensibilidade diagnóstica seme- lhante à esta. Em diversos estudos, sua sensibilidade variou de 60-100%. Figura 4. Ressonância magnética de abdome superior indicando, pela seta, adenoma da glândula suprarre- nal esquerda na intensidade T1 e T2, respectivamente. Imagem retirada do artigo https://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842008000100014 19HIPERALDOSTERONISMO Cintilografia de adrenal → pode di- ferenciar se a lesão é unilateral ou bilateral, mas apresenta baixa sen- sibilidade para HAP. Uma opção nos casos de APA de pequenas di- mensões é a realização deste exame com 131-iodo-colesterol (NP-59). A hipercaptação unilateral numa glân- dula aparentemente normal indica a presença de um aldosteronoma. Isso não ocorre nos casos de HAI. A sen- sibilidade desse exame mostrou-se bastante variável na detecção dos APA (50-100%). Atualmente, esse procedimento não é mais emprega- do, já que a produção do traçador foi interrompida. FDG-PET scan (tomografia com emis- são de pósitrons) → apresenta 97% de sensibilidade e especificidade de 91% na distinção entre lesões adre- nais malignas e benignas. As princi- pais características de malignidade são alterações do formato da adrenal, como bordas irregulares ou espicula- das; calcificações intraparenquimato- sas ou periféricas; e presença de sep- tação espessa intra-adrenal. Figura 5. PET-CT scan evidenciando adenomas adrenais bilaterais de consistência benigna, sem características de malignidade, indicados pelas setas na figura. 20HIPERALDOSTERONISMO SE LIGA! Os principais problemas dos exames radiológicos ocorrem, sobretu- do, por sua acurácia ruim na detecção da etiologia no diagnóstico. Os casos com indicação equivocada de cirurgia correspondem a 25% e 20% dos ade- nomas são diagnosticados como hiper- plasias, enquanto 50% das hiperplasias são diagnosticadas de maneira errada como adenoma. Por fim, a lateralização dos adenomas menores que 3 cm só é acertada em 50% dos casos. Cateterismo das veias adrenais (CVA) → esse método diagnóstico, no qual aldosterona e cortisol são colhidos em ambos efluentes adrenais, permi- te estabelecer em definitivo se a fon- te de produção excessiva da aldos- terona é uni ou bilateral. Representa, portanto, o meio mais específico de diferenciação entre APA e HAI, mas requer um radiologista experiente e habilidoso. Um diagnóstico correto é obtido em mais de 95% dos casos quando se consegue cateterizar a veia adrenal direita, mas a frequên- cia de procedimentos mal sucedidos pode chegar a 25%. É feito pela cateterização seletiva das veias adrenais através das veias fe- morais para coleta simultânea de al- dosterona e cortisol. Uma amostra de sangue periférico deve ser colhida para o cálculo do índice de seletivi- dade (cortisol adrenal/cortisol perifé- rico), que tipicamente deve ser maior do que 5:1 ou maior do que 2:1, se realizado durante estímulo com Cortrosina® (administração contínua de 250 mcg em 400 ml de solução glicosada a 5%, na taxa de 100 ml/h), o que confirma o sucesso da canula- ção das adrenais, que é especialmen- te difícil do lado direito, onde a veia é mais curta e angulada. A taxa de su- cesso da canulação da adrenal direita varia em torno de 74-96%, depen- dendo da experiência do radiologista. Confirmada a correta cateterização, calcula-se o índice de lateralização, que compara a relação aldosterona/ cortisol entre as duas veias adrenais. Valor > 4:1 (ou 2:1 com Cortrosina) caracterizam doença unilateral. Está indicado para todos os pacientes com programação cirúrgica, com ex- ceção de pacientes com idade inferior a 40 anos com adenoma unilateral (>1,5 cm) e adrenal contralateral nor- mal, suspeita de carcinoma adrenal ou suspeita de hiperaldosteronismo familiar. As potenciais complicações graves do CVA incluem hemorragia adrenal, sugerida pelo aparecimento de fe- bre e dor lombar que requer o uso de analgésicos potentes; infarto adrenal; perfuração ou trombose da veia adre- nal e insuficiência adrenal. Elas são, contudo, raras (<3%) quando o CVA é realizado por profissional experiente. 21HIPERALDOSTERONISMO FLUXOGRAMA ABORDANDO A INVESTIGAÇÃO INICIAL DE HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO • HAS e hipocalemia • HAS e incidentaloma adrenal • Início de HAS < 20 anos • HAS grave (>160/100 mmHg) • Quando for considerada a possibilidade de HAS secundária QUANDO SUSPEITAR DE HIPERALDOSTERONISMO? • Concentração de aldosterona plasmática (CAP) • Atividade de renina plasmática (ARP) • Concentração de renina plasmática (CRP) • ↑ CAP (≥15 mg/dl) • ↓ ARP (<1 mg/dl/h) ou ↓ CRP (<limite mínimo normal) • CAP/ARP ≥ 20 mg/dl Investigação da etiologia do hiperaldosteronismo primário 22HIPERALDOSTERONISMO FLUXOGRAMA ABORDANDO O DIAGNÓSTICO E CONDUTA NO HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO Aldosterona urinária (após sobrecarga oral de sódio ou fludrocortisona) HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO? > 10 a 14 mcg/24 h • CAP > 25 ng/dL com elevação em resposta à postura • 180HB > 100 ng/ml< 10 mcg/24 h Outras síndromes de excesso de mineralocorticoides Teste da postura Teste com 18-hidroxicorticosterona (18OHB) • CAP < 25 ng/dL com elevação em resposta à postura • 180HB < 50 ng/ml • CAP > 25 ng/dL com elevação em resposta à postura • 180HB < 100 ng/ml • CAP > 25 ng/dL sem elevação em resposta à postura • 180HB > 100 ng/ml Provável APA-RA Provável HAI Provável HAPrProvável APA ASPECTOS CARACTERÍSTICOS À TC OU RM? SIM NÃO • Cirurgia para APA, APA-RA e HAPr • Espironolactona para HAI Cateterismo bilateral das veias adrenais Fluxograma adaptado e retirado do livro Vilar- Endocrinologia Médica, 6 ed. Diagnóstico e conduta no hiperaldosteronismo primário. 23HIPERALDOSTERONISMO É importante ressaltar que a aborda- gem diagnóstica para o hiperaldoste- ronismo, seja ele primário ou secun- dário, é semelhante, haja vista que a principal diferença entre as duas ver- tentes clínicas se dá pela etiologia. Devemos lembrar, no entanto, que na condição secundária, não há supres- são da atividade da renina plasmática. 6. TRATAMENTO Os principais objetivos do tratamento do hiperaldosteronismo primário são a reversão dos efeitos cardiovascula- res adversos do HAP, normalização do potássio sérico em pacientes com hipocalemia, normalização da pres- são arterial (essa geralmente persiste após a correção do hiperaldosteronis- mo, mas com melhor controle), evitar a morbidade e a mortalidade associa- das à hipertensão, ao próprio excesso de aldosterona e à hipocalemia. SE LIGA! Mesmo após a correção do hiperaldosteronismo, a maioria dos pa- cientes mantém a hipertensão, mas com melhor controle dos níveis pressóricos. A importância de se tratar o HAP mes- mo com a persistência do quadro de hi- pertensão se faz essencial pelos eleva- dos efeitos deletérios que a aldosterona tem nos tecidos, além de se reduzir a morbidade e a mortalidade decorren- tes de níveis pressóricos extremamente elevados. Tratamento cirúrgico → as principais indicações para o tratamento cirúr- gico são adenoma adrenal unilateral, hiperplasia adrenal primária unilateral e suspeita de carcinoma de células adrenais. Para diminuir o risco cirúrgico, a hi- pertensão e a hipocalemia devem ser corrigidas com o uso da espirono- lactona, antagonista competitivo es- pecífico do receptor da aldosterona. A dose inicial varia de 50 a 200 mg/ dia, até a normalização da calemia e dos níveis tensionais, com posterior redução, quando possível, para 25 a 50 mg/dia até a época da cirurgia. Se o medicamento não for bem tolerado em virtude de seus efeitos antiandro- gênicos e gastrointestinais, pode ser substituído por outros diuréticos pou- padores de potássio, em especial a amilorida (20-40 mg/dia). Em alguns países, já está também comercializa- da a eplerenona (Inspra, 50 a 200 mg/ dia), outro antagonista do receptor mineralocorticoide com menor efeito antiandrogênico. A importância do cuidado pré-ope- ratório com bloqueadores de aldos- terona se dá pelo fato desta, quando em altos níveis, agir bloqueando e su- primindo a atividade de renina plas- mática, por feedback negativo. Caso ocorra a retirada da fonte produtora de aldosterona que desencadeia o quadro de HAP, a renina ainda esta- ria em um estágio de latência, vindo a desempenhar sua função de forma 24HIPERALDOSTERONISMO eficaz com o passar de algumas se- manas após o pós-operatório. Como consequência desta renina disfuncio- nal, teríamos um quadro grave de hi- poaldosteronismo, cursando com hi- potensão grave, acidose metabólica e hipercalemia, podendo gerar arritmias gravíssimas e óbito dos pacientes por morte súbita. Portanto, a dessensibi- lização da aldosterona deve ser feita previamente à data da cirurgia, de forma a impedir a presença dos efei- tos deletérios da renina com função alterada. SAIBA MAIS! A droga padrão-ouro para realização do bloqueio da aldosterona evitando, assim, a supres- são da atividade da renina plasmática, é o eplerenone. Apresenta menos efeitos adversos, com apenas 0,1% de afinidade pelos receptores androgênicos. Ainda não é comercializado no Brasil. O tratamento cirúrgico dos adenomas adrenais é feito por meio da adrena- lectomia unilateral laparoscópica por via transperitoneal ou retroperitone- al, sendo tal método considerado o padrão-ouro para o tratamento des- sas lesões tumorais. Mesmo com essa técnica, a cura da HAS após o tratamento cirúrgico só ocorre em 35-60% dos pacientes submetidos à cirurgia. Figura 6. Aspecto macroscopico do tumor da supra-renal esquerda. Fonte: Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, 2001. 45: p. 285-301. 25HIPERALDOSTERONISMO Como cuidados pós-operatórios, é recomendado dosar CAP e APR logo após o procedimento cirúrgico, como um marcador precoce da resposta bioquímica. A suplementação de po- tássio e o uso de espironolactona de- vem ser suspensos, e outras terapias anti-hipertensivas (como IECA/BRA, pois aumentam a quantidade de po- tássio sérica) devem ser diminuídas ou suspensas, de acordo com o con- trole pressórico. A hidratação pós- -operatória deve ser feita com soro fisiológico, sem adição de cloreto de potássio, a menos que os níveis de potássio estejam abaixo de 3,0 mEq/l. Durante as primeiras semanas após o procedimento, o paciente deve ser orientado a manter uma dieta com quantidades generosas de sódio, a fim de evitar a hipercalemia relacio- nada ao hipoaldosteronismo pós-ci- rúrgico, especialmente nos casos não previamente tratados com espirono- lactona. Além disso, a monitorização da função renal e dos níveis de po- tássio também se fazem necessárias para evitar o quadro de hipercalemia associada ao pós-operatório. Tratamento clínico → as principais indicações para o tratamento medi- camentoso do hiperaldosteronismo primário residem na presença de HAI, HAP remediável à presença de glico- corticoides e hiperplasia adrenal bila- teral (HAB). É usualmente feito com medicamentos antagonistas dos re- ceptores de mineralocorticoides. O HAI bilateral deve ser tratado clini- camente, já que a cirurgia tem pouco a oferecer e requereria adrenalecto- mia bilateral, com suas complicações. Os pacientes devem ser tratados com espironolactona, usando-se uma mí- nima dose necessária para corrigir a anormalidade eletrolítica e normalizar a pressão arterial sanguínea. Já o tratamento do HASD é feito com dexametasona (em geral 0,5 a 0,75 mg/dia), que habitualmente propicia normalização da PA, dos níveis de potássio e da APR. Nesses casos, o paciente deve ser tratado clinicamen- te de forma a suprimir a atividade do ACTH, tratando-se, então, a cau- sa-base da doença. Seus principais efeitos adversos são retenção de lí- quidos, ganho ponderal, aumento da PA, hiperglicemia, hiperexia, irregu- laridade menstrual e osteoporose. A normotensão geralmente é restaura- da e a atividade da renina plasmática normalizada. Espironolactona e ami- lorida também podem ser utilizadas como medicações adjuvantes para melhorar os níveis séricos de K+ e os níveis pressóricos. A espironolactona, inclusive, pode ser mais prática e mais segura para a terapia a longo prazo. Para a HAB, o tratamento específico é feito por meio do uso de antagonis- tas do receptor de mineralcorticoide (espironolactona ou epleronona). Espironolactona → dose: 50-400 mg/ dia, VO, dose única diária (incrementos 26HIPERALDOSTERONISMO de 50 mg a cada 2-3 semanas). Doses > 75 mg estão associadas a efeitos anti-androgênicos, como ginecomas- tia e redução da libido em homens, além de sensibilidade e irregularida- de menstrual em mulheres. Para a redução dos potenciais efeitos cola- terais da espironolactona e sua dosa- gem, podemos associar esta terapia a outros diuréticos poupadores de K+, como: amilorida 20-40 mg, VO, uma vez ao dia OU triantereno (não dispo- nível no Brasil). A amilorida também pode ser utilizada como alternativa para aqueles pacientes que não tole- ram a espironolactona e eplerenona. Eplerenone/eplerenona→ é um an- tagonista específico do receptor da aldosterona que pode ser utilizado como alternativa à espironolactona nos pacientes com intolerância. Não possui afinidade pelos receptores androgênicos e não causa os efeitos colaterais da espironolactona (efeitos antiandrogênicos). Dose: 50-200 mg/ dia, VO, 2x ao dia. Possui potencial anti-hipertensivo similar à espirono- lactona. É o fármaco de escolha para tratamento prolongado em homens. Não está disponível no Brasil. Os parâmetros clínicos que devem ser seguidos mediante o início do tra- tamento para o HAP são o controle da PA e redução das comorbidades cardiovasculares associadas ao HAP, como restrição de sódio, manutenção do peso ideal, evitar bebidas alcoóli- cas, exercício físico e melhora da qua- lidade de vida por meio de mudanças do estilo de vida. Além disso, os principais parâmetros bioquímicos que devem ser seguidos são os sinais de normalização do K+ e desbloqueio da renina, com APR > 1 ng/ml/h. Hiperaldosteronismo secundário → o tratamento consiste basicamen- te na correção da causa. O contro- le da hipertensão pode ser realiza- do com antagonistas do receptor de mineralocorticoide. 27HIPERALDOSTERONISMO MAPA MENTAL DO TRATAMENTO DO HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO Objetivos Hiperaldosteronismo primário: tratamento Ausência de efeitos antiandrogênicos • HAI • HASD • HAP IndicaçõesIndicações Tratamento clínico Tratamento cirúrgico Evitar morbidade e mortalidade associadas à hipertensão, ao próprio excesso de aldosterona e à hipocalemia Reversão dos efeitos cardiovasculares adversos do HAP Normalização do potássio sérico em hipocalêmicos + normalização da PA • Adenoma adrenal unilateral • HAPr • Carcinoma de células adrenais Bloqueio da aldosterona com retorno da atividade da renina plasmática Adrenalectomia unilateral laparoscópica → padrão-ouro para adenomas adrenais Dosar CAP e APR logo após procedimento cirúrgico Espironolactona → 50-400 mg/ dia, VO, dose única diária Efeitos antiandrogênicos Eplerenone → 50-200 mg/dia, VO, 2x ao dia. Indisponível no Brasil Dexametasona 1,0-1,5 mg/dia, VO, 2x ao dia para HASD Alternativas terapêuticas Amilorida → 20-40 mg, VO, 1x ao dia Triantereno → não disponível no Brasil 28HIPERALDOSTERONISMO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fisiologia - Linda S. Costanzo, 4 ed. Endocrinologia Clínica – Lucio Vilar et al, 6 ed – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Vaidya A et al. The Expanding Spectrum of Primary Aldosteronism: Implications for Diagno- sis, Pathogenesis and Treatment. Endocrine Reviews; Endocrine Society; Copyright 2018. Aldosteronismo secundário – Ashley B. Grossman, MD, University of Oxford; Fellow, Green- -Templeton College – MSD Manuals, jul 2019. Gonsalez SR et al. Atividade inadequada do sistema renina-angiotensina-aldosterona lo- cal durante período de alta ingestão de sal: impacto sobre o eixo cardiorrenal. J. Bras. Ne- frol. vol.40 no.2 São Paulo April/June 2018 Epub June 18, 2018. Young WF. Pathophysiology and clinical features of primary aldosteronism. UpToDate. April, 2020. Capeletti JT et al. Hiperaldosteronismo primário: diagnóstico e complicações clínicas. Rev Bras Hipertens vol.16(1):65-68, 2009. Kater CE. Hiperaldosteronismo primário: novas tendências. Rev Bras Hipertens vol 9(2): abril/junho de 2002. Passos VQ et al. Hiperaldosteronismo primário revisitado. Arq Bras Endocrinol Me- tab vol.45 no.3 São Paulo June 2001. Martins DL et al. Avaliação por ressonância magnética dos tumores de adrenal com correla- ção histológica. Radiol Bras vol.41 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2008. Hiperaldosteronismo primário: uma revisão sobre o diagnóstico. Portal PEBMED, 2020. Research Gate, 2020. 29HIPERALDOSTERONISMO
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